O Dia das Mulheres é celebrado por mais de 100 países. Mas qual a origem desse dia tão importante? E quando foi que surgiu?
O século XX foi marcado por grandes mudanças, muitas delas, inclusive, aconteceram por meio de greves e manifestações. Um exemplo disso foi a luta das mulheres por melhores condições de vida (principalmente de trabalho) no período da Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Diversos acontecimentos foram não só essenciais para a determinação da data, como para luta feminista. Vale ressaltar que as mulheres estavam se organizando politicamente em diversos lugares do globo. E, por isso, é difícil atribuir o 08 de março em si a um único acontecimento.
É comum a data ser atribuída ao incêndio numa fábrica têxtil em Nova York, EUA, em 1911. O episódio em questão aconteceu no dia 25 de março, e escancarou as horríveis condições de trabalho às quais os trabalhadores eram submetidos. Sendo que anos antes as trabalhadoras da fábrica já haviam feito graves, o que, é claro, foi recusado pela empresa. O que resultou depois na morte de 146 trabalhadores, 125 destes eram mulheres.

Já na Alemanha, foi Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão e defensora dos direitos das mulheres no contexto trabalhista, que deu início à proposta de criar o Dia Internacional das Mulheres. Mas ainda não havia uma data definida.
O 8 de março só se tornaria uma referência em 1917, quando operárias russas foram às ruas para protestar contra a fome e a Primeira Guerra Mundial. Em plena Revolução Industrial, tais movimentações são consideradas determinantes para o início da Revolução Russa (1917 -1923).
A data só foi reconhecida pela ONU em 1975, que considerou este ano como o Ano Internacional das Mulheres. Hoje, a data não se atenta apenas para a comemoração dos avanços que as mulheres conquistaram ao longo dos anos, mas para a conscientização em relação a desigualdade de gênero e engajamento das novas gerações.

O dia 08 de março para as mulheres é, como todos os outros dias, um dia de luta. Não é uma data comercial tampouco uma data romântica, por isso, presentear uma mulher com flores talvez não seja a melhor opção. O problema não está nas flores, muito pelo contrário. A questão é que infelizmente as flores não resolvem temas como a opressão e o apagamento histórico das mulheres.
Por isso, no dia 08 de março é importante lembrar de mulheres que lutaram contra a opressão e o apagamento. Por isso, como forma de homenagear mulheres inspiradoras e não deixa-lás num lugar de esquecimento, esse texto homenageia sete mulheres jornalistas e suas histórias.
Marie Colvin (EUA)

Correspondente de relações exteriores do Sunday Times de Londres, conhecida por cobrir locais de conflito principalmente no Oriente Médio, foi assassinada na Síria em 2012 enquanto cobria a guerra na cidade de Homs.
Em 2016 sua família abriu um processo contra o governo Sírio ao saber que esse estava envolvido em seu assassinato. Em 2019 eles ganham o processo e recebem 302 milhões de dólares do governo sírio.
Constance Cummings-John (Serra Leoa)

Em 1936, Constance recebe uma bolsa de estudos nos EUA e vai trabalhar na Cornell University. Lá vivencia a violência racial e os impactos do colonialismo, assim torna a educação sua principal bandeira de luta e depois da Segunda Guerra participa de movimentos pan-africanos e movimentos pela educação feminina.
Mona Eltahawy (Egito)

Jornalista e comentarista egípcio-americana que escreveu sobre os direitos das mulheres no Oriente Médio e Norte da África. Já publicou no The Guardian, the International Herald-Tribune, The Washington Post, U.S. News & World Report and The New York Times. Ela tem sido uma crítica da violência de gênero na região e tem defendido a igualdade de gênero e a libertação das mulheres. Seu livro "Headscarves and Hymens: Why the Middle East Needs a Sexual Revolution" é uma poderosa crítica ao tratamento dado às mulheres na região.
Elisabeth Adekogbe (Nigéria)

Inspetora de preços durante o período da II Guerra Mundial, como professora, diretora de escola e jornalista, se tornou uma das mais importantes ativistas dos direitos das mulheres, fundando em 1952 o movimento conhecido como Women Movement of Nigeria – WMO (Movimento das Mulheres da Nigéria). Dois anos mais tarde, em 1954, Elizabeth Adekogbe participou da direção do Council of Women’s Societies of Nigerian and the Cameroons (Conselho das Sociedades de Mulheres da Nigéria e dos Camarões), que em 1959 foi uma das importantes coalizões que atuou durante o período da independência do país.
Maria Ressa (Filipinas)

