Influenciadora é chamada de "homem" por espectadora; confusão gerou vaias, atraso no espetáculo e intervenção policial
por
Carolina Zaterka
Manoella Marinho
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15/04/2025 - 12h

 

Malévola Alves, influenciadora digital e mulher trans, denunciou ter sido vítima de transfobia no Teatro Renault, em São Paulo, no dia 26 de março de 2025, ao ser tratada pelo pronome masculino e chamada de “homem” por uma espectadora. O incidente ocorreu antes do início do musical “Wicked”. Malévola, com mais de 840 mil seguidores, publicou trechos do episódio em suas redes, que rapidamente viralizaram.

Segundo relatos de testemunhas e da própria vítima, a confusão começou quando Malévola esperava uma nota fiscal e a mulher atrás dela mostrou impaciência. As duas trocaram palavras e, ao se afastar, a mulher teria gritado "isso é homem ou mulher?" em sua direção. A vítima então se sentiu ofendida e levou a denúncia à plateia, apontando a espectadora como autora do ataque transfóbico, causando um tumulto que paralisou a plateia.

A reação do público foi de imediato apoio a Malévola, com vaias à agressora e pedidos para que ela fosse retirada do teatro. “A gente não vai começar a assistir a um espetáculo que é extremamente representativo para a diversidade com uma mulher dessa aqui. Não faz o menor sentido”, afirmou um dos espectadores durante o protesto.

Diante da pressão da plateia, a apresentação atrasou cerca de 30 minutos. A mulher acusada acabou saindo do teatro sob escolta policial, levada à  delegacia para realizar um boletim de ocorrência, recebendo aplausos e vaias dos demais presentes. Miguel Filpi, presente no evento, celebrou nas redes sociais: “Justiça foi feita!! Obrigado a todo mundo nessa plateia que fez a união para que isso acontecesse.”

Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium (Produtor do musical), pediu desculpas pelo ocorrido antes de dar início ao espetáculo: “Peço desculpas por esse acontecimento e por esse atraso. Tudo o que a gente pode admitir, é bom que a gente admita na vida, mas transfobia em Wicked, não dá”. A atriz Fabi Bang, também se manifestou durante e após o espetáculo: “Transfobia jamais” - uma improvisação durante a música “Popular”.

 

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Fabi Bang, atriz que interpreta Glinda, em apresentação do musical. Foto: Blog Arcanjo/Reprodução

Viviane Milano, identificada como a espectadora acusada, negou as acusações em um pronunciamento, alegando que a confusão na fila da bombonière não foi sobre identidade de gênero, mas sobre uma tentativa de furar fila. Ela afirmou: “Perguntei em voz alta: ‘Era o homem ou a mulher que estava na fila?’”, dizendo que sua pergunta foi mal interpretada.

A produção de Wicked e membros do elenco reiteraram seu compromisso com a diversidade e repudiaram o incidente. A nota oficial da produção destacou: “Nosso espetáculo é e continuará sendo um espaço seguro para todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual.”

As últimas apresentações do cantor baiano reunem seus maiores sucessos e participações de grandes artistas brasileiros
por
Davi Rezende
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14/04/2025 - 12h

Tiveram início na última sexta-feira (11) os shows em São Paulo da turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil, a última da carreira do lendário artista. O evento, que teve início em março, na cidade de Salvador (BA), chegou neste mês à capital paulista com quatro datas, duas neste final de semana e mais duas ao fim do mês.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Aquele Abraço
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende
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Reunindo participações especiais, cenários característicos e grandes sucessos da carreira do cantor, a turnê é uma grande celebração da história de Gil, enquanto seus últimos shows ao vivo. Desde os visuais até a performance do artista, tudo é composto de forma detalhada para transmitir a energia da obra de Gilberto, que se renova em apresentações vívidas e convidados de diversos gêneros musicais brasileiros.

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Gil conquistou uma das trajetórias mais consolidadas e respeitadas da música brasileira. Com mais de 50 álbuns gravados, sendo 30 de estúdio, ele se tornou uma lenda da bossa nova e do samba, com produções que se provam atemporais, além de participações em movimentos políticos e artísticos que marcaram o Brasil.

