Entre ocupações e assembleias, universitários fazem da moda um instrumento de protesto
por
Maria Julia Malagutti.
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26/06/2025 - 12h

Nas ruas e universidades, a moda afirma-se como linguagem política: um código visual capaz de expressar ideologias, indignações e identidades coletivas. Em um Brasil marcado por tensões sociais, reações conservadoras e a articulação de movimentos progressistas, o corpo torna-se campo de disputa simbólica.

Esse uso da estética como resistência não é novo. Nos anos 1960 e 1970, movimentos como o feminismo, o black power e o punk já faziam do vestuário uma ferramenta de contestação. Hoje, esse gesto se atualiza: a camiseta da seleção brasileira, antes símbolo nacional, virou objeto de disputa ideológica, enquanto outras peças se consolidam como marcas visuais de protesto, como os keffiyehs em atos pró-Palestina ou camisetas com frases como “Estado laico já”.

Em entrevista à AGEMT, a estilista Isadora Barbozza afirma que “o vestuário é essencial para transmitir mensagens sociais, culturais, ideológicas e políticas”. Para ela, é possível reconhecer, à primeira vista, a filiação a uma causa, crença ou identidade coletiva. “Você consegue, num olhar, identificar uma roupa de matriz africana. É muito expressivo”, destaca. Ela lembra que religiões, culturas e instituições sempre usaram a roupa como marcador simbólico — mostrando que o corpo vestido participa da construção de sentidos sociais.

Na universidade, esse fenômeno se intensifica. Na PUC-SP, onde o movimento estudantil voltou a se articular em 2025, com assembleias e protestos pela democratização interna e contra retrocessos nos direitos humanos, o vestir passou a compor o ato político. Camisetas com símbolos de partidos e movimentos sociais — como o PT, o MST e coletivos feministas — tomaram os corredores, transformando o corpo dos estudantes em suporte de convicções. A escolha da roupa deixa de ser neutra e se torna apoio ao debate.

A relação entre vestuário e engajamento também aparece na fala de Martim Tarifa, estudante de Jornalismo da PUC-SP. Em entrevista à AGEMT, ele conta que escolheu sua roupa com intenção ao participar da assembleia da ocupação estudantil. “Não fazia sentido ir com qualquer roupa. Vesti minha camiseta antifascista porque, da minha casa até lá, queria deixar claro meu apoio à mobilização”, explica. Para ele, mesmo quando não há uma intenção explícita, o modo de se vestir carrega significados. “Só de olhar para o estilo de uma pessoa, já dá pra perceber uma possível posição política. É uma forma de se posicionar e também de se identificar”, acrescenta.

 

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Confira como foram os desfiles do último dia da semana de moda paulistana
por
Pedro da Silva Menezes
Helena Haddad
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23/04/2025 - 12h

Na sexta-feira (11), o último dia da 59ª edição da São Paulo Fashion Week foi marcado por três desfiles de estilos distintos. A capital paulista recebeu as novas coleções da Handred, Patricia Vieira e PIET que encerraram o evento.

Handred

Abrindo o  dia, Handred apresentou uma coleção cheia de referências artísticas brasileiras e inspiradas na tapeçaria. Ponto Brasileiro – nome da coleção assinada pelo estilista André Namitala- traduziu a homenagem desejada pelo artista: “Uma ode ao legado dos grandes mestres tapeceiros”

O desfile ocorreu na galeria Passado Composto, no bairro do Jardins. Enquanto os modelos passavam apresentando a coleção, André narrava o desfile comentando os looks, suas técnicas e seus pensamentos, uma ambientação única e intimista. A  Handred trouxe excelência na necessidade atual de experiências imersivas para a passarela.

A coleção acentua os trabalhos manuais do ateliê e comemora brasilidade – as cores vibrantes, peças inspiradas em obras de Jacques Douchez e na ilustração “Jardim Brasileiro” do artista Filipe Jardim. As técnicas refinadas com ajuda do Apara Studio relembram Genaro de Carvalho, tapeceiro brasileiro que incorporava cores e a cultura brasileira em suas obras.

Uma coleção com bordados, organza, lã, veludo e seda, tudo conversa com as obras. Outro ponto alto foi a beleza assinada por Carla Biriba, a maquiagem dos modelos conversava diretamente com as peças e passavam do corpo para o rosto. A linha transcende a moda e mostra como caminhar junto da arte brasileira.

Modelo no desfile da Handred
Desfile Handred. Fonte: Reprodução/Agfotosite

 

Patricia Viera 

Marca consolidada na SPFW e conhecida pelo trabalho com couro, Patricia Viera apresentou sua nova coleção na Casa Higienópolis, em parceria com o artista Jardel Moura, responsável pelo desenvolvimento do corte tipo richelieu - caracterizado por desenhos vazados, muitas vezes com flores, folhagens ou padrões geométricos . 

Sempre buscando inovação com sustentabilidade, Viera traz uma coleção que reforça seus atributos ao usar tecnologia a laser na construção do couro. Inspirada no Art Déco, a estilista aposta em tons sóbrios, como bordô, marinho e até metálicos, aliados à geometria. Os mosaicos, criados por meio do programa Zero Waste, reutilizam sobras de couro do ateliê, promovendo uma produção mais consciente.

Com uma ambientação clássica, a coleção revisita o passado sem deixar de valorizar o presente, trazendo elementos como um vestido de noiva e o uso de animal print. O trabalho artesanal das peças é único e reafirma o luxo característico da marca. Pela primeira vez, a marca apresentou uma coleção própria de sapatos, expandindo seu portfólio de produtos.

Modelo com vestido de noiva no desfile da Patricia Viera
Vestido de noiva em couro. Fonte: Agfotosite/Zé Takahashi

 

PIET

Com trilha sonora de Marcelo D2 e Nave Beats, Pedro Andrade criou um cenário único no estádio do Pacaembu para apresentar o desfile da PIET. O futebol foi o protagonista da coleção. O estilista explicou à CAPRICHO que a apresentação funciona como uma linha do tempo que começa nas memórias de infância, que ajudam a formar o imaginário coletivo da população sobre o esporte. “O futebol está no nosso DNA”, declarou.

