jovem afegão relata os desafios de sua nova vida em São Paulo
por
Francisco Barreto
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29/04/2025 - 12h

De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre janeiro de 2022 e julho de 2024, mais de 11 mil afegãos chegaram ao Brasil. A maioria se estabeleceu no estado de São Paulo, especialmente na região metropolitana. Estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontam que cerca de 28% residem na capital paulista e 20% em Guarulhos. Aos 20 anos, Habibullah Shariatee carrega em sua trajetória a força de quem precisou recomeçar a vida longe da terra natal. Natural do Afeganistão, ele chegou ao Brasil há três anos, fugindo da instabilidade provocada pela retomada do poder pelo grupo terrorista Talibã. Confira a entrevista exclusiva à AGEMT

 

O processo de nomeação ultrapassa a Capela Sistina e desperta curiosidade pelo mundo
por
Victória Rodrigues
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24/04/2025 - 12h

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a maior autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano. No caso de sua morte ou renúncia, existem protocolos e ritos a serem seguidos para dar início ao processo de sucessão.

 

 

Quando um papa morre, são realizadas tradições litúrgicas. O Camerlengo (cardeal escolhido para exercer as funções interinas do papa) anuncia a morte do pontífice, declarando o tempo de luto.

O velório acontece na Basílica de São Pedro por nove dias, chamados de “Novendiale”. Esses dias são reservados para que fiéis, autoridades e líderes religiosos prestem suas homenagens.

Ao final deste período, um cortejo é realizado, seguido do sepultamento, que tradicionalmente acontece na Basílica de São Pedro, em Roma, exceto quando outro local é escolhido previamente pelo Santo Padre. Em caso de renúncia, é o próprio papa emérito quem anuncia sua decisão.

Até que um sucessor seja escolhido, o Camerlengo ficará à frente do governo da Igreja. Um tempo chamado de “Sé Vacante” ou “Sede Vacante” (sede vazia), que significa que a cadeira do líder da Igreja de Roma está vaga.

Este também é o período em que o Camerlengo reunirá o Colégio de Cardeais. A partir daí, começam as votações que definirão o próximo Pontífice. 

De “Sé Vacante” a “Habemus Papam” 

Entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Papa, o Colégio de Cardeais se reúne na Capela Sistina, onde é realizado o Conclave. 

Em entrevista à AGEMT, o padre Luiz Carlos Brito, da Diocese de Guarulhos, explicou esse processo:  “O Conclave é uma reunião sigilosa, significa ‘trancado com chave’. Nela, será definido o próximo Padre Santo. É sigilosa justamente para não haver influências externas, além de ser um momento de profunda oração para a Igreja”.  

Trancados em uma sala, os cardeais realizam as votações, sendo votante e elegíveis apenas aqueles  com menos de 80 anos. “Para ser eleito, é necessário que um dos cardeais elegíveis atinja pelo menos dois terços dos votos, podendo haver até quatro sessões de votação por dia”, afirma o presbítero. 

Após a contagem dos votos, se o número mínimo não for atingido ou se o escolhido pela votação não aceitar o cargo, uma fumaça preta tomará o céu, declarando encerradas as sessões daquele dia, e a Igreja seguirá sem um Papa.

No entanto, se o número mínimo de votos for atingido e o cardeal eleito aceitar a função de chefe do Vaticano e da Igreja Católica, uma fumaça branca sairá da chaminé da Capela Sistina, anunciando a boa nova ao mundo. 


Fumaça branca confirma a escolha do novo Papa | Foto: Agência Reuters

Em seguida, o cardeal protodiácono, que é o mais antigo do Colégio de Cardeais, tem o privilégio de anunciar “Habemus Papam”, temos um Papa. 

Não existe um período máximo para que o novo Bispo de Roma seja nomeado. O Conclave mais longo na história do catolicismo durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271. Ao final foi eleito Teobaldo Visconti como Papa Gregório X. E a mais rápida das votações foi em 1939, que em duas sessões declarou o Papa Pio XII.

Ao ser eleito, o sucessor de Pedro adota um novo nome. De acordo com o Pe. Luiz, os motivos vão desde referência a nomes de santos ou outros papas, a uma facilidade de tradução para diferentes idiomas.

Os nomes geralmente são escolhidos em referência a algum outro papa ou a algum santo da Igreja Católica, como, por exemplo, Francisco é uma referência a São Francisco de Assis; João Paulo, além de fazer referência aos santos São João e São Paulo, juntou os nomes de seus dois antecessores. Além disso, nome próprio não se traduz, então o nome dos santos já tem  uma adaptação para  cada idioma” explica o sacerdote.

O Papa Francisco foi o 266° líder da Igreja Católica. Sua chegada dividiu opiniões. Nos últimos doze anos, o Santo Padre sofreu críticas por seu posicionamento progressista. Logo após assumir o papado, o Pontífice foi questionado sobre a homossexualidade e respondeu com a frase “Quem sou eu para julgar?”.

Além disso, Francisco seguiu a virtude da humildade de seu Santo patrono. Em uma declaração, disse que “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade". Alguns fiéis chegaram a acusá-lo de heresia e até mesmo de comunismo.

Para o Pe. Luiz, a Igreja é uma instituição que deve se adaptar: “Cada Papa tem um perfil, então seu pontificado será direcionado de acordo com suas convicções, isso gera um impacto na igreja de certa forma. Há alguns progressistas, há outros mais conservadores, e a cada mudança a Igreja Católica Apostólica Romana precisa se adaptar ao novo mandato”.

