Influencer brasileira viaja em um celta para o Peru com a sua companheira de quatro patas
por
João Luiz Freitas Souza
Fernanda Dias
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17/06/2025 - 12h

Ana Clara Uchoa, 24 anos, iniciou sua jornada com sua cadela Ísis pelas estradas em novembro de 2023, após sentir-se sufocada pela rotina. “Eu ficava muito frustrada com a minha vida parada. Trabalhar, voltar pra casa, passear com a Ísis na praça por meia hora. Eu queria mais” relata em entrevista via Google Meet. Hoje em dia, a influenciadora está a um mês na nova temporada dessa jornada e novamente o seu destino é o Peru. 

Aos 22 anos, Uchoa iniciou uma mudança de vida em novembro de 2023, deixando seu trabalho para concretizar um sonho. Após algumas viagens de ônibus sozinha, planejou e economizou para adquirir um Celta, nomeado Ozzy, e dar início à sua própria jornada com a sua cadela Ísis. Por mais de um ano, ela percorreu o litoral do país, e em 1 ano e 3 meses de viagem, destacou sua afeição pela Bahia e por Minas Gerais e suas cachoeiras, além da experiência de conhecer novas pessoas e culturas. No Natal, optou por retornar e passar a data com a família, interrompendo o cronograma inicial.

 

Ana Uchoa com sua cachorra Isis na frente de seu carro
Ana Clara e Isis em São José dos Campos, São Paulo - Imagem via Instagram @anaclarauchoa 

A vida no carro, no entanto, não é só paisagem bonita e liberdade, um exemplo disso foi quando ela fundiu o motor em Pernambuco, teve o bagageiro voando na ponte Rio-Niterói e dormiu em lugares improvisados e esses foram alguns dos perrengues enfrentados. Mesmo assim, Uchoa vê cada obstáculo como aprendizado pois apesar dos contratempos ela nunca precisou guinchar o carro. "O Celta nunca andou de guincho, ele sempre quebra do lado da oficina. Está tudo certo”, brinca. 

Além de viajar, Uchoa decidiu documentar tudo nas redes sociais, apesar de ser uma vontade desde sempre, contou que tinha muita vergonha, mas acabou quebrando essa barreira pessoal e postando seu primeiro conteúdo no TikTok, que hoje conta com mais de 330 mil seguidores. Sem filtros ou roteiros, seu conteúdo viralizou mostrando sua simples rotina de viagem com a Ísis, como preparar um café, escovar os dentes ao lado do carro ou improvisar uma refeição. “Eu achava que ninguém ia querer ver isso. Mas hoje, se eu não posto o café, o povo pergunta: ‘cadê o café?’”, conta, entre risos. Sua rotina virou inspiração para muitos e sua presença online, um espaço de empoderamento. 

O machismo ainda marca a rotina de quem se aventura sozinha pelas estradas do país. Ao relatar situações desconfortáveis, ela contou sobre um episódio em que, mesmo repleta de orientações técnicas do próprio mecânico, foi tratada com desdém por outro profissional. “Falei com todo cuidado, mas ele me mandou sentar e disse que quem estava trabalhando era ele. Só depois de ouvir o áudio, resolveu o problema em cinco minutos.” 

Ana Uchoa com sua cachorra Isis na frente de um monumento em Brasília
Ana Clara e Isis em Brasília, Distrito Federal - Imagem via Instagram @anaclarauchoa 

A influenciadora compartilhou que quando o assunto é segurança, o planejamento é indispensável pois dormir em locais desertos nunca é uma opção. “Mesmo se estiver no meio do nada, vou procurar um estacionamento, um posto com movimento. Se alguém percebe que estou sozinha, já sou vista como vulnerável.” Comentou ainda que, em muitos casos, “homem só respeita homem”, o que torna cada decisão na estrada mais estratégica. 

Algumas mulheres adotam medidas como deixar sapatos masculinos ao lado do carro para simular a presença de um homem. Ela prefere não recorrer a isso, mas entende quem o faz. “Ser mulher na estrada exige atenção, inteligência e muita resiliência.” 

Ao mesmo tempo, existe uma rede de apoio não oficial que prova a força da sororidade. “Se eu chego num posto e tem outra mulher sozinha, ela já fala: para aqui do lado.” Esse cuidado mútuo, que surge mesmo entre desconhecidas, mostra como mulheres viajantes criam um laço imediato de proteção e solidariedade. “O homem às vezes até acha legal, mas a mulher age. Ela acolhe, ela cuida.” 

Uchoa relata que viajar sozinha é mais do que uma escolha, é um ato de coragem e autonomia diante de um mundo que ainda questiona a liberdade feminina. 

Giovanna Conti relata os desafios da profissão e o que é ser mulher no automobilismo
por
Olivia Ferreira
Anna Sofia Carsughi
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16/06/2025 - 12h

"Eu acho que é sempre importante frisar a importância feminina no automobilismo" diz a jornalista esportiva Giovanna Conti, que na última quinta-feira (12) discutiu a respeito da importância das mulheres dentro dessa área. A entrevistada detalhou sua trajetória nesse início de carreira, contribuindo para a diversidade dentro da Fórmula 1.