Ele explora diversos personagens nas roupas: do torcedor ao técnico, passando pelo jogador e até mesmo pelo soldado na reserva, que passa a maior parte do tempo jogando bola. Por meio de uma combinação de modelagens justas e oversized, meiões, releituras de camisas de time e estampas camufladas, o estilista traduz essas personas em suas peças.

Modelos no desfile da Piet no campo do estádio do Pacaembu
Desfile da PIET na SPFW N59. Fonte: Agfotosite/Marcelo Soubiha

 

A maquiagem também teve destaque na passarela. Helder Rodrigues foi o responsável pela beleza dos modelos, que apareceram desde apenas com blush, até rostos completamente pintados, que evocaram a paixão dos fanáticos pelo esporte.

Desde 2022, a São Paulo Fashion Week passou a vender ingressos, mas o evento da marca de streetwear foi em contrapartida ao disponibilizar 4 mil entradas gratuitas para o público e reuniu uma comunidade fiel à marca. A escolha foi certeira, já que os torcedores formam parte essencial desse “jogo da moda”.

Estreante na SPFW em 2018, a PIET conquistou reconhecimento internacional ao firmar parcerias com marcas como Oakley, Puma e Levi’s. Com o encerramento da semana de moda, ela trouxe uma atmosfera de final de Copa do Mundo e reafirmou a democratização dos espaços da moda com a coleção “Farmers League”.

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Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Tendências para próxima estação marcam presença na passarela em meio a referências inusitadas
por
Bruna Quirino Alves
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14/04/2025 - 12h


Weider Silveiro  

Weider Silveiro iniciou a sequência de desfiles da  quarta-feira (9) no Shopping JK Iguatemi. A inspiração de sua coleção de inverno foi a deusa do amor e da beleza, Vênus.

Além de trazer um estudo de várias versões da figura mitológica, previamente retratadas na história, o estilista também se aprofundou nas representações humanas da divindade, ao aclamar artistas femininas conhecidas por, tanto por seus talentos, como suas belezas físicas, como Madonna, Cher e Joelma.

As peças da coleção trazem uma nova versão dos caimentos clássicos de busto, quadril e cintura, incorporando novos formatos e silhuetas para os cortes. Com paletas em tons pastéis, elementos que estão em alta no mundo da moda também foram incluídos nos looks, como a saia balonê e a modelagem assimétrica.

Modelo com vestido vinho desfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo de vestido rosa vdesfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reptilia

O segundo desfile do dia foi da marca Reptilia. A coleção “Tectônica” se inspira em falhas e deslocamentos geológicos, apresentando peças com tons terrosos e estampas que remetem ao solo. 

As peças foram pensadas a partir de uma proposta agênero e tal pluralidade ficou evidente  passarela. A cartela de cores predominante no desfile ficou estacionada nos  tons marrons, com leves toques de azuis, verdes e cinzas, remetendo  a pedras minerais.

A estamparia chamou atenção por um  detalhe particular da diretora criativa, Heloisa Strobel. As estampas foram feitas a partir de fotos tiradas pela própria designer com uma câmera analógica de 35mm durante uma viagem ao Oriente Médio.

A composição de looks conta com sobreposições, peças modulares, tecidos fluídos e alfaiataria que é característica da marca. Além disso, o processo de produção inova ao combinar corte a laser com bordado manual e uso de retalhos. O reaproveitamento de tecidos reafirma o compromisso da marca com a moda sustentável.

Modelo desfilando com vestido estampado
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando na passarela com roupa preta e branca
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Led

O desfile da marca Led foi o terceiro do dia, com a irreverência de ser inspirado em novelas brasileiras.

LED apresenta a sua coleção “BR SHOW”, ambientada como um programa de televisão. A trilha sonora contava com um remix de bordões icônicos da teledramaturgia brasileira, falas de apresentadores e aberturas de programas famosos.

O estilista, Celio Dias, disse em entrevista à Globo que aproveitou a estreia da nova versão de “Vale Tudo” para embarcar na atmosfera das novelas brasileiras, sob a perspectiva de alguém que acompanhou o surgimento de tendências que vieram dessas produções.

As peças da coleção são maximalistas e contam com mistura de estampas: animal print, listras e bolinhas, além de ornamentos como franjas e pelúcia, também incorporando pontos de tricô e crochê em alguns modelos.

O streetwear teve grande destaque no desfile, com a presença de calças cargo, casacos esportivos, moletons, camisetas gráficas com trocadilhos e tênis de corrida.
 

Modelo desfilando com macacão listrado
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando com vestido listrado preto e branco
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À La Garçonne

O último desfile da noite foi da marca À La Garçonne, com sua coleção mesclada entre streetwear e alfaiataria.

O estilista Fábio Souza não pensou em nenhum tema específico para basear a sua coleção, seu foco era criar peças usáveis prezando o conforto acima da estética.

O vestuário apresentado chamou atenção pela mistura de estampas, com destaque para o xadrez, que é a tendência da estação. Silhuetas bem estruturadas, uso de pregas, caimento oversized e tênis esportivos compuseram os looks.

A paleta de cores é sóbria em tons de verde militar, marrom e grafite, com o contraste de alguns relances em tons de vermelho e roxo.

O processo de produção da coleção foi realizado a partir do upcycling de tecidos vintage da própria marca e garimpado de outras. O estilista reforça o conceito de moda consciente e reuso de materiais têxteis, criando novas peças customizadas e sustentáveis.

Modelo desfilando com terno xadrez
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando vestido e calça de terno
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite


 

 

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Com grandes nomes da moda brasileira, evento chega ao seu penúltimo dia
por
Gustavo Oliveira de Souza
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14/04/2025 - 12h
Foto de desfile
Modelo durante desfile da Dendezeiro. Foto: Mauricio Santana, Getty Images
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Na quinta-feira (10), o quinto dia de desfiles na São Paulo Fashion Week  trouxe aos holofotes marcas fundamentais ao cenário nacional, pilares do reconhecimento da moda brasileira país a fora.

