Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Um lugar onde a leitura também é um gesto de resistência
por
Nicole Domingos
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16/06/2025 - 12h

A literatura sempre foi um território de disputa simbólica, um espaço onde narrativas dominantes se impõem, mas também onde vozes dissidentes encontram brechas para existir. No caso da literatura LGBTQIAPN+, essas brechas são preciosas. O site palavras em trânsito, feito por Nicole Domingos, trata exatamente disso, desses pequenos espaços que já existiram e que existem hoje. É um lugar dedicado ao estudo, à crítica e à celebração da literatura LGBTQIAPN+.

Ao longo do site, vamos tratar especialmente sobre os corajosos que escrivam e gritavam dentro de deus próprios livros, ainda que estivessem dentro dos períodos de repressão, como a ditadura militar brasileira — esses autores utilizaram a palavra como forma de resistência.

A literatura não apenas narra experiências — ela reescreve a história a partir de corpos e afetos antes excluídos. Ela cura feridas simbólicas, questiona heranças opressoras e cria novos imaginários de existência. Ao nos colocar diante de personagens que amam, sofrem, resistem e sonham fora da norma, ela nos lembra de algo fundamental: toda existência merece ser narrada. E lida.

Para acessar esse mundo, basta clicar no link abaixo:

https://literatura-lgbt.my.canva.site/

 

 

Alunas da UFABC e USP compartilharam suas vivências e desafios na luta por inclusão e equidade no meio acadêmico
por
Pedro da Silva Menezes
Maria Dantas Macedo
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09/06/2025 - 12h

No mês do Orgulho, podcast investiga as cotas trans nas universidades brasileiras a partir de relatos de duas estudantes trans: a Gabriela, aluna de Letras na USP,  e a Ellie, gestora do Centro acadêmico de Humanidades da UFABC, faculdade que aderiu as cotas trans em 2019. Elas expõem dificuldades, lutas e avanços, revelando por que essa política de cotas é urgente para garantir inclusão e respeito.

Influenciadora é chamada de "homem" por espectadora; confusão gerou vaias, atraso no espetáculo e intervenção policial
por
Carolina Zaterka
Manoella Marinho
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15/04/2025 - 12h

 

Malévola Alves, influenciadora digital e mulher trans, denunciou ter sido vítima de transfobia no Teatro Renault, em São Paulo, no dia 26 de março de 2025, ao ser tratada pelo pronome masculino e chamada de “homem” por uma espectadora. O incidente ocorreu antes do início do musical “Wicked”. Malévola, com mais de 840 mil seguidores, publicou trechos do episódio em suas redes, que rapidamente viralizaram.

Segundo relatos de testemunhas e da própria vítima, a confusão começou quando Malévola esperava uma nota fiscal e a mulher atrás dela mostrou impaciência. As duas trocaram palavras e, ao se afastar, a mulher teria gritado "isso é homem ou mulher?" em sua direção. A vítima então se sentiu ofendida e levou a denúncia à plateia, apontando a espectadora como autora do ataque transfóbico, causando um tumulto que paralisou a plateia.

A reação do público foi de imediato apoio a Malévola, com vaias à agressora e pedidos para que ela fosse retirada do teatro. “A gente não vai começar a assistir a um espetáculo que é extremamente representativo para a diversidade com uma mulher dessa aqui. Não faz o menor sentido”, afirmou um dos espectadores durante o protesto.

Diante da pressão da plateia, a apresentação atrasou cerca de 30 minutos. A mulher acusada acabou saindo do teatro sob escolta policial, levada à  delegacia para realizar um boletim de ocorrência, recebendo aplausos e vaias dos demais presentes. Miguel Filpi, presente no evento, celebrou nas redes sociais: “Justiça foi feita!! Obrigado a todo mundo nessa plateia que fez a união para que isso acontecesse.”

Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium (Produtor do musical), pediu desculpas pelo ocorrido antes de dar início ao espetáculo: “Peço desculpas por esse acontecimento e por esse atraso. Tudo o que a gente pode admitir, é bom que a gente admita na vida, mas transfobia em Wicked, não dá”. A atriz Fabi Bang, também se manifestou durante e após o espetáculo: “Transfobia jamais” - uma improvisação durante a música “Popular”.

