Participante do BBB23, Fred Nicácio, reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos, apesar de usar categorias, ela expressa inclusão e visibilidade
por
Rainha Matos
|
28/06/2024 - 12h

A expansão da sigla no movimento LGBTQIA+ pode até causar confusão, mas não para Fred Nicácio, médico brasileiro reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos. Ele defende que, "embora o ideal fosse não categorizar, a nomenclatura atual é crucial para inclusão e visibilidade". Fred enfatiza que esse reconhecimento não deveria ser necessário no futuro, quando esperamos que todos sejam vistos simplesmente como pessoas.

Ele apontou avanços na representação LGBTQIA+ na mídia, mas também criticou "o persistente tabu que limita a aceitação de atores LGBT em papéis principais, por medo de repercussões na carreira". Ele sublinha a importância de valorizar o talento e personalidade das pessoas, independentemente de sua orientação sexual.

Nem tudo é otimismo. Fred Nicácio destacou a gravidade dos índices de LGBTfobia e mencionou sua própria experiência com testemunhos de violência. Ele ressalta a necessidade de políticas públicas e leis rigorosas para proteger a comunidade e reduzir esses crimes.

Como figura pública, o médico precisa lidar com críticas, e por isso adotou uma postura de positividade, aceitando críticas construtivas apenas daqueles que têm algo construtivo a oferecer. Ele enfatizou a importância de uma crítica fundamentada em realizações pessoais e ignorou críticas vazias e infundadas.

Além de sua atuação na saúde e na visibilidade LGBTQIA+, Fred ganhou destaque nacional ao participar do reality show "Big Brother Brasil 23" (BBB23), ampliando sua plataforma para discutir questões de grande relevância social. Sua voz continua sendo uma importante influência tanto na esfera pública quanto nas redes sociais, onde ele continua a promover o debate e a conscientização sobre direitos e igualdade.

A omissão da representatividade de sáfica nas grandes mídias perpetua um vazio cultural que exclui e invisibiliza milhões de experiências autênticas.
por
Emily de Matos
|
21/06/2024 - 12h

Em um cenário midiático predominantemente heteronormativo, vozes como a de Elizabeth Matos, de 19 anos, estudante e mulher bissexual, ressoam com uma perspectiva vital: a necessidade da representatividade sáfica fiel e positiva. "A caixa onde a indústria prende elas é bastante cruel, já que muitas são usadas para material fetichista ou apenas jogadas de escanteio em filmes e séries onde estão atuando, não tendo espaço para brilharem e se destacarem como alguma atriz heterossexual, por exemplo" afirma a jovem.

Nos últimos anos, o termo “Bury Your Gays” (Enterre seus gays) emergiu como um símbolo da escassa e muitas vezes prejudicial representação da comunidade LGBT+ na cultura pop. Esta trope, originada na televisão, descreve a tendência de narrativas que retratam personagens gays apenas para dá-los um destino trágico. Esta prática não apenas nega à comunidade de ter oportunidade de ver suas experiências representadas com precisão, mas também perpetua estereótipos e marginalização.  

Essas representações problemáticas não passam despercebidas pela comunidade LGBTQ+, que muitas vezes se manifesta por meio de protestos online e campanhas de conscientização. Um exemplo notável foi a reação dos fãs à morte de Lexa em "The 100". Após a exibição do episódio em que a personagem foi morta repentinamente, os fãs expressaram indignação e desapontamento nas redes sociais, destacando não apenas a falta de representatividade lésbica nas mídias, mas também a maneira como personagens LGBTQ+ são frequentemente tratados de forma descuidada e desrespeitosa. 

 

 Reprodução: Lexa (Alycia Debnam-Carey) em ‘The 100’. 
 Reprodução: Lexa (Alycia Debnam-Carey) em ‘The 100’. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um exemplo claro desse descuido é a obra cinematográfica “Azul é a Cor Mais Quente”, dirigida por Abdellatif Kechiche, que foi marcada não apenas por seu impacto no cinema, mas também por relatos de condições difíceis no set de filmagem. Em uma entrevista ao jornal The Guardian em 2013, a atriz Léa Seydoux, que interpretou uma das protagonistas, relatou a experiência como 'extremamente difícil' e mencionou a exaustão física e emocional enfrentada durante as gravações. Seydoux também destacou a intensidade das cenas de sexo, descrevendo-as como “ultrajantes” e afirmando que se sentiu “um pouco como uma prostituta” durante as filmagens. Esses relatos lançaram luz sobre as condições muitas vezes desumanas enfrentadas por atrizes em produções que exploram temas sensíveis, como a sexualidade feminina, questionando não apenas a ética por trás das representações, mas também as práticas dentro da indústria cinematográfica. 