João Pimenta 

O primeiro desfile do dia foi do estilista João Pimenta. O já consagrado artista, que por alguns anos misturou elementos da moda voltada aos dois gêneros decidiu apostar em um conceito quase todo concentrado  no vestuário masculino. O desfile aconteceu na estação Júlio Prestes do metrô, com o nome “Em Construção”. Sua obra buscou questionar os rumos da tecnologia na moda e valorizar o trabalho manual.

Dendezeiro

No JK Iguatemi, a Dendezeiro foi a segunda grife do dia a desfilar. A marca baiana da dupla Hisan Silva e Pedro Batalha trouxe um conceito que homenageava a região Norte do Brasil, com muito destaque à Amazônia. Chamada de “Brasiliano 2: A Puxada para o Norte”, o desfile destacou a fauna, com estampas de peixe e bolsas em formato de capivara, além de camisetas com frases exaltando a cultura local.

MNMAL

O penúltimo desfile do dia foi da estreante MNMAL. Fundada em 2022, a marca tem seu conceito baseado no minimalismo, e na passarela não foi diferente. Assinada pelo estilista Flávio Gamaum, as peças têm como principal destaque o conforto, pensada para o cotidiano no lar e home-office. Mesmo com todo o conforto, a elegância não é deixada de lado.

Walério Araújo 

Fechando o dia 10, o importante estilista Walério Araújo trouxe seu conceito usualmente impactante. Já tendo sido considerado um dos maiores estilistas do mundo, o pernambucano traz, novamente, a ousadia. Com diversas homenagens às mulheres trans, a bandeira de arco-íris apareceu em vestidos e peças mais casuais. Como novidade, a alfaiataria esteve presente, com peças que mostram a diferença na manifestação de gênero em locais públicos e privados.

Todos os desfiles marcaram, novamente, uma nova trajetória na moda brasileira. Sendo dos mais novos aos mais veteranos, quem esteve presente pôde acompanhar mais um capítulo da história do fashion no Brasil. 

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O quinto dia da semana de moda nova-iorquina foi marcado pelo esporte e pela elegância na passarela, confira os melhores momentos.
por
Helena Costa Haddad
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12/09/2024 - 12h

 

Carolina Herrera

A marca homônima criada nos anos 80 pela estilista venezuelana, atualmente comandada por Wes Gordon, é notória  pela sofisticação e elegância. A nova coleção primavera/verão 2025, retomou essa estética com a decisão de Gordon em honrar as coleções antigas e trazer elementos marcantes da grife, como o uso demasiado da estampa de poá. 

Vestido de tricô com estampa poá, nyfw. Foto/reprodução: Daniele Oberrauch / Gorunway
Vestido de tricô com estampa poá, nyfw. Foto/reprodução: Daniele Oberrauch / Gorunway

 

O desfile contou com peças de tricô e vestidos com babados. Já para um visual  mais noturno, foi apresentado mangas bufantes, tecidos longos e aplicações de flores extravagantes. Para encerrar, o  tom forte de amarelo, relembrando a primeira fragrância de Carolina Herrera, lançada em 1988, se fez presença indispensável nas peças

A coleção celebra muito bem as criações da idealizadora da grife, mas, não deixa de ser atual com o toque do diretor criativo.

 Backstage do desfile. Foto/Reprodução: Hunter Abrams/Vogue Runway
Backstage do desfile. Foto/Reprodução: Hunter Abrams/Vogue Runway.

 

Coach

Conversando com a geração Z, a nova coleção de verão da Coach é espontânea, divertida e sustentável. Stuart Vevers, diretor criativo da marca, trouxe o clássico modelo americano para a atualidade.

Na passarela, Vevers mistura o clássico com o atual, o uso de referências ao estilo skatista, com peças largas e bonés em um casamento harmonioso com a moda tradicional, apostando em blazers e no cetim.

Foto/reprodução: Giovanni Giannoni/Getty Images.
Foto/reprodução: Giovanni Giannoni/Getty Images.

 

A famosa tee “I love New York” é usada em vários momentos do show, conversando de novo com os consumidores sucessores. Apesar disso, os pontos fortes da marca são mantidos na coleção, os casacos de couro são peças atemporais para a grife. 

As bolsas coach são um ponto forte também, vindo de variados tamanhos e cores, sempre chamando atenção, são acessórios divertidos e complementares. 

 

Foto/reprodução: Victor Virgile/Getty Images.
Foto/reprodução: Victor Virgile/Getty Images.

 

Tory Burch

Inspirada pelo espírito esportivo, Tory Burch desfila suas peças com um cenário aquático. 

Na nova coleção, a marca  manteve sua essência, mas não deixou de usar a natação como inspiração na passarela. Bodies remetendo maiôs, óculos retangulares, tecidos fluidos, abuso de transparências ordenaram a coleção. Na beleza, um visual mais clean com o cabelo molhado, são exemplos de como a diretora criativa brincou com a ideia aquática. 

Foto/reprodução: Giovanni Giannoni/Getty Images.
Foto/reprodução: Giovanni Giannoni/Getty Images.

 

Como de esperado, a marca também trouxe uma peça icônica de volta. A Reva, famosa sapatilha da grife nos anos 2000, retorna conversando com a atualidade, seja em forma de scarpin com um salto arqueado,ou até mesmo em formatos diferentes como de um biscoito da sorte chines. O famoso piercing usado no sapato retorna nas bolsas como um acessório de um acessório. Burch convida as mulheres a usar o sportswear e apostar em um visual mais descontraído nesse verão. 

Foto/reprodução: Giovanni Giannoni/Getty images.
Foto/reprodução: Giovanni Giannoni/Getty images.

