Disputa destaca segurança pública, moderação política e efeitos do voto obrigatório.
por
Fábio Pinheiro
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
|
26/11/2025 - 12h

O Chile chega ao segundo turno das eleições presidenciais de 2025 em meio a intensos debates sobre segurança, migração e economia, após uma votação acirrada que colocou Jeannette Jara, do Partido Comunista do Chile (PCCh), e José Antonio Kast, do Partido Republicano (PLR), na disputa do segundo turno.

Apesar da filiação partidária, Jara adota um discurso mais moderado, enquanto Kast suavizou parte da retórica ao longo da campanha. O cenário reforça uma eleição marcada por movimentos ao centro e pela retomada do voto obrigatório.

Embora seja filiada ao Partido Comunista, Jara não deve ser interpretada como uma candidata de linha comunista clássica, explica Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP: “O discurso dela é social-democrata, centro-esquerda. Ela sai das primárias com esse objetivo: reunir pautas amplas da esquerda e atrair setores moderados.” Segundo o professor, a candidata tenta recuperar votos de Franco Parisi e Evelyn Matthei, figuras que atraem eleitores flutuantes entre centro-direita e centro-esquerda.

A presença de Kast no segundo turno está diretamente ligada ao peso da segurança pública no debate chileno. Desde a pandemia, o país enfrenta aumento de furtos e crimes de menor potencial ofensivo, o que se tornou tema central no pleito. “O principal incômodo do chileno hoje é a segurança”, afirma Arthur. 

Ele explica que parte do eleitorado vinculou o aumento dos crimes à chegada de imigrantes — especialmente venezuelanos, colombianos e haitianos —, ainda que não haja dados que sustentem essa associação. Essa percepção, porém, alimenta o discurso da extrema-direita e fortalece candidaturas como a de Kast.
 

O Palácio de La Moneda
O Palácio de La Moneda. Foto: Wikimedia Commons

As chances de Jara reverter o cenário são consideradas baixas. Segundo Arthur, a candidata chegou com cerca de 26% dos votos — número insuficiente para equilibrar a disputa. “Ela precisa conquistar muitos votos, mas a maior parte dos eleitores dos candidatos derrotados é da direita”, avalia o professor. Apesar disso, ele aponta que parte dos votos do centro pode migrar para Jara, ainda que não em volume suficiente para garantir uma virada.

Outro ponto decisivo é o voto obrigatório. Esta é a primeira eleição presidencial chilena com participação compulsória, e a multa para ausência pode chegar a US$ 100. “Metade da população não votava. Agora, muitos irão às urnas pela primeira vez”, destaca Arthur. Para o professor, essa mudança tende a influenciar mais o comportamento eleitoral do que as instabilidades anteriores, como os protestos de 2019 ou o processo constitucional rejeitado em 2022.

Com o segundo turno marcado para 14 de dezembro, o Chile se vê diante de dois caminhos distintos. Jara tenta consolidar uma frente moderada capaz de ampliar sua base, enquanto Kast se apoia no discurso de segurança e no sentimento de urgência que vem crescendo no país. Em meio a transformações sociais e a um eleitorado expandido pelo novo sistema de participação, o país decide seu próximo capítulo político.

Segundo professora da Unifesp, países não demonstram mais interesse no funcionamento da instituição
por
Renata Bittar
|
13/11/2025 - 12h

Fundada em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) representa um marco histórico e o compromisso da humanidade na cooperação para a paz. Atualmente, no entanto, a organização se encontra em uma posição de risco e vulnerabilidade diante da multiplicação de conflitos e governos autocráticos que desprezam os princípios do multilateralismo.

Segundo Cristina Pecequillo, professora livre docente de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o 80° aniversário da ONU, embora digno de comemoração, ocorre em um momento de perda de influência da instituição. Na visão da pesquisadora, a data é um convite à reflexão sobre os caminhos que a entidade poderá trilhar para se manter essencial no âmbito internacional.  