Pontífice sofreu um AVC e insuficiência cardíaca nesta segunda-feira (21)
por
Lívia Rozada
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22/04/2025 - 12h

 

Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)
Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)

Às 9h45 da manhã no horário de Roma e 04h45 no horário de Brasília, apenas algumas horas após a última aparição pública do Papa Francisco, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Papa havia recebido alta hospitalar fazia um mês e estava sob cuidados médicos, após 40 dias internado com um quadro grave de pneumonia nos dois pulmões.

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o primeiro papa latino-americano: Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco. O pontífice nasceu em uma família de imigrantes italianos em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália no início do século XX para fugir das guerras no continente europeu e sua mãe, Regina Maria Sivori, nasceu em Buenos Aires e era filha de imigrantes. Jorge foi o primeiro dos cinco filhos do casal.

Formação e início da trajetória eclesiástica

Sua vocação religiosa o levou a entrar no noviciado da Companhia de Jesus aos 21 anos. Bergoglio fez o juniorado em Santiago, no Chile, e retornou à Argentina para estudar filosofia, formando-se na Universidade Católica de Buenos Aires em 1960. Entre 1964 e 1966, ensinou literatura e filosofia em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires. Em 1967, deu início aos estudos de teologia, que concluiu em 1970.

Em 1969, o jesuíta recebeu a ordenação presbiterial para se tornar sacerdote da Igreja Católica. Bergoglio foi à Espanha para completar seus estudos religiosos e retornou à Argentina em 1973, quando foi eleito superior provincial dos jesuítas no país e passou a chefiar a Companhia de Jesus argentina.

Após o provincialado, o então sacerdote retornou  ao meio acadêmico em 1980, lecionando em colégios jesuítas, e se tornou reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, cargo que ocupou até 1986, quando foi à Alemanha para concluir seu doutorado. Nos anos seguintes, Bergoglio foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Durante a década de 1990, tornou-se uma figura de destaque dentro da Igreja Católica argentina. Em maio de 1992, o então Papa João Paulo II nomeou Bergoglio para o cargo de bispo auxiliar de Buenos Aires, posição que ocupou até 1997, quando foi nomeado arcebispo adjunto da cidade. No ano seguinte, com a morte do arcebispo metropolitano, Bergoglio passou a ocupar o cargo.

O arcebispo se destacava por sua humildade. Apesar de ocupar  um cargo de grande poder na Igreja Católica, o futuro papa continuava evitando os luxos da hierarquia católica e era reconhecido por se locomover de transporte público e morar sozinho em um apartamento simples na região central da cidade. 

Em 2001, durante o papado de João Paulo II, Bergoglio foi nomeado cardeal e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Em vez de ir ao Vaticano para celebrar a nomeação, convenceu centenas de argentinos a não realizarem a viagem e pediu que destinassem o dinheiro aos pobres. Quatro anos depois, o cardeal participou do seu primeiro conclave, que elegeu o Papa Bento XVI.

Pontificado

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo, por motivos que só seriam revelados após sua morte, em 2022. A decisão do pontífice foi inédita na era moderna, ocorrendo cerca de 600 anos após a última renúncia papal, quando o Papa Gregório XII renunciou. No segundo dia do conclave para nomear uma nova pessoa para o cargo, Bergoglio foi eleito como o 266º papa.

O novo papa escolheu o nome de Francisco como uma referência a São Francisco de Assis, conhecido por sua simplicidade e dedicação aos pobres, tornando-se o primeiro pontífice a usar o nome. A escolha reforçou seu compromisso com a humildade, a paz e a defesa dos mais vulneráveis, traços que marcaram seu papado. Francisco foi o primeiro papa originário do continente americano e do hemisfério sul, além de ser o primeiro papa de origem não europeia em mais de 1200 anos, desde Papa Gregório III, nascido na Síria.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil. Em julho de 2013, Francisco desembarcou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento realizado a cada dois ou três anos, que reúne o papa e milhões de jovens católicos de todo o mundo. Durante a missa celebrada na Praia de Copacabana, o papa reuniu mais de 3,5 milhões de fiéis. Além do Rio de Janeiro, o pontífice fez questão de visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP
Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP

Francisco mantém uma relação de carinho com o Brasil. Alguns meses após a visita ao país, o pontífice recebeu os organizadores da JMJ e, em seu discurso de boas-vindas, brincou: “Os cariocas são ladrões, roubaram meu coração”. Em junho de 2023, o presidente Lula se reuniu com o papa no Vaticano e o agradeceu pela recepção e “boa conversa” sobre a paz no mundo. Um ano depois, na cúpula do G7, os dois se encontraram novamente. Segundo o presidente, conversaram sobre o combate à fome, a paz mundial e a importância de reduzir as desigualdades.

Legado

Francisco foi um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Em comparação com seus antecessores, o pontífice adotou uma postura progressista ao trazer posicionamentos mais liberais e modernos em relação a temas sensíveis para a Igreja Católica. Com mais de uma década à frente da Igreja Católica, implementou reformas e promoveu mais transparência no Vaticano e adotou medidas mais rígidas contra abusos sexuais no clero.