 Reprodução: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ‘Azul é a cor mais quente’. 
 Reprodução: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ‘Azul é a cor mais quente’. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao retratar personagens LGBTQIA+, a sensibilidade e o cuidado são essenciais. Como afirmado por Elizabeth “Leitura sensível, uma sala de roteiro deveria ter pessoas especializadas para atender qualquer demanda de personagens que não estão dentro do conhecimento total de quem trabalha na obra. Apenas quem vive na pele sabe o que realmente é necessário e o que passa longe de uma representatividade válida”. 

Movimento em apoio à comunidade LGBTQIAP+ coleciona conquistas pela diversidade na PUC-SP
por
Ana Julia Mira
Maria Eduarda Cepeda
|
20/06/2024 - 12h

O coletivo Glamour celebra 10 anos de história na PUC-SP com uma trajetória de lutas, marcada pela criação da Biblioteca LGBTQIAP+ e a retificação dos nomes de alunas e alunos nas plataformas digitais da universidade.

O Glamour  se consolidou como um espaço seguro e de acolhimento para os alunos na universidade, como uma rede de apoio aos estudantes, além do intuito fortalecer uma resistência contra as violências físicas, psicológicas nos ambientes de convivência fora e dentro do campus.  

Bandeira com as cores LGBTQIAPN+ com um triângulo invertido composto pelas cores da bandeira trans
Design utilizado pelo coletivo de 2014 a 2017 . Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour PUC-SP

A abordagem desses temas são  necessárias no ambiente universitário, a acolhida de alunos LGBTQIA + nas universidades é crucial para criar um ambiente acadêmico inclusivo.

Conquistaram espaços e direitos para as pessoas da comunidade. Mesmo durante a pandemia, o coletivo reivindicava causas de suma importância, como a retificação do nome social nas plataformas de ensino digitais. 

Na época, mesmo os estudantes transexuais que já haviam retificado seus nomes na Secretaria da universidade, tiveram seus nomes civis expostos no novo modelo de ensino que estava sendo aplicado. 

Foi, então, realizado um ofício com a colaboração do Centro Acadêmico 22 de Agosto (do curso de Direito) solicitando tal mudança em prol do respeito para com as pessoas afetadas. 

Ofício realizado para retificação do nome de pessoas trans e travestis nas plataformas digitais da universidade
Ofício realizado pela retificação dos nomes de alunos transexuais e travestis nas plataformas virtuais. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Em 2017, o grupo passou por mudanças adotando o nome Glamour. O nome foi escolhido em homenagem a uma das primeiras alunas assumidamente transsexual a  estudar na PUC-SP no curso de Artes do Corpo em 2013,  a atriz Glamour Garcia. 

Pelas redes sociais, o coletivo promove integrações entre os estudantes por meio de eventos e reuniões, sempre tendo como foco a representatividade daqueles que estão inseridos na comunidade e dando voz às suas experiências.

Design de convite para palestra "Transvivências: a relação das identidades de gênero no meio social". Na parte de baixo do design estão os 4 palestrantes que participaram do evento.
Evento promovido pelo coletivo em 2023. Reprodução: Instagram / @glamourpuc

 

Alinhados com as causas sociais, se mostrou ativo em questões sobre diversidade de gênero e orientação sexual, trazendo visibilidade e empoderamento, criando um ambiente amplo e disposto à troca de ideias e vivências com incentivo de debates, levando essas conversas para além da PUC-SP.  

Quadrado rosa com círculo branco no meio e um trângulo invertido rosa centralizado.
Design do coletivo desde 2017. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Acompanhando o posicionamento firme da comunidade participante do Glamour junto ao “Núcleo Diversas T”, foi realizada a 1ª “Pesquisa Oficial sobre a situação des alunes LGBTQIAPN+ da PUC-SP” em outubro de 2023. O núcleo, por sua vez, é formado por pessoas transsexuais. 

A iniciativa tinha por objetivo de identificar os desafios enfrentados dentro do ambiente acadêmico, visto que são alvo de preconceitos e violências, havendo denúncias de situações assim expostas nas redes sociais do Coletivo Glamour.

Em 2019, uma delas foi feita em uma publicação de sua página no Facebook. Denunciava falas transfóbicas de um professor de Direito Penal em sala de aula, levando à público o caso e manifestando-se contra o docente, organizando protestos silenciosos.

Sala de aula com cartazes em oposição às falas do professor
Imagem do protesto silencioso contra falas transfóbicas de professor. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Por trazer à tona situações de transfobia e homofobia sofridas por pessoas na PUC-SP, atacadas por docentes e estudantes, o Coletivo possui papel ativo no combate ao preconceito na Universidade.

Sobre a razão de sua existência, em publicação no afirma: “Infelizmente, nos tempos atuais, ainda existe uma forte violência contra a comunidade LGBTQIA+, que é, muitas vezes, submetida a agressões, hostilização, crimes de ódio, além da exclusão e precarização do local de trabalho”.

Com uma longa história de luta pelos seus direitos, o Coletivo Glamour conquistou espaço na Instituição, inclusive nas bibliotecas, ao reivindicarem e serem atendidos com a inauguração do acervo bibliográfico de temáticas e autorias LGBTQIAP+, no início deste ano. O acervo conta com mais de 64 títulos, trazendo autoria de pessoas da comunidade, aprovados pelo CONSAD. 

