Após dinâmica pedagógica, docente da rede municipal do Mato Grosso do Sul sofre ataques de grupos conservadores
por
Amanda Ródio Mores
|
11/03/2025 - 12h

 

Postagem publicada por Nikolas Ferreira em seu perfil do Instagram/REPRODUÇÃO: @nikolasferreiradm (Instagram)

Na terça-feira (25), a professora Emy Matheus dos Santos, de 25 anos, revelou que pediu licença da escola municipal onde atuava em Campo Grande (MS). 

Com graduação em dança e teatro, Emy se identifica como travesti e foi integrada à rede de educação municipal após aprovação em concurso público. Após dias de planejamento pedagógico, a coordenação da Escola Municipal Irmã Irma Zorzi propôs uma recepção dos professores aos alunos mais novos no primeiro dia de aula com uma dinâmica interativa, vestindo fantasias. A atividade teve o aval da Secretaria Municipal De Educação de Campo Grande. Em nota ao portal G1, a pasta afirma que “o uso de fantasias e caracterizações é um recurso pedagógico adotado por professores”. O propósito de divertir as crianças, mais tarde acabou se tornando um problema para Emy. Ela foi vestida de Barbie, com uma peruca rosa, saia e botas de cano alto. Em entrevista exclusiva para a AGEMT, Emy diz que “as crianças gostaram e se divertiram com a fantasia”. Por isso, na noite de segunda-feira (10), ela compartilhou um vídeo em sua rede social mostrando essa interação.

No dia seguinte, uma parte do vídeo foi editada para remover seu contexto pedagógico, e acabou viralizando em diversos grupos conservadores da cidade e até mesmo entre os pais dos alunos. A professora, que já vinha recebendo ataques, revelou em entrevista que a situação piorou na quarta-feira (12), após uma postagem do deputado federal Nikolas Ferreira do PL de Minas Gerais. Nikolas publicou em seu Instagram um story com um corte do vídeo de Emy, com as frases “Porque nunca em asilos? Ou para doentes? Ou sem teto? Porque é sempre pra crianças?”.

A publicação fez o caso sair de Campo Grande e se espalhar pelo Brasil todo. Veículos de mídia do país inteiro repercutiram o vídeo, sem explicação alguma do contexto pedagógico da dinâmica, da qual todos os professores participaram. Emy rapidamente virou alvo de ameaças. Parlamentares a atacaram nos plenários da Câmara Municipal, referindo-se a ela no masculino e falsamente a acusando de “violar a inocência infantil”.

Emy revelou que não pode mais sair de casa por segurança. Apesar dela ter registrado as ameaças na polícia e a Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande ter defendido o uso de fantasias como recurso pedagógico, a narrativa transfóbica rapidamente ganhou força e sobressaiu-se, reforçando a vulnerabilidade de pessoas transgênero nos espaços de trabalho.

Ela também conta que já sofreu outros casos de transfobia no âmbito escolar. A professora comenta que no ano passado, foi perseguida por uma professora religiosa, que desrespeitava seus pronomes em sala de aula e proferia “palavras de Deus” contra ela. Emy também diz que coordenadoras da escola constantemente se referiam a ela no masculino. 

Nikolas Ferreira (PL-MG), apontado por Emy como o causador do estopim para a maior parte dos ataques transfóbicos, já tem um histórico de divulgação e exposição de pessoas trans a ataques de ódio e violência. O deputado é réu em processo por exposição de uma adolescente trans nas redes sociais. Nikolas também já foi alvo de uma representação no conselho de ética por uma fala transfóbica no plenário, além de ter sido processado pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) pelo mesmo motivo.
 

 

 

 

Participante do BBB23, Fred Nicácio, reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos, apesar de usar categorias, ela expressa inclusão e visibilidade
por
Rainha Matos
|
28/06/2024 - 12h

A expansão da sigla no movimento LGBTQIA+ pode até causar confusão, mas não para Fred Nicácio, médico brasileiro reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos. Ele defende que, "embora o ideal fosse não categorizar, a nomenclatura atual é crucial para inclusão e visibilidade". Fred enfatiza que esse reconhecimento não deveria ser necessário no futuro, quando esperamos que todos sejam vistos simplesmente como pessoas.

Ele apontou avanços na representação LGBTQIA+ na mídia, mas também criticou "o persistente tabu que limita a aceitação de atores LGBT em papéis principais, por medo de repercussões na carreira". Ele sublinha a importância de valorizar o talento e personalidade das pessoas, independentemente de sua orientação sexual.

Nem tudo é otimismo. Fred Nicácio destacou a gravidade dos índices de LGBTfobia e mencionou sua própria experiência com testemunhos de violência. Ele ressalta a necessidade de políticas públicas e leis rigorosas para proteger a comunidade e reduzir esses crimes.

Como figura pública, o médico precisa lidar com críticas, e por isso adotou uma postura de positividade, aceitando críticas construtivas apenas daqueles que têm algo construtivo a oferecer. Ele enfatizou a importância de uma crítica fundamentada em realizações pessoais e ignorou críticas vazias e infundadas.