 

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Fabi Bang, atriz que interpreta Glinda, em apresentação do musical. Foto: Blog Arcanjo/Reprodução

Viviane Milano, identificada como a espectadora acusada, negou as acusações em um pronunciamento, alegando que a confusão na fila da bombonière não foi sobre identidade de gênero, mas sobre uma tentativa de furar fila. Ela afirmou: “Perguntei em voz alta: ‘Era o homem ou a mulher que estava na fila?’”, dizendo que sua pergunta foi mal interpretada.

A produção de Wicked e membros do elenco reiteraram seu compromisso com a diversidade e repudiaram o incidente. A nota oficial da produção destacou: “Nosso espetáculo é e continuará sendo um espaço seguro para todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual.”

Participante do BBB23, Fred Nicácio, reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos, apesar de usar categorias, ela expressa inclusão e visibilidade
por
Rainha Matos
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28/06/2024 - 12h

A expansão da sigla no movimento LGBTQIA+ pode até causar confusão, mas não para Fred Nicácio, médico brasileiro reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos. Ele defende que, "embora o ideal fosse não categorizar, a nomenclatura atual é crucial para inclusão e visibilidade". Fred enfatiza que esse reconhecimento não deveria ser necessário no futuro, quando esperamos que todos sejam vistos simplesmente como pessoas.

Ele apontou avanços na representação LGBTQIA+ na mídia, mas também criticou "o persistente tabu que limita a aceitação de atores LGBT em papéis principais, por medo de repercussões na carreira". Ele sublinha a importância de valorizar o talento e personalidade das pessoas, independentemente de sua orientação sexual.

Nem tudo é otimismo. Fred Nicácio destacou a gravidade dos índices de LGBTfobia e mencionou sua própria experiência com testemunhos de violência. Ele ressalta a necessidade de políticas públicas e leis rigorosas para proteger a comunidade e reduzir esses crimes.

Como figura pública, o médico precisa lidar com críticas, e por isso adotou uma postura de positividade, aceitando críticas construtivas apenas daqueles que têm algo construtivo a oferecer. Ele enfatizou a importância de uma crítica fundamentada em realizações pessoais e ignorou críticas vazias e infundadas.

Além de sua atuação na saúde e na visibilidade LGBTQIA+, Fred ganhou destaque nacional ao participar do reality show "Big Brother Brasil 23" (BBB23), ampliando sua plataforma para discutir questões de grande relevância social. Sua voz continua sendo uma importante influência tanto na esfera pública quanto nas redes sociais, onde ele continua a promover o debate e a conscientização sobre direitos e igualdade.

“Tem partidos que de sete candidaturas LGBTs em 2020, cinco deles não receberam investimentos, nenhum tostão”, aponta Gui Mohallem em entrevista para a AGEMT
por
Felipe Oliveira
Guilherme Nazareth
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31/08/2022 - 12h

“A maior dificuldade para a candidatura LGBTQIA+ é o partido”, afirma Gui Mohallem; fotógrafo, artista plástico e executivo da organização VoteLGBT. Em contato via WhatsApp, ele diz que o investimento é quase nulo, além da existência de violência, sabotagem, homofobia e negligência nos partidos com os candidatos LGBTs.

O #VoteLGBT surgiu em 2014 como uma campanha para viabilizar candidaturas pró LGBTs, sendo uma das organizações pioneiras na luta pela causa. A entidade entende que só existe democracia quando há diversidade.

Em 2016 a instituição começou a realizar pesquisas de perfil político nas paradas LGBT, e assim produziram dados sobre a comunidade na população, já que essas informações estatisticamente não existiam na época.

Mohallem fala sobre as dificuldades e LGBTfobias que os candidatos sofrem ao tentarem se filiar a um partido político: “LGBTs não escolhem o partido, vão no que aceitam”. Ele alega que é um “luxo” um LGBT escolher o partido que deseja pela posição política, e também diz que muitos partidos abandonam seus eleitorados, sem investir devidamente neles.

O artista diz ser comum os partidos investirem pouco ou até mesmo nada nas candidaturas: “Tem partido, que de sete candidaturas LGBTs em 2020, cinco deles não receberam investimento, nenhum tostão”, declara o fotógrafo.

Logo após, Mohallem fala sobre o confinamento que os grupos políticos impõem para os candidatos: “Os partidos tendem a confinar os LGBTs a pautarem apenas nas questões identitárias, e ao contrário disso, vemos muitos mandatos LGBTQIA+ com propostas interessantes para toda população”.

