Ataque com xingamentos homofóbicos aconteceu durante as comemorações do 7 de Setembro, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro; Brasil registra uma morte por homofobia a cada 30 horas
por
Maria Clara Palmeira
Maria Mielli
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10/09/2025 - 12h

Neste domingo (07), o vendedor Bruno Barros, 34, foi agredido por um dos manifestantes presentes no ato pró-Bolsonaro, na Avenida Paulista. A agressão ocorreu na banca em que Bruno e seu marido, Lucas Vinicius, vendem seus artesanatos. Os produtos são voltados à comunidade LGBTQIA +; bandeiras lésbicas, gays, trans, canecas e itens decorativos. 

Em entrevista à AGEMT, Bruno relatou que eles estavam cientes da manifestação, mas que isso não seria um empecilho para cumprir mais um dia de trabalho. Segundo o vendedor, ele tentou inclusive encarar o dia com bom humor: “Eu estava com um leque da comunidade, brincando, porque você percebe quem passa ali e não é bolsonarista. Aquela pessoa te olha, dá um sorriso meio tímido; e aí eu brincava: limpa, limpa, limpa!"

A biomédica Letícia Serafim, que passeava pela avenida com um amigo, contou que não se lembrava da manifestação: “Nunca tinha visto aquilo de perto. As pessoas esbarravam de propósito, como se fossem donas da Paulista. O mais absurdo foi ver bandeiras dos EUA sendo erguidas, no Dia da Independência do Brasil.”

Letícia relatou que foi até um shopping nas proximidades e foi atraída pela banca de Bruno e Lucas: “Foi como entrar numa bolha. Ali tinha música, conversa, acolhimento. Eles eram a verdadeira resistência no meio do caos.”

Artigos vendidos na Riot Store, banca de Bruno e Lucas. Foto: Reprodução/Letícia Serafim
Artigos vendidos na Riot Store, banca de Bruno e Lucas. Foto: Letícia Serafim

Segundo Bruno, alguns dos manifestantes gritavam coisas aleatórias direcionada a ele, de “petista safado” a “Lula ladrão”. Até que um grupo de meninos se aproximou para gravar uma entrevista com ele. “Eu estava falando como eu estava incrédulo, como [o protesto] estava cheio. Foi bem assustador ver o tanto de pessoas que estavam passando. Pessoas que não tem conhecimento nenhum de história, pedindo anistia de pessoas que depredaram o Brasil. É ridículo”, declarou. Mas enquanto conversava com os entrevistadores, um manifestante começou a proferir comentários homofóbicos na direção de Bruno, que interrompeu a entrevista e foi pedir ajuda a policiais que estavam próximos.

Bruno foi então agredido com um soco no maxilar, na frente dos policiais. “Foi do nada. Na hora que ele virou o soco, o policial veio, separou e eu falei ‘agora que eu quero mesmo abrir um BO de agressão e um de homofobia' ”. De acordo com o relato do vendedor, após os policiais conterem o agressor e afastá-lo, eles o soltaram. 

A situação revoltou Bruno que começou a gritar acusando não só o agressor, mas os demais manifestantes de "homofóbicos, racistas, transfóbicos e misóginos”. Em resposta, o grupo inverteu a situação e afirmou que era Bruno quem estava atacando os manifestantes. Lucas, marido de Bruno, tentou acalmá-lo diante aquela situação. “Acho que foi a primeira vez que a gente ficou com medo, eu, meu marido e uma amiga nossa que estava ali”, desabafou à Agemt.