Além de sua atuação na saúde e na visibilidade LGBTQIA+, Fred ganhou destaque nacional ao participar do reality show "Big Brother Brasil 23" (BBB23), ampliando sua plataforma para discutir questões de grande relevância social. Sua voz continua sendo uma importante influência tanto na esfera pública quanto nas redes sociais, onde ele continua a promover o debate e a conscientização sobre direitos e igualdade.

A omissão da representatividade de sáfica nas grandes mídias perpetua um vazio cultural que exclui e invisibiliza milhões de experiências autênticas.
por
Emily de Matos
|
21/06/2024 - 12h

Em um cenário midiático predominantemente heteronormativo, vozes como a de Elizabeth Matos, de 19 anos, estudante e mulher bissexual, ressoam com uma perspectiva vital: a necessidade da representatividade sáfica fiel e positiva. "A caixa onde a indústria prende elas é bastante cruel, já que muitas são usadas para material fetichista ou apenas jogadas de escanteio em filmes e séries onde estão atuando, não tendo espaço para brilharem e se destacarem como alguma atriz heterossexual, por exemplo" afirma a jovem.

Nos últimos anos, o termo “Bury Your Gays” (Enterre seus gays) emergiu como um símbolo da escassa e muitas vezes prejudicial representação da comunidade LGBT+ na cultura pop. Esta trope, originada na televisão, descreve a tendência de narrativas que retratam personagens gays apenas para dá-los um destino trágico. Esta prática não apenas nega à comunidade de ter oportunidade de ver suas experiências representadas com precisão, mas também perpetua estereótipos e marginalização.  

Essas representações problemáticas não passam despercebidas pela comunidade LGBTQ+, que muitas vezes se manifesta por meio de protestos online e campanhas de conscientização. Um exemplo notável foi a reação dos fãs à morte de Lexa em "The 100". Após a exibição do episódio em que a personagem foi morta repentinamente, os fãs expressaram indignação e desapontamento nas redes sociais, destacando não apenas a falta de representatividade lésbica nas mídias, mas também a maneira como personagens LGBTQ+ são frequentemente tratados de forma descuidada e desrespeitosa. 

 

 Reprodução: Lexa (Alycia Debnam-Carey) em ‘The 100’. 
 Reprodução: Lexa (Alycia Debnam-Carey) em ‘The 100’. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um exemplo claro desse descuido é a obra cinematográfica “Azul é a Cor Mais Quente”, dirigida por Abdellatif Kechiche, que foi marcada não apenas por seu impacto no cinema, mas também por relatos de condições difíceis no set de filmagem. Em uma entrevista ao jornal The Guardian em 2013, a atriz Léa Seydoux, que interpretou uma das protagonistas, relatou a experiência como 'extremamente difícil' e mencionou a exaustão física e emocional enfrentada durante as gravações. Seydoux também destacou a intensidade das cenas de sexo, descrevendo-as como “ultrajantes” e afirmando que se sentiu “um pouco como uma prostituta” durante as filmagens. Esses relatos lançaram luz sobre as condições muitas vezes desumanas enfrentadas por atrizes em produções que exploram temas sensíveis, como a sexualidade feminina, questionando não apenas a ética por trás das representações, mas também as práticas dentro da indústria cinematográfica. 

 Reprodução: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ‘Azul é a cor mais quente’. 
 Reprodução: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ‘Azul é a cor mais quente’. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao retratar personagens LGBTQIA+, a sensibilidade e o cuidado são essenciais. Como afirmado por Elizabeth “Leitura sensível, uma sala de roteiro deveria ter pessoas especializadas para atender qualquer demanda de personagens que não estão dentro do conhecimento total de quem trabalha na obra. Apenas quem vive na pele sabe o que realmente é necessário e o que passa longe de uma representatividade válida”. 

Movimento em apoio à comunidade LGBTQIAP+ coleciona conquistas pela diversidade na PUC-SP
por
Ana Julia Mira
Maria Eduarda Cepeda
|
20/06/2024 - 12h

O coletivo Glamour celebra 10 anos de história na PUC-SP com uma trajetória de lutas, marcada pela criação da Biblioteca LGBTQIAP+ e a retificação dos nomes de alunas e alunos nas plataformas digitais da universidade.

O Glamour  se consolidou como um espaço seguro e de acolhimento para os alunos na universidade, como uma rede de apoio aos estudantes, além do intuito fortalecer uma resistência contra as violências físicas, psicológicas nos ambientes de convivência fora e dentro do campus.  

Bandeira com as cores LGBTQIAPN+ com um triângulo invertido composto pelas cores da bandeira trans
Design utilizado pelo coletivo de 2014 a 2017 . Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour PUC-SP

A abordagem desses temas são  necessárias no ambiente universitário, a acolhida de alunos LGBTQIA + nas universidades é crucial para criar um ambiente acadêmico inclusivo.

Conquistaram espaços e direitos para as pessoas da comunidade. Mesmo durante a pandemia, o coletivo reivindicava causas de suma importância, como a retificação do nome social nas plataformas de ensino digitais. 