Cristina observa que a geopolítica mundial se transforma dia após dia e coloca em xeque a segurança e a soberania de cada nação. Situações delicadas, como a de Israel e Gaza, são cada vez mais comuns. Da mesma forma, discursos autoritários como os de Donald Trump estão cada vez mais fortes, fragilizando as relações diplomáticas. A especialista afirma que a ONU vem gradualmente perdendo relevância e passa por um longo processo de definhamento financeiro e político. Segundo Cristina, a instituição se transformou em um instrumento de interesse do governo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, serve de palco para as ações de Trump e impõe barreiras a elas. 

Para Cristina, Trump tem diversas alternativas políticas para cada nação e situação. “Trump tem como opção, aos demais organismos multilaterais, a completa destruição, uma repactuação de relações e, no caso das Nações Unidas, um meio termo, já que não investe mas precisa dessa visibilidade para passar algumas políticas para o sistema internacional”, afirma, acrescentando que as circunstâncias atuais exigem uma reforma que permita a ampliação do Conselho de Segurança e identifique novos rumos e missões para o órgão.

Conforme a professora, as nações divergem em relação a como deve ser feita a transformação e o fortalecimento da ONU. “Nem todos os membros estão satisfeitos com o sistema multilateral: uns vão querer reformar, como o Brasil e a China, e outros vão querer fazer uma transformação mais séria e utilizar o organismo para os seus próprios objetivos”, afirma. 

Segundo ela, o interesse e o investimento na instituição ocorreram mais devido ao individualismo do que à proteção geral. Cristina explica que, se a organização não tiver apoio ou respeito de seus integrantes, ela não irá funcionar.

De acordo com a estudiosa, a instituição, que anteriormente representava manutenção e mediação da paz entre nações, ficou em segundo plano e perdeu o sentido para os Estados. Essa ausência de interesse é evidente e contestada. A organização, ainda que desempenhe algum papel em conflitos globais, foi enfraquecida e se distanciou das responsabilidades políticas. Seu funcionamento está inteiramente dependente do comportamento de grandes potências, nações com mais dinheiro e poder que controlam a política e a economia.

Em seu aniversário de 80 anos, a ONU, que se manteve firme em conflitos como a Guerra Fria, desenvolveu um novo projeto de operação devido ao aumento das crises globais e desigualdade. O projeto “ONU 80”, anunciado em março de 2025 pelo secretário-geral Antônio Guterres, busca modernizar o exercício da organização e reafirmar seu impacto. A proposta tem como principal objetivo aumentar a relevância do órgão por meio de três pilares: mais eficiência e menos burocracia, revisão de mandatos e ajustes na estrutura e nos programas.

A ONU enfrentou, e continua enfrentando, crises humanitárias de imensa dimensão e complexidade. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, a instituição afirma trabalhar fortemente em ajuda humanitária e nos esforços que influenciam a diplomacia no conflito. Cristina afirma que a sociedade tende a ter uma visão muito positiva sobre o surgimento e a consolidação da ONU, o que se reflete nas grandes disputas geopolíticas e geoeconômicas de cada época.

António Guterres relembra, em sessão comemorativa aos 80 anos da ONU, que grande parte de antigos funcionários das Nações Unidas carregava marcas visíveis da guerra (ONU / Loey Felipe)

 

 

 

 

Oposição acusa governo de matar mais de 700 pessoas durante manifestações. Orgãos internacionais apontam irregularidades no pleito
por
Octavio Alves
|
10/11/2025 - 12h

O país africano vive dias de tensão política, após as eleições gerais realizadas em 29 de outubro, que deram vitória à presidenta Samia Suluhu Hassan, do partido governista Chama Cha Mapinduzi (CCM). De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional do país, Samia conquistou cerca de 97,66% dos votos, garantindo um novo mandato de cinco anos. Ela atuava como vice-presidente quando o antecessor, John Magufuli, morreu em 2021. A morte de Maqufuli  transformou Samia na primeira presidenta da história do país e o pleito recente, na primeira presidenta eleita.

Embora os números sejam altos, as eleições foram duramente criticadas por observadores internacionais e organizações de direitos humanos, que relataram irregularidades, repressão a opositores e violência generalizada.