Gilberto Gil agasalhado em exílio nas ruas de Londres
Gilberto Gil no exílio em Londres/ Foto: Reprodução/FFLCH - USP

 

Na década de 60, após se popularizar em meio a festivais, Gil fez grande parte da luta contra as opressões da Ditadura Militar no Brasil, tornando-se peça importante no movimento da Tropicália. Ao lado de artistas como Caetano Veloso e Gal Costa, Gilberto foi protagonista na revolução da arte brasileira, além de compor grandes canções de resistência.

Em 1969, após o lançamento de um de seus maiores clássicos, “Aquele Abraço”, Gil se exilou fora do Brasil para fugir da Ditadura, em Londres. Na Inglaterra, ele seguiu produzindo e performando, ao lado de outros grandes gênios tropicalistas, até retornar em 1971, lançando no ano seguinte o álbum “Expresso 2222” (1972). Três anos após o grande sucesso, Gil lança o álbum “Refazenda” (1975), primeiro disco de uma trilogia composta por “Refavela” (1977) e “Realce” (1979).

Todos os grandes momentos da vida do cantor são representados na turnê, tanto com sua performance, dirigida por Rafael Dragaud, quanto na cenografia, montada pela cineasta Daniela Thomas. Na setlist, Gil ainda presta homenagens a grandes figuras da música, como Chico Buarque (que faz participação em vídeo tocado ao fundo de Gilberto, durante a apresentação) quando interpreta “Cálice”, canção de sua autoria ao lado do compositor carioca, e até Bob Marley, no momento que toca “Não Chore Mais” (versão da música “No Woman, No Cry” do cantor jamaicano) com imagens da bandeira da Jamaica ao fundo.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Não Chore Mais
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

 

Nas apresentações no Rio de Janeiro, o artista convidou Caetano e Anitta para comporem a performance, enquanto em São Paulo, na sexta-feira (11) MC Hariel e Flor Gil, a neta do cantor, deram as caras, além de Arnaldo Antunes e Sandy terem participado do show de sábado (12).

A turnê “Tempo Rei” aproxima Gilberto Gil do fim de sua carreira, celebrando sua história nos shows que rodam o Brasil inteiro. A reunião de artistas já consolidados na indústria para condecorar o cantor em suas apresentações prova a grandeza de Gil e como sua obra é imortal, movimentando a música de todo o país ao seu redor. Sua performance é energética e vívida, como toda a carreira do compositor, fazendo dos brasileiros os súditos do Tempo Rei.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Expresso 2222
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

As apresentações de Gil seguem ao longo do ano, encerrando em novembro, na cidade de Recife (PE). Em São Paulo, o cantor ainda se apresenta em mais duas datas, nos dias 25 e 26 de abril, no Allianz Parque.

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Filme brasileiro conta a história de uma senhora que através de uma câmera expôs uma rede de tráfico no Rio de Janeiro
por
Kaleo Ferreira
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14/04/2025 - 12h

O filme “Vitória” lançado no dia 13 de março de 2025, dirigido por Andrucha Waddington e roteirizado por Paula Fiuza, tem como tema a história de Dona Nina (Fernanda Montenegro), uma senhora de 80 anos que sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de drogas em Copacabana, filmando com uma câmera a rotina do mercado criminoso da janela de seu apartamento.

 

Cena do filme ”Vitória” (Foto: CNN Brasil)
Cena do filme ”Vitória”. Foto: CNN Brasil

 

O longa é inspirado no livro “Dona Vitória Joana da Paz”, escrito pelo jornalista Fábio Gusmão e baseado na história verídica de Joana Zeferino da Paz. Grande força do filme vem da atuação de Fernanda, que consegue transmitir a solidão, indignação, determinação e a garra que a personagem teve para confrontar o crime na Ladeira dos Tabajaras.

