Indústria aposta em preço e modelagem para manter a demanda
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Larissa Pereira José
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26/11/2025 - 12h

 

O jeans continua entre as peças mais consumidas no Brasil e mantém relevância estratégica para a indústria têxtil e para o varejo de moda. Mesmo após mudanças no comportamento do consumidor nos últimos anos, o denim permanece como um dos principais motores de vendas do setor.

Segundo levantamento do IEMI – Inteligência de Mercado, o Brasil produziu cerca de 280 milhões de peças de jeans em 2023. O faturamento do segmento chegou a aproximadamente R$14,7 bilhões no mesmo período. O estudo “Comportamento do Consumidor de Jeanswear no Brasil”, desenvolvido pelo IEMI em parceria com a Vicunha Têxtil, aponta que o jeans responde por cerca de 10% de todo o volume comercializado no mercado de vestuário nacional.

Uma pesquisa divulgada pela Vicunha Têxtil mostra que 80% dos brasileiros consideram o jeans uma peça obrigatória no guarda-roupa. O dado ajuda a explicar a presença constante do produto nas vitrines, campanhas promocionais e estratégias comerciais das grandes redes.

Para Diego Amaral, gerente comercial de uma grande varejista nacional, o desempenho do jeans segue consistente. “O jeans é um dos pilares do faturamento. Ele traz fluxo de clientes para a loja e influencia o desempenho de outras categorias. Quando o jeans performa bem, o restante da coleção tende a acompanhar”, afirma.

Ele explica que o consumo segue forte porque o produto atende diferentes perfis de consumidores. “Vendemos desde modelos clássicos até modelagens mais amplas, como wide leg e cargo. O jovem busca tendência, enquanto o cliente mais velho procura modelos tradicionais. O jeans atravessa gerações”, diz.

De acordo com o IEMI, o comércio eletrônico já representa mais de 5% das vendas de jeans no Brasil, com crescimento contínuo desde 2020. Apesar desse avanço, a loja física segue decisiva na jornada de compra. “O cliente pesquisa online, compara preço, avalia fotos e comentários. Mas o provador ainda define a compra de jeans”, afirma Amaral.

Outro estudo do IEMI, em parceria com o Guia Jeanswear, mostra que preço, caimento e exposição na vitrine são os principais fatores de decisão de compra. A mesma pesquisa aponta que 43% dos consumidores não se lembram da marca do jeans adquirido, o que reforça o peso da experiência no ponto de venda.

“O cliente entra pela promoção, olha a vitrine e decide pelo conforto. Se a peça veste bem, a marca passa a ser secundária”, explica o gerente comercial. Ele afirma que, embora o tíquete médio do jeans seja maior do que o de outras categorias, o consumidor aceita pagar mais quando percebe a durabilidade da peça. “O cliente pensa no custo por uso. Uma calça que dura mais tempo é vista como investimento”, diz.

O consumo de jeans enfrenta pressão ambiental crescente. Estudos da Water Footprint Network indicam que a produção de uma calça jeans pode consumir milhares de litros de água ao longo de toda a cadeia produtiva. Parte desse impacto está concentrada nos processos de lavanderia industrial e acabamento do tecido.

Esse relatório sobre polos de produção de jeans no Brasil aponta desafios no descarte de resíduos têxteis e no uso de produtos químicos, especialmente em regiões com forte concentração de lavanderias industriais, como o agreste pernambucano. O tema passou a ganhar espaço em debates setoriais e em políticas de sustentabilidade nos últimos anos.

Segundo Amaral, essa pauta já chegou ao consumidor final. “O cliente pergunta de onde vem o algodão e se a loja trabalha com práticas sustentáveis. Ainda não é a maioria, mas cresce todo ano”, afirma. Ele diz que a varejista passou a priorizar fornecedores com tecnologias de redução do consumo hídrico e processos menos agressivos ao meio ambiente.

A cadeia têxtil brasileira movimenta cerca de R$ 190 bilhões por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Dentro desse cenário, o jeanswear segue como um dos segmentos mais sólidos do setor, com demanda contínua e forte presença no cotidiano do consumidor brasileiro.

Para o gerente comercial, o principal desafio agora é equilibrar preço, velocidade e responsabilidade. “O consumidor quer novidades, quer preço acessível e quer entender o impacto do produto. O jeans continua forte, mas o jeito de vender mudou”, conclui.

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Consumidores exigem práticas responsáveis e mercado responde com economia circular, inovação de materiais e inclusão social
por
Larissa Pereira
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21/10/2025 - 12h

 

A moda sustentável deixou de ser nicho e passou a ocupar espaço central nas escolhas de consumo. A pesquisa de 2023 do Instituto Akatu em parceria com a consultoria GlobeScan mostrou que 87,5% dos brasileiros preferem comprar roupas de marcas que adotam práticas sustentáveis. A tendência se confirma em levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apontou que nove em cada dez consumidores se sentem desconfortáveis ao adquirir produtos que prejudicam o meio ambiente.

Esse movimento já se reflete no mercado. Segundo a consultoria Research and Markets, o setor de moda sustentável no Brasil foi avaliado em 200,7 milhões de dólares em 2022, com crescimento médio de 3,7% ao ano desde 2017. Projeções indicam que a moda circular, baseada em brechós, aluguel de roupas e reaproveitamento de tecidos, deve crescer entre 15% e 20% ao ano até 2030.

O impacto ambiental da moda, no entanto, continua elevado. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) revelam que o país gera cerca de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, sendo que 85% desse volume acaba em aterros. Em escala global, a ONU Meio Ambiente estima que a moda é responsável por 10% das emissões de carbono e ocupa a posição de segundo maior poluidor de água doce. A produção anual chega a 80 bilhões de peças, mas menos de 1% desse total é reciclado.