A inclusão no mundo do automobilismo tem ganho cada vez mais espaço e atenção. Nestes ambientes predominantemente de homens, as mulheres, quanto mais enfrentam e lutam para uma maior visibilidade feminina, mais abrem espaço para discussões e debates acerca dessa pauta. Esses locais sempre foram vistos desde sua popularidade como algo especificamente para homens, contribuindo para um afastamento do cenário feminino nos espaços de corrida e até dentro do jornalismo.

Grupo de mulheres que fazem parte da F1 ACADEMY
Foto: https://www.alongtheracingline.com/accelerating-success-f1-academy/ 

Apesar dos avanços, existem diversos desafios como a escassez de patrocínios e a resistência cultural. Iniciativas como a criação da F1 Academy, uma categoria de base exclusivamente feminina criada pela FIA em 2022, foi de extrema importância cultural e histórica, além de buscar promover a inclusão e oferecer oportunidades para que mais mulheres ingressem e se destaquem no automobilismo.

Na Fórmula 1, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados, porém o cenário atual mostra progresso significativo em direção à igualdade de gênero. Dentro dessa categoria, existem por exemplo várias mulheres com papéis muito importantes que são necessários tanto dentro das pistas de corrida, como na manutenção dos carros e estratégias de melhoria..

Esse esporte tem demonstrado muito mais interesse por mulheres e não somente por homens. Segundo o site AutoGear, hoje, 41% dos fãs de F1 são mulheres, e o grupo demográfico que mais cresce é o dos 16-24 anos, sinalizando um esforço bem-sucedido para alargar a escala de interesse desse público no esporte automotivo.  Essa crescente presença feminina, é um reflexo de uma sociedade em transformação, que reconhece e valoriza a contribuição delas em todas as esferas.

Giovanna Conti

Giovanna Conti, jornalista e social media formada pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), é especializada na área de esportes, no setor de automobilismo. Ela escreve em seu blog e em matérias avulsas, além de trabalhar como influenciadora digital no Instagram compartilhando tudo sobre Fórmula 1. Já realizou muitos projetos como: Band Primeira Notícia, Live F1 Gen Z Youtube Podcast, F1Mania Webstories, matérias na categoria LIF1 do site F1Mania, Relações Públicas dos Fittipaldi Brothers, colunista da Glamurama, entre outras.

Giovanna Conti, jornalista do automobilismo
Foto: Instagram oficial da Giovanna Conti 


Em entrevista para AGEMT, ela afirma que seu interesse pelo automobilismo começou desde pequena,  com forte influência de seu pai, mas só aos 13 anos que essa paixão a fez ter certeza que amava esse mundo e que gostaria de poder fazer parte dele de outras formas.

Apesar da sua força de vontade, as dificuldades da profissão se manifestam diariamente. “Uma coisa que eu sinto, principalmente vivenciando no dia a dia é que o preconceito muitas vezes vem de fora, de pessoas que assistem, ou até mesmo as que não acompanham mas que sempre estão destilando um “veneninho”, por pura maldade”- diz ela. 

Além disso, ainda há muito a fazer para se alcançar a equidade de gênero no automobilismo. Para Giovanna, a chegada da Liberty Média em 2017 fez a categoria mudar muito,  e se moldou para alcançar um público que não era o da F1. Como consequência, segundo ela,  temos um número cada vez maior de fãs que acompanham e se interessam pela categoria, que gravam vídeos, tik toks e que querem estar a par sobre os assuntos desse meio. 

Essa falta de representatividade também aparece dentro das pistas. Apesar disso, segundo ela, algumas equipes acreditam que em breve teremos uma mulher correndo. “Acredito que com a F1Academy isso fique cada vez mais claro. Seria interessante ver a F1A funcionar como a F3 e a F2, uma categoria de base para a chegada da F1”- contou Giovanna.

“Nunca enfrentei nenhum problema nesse sentido , sempre me impus muito nesse esporte e busquei provar meu valor a partir do meu trabalho, então sempre tive a sorte de ser muito respeitada e bem vista aos olhos de muitos”, conclui Conti.

  

 



 

 

Com um compilado de quatro reportagens, textos trazem diferentes perspectivas sobre o tema
por
Nathalia de Moura
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16/06/2025 - 12h

O site Donas da Bola, idealizado por Nathalia de Moura para a disciplina de Jornalismo Contra-Hegemônico, lecionada pela Professora Doutora Anna Flávia Feldmann, visa, a partir de dados, imagens, entrevistas e diferentes perspectivas, mostrar a desvalorização do futebol feminino, além de impulsionar e dar voz à luta e às atletas.

Com um compilado de quatro reportagens, o primeiro texto contextualiza historicamente o futebol feminino, trazendo o olhar de Renata Beltrão, Mestre em Museologia e Coordenadora de Comunicação do Museu do Futebol. O segundo texto aborda a realidade das categorias de base feminina de clubes brasileiros. Com depoimentos das atletas Laryssa Lourenço e Giovanna Holanda, temos um panorama das equipes jovens e o sentimento das jogadoras perante a realidade enfrentada.

A terceira reportagem foca na cobertura jornalística na modalidade feminina, os desafios enfrentados e o que pode ser feito para melhorar, tudo isso com a ajuda da Jornalista do jornal Lance!, Juliana Yamaoka. Na quarta e última reportagem, uma entrevista com a goleira do Corinthians, Kemelli Trugilho, mostra um panorama do futebol profissional feminino e a situação dos clubes da elite brasileira, além das medidas que podem ser tomadas para alavancar e valorizar o esporte.