Durante o período pré-eleitoral, houve relatos de prisões arbitrárias, censura à imprensa, intimidação de ativistas e até o rompimento do sinal de internet, bem na semana do pleito. No dia da votação, diversos centros registraram falhas de comunicação e bloqueios de internet, o que dificultou a fiscalização do processo. 

O partido opositor Chadema denunciou que pelo menos 700 manifestantes foram mortos em três dias, número que subiu para 800 no sábado (08), segundo o porta-voz John Kitoka. Contudo, fontes hospitalares citadas pela agência EFE, afirmam que o número de mortos chega a, pelo menos, 150. Até o momento, a imprensa internacional não conseguiu averiguar a veracidade destes dados.

 

Samia na posse oficial se tornando a primeira presidente mulher eleita. Foto: Tanzania State House
Samia Suluhu Hassan durante a posse oficial como a primeira presidenta  eleita da Tanzânia. Foto: Tanzania State House

 

A Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciaram o uso excessivo da força, com dezenas de mortos e centenas de detidos, números ainda não confirmados oficialmente. A União Europeia e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) afirmaram que as eleições “não permitiram aos cidadãos expressar livremente a sua vontade democrática”.

Em seu discurso de posse, realizado em 3 de novembro, Samia Suluhu Hassan afirmou que sua vitória “representa a vontade do povo tanzaniano” e prometeu restaurar a ordem e focar em desenvolvimento econômico, educação e infraestrutura. No entanto, líderes da oposição questionam a legitimidade do resultado.

Desde a independência, em 1961, o CCM, sucessor do primeiro partido eleito TANU, domina o cenário político tanzaniano. Críticos têm apontado para a necessidade de uma reforma eleitoral, o que foi utilizado como justificativa à prisão do líder do partido Chadema, Tundu Lissu, sob acusação de traição.

Lissu está preso desde o mês de abril, acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, contribuiríam para uma votação livre e justa. Outra importante figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedida de concorrer.

Observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bloco econômico regional, afirmaram em comunicado que as eleições de 29 de outubro não atenderam aos princípios e diretrizes do grupo para eleições democráticas, citando principalmente a proibição da candidatura de opositores.

A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
|
06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

trump
Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

bama
Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
bernie
O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

A post shared by IAA MOBILITY (@iaamobility)

 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

1
Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

2
Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

3
Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

4
"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

5
Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

6
Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

7
Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

8
Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Fenômeno provocou a evacuação de milhares de pessoas. A passagem do tufão foi a tempestade mais forte a atingir a Ásia neste ano.
por
João Victor Tiusso e Lucca Fresqui
|
17/09/2024 - 12h

 

O número de mortos causados pela passagem do supertufão Yagi no Vietnã ultrapassou a casa das 290 vítimas. Outras 38 pessoas estão desaparecidas e mais de 2.000 estão feridas, segundo a agência de gerenciamento de desastres. Milhares de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas.

Além disso, a produção industrial em várias províncias do norte foi interrompida, 235.000 residências foram danificadas e mais de 300.000 hectares de arroz e plantações comerciais foram inundados.

O tufão Yagi atingiu o norte e nordeste do Vietnã há mais de 10 dias, no que foi a maior tempestade na Ásia neste ano. Segundo estimativas, o prejuízo econômico chegou a 1.6 bilhões de dólares. Outros países também foram afetados pelo tufão, incluindo Laos, Tailândia, Mianmar e Filipinas. 

O Vietnã se prepara para novas inundações, já que uma nova tempestade se aproxima da costa central. Ainda há incertezas quanto ao curso, velocidade e intensidade, mas as províncias costeiras já foram alertadas pelas autoridades.

Segundo a agência meteorológica, essa nova tempestade pode atingir a cidade de Danang na noite de quinta-feira (19) ou no início de sexta-feira (20).

Com uma longa costa voltada para o Mar da China Meridional, o país do Sudeste Asiático é propenso a tempestades tropicais que podem causar um grande número de vítimas, sérios danos à produção industrial e à infraestrutura. 
 