Diversos projetos mostram caminhos de transformação. A rede Justa Trama reúne agricultores, fiadoras, tecelãs e costureiras em cinco estados na produção de algodão agroecológico cooperado, com renda distribuída de forma justa. Na Amazônia, iniciativas como Selvática, que reaproveita retalhos de estofados, e Yara Couro, que cria materiais a partir de pigmentos vegetais, demonstram o potencial da economia criativa aliada à preservação ambiental.

Entre as grandes redes do varejo brasileiro, C&A, Renner e Riachuelo começaram a adotar iniciativas relacionadas ao uso de algodão sustentável, coleções com fibras recicladas e programas de logística reversa. Essas medidas ainda representam uma fração pequena da produção total, mas indicam que a pressão dos consumidores começa a influenciar também o fast fashion.

Apesar dos avanços, trazer produtos sustentáveis para as lojas de departamento não é tarefa simples. Em entrevista exclusiva para a AGEMT, Luiz Gustavo Freitas da Rosa, dono e criador da marca sustentável Tairú, conta que a iniciativa nasceu em 2023 a partir do contato com um projeto experimental de calçados em Tyvek e de uma pesquisa sobre cânhamo, fibra natural com propriedades ambientais superiores ao algodão. “Desenvolvi protótipos, apresentei amostras na Europa e, ao retornar ao Brasil, lançamos uma primeira coleção com seis modelos de tênis e mais de 40 variações, além de camisetas em algodão orgânico e tingimento natural”, relata.

Luiz Gustavo aponta barreiras importantes: o cânhamo não pode ser cultivado legalmente no Brasil para uso têxtil, o que obriga a importação; fábricas nacionais nem sempre estão preparadas para materiais alternativos como couro vegetal à base de milho; e o algodão orgânico tem custo superior ao convencional, encurtando margens e alongando a cadeia produtiva. “Produzir de forma sustentável ainda é mais caro. Trabalhamos com pequenas tiragens, fornecedores especializados e processos que incluem inclusão social, o que eleva o preço final”, explica.

Sobre a competição com as grandes magazines, ele afirma que a estratégia da Tairú não é disputar preço, mas oferecer uma alternativa de valor: “O consumidor da nossa marca compra conforto, design e propósito; não apenas um produto barato.” Para furar a bolha dos consumidores já engajados, a Tairú se posiciona como marca de lifestyle urbano e investe em ativações culturais, collabs e na Casa Tairú, espaços que atraem público pela música e pela cultura e só depois revelam os atributos sustentáveis dos produtos.

Na comunicação, Luiz Gustavo destaca a transparência como prática contra o greenwashing: a marca revela a origem dos materiais, mostra quem produz as peças e admite limitações. Ele cita exemplos concretos, como fábricas compostas por mulheres, ecobags produzidas por ex-detentos e etiquetas fornecidas por cooperativas que empregam pessoas com deficiência. “Não romantizamos nem prometemos perfeição; mostramos passos concretos e os desafios que ainda temos”, afirma.

Segundo ele, o maior obstáculo é transformar a consciência em hábito de compra. Para que a sustentabilidade deixe de ser exceção e se torne regra, Luiz Gustavo defende investimento em comunicação clara e aumento da escala produtiva para reduzir preços, além de mudanças estruturais na cadeia têxtil.

O debate avança em escala internacional. O relatório Fashion Transparency Index 2024, da Fashion Revolution, mostrou que a maior parte das grandes marcas ainda não divulga informações completas sobre suas cadeias de fornecimento. Já o State of Fashion 2024, da McKinsey em parceria com o Business of Fashion, destaca que a pressão regulatória tende a tornar mais rígidos os critérios de produção e comercialização, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

A combinação de dados, iniciativas e mudanças de comportamento mostra que a moda sustentável não é apenas uma promessa. Ela se consolida como exigência de mercado e como caminho inevitável para reduzir o impacto de uma das indústrias mais poluentes do mundo.

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Minimalismo, funcionalidade e inovação refletem mudanças econômicas e sociais
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Luana Marinho
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18/09/2025 - 12h

A moda, frequentemente apontada como um espelho dos tempos, volta seus olhos para tempos de escassez. Em meio à instabilidade econômica global, marcada por inflação persistente e crises políticas ao redor do mundo, ganha força o chamado “Recessioncore” (estética da recessão), que traduz, de forma visual, a precariedade e o desânimo de uma geração.

“Quando falamos de recessões, de crises econômicas, dá para ver esse reflexo diretamente na moda. Hoje, vivemos uma grande incerteza econômica, e muitas marcas de luxo começaram a lançar campanhas desperdiçando comida, baguetes sendo amassadas, frutas jogadas no chão da feira, alimentos destruídos”, afirma Audry Mary, especialista em marketing de moda e influenciadora digital. “É uma forma de comunicação: enquanto a base está sofrendo com a falta, quem consome a marca pode esbanjar. E isso é extremamente político”, acrescenta Audry.

Se nos anos de crescimento econômico os desfiles explodem em cores vibrantes, brilhos e ostentação, em momentos de incerteza o figurino muda: tons neutros, silhuetas sóbrias e peças utilitárias assumem o protagonismo. É o que se vê agora com a ascensão da estética “clean girl”, termo popularizado no TikTok e em outras redes sociais que descreve um estilo minimalista, com peças básicas, cores neutras e cortes discretos 

"Elas são mais acessíveis, carregam pouca informação de moda e seguem um estilo mais recatado, mais doméstico”, diz Audry sobre as roupas identificadas com o estilo. “É conservador, e as marcas estão apostando muito nisso”, explica.

