O domingo (14), último dia do evento, foi aberto com o comeback da marca Glória Coelho às passarelas. A coleção apresentada relembrou os anos 60, sem deixar seu lado futurista de fora, com roupas metálicas e um robô como modelo. Entre as outras roupas desfiladas, foi notório o uso do branco e do preto, do tule, rendas, paetês e até mesmo franjas.
O resultado foi uma coleção de espírito futurista romântico. Glória, conhecida por manter vivo o vínculo com o passado, proporcionou um desfile de peças com um apelo comercial muito positivo, que fideliza seus clientes, sem deixar de chamar atenção de novos olhares para sua criação.
Para o segundo desfile do dia, João Pimenta apresenta uma coleção cheia de streetwear, alfaiataria e muitas camadas.
A marca que tem como carro-chefe a alfaiataria, misturou calças cargos, camisetas, jaquetas, casacos com o seu estilo principal e, para surpreender mais, utilizou tie-dye, tons pastéis e preto na coleção. O ponto alto do desfile foi a homenagem aos 100 anos do Edifício Martinelli em forma de peças como, o próprio prédio estampado ou com os nomes “Martinelli” e “Anhagabaú” escritos.
O novo acervo apresentado pelo estilista traz algo nunca visto antes em suas criações, o especialista em alfaiataria colaborou com a Oakley na escolha dos acessórios e calçados, dando uma identidade única para o desfile.
E finalizando a edição, Amapô traz um show de diversidade e muita performance para as passarelas. Comemorando seus 20 anos, a marca retorna a fashion week com muito jeans e peças misturadas.
A dupla de estilistas, Carô Gold e Pitty Taliani, reuniu pessoas importantes para a Amapô e junto de artistas, misturaram suas criações antigas com peças inéditas. O desfile-performance trouxe um lado artístico para encerrar o dia, contou com a presença de muito brilho, cor, mix de estampas e acessórios únicos, além das performances e interações com o público. A marca mostrou seu diferencial trazendo uma festa para as passarelas.
O desfile mostra como a moda também é, e sempre foi, um ato de arte. Desde o começo da marca nos anos 2000, a Amapô traz espetáculos únicos e dessa vez, fizeram um show de upcycling, encerraram a edição mostrando seu amor pela moda e pela criação.
O dia de fechamento da São Paulo Fashion Week N57 foi marcado com inovações e surpresas. Cada marca desfilada teve um destaque singular com suas peças.
Roberto Cavalli nasceu em Florença, Itália, no ano de 1940. Em entrevista para Luke Leitch em 2011, Cavalli reconta os impactos psicológicos causados em sua vida após seu pai, um ativista antifascista, receber um tiro de soldados nazistas quando o estilista tinha apenas três anos. Aos 17 anos, começou a trabalhar como costureiro ao lado da mãe para ajudar financeiramente a família. Estudou Arte e Arquitetura no Instituto de Arte de Florença, onde conheceu sua primeira esposa, Silvanella Giannoni.
Na década de 1970, fundou sua própria marca e lançou sua primeira coleção no Palácio Pitti, em Milão. De estreia, logo apresentou uma técnica única, desenvolvida por ele mesmo, na qual foi possível realizar estampagem em várias peças de couro. A coleção foi extremamente bem aclamada pela crítica e sua técnica passou a ser cobiçada por casas consolidadas como a Hermès e a Maison Valentino que queriam adquirir seus direitos de exclusividade e autorais. Contudo, foi só em 1994 que Cavalli passou a ser consagrado na Milan Fashion Week
Mais tarde, outra inovação do estilista viraria febre aqui no Brasil e no mundo todo: a elastização das calças jeans. Este evento culminou na abertura de sua segunda marca, Cavalli Jeans, nos anos 2000s. Suas peças eram muito disputadas e uma certeza do público é que ao menos uma celebridade seria fotografada usando Roberto Cavalli. Dentre elas: Madonna, Lenny Kravitz, Cindy Crawford, Priscilla Presley, Devon Aoki, Britney Spears, Alessandra Ambrosio, Beyoncé e Zendaya, eram os principais modelos propaganda do estilista.
A notícia do falecimento de Roberto Cavalli veio por meio de comunicado postado no Instagram de sua própria marca: “Hoje nos despedimos com profunda tristeza do nosso querido fundador, Roberto Cavalli”. Sua saída deixa um vazio irreparável no mundo da moda, onde seu nome se tornou sinônimo de ousadia e elegância.
Roberto Cavalli revolucionou a indústria com sua visão distinta e suas técnicas inovadoras. Seu legado é imortalizado pelas icônicas estampas de animais, pela exuberância do couro e pela celebração do maximalismo.
