Participante do BBB23, Fred Nicácio, reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos, apesar de usar categorias, ela expressa inclusão e visibilidade
por
Rainha Matos
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28/06/2024 - 12h

A expansão da sigla no movimento LGBTQIA+ pode até causar confusão, mas não para Fred Nicácio, médico brasileiro reconhecido por seu engajamento em questões de saúde pública e direitos humanos. Ele defende que, "embora o ideal fosse não categorizar, a nomenclatura atual é crucial para inclusão e visibilidade". Fred enfatiza que esse reconhecimento não deveria ser necessário no futuro, quando esperamos que todos sejam vistos simplesmente como pessoas.

Ele apontou avanços na representação LGBTQIA+ na mídia, mas também criticou "o persistente tabu que limita a aceitação de atores LGBT em papéis principais, por medo de repercussões na carreira". Ele sublinha a importância de valorizar o talento e personalidade das pessoas, independentemente de sua orientação sexual.

Nem tudo é otimismo. Fred Nicácio destacou a gravidade dos índices de LGBTfobia e mencionou sua própria experiência com testemunhos de violência. Ele ressalta a necessidade de políticas públicas e leis rigorosas para proteger a comunidade e reduzir esses crimes.

Como figura pública, o médico precisa lidar com críticas, e por isso adotou uma postura de positividade, aceitando críticas construtivas apenas daqueles que têm algo construtivo a oferecer. Ele enfatizou a importância de uma crítica fundamentada em realizações pessoais e ignorou críticas vazias e infundadas.

Além de sua atuação na saúde e na visibilidade LGBTQIA+, Fred ganhou destaque nacional ao participar do reality show "Big Brother Brasil 23" (BBB23), ampliando sua plataforma para discutir questões de grande relevância social. Sua voz continua sendo uma importante influência tanto na esfera pública quanto nas redes sociais, onde ele continua a promover o debate e a conscientização sobre direitos e igualdade.

A omissão da representatividade de sáfica nas grandes mídias perpetua um vazio cultural que exclui e invisibiliza milhões de experiências autênticas.
por
Emily de Matos
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21/06/2024 - 12h

Em um cenário midiático predominantemente heteronormativo, vozes como a de Elizabeth Matos, de 19 anos, estudante e mulher bissexual, ressoam com uma perspectiva vital: a necessidade da representatividade sáfica fiel e positiva. "A caixa onde a indústria prende elas é bastante cruel, já que muitas são usadas para material fetichista ou apenas jogadas de escanteio em filmes e séries onde estão atuando, não tendo espaço para brilharem e se destacarem como alguma atriz heterossexual, por exemplo" afirma a jovem.

Nos últimos anos, o termo “Bury Your Gays” (Enterre seus gays) emergiu como um símbolo da escassa e muitas vezes prejudicial representação da comunidade LGBT+ na cultura pop. Esta trope, originada na televisão, descreve a tendência de narrativas que retratam personagens gays apenas para dá-los um destino trágico. Esta prática não apenas nega à comunidade de ter oportunidade de ver suas experiências representadas com precisão, mas também perpetua estereótipos e marginalização.  

Essas representações problemáticas não passam despercebidas pela comunidade LGBTQ+, que muitas vezes se manifesta por meio de protestos online e campanhas de conscientização. Um exemplo notável foi a reação dos fãs à morte de Lexa em "The 100". Após a exibição do episódio em que a personagem foi morta repentinamente, os fãs expressaram indignação e desapontamento nas redes sociais, destacando não apenas a falta de representatividade lésbica nas mídias, mas também a maneira como personagens LGBTQ+ são frequentemente tratados de forma descuidada e desrespeitosa. 

 

 Reprodução: Lexa (Alycia Debnam-Carey) em ‘The 100’. 
 Reprodução: Lexa (Alycia Debnam-Carey) em ‘The 100’. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um exemplo claro desse descuido é a obra cinematográfica “Azul é a Cor Mais Quente”, dirigida por Abdellatif Kechiche, que foi marcada não apenas por seu impacto no cinema, mas também por relatos de condições difíceis no set de filmagem. Em uma entrevista ao jornal The Guardian em 2013, a atriz Léa Seydoux, que interpretou uma das protagonistas, relatou a experiência como 'extremamente difícil' e mencionou a exaustão física e emocional enfrentada durante as gravações. Seydoux também destacou a intensidade das cenas de sexo, descrevendo-as como “ultrajantes” e afirmando que se sentiu “um pouco como uma prostituta” durante as filmagens. Esses relatos lançaram luz sobre as condições muitas vezes desumanas enfrentadas por atrizes em produções que exploram temas sensíveis, como a sexualidade feminina, questionando não apenas a ética por trás das representações, mas também as práticas dentro da indústria cinematográfica. 

 Reprodução: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ‘Azul é a cor mais quente’. 
 Reprodução: Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ‘Azul é a cor mais quente’. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao retratar personagens LGBTQIA+, a sensibilidade e o cuidado são essenciais. Como afirmado por Elizabeth “Leitura sensível, uma sala de roteiro deveria ter pessoas especializadas para atender qualquer demanda de personagens que não estão dentro do conhecimento total de quem trabalha na obra. Apenas quem vive na pele sabe o que realmente é necessário e o que passa longe de uma representatividade válida”. 