O filme começa construindo uma atmosfera de grande tensão, claustrofobia e solidão dentro do pequeno apartamento com o reflexo da violência diante dos olhos, assim mergulhando na realidade crua do cotidiano carioca, expondo a fragilidade da segurança pública e o poder que o crime organizado possui. 

Em certos momentos, o ritmo da narrativa se torna um pouco lento e cansativo e a ação do longa começa com a introdução do jornalista Fábio, interpretado por Alan Rocha, que desenvolve uma relação de parceria com Dona Nina. Ele assiste às fitas gravadas por ela, provas de criminosos desfilando com armas à luz do dia, vendendo e utilizando drogas entre crianças e adolescentes, além de ter ajuda dos policiais para o tráfico. E diante de tudo, decide ajudar a senhora, assim escrevendo uma grande reportagem que colocaria os holofotes sobre todo o esquema de tráfico. 

 

Cartaz do filme (Foto: IMDb)
Cartaz do filme. Foto: IMDb

 

O filme tem a participação de outras atrizes, como Linn da Quebrada e Laila Garin, que mesmo em papeis secundários, também merecem destaque por agregar camadas à narrativa e mostrar diferentes facetas de como a comunidade é afetada pela violência.

Em resumo, “Vitória” é um filme emocionante e que faz refletir. Apesar dos problemas no ritmo do filme, a força de uma história real e a grande atuação de Fernanda Montenegro, com seus 95 anos, o consolidam como um filme digno de ser assistido e relevante para o cinema brasileiro. 

É um retrato da realidade brasileira que ao dar voz a uma história de resistência contra o crime, levanta questões importantes sobre segurança, justiça e o papel dos cidadãos contra a violência, dando esperança em resistir a toda criminalidade que a sociedade enfrenta com tanta frequência, além de dar voz a uma mulher que decide não se calar.

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O grupo sul-coreano encerra sua passagem pelo Brasil com o título de maior show de K-pop no país
por
Beatriz Lima
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09/04/2025 - 12h

 

Na primeira semana de abril, São Paulo e Rio de Janeiro foram palco dos shows da DominATE Tour, do grupo de K-pop Stray Kids. Em novembro de 2024, o grupo anunciou sua primeira passagem pela América Latina após sete anos de carreira, com shows no Chile, Brasil, Peru e México, causando êxtase aos fãs do continente.

Stray Kids é um grupo de K-pop composto por oito integrantes, Bang Chan, Lee Know, Changbin, Hyunjin, Han, Felix, Seungmin e I.N. O grupo estreou em 2018, após um programa eliminatório com diversos trainees da JYP Entertainment - empresa que gere o grupo. No dia 8 de julho de 2024, o grupo anunciou sua terceira turnê mundial chamada ‘DominATE Tour’, com shows iniciais pelo Leste e Sudeste Asiático e Austrália. 

A DominATE Tour foi anunciada para a divulgação de seu mais recente álbum, ATE, lançado dia 19 de julho de 2024. Com o sucesso mundial do grupo e da música “Chk chk boom”, com a participação dos atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman no clipe, o grupo divulgou datas para a turnê na América Latina, América do Norte e Europa no início de 2025.

Foto de divulgação da turnê DominATE
Imagem de divulgação da turnê DominATE. Foto: Divulgação/JYP Entertainment

No Brasil, o octeto iniciou sua passagem pela cidade do Rio de Janeiro com seu show de estreia dia 1 de abril no Estádio Nilton Santos, com mais de 55 mil pessoas presentes no local. Em sua primeira data na cidade de São Paulo, sábado (5), o grupo sul-coreano teve os ingressos esgotados e, mesmo com chuva e baixas temperaturas, bateu o recorde de maior show de K-pop no Brasil, com um total de 65 mil pessoas no Estádio MorumBIS. No dia seguinte, o grupo teve seu último dia de passagem pelo país e somou no total - nos dois dias de show na capital paulista - 120 mil pessoas.