Em 2012, Maria Ressa ajudou a fundar o Rappler, um website jornalístico que começou como uma página no Facebook e que tinha por objetivo lutar pela democracia e liberdade de informação nas Filipinas.E cada a repercussão de seu trabalho, ganhou o Prêmio Nobel da Paz juntamente do seu parceiro russo Dmitry Muratov. Foi incluída na lista Personalidade do Ano 2018 da revista Time como membro de um grupo de jornalistas de todo o mundo que combatem notícias falsas.Ela foi presa por "difamação cibernética" em meio a acusações de vários casos de notícias falsas e sonegação de impostos corporativos em 13 de fevereiro de 2019. Em 15 de junho de 2020, um tribunal de Manila a considerou culpada de ciberlibel. Em 2023, seu processo ainda está em aberto, mas já dissolveu 4 dos 7 processos movidos pelo Governo do País.
Jineth Bedoya Lima (Colômbia)

Jineth Bedoya Lima cobriu o conflito armado da Colômbia assim como o processo de paz e casos de violência sexual a mulheres.
Em 2000, enquanto trabalhava para o Jornal El Espectador, ela foi sequestrada e estuprada. Três anos depois, militantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc, sequestraram a repórter que atuava para o jornal El Tiempo.
Glória Maria (Brasil)