O papa recebeu repercussão mundial por sua postura mais acolhedora em relação à  comunidade LGBTQIAPN+ . Apesar dos seus posicionamentos conservadores, contrários ao aborto, cirurgias de redesignação sexual e casamento homoafetivo, por exemplo, Francisco, em diversas ocasiões, defendeu que membros da comunidade não devem ser marginalizados, mas sim integrados à sociedade. Em entrevista a jornalistas em 2013, o pontífice disse: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.

 

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
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22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
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04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Aprovada antidemocraticamente na última quinta-feira, a reforma causou ondas de protesto na França e a população está longe de aceitar as mudanças propostas
por
Ana Beatriz Villela
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22/03/2023 - 12h

Na última quinta-feira (16), o governo da França utilizou de poderes constitucionais especiais para aprovar a reforma da Previdência. Incapaz de obter o apoio da maioria para o projeto de lei no parlamento, o presidente francês Emmanuel Macron, recorreu ao uso do Artigo 49.3, que permitia ao governo aprovar o projeto de lei na Assembleia Nacional sem votação.

Macron e a primeira-ministra, Élizabeth Borne, estavam cientes do quão antidemocrático seria recorrer a essa manobra, que pode ser utilizada apenas quando há risco de colapso para o governo.

Quando o premiê utiliza deste Artigo, parlamentares têm a opção de apresentar uma moção de censura em até 24 horas. Contudo, ambas moções apresentadas não obtiveram quantidade suficiente de votos para derrubar o projeto da reforma.

A população francesa vem protestando há semanas contra a ação do governo. Segundo o Ifop (um dos principais institutos de pesquisa do país), apenas 24% dos franceses avaliam as mudanças como “aceitáveis”.

Na Praça da Concórdia, que fica próxima ao parlamento, em Paris, cerca de 4 mil pessoas protestaram contra o governo. Houve um princípio de incêndio e confronto entre manifestantes e a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo. Os sindicatos convocaram novas ondas de manifestações para a quinta-feira (23).

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Reprodução: EFE/EPA/YOAN VALAT

 

Entenda os principais pontos da reforma da Previdência na França:

O que mudará no país com a reforma?

  • A idade mínima para aposentadoria sobe de 62 para 64 anos gradualmente até 2030, e o tempo de contribuição para acesso à pensão integral é prolongado de 42 para 43 anos, a partir de 2027.
  • As contribuições também não podem ser superiores a 44 anos.
  • Alguns benefícios foram extintos, como a aposentadoria antecipada dos trabalhadores de transporte público, bancos públicos, setor de gás e elétrico. Contudo, servidores como policiais, bombeiros, garis e enfermeiros, ainda poderão se aposentar antes, mas a idade mínima sobe para 59 anos.

 

O que o Governo diz sobre a necessidade da reforma?

A reforma vai representar uma economia de € 18 bilhões (R$ 101 bi). O gasto da França com o sistema de aposentadorias é o maior do mundo, equivalente a 14% do seu PIB.

Macron fez um pronunciamento nesta quarta-feira (22), e afirmou que a reforma da Previdência vai seguir: “Precisamos andar adiante, a reforma está no interesse superior da nação”.

O presidente francês acrescentou ainda, "vocês acham que eu gosto dessa reforma? A resposta é não". "Poderia ter colocado o problema embaixo do tapete, como muitos antes de mim fizeram, claro que sim. Mas a reforma não é um luxo, é necessária para voltar a dar equilíbrio para o sistema”.

Sobre as manifestações, Macron afirma que “quando os sindicatos se manifestam, eles têm a legitimidade, quando organizam os cortejos, que são contrários a essa reforma, eu os respeito. Mas, não podemos aceitar a violência porque não estamos contentes com alguma coisa".

 

Resultado divulgado na quarta-feira (14) impôs uma derrota ao bloco político de centro-esquerda, no poder há 8 anos. Partido de origem neonazista se torna o segundo maior do país.
por
Luan Leão
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15/09/2022 - 12h

Passados três dias das eleições gerais na Suécia, a atual Primeira-Ministra do país, Magdalena Andersson, reuniu a imprensa em uma coletiva na capital Estocolmo, para comunicar a derrota no pleito do último domingo (11). A disputa entre o bloco governista, de centro-esquerda, e o bloco de oposição, de direita/extrema-direita, foi apertada e decidida por uma vantagem mínima.

As pesquisas de intenção de voto antes das eleições mostravam uma vitória apertada dos governistas, liderado pela Primeira-Ministra. Nas apurações boca de urna, ainda no domingo (11), as projeções eram similares às pesquisas. Porém, no começo da segunda-feira (12), o bloco de direita/extrema-direita começou a aparecer com a maioria dos votos, com cerca de 90% das urnas apuradas.

Ainda na segunda-feira (12), candidatos do bloco de oposição comemoram o resultado junto a seus apoiadores. A Primeira-Ministra, no entanto, não havia declarado a derrota dos governistas. Com a margem de vantagem estreita, ainda era possível uma virada dos governistas, o que dava razão para a cautela de Andersson quanto ao resultado. 

 

Em números



Os números divulgados nesta quarta-feira (14) mostram que o partido Social-Democrata, que está no governo há 8 anos e é o partido que mais vezes governou a Suécia desde 1930, segue sendo o maior do país, tendo conquistado cerca de 30,5% dos votos, o que representa 107 assentos no parlamento. Os Social-Democratas conquistaram 7 cadeiras a mais do que na última eleição, mas foram prejudicados pelo baixo desempenho dos demais partidos da coligação.

