Neste último sábado (10), duas jovens foram agredidas verbalmente e uma delas teve até o seu cabelo queimado. Beatriz Sttefany Vilella e a Gabrielly Vitória trabalham como profissionais do sexo na Avenida Brasil, próximo a Bangu, no Rio de Janeiro. Enquanto as duas jovens esperavam pelos seus clientes, um carro se aproximou com quatro homens proferindo insultos e falas transfóbicas.
Nas redes sociais, viralizou um vídeo dos agressores. Um deles, que ainda estava dentro do veículo, usou um lança-chamas improvisado contra as duas mulheres, atingindo Beatriz. A gravação foi feita pelo motorista, e nela é possível ver os criminosos acelerando e rindo após o ataque.
Segundo apuração do G1, as vítimas relatam que os criminosos voltaram ao local do crime, no dia seguinte, para tentar suborná-las a não denunciarem, nem exporem o caso. Nesta segunda-feira, as mulheres abriram um boletim de ocorrência.
A polícia investiga o crime, que foi registrado como injúria por preconceito e tentativa de lesão corporal. O vídeo que circula na internet está sendo utilizado para ajudar na identificação dos criminosos. Beatriz também disse que, apesar de ter perdido suas tranças devido ao fogo, nem ela e nem a sua amiga se feriram gravemente. “A gente tem que fazer justiça, ainda mais nesse mundo LGBT", declara. "A gente sofre muito".
Os dados coletados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) para o Relatório Anual de 2022 mostram que o Brasil é, pelo 14° ano consecutivo, o país com maior número total de homicídios de pessoas trans. Segundo a última edição do dossiê, foram 131 vítimas no ano passado, sendo que a maioria tinha entre 18 e 29 anos.
Além das mortes, outra preocupação da comunidade trans é com a agressão sofrida diariamente por essa população. Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva mostra que este grupo sai menos de casa do que as pessoas cisgênero, pelo medo de sofrer alguma violência como a que ocorreu com Beatriz e Gabriella, em plena avenida. O estudo também indica que nove em cada dez pessoas trans temem sofrer algum tipo de agressão ou assédio em deslocamentos de tráfego urbano. Quatro em cada dez afirmam que já foram vítimas de transfobia só por andar pela cidade
Por que isso é um problema estrutural?
A violência mortal-intencional tem como maior alvo as mulheres trans. Segundo pesquisa já mencionada, 95% das mortes do grupo remetem à população feminina. Dos 131 assassinatos ocorridos no ano passado, só 1 era homem.
Segundo o dossiê de 2022 do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA+, 60,8% dos homicídios contra travestis e transexuais ocorreram em espaços públicos e cerca de 75% durante a noite. O público mais atingido por essas violências são profissionais do sexo.
Ainda segundo o documento, aproximadamente 90% das mulheres trans possuem como principal fonte de renda a prostituição e, por isso, estão mais suscetíveis às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST's). Essas vulnerabilidades ocasionam em uma expectativa de vida de apenas 35 anos para pessoas transexuais no país.
Somado a isso, os dados coletados durante uma análise feita pelo Antra, no qual foram levados em conta um período de seis anos (de 2017 a 2022), o Rio de Janeiro, onde ocorreu o crime, permaneceu entre os cinco estados que mais matam pessoas trans no país.
O que é um comportamento transfóbico?
Segundo o Antra, o comportamento transfóbico é qualquer atitude que tenha o objetivo de inferiorizar pessoas trans, podendo ou não incluir agressões físicas, verbais, patrimoniais e/ou psicológicas. Ou seja, quando a identidade de gênero é o fator que determina a violência.
O que as vítimas de transfobia podem fazer depois de sofrerem algum tipo de violência?
Em parceria com a Asssociação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), criou uma cartilha com indicações de medidas que podem ser tomadas.