Movimento em apoio à comunidade LGBTQIAP+ coleciona conquistas pela diversidade na PUC-SP
por
Ana Julia Mira
Maria Eduarda Cepeda
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20/06/2024 - 12h

O coletivo Glamour celebra 10 anos de história na PUC-SP com uma trajetória de lutas, marcada pela criação da Biblioteca LGBTQIAP+ e a retificação dos nomes de alunas e alunos nas plataformas digitais da universidade.

O Glamour  se consolidou como um espaço seguro e de acolhimento para os alunos na universidade, como uma rede de apoio aos estudantes, além do intuito fortalecer uma resistência contra as violências físicas, psicológicas nos ambientes de convivência fora e dentro do campus.  

Bandeira com as cores LGBTQIAPN+ com um triângulo invertido composto pelas cores da bandeira trans
Design utilizado pelo coletivo de 2014 a 2017 . Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour PUC-SP

A abordagem desses temas são  necessárias no ambiente universitário, a acolhida de alunos LGBTQIA + nas universidades é crucial para criar um ambiente acadêmico inclusivo.

Conquistaram espaços e direitos para as pessoas da comunidade. Mesmo durante a pandemia, o coletivo reivindicava causas de suma importância, como a retificação do nome social nas plataformas de ensino digitais. 

Na época, mesmo os estudantes transexuais que já haviam retificado seus nomes na Secretaria da universidade, tiveram seus nomes civis expostos no novo modelo de ensino que estava sendo aplicado. 

Foi, então, realizado um ofício com a colaboração do Centro Acadêmico 22 de Agosto (do curso de Direito) solicitando tal mudança em prol do respeito para com as pessoas afetadas. 

Ofício realizado para retificação do nome de pessoas trans e travestis nas plataformas digitais da universidade
Ofício realizado pela retificação dos nomes de alunos transexuais e travestis nas plataformas virtuais. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Em 2017, o grupo passou por mudanças adotando o nome Glamour. O nome foi escolhido em homenagem a uma das primeiras alunas assumidamente transsexual a  estudar na PUC-SP no curso de Artes do Corpo em 2013,  a atriz Glamour Garcia. 

Pelas redes sociais, o coletivo promove integrações entre os estudantes por meio de eventos e reuniões, sempre tendo como foco a representatividade daqueles que estão inseridos na comunidade e dando voz às suas experiências.

Design de convite para palestra "Transvivências: a relação das identidades de gênero no meio social". Na parte de baixo do design estão os 4 palestrantes que participaram do evento.
Evento promovido pelo coletivo em 2023. Reprodução: Instagram / @glamourpuc

 

Alinhados com as causas sociais, se mostrou ativo em questões sobre diversidade de gênero e orientação sexual, trazendo visibilidade e empoderamento, criando um ambiente amplo e disposto à troca de ideias e vivências com incentivo de debates, levando essas conversas para além da PUC-SP.  

Quadrado rosa com círculo branco no meio e um trângulo invertido rosa centralizado.
Design do coletivo desde 2017. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Acompanhando o posicionamento firme da comunidade participante do Glamour junto ao “Núcleo Diversas T”, foi realizada a 1ª “Pesquisa Oficial sobre a situação des alunes LGBTQIAPN+ da PUC-SP” em outubro de 2023. O núcleo, por sua vez, é formado por pessoas transsexuais. 

A iniciativa tinha por objetivo de identificar os desafios enfrentados dentro do ambiente acadêmico, visto que são alvo de preconceitos e violências, havendo denúncias de situações assim expostas nas redes sociais do Coletivo Glamour.

Em 2019, uma delas foi feita em uma publicação de sua página no Facebook. Denunciava falas transfóbicas de um professor de Direito Penal em sala de aula, levando à público o caso e manifestando-se contra o docente, organizando protestos silenciosos.

Sala de aula com cartazes em oposição às falas do professor
Imagem do protesto silencioso contra falas transfóbicas de professor. Reprodução: Facebook / Coletivo Glamour

 

Por trazer à tona situações de transfobia e homofobia sofridas por pessoas na PUC-SP, atacadas por docentes e estudantes, o Coletivo possui papel ativo no combate ao preconceito na Universidade.

Sobre a razão de sua existência, em publicação no afirma: “Infelizmente, nos tempos atuais, ainda existe uma forte violência contra a comunidade LGBTQIA+, que é, muitas vezes, submetida a agressões, hostilização, crimes de ódio, além da exclusão e precarização do local de trabalho”.

Com uma longa história de luta pelos seus direitos, o Coletivo Glamour conquistou espaço na Instituição, inclusive nas bibliotecas, ao reivindicarem e serem atendidos com a inauguração do acervo bibliográfico de temáticas e autorias LGBTQIAP+, no início deste ano. O acervo conta com mais de 64 títulos, trazendo autoria de pessoas da comunidade, aprovados pelo CONSAD. 

Após o acontecimento em fevereiro, não houveram mais atualizações nas redes sociais e o Coletivo passa por uma aparente pausa em suas atividades. Nós procuramos entrar em contato com os participantes, mas não obtivemos resposta.