Eleições na Suécia
Magdalena Andersson, Social-Democratas (a esq.), Ulf Kristerson, Moderados (centro), Jimmie Akesson, Democratas Suecos (a dir.), em debate durante as eleições. Foto: Jonathan Nackstrand / AFP 

Contudo, uma mudança importante no jogo político sueco ocorreu nas eleições deste ano. O partido de extrema-direita e de origem neonazista Democratas Suecos (SD) obteve um resultado histórico e expressivo. O partido se tornou o segundo maior da Suécia, ao obter cerca de 20,6% dos votos nas eleições; cerca de 73 cadeiras no Parlamento. O resultado mostrou o crescimento dos SD, que em 2006, há 16 anos, conquistaram apenas 3,7% nas eleições legislativas, e chegaram pela primeira vez ao parlamento em 2010, conquistando 5,7% dos votos.

O resultado rebaixou o Partido Moderado, de Ulf Kristersson, que agora é a terceira maior sigla do país, conquistando 19,1%, obtendo 68 cadeiras no Parlamento. Apesar de perder duas cadeiras no Parlamento em relação a eleição de 2018, os Moderados devem liderar o novo governo, já que os SD não conseguem obter apoio suficiente dos partidos para eleger um novo Primeiro-Ministro.

Ainda na aliança de direita/extrema-direita, os Democratas-Cristãos conqusitaram 19 cadeiras, e os Liberais, 16.
 

O resultado das eleições ainda precisam ser oficializados, o que deve ocorrer no próximo final de semana, mas marcam uma importante virada na política sueca.



E agora ?


Com 99% das urnas apuradas, de acordo com a autoridade eleitoral sueca, o bloco formado pelos partidos de direita/extrema-direita (Moderados, Democratas-Suecos, Democratas-Cristãos e Liberais) conquistou 176 das 349 cadeiras no Parlamento. A coalizão governista formada pelos partidos Social-Democrata, Verdes, de Esquerda e de Centro, ficou com 173 assentos.



“O resultado preliminar é claro o suficiente para chegar a uma conclusão” - Magdalena Andersson em coletiva reconhecendo a derrota do bloco governista

Eleições na Suécia
Primeira-Ministra, Magdalena Andersson, reconhece a derrota nas eleições gerais. Foto: Jéssica Gow / TT News Agency / AFP



Depois da divulgação dos resultados, Magdalena Andersson, primeira mulher a ocupar o cargo de Primeira-Ministra no país, e no posto há apenas 10 meses, disse em coletiva que irá renunciar na quinta-feira (15). “Pedirei ao orador que eu seja dispensada do meu posto”, disse Andersson. A premiê completou dizendo que era “importante que a Suécia tenha um novo governo o mais rápido possível”.



“Quando houver um novo governo, vou liderar a social-democracia na oposição. Nós estamos dispostos a cooperar com quem quiser fazer parte da solução dos problemas que o nosso país enfrenta” - Magdalena Andersson em coletiva reconhecendo a derrota do bloco governista


O líder do Partido Moderado, Ulf Kristersson, principal candidato ao posto de Primeiro-Ministro pela oposição, se manifestou através de uma rede social. “Obrigado pela confiança. Agora vamos colocar ordem na Suécia!”, publicou. Kristersson também disse que já deu início aos trabalhos para formar um novo governo, afirmando que “há uma grande frustração na sociedade”, e prometendo um governo “para toda a Suécia e para todos os cidadãos”.

Eleições na Suécia
Ulf Kristersson vai liderar negociações para formação de um novo governo. Foto: Frederik Sandberg / AFP



O principal cotado para o cargo de Primeiro-Ministro de fato terá trabalho para formar um novo governo. Internamente existe a expectativa de que ele tente formar governo apenas com os Democratas-Cristãos, porém, é necessário o apoio dos Liberais e dos Democratas Suecos (SD), partido de extrema-direita, no Parlamento. Já é sabido que os Liberais e os Democratas Suecos divergem em muitas pautas e se recusam a integrar uma mesma coalizão.

Jimmie Akesson, líder do SD e responsável pela ascensão do partido desde 2005, prometeu ser uma “força construtiva e proativa” no governo, complementando dizendo que o trabalho agora é fazer o país “voltar a funcionar bem”. No domingo (11), o líder havia comemorado a provável mudança no poder e revelou desejo de integrar o novo governo. “No momento, parece que teremos uma mudança no poder, e nossa ambição é ter um assento no governo”, disse Akesson. 

Eleições na Suécia
Jimmie Akesson lidera crescimento de partido da extrema-direita desde 2005. Foto: Johan Nilsson / AFP

A fragilidade da coalizão vencedora, fruto dos desafios entre SD e os Liberais, pode fazer com que os partidos apoiem o novo governo no Parlamento, mas não façam parte dele. 

Uma coalizão improvável é a união entre os Social-Democratas, partido mais votado nesta eleição, e o maior partido do país, e os Moderados. Para isso, os Social-Democratas precisariam romper com tradicionais aliados ao centro e à esquerda. Essa aliança entre a centro-esquerda e a direita não ocorre desde a 2ª Guerra Mundial.

 

No governo há oito anos, social-democratas são os mais votados, porém, a maioria absoluta no Parlamento não é assegurada. Partido de extrema-direita cresce e pode liderar bloco de direita/extrema-direita.
por
Luan Leão
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13/09/2022 - 12h

Mais de 7,5 milhões de suecos foram às urnas no último domingo (11) para votar na eleição legislativa no país. A eleição deste ano foi pautada na segurança pública, os recentes tiroteios preocuparam os eleitores. Outros dois pontos de atenção dos votantes na corrida eleitoral foram a inflação crescente e a crise energética após a invasão da Ucrânia.