 

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Uma portinha de 30m² abriga a nova casa do borogodó sustentável cearense.
por
Giovanna Montanhan
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11/09/2024 - 12h

O evento ocorreu na noite desta terça-feira (10) em um dos endereços de compras mais luxuosos da capital paulista, o Shopping Iguatemi JK, um dos maiores da América Latina. O coquetel de lançamento contou com a presença de Celina Hissa, fundadora e diretora criativa da marca, consumidoras já cativas, curiosos que passavam por acaso, jornalistas e parceiras que fizeram o sonho sair do papel. Uma curiosidade é que a marca é a primeira de moda autoral nordestina a desembarcar por lá.

fachada
Fachada da loja - Reprodução: @catarinamina / Instagram

 

Catarina Mina foi o nome escolhido pela dona em 2008, com o foco de expandir para todo o Brasil, a moda que nasceu no Ceará, na sua forma mais crua, composta por bordados, crochês, rendas de bilro (um município da região de Trairi que por causa desse trabalho emprega mais de cinco mil mulheres), labirinto (um tipo de renda muito detalhista e que está próxima de ser extinta), filé (uma espécie de bordado característico da cidade de Jaguaribe) e a tecelagem na palha da carnaúba (uma palmeira-símbolo que abrange os estados do Ceará, Piauí e Maranhão). 

loja
Algumas peças da marca - Reprodução: Giovanna Montanhan

 

A sustentabilidade é um pilar fundamental e indispensável para a grife, o que a levou a se consolidar como uma referência e, mais importante, a integrar o Pacto Global da ONU.

A etiqueta atualmente trabalha com 30 comunidades artesanais que envolvem cerca de 450 artesãs brasileiras, fornecendo não apenas uma fonte de renda estável para elas, mas também promovendo uma verdadeira cadeia sustentável, que têm como princípio valorizar a cultura e a mão de obra local, gerando cada vez mais visibilidade e dignidade para o trabalho dessas mulheres. 

peças
Cores alegres que representam a marca. Reprodução: Giovanna Montanhan

 

A partir de 2019, todas as bolsas carregam um QR Code que redireciona o cliente para o contato da artesã que fez aquele produto, que além da foto, contém também de onde ela veio e sua história. 

 

bolsa catarina mina
Cartão que acompanha as bolsas - Reprodução: Catarina Mina/site oficial

 

qr code artesas
Uma das artesãs exibindo o QR Code - Reprodução: Catarina Mina/ site oficial

 

Em entrevista para a AGEMT, a fundadora da Catarina Mina, Celina, revelou que trazer a marca para um espaço de prestígio representa uma grande conquista. Ela enfatizou a relevância de valorizar o trabalho artesanal de quem as produz, afirmando que o verdadeiro luxo vem do fazer à mão. Para ela, isso conecta diferentes realidades, permitindo que a marca alcance novos públicos e perspectivas. 

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Uma arara repleta de tons crus. Reprodução: Giovanna Montanhan

 

A coleção, que está presente no Shopping JK, comercializa apenas as peças mais trabalhadas e com uma maior riqueza de detalhes, sendo elas muitas vezes vindas de desfiles, representando um status de exclusividade para os compradores, além dos drops de acessórios que poderão ser encontrados por lá. 

 

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Interior da loja - Reprodução: @catarinamina/Instagram

A abertura deste espaço é um marco significativo, não apenas pela expansão da moda nordestina em um local majoritariamente ocupado por grifes internacionais, mas também pela capacidade da marca cearense, focada no trabalho artesanal, de quebrar paradigmas impostos por esse cenário. A presença da Catarina Mina neste local ressignifica o conceito de luxo, tradicionalmente associado a marcas estrangeiras. Este feito não só destaca a força que a moda brasileira vem ganhando nos últimos tempos dentro do próprio país, mas também abre portas para uma nova forma de consumo, onde a sustentabilidade e o respeito pela ancestralidade brasileira ocupam o centro das atenções.

 

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As marcas internacionais apresentaram suas novas coleções no último domingo, em Manhattan.
por
Liz Ortiz Fratucci
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10/09/2024 - 12h

 

Na última sexta-feira (06), foi iniciada a semana de moda de primavera/verão de Nova York, nos Estados Unidos. Ao longo do terceiro dia de evento, domingo (08), marcas como Sandy Liang, PH5, Ulla Johnson e Jason Wu, apresentaram desfiles marcantes envoltos em diversidade cultural e inclusão da multiplicidade.

 

Ulla Johnson:

 

A designer americana, conhecida pela sua habilidade em interseccionar moda e arte com um estilo boêmio, apresentou uma coleção que combina utilidade e  leveza. Nas peças  foram incorporadas  pinturas da artista expressionista Lee Krasner, estampando desde vestidos fluidos até alfaiataria.

 

A abstração das estampas se harmonizou perfeitamente com a leveza dos materiais escolhidos, e as cores magenta e verde criaram um contraste com a paleta neutra predominante no restante da coleção.

Fiel à sua identidade visual, Ulla Johnson manteve elementos característicos em suas coleções, como vestidos leves, aplicações de detalhes artesanais, babados, transparências e rendas, sempre trazendo elegância e sofisticação, além de uma sutil sensualidade,evidenciada em elementos de styling, como a amarração de um fino tecido de chiffon no pescoço de um vestido com um grande decote.

 

Pela primeira vez, a passarela contou com modelos masculinos vestindo criações originalmente projetadas para mulheres, indicando  uma possível expansão da marca para o público  masculino.

Modelo abrindo o desfile da Ulla Johsnon com vestido verde e rosa de seda. Foto: Filippo Fior
Foto: Filippo Fior/Vogue Runaway

 

Sandy Liang:

 

No desfile mais aguardado pelo público jovem adepto   ao estilo viral nas redes sociais conhecido como coquette, Sandy Liang traz, para esta  temporada, uma coleção inspirada no vestuário das personagens do desenho infantil “Três Espiãs Demais” e na figura de  princesa. Durante o evento , foi possível notar  uma variedade de  silhuetas que  referenciavam os anos 60 e 90.

“Ser princesa é um trabalho, assim como ser uma espiã é um trabalho”, escreve Liang nas notas da coleção.

 

 Nessa coleção, a estilista nova-iorquina  deixou um pouco de lado sua marca registrada ultra feminina, e abraça uma personagem mais madura, abandonando o uso de laços na composição e adorno das peças. A persona a quem a Liang  elabora suas coleções, está agora se vestindo de uma maneira mais corporativa, usando blazers, bermudas e saias de alfaiataria.