“Consegui colocar um vestido e estar lá com a roupa que sempre quis”, explica Moon, estudante que foge do gênero convencional
por
Clara Dell'Armelina
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15/06/2024 - 12h

 

(Fonte:Louise Zin, Dicas de Mulher)

“Me identifico tanto com pronomes femininos quanto masculinos.”, diz Moon, uma pessoa de gênero fluido e bissexual. A fluidez de gênero vem se tornando cada vez mais visível ao passar dos anos, mas muitos ainda não sabem o que esse termo significa, acabam confundindo com sexualidade, “gênero fluido se trata sobre como você se identifica na questão física, seu corpo e sua aparência, já a orientação sexual é sobre o que você sente atração, não só ao se tratar de genitália, como todos tendem a associar, mas também pelo que a pessoa é, seja homem, mulher, neutro e por aí vai.”.

Moon, estudante de Arquitetura e Urbanismo da UNISAL(Universidade Saleniana) no interior de São Paulo, Americana, relata que percebeu sua fluidez de gênero durante o ensino médio, lá pelo ano de 2019. Mas a primeira vez em que se sentiu à vontade e vestiu-se com roupas entendidas como “femininas” foi na Faculdade, em 2023: “Consegui colocar um vestido e estar lá com a roupa que sempre quis. Foi muito bom para mim pois vi que minhas amizades estavam lá para me apoiar e que posso ser quem eu sou, sem medo, todos foram muito receptivos, até desconhecidos.” Ela defende que a questão da roupa é importante pois “assim podemos passar a imagem que queremos para que saibam como nos tratar.”

Diante da compostura daqueles que Moon já conhecia, conta que sua família apenas “finge que não vê, mas me tratam da mesma maneira que me trataram a vida toda, só que não me importo porque são pessoas antigas, não vão mudar de forma repentina”. As pessoas da igreja evangélica que até pouco atrás frequentava a trataram com respeito, a aceitavam e amavam muito, “lá as pessoas conheciam bem o que pregavam, diferente de muitos evangélicos por aí que se dizem cristãos, então sabem que Deus julga o bem e o mal, não quem somos fisicamente ou quem amamos.”.

Moom conta com entusiasmo que “Pose” é uma série que sempre estará em seu coração “pelo tanto de representatividade que tem.” “A série acaba de modo tão realista e verdadeiro que é algo que mexeu comigo.” Já como inspiração no meio das redes sociais, Moon tem Bella Rose Avila, uma blogueira e modelo que também se identifica como sendo alguém de gênero fluido. Mas Bella não é a única, há muitas figuras famosas como Miley Cyrus, Cara Delevingne, Ruby Rose e mais tantas outras.

O termo “gênero-fluido” começou a ser discutido mais amplamente na década de 90, ele vem contemplado na letra “Q”, de Queer, na sigla LGBTQIAP+, sendo um conceito que engloba todas as sexualidades e identidades de gênero fora do padrão imposto socialmente. Enquanto que cisgênero é aquela pessoa que se identifica com o sexo – feminino ou masculino – que lhe foi designado ao nascer.

Quando se convive com alguém de gênero fluido, é importante perguntar à pessoa quais são seus pronomes de preferência, Moon, por exemplo, mesmo se identificando com os femininos e masculinos, tem sua preferência pelos primeiros, “sempre me apresento com eles e como Moon, pois é como eu prefiro!”. Além disso, a "fluidez" refere-se à mudança em relação à sua própria identidade de gênero ao longo do tempo, assim sendo, com o passar do tempo, a própria identidade de alguém flúido pode alternar.

Muitos se enganam ao pensar que a fluidez de gênero é sempre binária – apenas se reduzindo aos gêneros masculino e feminino – ela pode acontecer também entre gêneros não-binários, quando a pessoa não se identifica com gênero nenhum.

(Bella Rose Avila- Fonte: Shutterstock)
(Bella Rose Avila- Fonte: Shutterstock)
(Fonte: Rubyrose/instagram)
(Fonte: Rubyrose/instagram)
(Fonte: Xavier Collin/Image Press Agency)
(Fonte: Xavier Collin/Image Press Agency)

A cena "está criando realidades do futuro", defende Flip Couto, performer e curador
por
Cecília Schwengber Leite
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14/06/2024 - 12h

 

No mês do orgulho LGBTQIAP+, diversas expressões artísticas e políticas da comunidade são celebradas, entre elas, a Cultura Ballroom. "Acredito que é uma cultura que está criando realidades do futuro, pois ela construiu a possibilidade de essas pessoas contarem suas histórias e estruturarem suas vidas e carreiras profissionais. É uma manifestação da presença", afirma Flip Couto - performer, curador, produtor de eventos e palestrante sobre negritudes, diversidade de gênero, saúde e a crise da Aids. 

 

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Reprodução/Instagram

 

Nascido na zona leste de São Paulo, Flip iniciou sua trajetória artística no hip hop, com a dança, e depois se abriu a outras manifestações culturais do movimento. Além de performar, o artista também passou a produzir eventos e, durante esse período, conta que "se permitiu aflorar sua sexualidade", assumindo-se gay. “Nesse processo fui pouco a pouco colocando minha identidade como pessoa LGBT+, primeiramente de forma solitária, e depois me unindo a mais pessoas da comunidade por meio das danças urbanas, quando comecei a me inserir na cultura Ballroom”, diz. Desde então, Flip passou a articular suas primeiras festas e, em 2017, produziu sua primeira ball. 

