Tendências para próxima estação marcam presença na passarela em meio a referências inusitadas
por
Bruna Quirino Alves
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14/04/2025 - 12h


Weider Silveiro  

Weider Silveiro iniciou a sequência de desfiles da  quarta-feira (9) no Shopping JK Iguatemi. A inspiração de sua coleção de inverno foi a deusa do amor e da beleza, Vênus.

Além de trazer um estudo de várias versões da figura mitológica, previamente retratadas na história, o estilista também se aprofundou nas representações humanas da divindade, ao aclamar artistas femininas conhecidas por, tanto por seus talentos, como suas belezas físicas, como Madonna, Cher e Joelma.

As peças da coleção trazem uma nova versão dos caimentos clássicos de busto, quadril e cintura, incorporando novos formatos e silhuetas para os cortes. Com paletas em tons pastéis, elementos que estão em alta no mundo da moda também foram incluídos nos looks, como a saia balonê e a modelagem assimétrica.

Modelo com vestido vinho desfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo de vestido rosa vdesfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reptilia

O segundo desfile do dia foi da marca Reptilia. A coleção “Tectônica” se inspira em falhas e deslocamentos geológicos, apresentando peças com tons terrosos e estampas que remetem ao solo. 

As peças foram pensadas a partir de uma proposta agênero e tal pluralidade ficou evidente  passarela. A cartela de cores predominante no desfile ficou estacionada nos  tons marrons, com leves toques de azuis, verdes e cinzas, remetendo  a pedras minerais.

A estamparia chamou atenção por um  detalhe particular da diretora criativa, Heloisa Strobel. As estampas foram feitas a partir de fotos tiradas pela própria designer com uma câmera analógica de 35mm durante uma viagem ao Oriente Médio.

A composição de looks conta com sobreposições, peças modulares, tecidos fluídos e alfaiataria que é característica da marca. Além disso, o processo de produção inova ao combinar corte a laser com bordado manual e uso de retalhos. O reaproveitamento de tecidos reafirma o compromisso da marca com a moda sustentável.

Modelo desfilando com vestido estampado
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando na passarela com roupa preta e branca
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Led

O desfile da marca Led foi o terceiro do dia, com a irreverência de ser inspirado em novelas brasileiras.

LED apresenta a sua coleção “BR SHOW”, ambientada como um programa de televisão. A trilha sonora contava com um remix de bordões icônicos da teledramaturgia brasileira, falas de apresentadores e aberturas de programas famosos.

O estilista, Celio Dias, disse em entrevista à Globo que aproveitou a estreia da nova versão de “Vale Tudo” para embarcar na atmosfera das novelas brasileiras, sob a perspectiva de alguém que acompanhou o surgimento de tendências que vieram dessas produções.

As peças da coleção são maximalistas e contam com mistura de estampas: animal print, listras e bolinhas, além de ornamentos como franjas e pelúcia, também incorporando pontos de tricô e crochê em alguns modelos.

O streetwear teve grande destaque no desfile, com a presença de calças cargo, casacos esportivos, moletons, camisetas gráficas com trocadilhos e tênis de corrida.
 

Modelo desfilando com macacão listrado
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando com vestido listrado preto e branco
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À La Garçonne

O último desfile da noite foi da marca À La Garçonne, com sua coleção mesclada entre streetwear e alfaiataria.

O estilista Fábio Souza não pensou em nenhum tema específico para basear a sua coleção, seu foco era criar peças usáveis prezando o conforto acima da estética.

O vestuário apresentado chamou atenção pela mistura de estampas, com destaque para o xadrez, que é a tendência da estação. Silhuetas bem estruturadas, uso de pregas, caimento oversized e tênis esportivos compuseram os looks.

A paleta de cores é sóbria em tons de verde militar, marrom e grafite, com o contraste de alguns relances em tons de vermelho e roxo.

O processo de produção da coleção foi realizado a partir do upcycling de tecidos vintage da própria marca e garimpado de outras. O estilista reforça o conceito de moda consciente e reuso de materiais têxteis, criando novas peças customizadas e sustentáveis.

Modelo desfilando com terno xadrez
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando vestido e calça de terno
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite


 

 

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Com grandes nomes da moda brasileira, evento chega ao seu penúltimo dia
por
Gustavo Oliveira de Souza
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14/04/2025 - 12h
Foto de desfile
Modelo durante desfile da Dendezeiro. Foto: Mauricio Santana, Getty Images
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Na quinta-feira (10), o quinto dia de desfiles na São Paulo Fashion Week  trouxe aos holofotes marcas fundamentais ao cenário nacional, pilares do reconhecimento da moda brasileira país a fora.

João Pimenta 

O primeiro desfile do dia foi do estilista João Pimenta. O já consagrado artista, que por alguns anos misturou elementos da moda voltada aos dois gêneros decidiu apostar em um conceito quase todo concentrado  no vestuário masculino. O desfile aconteceu na estação Júlio Prestes do metrô, com o nome “Em Construção”. Sua obra buscou questionar os rumos da tecnologia na moda e valorizar o trabalho manual.

Dendezeiro

No JK Iguatemi, a Dendezeiro foi a segunda grife do dia a desfilar. A marca baiana da dupla Hisan Silva e Pedro Batalha trouxe um conceito que homenageava a região Norte do Brasil, com muito destaque à Amazônia. Chamada de “Brasiliano 2: A Puxada para o Norte”, o desfile destacou a fauna, com estampas de peixe e bolsas em formato de capivara, além de camisetas com frases exaltando a cultura local.

MNMAL

O penúltimo desfile do dia foi da estreante MNMAL. Fundada em 2022, a marca tem seu conceito baseado no minimalismo, e na passarela não foi diferente. Assinada pelo estilista Flávio Gamaum, as peças têm como principal destaque o conforto, pensada para o cotidiano no lar e home-office. Mesmo com todo o conforto, a elegância não é deixada de lado.