Cidadãos norte-americanos não escolhem diretamente o presidente do país
por
Ana Julia Mira
|
11/09/2024 - 12h

Os eleitores dos Estados Unidos irão às urnas no dia 05 de novembro para decidirem entre os candidatos que concorrem à presidência do país. Por terem um sistema bipartidário, na prática, apenas dois partidos estão na disputa: Republicano, com Donald Trump, e Democrata, com Kamala Harris.

Ao lado esquerdo, a imagem retrata Kamala Harris, Vice-presidenta dos Estados Unidos e candidata à presidência pelo partido Democrata. Ao lado direito, está o ex-presidente, Donald Trump, que concorre ao mesmo cargo pelo partido Republicano.
Kamala Harris e Donald Trump disputam a presidência dos EUA. Fotos: Brendan Smialowski e Patrick T. Fallon/AFP

No entanto, a população não vota diretamente em Trump ou Harris, mas em representantes do seu respectivo Estado, que são denominados Delegados.  Esses membros juntos formam um Colégio Eleitoral. O colegiado é quem votará para a escolha da presidência e vice-presidência. 

Essa forma de eleição é chamada sufrágio eleitoral indireto e determina que cada Estado possua uma quantidade de delegados equivalente ao número de representantes no Congresso. 


O Colégio Eleitoral é formado por 538 delegados - sendo 1 para cada membro da Câmara dos Deputados (435) e do Senado (100), e mais 3 no Distrito de Columbia -  para vencer a eleição, o candidato precisa atingir 270 votos. 

Em geral, o ganhador pela decisão popular também deve conquistar todos os delegados do estado, mas caso a maioria dos votos dos delegados seja para o concorrente, o candidato escolhido pela população "perde" os votos dos representantes que também votaram nele e elegem o partido adversário como escolhido pelo estado, independentemente da vantagem anterior. 

Em um Estado como a Califórnia, que possui 55 delegados, se determinado candidato conquistar 28 , todos os 55 votos vão para ele.

Para concorrer ao cargo de presidente, é necessário cumprir alguns requisitos: ser nativo dos EUA, ter mais de 35 anos e ser residente do país há mais de 14 anos. Além disso, precisa passar por um processo chamado “primárias”, uma espécie de eleição interna dos partidos que determinam quem será o candidato.

O Professor Doutor de Relações Internacionais, Rodrigo Duarte, afirma que as eleições estadunidenses acontecem dessa forma por uma tentativa de distanciamento do país de sua raiz republicana europeia e, mesmo que muitos encarem como um sistema pouco democrático, dificilmente poderá ser modificado no futuro.

Até o atual momento, pesquisas realizadas pelo portal Fivethirtyeight, Harris está a frente na corrida eleitoral, considerando a opinião pública, ultrapassando o ex-presidente por +2.6 pontos.

 

Gráfico apresenta a diferença de Kamala Harris e Donald Trump na corrida eleitoral, na qual Harris ultrapassa Trump por 2.6 pontos.
Gráfico indica Kamala Harris a frente de Trump na corrida eleitoral estadunidense. Foto: Reprodução / Site: Fivethirtyeight

 

AfD é o primeiro partido de ultradireita a vencer eleições estaduais desde 1945
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
|
05/09/2024 - 12h

 

A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita conhecido por sua postura anti-imigração e envolvimento em polêmicas relacionadas ao nazismo, venceu as eleições regionais no estado da Turíngia, no leste da Alemanha, no último domingo (01). 

Björn Höcke, líder da AfD na Turíngia Foto: Bodo Schackow/ Picture Alliance
Björn Höcke, líder da AfD na Turíngia Foto: Bodo Schackow/ Picture Alliance.

A AfD conquistou 32,8% dos votos, tornando-se o primeiro partido de extrema-direita a vencer uma eleição estadual no país desde a Segunda Guerra Mundial. O resultado reflete uma ascensão da ultradireita alemã, que agora desafia a estabilidade política da região.

Ao analisar o cenário político atual no país , Vinícius Bivar, doutorando em História da Europa Contemporânea, explicou que "é um cenário que conjuga o fortalecimento de movimentos anti-establishment com o enfraquecimento da coalizão governista no poder em Berlim". 