Após o acontecimento em fevereiro, não houveram mais atualizações nas redes sociais e o Coletivo passa por uma aparente pausa em suas atividades. Nós procuramos entrar em contato com os participantes, mas não obtivemos resposta.

“Consegui colocar um vestido e estar lá com a roupa que sempre quis”, explica Moon, estudante que foge do gênero convencional
por
Clara Dell'Armelina
|
15/06/2024 - 12h

 

(Fonte:Louise Zin, Dicas de Mulher)

“Me identifico tanto com pronomes femininos quanto masculinos.”, diz Moon, uma pessoa de gênero fluido e bissexual. A fluidez de gênero vem se tornando cada vez mais visível ao passar dos anos, mas muitos ainda não sabem o que esse termo significa, acabam confundindo com sexualidade, “gênero fluido se trata sobre como você se identifica na questão física, seu corpo e sua aparência, já a orientação sexual é sobre o que você sente atração, não só ao se tratar de genitália, como todos tendem a associar, mas também pelo que a pessoa é, seja homem, mulher, neutro e por aí vai.”.

Moon, estudante de Arquitetura e Urbanismo da UNISAL(Universidade Saleniana) no interior de São Paulo, Americana, relata que percebeu sua fluidez de gênero durante o ensino médio, lá pelo ano de 2019. Mas a primeira vez em que se sentiu à vontade e vestiu-se com roupas entendidas como “femininas” foi na Faculdade, em 2023: “Consegui colocar um vestido e estar lá com a roupa que sempre quis. Foi muito bom para mim pois vi que minhas amizades estavam lá para me apoiar e que posso ser quem eu sou, sem medo, todos foram muito receptivos, até desconhecidos.” Ela defende que a questão da roupa é importante pois “assim podemos passar a imagem que queremos para que saibam como nos tratar.”

Diante da compostura daqueles que Moon já conhecia, conta que sua família apenas “finge que não vê, mas me tratam da mesma maneira que me trataram a vida toda, só que não me importo porque são pessoas antigas, não vão mudar de forma repentina”. As pessoas da igreja evangélica que até pouco atrás frequentava a trataram com respeito, a aceitavam e amavam muito, “lá as pessoas conheciam bem o que pregavam, diferente de muitos evangélicos por aí que se dizem cristãos, então sabem que Deus julga o bem e o mal, não quem somos fisicamente ou quem amamos.”.

Moom conta com entusiasmo que “Pose” é uma série que sempre estará em seu coração “pelo tanto de representatividade que tem.” “A série acaba de modo tão realista e verdadeiro que é algo que mexeu comigo.” Já como inspiração no meio das redes sociais, Moon tem Bella Rose Avila, uma blogueira e modelo que também se identifica como sendo alguém de gênero fluido. Mas Bella não é a única, há muitas figuras famosas como Miley Cyrus, Cara Delevingne, Ruby Rose e mais tantas outras.

O termo “gênero-fluido” começou a ser discutido mais amplamente na década de 90, ele vem contemplado na letra “Q”, de Queer, na sigla LGBTQIAP+, sendo um conceito que engloba todas as sexualidades e identidades de gênero fora do padrão imposto socialmente. Enquanto que cisgênero é aquela pessoa que se identifica com o sexo – feminino ou masculino – que lhe foi designado ao nascer.

Quando se convive com alguém de gênero fluido, é importante perguntar à pessoa quais são seus pronomes de preferência, Moon, por exemplo, mesmo se identificando com os femininos e masculinos, tem sua preferência pelos primeiros, “sempre me apresento com eles e como Moon, pois é como eu prefiro!”. Além disso, a "fluidez" refere-se à mudança em relação à sua própria identidade de gênero ao longo do tempo, assim sendo, com o passar do tempo, a própria identidade de alguém flúido pode alternar.

Muitos se enganam ao pensar que a fluidez de gênero é sempre binária – apenas se reduzindo aos gêneros masculino e feminino – ela pode acontecer também entre gêneros não-binários, quando a pessoa não se identifica com gênero nenhum.

(Bella Rose Avila- Fonte: Shutterstock)
(Bella Rose Avila- Fonte: Shutterstock)
(Fonte: Rubyrose/instagram)
(Fonte: Rubyrose/instagram)
(Fonte: Xavier Collin/Image Press Agency)
(Fonte: Xavier Collin/Image Press Agency)

A cena "está criando realidades do futuro", defende Flip Couto, performer e curador
por
Cecília Schwengber Leite
|
14/06/2024 - 12h

 

No mês do orgulho LGBTQIAP+, diversas expressões artísticas e políticas da comunidade são celebradas, entre elas, a Cultura Ballroom. "Acredito que é uma cultura que está criando realidades do futuro, pois ela construiu a possibilidade de essas pessoas contarem suas histórias e estruturarem suas vidas e carreiras profissionais. É uma manifestação da presença", afirma Flip Couto - performer, curador, produtor de eventos e palestrante sobre negritudes, diversidade de gênero, saúde e a crise da Aids. 