Walério Araújo 

Fechando o dia 10, o importante estilista Walério Araújo trouxe seu conceito usualmente impactante. Já tendo sido considerado um dos maiores estilistas do mundo, o pernambucano traz, novamente, a ousadia. Com diversas homenagens às mulheres trans, a bandeira de arco-íris apareceu em vestidos e peças mais casuais. Como novidade, a alfaiataria esteve presente, com peças que mostram a diferença na manifestação de gênero em locais públicos e privados.

Todos os desfiles marcaram, novamente, uma nova trajetória na moda brasileira. Sendo dos mais novos aos mais veteranos, quem esteve presente pôde acompanhar mais um capítulo da história do fashion no Brasil. 

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Tecnologia auxilia na análise de tendências, preferências do público e desempenho de vendas, otimizando a criação de coleções mais assertivas e sustentáveis
por
Larissa Pereira José
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24/03/2025 - 12h

A moda sempre foi um reflexo do comportamento humano, e nos últimos anos, a tecnologia tem desempenhado um papel crucial na forma como as coleções são criadas. No segmento fashion, que exige inovação constante para atender a um público cada vez mais exigente, a Inteligência Artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta essencial. Desde a pesquisa de tendências até a análise de dados de vendas, a tecnologia vem revolucionando o processo criativo e estratégico.  

Para entender melhor essa transformação, conversamos com Nayara Graziela do Lago, estilista responsável pelo desenvolvimento de roupas fitness femininas para um grande magazine. Com anos de experiência no setor, ela destaca como a IA tem otimizado seu trabalho e impactado positivamente as coleções. “Antes, a pesquisa de tendências era um processo muito manual e baseado na intuição. Hoje, conseguimos usar IA para analisar um grande volume de informações e identificar padrões com muito mais precisão”, explica Nayara.  

Ferramentas de inteligência artificial são capazes de cruzar dados de redes sociais, desfiles internacionais, comportamento de busca na internet e até avaliações de clientes em e-commerce. Isso permite que a equipe de estilo tenha uma visão mais clara do que está em alta e do que realmente pode funcionar para o público-alvo. “No segmento fitness, por exemplo, percebemos que há uma crescente demanda por peças multifuncionais, que possam ser usadas tanto na academia quanto no dia a dia. A IA nos ajuda a confirmar essa tendência analisando o comportamento dos consumidores em tempo real”, acrescenta a Nayara.  

Além de prever tendências futuras, a inteligência artificial também tem um papel fundamental na análise de coleções passadas. A tecnologia permite avaliar quais peças tiveram melhor desempenho de vendas, quais cores e modelagens foram mais aceitas e até quais tecidos proporcionaram mais conforto ao consumidor.  

“A cada nova coleção, conseguimos acessar relatórios detalhados sobre o que funcionou e o que precisa ser ajustado. A IA cruza dados de vendas com feedbacks dos clientes e nos mostra, por exemplo, se determinada peça foi muito devolvida por problemas de caimento ou se uma estampa específica teve alta aceitação. Isso nos dá uma base muito mais sólida para criar novos produtos”, explica Nayara.  

Esse tipo de análise evita desperdícios e ajuda a direcionar melhor os investimentos na produção. Em um mercado cada vez mais competitivo, entender as preferências do público-alvo é essencial para criar coleções assertivas e bem-sucedidas. Outro aspecto revolucionário do uso da inteligência artificial na moda está na criação de estampas e modelagens. Hoje, já existem softwares que geram prints exclusivos baseados em combinações de cores e texturas identificadas como tendências. Além disso, ferramentas de simulação virtual permitem testar digitalmente o caimento das peças antes mesmo da confecção dos primeiros protótipos físicos.  

“Isso reduz drasticamente o desperdício de materiais e encurta o tempo de desenvolvimento das coleções. Antes, fazíamos diversos testes com tecidos e modelagens diferentes, o que demandava tempo e custos. Agora, conseguimos visualizar um look completo de forma digital e fazer ajustes antes de costurá-lo”, explica Nayara. 

Maquinário de fábrica têxtil que desenvolve peças sem costura.
Maquinário de fábrica têxtil que desenvolve produtos sem costura.

Apesar das inúmeras vantagens proporcionadas pela IA, Nayara faz questão de ressaltar que a tecnologia não substitui a criatividade humana. “A moda tem emoção, identidade e precisa criar conexão com o consumidor. A IA é uma ferramenta poderosa, mas o toque final ainda é do estilista. Somos nós que interpretamos os dados e transformamos essa informação em coleções que realmente conversam com o público.”  

Para a estilista, o futuro da moda passa pela combinação entre tecnologia e sensibilidade humana. “O uso da IA no desenvolvimento de coleções já é uma realidade e tende a crescer cada vez mais. Mas a essência da moda continua sendo a criatividade e a capacidade de contar histórias por meio das roupas”.  

Com um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo, a inteligência artificial se consolida como um diferencial estratégico para marcas que desejam inovar, reduzir desperdícios e entregar produtos alinhados às expectativas do consumidor moderno. E, como Nayara bem pontua, quando aliada ao olhar criativo do estilista, a tecnologia se torna uma poderosa ferramenta para transformar dados e estatísticas em coleções de sucesso.

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Dezessete desfiles comemorarão três décadas do maior evento de moda da América Latina
por
Bianca Pisciottano Athaide
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17/03/2025 - 12h

No início do mês de abril, entre os dias 06 e 11, acontecerá o primeiro período da temporada de moda nacional, o São Paulo Fashion Week (SPFW). Nesta edição, dividida entre o Shopping JK Iguatemi, a Casa Higienópolis e outras locações externas, a semana, além de celebrar a inovação da indústria, também comemora o seu trigésimo aniversário. 

 

Em uma edição mais compacta que a anterior, em outubro de 2024, a programação celebratória promete trazer artistas e marcas da indústria de moda brasileira que ajudaram a consolidar a SPFW, ao longo de três décadas, como uma plataforma de expressões artísticas e impacto cultural. Estilistas como Herchcovitch; Alexandre, Lino Villaventura e Walério Araújo estão confirmados no line-up, com instalações e desfiles que entregam o DNA inovador e característico da única semana de moda da América Latina presente no calendário internacional. 