Bivar também destacou que tanto na Saxônia quanto na Turíngia observou-se o crescimento de partidos de viés radical, como a AfD e a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), que se beneficiaram do discurso anti-imigração e contrário ao envolvimento da Alemanha no conflito na Ucrânia, mesmo estando em polos opostos do espectro político.

Na Saxônia, estado vizinho, a AfD também obteve um desempenho expressivo, ficando em segundo lugar com 30,4% dos votos, apenas 1,1% atrás da União Democrata Cristã (CDU), partido de centro-direita que liderou a votação com 31,5%. 

Esses resultados reforçam o crescimento da AfD, que já havia surpreendido ao conquistar 15% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu e a vitória em uma eleição distrital na cidade de Sonneberg, na Turíngia, no ano passado.

Apesar da vitória histórica na Turíngia, a AfD enfrenta resistência significativa para formar um governo, já que os partidos tradicionais, incluindo a CDU, o Partido Social Democrata (SPD) e A Esquerda, rejeitam qualquer aliança com a extrema-direita. 

Os principais fatores que contribuíram para a vitória dos partidos ultradireitistas foram classificados pelo historiador em termos de longo, médio e curto prazo. Segundo ele, "os fatores de longo prazo, ou estruturais, estão relacionados à permanência de um nível desigual de desenvolvimento econômico entre os estados das antigas RFA (República Federal da Alemanha) e RDA (República Democrática Alemã )", aliado à persistência de culturas políticas distintas após a reunificação. 

Além disso, há uma certa nostalgia em relação à percebida estabilidade da vida na antiga RDA, o que contribui para que muitos alemães nesses estados se percebam como "cidadãos de segunda classe".

Em médio prazo, ele apontou os impactos da crise econômica de 2008 e a crise dos refugiados de 2015, que trouxe o tema da imigração para o centro do debate e coincidiram com a radicalização do discurso da AfD. Já os fatores de curto prazo incluem a Guerra da Ucrânia, a eficácia da AfD em mobilizar eleitores jovens através de plataformas como o TikTok, e o atentado terrorista em Solingen, que ocorreu às vésperas das eleições na Saxônia e na Turíngia.

O ataque cometido por um imigrante sírio em Solingen, que resultou na morte de três pessoas, foi amplamente explorado pela AfD para reforçar suas críticas à política migratória do governo. Alice Weidel, líder do partido, afirmou que "as regras de imigração precisam mudar imediatamente" e que a vitória na Turíngia é "um sucesso histórico" para o partido.

Björn Höcke, líder da AfD na Turíngia e condenado recentemente por utilizar slogans nazistas, declarou estar "pronto para assumir as responsabilidades de governar", mas a possibilidade de formar uma coalizão ainda é incerta.

A rejeição à AfD é ecoada pelo chanceler alemão Olaf Scholz, que descreveu os resultados eleitorais como "preocupantes" e pediu que os partidos tradicionais excluíssem os "extremistas de direita". 

Sobreas possíveis implicações da ascensão da ultradireita na Alemanha para a política externa do país e para a União Europeia, Bivar acredita que "no curto prazo, pouco deve mudar", uma vez que os partidos do campo democrático parecem comprometidos com o chamado "brandmauer" (firewall), recusando-se a formar governo com a AfD. 

Contudo, ele alertou que "um crescimento ainda mais expressivo da AfD, sobretudo a nível nacional, pode comprometer a governabilidade do país", podendo no futuro "resultar em uma política externa de viés illiberal (intolerante) que busque, por exemplo, comprometer a relevância da União Europeia em favor de uma aproximação com regimes como a Rússia de Putin".

Scholz argumentou que a AfD está "prejudicando a Alemanha" ao dividir a sociedade e enfraquecer a economia do país. A coalizão de centro-esquerda liderada por Scholz, por sua vez, obteve um desempenho fraco no pleito, aumentando a tensão política no governo um ano antes das próximas eleições gerais na Alemanha.