 

.
Reprodução/Instagram

 

Nascido na zona leste de São Paulo, Flip iniciou sua trajetória artística no hip hop, com a dança, e depois se abriu a outras manifestações culturais do movimento. Além de performar, o artista também passou a produzir eventos e, durante esse período, conta que "se permitiu aflorar sua sexualidade", assumindo-se gay. “Nesse processo fui pouco a pouco colocando minha identidade como pessoa LGBT+, primeiramente de forma solitária, e depois me unindo a mais pessoas da comunidade por meio das danças urbanas, quando comecei a me inserir na cultura Ballroom”, diz. Desde então, Flip passou a articular suas primeiras festas e, em 2017, produziu sua primeira ball. 

Origens da Cultura Ballroom

Com seu berço no bairro Harlem, em Nova Iorque, as Ballrooms surgem de um movimento cultural substancialmente negro - e com muitos de seus líderes sendo da comunidade LGBTQIAP+ - hoje conhecido como Harlem Renaissence. Nesse contexto, após um concurso de beleza protagonizado por drag queens e pessoas trans, nos quais, na década de 1960, eram reproduzidos comportamentos racistas, Crystal Labeija, drag queen e mulher trans negra, se revoltou contra os padrões estabelecidos. Assim, fundou a primeira house, a “House of LaBeija”, e a partir dela, diversas houses se expandiram por Harlem, entre outros bairros de Nova Iorque.

No Brasil, a primeira ball ocorreu em Belo Horizonte, a Vogue Fever, trazendo artistas da cena internacional; enquanto uma das houses pioneiras no país, a House Of Hands Up, surgiu de um grupo de danças urbanas, em 2011. Em São Paulo, a cultura Ballroom se estabeleceu por meio da House Of Zion, que compõe a cena mainstream, mais tradicional e precursora. Posteriormente, surge a cena kiki, inicialmente como uma forma de inserção de jovens por meio de ações de saúde, mas que atualmente está mais forte que a cena mainstream, e relacionada a maiores possibilidades de criação.

Flip explica que a estrutura e fundamentos das Ballrooms foram criados por pessoas trans, pretas, latinas, periféricas, profissionais do sexo e portadores de HIV. “É importante definir a Ballroom como uma cultura criada a partir da ausência do Estado, da família e da sociedade estruturalmente cis, branca e heteronormativa, como resposta a todas as violências, construindo um espaço seguro de resistência para esses corpos vulnerabilizados, e buscando outras formas de beleza ", afirma Couto. E acrescenta, “mas para mim é mais do que tudo um espaço de celebração e de encontro, um espaço político também, que constrói novas perspectivas”. 

Houses e Balls

As houses são coletivos que buscam se assemelhar à estrutura de uma família, tanto em termos de afeto e acolhimento, quanto em sua hierarquia, sendo lideradas por mothers e fathers. Comumente expulsos de suas casas, jovens LGBTQIAP+ e portadores de HIV muitas vezes encontram abrigo e pertencimento nas Ballrooms. Ao integrarem uma house, os filhos herdam o sobrenome escolhido pelas mothers ou fathers. Assim, são estabelecidas as identidades e legados da cultura. “É a mesma importância que a família tem na vida de qualquer jovem ou adulto, é dar amor, carinho, cuidar e mentorear também”, diz Flip.

Nas houses, os filhos contam com mentoria de carreiras profissionais dentro das artes, tecnologia, finanças ou qualquer outra área de interesse, além de obterem referências e conhecimento sobre os processos de transição, dicas de moda e beleza e encaminhamento para profissionais da saúde (mental, física e sexual). “As houses têm essa função de fato, são famílias que estão preparadas e dispostas a acolher esses corpos que muitas vezes foram excluídos por suas famílias de sangue”, explica Couto. 

As balls, por sua vez, são bailes onde as famílias se encontram. O intuito é a diversão, livre expressão e acolhimento de corpos marginalizados, e por isso, são políticas em sua essência. Nelas se desenvolvem os elementos da cultura: as categorias de dança, caracterização e performance, com temas estabelecidos e no formato de batalhas. O vencedor de cada categoria leva um Grand Prize (prêmio entregue ao vencedor(a), que também é direcionado a sua house). Através das vitórias, houses e participantes desenvolvem sua reputação e legado.

Vogue

O voguing é uma performance de empoderamento e resistência com movimentações inspiradas nas poses de modelos da famosa revista Vogue. A dança surgiu por meio de pessoas LGBTQIAP+ que, na época, eram presas por serem da comunidade, e que nos presídios tinham fácil acesso a revistas de moda, consideradas “sem conteúdo”. Como um dos únicos meios de distração, essas pessoas reproduziam as poses das mulheres brancas das revistas e almejavam alcançar aquele status fora dos presídios. 