Segundo o Atlas da Violência, produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2014 a 2023 o registro de violências contra pessoas da comunidade cresceu 1.227%. Em relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), só em 2024 o Brasil registrou 91 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+, o equivalente a uma morte a cada 30 horas. Desde 2019, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), a homofobia e a transfobia foram equiparadas ao crime de racismo, previsto na Lei n.º 7.716/1989, sendo, portanto, passíveis de punição criminal.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Um lugar onde a leitura também é um gesto de resistência
por
Nicole Domingos
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16/06/2025 - 12h

A literatura sempre foi um território de disputa simbólica, um espaço onde narrativas dominantes se impõem, mas também onde vozes dissidentes encontram brechas para existir. No caso da literatura LGBTQIAPN+, essas brechas são preciosas. O site palavras em trânsito, feito por Nicole Domingos, trata exatamente disso, desses pequenos espaços que já existiram e que existem hoje. É um lugar dedicado ao estudo, à crítica e à celebração da literatura LGBTQIAPN+.

Ao longo do site, vamos tratar especialmente sobre os corajosos que escrivam e gritavam dentro de deus próprios livros, ainda que estivessem dentro dos períodos de repressão, como a ditadura militar brasileira — esses autores utilizaram a palavra como forma de resistência.

A literatura não apenas narra experiências — ela reescreve a história a partir de corpos e afetos antes excluídos. Ela cura feridas simbólicas, questiona heranças opressoras e cria novos imaginários de existência. Ao nos colocar diante de personagens que amam, sofrem, resistem e sonham fora da norma, ela nos lembra de algo fundamental: toda existência merece ser narrada. E lida.

Para acessar esse mundo, basta clicar no link abaixo:

https://literatura-lgbt.my.canva.site/

 

 

Alunas da UFABC e USP compartilharam suas vivências e desafios na luta por inclusão e equidade no meio acadêmico
por
Pedro da Silva Menezes
Maria Dantas Macedo
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09/06/2025 - 12h

No mês do Orgulho, podcast investiga as cotas trans nas universidades brasileiras a partir de relatos de duas estudantes trans: a Gabriela, aluna de Letras na USP,  e a Ellie, gestora do Centro acadêmico de Humanidades da UFABC, faculdade que aderiu as cotas trans em 2019. Elas expõem dificuldades, lutas e avanços, revelando por que essa política de cotas é urgente para garantir inclusão e respeito.

Influenciadora é chamada de "homem" por espectadora; confusão gerou vaias, atraso no espetáculo e intervenção policial
por
Carolina Zaterka
Manoella Marinho
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15/04/2025 - 12h

 

Malévola Alves, influenciadora digital e mulher trans, denunciou ter sido vítima de transfobia no Teatro Renault, em São Paulo, no dia 26 de março de 2025, ao ser tratada pelo pronome masculino e chamada de “homem” por uma espectadora. O incidente ocorreu antes do início do musical “Wicked”. Malévola, com mais de 840 mil seguidores, publicou trechos do episódio em suas redes, que rapidamente viralizaram.

Segundo relatos de testemunhas e da própria vítima, a confusão começou quando Malévola esperava uma nota fiscal e a mulher atrás dela mostrou impaciência. As duas trocaram palavras e, ao se afastar, a mulher teria gritado "isso é homem ou mulher?" em sua direção. A vítima então se sentiu ofendida e levou a denúncia à plateia, apontando a espectadora como autora do ataque transfóbico, causando um tumulto que paralisou a plateia.

A reação do público foi de imediato apoio a Malévola, com vaias à agressora e pedidos para que ela fosse retirada do teatro. “A gente não vai começar a assistir a um espetáculo que é extremamente representativo para a diversidade com uma mulher dessa aqui. Não faz o menor sentido”, afirmou um dos espectadores durante o protesto.

Diante da pressão da plateia, a apresentação atrasou cerca de 30 minutos. A mulher acusada acabou saindo do teatro sob escolta policial, levada à  delegacia para realizar um boletim de ocorrência, recebendo aplausos e vaias dos demais presentes. Miguel Filpi, presente no evento, celebrou nas redes sociais: “Justiça foi feita!! Obrigado a todo mundo nessa plateia que fez a união para que isso acontecesse.”

Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium (Produtor do musical), pediu desculpas pelo ocorrido antes de dar início ao espetáculo: “Peço desculpas por esse acontecimento e por esse atraso. Tudo o que a gente pode admitir, é bom que a gente admita na vida, mas transfobia em Wicked, não dá”. A atriz Fabi Bang, também se manifestou durante e após o espetáculo: “Transfobia jamais” - uma improvisação durante a música “Popular”.