Com as eleições em Brandenburg se aproximando, onde a AfD também lidera nas pesquisas, o cenário político na Alemanha pode estar à beira de uma transformação significativa. A possibilidade de mais vitórias da extrema-direita levanta preocupações sobre o futuro da democracia alemã e o impacto de um partido que relativiza o nazismo e promove políticas de exclusão em um dos países mais influentes da Europa.

Multidão foi às ruas de Tel-Aviv e Jerusalém no domingo (01) e segunda (02) a favor do fim da guerra Israel-Hamas. Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu negou o acordo em julho.
por
Oliver de Souza Santiago
|
05/09/2024 - 12h

O Estado de Israel está em momento de tensão e crise política desde o início da guerra contra o grupo palestino Hamas no dia 07 de outubro de 2023. As forças armadas israelenses anunciaram no domingo (01), a descoberta de seis corpos num túnel subterrâneo de Rafah. O acontecido causou uma crescente de manifestações no país. Na manhã seguinte (02), uma greve geral foi convocada para criticar o método das negociações do resgate de reféns e pedindo um acordo com o Hamas.

A descoberta de corpos dos reféns do Hamas gera a ira da população israelense nas ruas de Jerusalém. Foto: Florion Goga/REUTERS
A descoberta de corpos dos reféns do Hamas gera a ira da população israelense nas ruas de Jerusalém. Foto: Florion Goga/REUTERS

 

O confronto atual é marcado pela morte de 40 mil palestinos por Israel e 35 mil israelenses pelo Hamas, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza. Israel segue criticada pela comunidade internacional, sendo citada em declaração do presidente do Brasil, Lula, que chamou o conflito de genocídio e comparou as ações tomadas por Israel com o Holocausto, no dia 23 de fevereiro, quatro meses após o início da guerra.

As seis vítimas

Os seis reféns (da esquerda para a direita): Hersh Goldberg-Polin, Carmel Gat, , Eden Yerushalmi, Almog Sarusi, Alex Lobanov, sargento-mor Ori Danino. Foto: The Hostages Families Forum/AP
Os seis reféns (da esquerda para a direita): Hersh Goldberg-Polin, Carmel Gat, , Eden Yerushalmi, Almog Sarusi, Alex Lobanov, sargento-mor Ori Danino. Foto: The Hostages Families Forum/AP

 

Segundo os militares, os prisioneiros foram mortos pelo Hamas, antes da chegada das forças israelenses. Milhares de manifestantes foram às ruas contra o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, durante a tarde do dia 01⁰, pedindo cessar-fogo do conflito entre Israel e Hamas.

Durante as manifestações, bloqueios de estradas foram feitos em Jerusalém. Na principal rodovia de Tel-Aviv, os manifestantes seguravam bandeiras com fotos dos reféns mortos. A greve geral planejada para o dia 02, foi mobilizada pelo maior sindicato de Israel, o Histadrut. O apelo principal feito pelo chefe do sindicato, Arnon Bar-David, foi para que todos os trabalhadores civis se juntem pressionando o governo israelense.

Protesto em Tel Aviv pela liberação dos reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo grupo Hamas. Foto: Ariel Schalit/AP
Protesto em Tel Aviv pela liberação dos reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo grupo Hamas. Foto: Ariel Schalit/AP

 

A autópsia realizada pelo Ministério da Saúde israelense, confirmou as mortes ocasionadas por tiros de curta distância. A estimativa do período do óbito é cerca de 48 a 72 horas antes da checagem feita no domingo (01) pela manhã. É possível que os reféns tenham sido mortos entre quinta e sexta-feira, de acordo com o porta-voz do ministério. 

A população israelense protestou para que Netanyahu fizesse novos esforços no resgate de reféns, que estão sob posse do Hamas em Gaza. O primeiro-ministro tem apoio significativo em sua tática de não fazer concessões ao Hamas, mesmo que isso afete no resgate dos 66 cativos israelenses e estrangeiros restantes em Gaza, segundo o jornal Haaretz.