Para acessar as reportagens, basta clicar no link a seguir: https://donasdabola.my.canva.site/

O influenciador volta a ter notoriedade nas redes sociais após claras insinuações machistas
por
Wildner Felix Cerqueira dos Santos
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06/05/2025 - 12h

Breno Faria, um influenciador digital voltou a ser alvo de críticas após a divulgação de uma série de vídeos considerados machistas, nos quais reforça estereótipos ultrapassados sobre o papel das mulheres na sociedade. As declarações – como “mulher de verdade sabe o seu lugar” ou “mulheres que trabalham demais se afastam da sua feminilidade” – reacenderam o debate sobre os efeitos do machismo cotidiano e a responsabilidade dos criadores de conteúdo nas redes sociais. Especialistas em psicologia alertam para os danos emocionais causados por esse tipo de discurso. 

 

A repercussão nas plataformas foi imediata. Internautas levantaram hashtags como #MachismoNãoÉOpinião e #BrenoFariaMisógino, enquanto especialistas apontaram os riscos desse tipo de discurso para a saúde mental das mulheres e para o retrocesso nas pautas de igualdade de gênero.

Segundo psicólogos, falas como as de Breno Faria são exemplos do chamado machismo cotidiano — um conjunto de comportamentos e comentários naturalizados que desgastam emocionalmente as mulheres e enfraquecem sua autoconfiança. “A mulher, ao ouvir esse tipo de frase em seu cotidiano, passa a duvidar de sua própria competência, a se calar em espaços de poder e a desenvolver sintomas como ansiedade, insônia e auto sabotagem”, explica o psicólogo Elienay Brandão em entrevista à AGEMT. 

Foto do Psicólogo entrevistado
Elienay Brandão Psicólogo (Reprodução/foto:@psi.elienaybrandao)

Essa forma de violência, tem impactos profundos e duradouros na vida das mulheres. Ao serem constantemente desvalorizadas, muitas desenvolvem comportamentos de auto degradação e hipervigilância: “Elas se policiam para não parecerem ‘sensíveis demais’, evitam dar opiniões ou até abrem mão de cargos e oportunidades por acreditarem, mesmo que inconscientemente, que não merecem”, destaca o psicólogo.

De acordo com a psicóloga Bruna Batista Schneider, o machismo cotidiano se manifesta de formas diversas: desde o questionamento das capacidades femininas em ambientes profissionais até a hipersexualização e o silenciamento. “Mulheres são constantemente interrompidas em reuniões, têm suas ideias apropriadas e sentem-se culpadas por não atender a padrões inatingíveis”, afirma. Esses comportamentos, somados, alimentam o que ela chama de gaslighting internalizado — quando a mulher passa a duvidar da própria percepção da realidade, muitas vezes se culpando ou se calando.

Foto da Psicóloga entrevistada
Bruna Batista Schneider Psicóloga (Reprodução/foto: @psicbrunaschneider)

Diante da repercussão negativa, plataformas como Instagram, TikTok e YouTube foram pressionadas por usuários a tomar medidas contra os conteúdos publicados por Breno Faria. Em resposta, algumas redes iniciaram investigações internas para verificar possíveis violações às diretrizes de uso, mas sem respostas ainda. A mobilização também chegou ao meio acadêmico e a entidades de defesa dos direitos das mulheres. O Instituto Maria da Penha divulgou uma nota de repúdio, não direcionada ao influenciador, mas sim classificando as declarações de Breno Faria como “violência simbólica com potencial de naturalizar a desigualdade”. Já o Observatório de Gênero e Mídia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) anunciou um relatório em elaboração sobre a influência de figuras públicas na perpetuação do machismo nas redes.

Embora os efeitos do machismo sejam devastadores, há formas de enfrentá-lo. Entre as estratégias terapêuticas recomendadas estão o fortalecimento do diálogo interno positivo, a criação de redes de apoio e a prática do autocuidado contínuo. “É fundamental que essas mulheres reconheçam que o problema não está nelas, mas sim em um sistema que as desvaloriza. A psicoterapia ajuda a desconstruir essas crenças internalizadas e a resgatar a autonomia e o prazer de existir”, afirma Schneider. Ela também destaca a importância de estabelecer limites, celebrar conquistas, mesmo que pequenas, e buscar ambientes seguros para compartilhar vivências.

A polêmica em torno das declarações de Breno Faria expõe, mais uma vez, como discursos normalizados nas redes sociais podem alimentar estruturas opressoras e perpetuar padrões nocivos. Mais do que episódios isolados, casos como esse evidenciam o impacto psicológico real que o machismo ainda exerce sobre milhões de mulheres — muitas vezes de forma silenciosa e invisível.

Diante disso, cresce a cobrança por posicionamentos mais firmes das plataformas digitais e pela responsabilização de influenciadores que propagam ideias discriminatórias. Ao mesmo tempo, especialistas reforçam a importância de uma rede de apoio emocional, de espaços seguros para escuta e da promoção de uma cultura que valorize, acolha e respeite as mulheres em sua pluralidade. Enquanto o debate segue nas redes, no meio acadêmico e nos consultórios de terapia, uma certeza se impõe: não se trata de censurar opiniões, mas de reconhecer que palavras têm peso — e, em muitos casos, causam feridas profundas. Combater o machismo cotidiano é, acima de tudo, um compromisso com a saúde mental, a dignidade e a equidade de gênero.  Ouça a reportagem.