Segundo a especialista, a estética “clean girl” não surge isoladamente: é resultado direto de um contexto econômico instável, no qual o crescimento do "quiet luxury" (luxo silencioso) e de coleções minimalistas indica que as marcas buscam transmitir segurança e sobriedade. Historicamente, períodos de recessão geraram mudanças semelhantes. Durante a Grande Depressão, cortes retos e tecidos duráveis se tornaram padrão, enquanto a crise de 2008 reforçou o consumo de fast fashion e peças de baixo custo, ainda que de qualidade inferior.

O impacto econômico também se reflete no crescimento do mercado de roupas de segunda mão, que se tornou um indicativo claro das mudanças no comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, o mercado de moda de segunda mão alcançou US$ 50 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 73 bilhões até 2028, impulsionado principalmente por millennials e pela geração Z, nascidos entre 1981 e 2010, que buscam alternativas mais acessíveis e responsáveis. Esse movimento transforma o mercado de segunda mão em uma tendência não apenas econômica, mas também cultural, refletindo valores de sustentabilidade e consumo consciente.

No Brasil, a ascensão dos brechós segue a mesma lógica: adaptação à crise econômica, respeito às prioridades financeiras e resposta às incertezas sociais. Segundo dados do Sebrae, o país contava com mais de 118 mil brechós ativos em 2023, representando um aumento de 30,97% em relação aos cinco anos anteriores. Além disso, o mercado de brechós no Brasil deve movimentar cerca de R$ 24 bilhões até 2025, superando o mercado de “fast fashion” até 2030, conforme projeções da Folha de São Paulo.

O crescimento do mercado de brechós também é impulsionado por plataformas digitais. O Enjoei, com mais de 1 milhão de compradores e 2 milhões de vendedores ativos, abriu recentemente sua primeira loja física no Rio de Janeiro e adquiriu a Gringa, plataforma de revenda de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões, evidenciando a demanda crescente por itens de alto valor.

Esse movimento também pressiona a indústria tradicional, que já responde com novas estratégias. O aumento dos custos de produção deve acelerar o uso de matérias-primas alternativas, como tecidos reciclados e fibras de origem vegetal, além de experimentos com couro vegetal e biotêxteis. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por transparência nas cadeias de produção: passaportes digitais de produtos, rastreabilidade de origem e relatórios de impacto ambiental podem deixar de ser tendência para se tornar padrão da indústria.

Olhando para o futuro, a moda deve consolidar caminhos cada vez mais funcionais, atendendo à demanda de consumidores impactados pela instabilidade econômica, que priorizam praticidade e durabilidade. Segundo Audry, essa tendência deve se intensificar. “Acredito que vamos ver cada vez mais peças utilitárias, roupas multiuso e tecidos resistentes ganhando protagonismo, porque o consumidor está buscando longevidade e funcionalidade em tudo o que veste”, afirma.

O minimalismo, já consolidado, deve permanecer central, mas com variações sutis. “Minha aposta é que tons terrosos, cortes amplos e peças que permitam personalização vão se tornar ainda mais comuns, enquanto pequenos revivals dos anos 2000 e 2010 reinterpretam itens básicos para novas gerações”, diz a influenciadora, que também projeta expansão de modelos híbridos, que combinam venda de peças novas, revenda, aluguel e customização, fortalecendo a economia circular como resposta prática às restrições financeiras. 

A tecnologia surge ainda como aliada estratégica, com inteligência artificial e provadores digitais ajudando marcas a reduzir desperdícios e aproximar consumidor e produto. “A inovação permite que a indústria transforme limitações econômicas em oportunidades criativas”, conclui Audry, reforçando que, para o futuro, a moda funcionará como um laboratório de soluções, mais do que apenas reflexo de crise.

 

 

 

A semana de moda americana deu start na temporada internacional que marca o mês de Setembro
por
Felipe Volpi Botter
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15/09/2025 - 12h

De 11 a 16 de setembro, a cidade de Nova Iorque abre espaço em sua frenética rotina para as passarelas apresentarem as novidade da Primavera/Verão 2026 e abrilhantar os olhos dos fãs de moda.

No dia de ontem, 14, Manhattan foi banhada por looks com mistura de texturas entre tecidos fluidos, bordados, transparências. Além de um protagonismo para uma alfaiataria reformulada, com cortes ousados e proporções exageradas.

Cores neutras mescladas com pontos de cores vibrantes de (vermelho, laranja e estampas arriscadas), marcaram o quarto dia de evento, que integra o calendário das chamadas "Big Four" ao lado de Paris, Milão e Londres.

O street style acompanhou essa atmosfera de contrastes: looks mais sóbrios recebendo toques fortes com a adesão de acessórios chamativos, sobreposições e cortes assimétricos.

A beleza esteve com foco em peles naturais, "menos pesado”, valorizando textura natural da pele, evidenciando seu brilho sutil.

Alguns desfiles se ressaltaram na mídia pela forte identidade visual, seja pelas temáticas ou pela presença de celebridades, como Oprah Winfrey, Lizzo, Natasha Lyonne e outros.

Kai Schreiber, filha trans de Naomi Watts e Liev Schreiber, abriu o desfile de Jason Wu. O show homenageou o artista Robert Rauschenberg, mesclando arte e moda fortemente influenciadas pelo seu legado.
 

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A modelo Kai Schreiber abrindo o desfile de Jason Wu (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

O designer Christian Siriano apresentou uma coleção primavera/verão 2026 com inspiração no velho glamour de Hollywood; houve vestidos longos, looks dramáticos, mistura de masculinidade e feminilidade com peças ousadas, além de chapéus impactantes.
 