 

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Fabi Bang, atriz que interpreta Glinda, em apresentação do musical. Foto: Blog Arcanjo/Reprodução

Viviane Milano, identificada como a espectadora acusada, negou as acusações em um pronunciamento, alegando que a confusão na fila da bombonière não foi sobre identidade de gênero, mas sobre uma tentativa de furar fila. Ela afirmou: “Perguntei em voz alta: ‘Era o homem ou a mulher que estava na fila?’”, dizendo que sua pergunta foi mal interpretada.

A produção de Wicked e membros do elenco reiteraram seu compromisso com a diversidade e repudiaram o incidente. A nota oficial da produção destacou: “Nosso espetáculo é e continuará sendo um espaço seguro para todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual.”

O evento começa no Largo do Arouche, com a presença da Deputada Erika Hilton e do Ministro Silvio Almeida
por
Bruna Parrillo
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08/06/2023 - 12h

 

O mês de junho é reconhecido mundialmente como o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, em celebração aos direitos conquistados e para reflexão dos desafios que ainda precisam ser superados. Vivemos em uma sociedade de preconceito e discriminação, sendo necessária a luta diária pelos direitos dessa comunidade. Por isso, o Mês do Orgulho tem o papel fundamental de conscientização, levantando bandeiras para lembrar que todos merecem respeito e igualdade, seja qual for a sua orientação sexual ou identidade de gênero.   

Eventos que celebram a diversidade movimentam a capital paulista com uma vasta programação cultural. Nesta sexta-feira, 9, acontece a 6ª edição da Marcha do Orgulho Trans, no Largo do Arouche, com o protagonismo de travestis, pessoas transgêneros binárias e não binárias da América Latina. Para colocar o evento nas ruas de São Paulo, foi realizada uma campanha de financiamento coletivo, em parceria com a Ben & Jerry’s. Na ação, a marca doará R$1 (um real) a cada valor equivalente doado pelo público, duplicando o alcance da meta estabelecida para viabilizar o evento. 

Em 2022, a marcha alcançou mais de 600 mil pessoas com conteúdo online e 16 mil pessoas estiveram presentes para discutir sobre segurança, direitos, empreendedorismo e empregabilidade de pessoas trans. Organizado pelos precursores da linguagem neutra no Brasil, o instituto [SSEX BBOX] - uma ONG que trata de gênero e sexualidade "fora da caixa" - e a [DIVERSITY BBOX] - consultoria especializada em equidade social e que atua na promoção da diversidade em corporações - celebram a marcha de 2023 com o tema “Transformação”. 

Esta 6ª edição contará com a presença de personalidades políticas, como o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida; a Secretária Nacional dos Direitos da População LGBTQIAPN+, Symmy Larrat; e as deputadas Carolina Iara e Erika Hilton. O trio elétrico começará a circular espalhando amor pelas ruas da cidade às 16h, com shows de Kaique Theodoro, Lumma, Julie Rios Narcaso, Winnit, Mc Xuxú, Mc Trans, Irmãs de Pau, Jasper Okan, Azula e Batucada.

Erika Hilton: Embaixadora Oficial da Marcha do Orgulho Trans - Imagem: Ben & Jerry's e Instituto [SSEX BBOX]
Erika Hilton: Embaixadora Oficial da Marcha do Orgulho Trans - Imagem: Ben & Jerry's e Instituto [SSEX BBOX]
Carolina Iara: Embaixadora Oficial da Marcha do Orgulho Trans - Imagem: Ben & Jerry's e Instituto [SSEX BBOX]
Erika Hilton: Embaixadora Oficial da Marcha do Orgulho Trans - Imagem: Ben & Jerry's e Instituto [SSEX BBOX]

 

 

 