 

 

Segundo a ONU em 60% dos casos os crimes são cometidos por parceiros ou membros da família
por
Leticia Alcântara
Sophia Razel
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02/12/2024 - 12h
Escadaria com cruz e flores representando luto
Escadaria marcada por cruzes e girassóis simboliza luto pela morte de mulheres Imagem: Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Na segunda-feira, 25 de novembro, Dia Internacional Pela Eliminação Da Violência contra as Mulheres,  a Organização das Nações Unidas (ONU)   divulgou os dados de mapeamento de assassinatos de meninas e mulheres ao redor do mundo em 2023. Ao todo, 85 mil mulheres foram assassinadas  no ano passado, o equivalente a 140 vítimas por dia e uma a cada dez minutos, dessas, 64% foram assassinadas em ambiente doméstico por seus próprios parceiros.

 

Gráfico mostra proporção de vitimas mulheres vs homens
O gráfico “Proporção de vítimas de homicídio masculino e feminino mortas por parceiros íntimos ou outros familiares (2023)” compara a porcentagem de homicídios cometidos por parceiros íntimos ou familiares, diferenciando entre homens e mulheres. Ele mostra que apenas  11,8% dos homens assassinados foram mortos por parceiros íntimos ou familiares, enquanto a porcentagem de mulheres é de 60,2%.Fonte: UNODC Homicide Dataset (2023).

 

Segundo o relatório, o continente africano registrou a maior incidência de casos de feminicídio, seguido pelas Américas e pela Oceânia. O feminicídio é o assassinato de mulheres motivado por razões de gênero, ou seja, quando a violência ocorre pelo simples fato de a vítima ser mulher.

 

Feminicidios por região
O gráfico “Taxa estimada de feminicídios por parceiros íntimos ou familiares por 100.000 mulheres, por região (2023)” revela as taxas regionais de feminicídios por parceiros íntimos ou familiares em 2023, destacando a África com a maior taxa, seguida pelas Américas e Oceania, enquanto Europa e Ásia têm os índices mais baixos. Fonte: Estimativas da UNODC com base no UNODC Homicide Dataset (2023).

 

Brasil registra recorde de feminicídios 

O cenário brasileiro é igualmente preocupante. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, durante o ano passado, o país bateu recorde de casos de feminicídio, ocorrendo um caso a cada 6 horas, totalizando 1.463 registros. O Conselho Nacional de Justiça brasileiro iniciou, no dia 20 de novembro, os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, campanha que visa debater as questões de violência de gênero no país.

Na ocasião da divulgação do relatório, foi destacado que os números não refletem fielmente o cenário e que a pandemia de COVID-19 reduziu pela metade a quantidade de países que coletam ou divulgam informações sobre mulheres vítimas de violência por parceiros.

Ainda segundo a ONU, os números coletados são alarmantes, evidenciam a gravidade da violência de gênero e a necessidade de ações para enfrentamento do problema, que é global.

Confira o relatório completo AQUI.

 

 

Manifestantes se reuniram em busca de garantir direitos reprodutivos e autonomia das mulheres
por
Helena Maluf
Gabriela Jacometto
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04/10/2023 - 12h

Na última quinta-feira (28), uma multidão expressiva tomou as ruas da capital paulista em apoio à descriminalização do aborto. Organizada por grupos de ativistas e apoiadores da causa, a manifestação reuniu pessoas de diferentes idades, gêneros e origens, todas compartilhando o mesmo desejo: garantir o direito à escolha das mulheres sobre seus próprios corpos.

A marcha aconteceu no dia Internacional da luta a favor do aborto nos países latino-americanos e caribenhos, e enfatizou como o  procedimento nesses países também faz parte da desigualdade de classes. “As ricas pagam, e as pobres morrem”, diziam as manifestantes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de abortos induzidos ocorrem todos os anos no Brasil, sendo quase 500 mil procedimentos feitos de forma clandestina. A maioria das mulheres que realizam o aborto em condições precárias são negras e de baixa renda.

Essa “onda verde”, como é chamado o fenômeno de luta a favor da legalização do aborto nos países vizinhos, é responsável por pressionar os poderes políticos e judiciais pelo direito ao acesso e decisão de abortar. Outros países na América do Sul como Uruguai, Argentina, Guiana, Guiana Francesa, Colômbia e Chile já reconhecem o aborto como prática legal. Segundo as palavras de Alberto Fernández, presidente da Argentina, “a legalização do aborto salva a vida de mulheres e preserva suas capacidades reprodutivas, muitas vezes afetadas por esses abortos inseguros.”.

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Bateria do bloco de carnaval "Ay que alivio" com bandanas personalizadas em homenagem a onda verde. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 
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Bandeira em homenagem a onda verde escrito "Aborto legal já". Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

Muitos especialistas que defendem a legalização no Brasil explicam que a mesma deve ser entendida como uma questão de saúde pública, e não moral ou religiosa. “As políticas públicas não podem sofrer influência das ideologias religiosas ou até mesmo morais. As mulheres precisam ter o direito de escolha, precisam ser livres para decidir”, explica Tabata, 29, do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir. 