Assim, as Ballrooms incorporaram a performance voguing em forma de batalhas, inicialmente com a reprodução de poses de acordo com o beat, o chamado Posing. Com o passar do tempo e novas pessoas agregando a cena, os estilos foram se desenvolvendo e hoje o voguing divide-se em três principais categorias:

- Old Way, modalidade cujo foco são as linhas e simetrias, como nas páginas da revista;
- New Way, com foco na flexibilidade e agilidade, inspirado em movimentos ginásticos;
- Vogue Femme, criado pelas Femme Queens da cena, traz a feminilidade, acrobacias, sensualidade e energia.

 

.


Quinta edição da Ball Vera Verão na Casa Natura Musical, em São Paulo
Imagem: UOL/Felipe Inácio

 

Com mais de 260 atletas, a Taça da Diversidade reúne times de todo o Brasil em prol do futebol inclusivo
por
Jalile Elias
Sophia Pietá Milhorim
|
01/09/2022 - 12h

A Taça da Diversidade é um campeonato de futebol que reúne pessoas LGBTQIA+ apaixonadas pelo esporte, mas que se viram afastadas devido ao preconceito. ‘’Muitos homens gays ouviram na infância que eram muito afeminados para jogar futebol e eram excluídos das aulas, como aconteceu comigo’’ declara William dos Anjos, jogador do time Unicorns Brazil.

Fundado em 2019, a Taça da Diversidade conta atualmente com mais de 260 atletas, ocorrendo sempre no mesmo final de semana da maior parada LGBTQIA+ do mundo. Neste ano, o campeonato ocorreu dia 18 de junho, no bairro Barra Funda, e contou com a presença de 13 times, cada um contendo 16 jogadores e quatro integrantes da comissão técnica. O evento é dividido em duas categorias, a cis – pessoas que se identificam com o gênero de nascimento- e a trans -pessoas que não se identificam o gênero imposto ao nascer-.

Existem equipes compostas somente por homens gays (Unicorns e Bulls), outras somente por mulheres lésbicas (Fugitivas da Lei Seca e Jogamiga A), existem equipes mistas (Guarani e Jogamiga B) e de jogadores heterossexuais (Nenê de Vila Matilde e Reggae Boys). Além dos cinco times de homens trans, Manda Buscá, Meninos Bons de Bola, Pogonas, Trans United e T Mosqueteiros, não existindo times de mulheres trans no campeonato. Os times são dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Ceará.

Segundo dos Anjos, a melhor parte de participar do campeonato é que ele está jogando com pessoas que tiveram experiências parecidas com a dele, de ridicularização e exclusão, e agora todos estão tendo oportunidade de jogar e se divertir, sem sofrer preconceito.

A Taça da Diversidade é um evento aberto para o público e para a entrada foi necessário somente a doação de um produto de higiene pessoal, que foram doados para o Instituto Casa Florescer que acolhe mulheres transexuais necessitadas de ajuda social e psicológica.

 O objetivo de todos que produzem o campeonato é celebrar a diversidade LGBTQIA+ e driblar a homofobia e transfobia, que diversos atletas sofreram durante a vida e encontraram no evento uma oportunidade de se divertir e praticar o esporte que ainda possui muito preconceito enraizado. ‘’O futebol é para todos, todas e todes’’ afirma Renan Dias, presidente do time Bulls que participou do evento.

 Além da Taça da Diversidade, existem outras competições destinadas ao público LGBTQIA+, existindo inclusive uma agenda completa de campeonatos. “É um calendário de competições bem preenchido, a pandemia deu uma interrompida nisso, mas agora a gente está voltando. Nós tivemos a Copa São Paulo em novembro, o Campeonato Mineiro em dezembro, vamos ter agora a Taça Maravilha inclusive já contando com o apoio do poder público aqui no Rio, a Champions League já conseguindo apoio inclusive da CBF, patrocínio da CBF, são conquistas importantíssimas para o nosso segmento", declarou Flávio Amaral, jornalista e gerador de conteúdo sobre o movimento do esporte LGBTQIA+. 

    Especialmente no futebol, a questão da homofobia sempre foi muito presente, tanto dentro quanto fora das quatro linhas. A forte presença desse tipo de preconceito faz com que muitos jogadores e jogadoras tenham grande receio em revelar sua opção sexual para o público. Dessa forma, tornam-se fundamentais os movimentos de apoio à comunidade LGBTQIA+ no âmbito esportivo, para que todos os atletas, independente da modalidade, possam se sentir incluídos sendo simplesmente quem eles são.

Flávio Amaral acredita que essas competições tem grande importância nos âmbitos social e popular, em que diversas transformações são feitas na vida das pessoas que decidem ingressar nessas equipes, que elas servem como verdadeiras “curas” até mesmo para pessoas que, por exemplo, são diagnosticadas com depressão. "A gente percebe com muito orgulho realmente o impacto que essas equipes têm e ainda vão ter com certeza. Essas pessoas encontram nessas equipes um acolhimento, um pertencimento que elas nunca tiveram em âmbito esportivo. Isso é altamente importante e enriquecedor para o nosso movimento”.