De acordo com as pesquisas do VoteLBGT, representantes LGBTs eleitos, somando todos os cargos, ocupam apenas 0,16% na política. Ainda assim, as denúncias de violência política e ameaças de morte, atendidas pelo Ministério Público, mostram que 50% são contra mulheres trans.

Expectativas nas eleições de 2022

Nas eleições de 2018, segundo a Associação Brasileira LGBT(ABLGBT), houve 180 candidaturas LGBTQIA+. Até o momento, chegou-se ao número de 242 nesse período eleitoral, divulgado abertamente no site do VoteLGBT+. Candidaturas não pertencentes à sigla em questão, mas que apoiam abertamente a causa, também ecoam cada vez mais nos espaços políticos.

O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, também projetou um alcance em torno de 250 do dado exposto acima. Disse também sobre a expectativa de ter, no mínimo, 8 candidaturas da comunidade eleitas no Congresso Nacional, o que seria o dobro das pessoas assumidamente LGBTQIA+ entre deputados e senadores.

 Para chegar a essa conquista o envolvimento da organização na política não é pequeno. Conta com um programa chamado Voto Com Orgulho, trazendo apoio no âmbito jurídico e na questão da publicidade nas campanhas políticas. Atualmente são 34 candidaturas espalhadas pelas 5 regiões do Brasil e todos para os três cargos do Poder Legislativo.

 Ao contar com essa assistência, é necessário assinar um termo de comprometimento com propostas específicas de cada setor que vai concorrer, almejando o combate a LGBTfobia e promoção dos direitos da sigla. Há três eleições em funcionamento, Toni declarou que a plataforma “tem o intuito de incentivar as pessoas a se orgulharem de serem o que são e também votarem com orgulho, ter dignidade para isso.’’

Toni deseja com essas eleições atingir uma bancada forte LGBTQIA+, e assim, lutar para positivar no congresso nacional todas as ações a favor conquistadas no Poder Judiciário brasileiro, como a criminalização da LGBTfobia, casamento homoafetivo, nome social e mudança de gênero.

Criadores de conteúdo do movimento enfrentam embate entre o marketing por conveniência ou o engajamento sincero das marcas
por
Laura Paro
Lais Romagnoli
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31/08/2022 - 12h

O crescimento de influenciadores da comunidade LGBTQIA+ nas redes sociais contribuiu para a visibilidade de pautas destinadas a essa comunidade, bem como para o reconhecimento de novas identidades. “Eu sempre gostei da área da beleza e a maquiagem veio como uma auto descoberta – não só da minha área como blogueira, mas também como uma descoberta pessoal da minha identidade de gênero. Adoro trabalhar com isso, acho que eleva a autoestima de qualquer pessoa”, afirma Bruno Garcia, influenciador digital pertencente ao movimento. Porém, ainda há muitos desafios a serem enfrentados pelos influencers deste meio: o movimento é valorizado ou apenas conveniente?

“A minha maior dificuldade é conseguir mostrar que meu conteúdo tem um valor e um grande alcance! Muitas marcas sempre contratam apenas no mês de junho, ou seja, no mês que lhe é conveniente ser ‘apoiadora da causa LGBTQIA+’, por ser o mês do orgulho da comunidade. Parece que servimos apenas para essa época e mais nada”, diz Garcia. Assim, fica evidente o momento em que campanhas de marketing direcionadas a esses grupos aumentam de forma expoente, criando um debate acerca da moralidade das marcas, se é apenas uma forma de representatividade ou um interesse financeiro e midiático.

E quando acaba o mês do orgulho? Para Murilo Amaral, criador de conteúdo digital, há certa falta de credibilidade em seu trabalho, por ser gay, negro, afeminado e considerado um influenciador “pequeno”. “Entre o meu conteúdo e o de uma influenciadora considerada padrão, provavelmente o dela seria o escolhido por uma marca”, afirma. Essa questão retoma a discussão acerca da sociedade agir com prestígio ou conveniência sob o trabalho desses criadores digitais, também conhecido como “Pink Money” – o termo serve para empresas em situações que, quando é favorável, seja financeiramente ou pela mídia, apoiam a causa, mas na hora de se posicionarem politicamente e apoiar o movimento, permanecem isentas.