A concentração teve início na Avenida Paulista, um dos principais pontos da cidade, e rapidamente se espalhou por ruas adjacentes. Os participantes exibiam cartazes, bandeiras e faixas com mensagens pró-escolha, destacando a importância de garantir o acesso seguro e legal ao aborto. Muitos usavam camisetas e adereços verdes, cor que se tornou símbolo da luta pela legalização em diversos países.

manifestantes
Manifestantes da rede Divam com bandeira e cartaz personalizados. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

Entre os manifestantes, havia uma ampla diversidade de discursos e argumentos.”Só quem morre no Brasil e no mundo são as mulheres que não podem pagar o aborto seguro. Nenhum lugar onde o abortou deixou de ser crime, aumentaram os números de aborto mas diminuiu os números das mortes. Elas vão continuar abortando, mas a diferença é que a nossa classe não vai morrer”, expôs Fabiana (52), de São José dos Campos.

Martins (16), estudante do Colégio Objetivo em São Paulo, também se mobilizou. “Como homem, reconheço a importância, a gente tem que unir como coletivo para lutar pelos ideais certos”.

A manifestação ocorreu de forma pacífica e as autoridades locais acompanharam o evento para garantir a segurança dos participantes e transeuntes. Estavam presentes até mães e pais com crianças, como no caso de Luana (42), que levou seu filho João (8), “É para eles já começarem a entender a importância de participação em manifestações políticas, a importância do feminismo, dos direitos das mulheres é importante demais” afirmou.

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Cartaz escrito "Juntas somos mais fortes" feito por manifestante. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             
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Bandeira produzida por um grupo de manifestantes com os dizeres "Feministas na rua". Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

A medida que noite caiu, a multidão se dispersou, mas a mensagem da manifestação ficou clara: a busca pela igualdade de gênero e pelo direito das mulheres se decidirem sobre seus corpos permanece um tema crucial na sociedade brasileira, com esperanças de mudanças futuras na legislação em relação ao aborto.

Influência nas meninas vai de repressão a incentivos
por
Gabriela S. Thier
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20/06/2023 - 12h

Chegando a ser considerada um brinquedo obsceno e inapropriado pra crianças em sua primeira versão, no ano de 1959, mas ainda assim se tornando um sucesso que transformou a Mattel a terceira maior empresa de brinquedos do mundo em seu primeiro ano de vendas, a boneca Barbie recebeu ao longo de sua história muitos “títulos”, sempre dividindo opiniões, com as tentativas de definir sua influência nas meninas que tiveram contato com ela na infância.

Essa dualidade é presente desde sua popularização nos anos 60, de um lado com a relutância de alguns pais em deixar as filhas brincarem com a figura de uma “mulher adulta que morava sozinha” e de outro lado sendo anunciada como um incentivo para as meninas cuidarem de sua aparência, o que acabava por reforçar estereótipos de beleza. “A preocupação dos pais vinha justamente por conta desses estereótipos”, diz o pedagogo Marco Antonio Delgado .

Segundo ele, a Barbie representava uma mulher elegante, que está dentro dos padrões de beleza vigentes na sociedade , esquecendo dos valores íntimos de cada um. “Claro que essa realidade não acrescentaria nada para aquela criança que estava brincando de casinha, até porque a Barbie, na verdade, mostra uma executiva, aquela mulher que vai para fora, que trabalha, que está atuando, uma coisa que não acontecia”, acrescenta Delgado.

O pedagogo destaca a diferença entre a figura emancipada representada pela boneca e o imaginário das crianças na época em que foi lançada. “As meninas não brincavam dessa situação, mas sim de uma brincadeira de mãe, do lar, e a Barbie traz uma coisa que naquela época era mais os homens que ocupavam.” 

Delgado cita a aparência da Barbie como um de seus aspectos prejudiciais:

”Por causa do estilo da própria boneca, porque ela traz um perfil de uma mocinha, de uma miss com o corpo definido, com uma situação de que seria uma ‘perfeição’, ela mostra uma boneca branca com seu estereótipo de magra, mas não são todas as crianças que têm este  perfil. Existem meninas gordas, existem meninas negras, que não atingem aquele estereótipo de beleza e isso pode trazer uma certa depressão para a criança, porque ela foge daquele conceito de perfeição”.

Contudo, mesmo mantendo como sua imagem principal uma boneca branca, magra e loira, a Mattel já apresentou diversas vezes boneca com perfis diferentes, indo das mais atléticas  até  de diferentes etnias, formatos de corpo e profissões.

Muitas vezes o design da boneca pode ser visto como um retrato da cultura popular de uma época. Um exemplo é a famosa “Malibu Barbie” (1971), que virou um símbolo por aparentar um rosto “sem maquiagem” e ser a primeira Barbie que olhava para frente, uma mudança que, apesar de sutil, trouxe uma imagem mais ativa e menos delicada para a boneca.

Um exemplo mais significativo de mudança foi a primeira Barbie Negra, lançada em 1980. Por mais que já houvessem sido lançadas versões negras de amigas da Barbie, como a Black Francie (1967), haver uma boneca negra denominada como  Barbie foi muito mais significativo. 