Na época, mesmo os estudantes transexuais que já haviam retificado seus nomes na Secretaria da universidade, tiveram seus nomes civis expostos no novo modelo de ensino que estava sendo aplicado. 

Foi, então, realizado um ofício com a colaboração do Centro Acadêmico 22 de Agosto (do curso de Direito) solicitando tal mudança em prol do respeito para com as pessoas afetadas. 

Ofício realizado para retificação do nome de pessoas trans e travestis nas plataformas digitais da universidade
Ofício realizado pela retificação dos nomes de alunos transexuais e travestis nas plataformas virtuais. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Em 2017, o grupo passou por mudanças adotando o nome Glamour. O nome foi escolhido em homenagem a uma das primeiras alunas assumidamente transsexual a  estudar na PUC-SP no curso de Artes do Corpo em 2013,  a atriz Glamour Garcia. 

Pelas redes sociais, o coletivo promove integrações entre os estudantes por meio de eventos e reuniões, sempre tendo como foco a representatividade daqueles que estão inseridos na comunidade e dando voz às suas experiências.

Design de convite para palestra "Transvivências: a relação das identidades de gênero no meio social". Na parte de baixo do design estão os 4 palestrantes que participaram do evento.
Evento promovido pelo coletivo em 2023. Reprodução: Instagram / @glamourpuc

 

Alinhados com as causas sociais, se mostrou ativo em questões sobre diversidade de gênero e orientação sexual, trazendo visibilidade e empoderamento, criando um ambiente amplo e disposto à troca de ideias e vivências com incentivo de debates, levando essas conversas para além da PUC-SP.  

Quadrado rosa com círculo branco no meio e um trângulo invertido rosa centralizado.
Design do coletivo desde 2017. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Acompanhando o posicionamento firme da comunidade participante do Glamour junto ao “Núcleo Diversas T”, foi realizada a 1ª “Pesquisa Oficial sobre a situação des alunes LGBTQIAPN+ da PUC-SP” em outubro de 2023. O núcleo, por sua vez, é formado por pessoas transsexuais. 

A iniciativa tinha por objetivo de identificar os desafios enfrentados dentro do ambiente acadêmico, visto que são alvo de preconceitos e violências, havendo denúncias de situações assim expostas nas redes sociais do Coletivo Glamour.

Em 2019, uma delas foi feita em uma publicação de sua página no Facebook. Denunciava falas transfóbicas de um professor de Direito Penal em sala de aula, levando à público o caso e manifestando-se contra o docente, organizando protestos silenciosos.

Sala de aula com cartazes em oposição às falas do professor
Imagem do protesto silencioso contra falas transfóbicas de professor. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Por trazer à tona situações de transfobia e homofobia sofridas por pessoas na PUC-SP, atacadas por docentes e estudantes, o Coletivo possui papel ativo no combate ao preconceito na Universidade.

Sobre a razão de sua existência, em publicação no afirma: “Infelizmente, nos tempos atuais, ainda existe uma forte violência contra a comunidade LGBTQIA+, que é, muitas vezes, submetida a agressões, hostilização, crimes de ódio, além da exclusão e precarização do local de trabalho”.

Com uma longa história de luta pelos seus direitos, o Coletivo Glamour conquistou espaço na Instituição, inclusive nas bibliotecas, ao reivindicarem e serem atendidos com a inauguração do acervo bibliográfico de temáticas e autorias LGBTQIAP+, no início deste ano. O acervo conta com mais de 64 títulos, trazendo autoria de pessoas da comunidade, aprovados pelo CONSAD. 

Após o acontecimento em fevereiro, não houveram mais atualizações nas redes sociais e o Coletivo passa por uma aparente pausa em suas atividades. Nós procuramos entrar em contato com os participantes, mas não obtivemos resposta.

“Consegui colocar um vestido e estar lá com a roupa que sempre quis”, explica Moon, estudante que foge do gênero convencional
por
Clara Dell'Armelina
|
15/06/2024 - 12h

 

(Fonte:Louise Zin, Dicas de Mulher)

“Me identifico tanto com pronomes femininos quanto masculinos.”, diz Moon, uma pessoa de gênero fluido e bissexual. A fluidez de gênero vem se tornando cada vez mais visível ao passar dos anos, mas muitos ainda não sabem o que esse termo significa, acabam confundindo com sexualidade, “gênero fluido se trata sobre como você se identifica na questão física, seu corpo e sua aparência, já a orientação sexual é sobre o que você sente atração, não só ao se tratar de genitália, como todos tendem a associar, mas também pelo que a pessoa é, seja homem, mulher, neutro e por aí vai.”.

Moon, estudante de Arquitetura e Urbanismo da UNISAL(Universidade Saleniana) no interior de São Paulo, Americana, relata que percebeu sua fluidez de gênero durante o ensino médio, lá pelo ano de 2019. Mas a primeira vez em que se sentiu à vontade e vestiu-se com roupas entendidas como “femininas” foi na Faculdade, em 2023: “Consegui colocar um vestido e estar lá com a roupa que sempre quis. Foi muito bom para mim pois vi que minhas amizades estavam lá para me apoiar e que posso ser quem eu sou, sem medo, todos foram muito receptivos, até desconhecidos.” Ela defende que a questão da roupa é importante pois “assim podemos passar a imagem que queremos para que saibam como nos tratar.”