 

Mas o abandono não foi completo e  as características que trazem jovialidade a coleção continuaram presentes, evidente no styling com  saltos gatinho, bolsas de babados, tecidos acetinados, gargantilhas, lenços no cabelo, aplicações de pedras brilhantes e até o batom rosa “Snob” da MAC que foi febre nos anos 2000.

 

Modelo na passarela do desfile da Sandy Liang vestindo vestido cinza com gola
Foto: Filippo Fior/Vogue Runaway

PH5

 

A marca notória por suas cores vibrantes, formas inovadoras em tricô e abordagem sustentável, fundada por duas mulheres asiáticas, apresentou  seu trabalho  mais recente, intitulado "Save the Ugly Animals", focado em temáticas ambientais. 

A coleção recebeu  esse nome por conta da visita da designer, Zoe Champion, ao Lago Titicaca, nos Andes, onde passou um tempo com o povo indígena Uru. Ela conta em entrevista à Vogue, que o lago está sendo ameaçado pelas mudanças climáticas, resultando na ameaça de extinção de seu habitante popularmente conhecido como sapo escrotal. A espécie também apareceu, segundo  a designer, "em uma lista dos animais mais feios do mundo. Então, nesta temporada, queremos dizer: 'Salve os animais feios'".

A preocupação ambiental da marca vai além de denominações:  95% das peças apresentadas na NYFW foram confeccionadas  com materiais reciclados ou sustentáveis e a cada peça vendida, a PH5 planta uma árvore. 

 

As características assimétricas e geométricas das bainhas, típicas da identidade visual da marca, também estão presentes nesta coleção, aplicada a vestidos midi ou longos, blusas de alça e polos. Para esta temporada, o estilo foi inspirado em elementos da jardinagem, refletido em peças que simulam aventais com flores nos bolsos, luvas e nas modelos que carregavam buquês recém-colhidos.

 

 Desempenhado um papel importante na coleção, a cores trouxeram uma identidade vibrante e envolvente. A marca trouxe uma paleta rica em tons pasteis, misturando-os com cores mais ousadas como laranja, verde-limão e azul elétrico, reforçando sua estética futurista.

Modelo com jaqueta vermelha, shorts verde e azul com luvas de jardinagem
Foto: Daniele Oberrauch/Vogue Runaway

 

Jason Wu

 

Com todas as tragédias acontecendo no mundo, Jason Wu acredita que os designers têm a responsabilidade de abordar isso de alguma maneira em suas criações. Além da iniciativa apresentar apenas uma coleção por ano, nessa ele concretizou  sua visão ansiosa e desgastada por meio de seu trabalho artesanal: recortes semelhantes a buracos feitos para o traças, costuras inacabadas e uma escolha de paleta de cores clara,contrastante com algumas peças “manchadas” de preto. 

 

A divergência  também está presente  na escolha dos tecidos, que entre leves e pesados, criou equilíbrio. Ao final, o pensamento resultante implementado pela coleção é de que por mais que o planeta esteja vivendo uma situação caótica, não devemos deixar de ter esperança.

 

A coleção também tem um toque pessoal e cultural, com Wu colaborando com o calígrafo taiwanês Tong Yang-Tze. As grandes manchas pretas assimétricas de Yang-Tze foram incorporadas aos looks, trazendo uma conexão profunda com as origens também taiwanesas do designer, além de acrescentar uma camada artística à coleção.

  

Modelo usando jaqueta comprida preta e tamanco
Foto: Daniele Oberrauch/Vogue Runaway

 

Modelo vestindo vestido plissado off-white
Foto: Daniele Oberrauch/Vogue Runaway

 

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Cores, tecidos fluidos, alfaiataria e esporte chique são as novas promessas deixadas pelo segundo dia de desfiles para a nova temporada primavera/verão 2025
por
Beatriz Vasconcelos
|
09/09/2024 - 12h

A semana de moda de Nova York começou nesta sexta-feira (6) e não falhou em trazer tradição, street wear e a sofisticação características da moda nova-iorquina. O segundo dia de desfiles contou com marcas como Prabal Gurung, que através das cores e tecidos fluidos trouxe alegria e esperança. E Monse, que inovou na vestimenta esportiva, apresentando novas formas e silhuetas, ambas entregando um novo olhar para o legado do evento. 

A TRADIÇÃO DAS SEMANAS DE MODA

A história das semanas de moda tem início com Charles Frederick Worth, considerado o pai da alta-costura. No século XIX, ele inovou ao apresentar suas criações em modelos ao vivo, uma prática que seria continuada por estilistas em  eventos glamourosos. Na década de 1920, Coco Chanel, Elsa Schiaparelli e Madame Vionnet consolidaram a alta-costura, criando desfiles exclusivos para clientes, sem a presença de fotógrafos, em um formato bem diferente do coletivo que se tornaria a Fashion Week.

A primeira semana de moda organizada foi a "Press Week", realizada em Nova York em 1943 por Eleanor Lambert. Criada durante a Segunda Guerra Mundial, a iniciativa buscava promover os designers americanos, já que não era possível viajar para a Europa. Ao mesmo tempo, na França, a Chambre Syndicale de la Haute Couture foi estabelecida em 1945, organizando desfiles de alta-costura de forma mais estruturada. Em 1962, Eleanor Lambert ajudou a fundar o Conselho de Designers de Moda da América (CFDA), com o objetivo de fortalecer o reconhecimento cultural, social e econômico da moda americana.

Com o tempo, as semanas de moda evoluíram, estabelecendo um calendário semestral para as principais capitais da moda: Nova York, Londres, Milão e Paris. Esses eventos apresentam as coleções de Outono/Inverno e Primavera/Verão, além de semanas específicas para moda masculina e alta-costura. A New York Fashion Week, pioneira no formato, é reconhecida por seu perfil comercial, equilibrando novos talentos e marcas tradicionais como Ralph Lauren e Michael Kors. A influência do streetwear e do athleisure wear, marcas do estilo americano, convivem com a sofisticação da moda nova-iorquina, refletindo as mudanças na forma como a moda é consumida e apresentada no cenário global.