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Desfile Christian Siriano (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Sergio Hudson mostrou uma coleção vibrante, com ternos trabalhados, uso de estampas e bordados com inspiração africana, foco em alfaiataria refinada.

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Desfile Sergio Hudson, com inspiração no glamour da moda africana (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Momentos de street style e aparições de celebridades: muita gente do mundo artístico presente nos desfiles e eventos de moda, com looks chamativos, acessórios fortes, e aquele mix de elegância + ousadia.

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Celebridades presentes no evento, como Katie Holmes e Whoopi Goldberg (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)



Vivian Wilson (filha de Elon Musk) fez sua estreia em passarela, desfilando para Alexis Bittar. O desfile abordou uma temática social/política, misturando teatralidade e crítica em sua estética.

 

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Vivian Wilson no desfile da Alexis Bittar (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

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Setor têxtil cresce com foco em bem-estar, tecnologia e sustentabilidade
por
Larissa Pereira José
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05/09/2025 - 12h

 

Gradualmente, a busca pelo bem-estar deixou de ser apenas mais uma tendência momentânea e se consolidou como um dos principais motores da moda. No Brasil, de acordo com o Sebrae Paraná, o setor fitness movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano e cresce em média 8,2% ao ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ocupa a segunda posição no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, e atrai investimentos que unem estilo, performance e consciência ambiental.

O fenômeno é reforçado pelo enclothed cognition, conceito que descreve como as roupas influenciam o comportamento. Vestir roupas esportivas aumenta a disposição para a prática de exercícios, unindo moda e psicologia. No Brasil, casos de sucesso confirmam o potencial. A marca catarinense Live! cresce cerca de 45% ao ano e já exporta para Ásia e Oriente Médio, consolidando a vocação nacional para o segmento.

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, a estilista Dafne Setton, especialista em moda fitness, defende que esse cenário reflete uma transformação no comportamento do consumidor. “Hoje as pessoas querem se sentir bem durante todo o dia. A roupa precisa ter conforto, permitir mobilidade e, ao mesmo tempo, transmitir estilo. É por isso que o athleisure se tornou um símbolo de estilo de vida. Ele expressa disciplina e descontração”, afirma.

As novas preferências apontam para silhuetas mais amplas, como calças cargo e trackpants oversized, em substituição às leggings ajustadas ao corpo. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por sustentabilidade, reforçando o protagonismo de tecidos tecnológicos que unem compressão, respirabilidade e fibras recicladas. “Tecido ecológico não é mais um diferencial e sim um requisito. O consumidor jovem exige isso”, explica Dafne. O mercado de luxo também se aproxima desse movimento, criando um fenômeno conhecido como cardio couture — tradução livre “alta costura do cardio”, expressão usada para definir treinos ou práticas esportivas que incorporam estética e sofisticação típicas da moda de luxo, transformando o exercício físico em experiência de estilo. Grifes como Louis Vuitton e Prada lançaram acessórios esportivos sofisticados, transformando o athleisure em um item de estilo de vida.

O clima tropical brasileiro também favorece o uso cotidiano de roupas leves, que transitam facilmente entre o ambiente de treino e o lazer. Além disso, a forte cultura de praia e a valorização da estética corporal ajudam a consolidar um estilo de vida em que o bem-estar é parte do cotidiano. Esse contexto cria um mercado interno robusto e uma vitrine atraente para a exportação de marcas nacionais.

Outro ponto de destaque é a crescente adesão das academias e estúdios de bem-estar a estratégias de branding ligadas à moda. Muitas oferecem coleções próprias de roupas e acessórios, transformando a experiência do aluno em um pacote completo, que vai do exercício ao consumo de estilo. Essa convergência entre saúde, moda e consumo reforça o wellness como um setor multifacetado, em constante expansão e com impacto cultural direto no modo de vestir dos brasileiros.

As redes sociais também impulsionam o processo. Plataformas como TikTok e Instagram transformaram a estética wellness em repertório visual que mistura treino, alimentação saudável e moda esportiva. “As pessoas não compram só a roupa, compram a ideia de vida equilibrada — e isso é altamente compartilhado online”, observa a estilista. Para ela, o futuro da moda fitness estará ligado à tecnologia, personalização e monitoramento em tempo real. Tecidos inteligentes capazes de acompanhar sinais vitais já estão em desenvolvimento e devem ganhar espaço. “Wellness é uma nova forma de viver. Quem entender isso estará à frente do mercado”, conclui.

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A americana que ficou acidentalmente famosa aos 84 anos faleceu no início do mês.
por
Thayná Patricia Alves
Liz Ortiz Fratucci
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07/03/2024 - 12h

A empresária, designer de interiores e ícone da moda, Iris Apfel morreu com 102 anos de idade no dia 1º de março de 2024. De acordo com sua assessoria, ela estava em sua casa em Palm Beach, na Flórida, e seu falecimento foi anunciado através de uma postagem no Instagram para mais de 3 milhões de seguidores. A causa não foi revelada.

Conhecida mundialmente por seu estilo excêntrico e maximalista, a americana foi uma figura marcante no universo artístico graças ao seu acervo de looks cheios de cores, texturas e volumes.

A americana, Iris Apfel, sentada na primeira fileira durante a semana de moda de Nova York em 2016. Seu estilo é contrastante com todos à sua volta.
Iris Apfel em 2016 durante a New York Fashion Week - Foto: Getty Images

 

Com o título: "Rara Avis: Selections from the Iris Apfel Collection", a amostra de seu acervo fashion consolidou de vez sua imagem excêntrica, maximalista e marcante. 