Foi a primeira jornalista negra na televisão brasileira, além de ter sido a primeira comunicadora a transmitir uma matéria na televisão com cor. Sua primeira aparição foi nos anos 70, durante o governo Médici e, desde então, viajou ao mundo e vivenciou as diversas culturas de cada país, com a esperança de mostrar aos brasileiros a sua coragem e força. Foi uma figura importante para o jornalismo, para o feminismo, para a representatividade negra.
O feminismo negro surgiu a partir de mulheres que não se sentiam representadas dentro das pautas do feminismo hegemônico. O movimento feminino existente em meados da década de 1980 era representado majoritariamente por mulheres brancas e de classe média. As populações femininas negras e periféricas se encontravam marginalizadas tanto da sociedade como do movimento das mulheres. Visto que tanto o feminismo hegemônico não pensava nestas mulheres negras, como as próprias pautas do movimento se mostravam insuficientes para a emancipação de mulheres que além de serem oprimidas pelo patriarcado também sofreram racismo.
O “hip-hop” abraçou de sua maneira este novo feminismo; todavia, como o machismo é onipresente na sociedade, ate mesmo em um movimento negro as mulheres precisaram e precisam lutar parra se fazerem ouvidas.
A cena do rap foi construída com bases masculinas, entretanto mulheres ocupam este espaço para mostrar realidade questões de gênero que não são abordadas pelo patriarcado. O cenário nacional ganhou as primeiras vozes femininas no final da década de 1980, quando surgiu Dina Di, nome artístico de Viviane Lopes Matia, ela afirmava que o homem pode ver, mas não pode sentir o medo que cada mulher sente durante sua vida. Além disso a rapper comentava sobre a forma como os homens definem as mulheres no rap, com palavras que questionam a imagem do sexo feminino, fazendo com que as artistas se sentissem obrigadas a se vestirem com roupas largas ou masculinas.
Nos anos 2000 o Rappers MV Bill se juntou com Kamila CDD, e lançaram a música “estilo vagabundo” que retrata uma discussão de um casal, onde ela não se cala e afronta as ações e argumentos machistas e misóginos masculinos dentro do relacionamento. “tu tá muito confiante, me tratando tipo Amelia. Cansei de ser boba e me vestir tipo uma velha.”
Alguns anos depois as irmãs gêmeas Tasha e Tracie Okereke surgiam na cena do Hip-Hop nacional com o blog e movimento Expensive shit, que tinha como intenção valorizar a autoestima e autonomia de jovens periféricos e negros pelo conhecimento, moda e cultura.
Em 2019 a dupla lançou o EP Rouff, em parceria com a cantora Ashira. O trabalho tem 6 músicas compostas por diversos produtores famosos da cena do rap, como Mu540, Devasto, CESRV e Pizzol, além da direção artística do rapper DonCesão e ser lançado pelo selo Ceia Ent.
O trabalho seguinte delas, “Diretoria'', é um EP feito em parceria com Pizzol, onde as cantoras falam sobre conquistas e empoderamento, que se relaciona com toda a trajetória delas como ativistas e cantoras. No portal popline, Tasha e Tracie afirmam que apesar de ser um álbum mais denso, Diretoria foi mais divertido, apesar de tudo o que alguém marginalizado dizer ser politizado, segundo elas o álbum traz uma proposta mais leve do que Rouff.
Ainda na entrevista as duas se dizem se considerar ativistas periféricas, não querendo se limitar dentro de um grupo ou área de atuação, já que seus trabalhos giram em prol da luta das pessoas negras.
Quando falamos sobre o papel da mulher na sociedade, inúmeros padrões e estereótipos vem à mente de maneira automática. Mesmo com os avanços acerca da existência feminina em uma sociedade extremamente patriarcal, o machismo ainda segue atrás de cada passo em direção à emancipação das mulheres, que precisam se reafirmar a cada minuto diante de um país que resiste em renunciar ao conservadorismo. Atualmente, com o sucesso de cantoras do pop e funk brasileiro como “Anitta” e “Luísa Sonza", o debate sobre o tema da sexualização dos corpos femininos veio à tona e divide opiniões nas redes sociais: empoderamento ou objetificação?
A relação de poder com o próprio corpo mudou de acordo com as conquistas femininas, assim como o aumento da representatividade e o crescimento do número de mulheres nos espaços de poder. Em entrevista para o GNT, a cantora e produtora musical Larissa Luz afirma que alcançar o poder financeiro é um passo enorme para a liberdade: "Se para isso a mulher escolhe sensualizar e vender a sua sensualidade, isso não é legítimo? A diferença agora está nesse lugar, elas escolhem” - completa. Entretanto, a linha entre conquistar espaços que nunca foram alcançados por figuras femininas e servir ao patriarcado e a uma indústria que sempre lucrou com mulheres é extremamente tênue. A historiadora e criadora de conteúdo digital Amanda Maia aborda a pauta com ênfase no processo histórico: “Existe um movimento, a terceira onda feminista, que vai dizer justamente que a beleza é um sistema monetário, além de patriarcal. Foi instaurado a questão da mulher padrão, no sentido de as mulheres competirem entre si, em vias de conquistarem os espaços que os homens já tinham adquirido”.
Com a ascensão do capitalismo e a ditadura da beleza, a imagem feminina e o estereótipo do “corpo violão” da mulher brasileira - primeiramente indígena matriz da miscigenação, e depois negras, descendentes das africanas escravizadas - viraram produtos. A colonização do Brasil ressalta a objetificação e erotização do corpo das mulheres brasileiras, e como coloca Amanda, os homens europeus vieram e iniciaram o processo de miscigenação, abusando das mulheres indígenas. E hoje, é documentada a visão que eles tinham sobre o corpo da mulher, com esse arquétipo da brasileira e de sua hipersexualização. A imagem das mulheres com corpos estruturais, garota de Ipanema do corpo dourado, ou Anitta e Luísa são alguns dos exemplos que a mídia machista transformou em produtos, como posiciona Amanda, “Eu acho que é uma questão de como o capitalismo afeta a mulher em si, eu vendo pro público masculino uma ideia erótica e para as mulheres uma ideia de meta a ser atingida porque cria um padrão inalcançável”.
Diferente do inalcançável, na cena do funk e pop nacional surge com a tomada dos lugares predominantemente masculinos o empoderamento da imagem feminina. Entretanto, é necessário destacar que mesmo ocupando espaços que sempre foram dos homens, as mulheres que estão nessas posições são, em sua maioria, brancas e se encaixam nos padrões estéticos que a sociedade estabelece. A sexualização do corpo da mulher nasceu junto com a miscigenação no brasil e hoje está interligada com a cultura do país. Mulheres negras, mesmo com os grandes avanços obtidos ao longo dos anos e com o crescimento da representatividade, ainda são alvos de racismo e muitas vezes colocadas em posições de subalternidade, além da notória hipersexualização sobre os corpos pretos. A historiadora afirma que é necessário, no recorte brasileiro, separar as questões étnicas e sociais, “A mulher preta vai ser mais erotizada que a mulher branca, se a gente fosse datar uma época em que começou essa sexualização seria a colonização, com os homens europeus que vieram e iniciaram o processo de miscigenação, abusando das mulheres indígenas”.
Nessa mesma linha de discussão, é possível estabelecer um paralelo comparativo com a obra de Paul B. Preciado, “Testo Junkie”. O filósofo espanhol afirma que dado em certo momento histórico, com a criação de medicamentos como Viagra e os anticoncepcionais, o surgimento da indústria pornográfica e o feminismo liberal, o sexo se tornou um produto audiovisual e mercantilizado, e desde então, o mundo vive em uma "era famarcopornopolítica". Na atualidade somos nós mesmos que transformamos nossos corpos em produtos comerciáveis e mercadológicos, que são vendidos de forma naturalizada em plataformas digitais e muitas vezes camuflado por trás de um falso empoderamento. Para além da questão de gênero, esse fenômeno vai mais adiante do machismo, e questiona o uso da nossa própria identidade em prol de um esquema de lucratividade do sistema capitalista. Nessa lógica é válido pontuar que, mesmo que de maneira disfarçada, a sociedade sempre segue a lógica da indústria e daquilo que vende. Independente de mulheres estarem no topo, as estruturas da sociedade patriarcal ainda permanecem estabelecidas, ainda que estejam se adaptando às demandas da geração atual. “Eu entendo que esse processo sexual de cantoras do pop é uma questão monetária, por mais que exista um empoderamento, uma questão do feminismo liberal, eu me posiciono contra porque elas estão vendendo a imagem delas, isso não contaria como um movimento social, uma luta de fato feminista.” - complementa Amanda.
Fica claro que, como na colonização, tanto quanto com Anitta e Luísa Sonza, o capitalismo na sociedade patriarcal usa das mulheres e de seus corpos para seus benefícios, em lucro, em prazer ou em prol do sistema. Hoje, algumas mulheres, como no feminismo liberal que Amanda cita, viram na exposição de seus corpos o empoderamento e a sororidade. Logo, se instaurou na sociedade um paradoxo dentro da questão da sexualização do corpo feminino, as vítimas indígenas do colonialismo não negam que houve violência, objetificação e erotização no processo de miscigenação do país. Entretanto, apesar de ainda ferir, principalmente corpos pretos, mulheres lucrando com sua própria imagem pode ser visto como empoderamento e uma maneira de ‘passar por cima’ de uma sociedade estruturada no patriarcalismo. Assim, mesmo que de algum modo a sexualização do corpo feminino - que atualmente parte das próprias mulheres – seja problemática, é importante valorizar a conquista do movimento feminista, uma vez que as mulheres agora possuem a chance de escolher sua própria narrativa, além de ser estritamente necessário questionar a sociedade e a indústria audiovisual, que é moldada em referências de um Brasil extremamente conservador, patriarcal e misógino.