Origens da Cultura Ballroom

Com seu berço no bairro Harlem, em Nova Iorque, as Ballrooms surgem de um movimento cultural substancialmente negro - e com muitos de seus líderes sendo da comunidade LGBTQIAP+ - hoje conhecido como Harlem Renaissence. Nesse contexto, após um concurso de beleza protagonizado por drag queens e pessoas trans, nos quais, na década de 1960, eram reproduzidos comportamentos racistas, Crystal Labeija, drag queen e mulher trans negra, se revoltou contra os padrões estabelecidos. Assim, fundou a primeira house, a “House of LaBeija”, e a partir dela, diversas houses se expandiram por Harlem, entre outros bairros de Nova Iorque.

No Brasil, a primeira ball ocorreu em Belo Horizonte, a Vogue Fever, trazendo artistas da cena internacional; enquanto uma das houses pioneiras no país, a House Of Hands Up, surgiu de um grupo de danças urbanas, em 2011. Em São Paulo, a cultura Ballroom se estabeleceu por meio da House Of Zion, que compõe a cena mainstream, mais tradicional e precursora. Posteriormente, surge a cena kiki, inicialmente como uma forma de inserção de jovens por meio de ações de saúde, mas que atualmente está mais forte que a cena mainstream, e relacionada a maiores possibilidades de criação.

Flip explica que a estrutura e fundamentos das Ballrooms foram criados por pessoas trans, pretas, latinas, periféricas, profissionais do sexo e portadores de HIV. “É importante definir a Ballroom como uma cultura criada a partir da ausência do Estado, da família e da sociedade estruturalmente cis, branca e heteronormativa, como resposta a todas as violências, construindo um espaço seguro de resistência para esses corpos vulnerabilizados, e buscando outras formas de beleza ", afirma Couto. E acrescenta, “mas para mim é mais do que tudo um espaço de celebração e de encontro, um espaço político também, que constrói novas perspectivas”. 

Houses e Balls

As houses são coletivos que buscam se assemelhar à estrutura de uma família, tanto em termos de afeto e acolhimento, quanto em sua hierarquia, sendo lideradas por mothers e fathers. Comumente expulsos de suas casas, jovens LGBTQIAP+ e portadores de HIV muitas vezes encontram abrigo e pertencimento nas Ballrooms. Ao integrarem uma house, os filhos herdam o sobrenome escolhido pelas mothers ou fathers. Assim, são estabelecidas as identidades e legados da cultura. “É a mesma importância que a família tem na vida de qualquer jovem ou adulto, é dar amor, carinho, cuidar e mentorear também”, diz Flip.

Nas houses, os filhos contam com mentoria de carreiras profissionais dentro das artes, tecnologia, finanças ou qualquer outra área de interesse, além de obterem referências e conhecimento sobre os processos de transição, dicas de moda e beleza e encaminhamento para profissionais da saúde (mental, física e sexual). “As houses têm essa função de fato, são famílias que estão preparadas e dispostas a acolher esses corpos que muitas vezes foram excluídos por suas famílias de sangue”, explica Couto. 

As balls, por sua vez, são bailes onde as famílias se encontram. O intuito é a diversão, livre expressão e acolhimento de corpos marginalizados, e por isso, são políticas em sua essência. Nelas se desenvolvem os elementos da cultura: as categorias de dança, caracterização e performance, com temas estabelecidos e no formato de batalhas. O vencedor de cada categoria leva um Grand Prize (prêmio entregue ao vencedor(a), que também é direcionado a sua house). Através das vitórias, houses e participantes desenvolvem sua reputação e legado.

Vogue

O voguing é uma performance de empoderamento e resistência com movimentações inspiradas nas poses de modelos da famosa revista Vogue. A dança surgiu por meio de pessoas LGBTQIAP+ que, na época, eram presas por serem da comunidade, e que nos presídios tinham fácil acesso a revistas de moda, consideradas “sem conteúdo”. Como um dos únicos meios de distração, essas pessoas reproduziam as poses das mulheres brancas das revistas e almejavam alcançar aquele status fora dos presídios. 

Assim, as Ballrooms incorporaram a performance voguing em forma de batalhas, inicialmente com a reprodução de poses de acordo com o beat, o chamado Posing. Com o passar do tempo e novas pessoas agregando a cena, os estilos foram se desenvolvendo e hoje o voguing divide-se em três principais categorias:

- Old Way, modalidade cujo foco são as linhas e simetrias, como nas páginas da revista;
- New Way, com foco na flexibilidade e agilidade, inspirado em movimentos ginásticos;
- Vogue Femme, criado pelas Femme Queens da cena, traz a feminilidade, acrobacias, sensualidade e energia.

 

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Quinta edição da Ball Vera Verão na Casa Natura Musical, em São Paulo
Imagem: UOL/Felipe Inácio

 

Entre 2022 e 2023, morte de homossexuais sobe 21%
por
Júlio Antônio Poças Pinto
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13/06/2024 - 12h

"A igreja sempre vai condenar qualquer pratica de violência", afirma o seminarista Rafael Manente, quando confrontado com os dados sobre aumento de mortes na comunidade LGBTQIP+. Entre os anos de 2022 e 2023 houve aumentou em media 21%  no numero de mortes contra homens homossexuais, passando de 96 mortes em 2022 para 118 em 2023. Já o número de mortes de pessoas bissexuais foram de 3 mortes em 2023. Essa variação se baseia no Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ em 2022 e o relatório divulgado pelo Grupo Gay Bahia

O conego José Adriano afirma que o primeiro ponto a ser considerado é que "todas as pessoas independentes de serem homossexuais ou não somos todos criados por Deus e feitos a sua imagem e semelhança e por isso possuímos a dignidade de pessoas humanas e somos proibidos de fazer o mal contra o próximo". Ele ainda lembro dos Dez Mandamentos, em especial o quinto, que "nos proíbe de matar o próximo fisicamente, moralmente e psicologicamente". Enquanto isso, o seminarista Rafael acrescenta que "todos devemos nos amar" .