A influenciadora Luísa Assaf, em sua conta no TikTok, compartilhou alguns critérios para definir se as marcas realmente possuem iniciativas de apoio à população LGBTQIA+: o direcionamento de lucro dos produtos para instituições, representatividade em suas campanhas, iniciativas para a contratação de pertencentes ao movimento, o patrocínio de eventos, artistas ou esportistas da comunidade e se o apoio dura o ano inteiro (não somente durante o “pride month”). Luísa também cita marcas que são exemplos, como o Burger King, que sempre se posiciona em polêmicas envolvendo LGBTfobia e política, além de reverter lucros obtidos com produtos temáticos para ONGs. 

Apesar de todas essas dificuldades, há muitas conquistas que ainda motivam os criadores de conteúdo digital desse meio: “O projeto que mais me marcou foi ter uma coleção, de uma loja, assinada no meu nome. Foi uma conquista e tanta”, afirma Bruno Garcia, que é um grande entusiasta na área da beleza e da maquiagem. Além disso, o influencer diz ter como motivação conseguir usar e abusar de sua criatividade, contemplando todos os seus diversos talentos. “Vou iniciar daqui um mês um curso de Artes Cênicas na Universidade Federal de Uberlândia, quero trazer vários conhecimentos da área e atrelar isso ao meu trabalho como digital influencer”, diz Bruno. 

A profissão de um influenciador digital pode ser considerada uma das mais amplas por abranger diversos nichos da internet, como cultura pop, moda, maquiagem, gastronomia, esportes, entretenimento, política, etc. São diversos os influenciadores da comunidade LGBTQIA+ que engajam nessas diferentes áreas, o que pode inspirar e motivar muitas outras pessoas a se expressarem da mesma forma. “Eu me inspiro e acompanho muitos criadores digitais do movimento – que são assim como eu: gay, negro e afeminado – principalmente o Matheus Pasquarelli, a Lellê e o Bruno Gomes”, conta Murilo. 

Embora ainda existam obstáculos a serem enfrentados pelo povo LGBTQIA+, a carreira de influenciador digital permite alcançar conquistas desejadas e a possibilidade de planejar um futuro estável e bem sucedido. “Daqui 10 anos, espero ser um produtor de moda ou trabalhar em algo artístico nesse meio digital. É um sonho para mim”, afirma Murilo, que vem construindo fortes laços com a moda desde criança. 



 

O marco legal aguarda referendo em 25 de setembro deste ano, após mais de 60% da população consultada votar a favor do novo Código das Famílias aprovado pela Assembleia Nacional.
por
João Curi
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19/08/2022 - 12h

No final de julho deste ano, a Assembleia Nacional de Cuba aprovou o novo Código das Famílias, que promete legalizar o casamento homoafetivo, garantir mais direitos às mulheres e maior proteção para crianças e idosos. O documento foi submetido à consulta popular, em maio, da qual participaram cerca de 6,5 milhões de cubanos, alcançando quase 62% de aprovação. 

A legalização do casamento homoafetivo, dentre outros direitos da família presentes no texto, aguarda referendo previsto para setembro deste ano. Uma vez aprovado, Cuba se tornará o 33º país do mundo – e 10º das Américas - a garantir a igualdade matrimonial. 

Em dezembro de 2021, durante aprovação do anteprojeto do Código das Famílias, processo antecessor à consulta popular, o ministro de Justiça, Oscar Silvera Martínez, comentou que “o projeto é reflexo da realidade cubana e coloca a Cuba e seu povo em uma posição que capta as diferenças e as protege”. 

Segundo a Human Rights Campaign (HRC), além de Cuba, há outros seis países que apresentaram desenvolvimento quanto ao suporte à igualdade matrimonial este ano: Andorra, Índia, Japão, Filipinas, Tailândia e Tchéquia. Em 2019, o direito ao casamento homoafetivo foi alcançado pela primeira vez na Ásia, sendo aprovado pelo Tribunal Constitucional de Taiwan em 2017, com prazo legislativo de dois anos cumprido pelo Parlamento. 

No dia 8 de julho de 2022, a Eslovênia decidiu, por meio de ações da corte, que o banimento de casamentos homoafetivos violava a constituição e o direito entrou em vigor imediatamente. Apesar dos avanços, os 32 países que legalizaram a igualdade matrimonial representam apenas 16,5% dos Estados reconhecidos pela ONU. Em contrapartida, um levantamento da BBC revela que, até 2021, foram reconhecidos 69 países que criminalizam a homossexualidade, sendo em sua maioria africanos e asiáticos.