Segundo as pesquisas mais recentes, a aliança governista receberia entre 48,6% e 52,6% dos votos, contra 47,1% e 49,6% da aliança de direita/extrema-direita.



O que interessou aos eleitores ?

O debate entre os candidatos se baseou em mostrar aos eleitores quem é mais firme contra o crime, em especial de gangues. Tradicional território da direita, o tema da segurança pública foi bastante explorado durante a campanha. Por outro lado, as questões econômicas e energéticas auxiliaram a Primeira-Ministra Magdalena Andersson (Social-Democrata).

Há pouco mais de 10 meses no cargo, Andersson foi Ministra das Finanças de 2014 até 2021, quando se tornou a primeira mulher Primeira-Ministra da Suécia. Contra Andersson, os dois principais opositores são Ulf Kristersson, líder do partido Moderado, e Jimmie Akesson, líder do partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD). 

Eleições na Suécia 2022
Andersson e Kristersson lideram blocos diferentes nas eleições suecas. Foto: Jonathan Nackstrand / AFP 


E os números ?

As apurações preliminares mostram que a coligação de centro-esquerda, formada pelos partidos Social-Democrata, Verdes, de Esquerda e de Centro. A oposição viu o crescimento do partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD) e a queda do partido Moderado.

Os Social-Democratas foram o partido mais votado, com 30,5%. Em segundo lugar aparece o SD, com 20,7%; o partido Moderado, de direita, conquistaram 19% dos votos. Uma pesquisa boca de urna da emissora pública SVT mostrava que o bloco governista havia conquistado 49,8% dos votos contra 49,2% do bloco de oposição, formado pelos Moderados, Democrata Cristão, Popular Liberal e Democratas da Suécia.

Na manhã de segunda-feira (12), o cenário parecia se inverter. Com cerca de 90% dos votos apurados, a oposição estava conquistando 176 assentos contra 173 da centro-esquerda; dos 349 assentos do Parlamento sueco. A autoridade eleitoral prevê o resultado final para ao menos na quarta-feira (14).

Ainda estão sendo contabilizados os votos do exterior e enviados pelos correios e, devido a disputa acirrada, podem alterar o quadro da eleição. Por esse motivo, a Primeira-Ministra, Magdalena Andersson, ainda não reconheceu uma possível derrota. Depois de votar, em um subúrbio de Estocolmo, Andersson falou em “respeitar uns aos outros”. “Quero uma Suécia onde continuamos a desenvolver nossos pontos fortes. Nossa capacidade  de enfrentar os problemas da sociedade juntos, formar um senso de comunidade e respeitar uns aos outros”, disse a premiê.

Primeira-Ministra Magdalena Andersson
Primeira-ministra Magdalena Andersson votando neste domingo (11). Foto: Jonathan Nackstrand / AFP


Em caso de vitória do bloco de direita/extrema-direita, Ulf Kristersson, líder dos Moderadados, surge como favorito para liderar a formação de um governo e se tornar Primeiro-Ministro, colocando fim aos oito anos de governo do Social-Democratas. Porém, com o SD aparecendo com mais votos pode complicar as negociações. “Ainda não sabemos qual será o resultado, mas estou pronto para fazer tudo o que puder para formar um governo novo, estável e vigoroso”, disse Kristersson.

 

Líder dos Moderados pode ser novo premiê
Líder dos Moderados pode ser o Primeiro-Ministro da coligação de direita/extrema-direita. Foto: Fredrik Sandberg / TT News Agency / AFP



Apesar de ainda não ser um resultado definitivo, Jimmie Akesson, líder do SD, comemorou o resultado prévio do partido. “No momento, parece que teremos uma mudança no poder, e nossa ambição é ter um assento no governo”, disse Akesson aos apoiadores. “Independentemente do que aconteça esta noite, a coisa mais importante para mim, para nós, para todos os democratas suecos em todo o país, são os malditos 175 assentos para que possamos finalmente trazer uma mudança de poder e nossa política pró-Suécia”, completou. 
 

Líder da extrema-direita comemora resultado
Líder da extrema-direita, Akesson comemorou o resultado das eleições de domingo (11). Foto: Maja Suslin / EPA

 

De pária a aliado

Com origem neonazista, e um discursos anti-imigração e ultra-nacionalista, o SD passou por uma modernização política, passando a dialogar com maior facilidade com a classe trabalhodora, os aposentados e os setores menos qualificados. Liderado por Akersson desde 2005, o partido se vê em ascensão meteórica, saltando de 3,7% nas eleições legislativas de 2006 para os incríveis 20,7% nas eleições deste ano.

Veja o crescimento em números: em 2010 o partido chegou ao Parlamento, conquistando 5,7% dos votos. Em 2014 a legenda cresceu, subindo para 12,9%; e em 2017 chegou a 17,5%.

Pelo caráter extremista, o SD era considerado um partido pária, e os demais partidos de direita e centro se recusavam a pensar em qualquer aliança para governar que envolvesse a sigla. Porém, nessa eleição, o líder do partido Moderado, Ulf Kristersson, admitiu a possibilidade de uma coligação. Kristersson salientou, porém, que pretende contar com o apoio do SD apenas no Parlamento, optando por formar governo com os Democratas-Cristão e os Liberais. 