 

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Herchcovitch; Alexandre na SPFW de 2024 (Foto: Zé Takahashi - Divulgação SPFW)

 

A primeira edição de 2025 também apresentará novidades: as estreias de Leandro Castro e MNMAL abriram esse novo ciclo do evento, trazendo frescor essencial para o cenário de moda nacional. Ambos novatos são sinônimo de produção sustentável e preocupação ambiental, com peças feitas artesanalmente, através da redução de materiais. Leandro, que teve passagem pela Casa dos Criadores, sobe às passarelas no dia 09, com sua coleção construída através de materiais descartados. No dia seguinte, MNMAL esbanja no Shopping JK Iguatemi seu conceito minimamente essencialista. 

 

Outro momento muito aguardado para essa edição é o retorno da PIET para o SPFW. Depois de quase 5 anos longe das passarelas paulistanas, a marca criada pelo estilista Pedro Andrade traz de volta sua estética streetwear, agora, de maneira mais sofisticada, do que em sua última participação em 2019, já que, desde então, a PIET se consagrou internacionalmente no cenário da cultura urbana - e no guarda-roupa de muitos seguidores apaixonados por sua conexão autêntica com o estilo.

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PIET, SPFW de 2019 (Foto: Zé Takahashi - Divulgação SPFW)

Para reafirmar seu compromisso com a exaltação da criatividade e riqueza em técnicas, a SPFW também convidou nomes como Patricia Viera, referência de trabalho em couro no Brasil; João Pimenta e sua característica alfaiataria de vanguarda; a Dendezeiro novamente, para reforçar seu olhar carinhoso e analista sobre a identidade cultura brasileira e a Aluf, com suas inovações na área têxtil. 

 

A edição de número 59 é o primeiro capítulo da celebração que promete ser histórica para o mercado de moda brasileiro. Ao longo dos últimos 30 anos, entre altos e baixos, a SPFW se consagrou internacionalmente como palco para criatividade e exaltação, na mesma medida, de inovação e tradição nacional. 


O line-up completo está disponível no site do evento: https://spfw.com.br/spfw-30-anos-futuros-possiveis/

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Em meio a pressão financeira, grupo Kering nomeia ex-estilista da Balenciaga
por
Gabriela Jacometto
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17/03/2025 - 12h

 

 À frente da Balenciaga desde 2015, Demna Gvasalia redefiniu os códigos do luxo contemporâneo ao combinar elementos da cultura de rua com a alta-costura. Durante sua gestão, a marca italiana de streetwear experimentou um crescimento expressivo, com número de  vendas quadruplicando nos primeiros cinco anos e superando €1,5 bilhão em 2021.

   Foi com essa abordagem de sucesso em mente que o grupo Kering, nesta quinta-feira (13), anunciou, através de comunicado vinculado em suas redes, o  estilista como o novo diretor criativo da Gucci

  Com essa mudança, a Gucci busca reverter a queda de 23% nas vendas registrada em 2024 e retomar sua relevância cultural, assim como retomar o processo de  crescimento sustentável. 

 O CEO da Kering, François-Henri Pinault, destacou que a criatividade de Demna é exatamente o que a marca precisa neste momento. O designer é consagrado em meio a indústria fashion por dominar a arte de colisão entre luxo, cultura urbana e questões político-sociais da atualidade.  Com esse movimento, fica claro a intenção do grupo de diretores: Demna deverá transformar a Gucci, novamente, em um epicentro de tendências culturais, assim como fez com sua antiga casa.  

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Alessandro Michelle, ex-diretor criativo da Gucci e Demna. Imagem: Getty Images

 

 Em nota oficial, o estilista declarou estar entusiasmado com o novo desafio e ressaltou a honra de contribuir para uma maison que sempre respeitou e admirou. Sua despedida da Balenciaga acontecerá no desfile de Alta-Costura de Paris, em julho deste ano, antes de assumir oficialmente seu novo posto na Gucci.

 

 Essa transição estratégica faz parte dos planos da Kering para revitalizar a Gucci, sinônimo de excelência e tradição do mercado de moda, apostando na visão singular de Demna para renovar a identidade da icônica marca italiana.  

HISTÓRIA DE DEMNA

Nascido em 25 de março de 1981 em Sukhumi, na Geórgia, Demna Gvasalia se tornou um dos estilistas mais influentes da atualidade. 

 Sua trajetória foi marcada pelo deslocamento forçado durante a Guerra Vivil Georgiana (1991-1993), que levou sua família a buscar refúgio em países como Ucrânia e Rússia, antes de se estabelecer definitivamente em Düsseldorf, na Alemanha, no ano 2000.

 Antes de ingressar no universo da moda, Gvasalia iniciou seus estudos em economia internacional na Universidade Estatal de Tbilisi. No entanto, sua verdadeira vocação o levou à Bélgica, onde concluiu, em 2006, um mestrado em Design de Moda na prestigiada Academia Real de Belas Artes de Antuérpia.Sua carreira teve início no mesmo ano, quando passou a colaborar com o estilista Walter Van Beirendonck em coleções masculinas. 

Logo em 2009, foi contratado pela Maison Martin Margiela para liderar as coleções femininas. Cargo que ocupou até 2012. Depois, assumiu o posto de designer sênior de prêt-à-porter feminino na Louis Vuitton, onde trabalhou sob a direção de Marc Jacobs e, posteriormente, de Nicolas Ghesquière.

 O grande salto veio em 2014, quando fundou a Vetements, ao lado de seu irmão, Guram Gvasalia. A marca rapidamente se destacou por sua abordagem disruptiva e sua crítica às normas tradicionais da indústria. 

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Desfile VETMENTS S/S 2015. Imagem: Vogue Runway

 

 No mesmo ano, sua primeira coleção feminina foi apresentada na Semana de Moda de Paris e, em pouco tempo, a Vetements já figurava entre os indicados ao Prêmio LVMH para Jovens Designers de Moda.