Em primeiro lugar, eles orientam que a vítima deve procurar a delegacia mais próxima para registrar um boletim de ocorrência - isso pode ser realizado em qualquer unidade. Entretanto, a DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) e a DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) podem estar mais preparadas para conduzir o caso.
No processo de denúncia, é necessário indicar testemunhas do crime, se possível, informando também seus nomes e as formas de contato. Além disso, é preciso apresentar provas concretas do ocorrido, como vídeos de câmeras de vigilância. A importância de fazer a queixa é para que se possa ter uma análise mais concreta dos dados de violência contra pessoas trans, visto que a subnotificação dos casos e a consequente dificuldade de estudo foi um problema apontado pelo Antra durante o relatório.
Outra dica a ser destacada é a busca por orientação jurídica e de ONG's que prestam apoio à comunidade. Algumas das quais, inclusive, prestam amparo em questões jurídicas, como no caso de crimes cometidos contra essa parcela da população
“Olha a bandeira! Bandeiras, copos, leques, quem vai querer?”, ofereciam os comerciantes, já nas escadas da estação Trianon-Masp. Subia todo tipo de pessoa por aqueles degraus. Todas as letras, tamanhos, cores. Havia amor declarado nas ruas, nos trens, nas escadas, nos beijos, nos abraços, nos sorrisos, nas mãos entrelaçadas. Hoje o medo estava de folga.
Fazia calor. Adentrando a muvuca em pleno meio-dia, o clima esquentava numa ambiguidade libertadora. Muito calor. Desses de enxergar a rua e buscar uma sombrinha para refrescar, de recolher o suor no tecido da roupa, de esvaziar a garrafinha d’água. A sede era cantada. Queriam mais do que garrafas de meio litro, queriam a chuva.
“Queremos políticas sociais para LGBT+ por inteiro e não pela metade”. Esse foi o tema da 27ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, que ocorreu neste domingo, dia 11 de junho. Desde 1997, é tradição ocupar a avenida Paulista em nome da comunidade que sobrevive àqueles que não a enxergam. Apesar dos avanços, comparando com décadas anteriores, o arco-íris ainda sangra debaixo do sol.
O ativismo reverbera as vozes que, aos milhares, milhões, não podem ser ignoradas. “Precisamos legitimar nossa luta e fazer com que o nosso país atenda e entenda as especificidades dessa parcela da população brasileira”, demarca o manifesto da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP).
Já existe uma solução para muitos dos problemas apontados pelas manifestações, mas os passos ainda são lentos, burocráticos, cansativos. Chega a doer a garganta de tanto gritar para reivindicar e ainda ter que repetir. Se é necessário ao povo lembrar o governo que seus direitos não existem na prática, quem está sendo governado? Para quem são redigidas e aprovadas as leis? Por que estamos de fora?
“Quem mandou matar Marielle?” é mais uma pergunta sem resposta, das várias que o ativismo LGBTQIA+ vocifera com rouquidão. Em meio à marcha dos quase vinte trios elétricos em circulação, quatro prestavam homenagens individuais e comunitárias aos principais grupos da sigla LGBT+: Trios Lésbicas, Gay, Bissexual e Trans.
No Trio Lésbicas, inclusive, destacaram-se as homenagens às cantoras Cássia Eller e Gal Costa, às personalidades políticas Marielle Franco e Lurdinha Rodrigues, e à antropóloga e ativista Rosely Roth (formada na PUC-SP).
Além dos tributos a personalidades marcantes da causa, o evento marcou a estreia do trio dedicado ao movimento de combate à Aids/HIV, com uma homenagem ao professor e ativista argentino Jorge Beloqui. Ainda, antes tarde do que nunca, a Secretaria da Pessoa com Deficiência da Cidade de São Paulo, em parceria com a APOLGBT-SP, promoveu a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes acompanharem a Parada através de cordeamento e estruturas especiais.