Como tudo começou

De família judia, Iris nasceu em 1921 na cidade de Nova York, e teve contato com brechós e antiquários desde jovem. Sua mãe, Sadye Barrel, possuía uma boutique de roupas, tornando-se sua primeira referência visual. Seu pai, Samuel Barrel, importava antiguidades da Alemanha, assumindo mais tarde uma loja de espelhos vintage. “Aprendi com minha mãe que apenas com um vestido preto, mudando os acessórios, você pode ir a qualquer lugar, incluindo uma festa de gala”, disse a designer em seu documentário, lançado em 2015. 

Apfel obteve seu primeiro diploma em história da arte pela Universidade de Nova York (NYU), se especializando em design de interiores. Sempre foi apaixonada por moda, ela cultivava o desejo se tornar uma editora jornalística de sucesso no mundo fashion. Seu primeiro trabalho foi ao lado de Robert Goodman no jornal Women's Wear Daily, atuando como assistente de ilustração de moda em um dos maiores veículos da época. 

Mesmo não seguindo a carreira de jornalista de moda, Iris nunca abandonou esta paixão. Excentricidade e rebeldia visuais eram marcas registradas de sua personalidade. Foi uma das primeiras mulheres a usar calça jeans nos anos 40, quando a peça era vista exclusivamente como masculina, projetando um discurso social em prol dos direitos femininos. 

Primeiros passos em direção à fama

Casou-se em 1948 com Carl Apfel, com quem permaneceu até 2015, ano de falecimento de Carl. Eles se conheceram em 1947, quando se hospedaram no mesmo hotel, e não demorou muito para iniciarem a união que durou 68 anos. Foi em um vestido de renda rosa e tamancos de cetim que Iris subiu no altar. Em seu documentário, ela diz que escolheu peças que poderia usar após a cerimônia de casamento, e que não ficasse guardado em uma caixa. Ela também comenta que os tamancos voltariam à moda: “se você esperar tempo suficiente, tudo volta (a ser estiloso)”.

Nos anos 50, o casal fundou a empresa têxtil Old World Weavers, especializada em restaurar móveis e tecidos para casas com reproduções de tecidos dos séculos 17, 18 e 19. A empresa tornou-se muito conhecida no meio do design de interiores e conquistou grandes clientes como a Casa Branca - com restaurações realizadas durante o mandato de nove presidentes - , o Departamento do Estado e as atrizes Greta Garbo e Faye Dunaway

O casal viajava o mundo em busca de referências e, nessas viagens, Iris se tornou também uma grande colecionadora de roupas e acessórios vintage, comprados em feirinhas de antiguidades e brechós, multiplicando esteticamente seu acervo. 

A Old Word Weavers foi vendida em 1992, mas Carl e Iris continuaram trabalhando nela até 2005. Neste mesmo ano, Iris foi convidada por Harold Koda — curador do Met's Costume Institute — a exibir sua coleção no Metropolitan Museum of Art em Nova York. Foram expostos 82 looks completos e 300 acessórios, desde bolsas e braceletes a casacos e peles. A exibição quase não foi divulgada nas mídias, e mesmo assim foi um grande sucesso, tornando Iris Apfel uma grande celebridade aos 84 anos.

A adolescente mais velha do mundo

Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Iris Apfel confessou que gostaria de ser lembrada como a “adolescente viva mais velha do mundo”. Tendo o auge de sua carreira depois dos 80 anos, a empresária, designer e modelo quebra estereótipos etaristas, rejeitando as expectativas da sociedade em relação as mulheres mais velhas. Como símbolo do maximalismo, era defensora da espontaneidade e da exuberância. . Apesar da mobilidade reduzida, nos últimos anos, ela continuava ativa em sua página no Instagram exibindo seus looks criativos e coloridos. “Todos devem se sentir confiantes para expressar a sua personalidade e humor por meio dessa maneira como a gente se apresenta ao mundo, que é a moda. Devemos nos divertir enquanto fazemos isso. Pelo menos, é o que eu sempre fiz”, disse Apfel, em entrevista ao Woman’s Wear Daily.

Além do documentário ‘Iris’, estreado em 2015, aos 96 anos, publicou seu livro “Iris Apfel: ícone acidental”; aos 97 assinou um contrato de modelo com a agência global IMG Models e, em 2018, tornou-se a pessoa mais velha a inspirar a produção de uma boneca Barbie, com seu tradicional terninho verde da Gucci.

“Se você é sortudo o suficiente para envelhecer, eu acho que você deveria celebrar isso” – Iris Apfel

 

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Último dia apresentou estilo high-tech de vanguarda, soteropolitano e jovial
por
Giovanna Montanhan
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17/11/2023 - 12h

Lucas Leão - marca idealizada em 2018 pelo estilista carioca de nome homônimo. Seu foco está em mesclar tecnologia com tecelagem. ‘’AI generativo por JE Kos’’ - nome dado a esta coleção, foi caracterizada por usar e abusar da alfaiataria, além da forte presença de tons sóbrios e pastéis. 

Peças oversized, tops e blazers com penduricalhos de cristais e mini vestidos com plumas se alternavam durante o desfile. Gravatas estilizadas, maxi bolsas, lapelas de cerâmica em formato de flor, e calçados como rasteirinhas, sandálias, scarpins e sapatilhas compunham o leque de acessórios na passarela. 

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Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

Gefferson Vila Nova - criada em 2013 pelo designer baiano de nome homônimo, a marca é focada em moda masculina. ‘’Coração Tropical’’ foi o nome escolhido para essa coleção de verão,  a qual apresentou looks modernos, capazes de nos teletransportar diretamente para a Bahia, através do uso de  cores quentes e vivas, como o vermelho abundante, além da composição de ambiente, que contou com um telão ao fundo da passarela, que  transmitiu o tempo todo uma paisagem de pôr-do-sol. 