O reconhecimento crescente levou Demna a assumir, em 2015, a direção criativa da Balenciaga, substituindo Alexander Wang. Desde então, ele tem redefinido a identidade da grife, consolidando seu nome como um dos mais inovadores e polêmicos da moda contemporânea.

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Conhecido por suas peças exclusivas feitas à mão em colaboração com artesãs brasileiras e pelo impacto positivo que causa no cenário da moda
por
Giovanna Montanhan
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07/08/2024 - 12h

Nesta terça-feira (06), ocorreu a estreia do designer brasileiro na semana de moda de Copenhague. A coleção ‘Roadtrip’, de primavera/verão 2025, faz parte de uma extensão que foi apresentada no último São Paulo Fashion Week, em 2023 

O estilista João Maraschin é gaúcho, natural de Caxias do Sul. Ele se mudou para Londres, onde mora há mais de seis anos, após trabalhar como assistente do designer Ronaldo Fraga. Durante sua estadia, adquiriu experiência trabalhando com marcas renomadas como JW Anderson, Gucci e Alexander McQueen. Em 2020, fundou sua marca homônima .

Sustentabilidade pode ser a palavra-chave para definir suas criações, que envolvem o trabalho de muitas artesãs, tecendo o que nenhuma máquina, nem a mais tecnológica do mercado, poderia fazer. Por esse motivo, a etiqueta estreou na semana de moda de Copenhague, que é inteiramente dedicada a marcas que têm a responsabilidade ambiental como um pilar fundamental.

A semana de moda de Copenhague teve sua primeira edição em 2006. Em 2010, começou a se destacar no cenário global por firmar um compromisso com a sustentabilidade, assim como a própria cidade já era conhecida por sua abordagem avant-garde (termo que designa caráter vanguardista e inovador), em relação ao meio ambiente. Isso impulsionou significativamente o evento, que veio a adotar práticas mais ecológicas em suas apresentações. Em 2012, a organização começou a implementar iniciativas para reduzir seu impacto ambiental, incluindo o uso de materiais reciclados. Em 2020, o comitê da CPFW estabeleceu metas ambiciosas para reduzir as emissões de carbono, cujo objetivo final era promover o desperdício zero até 2023 e continuar fomentando a moda circular.

Para a revista Harper 's BAZAAR, João explicou o motivo pelo qual escolheu continuar apresentando a coleção 'Roadtrip' neste evento e afirmou: '’Não há mentoria ou dinheiro, mas um acompanhamento para seguir planos de transformar o impacto negativo em positivo. É uma prática muito única na indústria, onde a sustentabilidade é usada como ferramenta de marketing e greenwashing. Esta é a semana que mais condiz com meus valores e com o que a marca significa’’.

O estilista executou uma coleção extremamente sofisticada, sem deixar de lado o trabalho manual, que é o protagonista de todas as suas criações. A partir disso, o streetwear ganhou uma nova roupagem, com novas texturas, cores e transparências.

 Há quem diga que moletons não são bem o que se espera quando falamos em moda de verão, especialmente em um país tropical. No entanto, o trabalho de João Maraschin se diferencia ao permitir que a brasilidade das peças floresça na delicadeza dos detalhes, como na presença das rendas, dos crochês e do macramê.

Esta coleção ainda passará por Paris e Milão, retornando para São Paulo em outubro para a edição N58 da São Paulo Fashion Week, encerrando este ciclo. 

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Foto: Getty Images

 

 

 

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Foto: Getty Images

 

 

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Foto: Getty Images

 

 

 

 

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Foto: Getty Images

 

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A escolha do uniforme brasileiro não agradou o público e COB afirma que o foco é outro.
por
Bruna Quirino Alves
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26/07/2024 - 12h

 

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) estreou o uniforme que será usado pela delegação durante as Olimpíadas deste ano, sediada em Paris. O design do uniforme utilizado na cerimônia de abertura foi criado pela Riachuelo, uma das maiores redes varejistas do país. 

As roupas consistem em blusas listradas, verdes e amarelas, calças brancas para os homens e saias abaixo do joelho para as mulheres, além de jaquetas jeans personalizadas por bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte. 

Atletas em fila vestindo o uniforme olímpico em evento
Atletas desfilam vestindo o uniforme em evento no Rio de Janeiro. Foto: Alexandre Loureiro/COB

 

Segundo o COB, as roupas foram pensadas e produzidas a partir de um processo de confecção sustentável e artesanal, tendo em mente o conceito de moda circular e a valorização da biodiversidade brasileira. 

Porém, a modelagem das roupas não atendeu às expectativas do público (nem de alguns atletas), que chegou a demandar que os uniformes fossem refeitos por outras marcas. Estilistas renomados no país, como Weider Silverio e Mayara Jubini, pontuaram que a simplicidade e a modéstia que as peças apresentam não refletem a cultura brasileira, além da falta de representação indígena nos modelos, que é uma das maiores heranças do país. 

Os uniformes apresentados por delegações de outros países evidenciam a falta de identidade brasileira nas peças nacionais. Os trajes de outras equipes trouxeram, além de referências culturais notórias, autenticidade e elegância na estética - se destacando na mídia.

O modelo que mais chamou a atenção nas redes sociais foi o da Mongólia. As peças foram assinadas pela grife de luxo Michel & Amanzoka, das irmãs e designers Michel Choigaalaa e Amazonka Choigaalaa. A modelagem foi inspirada nas vestimentas tradicionais do país: túnicas e mangas longas. Conta com bordados de símbolos relevantes na cultura mongol, como o Sol e a Lua, e um falcão — como símbolo de força e resiliência. Também possuem homenagens às Olimpíadas, com a tocha e o emblema dos Jogos de Paris presentes nos bordados.