Diante da compostura daqueles que Moon já conhecia, conta que sua família apenas “finge que não vê, mas me tratam da mesma maneira que me trataram a vida toda, só que não me importo porque são pessoas antigas, não vão mudar de forma repentina”. As pessoas da igreja evangélica que até pouco atrás frequentava a trataram com respeito, a aceitavam e amavam muito, “lá as pessoas conheciam bem o que pregavam, diferente de muitos evangélicos por aí que se dizem cristãos, então sabem que Deus julga o bem e o mal, não quem somos fisicamente ou quem amamos.”.

Moom conta com entusiasmo que “Pose” é uma série que sempre estará em seu coração “pelo tanto de representatividade que tem.” “A série acaba de modo tão realista e verdadeiro que é algo que mexeu comigo.” Já como inspiração no meio das redes sociais, Moon tem Bella Rose Avila, uma blogueira e modelo que também se identifica como sendo alguém de gênero fluido. Mas Bella não é a única, há muitas figuras famosas como Miley Cyrus, Cara Delevingne, Ruby Rose e mais tantas outras.

O termo “gênero-fluido” começou a ser discutido mais amplamente na década de 90, ele vem contemplado na letra “Q”, de Queer, na sigla LGBTQIAP+, sendo um conceito que engloba todas as sexualidades e identidades de gênero fora do padrão imposto socialmente. Enquanto que cisgênero é aquela pessoa que se identifica com o sexo – feminino ou masculino – que lhe foi designado ao nascer.

Quando se convive com alguém de gênero fluido, é importante perguntar à pessoa quais são seus pronomes de preferência, Moon, por exemplo, mesmo se identificando com os femininos e masculinos, tem sua preferência pelos primeiros, “sempre me apresento com eles e como Moon, pois é como eu prefiro!”. Além disso, a "fluidez" refere-se à mudança em relação à sua própria identidade de gênero ao longo do tempo, assim sendo, com o passar do tempo, a própria identidade de alguém flúido pode alternar.

Muitos se enganam ao pensar que a fluidez de gênero é sempre binária – apenas se reduzindo aos gêneros masculino e feminino – ela pode acontecer também entre gêneros não-binários, quando a pessoa não se identifica com gênero nenhum.

(Bella Rose Avila- Fonte: Shutterstock)
(Bella Rose Avila- Fonte: Shutterstock)
(Fonte: Rubyrose/instagram)
(Fonte: Rubyrose/instagram)
(Fonte: Xavier Collin/Image Press Agency)
(Fonte: Xavier Collin/Image Press Agency)

Para Silvia Henz, em seu ”perfil LGBTQIAPN+ o L não é de linda, faz parte da minha identidade e faz parte do meu orgulho de resistência”
por
Livia Vilela
Giulia Dadamo
|
28/08/2023 - 12h

Silvia Henz, jornalista e influenciadora que fala de moda sustentável nas redes sociais, foi vítima de uma chuva de comentários lesbofóbicos depois de postar foto de ano novo beijando a esposa. 

A influenciadora acumulou mais de 300 mil seguidores no Instagram e no TikTok dando dicas de styling, moda consciente e atemporal para mulheres. Apesar de nunca ter escondido sua orientação sexual ou seu relacionamento de seis anos com a jornalista Nadia Bochi, em janeiro de 2023, foi surpreendida com o que chamou de “limpa de homofóbicos”, perdendo mais de 30 mil seguidores e recebendo uma onda de comentários preconceituosos a respeito do seu casamento. 

“Sempre que eu posto foto com a minha esposa eu sou ‘punida’ por isso em forma de perda de seguidores, mas dessa vez foi diferente. Eu achei que a minha orientação sexual estivesse clara, já que a Nadia sempre aparece nos meus stories, e postei uma foto no primeiro dia do ano. Eu não achei que fosse ter uma debandada tão grande”, afirmou em entrevista para a revista IstoÉ .“Eu demorei muito para chegar onde eu cheguei e parece que toda vez que eu bato um número grande de seguidores, eu sou cancelada por causa da minha orientação sexual. Será que 130 mil seguidores é o máximo que uma lésbica pode chegar?”, continuou. 

A reação de Silvia foi imediata: deletou as mensagens homofóbicas da sua postagem e bloqueou os usuários que realizavam os ataques. Além disso, fixou postagens com a esposa, incluindo uma foto posando com a bandeira LGBTQIAP+, para deixar claro este aspecto da sua vida pessoal e evitar outros possíveis ataques.

Silvia levantando uma bandeira LGBT
Silvia Henz em postagem do Instagram

Para o casal o mais inesperado foi a reação das seguidoras mulheres, com total falta de sororiedade.  “Ela é criadora de conteúdo e ajuda milhares de mulheres a aprender a se vestir, nunca imaginou que as próprias mulheres que a seguem pudessem ter uma reação homofóbica a um simples beijo.”, afirmou Nadia, que já foi repórter do programa Mais Você, da Rede Globo. 