Para ambos, a Igreja deve acolher os homossexuais que já sofreram violência. O Conego afirma que a igreja "recebe a todos   com caridade e  amor fraterno".  Ele ainda lembra que "Jesus nos ensina a resgatar aquela ovelha que está ferida e machucada".  

Conego afirma que as praticas de violência são crimes contra as leis civis e pecado contra as leis de Deus portanto todos agressores cometeram um delito seja um crime seja um pecado e a igreja se compadece e defende os homossexuais que sofrem violência. Sobre essa questão o seminarista Rafael explica que a igreja sempre vai condenar qualquer pratica de violência  e desnecessária e continua dizendo que a igreja nunca vai recorrer da violência contra qualquer estilo de vida.

Sobre a norma da igreja para combater a violência contra homossexuais o Conego José Adriano menciona o documento da igreja fidúcia supplicans e diz que este documento foi feito para abençoar a todos inclusive os homossexuais são acolhidos com todo carinho e com todo amor, porem a igreja não dispõe de nenhuma lei que proíba a violência contra homossexuais, ele explica dizendo que essa é uma função da lei civil proibir a violência contra qual quer pessoa e continua falando que a igreja atribui pecado para as pessoas que praticam violência contra o próximo e afirma que os ensinamentos de Jesus são contra a violência física e psicológica após isso conclui respondendo que aquilo que a igreja tem é uma moral proibitiva contra a violência e uma moral do amor de Deus para com todos. Já o Rafael acrescenta que a igreja nunca vai utilizar de violência contra ninguém e reafirma que a igreja e contra todo tipo de violência.

O estudante de jornalismo na PUC-SP, Oliver Santiago, vive em meio a essa situação e conta ter sofrido humilhação e violência verbal. Ele relembra que tudo começou após ter falado sobre sua bissexualidade com seus amigos, que começaram a tirar sarro dele praticando até web bullying durante o jogo Gartic Phone. "Todas as vezes que a gente conversava sobre relacionamentos, eu era humilhado". Ele lidou com essa violência conversando bastante com as pessoas que foram assediosas e também explicando sobre ele mesmo.  Por ser um grupo da periferia, Oliver acredita que essa violência vem do fato deles terem uma mente mais fechada por conta da cultura do bairro.

Com uma forma de comunicação única, dialeto reflete resistência de mulheres trans e travestis
por
Thainá Brito
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13/06/2024 - 12h

Palavras como “lacre” ou “babado” ditas cotidianamente por diversas pessoas, são gírias que vão além de um simples vocabulário divertido. O dialeto Pajubá possui origens em grupos étnicos-linguísticos africanos, como o iorubá e o nagô. As expressões criadas ou adaptadas por mulheres trans e travestis, foram utilizadas na ditadura militar como meio de resistência a repressão que a comunidade vivia.

O dialeto incorpora uma mistura de termos africanos com o português, que são comuns em terreiros de Umbanda e Candomblé – religiões que de certa forma acolhem mulheres trans e travestis – resultando em palavras incompreendidas por quem é de fora da comunidade em questão.

“Foi através dessa linguagem que mulheres trans e travestis aprenderam a sobreviver nas ruas, onde as suas vidas eram completamente devastadas, principalmente com a legitimação da Operação Tarântula, que era uma forma arbitrária e violenta para a morte de travestis no período da ditadura militar” diz Liah Normany, atriz e graduanda em estudos africanos e afro-brasileiros.

A operação policial batizada de Tarântula, de 1987, tinha o objetivo eliminar travestis das ruas de São Paulo, utilizou a justificativa de ‘combate a Aids’ para oficializar a violência contra a comunidade. Assim, o Pajubá foi um aliado, já que quem era de fora do grupo não entendia as palavras enunciadas.

Mulher trans sendo presa durante operação policial em 1980
Mulher trans sendo presa durante operação policial em 1980. Imagem: Juca Martins

“Meu primeiro contato com o Pajubá foi com as manas travestis quando comecei a minha transição. A partir daí, fui conhecendo e descobrindo mais a fundo de como essa linguagem ainda se mantém viva, sendo ressignificada e incorporada como um meio de resistência na atualidade” afirma Liah.

Jornalista
Jornalista Ângelo Vip segurando livro Aurélia - A dicionária da língua afiada. Imagem: Moacyr Lopes Júnior

A linguagem se tornou habitual para muitas pessoas, principalmente jovens. A popularização se deu, em grande parte, pela internet com memes e personalidades famosas. “É uma linguagem que ainda é muito característica no meio LGTBQIA+, mesmo possuindo suas origens na comunidade trans, é muito agregadora a inclusão de toda a comunidade que se faz aliada para que essa sociabilidade linguística não desapareça” conta a atriz.

Em 2006, foi publicado o dicionário intitulado de Aurélia – a dicionária da língua afiada, escrito por Ângelo Vip e Fred Lib. Com muito humor, a ‘dicionária’ descreve termos (principalmente em pajubá) da comunidade LGBTQIAP+ de diversos países falantes da língua portuguesa, fugindo do politicamente correto.