 

Com 61,87% dos votos pela reprovação e 38,13% pela aprovação, o projeto foi recusado. Assim, continua em vigor a Carta elaborada na ditadura de Pinochet.
por
Giulia Aguillera
Sônia Xavier
|
10/09/2022 - 12h
Manifestantes vão pra rua após resultado parcial da apuração do plebiscito
Manifestantes vão às ruas após divulgação do resultado parcial do plebiscito. Foto: Martin Bernetti/AFP

No último domingo (4), a população chilena votou em plebiscito pelo projeto de uma nova Constituição. Cerca de 62% das pessoas optaram pelo "Rechazo" (rejeição), contra os 38% dos votos no "Apruebo" (aprovação). 

 

O novo conjunto de leis, se aprovado, seria o primeiro após a Carta Magna elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet, em vigor desde 1980. Entre as principais mudanças propostas pelo texto, está a projeção do Chile como um "Estado plurinacional e democrático de direito". 

 

O governo de Gabriel Boric aguardava a aprovação do novo texto para colocar em prática as reformas sociais prometidas durante sua campanha eleitoral.

 

A decisão de mudar a Constituição surgiu após uma onda de atos contra a desigualdade social em 2019. Conhecido como Estallido social, as manifestações começaram contra o aumento da tarifa de transporte público e passaram a pedir, mais tarde, pela renúncia do presidente Sebastián Piñera, em exercício na época. 

 

Piñera assinou um acordo que propunha a reescrita da Carta, se fosse aprovado. Um ano depois, os chilenos foram às urnas para escolher entre a favor ou contra a reestruturação das leis. A eleição terminou com aproximadamente 80% dos votos dizendo "sim" ao projeto.

 

Em maio de 2021, foi eleita uma comissão responsável por redigir a nova Carta. O grupo era composto por 155 membros, com caráter paritário e progressista, e contava com a participação de 17 representantes indígenas. O texto foi concluído em julho e, se aceito, colocaria em prática uma série de modificações no sistema político chileno.


Os ares que o Rechazo não permitiu que chegassem ao Chile

Fila de chilenos para votação no último domingo
14,7 milhões de chilenos votaram no domingo. Foto:Esteban Félix (AP)

Uma das principais propostas do texto era a eliminação do Senado. A Constituição vigente divide o poder em duas partes: a Câmara dos Deputados e o Senado. Esse segundo, que pode interferir no trabalho dos deputados, chegaria ao fim para dar origem a um modelo com duas Câmaras: o Congresso dos Deputados, cujo papel seria formular leis gerais, e a Câmara das Regiões, exclusiva para leis de acordo regional. 

 

Outra proposta de grande relevância do documento era a criação do Sistema Nacional de Saúde Universal, que destinaria 100% da despesa obrigatória em saúde - os trabalhadores formais, no Chile, são obrigados por lei a investir 7% do salário na área  - ao sistema público.  

 

Na proposta recusada, a interrupção da gravidez de forma voluntária seria permitida por lei. Na constituição de de 1980, é protegida a vida de quem está por nascer, embora, em 2017, o aborto tenha sido descriminzalizado em três circunstâncias: risco de vida da mulher, estupro e inviabilidade fetal. 

 

Direitos aos indígenas e meio ambiente também seriam assegurados. Cerca de 13% da população chilena, as leis vigentes não fazem nenhuma menção aos povos originários. Já o novo projeto reconhecia 11 povos e nações, além de conferir autonomia a eles. 

 

Além disso, o texto conferia um forte carácter ambiental, já que reconhecia a proteção da água e dos direitos dos animais e da natureza como um aspecto fundamental.

 

O projeto de democracia paritária estabelecia, também, que 50% dos cargos de poder e nos órgãos do Estado seriam ocupados por mulheres. Com isso, o Chile se tornaria o primeiro país no mundo a implantar essa medida de igualdade de gênero.

 

A Carta também apresentou proposta de um Sistema de Previdência Social Público, que seria financiado por trabalhadores e empregadores. Um avanço em contraponto ao modelo atual, no qual a aposentadoria depende exclusivamente dos trabalhadores em fundos de pensão privados com pagamentos abaixo dos US $400 dólares estipulado pelo salário mínimo ou 60% menores que o último salário.

 

O papel das fake news no Rechazo

 

Do começo do ano até as vésperas do plebiscito, a aprovação à nova Constituição caiu. Um dos fatores mais fortes que motivou o resultado da votação foi a disseminação de notícias falsas sobre o conteúdo do texto. 

 

Como consequência, a desinformação, somada ao conservadorismo, provocou uma onda de medo nos chilenos, que apresentaram reação negativa à mudança.

Entre as principais fake news que circularam nas redes sociais sobre a Carta, estão a legalização do aborto após os nove meses de gestação; a mudança de bandeira, hino nacional e até nome do Chile; a concentração total de poder nas mãos do líder do país, que possibilitaria a implementação de uma ditadura de esquerda; o fim do direito à propriedade e à herança e a conferência de mais direitos a indígenas e imigrantes do que ao resto dos chilenos.

 

A reação do povo chileno

 

Apesar de já se imaginar o Rechazo, o povo chileno agradou a apuração até ficar, numericamente, impossível a virada. O correspondente internacional no Chile, Rafael Carneiro, em entrevista para a AGEMT, notificou que as pessoas foram pra rua com bandeiras do Chile e fazendo buzinaço de carro para “celebrar o resultado”.