 

Edição de Aniversário da Malibu Barbie
Edição de aniversário da Malibu Barbie

 

Edição de Aniversário da Primeira Barbie Negra
Edição de aniversário da primeira Barbie Negra

A psicóloga Vanderléa Soares explica a importância da possibilidade de se ver nos brinquedos: 

“A identificação com um adulto de referência é parte da constituição de qualquer indivíduo”, diz Soares. “Dentro do lúdico e da fantasia, imaginar-se em outros papéis é criar possibilidades ampliando a visão de si mesmo e do mundo. O processo de formação do eu se dá a partir do outro”, acrescenta a psicóloga. 

Porém, mesmo com o aumento da representatividade, existem contrapontos em se tratando da boneca mais famosa do mundo. Até o slogan “você pode ser tudo o que quiser” pode ser prejudicial às crianças.

“Todos nós nos deparamos com limites. Se nos dedicamos a uma atividade ou brincadeira, não podemos praticar outras. Isso é estendido para toda uma vida humana. Existem limites de tempo, lugar, espaço, e do que é possível viver. Se eu escolho ser jornalista, provavelmente não conseguirei na mesma existência ser médica, advogada e psicóloga. Mesmo pensando no sentido de que sempre temos escolhas, ainda assim essas escolhas são limitadas pelo contexto de possibilidades sociais presentes num determinado tempo e momento histórico”, analisa Soares. 

Pequeno Estado africano apresenta índices de igualdade de gênero semelhantes a Finlândia e Noruega
por
Francisco Barreto Dalla Vecchia
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23/05/2023 - 12h
Estudantes da Academia Gashora para meninas, em Ruanda. Fonte: National Geographic
Estudantes da Academia Gashora para meninas, em Ruanda. Fonte: National Geographic

Recentemente, a Women, Peace and Security - iniciativa dedicada a promover a igualdade de gênero - elegeu Ruanda como o país com mais representatividade feminina na política, com 55% das cadeiras do parlamento ocupadas por elas. Ruanda também foi eleito como o segundo destino mais seguro para mulheres viajarem sozinhas.

A pequena nação insular da África Oriental, possui 12 milhões de habitantes e uma economia que cresce 7% ao ano desde 2000. O genocídio ocorrido em 1994 afetou profundamente a sociedade local, mas o povo ruandês reagiu à tragédia de forma transformadora: elaborando reformas políticas e sociais, que foram fundamentais para que a nação desfrutasse do atual cenário de igualdade de gênero.

Cem dias de genocídio 

Por décadas, Ruanda foi dividida em duas etnias: a minoria Tutsi, composta por uma elite pecuarista tradicional, e a maioria Hutu, historicamente desfavorecida e composta por agricultores. Essa divisão já existia no período pré-colonial, mas foi intensificada pelos colonizadores belgas e alemães, que buscavam facilitar a dominação.

De 7 de abril até de julho de 1994, instaurou-se um período de terror no país africano: Hutus extremistas caçaram os Tutsis por toda Ruanda. Durante cem dias, mais de 800 mil Tutsis e Hutus moderados foram mortos. As vítimas eram frequentemente conhecidas dos assassinos. O facão virou símbolo da barbárie: A ferramenta onipresente na vida dos agricultores converteu-se na arma mais popular entre os criminosos. 

Ruanda era um país rural e pré-industrial. No livro “Uma Temporada de Facões”, o jornalista francês Jean Hatzfeld demonstra como os diferentes estágios de desenvolvimento econômico influenciam na forma como os genocídios são executados. 

Hatzfeld faz paralelo com os crimes Nazistas, indicando que aspectos das sociedades industriais, como o desenvolvimento tecnológico - na forma de malhas ferroviárias - e a divisão do trabalho foram decisivas na execução do holocausto: um genocídio burocratizado e pensado na lógica da eficiência produtiva. 

O complexo e impessoal método de extermínio adotado pelo terceiro Reich, contrasta com a rudimentariedade e ampla participação da população no curso da limpeza étnica em Ruanda.  

O renascer das ruandesas 

No fim da carnificina, as ruandesas representavam 70% da população. Desde então, elas passaram a ocupar cargos antes exclusivamente destinados aos homens, exercendo um papel-chave na reconstrução do país e de sua sociedade.

A maioria dos assassinos e das vítimas eram homens. Os extremistas foram presos ou fugiram para a República Democrática do Congo, deixando para trás suas terras. Para garantir a própria sobrevivência e a de suas famílias, as mulheres precisaram obter a posse legal das roças de seus maridos ausentes.

Em 1999 foi feita uma reforma legislativa, na qual mulheres garantiram o direito legal de herdar as terras de seus cônjuges. Outros direitos foram assegurados na constituição de 2003: 30% dos cargos políticos passariam a ser exclusivamente femininos; foi instituído a igualdade de gênero na posse das terras, assim como no acesso à educação.

No ano da nova constituição, 48% dos cargos eram ocupados por ruandesas. Em 2008, Ruanda tornou-se a nação com mais mulheres no Parlamento. Hoje elas já ocupam quase 70% dos assentos e mais de 50% dos cargos ministeriais.