O tema deste ano foi “Vote com orgulho – por uma política que representa”, reforçando o compromisso da comunidade em um ano eleitoral crucial
por
Ana Karolina Reis
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29/06/2022 - 12h

Por Ana Karolina Reis

Muitos dizem que São Paulo é uma cidade cinza, mas o cenário foi diferente no dia 19 de junho de 2022. A avenida paulista, conhecida por ser o palco de inúmeras manifestações políticas, se pintou com as cores da bandeira LGBTQIA+ por um dia. A festa foi digna, e não poderia ter sido diferente: a maior parada do mundo contou com uma multidão de 4 milhões de pessoas. Mais do que um dia para simbolizar e reverenciar o amor, foi um dia marcado pela luta. Fazer parte da comunidade se tornou sinônimo de resistência. O Brasil, considerado por muitos o País mais caloroso e receptivo do mundo, contou com 316 pessoas LGBTs mortas violentamente em 2021. O mesmo Brasil que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo. País onde nem mesmo o presidente da República respeita o direito de amar e existir do próximo.  

O evento contou com 19 trios elétricos e a presença de vários artistas que são símbolos de representatividade dentro da comunidade. Mas não foram apenas as músicas de Pabllo Vittar e Ludmilla que ecoaram na avenida. Em meio a celebração, chamava atenção os gritos das ONGs que estavam presentes. O primeiro grupo chegava acompanhado de uma bateria. A ONG “Mães Pela Diversidade” estava repleta de mães vestidas com bandeiras de várias cores, acompanhadas de seus filhos. “Nós defendemos nossos filhos da LBGTFobia. Meu filho é o Caio Batista, ele é um homem Queer. Hoje o dia é marcado pela importância do respeito e do orgulho que a gente tem pelos nossos filhos, principalmente o respeito que a gente espera que todos tenham com eles. Que as pessoas abracem nossos filhos, que os considerem como igual, porque eles não são diferentes”, disse Cida, uma das mães que desfilava. 

Cartaz usado por ONG na parada LGBTQIA+.

Mais à frente estavam reunidas as mães da ONG “Mães de Crianças Trans”. Um dos momentos mais marcantes foi a conversa com Fabiana, mãe do Tadeu. “Somos um grupo de mães de crianças e adolescentes trans. Estamos reunidos aqui hoje para mostrar pra sociedade que nossos filhos existem, que nossos filhos querem estar vivos e merecem respeito”. Em meio a lágrimas, Fabiana fez um apelo. “Nós queremos que nossos filhos vivam mais que apenas 35 anos, nós estamos aqui em uma voz de resistência pela vida dos nossos filhos”, completou. Ao perguntar para Tadeu a importância daquele evento na vida dele, a resposta foi breve, mas intensa. “Hoje eu não queria levantar da cama, mas estando aqui eu sinto orgulho de mostrar quem eu sou e de não precisar esconder a minha identidade”, finalizou.  

Viver durante um governo que incentiva declaradamente a violência contra a população LGBTQIA+ e que segue cortando políticas públicas para a comunidade se torna uma missão cada vez mais árdua. Os retrocessos causados pela atual gestão violam os direitos das pessoas LGBTs, silenciam suas dores, desumanizam seus corpos e matam cada um de seus membros a cada 29 horas no Brasil.  

O tema escolhido para a parada deste ano foi “Vote com orgulho – por uma política que representa”, enfatizando a importância do posicionamento da comunidade em um ano eleitoral crucial. Para Carolina Iara, covereadora do PSOL e primeira travesti intersexo a ocupar uma vaga legislativa no Brasil, o primeiro passo para mudar esse cenário é tirando Jair Bolsonaro da presidência. “Temos que tirar o Bolsonaro. É o ponto zero. Depois começamos a conversar sobre um projeto de país que inclua as pessoas LGBTs e que inclua também as pessoas trans. Devemos pensar na prevenção da violência, em campanhas de conscientização e sensibilização dessa população. Nós precisamos de uma verdadeira aplicação da lei contra LGBTfobia, que não está acontecendo no Brasil”, declara. 