Embora a marcha fosse colorida e preenchida de celebrações, os gritos políticos continuam sendo o verdadeiro asfalto da Parada. Esta edição trouxe à tona o alívio de se despedir dos fantasmas que assombravam a comunidade nos últimos anos. O governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, representou uma ameaça aos direitos de pessoas LGBTQIA+ e demarcou um retrocesso nos avanços sociais deste grupo que já sobrevive sob condições discriminatórias.
Não à toa, a Parada deste ano chama atenção às políticas públicas e assistência social que ainda não incluem “todas as famílias LGBT+ e as vítimas da LGBTfobia”, segundo declara a APOLGBT-SP em seu manifesto. Dentre as principais pautas, a associação denuncia que o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), presente em todo o país, apresenta fragilidades em seus serviços, benefícios e programas “disfarçadamente direcionados às famílias e indivíduos cisgêneros e heterossexuais”. Dentro disso, sugere-se um “modelo de gestão participativa, onde o SUAS articule esforços e recursos dos municípios, estados e união para a execução e o financiamento de políticas nacionais de assistência social LGBT+”, reforça o documento.
Durante coletiva de imprensa, no início deste mês, o vice-presidente da APOLGBT-SP, Renato Viterbo, revelou que o principal objetivo desta edição da Parada é “fazer com que todos, todas e todes possam ter o conhecimento que existe o SUAS, que pesquisem sobre o sistema e que busquem seus direitos”.
Mais do que apontar os problemas, o movimento busca gerar respostas e soluções à grave situação social da população LGBTQIA+ de baixa renda, em insegurança alimentar e em situação de rua. De acordo com dados da Pesquisa do Orgulho, conduzida pelo Datafolha, pelo menos 58% do grupo que se identifica como LGBTQIA+ afirma que tiveram que se adaptar ao mercado informal e 40% sentem-se rejeitados pelo mercado de trabalho.
“Eu durmo e acordo uma mulher transexual, milito desde que saio de casa sem saber se voltarei viva”, declara a coordenadora municipal de Diversidade, Leonora Áquilla, durante a coletiva. “Precisamos trabalhar de maneira muito intensa a empregabilidade e durante o ano inteiro. A mídia quer noticiar uma mulher trans na política com possibilidade de subir de cargo ou apenas pessoas trans mortas?”.
Na última quinta-feira, 8, o Memorial da América Latina recebeu diversas entidades da comunidade LGBTQUIA+, com a iniciativa da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP). A feira reuniu estandes de gastronomia, artesanato e conversas com temáticas LGBTQUIA+, além de show com artistas queer.
O encontro surpreendeu aqueles que esperavam encontrar apenas diversão. Houve debates sobre as realidades de cada grupo e as devidas mudanças nos cenários de acessos à saúde; à educação; à segurança e também à legislação. Aliás, o evento proporcionou os devidos recursos de acessibilidade, desde a atenção especializada na retirada dos ingressos por canais de mensagem, até intérpretes de LIBRAS, informações autodescritivas e espaços reservados para pessoas com deficiência.
Pelo menos 24% das pessoas se identificam com alguma deficiência, correspondendo a 45 milhões de brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021. Porém, do número total do território nacional, um pouco mais de 23% está no mercado de trabalho, enquanto mais de 63% é ocupado pelas pessoas sem deficiência. Todas as políticas são inclusivas? Apenas em 2008, a Organização das nações Unidas (ONU) lançou uma política nacional de educação inclusiva, por meio de uma emenda constitucional, que assegura os direitos educacionais em todos os níveis dessa parcela.
O encontro também abriu espaço para os criadores comercializarem suas obras por meio do estande Casa dos Criadores, para a experenciação da vida drag queen, em parceria da Casa Fluida e a retificação do nome social patrocinada pela empresa Amstel.
A presença de órgãos públicos foi essencial para afirmar o objetivo da Parada este ano: "Políticas para LGBT+ queremos por inteiro e não pela metade". As secretarias estaduais de Justiça e da Cultura e a municipal dos Direitos Humanos estavam disponíveis para discutirem os respectivos trabalhos para com a parcela. O reconhecimento da cidadania também ocorreu com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que atendeu àqueles que não possuíam ainda o título de eleitor, visto a medida tomada em 2018 que permite a inclusão do nome social no documento.