A greve geral

O Fórum das Famílias dos Reféns e o Histardrut, convocou a paralisação total na segunda-feira (02). A greve afetou empresas de vários setores da economia e o maior aeroporto do país suspendeu pousos e decolagens.

Salas de embarque quase vazias no aeroporto internacional Ben Gourion, em Tel Aviv Foto: AFP - GIL COHEN-MAGEN
Salas de embarque quase vazias no aeroporto internacional Ben Gourion, em Tel-Aviv Foto: AFP - GIL COHEN-MAGEN

Os manifestantes tornaram a bloquear estradas novamente e passeatas foram organizadas para pressionar Netanyahu. O Tribunal Trabalhista, depois de ser acionado pelo Estado, condenou a greve, alegando ser ilegal e definiu um prazo de suspensão da paralisação até 14h30 do horário local.

Um acordo foi feito entre o Tribunal e os sindicalistas, encerrando a paralisação. Os familiares das vítimas e de reféns do grupo terrorista Hamas, incentivam a continuação dos protestos nas ruas de Tel-Aviv, Jerusalém e outras regiões do Estado.

O primeiro ministro descartou o acordo de cessar-fogo em julho deste ano, segundo o tablóide Yedioth Ahronoth. O jornal teve acesso ao relatório que continham as exigências apresentadas por Netanyahu. A suspeita apontada pela reportagem, seria a do premiê ter este posicionamento para prolongar a guerra e sabotar uma trégua em prol de benefício político para si mesmo.

Em meio a crise política, o presidente da França indicou Michel Barnier como novo primeiro ministro do país
por
Vicklin Moraes
|
05/09/2024 - 12h

 

Após dois meses de impasse, o presidente da França, Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira(05), Michel Barnier como novo primeiro-ministro do país. A nação vive uma crise com a ascensão da extrema-direita e meses de paralisação política, depois da derrota de Macron nas eleições do Parlamento Europeu. 

 

Em junho, o presidente dissolveu o parlamento francês, e convocou novas eleições, depois da derrota de seu partido (REM) para o partido (RN) de Marine Le Pen, política populista de extrema direita.

 

Com a nomeação de Michel Barnier, Macron dribla a extrema direita e a esquerda para evitar que o país entre em coabitação. Na coabitação, o presidente mantém o papel como representante em política externa, mas perde a autoridade de definir a política doméstica da nação e , apesar de ser um político de centro-direita, Barnier é aliado do presidente francês 

 

Depois do anúncio, Jean-Luc Mélenchon, líder do bloco esquerdista, convocou protestos. A esquerda lidera o parlamento europeu, após ganhar  as eleições legislativas do país em julho.  Apesar da vitória, como não conquistou a maioria absoluta dos assentos, não tem força para nomear de forma independente um novo primeiro-ministro.

 

Quem é Michel Barnier? 

O atual primeiro-ministro é um político tradicional conservador. Ganhou destaque por comandar as negociações do Brexit, processo que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia, em 2020.

Michel Burnier durante a conferência do Brexit. Foto: Anadolu Agency


Michel Burnier durante a conferência do Brexit. Foto: Anadolu Agency

Michel Barnier ocupou uma série de cargos no governo do país, dentre eles o de Ministro do Meio Ambiente (1993-1995) e Ministro de Estado para Assuntos Europeus (1995-1997) no governo de Jacques Chirac. 

 

O  premiê foi o chanceler da França no início dos anos 2000. Em 2021, anunciou sua pré candidatura à presidência do país, mas desistiu por falta de apoio do partido. Aos 73 anos, ele assume a posição anteriormente ocupada por Gabriel Attal, o mais novo da história no mesmo cargo. 

 

Depois do anúncio, o presidente Emmanuel Macron agradeceu em seu Instagram, Gabriel Attal, primeiro-ministro que renunciou ao cargo em julho. “Com o Governo, você levou o país adiante e contribuiu para o seu brilho num momento importante. Ao serviço dos nossos concidadãos, a França no coração”, afirmou Macron na publicação. 

 

Macron agradece Gabriel Attal no Instagram


Macron agradece Gabriel Attal, antigo primeiro-ministro. Reprodução: Instagram