O desfile foi uma verdadeira ode ao AXÉ! Os tecidos fluídos dominaram, assim como as camisas brancas e azuis bordadas, que representavam paz e tranquilidade. As regatas brancas caneladas também foram destaque, além do peitoral dos modelos estava de fora em alguns looks, nos quais sungas e shorts tinham o destaque. 

A flor vermelha, usada atrás da orelha dos modelos como acessório, foi um grande diferencial. O uso de uma maxi bolsa prateada chamou a atenção por parecer uma esteira de praia e dar um toque de modernidade.  Os calçados, em sua maioria, eram tipicamente praianos, como chinelos de dedo e papetes. 

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Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Bold Strap - marca que está no mercado desde 2018, fundada por Pedro Andrade. O desfile, intitulado ‘’Bold Lesson’’  teve como base o estilo colegial e uma estética focada nos anos 2000. 

Antes de começar, foi usada uma estratégia de foco visual, na qual um relógio se expandia na medida que seus ponteiros giravam, até que um sinal típico de escola tocava ao fundo. 

A atriz Camila Queiroz abriu e fechou o show, desfilando com maestria, graça e simpatia. Modelos carregavam livros, vestiam jaquetas college oversized e roupas que pareciam uniformes, com a inicial B estampada. Desfilaram na passarela também, mini saias plissadas, mochilas, brincos de argola, salto alto com spikes, colares estilo chockers e gravatas na cor preta. 

A sensação era de que toda a plateia estava imersa em uma narrativa escolar, que nos remetia a série adolescente espanhola “Elite”, da Netflix. O design da passarela remetia a uma lousa, com rabiscos feitos em giz por toda a sua extensão. 

Além do estilo jovial, um outro dominava: o sensual. Meias arrastão, corsets pretos e jeans, luvas, vestidos curtos drapeados - além dos com rendas e cetim - fechavam a dinâmica idealizada pela grife.

 

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Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Os desfiles, os estreantes e as tendências: confira o resumo do que aconteceu no último dia da 56° edição do SPFW
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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16/11/2023 - 12h

Abrindo o último dia da São Fashion Week nesse domingo (12), Lino Villaventura celebrou os 45 anos de sua marca com uma coleção composta por 70 looks, na qual buscou focar em novidades, deixando os clássicos em segundo plano. 

O designer abriu o desfile com roupas super coloridas que brilharam sob os holofotes, seus visuais oitentistas foram compostos por meia-calça sobreposta por meias neons que iam até os joelhos. Como parte da performance, os modelos desfilaram incorporando gracinhas como piruetas e danças, durante o catwalk.

SPFW N56: Lino Villaventura — Foto: @agfotosite

Logo após o primeiro ato de apresentação, os looks que abriram a segunda parte remeteram brevemente a coleção anterior de Villaventura, que contava com vestidos longos e referências góticas. Com essa deixa, o conjunto de peças que seguiram foi composto por minivestidos e vestidos com nervuras e capas leves, em plástico ou organza. Todos os modelitos foram construídos com cores fortes, que acrescentavam um tom dramático junto das transparências fluídas.

Lino Villaventura comemora 45 anos de marca no SPFW — Foto: @agoftosite

Abrindo os desfiles da noite, Heloisa Faria estreou nas passarelas do SPFW, apresentando uma coleção carregada com referências do seu próprio estilo, além da essência upcycling. Peças de tricô e camisaria dominaram a passarela.

A técnica de upcycling que Faria domina se trata de uma reutilização criativa de produtos, peças e resíduos, para a criação de novos, sem a desintegração do mesmo, porém o utilizando em uma função diferente.

Heloisa Faria.  Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

Seguindo essa linha, Heloisa criou com esse processo peças fluídas e leves, a partir de vestidos de noivas da antiga Pilar - fundada por Andrea Garcia nos anos 2000. Os looks contavam ainda com rendas, jeans, moulage e outros pequenos detalhes que deram identidade a essa coleção.

A apresentação contou ainda com um show de Luiza Lian, que vestia uma das roupas da designer: um vestido branco, repleto de pequenos retalhos de rendas coloridas.

Heloisa Faria e Luiza Lian.  Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

Encerrando o último dia de desfiles da SPFW 56, a marca Bold Strap roubou a cena com sua coleção “Bold Lesson”, que retrata com rebeldia e fetichismo a transição entre colégio e universidade.

Nessa temática, a grife paulistana montou um verdadeiro cenário universitário, porém com um toque especial, incrementando um toque de extravagância. Peças grunge e ferozes fecharam a edição com a participação da atriz Camila Queiroz no desfile.

SPFW N56: Bold Strap — Foto: Gabriela Queiro @gabiqueiroph

O estilista responsável pela coleção, Peu Andrade, buscou referências das vivências de garotos e garotas nos anos 2000, em especial, em personagens caricatos do audiovisual da época, como o clássico filme “Meninas Malvadas”, de 2004.

A marca ainda levou 30 modelos com um olhar único e diverso sobre corpos e gêneros, mostrando que os estereótipos estão por fora, além de expressar o contraste das culturas punk rock e emo, de modo contemporâneo.

SPFW N56: Bold Strap — Foto: Gabriela Queiro @gabiqueiroph

Ambos os estilistas que participaram do último dia de desfiles trouxeram em suas coleções uma característica em comum: a mistura e celebração de coleções, estilos e culturas do passado, repaginados com elementos do presente e contando histórias de formas inovadoras.