MONSE

O desfile de primavera de 2025 da Monse foi um evento estrelado, contando com a presença de personalidades como Paris Hilton, Tiffany Haddish e Coco Rocha. Neste cenário, os designers Laura Kim e Fernando Garcia trouxeram uma dose extra de leveza e diversão à sua abordagem única de reinventar o athleisure wear em uma junção com a alfaiataria esportiva e masculina americana para mulheres que buscam uma elegância não convencional e natural.

A coleção se destacou ao reinterpretar elementos das roupas esportivas de forma literal, explorando camisas de rúgbi, jaquetas universitárias e peças inspiradas no atletismo das escolas preparatórias. Contudo, os momentos mais marcantes vieram das referências mais sutis e estruturais, como blazers reformulados e pregas que remetiam às saias de tênis, evidenciando o talento da dupla em equilibrar tradição e inovação.

Monse primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Instagram (@monsemaison)
Monse primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Instagram (@monsemaison)

 

Vale lembrar que Kim e Garcia também são diretores criativos da Oscar de la Renta, onde começaram suas carreiras. Nesta coleção da Monse, eles permitiram que sua experiência com o glamour clássico americano transparecesse um pouco mais, apresentando vestidos brilhantes dignos de tapetes vermelhos. Em meio a diversas referências esportivas, a coleção demonstrou a capacidade da Monse de explorar novas direções, mantendo sua combinação característica de alfaiataria refinada e ousadia lúdica.

PRABAL GURUNG

Combinando tradições festivas com uma sensibilidade ao atual cenário eleitoral do país, Prabal Gurung utiliza seu estilo fluido, repleto de cores e influências globais, para transmitir uma narrativa de renovação pessoal e comunitária.

O estilista e fundador da marca nasceu em Singapura e foi criado no Nepal. Após iniciar sua carreira em Délhi, capital da Índia, ele se mudou para Nova York para continuar seus estudos, mas suas origens sempre foram muito presentes em seus designs. Ao longo de sua carreira ele já vestiu personalidades importantes como Michelle Obama, Kate Middleton, entre outros.

Para a primavera de 2025, Gurung responde aos tempos difíceis recorrendo às tradições e à cor, revelando uma mensagem de otimismo e renascimento. A inspiração para a coleção surgiu durante uma visita ao Nepal, onde o designer participou do festival de Holi. Ao retornar aos EUA, em meio a um turbulento ciclo de notícias políticas, ele se deparou com a possibilidade histórica de uma mulher assumir a presidência, o que reavivou seu questionamento sobre o sonho americano.

Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)
Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)

 

“A celebração do Holi – há um abandono juvenil; há facilidade, diversão, devaneio e esperança. Fazia muito tempo que eu não me sentia assim – mas no minuto em que houve um anúncio de Kamala Harris, houve um ressurgimento da esperança. Eu tinha começado a coleção muito antes disso, mas aquele momento a uniu com essa explosão de otimismo e criatividade feminina”, disse o estilista sobre o processo criativo.

Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)
Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)

A coleção reflete o compromisso de Gurung com pregas, seleção meticulosa de tecidos e a fusão de estéticas ocidentais e orientais, incorporando um espírito de celebração, esperança e criatividade feminina. Esse otimismo se refletiu também na apresentação, que contou com uma banda orquestral liderada pela compositora Chloe Flower, uma coda surpresa toda em branco e um cenário icônico na 1 Centre Street — local que Gurung sempre sonhou em usar para um desfile, e que agora, finalmente, tornou-se palco de sua visão.

Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)
Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)

 

Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)
Prabal Gurung primavera/verão 2025 - Crédito: Reprodução Redes Sociais (@prabalgurung)

 

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Esta análise busca explorar os fatores psicológicos e sociais que impulsionam a decisão de buscar e valorizar bolsas de marca luxuosas, examinando o custo emocional, financeiro e cultural associado a essa escolha
por
Giovanna Montanhan
|
17/09/2024 - 12h

Ao entrar em uma pequena loja escondida em uma das muitas galerias do bairro da Liberdade, numa tentativa de escapar do calor escaldante que dominava a cidade de São Paulo e procurar mulheres para entrevistar, fui imediatamente tomada por um cheiro quase sufocante de mofo misturado a um aromatizador de ambientes. Pilhas de bolsas se acumulavam em prateleiras apertadas, criando uma atmosfera opressiva. A vendedora, Márcia, com o rosto perfeitamente maquiado, oferecia sorrisos milimetricamente calculados, afirmando com confiança que todas as peças eram verdadeiras.

Márcia vestia uma camiseta de gola V com o logo da Gucci estampado, daquelas que você reconhece à primeira vista e já sabe que não é original. Combinava a camiseta com uma calça jeans sem marca aparente e um batom vermelho forte, que estava meio borrado para além do contorno labial. Ela me garantiu que a Louis Vuitton que eu examinava era autêntica. “Essa aqui acabou de chegar. Dá pra ver pela costura, e é exatamente como a original", disse ela, apontando para as alças de couro da bolsa, que aparentava estar desgastada, com manchas de dedos bem visíveis.

A loja era apertada, e segundo a vendedora, não ficava vazia por muito tempo. Durante o período em que estive ali, algumas curiosas entraram e passaram alguns minutos manipulando as bolsas. Foi nesse cenário que Vera, uma mulher de 52 anos, examinava cuidadosamente uma bolsa Chanel em meio à desordem. Seus cabelos loiros estavam impecavelmente pintados e penteados, ela vestia um kaftan longo em tons de azul, formando uma espiral que lembrava a estampa característica do designer italiano Emilio Pucci, embora claramente não fosse. Afinal, quem tem condições de comprar uma bolsa autêntica provavelmente poderia adquirir roupas de grife, e não frequentaria lugares como aquela galeria.

Apesar da precisão na imitação da bolsa que estava analisando, Vera parecia indiferente. Para ela, o que realmente importava era a imagem que a peça transmitia. Sem hesitar, enquanto acariciava os detalhes dourados, ela me confidenciou que seu sonho sempre foi possuir uma Chanel, e que o simples fato de ter um exemplar – mesmo que falso – a fazia sentir-se elegante e poderosa. Embora soubesse que a bolsa não era original, o prazer de tê-la em mãos parecia compensar a falta de autenticidade. O preço da original, disse, era exorbitante, e ela não via necessidade de gastar tanto para obter "o mesmo efeito".