 

Carneiro diz ter tido manifestações contra o resultado no domingo, mas nada muito significativo. "O que eu vi na rua foi o povo celebrando, mesmo”, contou o correspondente.

Chilena beija a bandeira do Chile depois do resultado
População comemora Rechazo. Foto: Reprodução/BBC News

Carneiro ainda menciona as manifestações estudantis que estão ocorrendo desde o início desta semana, mas diz que elas refletem mais as insatisfações não atendidas desde os protestos de 2019, que foram o ponto de partida para a redação da nova Constituição, do que a rejeição da Carta de domingo.

 

“O que eles pediram naqueles protestos de 2019, porque foram eles que iniciaram o 'Estallido social’, não foram atendidos até agora”, explica.

 

Próximos passos

Desde a campanha, o presidente já havia sinalizado que, se houvesse rejeição ao texto, o processo constituinte iria continuar, o que foi assegurado assim que o resultado foi divulgado, na noite de domingo, em discurso para a nação.

 

“Me comprometo a fazer todo o esforço para construir, em conjunto com o Congresso Nacional e a sociedade civil, um novo itinerário constituinte que nos entregue um texto que, a partir dessa aprendizagem, consiga interpretar a maioria dos cidadãos", disse Boric.

Presidente do Chile em discurso para a nação
Gabriel Boric dá entrevista coletiva após a votação do plebiscito sobre o projeto de Constituição, em Punta Arenas, Chile. Foto: AP Photo/Andres Poblete

O governo não possui maioria dos votos na Câmara. A maior parte das cadeiras pertence à oposição, dividida entre centro-direita, direita e extrema direita. Para conseguir mais apoio dos partidos de esquerda dentro do Congresso, o presidente deu início, na terça- feira (6), a uma reforma ministerial.

 

A reforma foi marcada pela saída de Giorgio Jackson da Secretaria-Geral da Presidência, que saiu do comando da secretaria após críticas de diferentes setores políticos por supostamente ter contribuído para a rejeição da Constituição, por falta de diálogo com o Congresso.

 

O cargo foi assumido pela advogada Ana Lya Uriarte, que foi ministra da secretaria do meio ambiente no primeiro mandato da ex-presidente Michelle Bachelet (2007-2010) e chefe do gabinete presidencial no segundo mandato (2014-2018).

 

Outra mudança importante foi a saída da cirurgiã Izkia Siches do Ministério do Interior para a entrada de Carolina Tohá, cientista política, ex-presidenta do Partido pela Democracia, ex-ministra do governo Bachelet e ex-prefeita de Santiago.

 

Dando início às movimentações para construção de um novo itinerário para a Carta Magna, nesta quarta-feira (7), aconteceu a primeira reunião com os líderes dos partidos chilenos no Congresso para acertar as datas e a estrutura da nova Constituição. A ideia para a mesa de diálogo já tinha sido acordada nas primeiras horas após fracasso do plebiscito. 

 

"O diálogo vai se basear aqui no Parlamento, e nós, como governo, vamos acompanhar", disse à imprensa a nova secretária-geral da Presidência, Ana Lya Uriarte, na sede do Congresso na cidade costeira vizinha de Valparaíso.

Entenda o passo a passo dos próximos dias até o enterro da monarca que morreu nesta quinta-feira (08), em Balmoral, na Escócia.
por
Luan Leão
|
09/09/2022 - 12h

A monarquia britânica tem protocolos para tudo e o Palácio de Buckingham já executa o plano denominado "London Bridge", em tradução livre, Ponte de Londres. A operação foi desenvolvida em 1960 e prevê, com detalhes, os protocolos oficiais da realeza para o dia da morte da monarca. 

A Rainha Elizabeth II morreu nesta quinta-feira (08), aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, na Escócia, onde passava o verão. Elizabeth II foi a monarca mais longeva da história do Reino Unido, tendo reinado por 70 anos, comemorados em fevereiro deste ano, como o "Jubileu de Platina da Rainha". 

 

Morre Elizabeth II
Rainha Elizabeth II nas comemorações do Jubileu de Platina. Foto: Hannah McKay / REUTERS

Quem é informado ?

Seguindo o protocolo, o secretário pessoal da rainha deve ligar para comunicar a Primeira-Ministra em atividade, neste caso, Liz Truss, sobre a morte. Todo monarca possui um código para avisar sobre seu falecimento, o de Elizabeth II, de acordo com informações de um memorando vazado há alguns anos, seria: "The London Bridge is down" - (A Ponte de Londres caiu, traduzindo). 

Após o aviso a Primeira-Ministra, o Ministro de Relações Exteriores envia um comunicado para os 14 governos fora do Reino Unido onde a rainha era chefe de estado, além de informar os outros 38 países da Commonwealth. Os oficiais também são comunicados do mais velho no cargo ao mais novo. Após o aviso a todos os ministros, as bandeiras de Whitehall, centro administrativo do Reino Unido, são colocadas a meio-mastro.

A Press Association envia um comunicado para todas as redações do mundo, no mesmo momento em que é afixado o comunicado na parte externa do Palácio de Buckingham.