Show do Stray Kids no Estádio MorumBIS
Primeiro dia de show do Stray Kids em São Paulo. Foto: JYP Entertainment / Iris Alves

 

Os shows contaram com estruturas complexas e atraentes - com direito a fogos de artifícios e explosões de luz a cada performance -, tradução simultânea nos momentos de interação com o público, banda e equipe de dança do próprio grupo, além de estações de água e paramédicos à disposição do evento. Foram três noites marcantes tanto para os fãs brasileiros quanto para os próprios membros do grupo. “Eu sinto que tudo que nós passamos durante esses sete anos foi para encontrar vocês.” diz Hyunjin em seu primeiro dia de show no Brasil. 

Com o recorde de público nos shows e reações positivas na mídia e público brasileiro, o grupo promete voltar ao país em uma nova oportunidade, deixando claro seu amor pelo país e pelos fãs brasileiros. “Bom, é a sensação de que ganhamos uma segunda casa… todos nós [os oito membros]” declara o líder Bang Chan no primeiro show de São Paulo.

Membros do grupo após o show do Rio de Janeiro.
Foto divulgada após o show do Stray Kids no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/JYP Entertainment

 

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Último dia do festival em São Paulo também reuniu shows de Justin Timberlake, Foster The People e bandas nacionais
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Maria Eduarda Cepeda
Jessica Castro
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09/04/2025 - 12h

 

Neste domingo (30), o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, recebeu o último dia da edição 2025 do Lollapalooza Brasil. O festival, que reuniu uma diversidade de estilos, contou com apresentações de bandas indies nacionais, como Terno Rei, e gigantes do pop, como Justin Timberlake. Como destaque, tivemos a histórica estreia da banda Tool em solo brasileiro, a volta de Foster The People ao festival e o show emocionante de encerramento do Sepultura, que consagrou sua importância como uma das maiores referências do metal, tanto no Brasil quanto no mundo.

Diferente do primeiro dia, o domingo foi marcado por tempo firme e céu aberto, sem a interferência da chuva. Com condições climáticas favoráveis, o público pôde aproveitar muito seus artistas favoritos ao longo do dia.

As primeiras atrações do dia já davam o tom da despedida do festival: uma mistura de muito indie, rock n’ roll e nostalgia no ar. No palco Budweiser, a cantora pernambucana Sofia Freire abriu os trabalhos com uma estreia marcante, conquistando o público com talento e carisma. E no palco Mike´s Ice, a banda "Charlotte Matou um Cara" chamou atenção por ter a vocalista, Andrea Dip, vestida em uma camisa de força. 

Além de cantora, Andrea é jornalista e faz parte da Agência Pública de Jornalismo Investigativo. Em 2013, recebeu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo pelo seu trabalho na história em quadrinhos “Meninas em Jogo” e foi premiada pelo Troféu Mulher Imprensa na categoria site de notícias em 2016.

Vocalista da banda "Charlotte Matou um Cara", Andrea Dip, usando uma camisa de força rosa
A banda já dividiu palco com a cantora e atriz Linn da Quebrada. Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

Com músicas que tratam temas como machismo, ditadura militar e a luta contra a violação do corpo feminino, o grupo trouxe para o festival a agressividade e a energia para o "dia do rock". 

Na sequência, o grupo Terno Rei assumiu o palco e transformou a plateia ainda tímida em um coro envolvido por seu setlist, que mesclou sucessos da carreira e novas apostas sonoras. A banda ainda aproveitou o momento para anunciar seu próximo álbum, “Nenhuma Estrela”, com lançamento marcado para 15 de abril.

Depois de 8 anos longe do Brasil, Mark Foster e Isom Innis voltaram pela terceira vez ao Lollapalooza Brasil. As músicas foram de seus sucessos mais recentes às músicas mais queridas pelos fãs, como "Houdini" e "Call It What You Want". Com um público morno, mesmo com a presença dos fãs fiéis, eles não desanimaram e se mostraram contentes por estarem de volta. A música mais famosa, "Pumped Up Kicks", finalizou a apresentação do grupo.