Além disso, Silvia comentou sobre a dificuldade de garantir espaço de mulheres lésbicas no seu eixo. “Não tem grandes lésbicas da moda. Moda é minha área e eu não cresci vendo exemplos de sucesso. Sou a primeira influencer lésbica da [empresa] FHits e várias vezes sou a primeira lésbica dos espaços.” 

O diretor artístico de eventos e produtor, Ivan Oliveira, afirma em entrevista para a AGEMT, porém, que não vê tanta limitação, já que cada vez mais estão presentes todas as variáveis da representatividade LGBT.  

Como um homem gay, ele reconhece que a homofobia ainda é presente no dia a dia da população, visto que, o Brasil - pais de terceiro mundo, latino e patriarcal - possui padrões e paradigmas difíceis de quebrar. “Mas eu vejo cada vez mais a participação de pessoas da comunidade trabalhando em editoriais. As marcas têm tido políticas de inclusão e há uma aceitação muito maior do que antigamente.” 

Após trabalhar por quase 10 anos fazendo desfiles de moda para grandes marcas, incluindo a L´Oréal, percebeu que no caso de influencers, abre-se uma comporta para ‘haters’. “No meio digital existem pessoas que se escondem para comentar atrocidades anonimamente, muitas vezes a fim de conseguir visibilidade.”

“A violência existe, mas como uma consequência da educação do nosso país. Estamos longe de acabar com a homofobia, mas é um trabalho que precisa ser feito arduamente. Ninguém escolhe ser LGBTQIAP+, elas nascem desta forma. Elas são o que são.” 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo

Surgindo para a diversão da elite, o futebol faz do preconceito uma de suas trágicas consequências
por
Vinícus Evangelista
Leonardo Gomes
|
28/08/2023 - 12h

Foram 74 casos de LGBTfobia registrados no futebol brasileiro apenas no ano de 2022, um aumento de 76% em relação aos anos anteriores. Esse foi o dado levantado em relatório feito pelo coletivo de torcidas Canarinhos LGBTQ+, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF): “O trabalho mostra uma triste realidade, que estamos lutando para acabar no futebol. A CBF vai sempre combater os preconceitos e trabalhar para que o futebol seja um lugar de inclusão, afirmou Ednaldo Rodrigues, Presidente da CBF, que é o primeiro negro e nordestino a comandar a entidade. 

 
Apesar da luta travada, a discriminação por orientação sexual no futebol é algo visto na prática a anos, com casos vindo à tona em todo momento. Os mais memoráveis têm a torcida do São Paulo como alvo, sendo, de forma pejorativa, estereotipada com características referentes a pessoas LGBT’s. A situação mais recente aconteceu em maio desse ano, quando em um clássico contra o Corinthians, na casa do rival, ouvia-se o canto: “Vamos, vamos Corinthians, dessas bichas teremos que ganhar”.  
 
Não foi a primeira vez que se foi usado de homofobia para provocar torcedores são paulinos. O hábito ganhou força em 2003, quando o então jogador do Corinthians, Vampeta, falou em entrevista coletiva como é o clima as vésperas de um clássico contra o rival: “semana de clássico não tenho nenhum amigo são paulino, tudo inimigo. Eles do lado de lá defendendo os ‘bambis’, e eu do lado de cá”, afirmou o ex-jogador. 
 
Recém completados 83 anos de história, Bambi é considerada uma das animações mais clássicas da história da Disney, contando a história de um pequeno filhote de cervo que tem características consideradas “feminizadas. Porém, aquilo que era para ser apenas o nome de um protagonista animal em uma fábula infantil, no futebol se tornou adjetivo para inferiorizar seres humanos a partir de sua sexualidade. 

 
PRECONCEITO CULTURAL E LEGITIMADO 
 

 

Foto: Felipe Siqueira / ge 

 

Segundo artigo publicado por Otávio Nogueira Balzano e João Alberto Steffen Munsberg no Portal da Câmara dos Deputados, o futebol tem, em sua estrutura, marcas de uma sociedade patriarcal ao surgir como esporte para a diversão da elite e ser costurado em torno da hegemonia masculina. Com isso, se tornou natural que os estádios fossem espaços para que a masculinidade fosse exaltada, e assim, ser comum ouvir das arquibancadas manifestações de caráter preconceituoso, mascarando-as como simples forma de “provocação” a torcedores rivais. 

 

Tal prática foi tão legitimada, inclusive por órgãos públicos, que foi apenas em 2019 que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) passou a recomendar que os árbitros relatassem em súmula e documentos oficiais casos de LGBTfobia que acontecessem durante as partidas. Não demorou muito para que, em uma partida entre Vasco e São Paulo, o árbitro Anderson Daronco tivesse que paralisar a partida após um cântico uníssono ecoar nas arquibancadas do Estádio São Januário: Veado... Time de veado!”. 

 

“24 AQUI NÃO!” 
 