Mais informações sobre o evento

Concentração: Largo do Arouche, às 12h

Marcha: 16h

Percurso: Largo do Arouche, Avenida São João, Avenida Ipiranga, Praça Da República, Avenida Vieira de Carvalho e Largo do Arouche

 

 

 

A luta tailandesa se popularizou entre os mais diferentes grupos e reforça discussões sociais no tatame.
por
Artur Maciel Rodrigues
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14/04/2023 - 12h

William Ceará e alguns de seus alunos. (Reprodução/Instagram)

Em 1979, o Muay Thai chegou ao Brasil. Desde então, ganhou popularidade em locais alternativos e entre as minorias, como o movimento LGBTQIAPN+. Assim, alguns indivíduos iniciaram a participar em academias por todo o país, mas poucas delas são focadas nessas minorias. A escola de Muay Thai Pedra da Lotta, onde a professora Luiza Pokrovsky procurou a “Casa Nem” , uma ONG de acolhimento da sociedade queer que oferece aulas gratuitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro. 

William Ceará, professor da academia Muay Thai for Fun, explica como suas aulas sempre foram inclusivas. Porém, ele conta que já testemunhou um caso de homofobia no tatame. "Teve um casal de homens homossexuais que durante uma aula de clinch (a parte agarrada da luta), um deles fez dupla com outro aluno que se sentiu incomodado com a situação, eu respondi pro aluno parar de frescura”, explica. “Foi uma situação super constrangedora’’.

O professor também comenta sobre as "piadinhas" na sala. "Tento ter uma aula mais descontraída. Os alunos brincam e alguns fazem piadas de tom homofóbico. Já tive que falar em particular com alguns alunos pra eles pararem essas brincadeiras”. 

Na Tailândia, lugar originário do esporte, a luta já foi muito conservadora e inclusive machista, chegando haver a proibição de mulheres no ringue. Com o passar do tempo, o Muay Thai evoluiu e hoje é reconhecido por incluir a todos, principalmente por influência do budismo, que recepciona melhor as identidades de gênero.

No cenário esportivo profissional, atletas trans são reconhecidos desde os anos 1990. Atualmente, Nong Rose é uma das atletas mais célebres da causa, ganhando destaque internacional após um campeonato na França. Atualmente é considerada uma das únicas pessoas trans ativa do desporto. No entanto, este fato é problemático, já que ela luta contra homens em vez de mulheres. 

No Brasil, poucos atletas profissionais têm a liberdade de falar sobre seu gênero ou sexualidade. William explica que isso ocorre principalmente por medo da reação dos patrocinadores. E, embora o esporte tenha evoluído nessa questão, ainda é um ambiente com fortes preconceitos.

Estudantes das principais universidades do estado se juntam para lutar contra a homofobia e reafirmar suas posições na sociedade
por
Lucas Allabi
Artur dos Santos
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08/09/2022 - 12h

“Queremos nos tornar referência em questões LGBTQIAP+ e estudantis dentro e fora da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH). ” Afirmou o perfil do Instagram do Coletivo Madame Satã, da EFLCH da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O coletivo se organizou em torno das pautas LGBTQIA + em novembro de 2021. Os alunos não heteronormativos sentiam a necessidade de se reunir para defender seus direitos, pois recentemente o clima de preconceito vêm se aprofundando nas universidades. Um exemplo é o caso dos ataques na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) contra alunos homossexuais por serem supostos portadores da varíola do macaco.

“A comunidade é afetada como um todo e individualmente. O fato de existir uma rede de apoio presente e ativa torna a existência mais segura e proporciona um sentimento de pertencimento extremamente precário hoje em dia”, segue o perfil na rede social. Essa rede de apoio não pertence apenas à Unifesp.

Os coletivos que reivindicam direitos dos LGBTQIA + existem em quase todas as grandes universidades de São Paulo. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por exemplo, existe o coletivo Glamour que também luta pelos direitos LGBTQIA + e ajuda na integração de alunos e alunas desses gêneros dentro das faculdades, visando criar uma conexão entre eles.