Naquela tarde, algumas horas depois, Lúcia, de 42 anos, vestia uma blusa preta larga, calça pantalona da mesma tonalidade e sandálias anabela baixas em tom creme. Ela teclava no celular enquanto observava as prateleiras abarrotadas de bolsas Louis Vuitton, Chanel, Prada, Miu Miu e Hermès. Percebi que ela parecia um pouco receosa de se abrir com uma total desconhecida, então resolvi fingir que também estava interessada em comprar uma bolsa.

Lúcia contou que frequenta aquele lugar há bastante tempo e, para ela, o valor das imitações compensa muito, já que o preço das originais beira o absurdo. Ela ressaltou que as peças nas prateleiras possuem uma aparência tão similar às originais que ninguém percebe a diferença, a menos que a pessoa tenha muito conhecimento ou se aproxime demais. Para Lúcia, as imitações ofereciam uma maneira acessível de expressar seu estilo sem carregar o peso financeiro das grifes. Apesar de não ter uma marca favorita, gostava da sensação de caminhar pelas ruas com uma bolsa que, aos olhos dos outros, era vista como um símbolo de status social.

Naquele espaço abafado, entre as bolsas amontoadas, o burburinho das vozes de outros consumidores ecoava pelas lojas vizinhas que dividiam o mesmo espaço. O que se destacava não era apenas o comércio em si, mas o valor simbólico que aquelas peças carregavam para as mulheres que frequentavam o local com regularidade. Para elas, as bolsas iam muito além de simples acessórios; eram símbolos de status, de pertencimento a um mundo de luxo e exclusividade, mesmo que apenas pela aparência.

A busca por um produto de luxo, ainda que ilusório, era quase tangível. A cada gesto, a cada conversa, ficava claro que as consumidoras estavam menos preocupadas com a autenticidade do item e mais focadas no que ele poderia lhes proporcionar: uma sensação de pertencimento, poder e sucesso. Não se tratava apenas de possuir uma bolsa, mas de construir uma imagem de sofisticação e status. Vera deixou isso claro ao afirmar que ninguém iria parar na rua para questionar se o produto era original ou não. Carregá-lo já era o suficiente para atrair olhares diferentes, conferindo-lhe a distinção que tanto buscava.

Essa busca por símbolos de status se torna ainda mais complexa quando analisada à luz das explicações da psiquiatra Mariana Pampanelli. Para ela, esses itens de luxo – mesmo que falsificados – cumprem diversas funções psicológicas, dependendo do contexto. O anseio por prestígio social, seja para se sobressair aos demais ou para fortalecer a própria autoestima, figura entre os principais impulsionadores. E esse valor, que ela enfatizou, é determinado pelo ambiente cultural em que o indivíduo está inserido. Em alguns círculos, possuir uma bolsa de grife é apenas um reflexo natural da riqueza. Em outros, representa uma tentativa de ascensão, de se destacar do meio social em que vivem.

As redes sociais, claro, ampliam ainda mais essa dinâmica. Mariana afirmou que a comparação constante com os outros, impulsionada pelas redes sociais, intensifica o desejo por determinados itens. Ela acrescentou dizendo que as pessoas buscam estar à altura das imagens que veem na tela, e os itens de luxo são uma forma de alcançar isso. No entanto, ela também alertou para o perigo dessas compras impulsivas, pois quando o desejo por status ultrapassa o planejamento financeiro, o resultado geralmente é o arrependimento, acompanhado de uma sensação de perda de controle sobre a própria vida.

Essa constante exposição à desigualdade social intensifica o desejo de pertencer a uma classe social privilegiada. Para muitas pessoas, adquirir uma falsificação é a única forma de sentir que estão participando dessa narrativa de luxo e exclusividade, ainda que de maneira temporária. A psiquiatra explica que o item falsificado oferece uma ilusão de pertencimento, e mesmo sabendo que não é real, a pessoa se sente parte daquele mundo, ainda que por um momento. Esse sentimento é amplificado pela percepção de injustiça social, levando muitos a crer que, se não podem adquirir o item original, ao menos podem simular essa posse.

O que essas mulheres buscavam nas bolsas falsificadas não era o objeto em si, mas tudo o que ele representava. A sensação de carregar um item de luxo, mesmo que não fosse real, dava a elas a sensação de poder e pertencimento. E, nesse mundo de aparências, isso era o suficiente. A autenticidade do produto tornava-se secundária diante da necessidade de se sentir parte de algo maior, de projetar uma imagem que, na prática, não condizia com suas realidades.

 

O ‘’Grande Irmão’’ do Luxo: Vigilância na Era das Falsificações

No vórtice das redes sociais,  onde cada curtida se transforma em moeda e cada seguidor em um troféu, um perfil no Instagram emergiu como uma caçadora implacável. "The Fake Birkin Slayer" (@thefakebirkinslayer) tornou-se um oráculo em um mundo onde a busca pelo luxo não é apenas desejo, mas flerta com a obsessão. Sua missão principal é desmascarar as falsificações que se infiltram nos feeds dos usuários da rede, compartilhando nos stories o emoji que representa um par de olhos atentos. Não é apenas uma página de denúncias, mas um espelho implacável da ambição humana de conquistar o que está para além do alcance.

No epicentro desse turbilhão de desejos está a Birkin, a intocável criação da grife francesa Hermès. Muito além de ser uma simples bolsa, ela personifica um símbolo de status e poder, desejada tanto por fashionistas quanto por aqueles que almejam ingressar em um mundo que não os acolhe naturalmente, com a mesma intensidade de quem busca água em um deserto árido. Poucos têm o privilégio de atravessar as portas da exclusividade, e menos ainda conseguem segurar uma Birkin autêntica em suas mãos. Ela é a promessa de pertencimento a um círculo fechado, onde o luxo não é apenas um adorno, mas a própria identidade.