A banda Tool se apresentou pela primeira vez no Brasil após 35 anos de carreira, mas quem compareceu esperando ver o grupo e uma apresentação tradicional teve uma surpresa. Tool fez um show cru, sem pausas e sem momentos emocionados. O visual sombrio e imersão feita pelos visuais espirituais do telão comandaram os espectadores a uma experiência única no festival, sendo o show mais enigmático da noite. A setlist foi variada, com alguns de seus sucessos e músicas de seu álbum mais recente "Fear Inoculum". Apesar da proposta diferenciada, o público pareceu embarcar na viagem sensorial proposta pelo grupo. 

Vocalisa da banda Tool na frente do telão, mas não somos capazes de ver seu rosto, apenas sua silhueta
A presença enigmática do vocalista causou muita curiosidade entre os espectadores. Foto: Sidnei Lopes/ @observadordaimagem

Sepultura está dando adeus aos palcos ao mesmo tempo que celebra seus 40 anos de carreira, assim como o nome de sua turnê, "Celebrating Life Through Death". Fechando a edição de 2025 do festival, a banda teve convidados curiosos para a setlist. Para acompanhar a música "Kaiowas", o cantor Júnior e o criador do Lollapalooza, Perry Farrell, subiram no palco para integrar o ritmo agressivo dessa despedida. Com uma setlist semelhante a do show feito em setembro do ano passado, também dessa turnê de adeus, o grupo não deixou o clima cair mesmo com os problemas técnicos que enfrentaram. O som estava abafado e baixo comparado ao de outros palcos, a banda Bush enfrentou o mesmo problema em sua apresentação. 

A banda encerrou seu legado no festival com um de seus maiores sucessos internacionais, "Roots Bloody Roots", eternizando seu legado e deixando saudades em seus fãs que se mantiveram devotos até o fim.

No palco ao lado, o grande headliner da noite, Justin Timberlake, mostrou que seu status de popstar segue intacto. A apresentação, que não foi transmitida ao vivo pelos canais oficiais do evento, teve performances energéticas, muita dança e vocais entregues sem base pré-gravada.

Justin Timberlake se apresentando no palco principal do festival
Justin Timberlake encerra a terceira noite do festival Lollapalooza 2025. — Foto: Divulgação/Lollapalooza

Com um show marcado por coros emocionados em “Mirrors” e uma enxurrada de hits como, “Cry Me a River”, “SexyBack” e “What Goes Around... Comes Around”, ele reforçou sua presença como um dos grandes nomes da música pop.

Apesar de definitivamente não estar em sua melhor fase — após polêmicas envolvendo sua ex-namorada Britney Spears, que o acusou de um relacionamento abusivo, e uma prisão em 2024 por dirigir embriagado — Timberlake demonstrou um forte engajamento com o público, que saiu eletrizado do show. 

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As lutas pela defesa da liberdade e da democracia em uma época totalitária e violenta e os impactos na contemporaneidade na Pontifícia Universidade Católica
por
Juliana Salomão
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23/04/2024 - 12h

O Memorial da Resistência, localizado no Centro de São Paulo, é dedicado à memória da Ditadura Civil-Militar, onde muitos presos políticos foram detidos sob o autoritarismo imposto, afetando e prendendo pessoas que faziam parte, principalmente, à imprensa e à educação. Com várias exibições presentes, a PUC-SP é uma das instituições que está promovendo uma nova exposição que destaca os espaços de memória em um dos locais culturais mais relevantes da capital paulista. 

Durante a ditadura, o jornalismo foi impactado brutalmente, sendo alvo da censura, tirando o que há de mais importante nesta profissão: a liberdade de expressão. Na educação, não foi diferente; a censura chegou a níveis de exclusão de materiais didáticos, como livros. Na mostra, a universidade revela formas de tentar driblar o totalitarismo imposto pelo governo, e o professor de jornalismo, Fábio Cypriano, comenta: “Boa parte de resistência à ditadura aconteceu na PUC de São Paulo. Essa exposição, ela fala sobre isso, então, nós organizamos a mostra em cinco módulos.” 