 

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Confira as marcas que ganharam os holofotes no último sábado (11), em que grandes estilistas celebraram sua ancestralidade
por
Enrico Souto
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16/11/2023 - 12h

 

Modelos alinhados durante o desfile da marca Ateliê Mão de Mãe, na São Paulo Fashion Week.
A marca Ateliê Mão de Mãe abriu a série de desfiles no quarto dia da SPFW 56 (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A 56ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW) passou por seu quarto dia de desfiles no último sábado (11). Oito marcas apresentaram suas coleções para o Verão 2024, que atravessaram questões como ancestralidade, sustentabilidade e diversidade.

E isso não é por acaso. A segunda temporada do evento em 2023 foi nomeada “Origens”, e desafiou 40 marcas a usar das peças para refletir sobre a importância de reconhecermos e preservarmos nossas raízes. A seguir, apresentamos os principais destaques dos desfiles do dia 4 da SPFW.

Ícaro Silva durante desfile da Ateliê Mão de Mãe, na SPFW
Ícaro Silva também foi presença carimbada no desfile do Ateliê Mão de Mãe
(Foto: @agfotosite) 

A sequência de desfiles se iniciou às 10h no Shopping Iguatemi, pela Ateliê Mão de Mãe. Dirigida por Patrick Fortuna e Vinicius Santana, juntamente de sua mãe, Luciene Santana, a marca tem enfoque em peças de crochê, todas feitas à mão. A AMM lançou recentemente uma parceria com a C&A e, para a 56ª edição do maior evento de moda do país, traz a coleção “Água de Meninos”

Nomeada pelo tradicional bairro de Salvador, capital baiana, o desfile explorou a cultura, vivência e espiritualidade do local, a partir das memórias afetivas dos próprios criadores. Com peças minuciosamente tricotadas, que exploram tons terrosos do verde ao laranja, o destaque fica para Baco Exu do Blues, que estreou nas passarelas junto à grife.

Imagem do desfile de João Maraschin, na SPFW
Vestido tricotado com materiais alternativos para o desfile de João Maraschin (Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

Logo em seguida, João Maraschin trouxe sua marca homônima ao palco da Fashion Week. O designer gaúcho, radicado em Londres, fez do sua estreia no evento uma ode à moda artesanal e consciente. Com a coleção “Home”, ele explorou o feito à mão através de alternativas sustentáveis, como tecidos jaquards fabricados em algodão orgânico, além de tricôs elaborados com cordas e linhas de pesca.

"[Minha moda] é colaborativa, coletiva e de suporte, com a educação e a preservação de técnicas manuais como principais pilares", explica Maraschin, que trabalhou juntamente a artesãos de comunidades do Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Imagem do desfile de Ângela Brito, na SPFW
Peça com estampa de Maxwell Alexandre durante desfile de Ângela Brito (Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

Fechando os desfiles do Iguatemi, a marca de Ângela Brito tomou as passarelas com a coleção “Romaria”. Nascida em Cabo Verde, na África, e morando no Rio de Janeiro há 28 anos, a diretora criativa usou das peças em tons neutros para realizar um comentário sobre imigração: “a ideia veio desse questionamento de quando as pessoas voltam para sua cidade de origem e, a partir disso, entender como isso influência no comportamento cultural local”, ela comenta.

A grife de Ângela está no mercado desde 2014 e investe em uma moda “afrocosmopolita”, que reflete o diálogo entre sua cultura de origem e todas as outras que ela teve contato ao longo da vida. Entre os looks, inspirados em festas cabo-verdianas tradicionais, quatro contam com estampas projetadas pelo artista Maxwell Alexandre.

Imagem do desfile de Rocio Canvas, na SPFW
Looks ousados com inspirações diversas marcaram o desfile da Rocio Canvas (Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

Às 17h30, abrindo alas aos desfiles no Komplexo Tempo, a Rocio Canvas, fundada pelo designer Diego Malicheski, apresentou sua quarta participação na SPFW. Para a concepção de sua nova coleção, a grife desafiou a efemeridade das tendências da moda para criar uma série de peças atemporais.

Nesse processo, a marca brinca com referências múltiplas. De bolsas e botas de couro à la BDSM, até acessórios vintage inspirados em fotos antigas de sua mãe, dos anos 60 a 90, Diego revisita códigos que se cristalizaram ao longo de sua trajetória, redigindo uma carta de amor ao próprio ‘fazer’ moda.

Imagem do desfile da marca Az Marias, na SPFW
Elenco plural de modelos foi destaque em desfile de Az Marias
(Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

"Florescer – Ato III: Fogo" dá nome ao desfile da marca Az Marias, nesta edição do SPFW. Um elemento essencial à natureza, a CEO Cintia Felix se aprofunda na contradição entre renascimento e destruição das chamas, unindo sustentabilidade, referências à religiões de matriz africanas e um elenco de modelos que foge dos padrões estéticos tradicionais.

Com uma coleção de mais de 30 looks, Az Marias se apossa de tons de vermelho, laranja e dourado, explorando o contraste entre o sombrio representado pelas cinzas e o vibrante evocado pelas chamas. Com uma trilha sonora predominantemente de dancehall, gênero da cultura popular jamaicana, a grife ainda usou do palco para discutir questões como desenvolvimento sustentável e legalização da maconha.

Imagem do desfile de Renata Buzzo, na SPFW
Looks brilhantes fizeram do desfile de Renata Buzzo um dos mais notáveis (Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

Em um movimento inverso, Renata Buzzo decide desbravar o mar. Sendo a terceira parte de uma série de coleções apresentadas na SPFW desde novembro de 2022, “ASTRO/NÁUTICA” usa os oceanos como alegoria para comentar o lugar das mulheres na sociedade, frequentemente enxergadas como inconstantes: ora passionais, ora destrutivas. Muitas vezes, essas são reações à violências de homens – aqui, representados pela lua –, que continuam intocados em seus pedestais.