O último sábado (13) começou com o convite para adentrar em um universo de ilhas paradisíacas com as peças masculinas de Gefferson Vila Nova. Nomeada "Jornadas", a coleção trouxe à passarela do Iguatemi São Paulo um guarda-roupa utilitário viajante, com referências ao universo do desenho animado "Aventuras de Tintim".
O estilista baiano apostou em peso no conceito de um homem moderno e viajante, sem destino final. Afirmando sua tradição, trouxe para o desfile um grande número de camisarias atemporais e intercalaveis. Todas as peças traduziram a concepção desejada pela marca: praticidade.
Foram explorados também o tafetá, o paetê e, pela primeira vez na história criativa do estilista, o jeans. Alguns modelos carregavam câmeras fotográficas e garrafas d'água, com o intuito de enfatizar o espírito aventureiro da coleção. Outro ponto cativante nas peças eram os desenhos gráficos da ilustradora Gabriela Cruz, que traziam profundidade e relevo para a viagem de Vila Nova.
Outro dos principais nomes da moda masculina, Igor Dadona, chocou o público com sua primeira coleção feminina. Um desfile dividido em duas metades, mostrou sua dualidade de criação quando mostra um cruzamento entre os gêneros em peças de alta alfaiataria, marca principal de sua grife homônima.
Um trabalho muito aplaudido pela sofisticação, com mesclas entre padronagens tradicionais, patchwork de seda e cetins acolchoados, marcou uma evolução discreta e coesa para a marca, em contrapartida ao histórico de imagens fortes da SPFW.
Já no começo da tarde, o único estilista indigena da edição N57 marcou sua presença no line-up do evento. Maurício Duarte trouxe a piracema - palavra originária do Tupi-Guarani para "subida do peixe"- para a passarela, com uma moda fluída, em tons monocromáticos.
A fonte de inspiração para o estilista foi o fenômeno natural do trânsito que os peixes fazem contra a corrente para fazerem a desova. Usando de muitas pregas e drapeados, a coleção do amazonense apresentava muitas peças que imitavam o efeito molhado, além de bolsas com longas franjas, que faziam alusão às ondas do mar.
Em parceria com o designer mineiro Carlos Penna, escamas do peixe pirarucu viraram ornamento em vestidos de crochê, realizando, assim, uma homenagem às culturas e vivências do estado de origem de Duarte.
O desfile mais esperado do dia iniciou a noite. Dendezeiro trouxe uma coleção mais introspectiva nesta edição da SPFW, abandonando brevemente seu apreço pelo streetwear.
A partir da pergunta "Se a gente morrer, qual impacto vamos deixar no mundo e na moda?", que os criadores da marca, Pedro Batalha e Hisan Silva, criaram a coleção. Peças de alfaiataria caracterizaram um perfil mais maduro para coleção, junto com croppeds e sobreposições, que serviram como último suspiro do espírito divertido, característico da marca.
Outro destaque do desfile foi a parceria com a Vult na campanha #RespeitaMeuCapelo, um movimento que questiona e propõe o redesenho do modelo clássico do acessório. Segundo o Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Brasília (UnB), o capelo ainda não atende à diversidade de cabelos da população brasileira, o que gera desconforto e ações nada inclusivas. Pensando nisso, a colaboração criou versões para atender e ressaltar a diversidade e beleza brasileira dos vários estilos, curvaturas e tipos de cabelo, gerando uma experiência mais inclusiva durante a formatura.
Para finalizar o sábado, a Forca Studio, queridinha da elite jovem paulistana, mostrou seu lado diurno no desfile nomeado “Everyday It’s 1989” e dividido em três partes: Office, Sport e Noite, uma estratégia para oferta de peças além do DNA clubber da marca.
A primeira parte, com foco em peças corporativas, trouxe muitos blazers, alfaiataria, trench coats e camisas. O segundo bloco, Sport, em colaboração com a marca Kappa, apostou em peças de performance, trazendo acessórios como bonés e chuteiras. A parte final foi o espelho do estilo balada característico da marca: muito veludo, couro e vinil e os tons fortes de preto e oliva.
A Força honrou sua tradição de elementos visuais exóticos na passarela. Se drones e carvão já foram utilizados em desfiles anteriores, neste a presença foi marcada por um cão robótico, que acompanhava os modelos ao longo do caminho, além de telões exibindo o fashion film e um drone na coleira.
Weider Silveiro, estilista piauiense, que fundou sua marca homônima em 2002, apresentou nesta edição da SPFW, uma coleção que exaltava a beleza africana sem deixar de lado as técnicas artesanais,que contavam com a presença de bordados e crochês. O estilista que participou durante quinze anos da ‘Casa de Criadores’, e é um dos idealizadores da Célula Preta - um coletivo organizado por estilistas negros da Casa de Criadores, com o propósito de fornecer equidade de oportunidades a esse grupo em relação aos branco - embalou seu desfile ao som de batuques.