Modelos vestindo o uniforme da Mongólia
Uniforme da Mongólia apresentado pela grife Michel & Amazonka. Foto: Divulgação/Michel&Amazonka

Paulo Wanderley, presidente do Comitê, conversou com jornalistas na base do Time Brasil na França e rebateu as críticas ao uniforme afirmando: “'Não é Paris Fashion Week, são os Jogos Olímpicos”. Outros executivos do comitê opinaram de acordo com o presidente, dizendo que ainda escolheriam o mesmo uniforme – que supostamente apresenta “elementos da moda parisiense”. 

Alguns fatores podem ter passado despercebidos nessa discussão: o fato de Paris ser a sede olímpica e um dos berços da moda aumentou as expectativas do público quanto à estética das roupas, principalmente pela exposição que os Jogos trazem para os países e para as marcas que produzem os uniformes. 

Além disso, dar a entender que moda e esporte não se misturam é um contrassenso, principalmente quando as últimas décadas da história da moda provam o contrário. 

Muitas grifes renomadas começaram suas produções com um propósito voltado para o esporte, como a Lacoste por exemplo, que desenvolveu a camisa polo para ser usada durante partidas de tênis, com o propósito de facilitar a mobilidade dos jogadores. O famoso tênis All Star, da marca Converse, foi idealizado para jogadores de basquete e foi utilizado no esporte por anos. 

Nos dias de hoje, o sportwear é uma dos segmentos mais relevantes da moda e atletas também são reconhecidos por sua relação com a moda, além do âmbito esportivo. 

Lewis Hamilton, piloto de Fórmula 1, se consolidou como um ícone fashion, dentro e fora das pistas. O piloto deixa claro sua afeição pela moda e suas escolhas de look chamam atenção pelas estampas chamativas e o uso de formas e cortes ousados.

Lewis Hamilton em macacão preto e branco do estilista Rick Owens
Lewis Hamilton vestindo Rick Owens no Grand Prix de Imola. Foto: Stefano Guidi/Getty Images

Nas Olimpíadas, Sha’Carri Richardson é uma atleta que vai roubar os holofotes. A atual campeã mundial dos 100 metros rasos mantém sua autenticidade durante as provas de atletismo. 

Sha’Carri esbanja o maximalismo em acessórios e seus diferentes tipos de penteados, desde laces coloridas até tranças, porém sua marca registrada são as suas unhas. A velocista usa unhas longas, coloridas e em diversos formatos enfeitadas com pedrarias. 

Em entrevista para a revista KSL Sports, a atleta estadunidense afirma querer trazer beleza para as pistas de atletismo. 

Sha’Carri quer se sentir bonita nas competições, assim como fora delas e suas unhas, segundo ela, além de aumentarem sua autoestima, também melhoram sua aparência enquanto compete. 

 

Moda e esporte nunca andaram tão juntos quanto agora. 

Sha'Carri Richardson mostrando suas unhas
Sha’Carri Richardson exibindo suas unhas. Foto: Divulgação/Instagram

 

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Confira os principais destaques dos quatro dias de evento na capital francesa
por
Gabriela Jacometto
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03/07/2024 - 12h

       Tendo início no século 19, a alta-costura chegou ao público através do designer de moda inglês Charles Frederick Worth. Enquanto o mesmo residia na França, o designer começou a apresentar suas peças quase inteiramente prontas e suas coleções já finalizadas, diferentemente do que era comum na época.  

     Tal método revolucionou a moda e deu origem a um novo modo de produção, no qual costureiras, alfaiates e modelistas passaram a ganhar mais reconhecimento, elevando ao o status de artistas e deixando de apenas prestarem serviços, com a abertura de seus próprios ateliês.

      Em 1868, é fundada a associação de alta-costura francesa, que passou a se chamar apenas “Chambre Syndicale de la Haute Couture”. Atualmente, a organização  faz  parte da “Fédération de la Haute Couture et de la Mode”, a responsável pela indústria de moda na França, e que organiza suas semanas de desfiles. 

      Na semana do dia 24/06 a 28/06 aconteceu em Paris os desfiles das coleções de “haute couture” (Alta-Costura) inverno de 2024. Com a presença das principais marcas de luxo da indústria internacional, o evento celebrou a exaltação do belo.

 

      SCHIAPARELLI 

   No primeiro dia do evento , tivemos a estreia dos desfiles com Schiaparelli de Daniel Roseberry, atual diretor criativo da marca.  O desfile foi marcado por ares de mudança no que se diz respeito à própria marca, diferente dos desfiles anteriores, uma aura sombria e misteriosa tomou conta do Hôtel Salomon de Rothschild, local em que foi apresentada a coleção. 

   Com combinações preto e branco, texturas remetem a penugens e bordados prateados, Roseberry inovou e trouxe novos volumes esculturais, de formas criativas e intrínsecas, com looks mais envolventes, sinuosos e provocantes. E claro, trazendo sempre homenagens e referências a Elsa Schiaparelli, criadora da marca.  

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Foto: Cortesia Schiaparelli

 

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Foto: Reprodução instagram (@schiaparelli.archives)

 

   

     CHANEL 

     Após a saída surpresa de Virginie Viard, do comando criativo da marca, a Chanel seguiu seu ritmo e apresentou sua coleção de alta costura desenvolvida pelo próprio time de ateliê e design da ex- diretora. Situado na Ópera de Paris e composto por 46 looks, o desfile foi marcado pelos bordados preciosos e os detalhes românticos como laços e flores, em casamento com as mangas com babados. O look de abertura desfilado por Victoria Ceretti chamou atenção e marcou a atmosfera de como seria a coleção: Uma capa bufante combinada com uma hot pants. 

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Foto: Isidore Montag / Gorunway.com

 

    Os tailleurs de comprimento mídi também foram destaque, principalmente pelas plumas e cristais bordados.

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Foto: Isidore Montag / Gorunway.com

   

    E como é de costume na Chanel, o desfile foi encerrado pelo look de alta-costura de noiva, um vestido longo remetendo aos anos 80 com bastante volume, mangas e bordados glaceados e com uma saia quase balonê.  