“As pessoas confiam mais nos homens” afirma a professora de educação física, Vanessa Rodrigues, criadora do projeto “Envelheça Forte”, mesmo com alto índice de contratação, a desigualdade em relação aos profissionais homens da área da saúde é gritante, assunto que foi alvo de pesquisas da SEBRAE, mostram que mulheres empreendedoras conseguiram guardar muito menos dinheiro do que os homens em 2021, sendo 47% abaixo; o que explica a diferença entre os gêneros nesse sentido é a hipótese de que, quem fatura menos, guarda menos, sendo resultado da altíssima diferença de salários entre homens e mulheres – pessoas do sexo feminino chegam a ganhar até 34% a menos do que os homens ganham. As mulheres negras são ainda mais inferiorizadas nesse sentido. “Uma das minhas maiores metas é poder contribuir com o desenvolvimento financeiro de outras mulheres negras no país”, diz Alyne Campos, criadora da loja Iwosan e do projeto Jaleco com História.
“Não queria depender de ninguém, queria tomar todas as atitudes e resoluções do meu jeito sem nenhuma interferência, principalmente masculina”, diz Márcia Fernandes, criadora da “Love Lettering” que nasceu durante a pandemia. Pesquisas realizadas pelo G1 apontam que, com o avanço da Covid-19, mulheres foram as mais impactadas pela crise; porém, pôde-se perceber que a insegurança financeira do ano pandêmico fez com que se tornasse grande o número de novas microempreendedoras no país.
Segundo dados da SEBRAE do ano de 2021, o número de mulheres donas de negócios na pandemia têm renda média menor do que a de empresários homens e suas empregabilidades reduziram em 15% em anos pandêmicos. Dessa forma, fica clara a existência de dificuldades financeiras ao desenvolver novos empreendimentos. Fernandes, afirma que teve que passar por muitos momentos difíceis, "a maior dificuldade foi pagar aluguel, condomínio e impostos altos” e que “a solução foi trabalhar mais e vender mais''. A empresária pontua também que mesmo já trabalhando como empresária há 32 anos, seu objetivo segue sendo “pagar com tranquilidade todas as contas e ter uma vida mais tranquila e agora com a presença do seu próprio negócio.”
Por outro lado, Campos e Rodrigues ressaltam que o desenvolvimento desses projetos resultou num avanço muito grande em suas vidas profissionais, pois garantiu independência e conforto no caos da pandemia. Mesmo assim, a professora não deixa de enfatizar que seu maior obstáculo foi conseguir cobrar o real valor do seu trabalho num período de insegurança financeira, principalmente feminina do país.