“Tem partidos que de sete candidaturas LGBTs em 2020, cinco deles não receberam investimentos, nenhum tostão”, aponta Gui Mohallem em entrevista para a AGEMT
por
Felipe Oliveira
Guilherme Nazareth
|
31/08/2022 - 12h

“A maior dificuldade para a candidatura LGBTQIA+ é o partido”, afirma Gui Mohallem; fotógrafo, artista plástico e executivo da organização VoteLGBT. Em contato via WhatsApp, ele diz que o investimento é quase nulo, além da existência de violência, sabotagem, homofobia e negligência nos partidos com os candidatos LGBTs.

O #VoteLGBT surgiu em 2014 como uma campanha para viabilizar candidaturas pró LGBTs, sendo uma das organizações pioneiras na luta pela causa. A entidade entende que só existe democracia quando há diversidade.

Em 2016 a instituição começou a realizar pesquisas de perfil político nas paradas LGBT, e assim produziram dados sobre a comunidade na população, já que essas informações estatisticamente não existiam na época.

Mohallem fala sobre as dificuldades e LGBTfobias que os candidatos sofrem ao tentarem se filiar a um partido político: “LGBTs não escolhem o partido, vão no que aceitam”. Ele alega que é um “luxo” um LGBT escolher o partido que deseja pela posição política, e também diz que muitos partidos abandonam seus eleitorados, sem investir devidamente neles.

O artista diz ser comum os partidos investirem pouco ou até mesmo nada nas candidaturas: “Tem partido, que de sete candidaturas LGBTs em 2020, cinco deles não receberam investimento, nenhum tostão”, declara o fotógrafo.

Logo após, Mohallem fala sobre o confinamento que os grupos políticos impõem para os candidatos: “Os partidos tendem a confinar os LGBTs a pautarem apenas nas questões identitárias, e ao contrário disso, vemos muitos mandatos LGBTQIA+ com propostas interessantes para toda população”.

De acordo com as pesquisas do VoteLBGT, representantes LGBTs eleitos, somando todos os cargos, ocupam apenas 0,16% na política. Ainda assim, as denúncias de violência política e ameaças de morte, atendidas pelo Ministério Público, mostram que 50% são contra mulheres trans.

Expectativas nas eleições de 2022

Nas eleições de 2018, segundo a Associação Brasileira LGBT(ABLGBT), houve 180 candidaturas LGBTQIA+. Até o momento, chegou-se ao número de 242 nesse período eleitoral, divulgado abertamente no site do VoteLGBT+. Candidaturas não pertencentes à sigla em questão, mas que apoiam abertamente a causa, também ecoam cada vez mais nos espaços políticos.

O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, também projetou um alcance em torno de 250 do dado exposto acima. Disse também sobre a expectativa de ter, no mínimo, 8 candidaturas da comunidade eleitas no Congresso Nacional, o que seria o dobro das pessoas assumidamente LGBTQIA+ entre deputados e senadores.

 Para chegar a essa conquista o envolvimento da organização na política não é pequeno. Conta com um programa chamado Voto Com Orgulho, trazendo apoio no âmbito jurídico e na questão da publicidade nas campanhas políticas. Atualmente são 34 candidaturas espalhadas pelas 5 regiões do Brasil e todos para os três cargos do Poder Legislativo.

 Ao contar com essa assistência, é necessário assinar um termo de comprometimento com propostas específicas de cada setor que vai concorrer, almejando o combate a LGBTfobia e promoção dos direitos da sigla. Há três eleições em funcionamento, Toni declarou que a plataforma “tem o intuito de incentivar as pessoas a se orgulharem de serem o que são e também votarem com orgulho, ter dignidade para isso.’’

Toni deseja com essas eleições atingir uma bancada forte LGBTQIA+, e assim, lutar para positivar no congresso nacional todas as ações a favor conquistadas no Poder Judiciário brasileiro, como a criminalização da LGBTfobia, casamento homoafetivo, nome social e mudança de gênero.

Criadores de conteúdo do movimento enfrentam embate entre o marketing por conveniência ou o engajamento sincero das marcas
por
Laura Paro
Lais Romagnoli
|
31/08/2022 - 12h

O crescimento de influenciadores da comunidade LGBTQIA+ nas redes sociais contribuiu para a visibilidade de pautas destinadas a essa comunidade, bem como para o reconhecimento de novas identidades. “Eu sempre gostei da área da beleza e a maquiagem veio como uma auto descoberta – não só da minha área como blogueira, mas também como uma descoberta pessoal da minha identidade de gênero. Adoro trabalhar com isso, acho que eleva a autoestima de qualquer pessoa”, afirma Bruno Garcia, influenciador digital pertencente ao movimento. Porém, ainda há muitos desafios a serem enfrentados pelos influencers deste meio: o movimento é valorizado ou apenas conveniente?