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Foto: Isidore Montag / Gorunway.com

 

    

      ELIE SAAB

     A marca do estilista libanês Elie Saab, retornou mais uma vez às passarelas com uma coleção de alta-costura que referencia o próprio trabalho do estilista e designer. O primeiro look foi um vestido sereia justo em veludo preto, que diferentemente do que é esperado de Elie sugeria um tom mais dramático ao desfile, sem nenhum acessório. A inspiração, segundo Saab, foi  uma referência a seu trabalho nos anos 90 e como o mesmo se manteve consistente durante esses anos. 

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Foto: Filippo Fior / Gorunway.com

 

 

    O desfile foi marcado pela progressão de peças pretas para tons profundos de rubi e verde-esmeralda, com variações de formas sinuosas e elegantes. Os bordados foram os principais elementos em várias criações , com ornamentos de floreios, penas e apliques de flores. 

   Em contraponto à paleta noturna, Saab apresentou peças  em dourado que são consideradas por muitos sua marca registrada, trazendo um lado mais extravagante da feminilidade. 

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Foto: Filippo Fior / Gorunway.com

 

   O brilho das lantejoulas prateadas enfeitavam os vestidos mais suntuosos e generosos em volume. O final foi um pico de luxo, com o vestido la mariée que misturava tule blush, com bordados em arabesco de ouro claro, e uma cauda majestosa. Digno de um encerramento de um desfile de alta-costura.

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Foto: Filippo Fior / Gorunway.com

 

   

     BALENCIAGA

    Sendo a quarta coleção de alta-costura sob o comando do estilista  Demna, essa com certeza foi a mais subversiva em sua rejeição à formalidade e às elegâncias típicas do métier, se não das silhuetas de Cristóbal Balenciaga. O diretor criativo  adotou as mangas 3/4, os formatos de casulo e os chapéus elaborados de costureiro, mas adicionou o seu diferencial nos tecidos  utilizados: jeans, couro, agasalhos, moletons, bien sûr, unindo-os a um material de mergulho acetinado, que o ajudou a atingir suas formas esculpidas. 

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Foto: Cortesia Balenciaga

 

   Conforme o desfile progredia, o diretor se movia para as silhuetas noturnas extravagantes associadas à alta-costura, só que elas eram feitas de retalhos de jeans e parkas coloridas que pareciam ter sido reaproveitadas das coleções anteriores de Demna para a marca.  

   Diferenciando apenas com novos tecidos e técnicas; um vestido coluna foi feito de sacolas plásticas derretidas moldadas no corpo, e um modelo sem alças foi construído com papel alumínio dourado.  

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Foto: Cortesia Balenciaga

 

    As peças pediam que você reconsiderasse as maneiras pelas quais atribuímos valor às roupas e a razão que consideramos uma coisa preciosa e a outra não. O look final foi uma nuvem rodopiante de nylon preto, construído um pouco antes do desfile, uma peça de “costura efêmera” que virá acompanhado de 3 staffs da própria marca para a sua montagem para a cliente que comprar. 

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Foto: Cortesia Balenciaga

 

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Exposição homenageia trigésimo aniversário de carreira de um dos maiores nomes da moda brasileira
por
Helena Maluf
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28/06/2024 - 12h

A exposição "Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda" ambientada no Museu Judaico de São Paulo é uma forma de celebrar a impactante carreira do renomado estilista brasileiro. A exibição ficará em cartaz até 08 de setembro, com entrada gratuita aos sábados. 

Herchcovitch, um dos nomes mais influentes da moda no Brasil e no mundo, é conhecido por suas criações ousadas, inovadoras, polêmicas e cheias de personalidade. A mostra  revisita todos os momentos mais icônicos de sua trajetória, nos conectando com a sua história.

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Roupas do estilista penduradas ao longo da exposição. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                         

Desde cedo Alexandre Herchcovitch demonstrou interesse pelo universo da moda, incentivado por sua mãe, Regina, que era modelista. Seu talento começou a florescer na adolescência, quando iniciou suas primeiras criações. A partir daí, sua carreira se desenvolveu rapidamente, levando-o a estudar moda na Faculdade Santa Marcelina, onde se formou em 1993.

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Convites para os primeiros desfiles do estilista. Foto: Helena Maluf 

Logo no início de sua carreira, Herchcovitch chamou a atenção por suas criações inovadoras e por seu estilo único, que desafiava as convenções da moda tradicional. Sua estética, muitas vezes marcada por uma mistura de elementos punk, góticos e fetichistas, rapidamente ganhou notoriedade. Na década de 1990, ele se tornou um dos principais nomes da moda brasileira, desfilando suas coleções na São Paulo Fashion Week e, posteriormente, em outras importantes semanas de moda internacionais, como Nova York, Paris e Londres.

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Telas presentes na exposição, onde era possível assistir os seus primeiros desfiles. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                             
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Pôster de campanha para uma de suas coleções. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                             

A exposição está dividida por uma linha de tempo, que percorre  toda a mostra, cada “parada” dedicada a uma época diferente da carreira e da vida do estilista. Desde suas primeiras criações até suas coleções mais recentes, a exibição  oferece uma visão abrangente de sua trajetória, destacando tanto suas conquistas profissionais quanto suas influências pessoais.

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Uma parte da linha do tempo exposta. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

Uma das seções mais importantes, e controvérsias, da exposição é dedicada à era “sadomasoquista” de Herchcovitch, mostrando ensaios fotográficos, acessos e peças de roupas as quais o artista foi bem criticado na época por fazer. Porém, hoje em dia, são consideradas peças de vestuário extremamente icônicas no mundo da moda. 

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Sapato com um salto de aproximadamente 1 metro de altura. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                               

 

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Vestido preto de seda com recortes reveladores, acessorizado com uma máscara preta de couro. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    

A exposição também aborda o impacto de Herchcovitch na moda brasileira e internacional, destacando sua influência sobre uma geração de novos estilistas e sua capacidade de transcender fronteiras culturais. Suas coleções, frequentemente inspiradas por temas como a identidade de gênero, sexualidade e política, refletem sua visão de mundo única e sua habilidade de usar a moda como uma forma de expressão artística e social.