Além de garantir direitos, os coletivos desse gênero buscam criar uma ação política ativa, como um partido que luta pelos seus ideais. Essa ação se cristaliza no estatuto do Madame Satã.

Nele, a organização fica clara e prevê conselho, comissões variadas, assembleias gerais e eleições anuais, além de mecanismos para expulsão de membros que descumpram o estatuto.

Para os membros do coletivo, essa ligação com a política é feita em prol da democracia dentro e fora da universidade, e da movimentação LGBTQIA + dentro dela: “Qualquer entidade estudantil é de suma importância para o funcionamento pleno de uma universidade, sobretudo no ensino público. A presença de minorias organizadas com um propósito em comum é o que mostra nossa democracia em movimento e possibilita que a mudança necessária aconteça. ”

O coletivo, entretanto, não chegou a esse nível organizacional e ideológico logo de cara, pois encontrou alguns percalços no seu início. Sobre eles, os membros do coletivo afirmaram que tiveram muitas: “Além de toda a estrutura administrativa e elaboração do Estatuto, levamos muito tempo para estabelecer nosso papel, nossa atuação e nossas diretrizes. Outro fator importante que levou algum tempo para se concretizar foi o engajamento dos estudantes. ”

A mobilização em torno desse tema se dá principalmente em eventos. Alguns deles são feitos pelo próprio coletivo, como uma palestra ocorrida no dia

13 de junho que discutia a importância da diversidade, da cidadania e das políticas públicas em torno da população LGBTQIA+.

“Promovemos eventos, ações de acolhimento, debates políticos e culturais. Também trabalhamos muito para criar ferramentas e conteúdos relevantes para a comunidade. ”

No lado de fora da universidade a preocupação também é grande. No dia 7 de agosto, os membros do coletivo Madame Satã e de outras organizações estudantis da EFLCH da Unifesp se uniram para debater os atos antidemocráticos que iriam acontecer no dia 11 do mesmo mês.

Em um espaço considerado homofóbico e excludente, fâs lutam por diversidade no futebol brasileiro
por
Helena Cardoso
Yasmin Solon
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01/09/2022 - 12h

As torcidas LGBTQIAP + aumentaram a presença nos estádios, com o apoio ou não dos clubes que representam. Ultrapassando a LGBTfobia, esses coletivos lutam por mais visibilidade, além do suporte dos outros torcedores. Nos anos 70, foram criadas as primeiras torcidas LGBTs, a Coligay (Grêmio) e a FlaGay (Flamengo), que não estão mais em atividade. Depois disso, só em 2013 outro coletivo foi criado, a Galo Queer (Atlético-MG), e inspirados por eles, muitos outros surgiram após esse ano. Eles surgem em contexto de afastamento dos LGBTs do esporte, por não se sentirem seguros em torcer para os seus times

A diretora da torcida LGBTricolor, Tainá Sena defende a importância da existência de coletivos e espaços diversificados.  Criada em 2019, a torcida LGBT do EC Bahia surgiu como “um movimento para tentar trazer e inserir mais o público LGBTQIAP + para dentro dos estádios de forma mais segura, fazendo-os se sentir abraçados”. Além da inclusão, Tainá explica que é relevante ter um espaço que aborde e dê voz ao público não normativo no esporte: “As pautas que muitas vezes não são pensadas pelo clube e outras torcidas, nós trazemos.” Ela acrescenta que o Bahia apoia a LGBTricolor e que “em algumas pautas, o time chega junto”, além de ter o acolhimento de outras torcidas, como a Triloucas, a Bamor e o Movimento Tricolor.

            Por mais que hoje seja natural, a diretora da torcida conta como era “muito difícil ver pessoas LGBTQIAP + se movimentando nos estádios, ainda mais juntas ou em grupos para frequentar os jogos”. Porque infelizmente “é uma coisa universal, a gente sabe que o ambiente esportivo ainda é muito hostil com o público LGBT. É uma luta constante contra alguns comportamentos que foram impregnados dentro dos estádios e que nossa torcida sempre tenta conscientizar de que é errado”. Tainá ainda conta que as pessoas estão entendendo que cânticos e piadas homofóbicas não têm mais espaço dentro dos estádios, e não só porque a torcida está presente, “mas também por entenderem que é um espaço de todos.” 