Dividida em cinco módulos, uma seção inclui o papel de abrigar professores expulsos ou demitidos de outras instituições, como Florestan Fernandes e Paulo Freire. A outra parte da exposição é dedicada à Comissão da Verdade, que foi estabelecida para investigar o que aconteceu na universidade durante essa época, incluindo a homenagem para cinco alunos que eram da PUC e foram mortos. Um dos espaços mais importantes que é o teatro TUCA, que é um local de luta eterna, também é uma pauta importante discutida na exibição em relação a memória. O último módulo é dedicado à “Defesa radical da democracia” e inclui iniciativas como o "Tribunal do Idiota", que abordou o que aconteceu no país durante a pandemia. 

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Módulo da exposição da PUC-SP (Reprodução: Juliana Salomão)

Em relação a essa exposição e a comemoração de 60 anos de resistência democráticas (1964-2024), Hélio Campos, editor da revista ‘Isto é’ e fotógrafo, conta um pouco mais sobre as mobilizações feita na PUC-SP e como isso afetou e marcou os dias atuais: “Os estudantes começaram a se organizar, a se mobilizar; a gritar abaixo a ditadura; a sair às ruas, porque o governo já estava fragilizado com pouco sucesso em termos econômicos e com muita tortura [...] Muita coisa justifica o que estamos vendo aqui!”, assim apresenta a importância desse espaço que é a universidade e o poder dos movimentos estudantis.

O editor conta como era o seu dia a dia e como lidava com a censura, os riscos que corria, as perseguições e a violências que sofria: “Eu trabalhava na revista ‘Isto é’.  A ‘Isto é’ era uma divergência da ‘Veja’ — apoiava a ditadura. Nesta época, o que eu mais cobria era estudantes e metalúrgicas”, destacando que Campos fazia registros de grupos considerados revoltosos, que eram presos no DOPS, onde eram submetidos à tortura, e em muitos casos, faleciam.

O DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) foi um órgão fundamental e violento durante esse período, no qual eles decretaram crimes de ordem pública e social relacionados à prática de capoeira, a manifestações religiosas afro-brasileiras e ao combate de movimentos de esquerda no país. Torturas, execuções e prisões ilegais eram extremamente presentes. Atualmente, é um prédio de pesquisa sobre esse período e fica localizado no Memorial da Resistência, sendo um dos principais locais de visita. O aluno de jornalismo, Wildner Felix, expressou: “Não tinha muito conhecimento sobre a época da Ditadura e como foi. Eu achei que foi muito incrível, as fotografias, a organização. Ficou muito lindo e eu pretendo ir de novo.”  

Para a instituição católica, a defesa da liberdade e da democracia é uma pauta que é recorrente e permeia a todos pertencentes dessa comunidade, não só por sua história dos impactos e confrontos nessa época totalitária, mas como se posiciona até os dias de hoje, como filantrópica e comunitária. 

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As marcas da Ditadura evidenciam a violência enraizada no Brasil
por
Beatriz Lima
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23/04/2024 - 12h

O Memorial da resistência surgiu com intuito de retratar e sensibilizar a sociedade brasileira em relação ao Período Ditatorial no Brasil. Veio como forma de eternizar as causas e lutas dos grupos oprimidos e preservar a memória do Golpe Militar no Brasil, revelando as diversas violações de Direitos Humanos que aconteciam corriqueiramente durante o período. 

 O museu abriga também a Estação Pinacoteca e ocupa o espaço do antigo DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo), órgão público de repressão social, e, por isso, conta com um vasto acervo material ao estudo da História. 

Antigo prédio do DEOPS, que mais tarde se transformou no Memorial da Resistência. Acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo.
Antigo prédio do DEOPS, que mais tarde se transformou no Memorial da Resistência. Acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo.

O espaço passou por obras de revitalização antes de sua inauguração em 2009, de modo que seu espaço retratasse o máximo possível do que ocorria naquele espaço durante o Regime Ditatorial. O memorial dispõe de exposições fixas do próprio espaço físico e também exposições itinerantes focadas na memória da Ditadura. 