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Convite de um de seus desfiles imitando um bilhete único. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                  
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Alguns acessórios e colaborações que o estilista fez com outras marcas. Foto: Helena Maluf

A exposição convida os visitantes a considerar a moda não apenas como uma forma de vestuário, mas como uma linguagem poderosa e versátil, capaz de expressar ideias, provocar reflexões e inspirar mudanças.

O legado de Herchcovitch é evidente não apenas nas peças expostas, mas também nas histórias e memórias que elas evocam. Sua capacidade de inovar, desafiar normas e incorporar elementos culturais diversos em suas criações estabeleceu novos padrões na indústria da moda e continua a influenciar estilistas e criadores ao redor do mundo

A semana da moda masculina em Milão trilhou novos caminhos para a indústria com criatividade e esperança
por
Maria Laura de Medeiros Varzea
|
26/06/2024 - 12h

Depois da Segunda Guerra Mundial, a indústria da moda alavancou seu próprio desenvolvimento e  ganhou um espaço enorme no cenário econômico mundial. Na Itália, isso não foi diferente. O conceito da alta-costura acabara de ganhar notoriedade, e foi em Florença que os desfiles ganharam vida. No ano de 1958, criou-se a Câmara Nacional da Moda Italiana. Como resultado, os desfiles e marcas de luxo passam a ser cada vez mais considerados importantes por cidadãos de todo o mundo. Em junho de 2024 a capital recebeu, mais uma vez, uma semana de moda com direito a passarelas de luxo dedicadas exclusivamente ao men'’s wear.  

Na Fashion Week de Milão (primavera/verão 2025), vários olhares se curvaram para a entrada de Adrian Appiolaza na Moschino, com a coleção "Lost and Found" ("Achados e Perdidos"). A perspectiva inovadora do novo diretor criativo da marca mistura moda e nostalgia. A era do empoderamento "bossy" ("mandão" ou "mandona", em inglês) foi desmanchada a partir do momento que blazers começaram a se mostrar como vestidos, tops com clipes de papel e jaquetas cheias de post-its. 

 

Moschino, Milão 2025
Moschino Spring 2025 
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com

 

Zegna

Alessandro Sartori, diretor artístico da Zegna, criou uma atmosfera semelhante a um campo de linho em sua passarela. Sua inspiração vem da relação entre o homem e a natureza, e isso se dá a partir das lâminas de linho confeccionadas em metal e os tons terrosos presentes na paleta de cores como o terracota, o bege e o amarelo. "Oasi of Linen" ("Oásis de Linho") quis evidenciar a riqueza desse material, ao mesmo tempo em que faz jus a ideia da coleção. 

Zegna, Milão, 2025
Zegna, Milão 2025
Foto: Filippo Fior/ Gorunway.com
 


Gucci

 

Dessa vez, o local escolhido pela Gucci para o lançamento de sua nova coleção foi o "Triennale Milano", uma clássica galeria de arte construída em 1930. Sabato De Sarno, diretor criativo da marca, utilizou da arquitetura e da iluminação da casa a seu favor. As peças transmitem um ar jovial e surfista, com conjuntos gráficos de shorts e camisas, chinelos e óculos de sol pendurados por uma gargantilha da maison. Camisetas polo, e peças um pouco mais justas também foram destaque, assim como as cores: tons de magenta, amarelo e verde. Tipicamente de De Sarno, enfeites floridos foram acrescentados aos looks, trazendo mais sofisticação para roupas feitas para serem usadas no dia-a-dia. 

Gucci, Milão 2025
Gucci, Milão 2025
Vogue Runway

 

Giorgio Armani

 

Armani lançou sua coleção deste ano de forma discreta. O estilista vem fazendo isso durante toda a sua carreira, prefere evitar conjuntos extravagantes e desmedidos. Armani prefere minimalismo e elegância atemporal, evitando tendências passageiras e cenários elaborados de desfile.

As peças de alfaiataria desconstruídas com um toque de extravagância, proporções generosas, camisas e coletes translúcidos, e uma paleta de cores clássica de Armani em tons de cinza e marinho.

O espírito viajante, outra marca registrada do estilista, também esteve presente na coleção. Estampas nebulosas de folhas de palmeira e chapéus de palha ou algodão evocavam destinos exóticos e um clima de descontração. Armani, "Il Maestro", foi aplaudido de pé após o fim do desfile. 

Giorgio Armani, Milão 2025
Giorgio Armani, Milão 2025
Foto: Isidore Montag/ Gorunway.com
 

JW Anderson

 

Jonathan Anderson obteve inspiração através dos princípios da hipnoterapia, técnica terapêutica de hipnose. Equilibrando o estranho com o sedutor em um estilo impecável, Anderson apresenta uma série de peças que desafiam as expectativas e aguçam os sentidos. 

Inicialmente, três looks estrearam a passarela; jaquetas acolchoadas over-sized, coletes e cardigans de malha. Anderson soube utilizar as medidas das roupas a seu favor, limitando ou ampliando as proporções das peças , com silhuetas alongadas ou encurtadas e gravatas enormes que desafiam as

normas. Saliências de cetim colorido e camisetas acolchoadas e redondas conferem um toque escultural às peças.

Alguns trajes também traziam memórias e sonhos que foram retraídos no subconsciente. De acordo com o diretor criativo , parte de seu entusiasmo aconteceu em sua última viagem ao festival de música Primavera Sound, na Espanha; "A experimentação de roupas entre as gerações mais novas é incrível. (...) O olhar da moda masculina e feminina mudou. As pessoas querem algo realmente desafiador". 

JW Anderson, Milão 2025
JW Anderson, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com
 

Martine Rose

 

O desfile da britânica Martine Rose foi marcante. Espectadores especularam como Rose conseguiria trazer sua característica underground para as passarelas italianas. O show aconteceu em um prédio industrial recheado de panfletos da marca pelo chão. As modelos desfilavam com narizes prostéticos e perucas que se arrastavam pelo chão. 