 

Foto: LUIS ROBAYO / AFP via Getty Images 

 

Outra polêmica institucional relacionada da LGBTfobia no futebol envolve o número 24 que, no Brasil, é associado a homossexualidade devido à forte influência do jogo do bicho, onde tal simboliza o animal veado. Nas camisas, foi só na Copa do Mundo de 2022 que o número foi utilizado oficialmente pela seleção brasileira masculina quando, na ocasião, o zagueiro Bremer o vestiu pela primeira vez. 

 

O tabu existente no Brasil acerca do número bateu na porta do volante colombiano Victor Cantillo. O atleta que sempre usou a camisa 24 por todos os clubes que passou em seu país, foi anunciado com a “8” ao ser contratado pelo Corinthians em 2020. Durante sua apresentação, o diretor do clube ao seu lado, hoje presidente, Duílio Monteiro Alves, explicou em tom de piada o porquê da camisa: “24 aqui não!, comentou o dirigente. 

 

Após a repercussão negativa da fala, Duílio se desculpou, explicando que o motivo do Cantillo usar a “8” é por ter sido usada pelo histórico, também volante colombiano com passagem pela equipe, Freddy Rincón, e que não tem nenhum problema com o número 24. O Corinthians é o time do povo, time das minorias, time de todos, que sempre usa sua marca a favor de campanhas contra qualquer tipo de preconceito, explica Duílio.  

Alguns dias após a polêmica, a camisa 24 foi cedida para o jogador, que ainda atua no clube usando a numeração. 
 
 
A RESISTÊNCIA 

 

Foto: Reprodução / Facebook / Bambi Tricolor 

 

Após a fundação da “Canarinhos LGBTQ+”, novos coletivos foram formados, somando um total de 16 grupos de torcidas LGBTQIA+ representando diferentes clubes pelo país, aliando forças e resistindo ao preconceito estruturado ao longo dos séculos pela cultura elitista do esporte, que até hoje deixa suas marcas por todo o país. “As torcidas LGBT’s são muito importantes porque pressionam os clubes a adotar práticas mais efetivas em relação ao assunto. Elas são as grandes responsáveis pelo fato dos times terem aberto os olhos para a homofobia”, comenta o jornalista João Abel, em seu livro denominado “Bicha! Homofobia estrutural no futebol”. 

"É involuntário, só me sinto uma pessoa diferente”, diz PC, 24 anos, estudante de design de games, que se assumiu aos 18 anos.
por
Mohara Ogando cherubin Cherubin
Julia Berkovitz
|
28/08/2023 - 12h

Paula Rodrigues, que adotou o nome social “PC”, se descobriu gênero-fluido há 6 anos e detalhou em entrevista para o jornal Agemt como se expressa na sociedade atual e quais são os desafios enfrentados pelo desconhecimento dessa identidade de gênero.

Segundo o jornal Queer, o  termo “genderfluid” surgiu oficialmente na década de 1990. “A pessoa flui entre os gêneros, ela pode se identificar como homem, mulher, neutra, sem um período de tempo definido, podendo se entender como mulher por anos e depois se reconhecer como um homem por um dia, tendo diversas variáveis”.

Representação - Bandeira gênero-fluido

Reprodução - Bandeira gênero-fluido

A bandeira gênero-fluido foi criada somente em 2012, por JJ Poole, 22 anos após o surgimento do termo. Cada cor da bandeira tem um significado que rege em torno da fluidez de gênero. A cor rosa simboliza a feminilidade, a branca representa a ausência de gênero, a roxa é a combinação entre masculinidade e feminilidade, a preta mistura todos os gêneros e o azul representa a masculinidade. 

Nesse sentido, PC afirma que em alguns dias se expressa de forma feminina e delicada, usando vestidos e maquiagens e em outros momentos utiliza bermudas e roupas mais largas masculinas, estando “dentro de várias caixinhas e não de uma só”. No entanto, sua fluidez não se limita às vestimentas, já que quando está mais masculino percebe que anda de uma forma mais bruta e inconscientemente se inclina para frente como se fosse camuflar os seios. 

Segundo PC pessoas gênero-fluido transicionam infinitamente, "é como se envolvesse mais que dois gêneros, tem dias até que sou uma mistura deles, e o conceito de ser mulher e homem vai muito além dessas duas definições, você pode ser um homem com jeitos “femininos” e isso não te torna menos homem."

Qual a diferença entre gênero-fluido e não binário?

Pessoas não binárias são aquelas que não se limitam aos gêneros masculino e feminino, se identificando com a ausência de gênero, diferente de pessoas gênero-fluido que transitam na fluidez entre o feminino, o masculino e as demais identidades de gênero. 

Reprodução - Símbolo gênero-fluido

Reprodução - Símbolo gênero-fluido

“Tem dias que sou ele/dele, outros ela/dela e sempre digo para as pessoas com qual deles estou me identificando. Tem dias que é difícil explicar quem eu sou, na linguagem binária, e por conta disso acho importante a existência de pronome neutro para nós”, afirma PC. O devido uso dos pronomes de uma pessoa gênero-fluido demonstra respeito e acolhimento em relação à sua identidade.