“A minha maior dificuldade é conseguir mostrar que meu conteúdo tem um valor e um grande alcance! Muitas marcas sempre contratam apenas no mês de junho, ou seja, no mês que lhe é conveniente ser ‘apoiadora da causa LGBTQIA+’, por ser o mês do orgulho da comunidade. Parece que servimos apenas para essa época e mais nada”, diz Garcia. Assim, fica evidente o momento em que campanhas de marketing direcionadas a esses grupos aumentam de forma expoente, criando um debate acerca da moralidade das marcas, se é apenas uma forma de representatividade ou um interesse financeiro e midiático.

E quando acaba o mês do orgulho? Para Murilo Amaral, criador de conteúdo digital, há certa falta de credibilidade em seu trabalho, por ser gay, negro, afeminado e considerado um influenciador “pequeno”. “Entre o meu conteúdo e o de uma influenciadora considerada padrão, provavelmente o dela seria o escolhido por uma marca”, afirma. Essa questão retoma a discussão acerca da sociedade agir com prestígio ou conveniência sob o trabalho desses criadores digitais, também conhecido como “Pink Money” – o termo serve para empresas em situações que, quando é favorável, seja financeiramente ou pela mídia, apoiam a causa, mas na hora de se posicionarem politicamente e apoiar o movimento, permanecem isentas.

A influenciadora Luísa Assaf, em sua conta no TikTok, compartilhou alguns critérios para definir se as marcas realmente possuem iniciativas de apoio à população LGBTQIA+: o direcionamento de lucro dos produtos para instituições, representatividade em suas campanhas, iniciativas para a contratação de pertencentes ao movimento, o patrocínio de eventos, artistas ou esportistas da comunidade e se o apoio dura o ano inteiro (não somente durante o “pride month”). Luísa também cita marcas que são exemplos, como o Burger King, que sempre se posiciona em polêmicas envolvendo LGBTfobia e política, além de reverter lucros obtidos com produtos temáticos para ONGs. 

Apesar de todas essas dificuldades, há muitas conquistas que ainda motivam os criadores de conteúdo digital desse meio: “O projeto que mais me marcou foi ter uma coleção, de uma loja, assinada no meu nome. Foi uma conquista e tanta”, afirma Bruno Garcia, que é um grande entusiasta na área da beleza e da maquiagem. Além disso, o influencer diz ter como motivação conseguir usar e abusar de sua criatividade, contemplando todos os seus diversos talentos. “Vou iniciar daqui um mês um curso de Artes Cênicas na Universidade Federal de Uberlândia, quero trazer vários conhecimentos da área e atrelar isso ao meu trabalho como digital influencer”, diz Bruno. 

A profissão de um influenciador digital pode ser considerada uma das mais amplas por abranger diversos nichos da internet, como cultura pop, moda, maquiagem, gastronomia, esportes, entretenimento, política, etc. São diversos os influenciadores da comunidade LGBTQIA+ que engajam nessas diferentes áreas, o que pode inspirar e motivar muitas outras pessoas a se expressarem da mesma forma. “Eu me inspiro e acompanho muitos criadores digitais do movimento – que são assim como eu: gay, negro e afeminado – principalmente o Matheus Pasquarelli, a Lellê e o Bruno Gomes”, conta Murilo. 

Embora ainda existam obstáculos a serem enfrentados pelo povo LGBTQIA+, a carreira de influenciador digital permite alcançar conquistas desejadas e a possibilidade de planejar um futuro estável e bem sucedido. “Daqui 10 anos, espero ser um produtor de moda ou trabalhar em algo artístico nesse meio digital. É um sonho para mim”, afirma Murilo, que vem construindo fortes laços com a moda desde criança. 



 

O marco legal aguarda referendo em 25 de setembro deste ano, após mais de 60% da população consultada votar a favor do novo Código das Famílias aprovado pela Assembleia Nacional.
por
João Curi
|
19/08/2022 - 12h

No final de julho deste ano, a Assembleia Nacional de Cuba aprovou o novo Código das Famílias, que promete legalizar o casamento homoafetivo, garantir mais direitos às mulheres e maior proteção para crianças e idosos. O documento foi submetido à consulta popular, em maio, da qual participaram cerca de 6,5 milhões de cubanos, alcançando quase 62% de aprovação. 

A legalização do casamento homoafetivo, dentre outros direitos da família presentes no texto, aguarda referendo previsto para setembro deste ano. Uma vez aprovado, Cuba se tornará o 33º país do mundo – e 10º das Américas - a garantir a igualdade matrimonial. 

Em dezembro de 2021, durante aprovação do anteprojeto do Código das Famílias, processo antecessor à consulta popular, o ministro de Justiça, Oscar Silvera Martínez, comentou que “o projeto é reflexo da realidade cubana e coloca a Cuba e seu povo em uma posição que capta as diferenças e as protege”. 