Mas como todo objeto de desejo, a Birkin tem seu lado sombrio. Na penumbra das transações secretas e nas esquinas mais discretas da internet, as imitações florescem como ervas daninhas. E "The Fake Birkin Slayer" está presente, assumindo o papel de uma justiceira digital, desmascarando com precisão quase cirúrgica os defeitos nas réplicas exibidas por aqueles que ousam postá-las. Cada nova publicação é uma sentença para quem ousou tentar enganar o olhar observador, uma exposição pública da farsa do luxo.

A Hermès, com sua produção controlada, faz de cada Birkin uma raridade. Não basta ter uma conta bancária cheia. É preciso ter acesso, influência e, sobretudo, paciência. A escassez faz o coração desejar mais, e essa falta é cuidadosamente mantida. A bolsa, que nunca está à espera nas prateleiras das boutiques, carrega consigo o peso de uma conquista — ou, para muitos, de uma frustração constante.

E é nesse limiar entre o desejo e a frustração que a falsificação encontra o terreno fértil. Para alguns, segurar uma imitação é o mais próximo que chegarão de sentir o toque do inalcançável. O brilho falso de uma Birkin não é apenas uma mentira para os outros, mas também uma ilusão auto infligida, uma tentativa desesperada de pertencer a um mundo de aparências que, no fundo, todos sabem ser efêmero. O conforto de segurar uma réplica, mesmo que por breves momentos, oferece um respiro na longa corrida pelo prestígio.

A caçada de "The Fake Birkin Slayer" revela algo maior do que apenas o desejo por autenticidade: escancara a era em que vivemos, onde o valor de um objeto não reside mais no que ele é, mas na história que ele conta. E, no palco das redes sociais, onde cada foto é uma performance encenada e cada postagem um ato de exibição, a autenticidade é a última fronteira. Quem possui o real, exerce o poder, mas, para muitos, sobra apenas a sombra do que poderia ter sido.

A Ética do Consumo e o Futuro do Luxo

Nos bastidores reluzentes do mercado de luxo, onde o brilho das vitrines oculta um submundo nebuloso, as falsificações surgem como sombras inquietantes, desafiando não apenas as marcas, mas também a moralidade de quem as consome. De um lado, há quem veja na compra de uma imitação a chance de tocar, ainda que de forma enganosa, o poder e a exclusividade que as grifes prometem. De outro, há uma realidade mais sombria: o impacto desse comércio clandestino na economia global e a exploração humana que muitas vezes alimenta esse ciclo.

Essas falsificações, frequentemente produzidas em fábricas clandestinas na China, onde a mão de obra escrava opera longe dos holofotes, trazem à tona uma questão ética ainda mais profunda. Ao comprar um produto falsificado, não se adquire apenas uma réplica de luxo; compactua-se, ainda que indiretamente, com a exploração de trabalhadores submetidos a condições desumanas, mal remunerados e forçados a produzir incessantemente para alimentar um mercado que prospera sobre suas costas. Nesse cenário, o glamour associado ao objeto de desejo torna-se, de certa forma, cúmplice de uma cadeia de injustiças.

Nesse contexto, o futuro do luxo parece caminhar sobre um terreno não muito fértil. As grandes etiquetas enfrentam não apenas o desafio de manter sua exclusividade, mas também a ameaça crescente das falsificações, que não só diluem sua imagem, mas também perpetuam a exploração da mão de obra barata. A questão agora não é mais apenas sobre como manter o controle sobre o mercado de luxo, mas sobre o que esse mercado significa num mundo onde o valor de um produto vai além de seu preço — está vinculado à ética de como é feito e por quem.

Enquanto isso, as consumidoras continuam a navegar entre o desejo de possuir o impossível e o dilema moral que surge ao considerar o verdadeiro preço de suas escolhas. A cada compra, consciente ou não, elas caminham por um território onde luxo e exploração se entrelaçam, onde o brilho de uma bolsa Hermès, Chanel ou Louis Vuitton pode estar manchado pelo suor de trabalhadores esquecidos, relegados ao anonimato. E assim, enquanto o mercado de falsificações prospera, o preço a ser pago — tanto financeiramente quanto eticamente — se torna mais difícil de ignorar.

O debate sobre as falsificações não é apenas sobre as réplicas em si, mas sobre o que estamos dispostos a sacrificar em nome do luxo. Não se trata apenas de quem pode ou não comprar o autêntico, mas de quem somos como consumidores, e de como nossas escolhas ressoam em uma cadeia global de produção onde o verdadeiro custo do desejo muitas vezes permanece invisível.

As bolsas de luxo, com todo o seu brilho e exclusividade, são muito mais do que simples acessórios. Elas carregam o peso simbólico de um mundo que valoriza a imagem sobre a substância, o ter sobre o ser. Cada peça é uma promessa de que se pode adentrar em um círculo restrito, onde o prestígio e o poder parecem estar ao alcance de quem as porta. Porém, seja autêntica ou falsificada, a verdade que essas bolsas revelam é a mesma: elas são objetos que tentam preencher um vazio que vai muito além do material.

Para alguns, possuir uma dessas bolsas é uma forma de validar sua personalidade em um mundo onde o sucesso é medido pelo que se exibe. Para outros, a imitação é a única maneira de participar dessa narrativa, ainda que apenas temporariamente. No entanto, seja no couro genuíno ou na réplica meticulosamente elaborada, a busca pelo pertencimento raramente encontra sua satisfação. A bolsa, por mais rara ou desejada que seja, não tem o poder de transformar quem a carrega. O luxo que ela promete é falacioso, efêmero, e deixa para trás apenas o eco de um desejo que nunca se apaga.

E assim, o ciclo continua. O fascínio pelo luxo persiste, alimentado pela fantasia de que, ao segurá-la, se pode finalmente tocar o inatingível. Mas, no fundo, o que as bolsas de luxo realmente oferecem é a mesma ilusão que o próprio mercado capitalista vende: uma busca interminável por algo que nenhum artefato, por mais exclusivo que seja, será capaz de entregar. Afinal, o verdadeiro valor nunca esteve no objeto, mas no fetiche que a mercadoria representa.