Outro tópico relevante foi a politização da saúde da minoria. Uma das ações foi a distribuição gratuita de autoteste de infecções como Sífilis e Aids. Em 2020, um marco nos direitos sociais foi conquistado. "OSTF entendeu como institucional o impedimento à doação de sangue por homens que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo.", declaração feita pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, que promoveu o julgamento. A polêmica surgiu a partir da preconcepção de que esse grupo transmitia o vírus da imunodeficiência humana, o HIV.
Atualmente, entende-se que a propagação dessa doença é irradiada por instrumentos cortantes não esterilizados, agulhas compartilhadas, durante a gravidez de uma mãe infectada e sexo não seguro, e, portanto, não produz relação direta com os homossexuais e bissexuais. Mas sim, o estigma que impedia discutir e acessar a saúde sexual de todas as pessoas.
A coordenadora do Centro de Referência e Apoio à Vítima (CRAVI), Luane Natalle, conversou coma AGEMT sobre a importância da feira para o seu trabalho. "O nosso principal foco hoje é promover ações de prevenção À violência e ampliação do serviço". O CRAVI oferece oficinas mensais abertas a toda a população, no Fórum Criminal da Barra Funda e em outras unidades espalhadas pelo país.
Em 2022, a cada 34 horas, uma pessoas LGBTQUIA+ era assassinada ou vítima de suicídio, segundo o dossiê realizado pelo Observatório de Mortes e violências contra LGBTQIA+ no Brasil. O tema deste ano prevê combater esses números coma inclusão da minoria em políticas públicas. "Pouco é falado do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O SUAS deveria garantir a proteção social aos cidadãos, prestando apoio à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades. No entanto, mostra-se fragilizado quando se trata do público LGBT+." - trecho do manifesto de 2023 desenvolvido pelo APOLGBT-SP.
Em outro estande, o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas promoveu a apresentação do projeto e dos objetivos para um plano de âmbito nacional. "Queremos chegar na política nacional, no marco regulatório, orientar todas as federações e movimentos", explicou uma das representantes do Conselho.
Disponibilizadas no site da APOLGBT-SP, as reinvindicações são claras: os serviços não representam todo mundo. "A maior parte dos seus serviços e benefícios são disfarçadamente direcionados às famílias e indivíduos cisgêneros e heterossexuais."A comunhão reforça que não há nenhum olhar específico para eles e atencioso às suas necessidades.
Essa feira antecede a atração que reúne milhões de pessoas na Avenida Paulista, a Parada LGBTQIA+, que, este ano, reforça a temáticas de representatividade na políticas e nas leis. Em 2022, o mote "Vote com Orgulho" foi referente ao ano de eleições e recebeu mais de 2 milhões de integrantes dentro e fora da comunidade.
A Parada é utilizada não apenas como arte de comemoração e orgulho, mas também como um instrumento de voz e ação para evidenciar a realidade de coletivos que são excluídos tanto pelas condições de saúde quanto pelas identidades de gênero e orientações sexuais.
O mês de junho é reconhecido mundialmente como o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, em celebração aos direitos conquistados e para reflexão dos desafios que ainda precisam ser superados. Vivemos em uma sociedade de preconceito e discriminação, sendo necessária a luta diária pelos direitos dessa comunidade. Por isso, o Mês do Orgulho tem o papel fundamental de conscientização, levantando bandeiras para lembrar que todos merecem respeito e igualdade, seja qual for a sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Eventos que celebram a diversidade movimentam a capital paulista com uma vasta programação cultural. Nesta sexta-feira, 9, acontece a 6ª edição da Marcha do Orgulho Trans, no Largo do Arouche, com o protagonismo de travestis, pessoas transgêneros binárias e não binárias da América Latina. Para colocar o evento nas ruas de São Paulo, foi realizada uma campanha de financiamento coletivo, em parceria com a Ben & Jerry’s. Na ação, a marca doará R$1 (um real) a cada valor equivalente doado pelo público, duplicando o alcance da meta estabelecida para viabilizar o evento.