Segundo a Human Rights Campaign (HRC), além de Cuba, há outros seis países que apresentaram desenvolvimento quanto ao suporte à igualdade matrimonial este ano: Andorra, Índia, Japão, Filipinas, Tailândia e Tchéquia. Em 2019, o direito ao casamento homoafetivo foi alcançado pela primeira vez na Ásia, sendo aprovado pelo Tribunal Constitucional de Taiwan em 2017, com prazo legislativo de dois anos cumprido pelo Parlamento. 

No dia 8 de julho de 2022, a Eslovênia decidiu, por meio de ações da corte, que o banimento de casamentos homoafetivos violava a constituição e o direito entrou em vigor imediatamente. Apesar dos avanços, os 32 países que legalizaram a igualdade matrimonial representam apenas 16,5% dos Estados reconhecidos pela ONU. Em contrapartida, um levantamento da BBC revela que, até 2021, foram reconhecidos 69 países que criminalizam a homossexualidade, sendo em sua maioria africanos e asiáticos.

O tema deste ano foi “Vote com orgulho – por uma política que representa”, reforçando o compromisso da comunidade em um ano eleitoral crucial
por
Ana Karolina Reis
|
29/06/2022 - 12h

Por Ana Karolina Reis

Muitos dizem que São Paulo é uma cidade cinza, mas o cenário foi diferente no dia 19 de junho de 2022. A avenida paulista, conhecida por ser o palco de inúmeras manifestações políticas, se pintou com as cores da bandeira LGBTQIA+ por um dia. A festa foi digna, e não poderia ter sido diferente: a maior parada do mundo contou com uma multidão de 4 milhões de pessoas. Mais do que um dia para simbolizar e reverenciar o amor, foi um dia marcado pela luta. Fazer parte da comunidade se tornou sinônimo de resistência. O Brasil, considerado por muitos o País mais caloroso e receptivo do mundo, contou com 316 pessoas LGBTs mortas violentamente em 2021. O mesmo Brasil que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo. País onde nem mesmo o presidente da República respeita o direito de amar e existir do próximo.  

O evento contou com 19 trios elétricos e a presença de vários artistas que são símbolos de representatividade dentro da comunidade. Mas não foram apenas as músicas de Pabllo Vittar e Ludmilla que ecoaram na avenida. Em meio a celebração, chamava atenção os gritos das ONGs que estavam presentes. O primeiro grupo chegava acompanhado de uma bateria. A ONG “Mães Pela Diversidade” estava repleta de mães vestidas com bandeiras de várias cores, acompanhadas de seus filhos. “Nós defendemos nossos filhos da LBGTFobia. Meu filho é o Caio Batista, ele é um homem Queer. Hoje o dia é marcado pela importância do respeito e do orgulho que a gente tem pelos nossos filhos, principalmente o respeito que a gente espera que todos tenham com eles. Que as pessoas abracem nossos filhos, que os considerem como igual, porque eles não são diferentes”, disse Cida, uma das mães que desfilava. 

Cartaz usado por ONG na parada LGBTQIA+.

Mais à frente estavam reunidas as mães da ONG “Mães de Crianças Trans”. Um dos momentos mais marcantes foi a conversa com Fabiana, mãe do Tadeu. “Somos um grupo de mães de crianças e adolescentes trans. Estamos reunidos aqui hoje para mostrar pra sociedade que nossos filhos existem, que nossos filhos querem estar vivos e merecem respeito”. Em meio a lágrimas, Fabiana fez um apelo. “Nós queremos que nossos filhos vivam mais que apenas 35 anos, nós estamos aqui em uma voz de resistência pela vida dos nossos filhos”, completou. Ao perguntar para Tadeu a importância daquele evento na vida dele, a resposta foi breve, mas intensa. “Hoje eu não queria levantar da cama, mas estando aqui eu sinto orgulho de mostrar quem eu sou e de não precisar esconder a minha identidade”, finalizou.  

Viver durante um governo que incentiva declaradamente a violência contra a população LGBTQIA+ e que segue cortando políticas públicas para a comunidade se torna uma missão cada vez mais árdua. Os retrocessos causados pela atual gestão violam os direitos das pessoas LGBTs, silenciam suas dores, desumanizam seus corpos e matam cada um de seus membros a cada 29 horas no Brasil.  

O tema escolhido para a parada deste ano foi “Vote com orgulho – por uma política que representa”, enfatizando a importância do posicionamento da comunidade em um ano eleitoral crucial. Para Carolina Iara, covereadora do PSOL e primeira travesti intersexo a ocupar uma vaga legislativa no Brasil, o primeiro passo para mudar esse cenário é tirando Jair Bolsonaro da presidência. “Temos que tirar o Bolsonaro. É o ponto zero. Depois começamos a conversar sobre um projeto de país que inclua as pessoas LGBTs e que inclua também as pessoas trans. Devemos pensar na prevenção da violência, em campanhas de conscientização e sensibilização dessa população. Nós precisamos de uma verdadeira aplicação da lei contra LGBTfobia, que não está acontecendo no Brasil”, declara.