O Vasco da Gama é um exemplo desse apoio. O time lançou um uniforme em homenagem ao movimento LGBTQIAP + e pediu por mais respeito e diversidade no esporte brasileiro em carta contra a homofobia e transfobia. “Depois disso passamos a ver mais torcedores cobrando posicionamento dos seus times e vimos a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ser pressionada por mudanças e mais ações de combatividade nesse sentido”, disse Beatriz França, uma das fundadoras da Vasco LGBTQIAP +. Para o coletivo, Beatriz afirma que a importância vai além do lançamento, já que foram questionados e consultados durante todo o processo de criação e campanha de divulgação da camisa. “Ficamos orgulhosos de saber que a nossa luta se tornou a luta do Vasco”, completou a administradora.

Em contrapartida, ainda existem times que não contribuem com a luta. “Temos apoio de várias torcidas do Ceará e de outros times, mas não temos apoio oficial do clube”, disse Ana Beatriz Monteiro, administradora das redes sociais e cofundadora da Vozão Pride, torcida do Ceará Sporting Clube. “Recebemos vários comentários negativos da torcida e faltou apoio do clube”, complementa Ana.

O PorcoÍris, torcida LGBTQIAP + do Palmeiras, também sofre com a falta de apoio do clube. Carlos, que não quis ter seu sobrenome divulgado, membro responsável pelas redes sociais da torcida, disse: “temos um apoio relativamente grande de torcedores e de outros coletivos, mas com a diretoria nós não temos nenhum vínculo, por serem conservadores e reacionários, ainda mais após as eleições de 2018”, em razão dos posicionamentos do atual presidente, Jair Bolsonaro, torcedor do Palmeiras, que possui um discurso homofóbico. 

Mesmo com diferentes experiências, entrevistas mostram que a conexão é comum em grande parte dessa comunidade.
por
Lorrane de Santana Cruz
Marina Gonçalez de Figueiredo
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01/09/2022 - 12h

Pessoas trans que se identificam fora do espectro binário relatam como sua atração por todos os gêneros foi importante durante seu processo de descoberta da não-binariedade. Em entrevista para a Agência de Notícias Maurício Tragtenberg, a Agemt, três pessoas desse grupo contam sobre suas vivências. 

A. T., de 21 anos, foi designado para o gênero feminino quando nasceu, e sempre teve problemas para expressar feminilidade: “Sempre acharam que eu era lésbica, e como isso nunca me incomodou, eu achei que era mesmo”. Foi só quando descobriu que não era uma mulher que T. desatrelou sua sexualidade da forma como se portava, e começou a reparar na sua atração por pessoas do gênero masculino.

Já E. F., também de 21 anos, já se identificava como bissexual antes de se assumir pessoa não-binária. A reflexão em relação ao seu gênero só começou anos depois de se assumir bissexual, e, segundo ela, sua experiência prévia em relação à sexualidade lhe proporcionou um olhar mais atento às identidades de gênero que fogem do apenas masculino ou feminino. 

Por fim, M. L., de mesma idade, disse que sua percepção de gênero não mudou por quem ela se sentia atraída, mas sim como essa atração funcionava. Por mais que M. L. se sinta mais próxima do feminino do que do masculino, ela se considera uma pessoa não-binária, o que fez com que ela se sentisse mais confortável com a pansexualidade, e não com a bissexualidade, como antes pensava. 

Dados mostram como a população LGBTQIA + em geral representa uma parcela significativa da população. Em 2019, o IBGE divulgou que 1,1 milhão de pessoas, cerca de 0,7% da população, se afirmaram bissexuais. A FMB (Faculdade de Medicina Botucatu), divulgou um levantamento onde 2%, cerca de 3 milhões de da população adulta, são transgênero, binárias ou não.