 Presidente Paul Kagame, em encontro com parlamentares ruandesas. Fonte:JusBrasil
 Presidente Paul Kagame, em encontro com parlamentares ruandesas. Fonte:JusBrasil

O último levantamento sobre igualdade de gênero realizado pelo Fórum Econômico Mundial (2021) considerou quatro aspectos: educação, saúde, política e economia. Ruanda foi apontada como o sexto país com mais igualdade entre os gêneros no mundo, colocando o pequeno país em pé de igualdade com a Finlândia e a Noruega. O Brasil, por sua vez se localiza na 92.ª posição, segundo o Global Gender Gap Report (2021)

Os limites da igualdade 

Atualmente, cerca de 88% das mulheres em Ruanda exercem alguma tarefa remunerada, número este superior ao dos homens. Mesmo tendo crescido a participação feminina na política e no mercado de trabalho, a situação doméstica pouco se alterou. O maior desafio tem sido transferir a igualdade conquistada na vida pública para dentro dos lares de Ruanda.

A cientista política ruandesa Justine Uvuza, em seu doutorado, pesquisou a vida de mulheres que ocupam cargos públicos em seu país. Constatando que muitas são obrigadas pelos maridos a realizar trabalhos domésticos, mesmo ocupando posições importantes no Estado. Segundo Uvuza, no senso comum, uma boa ruandesa é patriótica, trabalhadora e obediente ao marido. O movimento feminista costuma ser visto como algo ocidental e "importado" dos Estados Unidos.

A desigualdade social também é um desafio enfrentado pelo governo do presidente Paul Kagame, com o país ocupando o 165º lugar no ranking dos países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conforme o relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2021.

Como o mercado de cursos online se apropria do comportamento feminino
por
Lídia Rodrigues de Castro Alves
Fabiana Caminha
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18/04/2023 - 12h

Mentora de deusas. É assim que a arquiteta e empresária Camila Pastório, de 32 anos, é conhecida entre os mais de 300 mil seguidores de seu Instagram. Camila ficou mais popular entre o público feminino por abordar temas de relacionamentos e feminilidade. Depois de se popularizar nas redes, Camila resolveu dar o próximo passo e começou uma mentoria online. Por cerca de 400 reais, a arquiteta disponibiliza vídeos e e-books que prometem revelar “tudo o que uma mulher feminina precisa saber para ser naturalmente poderosa e conquistar o homem dos sonhos”, como está descrito na página de venda.

“Eu trabalho de duas formas, individualmente e coletivamente”, explica Camila. “Se a aluna optar pelo atendimento individual, eu faço através de uma ligação, escuto a queixa dela e partimos daí. A outra opção é a mais comum, que é a coletiva. Eu já tenho uma plataforma onde a aluna tem acesso aos meus conteúdos separados por tema. Aí ela consegue acessar mais facilmente o que faz mais sentido para o caso dela.” A arquiteta ainda diz que esses temas vão desde dicas para “edificar o lar” até conselhos para deixar o perfil do Instagram mais atraente para os homens.

Quanto à origem do apelido, a empresária diz ter se autodenominado dessa forma. “Quando eu falo o termo deusa, todo mundo leva para esse lado mais espiritual, mas eu acredito que uma deusa seja uma mulher de alto valor, com os princípios firmados na espiritualidade. Eu sou de uma família cristã, e eu tenho os meus princípios firmados… e é isso que eu tento trazer para as minhas alunas também, eu quero que elas sejam realmente deusas, que aflorem seus encantos, e é isso que elas conseguem com o meu método.”

No site da empresária, onde é possível adquirir um dos seus três cursos disponíveis atualmente, existem dezenas de relatos de ex-alunas comprovando a eficácia do método das deusas. Na página principal estão comentários, fotos e até mesmo vídeos dessas consumidoras relatando a sua experiência depois da compra. Com certo destaque, podemos ver o relato (em caps lock e negrito) de uma aluna que foi pedida em namoro apenas três semanas depois de concluir a mentoria. Até mesmo o link da live do Instagram que comprova o momento do pedido está disponível.

Segundo Camila, o motivo de seu sucesso não se dá exclusivamente pela qualidade do curso, mas também pela pós-mentoria, o acompanhamento depois que a aluna adquiriu o material. “Por uma taxa de 30 reais, essa aluna pode também fazer parte de um grupo de WhatsApp que eu mantenho sempre atualizado com novidades exclusivas. Eu criei esse grupo para dar um senso de comunidade, eu quero que a minha aluna se sinta valorizada. No Deusas Online, ela tem isso, ela faz parte de algo maior.”

Camila é apenas uma das milhares de pessoas que passaram a oferecer cursos de mentoria para ganhar a vida. A devastadora maioria desses cursos é comercializada através da Hotmart, uma plataforma brasileira voltada para a venda e distribuição de produtos digitais. Grande parte desses produtos são de caráter “educacional”. Ou seja, são cursos e e-books que buscam ensinar algo, independente se o mentor é especialista no assunto.

O mercado desses produtos digitais para mulheres é, no mínimo, curioso. Em uma busca rápida, é possível encontrar métodos de emagrecimento, aulas de crochê, mentorias bíblicas, guias de relacionamento e até mesmo um curso sobre posições sexuais. O “Como sentar 2.0” é a continuação da bem-sucedida mentoria de Beatriz Rangel, que pode ser encontrada na categoria de desenvolvimento pessoal da plataforma. Na descrição do curso, a mentora promete resultados infalíveis. “Com vocês a versão atualizada e melhorada da tia Bea do curso “Como sentar”! Através dessa experiência eu vou te ensinar a como se sentir confiante para ir por cima na hora do sexo. A sentir prazer, não brigar com seu corpo, a controlar seus pensamentos para aproveitar a experiência e muito mais! Bora tomar coragem pra ser sua melhor versão?”