Em 2022, a marcha alcançou mais de 600 mil pessoas com conteúdo online e 16 mil pessoas estiveram presentes para discutir sobre segurança, direitos, empreendedorismo e empregabilidade de pessoas trans. Organizado pelos precursores da linguagem neutra no Brasil, o instituto [SSEX BBOX] - uma ONG que trata de gênero e sexualidade "fora da caixa" - e a [DIVERSITY BBOX] - consultoria especializada em equidade social e que atua na promoção da diversidade em corporações - celebram a marcha de 2023 com o tema “Transformação”.
Esta 6ª edição contará com a presença de personalidades políticas, como o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida; a Secretária Nacional dos Direitos da População LGBTQIAPN+, Symmy Larrat; e as deputadas Carolina Iara e Erika Hilton. O trio elétrico começará a circular espalhando amor pelas ruas da cidade às 16h, com shows de Kaique Theodoro, Lumma, Julie Rios Narcaso, Winnit, Mc Xuxú, Mc Trans, Irmãs de Pau, Jasper Okan, Azula e Batucada.
Mais informações sobre o evento
Concentração: Largo do Arouche, às 12h
Marcha: 16h
Percurso: Largo do Arouche, Avenida São João, Avenida Ipiranga, Praça Da República, Avenida Vieira de Carvalho e Largo do Arouche
William Ceará e alguns de seus alunos. (Reprodução/Instagram)
Em 1979, o Muay Thai chegou ao Brasil. Desde então, ganhou popularidade em locais alternativos e entre as minorias, como o movimento LGBTQIAPN+. Assim, alguns indivíduos iniciaram a participar em academias por todo o país, mas poucas delas são focadas nessas minorias. A escola de Muay Thai Pedra da Lotta, onde a professora Luiza Pokrovsky procurou a “Casa Nem” , uma ONG de acolhimento da sociedade queer que oferece aulas gratuitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
William Ceará, professor da academia Muay Thai for Fun, explica como suas aulas sempre foram inclusivas. Porém, ele conta que já testemunhou um caso de homofobia no tatame. "Teve um casal de homens homossexuais que durante uma aula de clinch (a parte agarrada da luta), um deles fez dupla com outro aluno que se sentiu incomodado com a situação, eu respondi pro aluno parar de frescura”, explica. “Foi uma situação super constrangedora’’.
O professor também comenta sobre as "piadinhas" na sala. "Tento ter uma aula mais descontraída. Os alunos brincam e alguns fazem piadas de tom homofóbico. Já tive que falar em particular com alguns alunos pra eles pararem essas brincadeiras”.
Na Tailândia, lugar originário do esporte, a luta já foi muito conservadora e inclusive machista, chegando haver a proibição de mulheres no ringue. Com o passar do tempo, o Muay Thai evoluiu e hoje é reconhecido por incluir a todos, principalmente por influência do budismo, que recepciona melhor as identidades de gênero.
No cenário esportivo profissional, atletas trans são reconhecidos desde os anos 1990. Atualmente, Nong Rose é uma das atletas mais célebres da causa, ganhando destaque internacional após um campeonato na França. Atualmente é considerada uma das únicas pessoas trans ativa do desporto. No entanto, este fato é problemático, já que ela luta contra homens em vez de mulheres.
No Brasil, poucos atletas profissionais têm a liberdade de falar sobre seu gênero ou sexualidade. William explica que isso ocorre principalmente por medo da reação dos patrocinadores. E, embora o esporte tenha evoluído nessa questão, ainda é um ambiente com fortes preconceitos.