O evento aconteceu em junho, mês do orgulho, e teve apoio de 13 marcas.
por
Giulia Aguillera
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29/06/2022 - 12h

No dia 19 de junho, aconteceu a volta da Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo. O evento deste ano foi ainda mais marcante que os anteriores porque representou a volta do formato presencial após a pandemia de Covid-19. Em 2020 e 2021, a celebração seguiu a forma online, com lives no canal oficial do YouTube. Porém, este ano a 26ª edição lotou a Paulista e, mais uma vez, fez jus ao título de maior parada do mundo. Conforme divulgado pelo Observatório do Turismo da Prefeitura de São Paulo e pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT-SP), o evento reuniu 4 milhões de pessoas, o dobro do público de 2019.

Segundo o site oficial da celebração, "[...] a Parada SP é uma manifestação social que reivindica direitos, promove a visibilidade e celebra a diversidade, com ações políticas e afirmativas". A primeira edição foi em 1997, com um público de aproximadamente 2 mil pessoas.

O tema da Parada do Orgulho deste ano foi "Vote com Orgulho - por uma política que representa", visando engajar o público nas eleições de outubro e incentivar a busca por políticas voltadas para a comunidade LGBT+. Não faltaram gritos de "Fora, Bolsonaro" e cartazes com manifestações e discursos como esse. Por outro lado, alguns participantes do evento também aproveitaram a oportunidade para demonstrar apoio ao ex-presidente Lula, com bandeiras e cartazes que referenciam o político.

Trio elétrico desfilando na paulista com bexigas coloridas temáticas. À frente, uma placa com os dizeres "voto consciente é voto com orgulho" marca tema da parada.
Os trios elétricos receberam decoração com as cores temáticas da bandeira LGBT+. (Foto: Giulia Aguillera)

"Esse ano, nossa motivação não é apenas comemorar o mês do orgulho, mas também falar da importância do nosso voto consciente, que é o que vai definir muita coisa para o Brasil nos próximos anos. Não queremos ser 'aceitos', como muitos dizem: queremos ser respeitados. Queremos ter nossos direitos. E a forma de concretizar isso é nas urnas", afirmou a manifestante Bruna, de 23 anos.

A celebração contou com uma programação com 19 trios elétricos e apresentações de vários artistas, como Pabllo Vittar, Ludmilla, Liniker, Lexa, Luísa Sonza e Jojo Todynho. Os convidados fizeram shows com discursos voltados ao público em geral, emocionando diversos espectadores. "É muito legal ver tanta gente unida com um mesmo propósito. [...] A gente consegue ver a diversidade do nosso povo, que não é uma coisa só, como muita gente pensa. Estamos em todos os lugares, cada um com sua etnia, sexualidade, cultura. É um sentimento gigante de pertencimento", comentou, às lágrimas, um jovem da comunidade LGBT+ que não quis ser identificado. Segundo ele, essa foi sua primeira participação no evento após se descobrir como alguém pertencente à comunidade.

Bandeira LGBT+ levantada em meio à multidão da Parada do Orgulho.
Bandeiras LGBT+ colorem a avenida Paulista durante Parada do Orgulho. (Foto: Giulia Aguillera)

Além da função política e social, a parada ainda tem uma grande importância econômica para a capital paulista. A ação organizada pela APOGLBT-SP teve parceria com diversas marcas, como Burger King – que, inclusive, distribuiu as tradicionais coroas com as cores do tema LGBT+ –, Smirnoff, Amstel, Doritos e Mercado Livre. A própria cantora Luísa Sonza doou cachê para contribuir com a causa social. O evento é um dos mais relevantes economicamente para a cidade de São Paulo. Na sua última edição presencial, em 2019, o valor movimentado foi superior a 400 milhões de reais.

Em 2022, o turismo representou uma parcela notável na economia do evento. Segundo o Observatório do Turismo da Prefeitura de São Paulo, que ouviu 1.223 pessoas, cerca de 41% do público veio de fora da cidade paulista. A pesquisa incluiu ainda a categoria Perfil e Satisfação de Público Parada LGBT+ 2022, que concluiu que o gasto médio do turista na cidade foi de R$ 1.881,84 por pessoa. Esse número representa 15% a mais que os R$ 1.634,20 de 2019.

Na quinta-feira (16) anterior à parada, aconteceu, no Lago do Arouche, a Feira Cultural da Diversidade LGBT+, que promove anualmente a economia criativa e cultural voltada para a comunidade. Lá, o público pôde desfrutar da gastronomia, além dos artigos de artesanato, workshops e produtos temáticos. Já no dia da parada, a avenida atraiu também vendedores ambulantes que arrecadaram dinheiro vendendo copos, bandeiras e outros produtos personalizados.