O livro deixou de circular após ameaças de ação judicial por parte da Editora Positivo e da família do lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda, que detém os direitos dos produtos Aurélio, alegando que o livro seria uma ‘deturpação do nome’, mas argumentando que ‘não seria uma prática homofóbica’.

 

Algumas expressões em pajubá e seus significados:

Aquenda o alibã: cuidado com a polícia

Neca: pênis

Dar a Elza: roubar, afanar

Amapô: mulher

Acué: dinheiro

Picumã: Cabelo, peruca

Gongar: Ridicularizar, fazer zombaria

Verde e amarelo e bandeira do Brasil foram elementos que, após show da Madonna, foram incorporados na Semana da Diversidade
por
Juliana Bertini de Paula
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17/06/2024 - 12h

“A bandeira é nossa.” disse Vannila Vanna, 54 anos, Drag Queen de Natal, que participou da 28a. Parada do Orgulho LGBT+  com a amiga Bárbara Souza. Ambas vestiam as cores do Brasil “É a retomada da nossa bandeira, porque até então ela havia sido tomada. Mas viemos para mostrar que nós podemos e devemos usar verde e amarelo” disse Bárbara, 50, também de Natal. 

“A visibilidade para nós, como gays, travestis, transexuais, lésbicas, ajuda nessa manifestação. É muito importante”, disse ainda Vannila à reportagem.  A Parada foi realizada no dia 2 de junho, em São Paulo, e é considerada a maior do mundo. Para os organizadores havia 3 milhões de pessoas, dado contestado pelo Monitor do Debate Política no Meio Digital. Para ele, a concentração foi de cerca de 73 mil de pessoas, segundo um projeto de pesquisa realizado pelo Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da Universidade de São Paulo (USP). 

 

Drag Queen Bárbara e Vannila na Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo. Foto: Juliana Bertini de Paula
Drag Queen Bárbara e Vannila na Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo. Foto: Juliana Bertini de Paula

 

A Parada contou com 16 trios elétricos com diversas atrações, entre elas: Pabllo Vittar, Gloria Groove e Sandra Sá. Além disso, o candidato a prefeito Guilherme Boulos e a deputada Erika Hilton -ambos do PSOL - marcaram presença. "Já se foi o tempo em que as pessoas não podiam ser quem elas eram, em que a intolerância silenciava a diversidade" disse o candidato à prefeitura paulistana. Logo após, ao lado de sua colega de bancada, foi aclamado pelos participantes, aos gritos de “prefeito”.

O candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), assim como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não compareceram ao evento. Ambos, contudo, participaram da Marcha para Jesus que ocorreu na quinta-feira (30)

 

Pessoas enroladas na bandeira LGBT+ durante a Parada do Orgulho na Avenida Paulista. Foto: Juliana Bertini de Paula
Pessoas enroladas na bandeira LGBT+ durante a Parada do Orgulho na Avenida Paulista. Foto: Juliana Bertini de Paula

 

A Parada ocorreu de maneira pacífica e contou com muitas famílias e crianças. Até mesmo animais de estimação como a Stela, cadelinha sem raça definida que esteve presente no evento. Foram mais de 1400 policiais mobilizados para a proteção do evento.

 

Stela, cachorra com mini bandeira LGBT+ na Parada do Orgulho. Foto: Juliana Bertini de Paula
Stela, cachorra com mini bandeira LGBT+ na Parada do Orgulho. Foto: Juliana Bertini de Paula

 

A 28° edição foi influenciada pelo recente show da Madonna no Rio de Janeiro, dia 4 de maio, quando a cantora e Pabllo Vittar usaram a camisa da seleção brasileira. Assim, o evento foi marcado pelas cores verde e amarela. O objetivo é ressignificar as camisas que costumavam ser usadas por manifestantes e apoiadores do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL).

 

Camisa da seleção brasileira com as cores da bandeira LGBT+. Foto: Juliana Bertini de Paula
Camisa da seleção brasileira com as cores da bandeira LGBT+. Foto: Juliana Bertini de Paula

 

As cores que fizeram a avenida mais popular do Brasil brilharem não vieram somente das roupas coloridas e das bandeiras que os participantes orgulhosamente se enrolavam. Muitos estabelecimentos decoraram suas fachadas com balões e tecidos das cores do arco-íris, a bandeira LGBT+.

 

Respectivamente, Shopping Cidade São Paulo, Mcdonald's e MASP colorindo a Avenida Paulista. Foto: Juliana Bertini de PaulaRespectivamente, Shopping Cidade São Paulo, Mcdonald's e MASP colorindo a Avenida Paulista. Foto: Juliana Bertini de Paula

Respectivamente, Shopping Cidade São Paulo, Mcdonald's e MASP colorindo a Avenida Paulista. Foto: Juliana Bertini de Paula
Respectivamente, Shopping Cidade São Paulo, Mcdonald's e MASP colorindo a Avenida Paulista. Foto: Juliana Bertini de Paula

 

Além da Parada

Além do evento principal, durante a Semana da Diversidade outras atividades em prol do orgulho LGBT+ ocorreram na capital paulista. A Feira Cultural da Diversidade na quinta feira (30) no memorial da resistência da América Latina contou com diversas apresentações. A que mais chamou atenção do público foram do grupo “As Cheers”, grupo de cheerleaders formado apenas por homens.

O bailarino Guilherme Leal Nunes, de 32 anos, também participa do grupo. Desde criança, sempre teve o sonho de ser cheerleader, mas enfrentou resistências. "Não podia por um simples motivo: ser menino. Por isso pensamos em produzir essa arte entre amigos", diz Guilherme em entrevista ao G1.

“As Cheers” grupo de cheerleaders totalmente masculino. Foto: Tata Barreto/Reprodução - Terra
“As Cheers” grupo de cheerleaders totalmente masculino. Foto: Tata Barreto/Reprodução - Terra

No sábado (01) ocorreu a 7° Marcha do Orgulho Trans e a 1° Corrida do Orgulho LGBT+. O primeiro aconteceu no Centro de São Paulo a partir das 10 da manhã. Ocupou o Largo do Arouche e ruas do entorno com música, ativismo e manifestações em defesa dos direitos de pessoas trans, travestis e não-binárias. 

A Marcha que também manifestava reivindicações de direitos para pessoas trans, contou também com a presença de autoridades políticas, como a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), entre outros políticos de outros estados.

7° Marcha Trans no centro da cidade de São Paulo. Foto: Roberto Sungi / Reprodução: Estadão Conteúdo
7° Marcha Trans no centro da cidade de São Paulo. Foto: Roberto Sungi / Reprodução: Estadão Conteúdo

A Corrida do Orgulho LGBT+ aconteceu pela primeira vez no parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo. Foram duas opções para todos: corrida (5 km) e caminhada (3 km).

Tifanny Pereira, primeira mulher transexual a disputar uma partida do campeonato da Superliga, é um dos destaques no esporte
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
|
13/06/2024 - 12h

"Com preconceito não tem jogo”, diz a campanha realizada pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) em apoio à causa LGBTQ+, procurando combater as diversas formas de discriminação no voleibol. As ações foram realizadas nos jogos femininos da Liga das Nações, e em vídeos publicados nas redes sociais oficiais, tendo início no dia 17 de maio, considerado Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia, e se estendendo até o final da semana seguinte. 

As atletas Nyeme e Natinha, jogadoras da posição de líbero, entraram na quadra do Maracanãzinho com camisetas comemorativas que traziam bandeiras diversas da luta LGBTQIAPN+. Além delas, outra importante figura do vôlei brasileiro também participou da campanha: a antiga oposta Sheilla Castro, bicampeã olímpica, entrou ao lado da capitã Gabi, levando o ginásio carioca à loucura.  

 

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Apresentação do jogo em que Tifanny quebrou o recorde de maior pontos na Superliga em 2017 (Foto/Reprodução: Globo Esporte)

 

O voleibol, um dos esportes mais populares do mundo, tem mostrado avanços significativos em termos de inclusão e representatividade dessa comunidade. No cenário global e nacional, atletas, técnicos e torcedores têm se unido para promover um ambiente mais acolhedor e seguro para todos, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero.

Tifanny Pereira é uma das maiores celebridades do vôlei atual. Nascida em Goiás, a estrela quebrou todas as barreiras e se tornou a primeira mulher transexual a disputar uma partida do campeonato da Superliga de Vôlei.

Tifanny começou na carreira profissionalmente em Portugal, jogando nos times da categoria masculina. Após sua cirurgia de transição de gênero e debates e atualizações nas regras, ela voltou a competir, agora na categoria feminina, em 2017, se tornando a primeira mulher trans da divisão.  A conquista da atleta abriu portas para diversas outras personalidades, além de mostrar uma nova face mais inclusiva do esporte.

 

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Apresentação do jogo em que Tifanny quebrou o recorde de maior pontos na Superliga em 2017 (Foto/Reprodução: Globo Esporte)

 

Mesmo após tantos anos como atleta e vitórias em campeonatos no bolso, Tifanny contou ao site SportBuzz como lida com as constantes críticas e invalidações que continua recebendo: “Transfobia é crime no Brasil e é equiparado a crime de racismo. A pessoa pode ser contra eu jogar, mas ela não tem o direito de me difamar, de me chamar de ‘homem’ e não tem o direito de me rebaixar como pessoa. E o que eu faço? Eu evito ver os comentários. Não vai adiantar bater boca com uma máquina, porque quem está por trás dessa máquina é uma pessoa sem coração e sem visibilidade, que em muitas vezes estão querendo atenção”.  A jogadora, aos 39 anos, segue atuando no ramo e sendo uma inspiração diária de superação e conquista da comunidade LGBTQIAPN+ nos esportes. 

Representatividade e identificação

Em entrevista realizada à Agência Maurício-Tragtenberg (AGEMT), uma jogadora de vôlei do clube Ipiranga, pertencente ao grupo LGTBQIAPN+, que preferiu não ser identificada, compartilhou sobre sua experiência individual sendo pansexual no ramo esportivo, e abordou diversos aspectos. “Comigo nunca ocorreu, mas confesso que tive medo de me expor, por medo de julgamento, além de que, o time é todo feminino, então achei que iriam olhar torto, mas nada disso aconteceu.” 

A atleta comenta sobre crescer no ramo vendo outros competidores como imagem a seguir: “Tem diversas atletas, não só dentro do vôlei mas dentro de outros esportes, que eu tenho assim como imagem e respeito, tenho muito apreço pela Carolana da seleção, pela Kisy, a Amanda (namorada da Kisy) que joga pelo Osasco. E outras atletas que são assumidamente LGBT e estão na luta pelas pautas.”. Ela também conta que a admiração pelas jogadoras vai além das quadras, impactando no seu cotidiano e na visibilidade direta do esporte. 

Chappell Roan, além de conquistar seu lugar nos charts mundiais, está conquistando a atenção da comunidade LGBT+
por
Wanessa Celina
|
07/06/2024 - 12h

 

Chappell Roan, dona do hit Good Luck, Babe!, que debutou em 77 lugar no Billboard Hot 100 nos Estados Unidos, é cantora e compositora norte americana do interior do Mississipi, Com suas músicas festivas e com referências drags, vem dominando as redes sociais como Tiktok e X (antigo Twitter), tornando-se umas das ícones Queer da atualidade.

A artista, que se identifica como uma mulher queer, vivencia em suas músicas temas recorrentes da comunidade LGBT+.

Ser do interior também impacta em sua carreira e estética musical. Em entrevista para revista americana Paper, Chappel fala sobre a importância de referenciar o lugar onde nasceu, usando chapéus de cowboys nos shows para lembrar a todos que existem pessoas LGBT+ em todos os lugares, só não possuem espaços como aquelas que moram em grandes cidades.

Chappel Roan (imagem: instagram/ @chappellroan)
Chappel Roan (imagem: instagram/ @chappellroan) 

 

Seu álbum de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, que chegou ao Top 2 no chart de álbuns pop no Apple Music, atrás apenas do novo disco da Taylor Swift, The Tortured Poets Department, conta com 14 faixas, entre elas  Femininomenon, Red White Supernova, Hot To Go! e Casual. Com sua maquiagem no estilo drag e seus cachos ruivos à solta, Chappell Roan traz o gênero Pop cada vez mais extravagante, recorrendo a letras que remetem ao relacionamento sáfico - relacionamento entre duas mulheres. 

Capa de The Rise and Fall of a Midwest Princess (Reprodução/ foto por Ryan Clemens)
Capa de The Rise and Fall of a Midwest Princess (Reprodução/ foto por Ryan Clemens)

 

Good Luck, Babe!,  lançado em abril de 2024, impressionou o público e a comunidade LGBT+ ao explicitar a heterossexualidade compulsória —  a pressão social que levam pessoas da comunidade LGBT, especialmente mulheres lésbicas, a negarem sua orientação sexual e viverem à custa do que é esperado conforme as normas sociais. 

Na letra, a americana canta “Você pode beijar cem homens nos bares / bebidas atrás de bebida, só para parar o sentimento”, explicitando uma ação comum entre mulheres sáficas, que, assim como a personagem narrada na música, forçam um relacionamento heteronormativo a fim de serem “nada além de suas esposas”, como canta Chappell Roan durante bridge de Good Luck, Babe.

Capa do Single Good Luck, Babe! (reprodução/foto por Ryan Clemens)
Capa do Single Good Luck, Babe! (reprodução/foto por Ryan Clemens)

A heterossexualidade compulsória é, antes de tudo, uma opressão política, como explica a intelectual norte-americana Adrienne Rich, no artigo  “A heterosexualidade compulsória e a experiência lésbica”. Segundo ela, o “compulsória”  é mostrado como uma “obrigação” para que as mulheres desejem ser héteros ou então para que pensem que só serão alguém quando estiverem ao lado de um homem. Rich afirma que essa é uma questão de controles dos corpos femininos.

Em entrevista à AGEMT, Fernanda Almeida,  27 anos, lésbica e  formada em psicologia, relata como a pressão de estar em  relacionamento heterossexual ainda impacta o seu cotidiano, apesar de já ter bem trabalhado consigo sua autoaceitação lésbica. “Sou lembrada diariamente das coisas que eu não posso ter e não vou ter, ou das coisas que eu deveria ser e fazer.” diz ela 

Fernanda comenta que, antes de se entender como uma mulher lésbica, agia da forma como Chappell Roan descreve em suas músicas. “Inventar uma nova desculpa, outro motivo idiota", relembra de uma parte do hit Good Luck, Babe!, “é o que acontecia comigo: eu tentava dar chances a garotos, e também inventava desculpas para mim mesma, com motivos idiotas para explicar as situações dentro da minha cabeça.”, explica. 

Na opinião da estudante, que se assemelha com o público em geral das redes sociais, Chappell Roan faz um trabalho representativo para a comunidade sáfica e lésbica do mundo. Chappell trouxe, com toda sua qualidade performática e uma voz viciante, um novo olhar para a arte. “Quando eu tinha uns 16 anos, nunca imaginaria uma música assim existindo; e, hoje, quem tem seus 16, 17 ou  20 anos pode acabar achando identificação e compreensão nesse tipo de arte!”, comenta a jovem. 

Pensar em sexualidade como um fator não incluso das questões feministas é um dos erros do movimento. Dar menos espaço para que mulheres lésbicas mostrem suas experiências revela uma visão mais explícita da influência do patriarcado na vida das mulheres em geral, sejam elas héteros ou parte da comunidade LGBT+. O trabalho da Chappell Roan, e de outras artistas queers na indústria, é abraçar um público diverso e, como canta em suas músicas, estar cara a cara com um “Eu te avisei”.