Todavia, a família de PC insiste em adotar somente o pronome feminino e “tentam ignorar o fato que sou gênero-fluido, fingem que é apenas uma fase”, revela. Já a relação com os amigos é de compreensão, desde o momento em que assumiu, em 2017.

Lidar com aqueles que não entendem a sua identidade de gênero é algo vivenciado corriqueiramente, ser taxado como pessoa indecisa e que “quer ser tudo ao mesmo tempo”. Ao sair com vestimentas masculinas em um dia em que está se identificando com o gênero masculino, PC tem o costume de ouvir perguntas como: “mas então agora você virou homem?”, passando pelo constrangimento de ter que explicar a sua identidade de gênero constantemente, como se esta fosse a função das pessoas fluídas ou algo do tipo.

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo

A psicóloga Ilda Aparecida (54) enumera casos de violência e transfobia com crianças e adolescentes na periferia da Zona Leste
por
Julia Barbosa
João Pedro Lopes
|
14/09/2023 - 12h

“E quando a família diz que não tem preconceito é por que abreviam o nome de registro dela”, conta a psicóloga sobre a vivência familiar de uma das crianças que atendeu no Centro de Defesa da Criança e do Adolescentes de Sapopemba. A garota de 15 anos, que veio ao consultório de Ilda após passar por outras 11 unidades do Saica, Serviço de acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes, sofria exploração sexual e se encontra desaparecida após repressão da avó e do serviço de acolhimento. 

Ao conceder a entrevista, Ilda optou por zelar pela privacidade das crianças, não revelando seus nomes. Disse ainda que as instituições não estão preparadas para lidar com pessoas trans, e havia casos de transfobia vinda dos funcionários e acolhedores. “Existem várias situações de violação de direitos e discriminação. Alguns funcionários chamavam ela de ele e se recusavam a usar o nome social quando se referindo a garota.” 

A psicóloga diz que a menina descobriu pontos de prostituição no bairro mas tinha dificuldade em perceber que estava sendo explorada. “Ela não consegue pegar dinheiro nenhum, o que ela consegue são só algumas trocas”. Após sua saída no Saica, ela retornou a casa da avó que cuidou dela na ausência dos pais, mas não ficou por muito tempo, fugindo de casa em poucas semanas, estando desaparecida desde o dia 12 de agosto. 

Em outro caso na mesma unidade, Ilda traz relatos de uma menina ainda mais nova. “Quando ela chegou aos 10 anos pra gente no CEDECA, falava que era uma menina mas não tinha certeza e nesse período de um ano e pouco ela amadureceu. Tanto que recentemente ela chegou pra nós e pediu que usássemos o nome social nos nossos documentos, isso a gente fez e pediu também pros outros serviços (Saica).”  

Assim como a menina anterior, a sua família também não aceitou sua transição, morando na rua por alguns meses e sofrendo abusos. Ao voltar para casa ficou aos cuidados da avó, que decidiu cuidar da neta depois de ser deserdada pela mãe e a ausência recente do pai. “Ela é alguém que está aflorando agora, mas também já está vivenciando a transfobia em vários espaços, até dentro da escola. Mas está se fortalecendo.”  

No Serviço de acolhimento os adolescentes ao completarem a maioridade são transferidos para uma república jovem e auxiliados pelo CEDECA na procura de um emprego. Em mais um dos casos que atendeu, Ilda fala de um garoto trans: “Ele já está próximo de atingir os 18 anos, tem uma baixa escolaridade, no abrigo não encontraram um serviço pra ele, tem essa questão da morte da mãe que ele nunca conseguiu viver o luto e a péssima relação com as irmãs. É alguém que está lutando para sobreviver.”  

O jovem não consegue encontrar um lar após conflitos também com a família, tendo se mudado para Goiás com a irmã mais velha, porém voltou para São Paulo após sofrer agressões dentro de casa. “A gente tá ajudando ele a se fortalecer, eu vejo ele muito perdido. Perto de jovens da mesma idade eu sinto que ainda falta um pouco dessa malícia.”

Presidente do T Mosqueteiros, Tatto Oliveira, defende inclusão no esporte para a população LGBTQIA+
por
Ana Julia Bertolaccini
Maria Luisa Lisboa Alves
|
24/08/2023 - 12h

“As pessoas começam a olhar e falar caramba são homens trans, mas qual é a diferença?” afirma Tatto Oliveira, presidente e cofundador do projeto T Mosqueteiros em entrevista para a Agemt, feita de forma remota. O time de futebol e basquete de São Paulo é composto por homens trans, e foi formado em 2019. A visibilidade que o projeto vem ganhando desencadeia um empoderamento da comunidade LGBTQIA+ nos esportes, uma verdadeira “ferramenta de transformação”. No Brasil existem ligas de futebol voltadas para esse grupo, e os T Mosqueteiros servem de inspiração para a criação de novos times por todo o país.