As modelos desfilaram na passarela vestindo tons terrosos, com toques de amarelo e verde-água. Apostando em cinturas bem marcadas, a coleção também carregava tecidos fluidos, sem deixar o streetwear de lado (sua marca registrada!). Vestidos com franjas, conjuntos de alfaiataria com bolas penduradas, estampas da Vênus Grega em algumas peças, e até chegou a resgatar uma técnica chamada ‘panejamento’, que significa dar volume a partir de novas sobreposições e amarrações nas roupas.
Rafael Caetano
Homenageou o escritor modernista Mário de Andrade em uma coleção chamada ‘Intransitivo’, que a partir do instrumental da canção de Tom Jobim, ‘Carinhoso’, tocado para embalar o desfile, os modelos transitaram na passarela usando lurex, peças em cetim que continham estampa de pássaros, calças e camisas listradas. Essa é uma das primeiras vezes que o estilista paulista, especializado em moda masculina, se debruça sobre uma personalidade concreta para inspiração de suas criações. Sem deixar de lado sua marca registrada de pele à mostra, essa coleção de Caetano abaixou um pouco o tom de suas anteriores. As referências a obra de Mário de Andrade se dava através da transposição com símbolos marcantes da capital paulista.
Catarina Mina, marca cearense criada por Celina Hissa há catorze anos, tem como foco desde o começo de sua história a produção handmade de crochês. E a coleção ‘ Guardiãs da Memória’, apresentada na noite desta sexta-feira não poderia ser diferente, reverenciando as artesãs do Ceará, que estavam presentes no evento e, ao final, receberam aplausos da plateia.
A protagonista do dia, foi a renda labirinto - uma técnica que se encontra quase que em extinção, e só é praticada pelas costureiras mais antigas, pois é algo considerado muito difícil de executar. Além disso, usou palha de uma árvore chamada carnaúba e do croá - extraída de palmeiras. Usou e abusou do crochê, do bordado, da marchetaria, da alfaiataria feita de seda e de linho.
Thear, marca inaugurada pelo goiano Theo Alexandre especializada em fibras naturais, como algodão e linho, impactou com a coleção denominada Elementos". Nela foi exaltado a beleza natural do cerrado. A silhueta marcada em forma de corset ou simplesmente pela modelagem e os os diferentes tipos de corpos foram destaque, assim como as peças que visavam o conforto. As cores transitavam do neutro para simbolizar as paisagens da região do Centro-Oeste, e o vermelho que ilustrava as flamas do calor exacerbado que vêm dilacerando o segundo maior bioma do país.
Walério Araújo, etiqueta vanguardista que habita o cenário da moda nacional há 30 anos.
Consagrou-se pelos acessórios de cabeça, e era o queridinho da cantora Rita Lee. Trabalha com frequência criando adereços para a compositora Gaby Amarantos, Marisa Monte, Cléo, Pabllo Vittar, entre outras. E, já desenhou roupas para a apresentadora Sabrina Sato, a cantora Ivete Sangalo, a jornalista Glória Maria, etc.
É famoso pelo seu estilo excêntrico e pela sua mente brilhantemente criativa. Suas últimas coleções tiveram como inspiração a personalidade famosa, Ehlke Maravilha, e a Astrologia, onde cada modelo representava um signo do zodíaco.
Nesta edição, transformou a passarela do shopping em um tributo às suas raízes nordestinas e a matriarca da família, sua mãe. O compasso do desfile foi marcado pela canção ‘As Andorinhas’ da banda sertaneja Trio Parada Dura, ritmo musical que sua mãe aprecia.
Coincidência ou não, a data do desfile calhou de ser no mesmo dia em que completou 54 anos de vida. As modelos vestiam trajes de gala no melhor estilo que Walério sabe oferecer, com balões estampados nos vestidos pretos de gala, estampas de porcos que remetiam a um período de sua infância, peças verdes que faziam alusão a samambaias e espadas-de-são-jorge, ambas plantas que sua mãe vendia e ele ajudava.
O cuscuz e o ovo frito, comidas que com forte apelo nostálgico para o estilista, foram retratadas de uma maneira ousada, usando tule e vinil. Uma parcela das peças continham retratos de família com porta-retratos acoplados nas roupas. Os cabelos de algumas modelos eram estilizados igual ao que sua mãe costuma usar, com muito laquê adornado com lenço que seguia a mesma estampa do vestido.
Para finalizar a noite, Walério apagou as velinhas em uma festa privada para amigos e clientes em um dos endereços mais badalados do centro histórico de São Paulo.
Martins, criada por Tom Martins, com foco em peças oversized, trouxe uma coleção dividida em dois momentos. A atriz Agatha Moreira abriu o desfile e fez seu retorno à passarela após dez anos fora. Em contrapartida, o ator Rodrigo Simas fazia sua estreia.
O primeiro ato, se baseou no estilo marinheiro, com listras azul e branco, lenço amarrado na cabeça dos modelos como se fossem piratas, os colares eram conchas em formatos diversos, e os brincos continham pérolas.
No segundo, o punk rock dominou. A maquiagem das modelos era marcada por olhos pretos com aplicações de piercings fake. Os acessórios iam de meias arrastão com tênis all star preto e coturnos a cintos de oncinha e colares prateados de correntes. As roupas mesclavam camisetas de banda do estilo como Sex Pistols, Misfits, The Runaways com saias de tule com babados na ponta, cintos coloridos e grandes de ilhós e uma padronagem que visava totalmente o maximalismo. Uma das novidades da marca neste ano, foi que algumas estampas foram feitas por meio de uma IA (Inteligência Artificial).
Publicado nessa quinta feira (11) pela Earthsight, organização não governamental voltada para investigações de crimes ambientais, o relatório Fashion Crimes: the European retail giants linked to dirty Brazilian Cotton, relacionou o algodão utilizado nas confecções das varejistas H&M e Zara com terras suspeitas de grilagem e desmatamento no cerrado brasileiro.
“Este relatório mostrará que a corrupção, a violência e a negligência do governo ajudaram a transformar o Cerrado baiano em um foco de agronegócio violento e insustentável nos últimos 25 anos” aponta a Earthsight.
Segundo a ONG, o algodão utilizado pelas empresas é oriundo de duas grandes produtoras na Bahia, a SLC Agrícola e o Grupo Horita, ligadas a desmatamento ilegal e crimes ambientais na região.
Apesar de o algodão da região baiana ser certificado pela Better Cotton (BC) grupo mundial que promove padrões éticos no cultivo do insumo, a Earthsight julga falhos os métodos de fiscalização do grupo. Essa falha é concretizada quando analisou-se que parte das terras das duas empresas foram obtidas por meio da grilagem, prática criminosa de invasão e obtenção ilícita da posse de terra sem autorização governamental. Ainda, as empresas SLC Agrícola e o Grupo Horita acumulam acusações de desmatamento ilegal na região, ameaçando a fauna e flora local, além de oprimir e assediar as comunidades tradicionais locais.
Na investigação, a ONG rastreou cerca de 816 mil toneladas de algodão advindas das duas produtoras entre 2014 e 2023, produzindo cerca de 250 milhões de artigos para as lojas da H&M, Zara, Pull&Bear, entre outras. Outras investigações lideradas pela Earthsight concluíram que, na verdade, foram exportadas mais de 1,5 milhões de toneladas das duas empresas para fábricas da China, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Paquistão.
O contraponto dessa alegação nasce na divergência entre a procedência do algodão usado pelas marcas e suas campanhas de marketing: em 2020, a H&M afirmou que até o fim daquele ano usaria 100% de algodão sustentável em suas peças; já a Zara, desde de 2019, anunciou uma campanha em que o objetivo seria uma marca totalmente sustentável a partir de 2025. Para isso, ambas contavam com o selo Better Cotton, uma certificação internacional da produção de vestuário.
O Brasil é o maior produtor licenciado na gama da certificadora, acumulando 42% da produção, mas, muito desse volume pode ser questionado. A Better Cotton é conhecida internacionalmente pelas acusações de promover greenwashing (lavagem verde) do algodão e, principalmente, pela falta de transparência no rastreamento total das cadeias de produção. Desse modo, segundo a Earthsight, a BC não pode ser apontada como uma certificação de responsabilidade social e ambiental.
Em nota, a H&M afirmou sua preocupação com as informações trazidas pela Earthsight e que a BC está realizando uma investigação independente sobre as acusações.
A Zara, por sua vez, considerou que a sua dona, Inditex, não adquire algodão de forma direta, mas também está pressionando a Better Cotton para adotar medidas de fiscalização mais sérias.
Para a ONG, “[...] além de reforçar estas normas, a Better Cotton deve também implementar um sistema de rastreabilidade significativo e garantir que ambos são devidamente aplicados. A H&M, a Zara e outros grandes varejistas devem pressioná-la nesse sentido. Até que o faça, as empresas devem ir além da utilização de sistemas de certificação para garantir que os seus produtos são de origem ética e devem instituir as suas próprias políticas e controlos mais rigorosos”.