Com um elenco de modelos totalmente feminino, as peças ousadas de Buzzo passeiam pelo azul, prata e nude, com uma produção totalmente vegana. As mulheres de ocupavam o palco usavam maquiagens brilhantes, que se espalhavam até seus cabelos molhados, como se tivessem acabado de voltar de um mergulho.

Imagem do desfile da marca Santa Resistência, na SPFW
Peça com estampa inspirada em xilogravuras para o desfile de Santa Resistência (Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

Mônica Sampaio, fundadora da marca Santa Resistência, mudou-se do Recôncavo Baiano para o Rio de Janeiro enquanto ainda era criança e, desde então, jamais cortou vínculos com sua terra natal. Para seu desfile para a SPFW, a estilista conta sua história em uma releitura às obras de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), um dos maiores compositores da música popular brasileira e migrante, assim como ela.

Batizando a coleção como “Paixão Segundo Catulo”, Sampaio se une a outros artesãos nordestinos para projetar looks que celebrem a arte da região, com uma gama diversa de tons terrosos e estampas que remetem a xilogravuras e paisagens predominantes do Maranhão, Ceará e Rio. “[...] Quis trazer para a passarela o sertão que há dentro de mim. Saímos das nossas terras, mas carregamos conosco as lembranças e o carinho”, ela declara.

Imagem do desfile da marca Forca Studio, na SPFW
Modelo caminha ao lado de cinzas cenográficas durante desfile da Forca Studio (Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)

Encerrando as apresentações de sábado (11) com chave de ouro, a Forca Studio aborda as mudanças climáticas na coleção “Heatwave”. Através de peças de impacto, que evocam um cenário utópico e sensorial, a marca traduz nossas angústias com as crises ambientais globais. “Vivemos em um momento sem precedentes, e sentimos que a moda deve se tornar parte dessa mudança inadiável”, acrescenta um dos fundadores, o DJ e estilista Silvio De Marchi. 

A sustentabilidade, entretanto, também se vê fora das passarelas. Para o desfile, a Forca produziu seus looks através de materiais recicláveis, como câmaras de pneus, além de uma linha de tecido de borracha, produzida manualmente por tribos amazônicas. Durante a apresentação, a passarela foi tomada por cinzas de madeira queimada, tornando a mensagem literal e ampliando a imersão do público. 

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A 56ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW) chegou ao seu fim após cinco dias intensos, apresentando 38 desfiles e uma série de talks sobre moda e temas relacionados.
por
Sophia G. Dolores
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15/11/2023 - 12h

Foi o caso de Luiza Brunet, que surpreendeu ao fazer um retorno emocionante às passarelas após quase 30 anos de aposentadoria. O desfile pela carioca ‘The Paradise’ foi aplaudido, juntamente com a participação de Preta Gil e Izabel Goulart.

Aconteceu em novembro mais uma edição do SPFW
Aconteceu em novembro mais uma edição do SPFW  (Foto: Reprodção/ Instagram)

João Maraschin e Sau conquistaram o público com suas propostas frescas e autênticas. Maraschin, com suas peças de macramê e tricô, enquanto Sau trouxe elegância minimalista à moda praia.Helô Rocha também marcou seu retorno ao SPFW após seis anos, escolhendo o icônico Teatro Oficina para destacar uma coleção que celebra as raízes nordestinas.

A permanência da opção de compra de ingressos pelo público em geral também foi elogiada, pois proporcionou uma oportunidade mais acessível para os entusiastas da moda e estudantes participarem do evento. Além dos desfiles, o SPFW ofereceu diversas palestras sobre temas variados, desde responsabilidade social a inovação na moda, ampliando a experiência do evento.

Alguns desafios foram enfrentados e criticados, como os desfiles que ocorreram em dois espaços distintos em São Paulo, apresentando desafios de acesso via transporte público. Além dos atrasos frequentes e a falta de informações organizacionais que também foram observados.

Apesar de avanços na quebra de padrões estéticos, a representatividade de corpos diversos ainda precisa ser ampliada, especialmente em relação à presença de pessoas gordas nas passarelas.

Responsável pela mídia e marketing do evento
Responsável pela mídia e marketing do evento (Foto: Reprodção/ Instagram)

Para entender melhor os bastidores do evento, Kaio Raffael, publicitário e social media responsável por todas as redes sociais, marketing e divulgação do SPFW N56 contou sobre os insights sobre a estratégia digital adotada para amplificar a presença do evento e aproximar ainda mais os fãs da moda.

Kaio destacou: "Nosso foco foi criar uma narrativa envolvente nas redes sociais, proporcionando aos seguidores uma experiência única. Utilizamos estratégias inovadoras para divulgar os desfiles, buscando estabelecer uma conexão autêntica com o público."

O publicitário, ao abordar as críticas direcionadas ao evento, ressaltou a importância de ouvir e aprender com a comunidade da moda: "Todas as críticas são valiosas para nós. Estamos cientes dos desafios enfrentados, como os atrasos e a questão da diversidade. Encaramos essas observações como oportunidades de aprimoramento [...] nosso compromisso é evoluir a cada edição, garantindo que o SPFW seja um espaço inclusivo, acessível e representativo para todos os amantes da moda. A crítica construtiva nos impulsiona a fazer melhor na próxima vez, e estamos dedicados a proporcionar uma experiência ainda mais extraordinária nas edições futuras."

 O publicitário ressaltou a importância de ouvir e aprender com a comunidade da moda
 O publicitário ressaltou a importância de ouvir e aprender com a comunidade da moda (Foto: Reprodução/ Instagram)

O SPFW N56, com seus altos e baixos, encerra mais uma edição, deixando marcas na indústria da moda e abrindo espaço para reflexões sobre o futuro do evento, e principalmente da moda.

 

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