“O que a gente tem feito hoje é algo que vai transformar o futuro, onde as pessoas não vão precisar de um time trans, elas vão poder estar na quadra sendo uma pessoa trans.”

 

Imagem do time T Mosqueteiros
(time de futebol T Mosqueteiros posando para a foto//imagem/idivulgação: instagram: @sctmosqueteirosoficiall) 

 

Os jogadores dos T Mosqueteiros chegam de diferentes realidades em busca de proteção e segurança para jogar. “O mais novo do time tem só 20 anos, e o mais velho 50”. “Tem pessoas que vêm de longe, quase 2 horas de viagem.” Além do futsal e do society, o basquete (modalidade nova na equipe), já conta com 10 jogadores e 24 pessoas interessadas. O presidente ainda reforça a necessidade de serem reconhecidos não só pela sociedade, como pelas federações de esportes.

Com o alcance que a equipe vem ganhando, os T Mosqueteiros  trazem informação a toda população. Tatto conta que os jogadores treinam basquete em uma quadra aberta no SESC, e jogam com homens cisgênero, o que aos poucos vai quebrando o preconceito de outras camadas da população através do conhecimento e da experiência. Outro destaque do time foi a entrevista concedida ao Globo Esporte que, como ressalta o presidente, foi muito importante para que homens trans se identificassem e conhecessem o projeto.

A Equipe é campeã de torneios importantes como a Taça da Diversidade (2022/2023) e conta com o apoio social do Núcleo de Resistência, “um coletivo pequeno, mas que tem um trabalho muito grandioso.

O Núcleo de Resistência:

“Usar da nossa voz, usar do nosso espaço, para falar das nossas necessidades.” Tatto conta que o Núcleo surgiu através de rodas de conversa em 2018, quando ele e outras pessoas viam a necessidade de ter um espaço para homens trans poderem dialogar e na época, fez uma reunião aberta com coordenadores da saúde e assistentes sociais.

As rodas de conversa acontecem através do projeto “Homens Trans em Diálogo” e nelas são tratados diversos assuntos que não estão sempre diretamente relacionados à transição em si. No último encontro, por exemplo, o tema desenvolvido foi a amizade.

O núcleo é um braço para o esporte. Muitos homens conheceram o time através do coletivo. Além disso, o grupo também faz doações de cestas básicas e roupas, que mesmo com a pandemia de Covid-19, não pararam de serem realizadas. As rodas de conversa também continuaram, e passaram a acontecer no formato online durante esse período.

As redes sociais e os grupos de WhatsApp são usados para ajudar meninos em transição e levar informação a eles, com o apoio de profissionais da saúde, mostrando a importância do acompanhamento médico, que pode ser feito pelo SUS. Com a ajuda de patrocinadores, também são realizadas retificações de nome e gênero dos meninos (18 até agora).

Como surgiram os T Mosqueteiros:

Tatto, o Cofundador do time, tem 43 anos e sempre gostou muito de esporte e da vida saudável. Sua infância aconteceu entre os anos 80 e 90, na qual ainda não se entendia como um homem trans, mas já sofria preconceito quando participava de esportes coletivos.

Em 2019, depois de passar anos praticando exercício de forma individual, Tatto, que era servidor no centro de cidadania LGBT, sua esposa Geey, seu amigo Gabriel Cardoso e cerca de 30 pessoas montaram o time, que hoje tem uma comissão de funcionários exercendo diferentes papéis. Eles são encarregados por cuidar das redes sociais, do financeiro, das rodas de conversa e da agenda de eventos. A equipe precisa de patrocínio para que possa bancar o aluguel das quadras, a condução, o valor do lanche e o suporte profissional.

Em 2021, a Casa João Nery foi aberta para acolher homens trans em situação de vulnerabilidade, “comecei a perceber o quanto as nossas vozes como homens trans são potentes.” A necessidade de criar esse espaço foi discutida através do Núcleo. O nome da organização faz referência ao psicólogo e escritor João Nery (1950-2018), que foi um ativista trans e o primeiro do Brasil a fazer a redesignação de gênero em 1977.

Inclusão e Visibilidade:

Com o reconhecimento da equipe, muitas pessoas procuraram os jogadores para fazer parte e socializar, como o Gustavinho, garoto trans de 8 anos que jogou bola com o capitão do time na época, o Matheus. Outro caso foi o de um menino de 14 anos, que sua mãe levou para conhecer o time, e foi convidado a participar do amistoso. “É até emocionante falar”, conta Tatto quando lembra da mãe do menino arrumando o uniforme do time e falando como o garoto estava lindo.

Mulheres trans e cis já demonstraram interesse em fazer parte do time, que por enquanto oferece apenas jogos mistos para a inclusão desse grupo. Pensando nisso, a equipe tem interesse em desenvolver o “T Mosqueteiras”, para fazer com que essas mulheres possam “estar próximas umas das outras” e “para que consigam se empoderar dentro da quadra”.

Print da entrevista com o Presidente do T Mosqueteiros, Tatto Oliveira, e as alunas que o entrevistaram.
(Tatto em entrevista para a Agemt//imagem/divulgação: Agent Notícias) 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo