"A igreja sempre vai condenar qualquer pratica de violência", afirma o seminarista Rafael Manente, quando confrontado com os dados sobre aumento de mortes na comunidade LGBTQIP+. Entre os anos de 2022 e 2023 houve aumentou em media 21% no numero de mortes contra homens homossexuais, passando de 96 mortes em 2022 para 118 em 2023. Já o número de mortes de pessoas bissexuais foram de 3 mortes em 2023. Essa variação se baseia no Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ em 2022 e o relatório divulgado pelo Grupo Gay Bahia
O conego José Adriano afirma que o primeiro ponto a ser considerado é que "todas as pessoas independentes de serem homossexuais ou não somos todos criados por Deus e feitos a sua imagem e semelhança e por isso possuímos a dignidade de pessoas humanas e somos proibidos de fazer o mal contra o próximo". Ele ainda lembro dos Dez Mandamentos, em especial o quinto, que "nos proíbe de matar o próximo fisicamente, moralmente e psicologicamente". Enquanto isso, o seminarista Rafael acrescenta que "todos devemos nos amar" .
Para ambos, a Igreja deve acolher os homossexuais que já sofreram violência. O Conego afirma que a igreja "recebe a todos com caridade e amor fraterno". Ele ainda lembra que "Jesus nos ensina a resgatar aquela ovelha que está ferida e machucada".
Conego afirma que as praticas de violência são crimes contra as leis civis e pecado contra as leis de Deus portanto todos agressores cometeram um delito seja um crime seja um pecado e a igreja se compadece e defende os homossexuais que sofrem violência. Sobre essa questão o seminarista Rafael explica que a igreja sempre vai condenar qualquer pratica de violência e desnecessária e continua dizendo que a igreja nunca vai recorrer da violência contra qualquer estilo de vida.
Sobre a norma da igreja para combater a violência contra homossexuais o Conego José Adriano menciona o documento da igreja fidúcia supplicans e diz que este documento foi feito para abençoar a todos inclusive os homossexuais são acolhidos com todo carinho e com todo amor, porem a igreja não dispõe de nenhuma lei que proíba a violência contra homossexuais, ele explica dizendo que essa é uma função da lei civil proibir a violência contra qual quer pessoa e continua falando que a igreja atribui pecado para as pessoas que praticam violência contra o próximo e afirma que os ensinamentos de Jesus são contra a violência física e psicológica após isso conclui respondendo que aquilo que a igreja tem é uma moral proibitiva contra a violência e uma moral do amor de Deus para com todos. Já o Rafael acrescenta que a igreja nunca vai utilizar de violência contra ninguém e reafirma que a igreja e contra todo tipo de violência.
O estudante de jornalismo na PUC-SP, Oliver Santiago, vive em meio a essa situação e conta ter sofrido humilhação e violência verbal. Ele relembra que tudo começou após ter falado sobre sua bissexualidade com seus amigos, que começaram a tirar sarro dele praticando até web bullying durante o jogo Gartic Phone. "Todas as vezes que a gente conversava sobre relacionamentos, eu era humilhado". Ele lidou com essa violência conversando bastante com as pessoas que foram assediosas e também explicando sobre ele mesmo. Por ser um grupo da periferia, Oliver acredita que essa violência vem do fato deles terem uma mente mais fechada por conta da cultura do bairro.
Palavras como “lacre” ou “babado” ditas cotidianamente por diversas pessoas, são gírias que vão além de um simples vocabulário divertido. O dialeto Pajubá possui origens em grupos étnicos-linguísticos africanos, como o iorubá e o nagô. As expressões criadas ou adaptadas por mulheres trans e travestis, foram utilizadas na ditadura militar como meio de resistência a repressão que a comunidade vivia.
O dialeto incorpora uma mistura de termos africanos com o português, que são comuns em terreiros de Umbanda e Candomblé – religiões que de certa forma acolhem mulheres trans e travestis – resultando em palavras incompreendidas por quem é de fora da comunidade em questão.
“Foi através dessa linguagem que mulheres trans e travestis aprenderam a sobreviver nas ruas, onde as suas vidas eram completamente devastadas, principalmente com a legitimação da Operação Tarântula, que era uma forma arbitrária e violenta para a morte de travestis no período da ditadura militar” diz Liah Normany, atriz e graduanda em estudos africanos e afro-brasileiros.
A operação policial batizada de Tarântula, de 1987, tinha o objetivo eliminar travestis das ruas de São Paulo, utilizou a justificativa de ‘combate a Aids’ para oficializar a violência contra a comunidade. Assim, o Pajubá foi um aliado, já que quem era de fora do grupo não entendia as palavras enunciadas.
“Meu primeiro contato com o Pajubá foi com as manas travestis quando comecei a minha transição. A partir daí, fui conhecendo e descobrindo mais a fundo de como essa linguagem ainda se mantém viva, sendo ressignificada e incorporada como um meio de resistência na atualidade” afirma Liah.
A linguagem se tornou habitual para muitas pessoas, principalmente jovens. A popularização se deu, em grande parte, pela internet com memes e personalidades famosas. “É uma linguagem que ainda é muito característica no meio LGTBQIA+, mesmo possuindo suas origens na comunidade trans, é muito agregadora a inclusão de toda a comunidade que se faz aliada para que essa sociabilidade linguística não desapareça” conta a atriz.
Em 2006, foi publicado o dicionário intitulado de Aurélia – a dicionária da língua afiada, escrito por Ângelo Vip e Fred Lib. Com muito humor, a ‘dicionária’ descreve termos (principalmente em pajubá) da comunidade LGBTQIAP+ de diversos países falantes da língua portuguesa, fugindo do politicamente correto.
O livro deixou de circular após ameaças de ação judicial por parte da Editora Positivo e da família do lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda, que detém os direitos dos produtos Aurélio, alegando que o livro seria uma ‘deturpação do nome’, mas argumentando que ‘não seria uma prática homofóbica’.
Algumas expressões em pajubá e seus significados:
Aquenda o alibã: cuidado com a polícia
Neca: pênis
Dar a Elza: roubar, afanar
Amapô: mulher
Acué: dinheiro
Picumã: Cabelo, peruca
Gongar: Ridicularizar, fazer zombaria
“A bandeira é nossa.” disse Vannila Vanna, 54 anos, Drag Queen de Natal, que participou da 28a. Parada do Orgulho LGBT+ com a amiga Bárbara Souza. Ambas vestiam as cores do Brasil “É a retomada da nossa bandeira, porque até então ela havia sido tomada. Mas viemos para mostrar que nós podemos e devemos usar verde e amarelo” disse Bárbara, 50, também de Natal.
“A visibilidade para nós, como gays, travestis, transexuais, lésbicas, ajuda nessa manifestação. É muito importante”, disse ainda Vannila à reportagem. A Parada foi realizada no dia 2 de junho, em São Paulo, e é considerada a maior do mundo. Para os organizadores havia 3 milhões de pessoas, dado contestado pelo Monitor do Debate Política no Meio Digital. Para ele, a concentração foi de cerca de 73 mil de pessoas, segundo um projeto de pesquisa realizado pelo Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da Universidade de São Paulo (USP).
A Parada contou com 16 trios elétricos com diversas atrações, entre elas: Pabllo Vittar, Gloria Groove e Sandra Sá. Além disso, o candidato a prefeito Guilherme Boulos e a deputada Erika Hilton -ambos do PSOL - marcaram presença. "Já se foi o tempo em que as pessoas não podiam ser quem elas eram, em que a intolerância silenciava a diversidade" disse o candidato à prefeitura paulistana. Logo após, ao lado de sua colega de bancada, foi aclamado pelos participantes, aos gritos de “prefeito”.
O candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), assim como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não compareceram ao evento. Ambos, contudo, participaram da Marcha para Jesus que ocorreu na quinta-feira (30)
A Parada ocorreu de maneira pacífica e contou com muitas famílias e crianças. Até mesmo animais de estimação como a Stela, cadelinha sem raça definida que esteve presente no evento. Foram mais de 1400 policiais mobilizados para a proteção do evento.
A 28° edição foi influenciada pelo recente show da Madonna no Rio de Janeiro, dia 4 de maio, quando a cantora e Pabllo Vittar usaram a camisa da seleção brasileira. Assim, o evento foi marcado pelas cores verde e amarela. O objetivo é ressignificar as camisas que costumavam ser usadas por manifestantes e apoiadores do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL).
As cores que fizeram a avenida mais popular do Brasil brilharem não vieram somente das roupas coloridas e das bandeiras que os participantes orgulhosamente se enrolavam. Muitos estabelecimentos decoraram suas fachadas com balões e tecidos das cores do arco-íris, a bandeira LGBT+.
Além da Parada
Além do evento principal, durante a Semana da Diversidade outras atividades em prol do orgulho LGBT+ ocorreram na capital paulista. A Feira Cultural da Diversidade na quinta feira (30) no memorial da resistência da América Latina contou com diversas apresentações. A que mais chamou atenção do público foram do grupo “As Cheers”, grupo de cheerleaders formado apenas por homens.
O bailarino Guilherme Leal Nunes, de 32 anos, também participa do grupo. Desde criança, sempre teve o sonho de ser cheerleader, mas enfrentou resistências. "Não podia por um simples motivo: ser menino. Por isso pensamos em produzir essa arte entre amigos", diz Guilherme em entrevista ao G1.
No sábado (01) ocorreu a 7° Marcha do Orgulho Trans e a 1° Corrida do Orgulho LGBT+. O primeiro aconteceu no Centro de São Paulo a partir das 10 da manhã. Ocupou o Largo do Arouche e ruas do entorno com música, ativismo e manifestações em defesa dos direitos de pessoas trans, travestis e não-binárias.
A Marcha que também manifestava reivindicações de direitos para pessoas trans, contou também com a presença de autoridades políticas, como a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), entre outros políticos de outros estados.
A Corrida do Orgulho LGBT+ aconteceu pela primeira vez no parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo. Foram duas opções para todos: corrida (5 km) e caminhada (3 km).
"Com preconceito não tem jogo”, diz a campanha realizada pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) em apoio à causa LGBTQ+, procurando combater as diversas formas de discriminação no voleibol. As ações foram realizadas nos jogos femininos da Liga das Nações, e em vídeos publicados nas redes sociais oficiais, tendo início no dia 17 de maio, considerado Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia, e se estendendo até o final da semana seguinte.
As atletas Nyeme e Natinha, jogadoras da posição de líbero, entraram na quadra do Maracanãzinho com camisetas comemorativas que traziam bandeiras diversas da luta LGBTQIAPN+. Além delas, outra importante figura do vôlei brasileiro também participou da campanha: a antiga oposta Sheilla Castro, bicampeã olímpica, entrou ao lado da capitã Gabi, levando o ginásio carioca à loucura.
O voleibol, um dos esportes mais populares do mundo, tem mostrado avanços significativos em termos de inclusão e representatividade dessa comunidade. No cenário global e nacional, atletas, técnicos e torcedores têm se unido para promover um ambiente mais acolhedor e seguro para todos, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero.
Tifanny Pereira é uma das maiores celebridades do vôlei atual. Nascida em Goiás, a estrela quebrou todas as barreiras e se tornou a primeira mulher transexual a disputar uma partida do campeonato da Superliga de Vôlei.
Tifanny começou na carreira profissionalmente em Portugal, jogando nos times da categoria masculina. Após sua cirurgia de transição de gênero e debates e atualizações nas regras, ela voltou a competir, agora na categoria feminina, em 2017, se tornando a primeira mulher trans da divisão. A conquista da atleta abriu portas para diversas outras personalidades, além de mostrar uma nova face mais inclusiva do esporte.
Mesmo após tantos anos como atleta e vitórias em campeonatos no bolso, Tifanny contou ao site SportBuzz como lida com as constantes críticas e invalidações que continua recebendo: “Transfobia é crime no Brasil e é equiparado a crime de racismo. A pessoa pode ser contra eu jogar, mas ela não tem o direito de me difamar, de me chamar de ‘homem’ e não tem o direito de me rebaixar como pessoa. E o que eu faço? Eu evito ver os comentários. Não vai adiantar bater boca com uma máquina, porque quem está por trás dessa máquina é uma pessoa sem coração e sem visibilidade, que em muitas vezes estão querendo atenção”. A jogadora, aos 39 anos, segue atuando no ramo e sendo uma inspiração diária de superação e conquista da comunidade LGBTQIAPN+ nos esportes.
Representatividade e identificação
Em entrevista realizada à Agência Maurício-Tragtenberg (AGEMT), uma jogadora de vôlei do clube Ipiranga, pertencente ao grupo LGTBQIAPN+, que preferiu não ser identificada, compartilhou sobre sua experiência individual sendo pansexual no ramo esportivo, e abordou diversos aspectos. “Comigo nunca ocorreu, mas confesso que tive medo de me expor, por medo de julgamento, além de que, o time é todo feminino, então achei que iriam olhar torto, mas nada disso aconteceu.”
A atleta comenta sobre crescer no ramo vendo outros competidores como imagem a seguir: “Tem diversas atletas, não só dentro do vôlei mas dentro de outros esportes, que eu tenho assim como imagem e respeito, tenho muito apreço pela Carolana da seleção, pela Kisy, a Amanda (namorada da Kisy) que joga pelo Osasco. E outras atletas que são assumidamente LGBT e estão na luta pelas pautas.”. Ela também conta que a admiração pelas jogadoras vai além das quadras, impactando no seu cotidiano e na visibilidade direta do esporte.
Chappell Roan, dona do hit Good Luck, Babe!, que debutou em 77 lugar no Billboard Hot 100 nos Estados Unidos, é cantora e compositora norte americana do interior do Mississipi, Com suas músicas festivas e com referências drags, vem dominando as redes sociais como Tiktok e X (antigo Twitter), tornando-se umas das ícones Queer da atualidade.
A artista, que se identifica como uma mulher queer, vivencia em suas músicas temas recorrentes da comunidade LGBT+.
Ser do interior também impacta em sua carreira e estética musical. Em entrevista para revista americana Paper, Chappel fala sobre a importância de referenciar o lugar onde nasceu, usando chapéus de cowboys nos shows para lembrar a todos que existem pessoas LGBT+ em todos os lugares, só não possuem espaços como aquelas que moram em grandes cidades.
Seu álbum de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, que chegou ao Top 2 no chart de álbuns pop no Apple Music, atrás apenas do novo disco da Taylor Swift, The Tortured Poets Department, conta com 14 faixas, entre elas Femininomenon, Red White Supernova, Hot To Go! e Casual. Com sua maquiagem no estilo drag e seus cachos ruivos à solta, Chappell Roan traz o gênero Pop cada vez mais extravagante, recorrendo a letras que remetem ao relacionamento sáfico - relacionamento entre duas mulheres.
Good Luck, Babe!, lançado em abril de 2024, impressionou o público e a comunidade LGBT+ ao explicitar a heterossexualidade compulsória — a pressão social que levam pessoas da comunidade LGBT, especialmente mulheres lésbicas, a negarem sua orientação sexual e viverem à custa do que é esperado conforme as normas sociais.
Na letra, a americana canta “Você pode beijar cem homens nos bares / bebidas atrás de bebida, só para parar o sentimento”, explicitando uma ação comum entre mulheres sáficas, que, assim como a personagem narrada na música, forçam um relacionamento heteronormativo a fim de serem “nada além de suas esposas”, como canta Chappell Roan durante bridge de Good Luck, Babe.
A heterossexualidade compulsória é, antes de tudo, uma opressão política, como explica a intelectual norte-americana Adrienne Rich, no artigo “A heterosexualidade compulsória e a experiência lésbica”. Segundo ela, o “compulsória” é mostrado como uma “obrigação” para que as mulheres desejem ser héteros ou então para que pensem que só serão alguém quando estiverem ao lado de um homem. Rich afirma que essa é uma questão de controles dos corpos femininos.
Em entrevista à AGEMT, Fernanda Almeida, 27 anos, lésbica e formada em psicologia, relata como a pressão de estar em relacionamento heterossexual ainda impacta o seu cotidiano, apesar de já ter bem trabalhado consigo sua autoaceitação lésbica. “Sou lembrada diariamente das coisas que eu não posso ter e não vou ter, ou das coisas que eu deveria ser e fazer.” diz ela
Fernanda comenta que, antes de se entender como uma mulher lésbica, agia da forma como Chappell Roan descreve em suas músicas. “Inventar uma nova desculpa, outro motivo idiota", relembra de uma parte do hit Good Luck, Babe!, “é o que acontecia comigo: eu tentava dar chances a garotos, e também inventava desculpas para mim mesma, com motivos idiotas para explicar as situações dentro da minha cabeça.”, explica.
Na opinião da estudante, que se assemelha com o público em geral das redes sociais, Chappell Roan faz um trabalho representativo para a comunidade sáfica e lésbica do mundo. Chappell trouxe, com toda sua qualidade performática e uma voz viciante, um novo olhar para a arte. “Quando eu tinha uns 16 anos, nunca imaginaria uma música assim existindo; e, hoje, quem tem seus 16, 17 ou 20 anos pode acabar achando identificação e compreensão nesse tipo de arte!”, comenta a jovem.
Pensar em sexualidade como um fator não incluso das questões feministas é um dos erros do movimento. Dar menos espaço para que mulheres lésbicas mostrem suas experiências revela uma visão mais explícita da influência do patriarcado na vida das mulheres em geral, sejam elas héteros ou parte da comunidade LGBT+. O trabalho da Chappell Roan, e de outras artistas queers na indústria, é abraçar um público diverso e, como canta em suas músicas, estar cara a cara com um “Eu te avisei”.