Homens utilizavam saias lápis ajustadas  ao corpo, ou calças cortadas para parecerem polainas. Camisetas de futebol encolhidas e mais justas, e diversas referências à vida noturna. A coleção celebrou  a individualidade e a expressão autêntica, independentemente da idade ou das expectativas sociais, referenciando também a vida noturna e seus códigos de vestimenta abundantes, criando uma conexão autêntica com a estética urbana da designer.

Martine Rose, Milão 2025
Martine Rose, Milão 2025
Foto: Isidore Montag/ Gorunway.com
 

Prada 


O depósito de Fondazione Prada recebeu uma nova instalação: uma cabana branca elevada por palafitas. De fora, luzes piscantes simulavam que uma grande festa acontecia lá dentro. Miuccia Prada e Raf Simons, co-diretores criativos da

marca, descreveram o espaço como uma "ravescape de conto de fadas", onde a coleção celebrava "liberdade, otimismo juvenil e energia".

  A ideia era ter peças que pareciam já ter "vivido uma vida", com silhuetas dinâmicas e propositalmente deformadas, encolhidas e exageradas. Mangas curtas, como se as peças tivessem sido emprestadas ou trocadas, camisas tortas e calças estreitas caídas na cintura e acumuladas nos tornozelos, criavam uma estética descolada e autêntica. A coleção também brincava com a percepção, desafiando o que os olhos viam. Camisetas bretãs trompe l'oeil com listras distorcidas, "cintos" de couro na cintura baixa que na verdade eram parte das calças e enormes óculos de sol com lentes adornadas com fotos de raves, estátuas romanas e estradas americanas criaram um clima surreal e desorientador. As estampas do artista Bernard Buffet, usadas "como uma camiseta de show", adicionam um toque artístico à coleção. Acessórios como bolsas de ombro com alças trançadas e sandálias de plataforma reforçavam a estética descontraída e jovem. "

Prada, Milão 2025
Prada, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com
 

Emporio Armani

 

Nesta temporada, a  Armani transportou seu homem urbano habitual para a selva, explorando temas de aventura e desinibição. A paleta de cores terrosas dominou a coleção, com tons de verde musgo, marrom profundo e cáqui. 

Camisas largas e volumosas combinavam com calças amplas e botas robustas, inspiradas no mundo equestre. A alfaiataria impecável da Armani se fez presente em jaquetas estilo safári e quimonos fluidos, enquanto o foco na cintura era constante, marcado por cintos em jaquetas utilitárias e detalhes em couro que realçam os blazers leves e descontraídos. 

O desfile chegou ao fim com um toque inesperado: um aroma de lavanda pairava no ar enquanto modelos vestidos com lederhosen (calças de couro tradicionais alemãs) percorriam o espaço carregando cestos de flores primaveris. A natureza,mesmo que domesticada nesse contexto, permeia toda a coleção, criando uma atmosfera única e memorável.

Emporio Armani, Milão 2025
Emporio Armani, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com
 

Fendi

 

Silvia Venturini Fendi, diretora das coleções masculinas e de acessórios da casa, revelou ter se inspirado em um mergulho profundo no rico arquivo da Fendi para criar essa coleção. Celebrando o centenário da marca romana neste ano, a designer concebeu um brasão comemorativo composto por quatro dos motivos mais icônicos da Fendi, incluindo o famoso emblema duplo F, que adornava suéteres e camisas na passarela. Essa estética conferiu à coleção um ar de time do colégio, algo que Venturini Fendi já havia mencionado em entrevistas pré-desfile, expressando seu desejo de que a Fendi se sentisse como um time ou clube. 

Suéteres listrados de rugby e gravatas combinando desfilavam lado a lado com jaquetas xadrez, blazers escolares e uma versão divertida da camisa de futebol. O resultado foi um uniforme coeso para o clã Fendi – e sua ampla base de fãs internacionais – ostentar com orgulho neste ano marcante do centenário da marca.

Fendi, Milão 2025
Fendi, Milão 2025
Foto: Daniele Oberrauch/ Gorunway.com
 

Dolce & Gabbana

 

Inspirados nos verões italianos despreocupados, Domenico Dolce e Stefano Gabbana criaram uma coleção que exala elegância descontraída. A ráfia, um elemento clássico da mobília italiana, se destaca como um dos materiais principais da coleção. Tecida em jaquetas de verão arejadas e camisas pólo oversized, a ráfia evoca a sensação de frescor e leveza dos dias ensolarados. 

A alfaiataria impecável, marca registrada da marca, permanece presente, com destaque para os paletós trespassados ​​combinados com calças plissadas que se ajustam na barra, remetendo à década de 1950. 

Para um toque de personalidade, a coleção é enriquecida com detalhes bordados e ornamentais. Ramos de flores vermelhas delicadas adornam calças e jaquetas brancas, conferindo romantismo e elegância à silhueta.

Dolce & Gabbana, Milão 2025
Dolce & Gabbana, Milão 2025
Foto: Isidore Montag/ Gorunway.com
 

MSGM

 

No sábado pela manhã, Massimo Giorgetti celebrou 15 anos da sua marca MSGM com um desfile de moda masculina ambientado em uma antiga garagem industrial nos arredores de Milão. A coleção, inspirada no mar e com uma estética limpa e gráfica, foi apresentada em um cenário vibrante de explosões de tinta em cores primárias contra caixas de Perspex que revestiam a passarela. Giorgetti explicou que a coleção fez referência às pinceladas ousadas e aos motivos gráficos que se tornaram a sua assinatura ao longo dos anos, reinterpretados aqui em uma variedade vibrante de estampas. 

Padrões náuticos, margaridas coloridas e impressões pictóricas de cenas litorâneas,  evocaram as memórias do designer de sua casa à beira-mar na Ligúria, perto de Portofino, onde a coleção foi idealizada. A atmosfera do desfile era a personificação do verão mediterrâneo. Com sua energia positiva e vibrante, o desfile transportou os convidados da Milão nublada para a ensolarada Riviera italiana.

MSGM Milão 2025
MSMG, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com

 


 


 

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