A facilidade na venda de aulas digitais pode ser perigosa. O “Como manter seu homem na palma da mão”, da pioneira da autoajuda feminina digital, Vanessa de Oliveira, traz discurso um tanto quanto problemático, e o fato do conteúdo não passar por nenhum tipo de aprovação intensifica o risco. A comercialização da imagem e do comportamento feminino torna-se cada vez mais comum.

MULHER MAGNÉTICA VANESSA DE OLIVEIRA 30 DIAS PARA TRANSFORMAR A SUA VIDA  COM - PDF Free Download

Em entrevista, uma mulher que preferiu não se identificar relata que desde que entrou nesse mundo de cursos não conseguiu parar. "Percebi que estava ficando viciada em discursos que muitas vezes não passavam de textos prontos para enganar qualquer pessoa. Eu fui enganada. Claro, não são todas as “especialistas” digitais que apostam no sensacionalismo. Mas a padronização da fala e da condução das aulas é sempre muito parecida. O principal motivo de as mulheres assinarem esses pacotes sempre gira em torno do homem. “Aprenda a fazer crochê para deixar a casa mais bonita para seu marido”, “como ser a melhor esposa do mundo”, “20 posições sexuais que deixam qualquer homem louco”, e por aí vai. O que faz refletir, para quem é o curso? Para as mulheres ou para seus companheiros? A quem interessa a venda da feminilidade?

 “Fiz mais de 20 cursos de empoderamento feminino, “Como ser a mulher perfeita, “Como mandar bem na cozinha para conquistar os homens” e um que realmente me convenceu a vender imagens sensuais por um preço de banana na plataforma Onlyfans", relata a entrevistada.

Esse é outro problema da banalização de temas no mundo digital, a capacidade de convencer e influenciar pessoas. O Onlyfans é um dos principais sites do gênero na atualidade. Ele indiretamente pode aproximar mulheres, principalmente jovens, da prostituição. “Assinei um curso que prometia trazer qualquer homem que eu quisesse, se eu fosse uma mulher sensual, se tivesse belas fotos nas redes, e então pensei: já que tenho que postar essas fotos, por que não vendê-las?" O relato só comprova a naturalização da venda do corpo feminino, e, desta vez, incentivada por mulheres que são idolatradas por outras que muitas vezes caem em ciladas por conta de títulos chamativos e fragilidades pessoais. Portanto, é importante entender que, apesar da passagem do tempo, a sensualidade feminina continua sendo usada para vender produtos e ideais.

AGEMT EXPLICA: Nem romântico, nem comercial, o Dia das Mulheres é político.
por
Barbara Ferreira
Maria Ferreira dos Santos
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09/03/2023 - 12h

O Dia das Mulheres é celebrado por mais de 100 países. Mas qual a origem desse dia tão importante? E quando foi que surgiu?

O século XX foi marcado por grandes mudanças, muitas delas, inclusive, aconteceram por meio de greves e manifestações. Um exemplo disso foi a luta das mulheres por melhores condições de vida (principalmente de trabalho) no período da Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Diversos acontecimentos foram não só essenciais para a determinação da data, como para luta feminista. Vale ressaltar que as mulheres estavam se organizando politicamente em diversos lugares do globo. E, por isso, é difícil atribuir o 08 de março em si a um único acontecimento. 

É comum a data ser atribuída ao incêndio numa fábrica têxtil em Nova York, EUA, em 1911. O episódio em questão aconteceu no dia 25 de março, e escancarou as horríveis condições de trabalho às quais os trabalhadores eram submetidos. Sendo que anos antes as trabalhadoras da fábrica já haviam feito graves, o que, é claro, foi recusado pela empresa. O que resultou depois na morte de 146 trabalhadores, 125 destes eram mulheres.

Incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em 1911, Nova York. Foto: Reprodução
Incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em 1911, Nova York. Foto: Reprodução

Já na Alemanha, foi Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão e defensora dos direitos das mulheres no contexto trabalhista, que deu início à proposta de criar o Dia Internacional das Mulheres. Mas ainda não havia uma data definida.

O 8 de março só se tornaria uma referência em 1917, quando operárias russas foram às ruas para protestar contra a fome e a Primeira Guerra Mundial. Em plena Revolução Industrial, tais movimentações são consideradas determinantes para o início da Revolução Russa (1917 -1923).

A data só foi reconhecida pela ONU em 1975, que considerou este ano como o Ano Internacional das Mulheres. Hoje, a data não se atenta apenas para a comemoração dos avanços que as mulheres conquistaram ao longo dos anos, mas para a conscientização em relação a desigualdade de gênero e engajamento das novas gerações. 

Manifestação contra a fome, as condições da Primeira Guerra Mundial e o regime czarista. Foto: Reprodução
Manifestação contra a fome, as condições da Primeira Guerra Mundial e o regime czarista. Foto: Reprodução