 

Morre Elizabeth II
Anúncio da morte da rainha em moldura de madeira no Palácio de Buckingham. Foto: Henry Nicholls / REUTERS 

A população é avisada através de um comunicado oficial a imprensa. Um pronunciamento é feito na televisão, e o agora rei Charles III se prepara para uma série de viagens pelo Reino Unido pelos próximos dez dias.

O site da família real também é alterado, ficando apenas uma página preta com um breve comunicado informando sobre a morte da rainha. Os sites governamentais recebem um banner preto em homenagem a Elizabeth II.

Protocolos reais 

Assim que se tornou público o falecimento de Elizabeth II, todas as bandeiras dos palácios ficaram a meio-mastro por dez minutos. De acordo com a Operação London Bridge, as atividades governamentais são suspensas pelo prazo de dez dias, exceto as atividades essenciais. As plenários nos parlamentos da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte são adiadas. 

 

Morre Elizabeth II
Bandeiras das residências reais e edifícios do governo a meio-mastro.
Foto: @10Downingstreet / Divulgação

Caso não esteja reunido, o Parlamento britânico é chamado. Como a monarca estava fora de Londres, foi iniciada, também, a "Operação Unicórnio", que cuida do translado do corpo até a capital do Reino Unido. 

O regresso do corpo da rainha ao Palácio de Buckingham é prevista para o sábado (10). O trajeto deve ocorrer em comboio desde a Escócia, caso não seja possível, o translado ocorre de avião.

Quem fala ?

A Primeira-Ministra, atualmente Liz Truss, última autoridade a se encontrar com Elizabeth II em evento oficial, deve ser a primeira a se pronunciar. 

 

Morre Elizabeth II
Liz Truss foi nomeada pela rainha em Balmoral, na terça-feira (06). Foto: The Royal Family / Divulgação 

D-Day 

O dia da morte da rainha é considerado o Dia D, e todos os dias que se seguem até o funeral são nomeados como Dia D+1, Dia D+2, Dia D+3 e assim por diante. O funeral ocorre no 10° dia. 

Cerimônias 

Ainda no dia do falecimento, ocorre uma cerimônia fechada na Abadia de Westminster, também conhecida como catedral de São Pedro. A cerimônia reúne ministros e, embora planejada, deve parecer "espontânea".


Veja o passo a passo da operação de acordo com o jornal britânico "The Guardian":

Dia D+1 


Conselho de Adesão se reúne para proclamar Charles como rei. O secretário de Gabinete e a Primeira-Ministra se reúnem com o novo rei. A expectativa é de que o rei Charles III fale ao país e a Commonwealth.

Às 12h, horário local, desta sexta-feira (09), os sinos da Abadia de Westminster, Catedral de St. Paul's e Castelo de Windsor tocarão em homenagem à rainha. Saudações de 96 tiros para marcar cada ano da sua vida serão disparadas no Hyde Park e na Torre de Londres às 13h. 

Dia D+2 e D+3

Rei Charles III é proclamado rei e a proclamação é lida de uma varanda no Palácio St.James, no norte de Londres. outra proclamação será lida na Royal Exchange. Espera-se que Charles III tenha uma audiência com a Primeira-Ministra, o secretário de gabinete, o líder da oposição, o arcebispo de Cantebury e o reitor de Westminster.  

As bandeiras estarão a pleno mastro, e permanecerão assim durante 24 horas. Depois voltarão a meio mastro até o dia seguinte ao funeral. 

O corpo deve ser levado, através de comboio, até o Palácio de Holyroodhouse. Os planos incluem uma procissão ao longo da Royal Mile, em Edimburgo, até a Catedral de St.Giles, onde a família real deve assistir a uma cerimônia reservada, antes da abertura ao público. Em seguida, o caixão será levado para o Palácio de Buckingham. 

Dia D+4

Charles chegará à Irlanda do Norte. Haverá ensaios para o cortejo do caixão da rainha do Palácio de Buckingham e Westminster Hall. (Operação Lion)

Dia D+5

Caixão deve chegar ao Palácio de Buckingham horas antes do cerimonial de estado planejado em Londres. O caixão será transferido de Buckingham até o Palácio de Westminster através de uma rota cerimonial por Londres. Espera-se que o caixão seja transportado em uma carruagem de armas. 

 

Morre Elizabeth II
Rainha será levada ao Palácio de Buckingham. Foto: Will Oliveira / EFE / EPA



Dia D+6 

O corpo da rainha ficará no Palácio de Westminster por três dias recebendo visitas. Haverá um ensaio para o cortejo do funeral de Estado. (Operação Feather / Operação Pena)

Dia D+7

Charles III chegará ao País de Gales e receberá moção de condolências. O rei também terá uma audiência com o Primeiro-Ministro Galês, Mark Drakeford. É esperado que representantes da Commonwealth comece a chegar a Londres.

Dia D+8 e D+9 

São esperados milhares de visitantes em Londres para os últimos dias em que poderão prestar suas homenagens a Elizabeth II, a monarca mais longeva da história do Reino Unido. 

Dia D+10 

Proclamado Dia de Luto Nacional. O funeral de Estado será realizado em Westminster, em todo o país serão cumpridos dois minutos de silêncio ao meio-dia. 

Ao final da cerimônia na Abadia de Westminster haverá um cortejo até o Hyde Park, onde será transferido de carruagem de armas para o carro funerário estadual e viajará para Windsor. 

Elizabeth II será enterrada na abóbada Real, na Capela de São Jorge, do Castelo de Windsor, junto ao pai, Rei George VI, e do marido, Príncipe Phillip.