Seu acervo conta com celas de presos políticos reconstituídas como as da época, trazendo uma reflexão profunda sobre as consequências do poder na mão dos militares.  

 “Ao entrar nas celas senti uma atmosfera pesada se formando. O peso da história daquele lugar me deixou emocionado e também incomodado, sabendo de tudo de terrível que aconteceu. Ao ler os relatos nas paredes tudo ficou ainda mais intenso, o desconforto e a inquietação de saber que aqueles escritos são reais.”, diz um Vitor Nhoatto, aluno universitário que visitou a exposição. 

 Antigamente, o espaço era um dos principais centros de tortura na cidade de São Paulo e, com isso, a Instituição torna evidente a extrema violência militar com aqueles que não compartilhassem de seus mesmos ideais. 

O aluno diz ainda sobre suas interpretações em relação política a tudo que é exposto no Memorial. “Devido a todos os elementos do espaço, como as cartas, os vídeos, as fotos e os objetos nas celas, com certeza a exposição tinha como foco dar uma dimensão de como o período ditatorial foi horrível e violento. A linha do tempo na sala ao lado das celas também destaca algumas ações do período, como o AI-2 e o AI-5, frisando toda a repressão militar. E principalmente, as imagens de algumas manifestações reforçavam a censura e violência da época.” 

Esse método de controle por meio da força visto na Ditadura, traça um paralelo com a tragédia de 1992, na Casa de Detenção de São Paulo localizado no bairro Carandiru. O Massacre do Carandiru foi um caso que chocou o país, visto que a reação violenta dos policiais militares como forma de controle dentro do presídio resultou em 111 mortos e 110 feridos. 

Carandiru cercado de policiais após o episódio do “Massacre do Carandiru” no dia 02/10/1992. Crédito: Itamar Miranda. Arquivo Estadão
Carandiru cercado de policiais após o episódio do “Massacre do Carandiru” no dia 02/10/1992. Crédito: Itamar Miranda. Arquivo Estadão.

Esse acontecimento mostra que, assim como na Ditadura, as forças militares sempre procuram maneiras de dominar a sociedade brasileira, mostrando que a preservação da memória da ditadura é de extrema importância para impedir um novo Golpe Militar na República brasileira.  

“O local é como um farol para que a gente se lembre sempre do terror da época.”, conclui o estudante. 

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A escola e companhia de dança realizou sua primeira visita monitorada do ano.
por
Camila Bucoff
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23/04/2024 - 12h

No dia 12 de abril, a academia abriu as portas para que os visitantes pudessem conhecer o espaço e a história do Ballet. A experiência, guiada por Monica Tarragó, diretora e fundadora da instituição, também contou com uma apresentação da recém-formada companhia e uma roda de conversa com os bailarinos. 

A sede de três andares, localizada em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, é berço de grande potencial artístico. Com várias paredes pintadas por artistas famosos, como Kobra e Mena, e mais de 200 bailarinos uniformizados, a escola se tornou um ponto de arte, cor e cultura na região. 

Figurinos expostos no segundo andar. Foto: Isabella Ogassavara/Arquivo pessoal
Figurinos expostos no segundo andar. Foto: Isabella Ogassavara/ Arquivo pessoal
Paraisópolis vista do terceiro andar. Foto: Isabella Ogassavara /Arquivo pessoal
Paraisópolis vista do terceiro andar. Foto: Isabella Ogassavara/ Arquivo pessoal

A formação dos bailarinos é totalmente gratuita e aberta para o público, porém, como o limite de vagas já foi excedido, existe uma lista de espera que conta com mais de 2000 jovens interessados. Sábado 6/4, 70 novas crianças ingressaram na academia. Sob essa ótica de inclusão, existe um comprometimento da atual diretora em tornar o espaço acessível em todos os sentidos: os três andares possuem mapas táteis para os alunos portadores de deficiência visual e o próximo passo será a instalação de elevadores.

A formação básica é de 10 anos e consiste em 3 aulas por semana, com 60 minutos diários, que exploram as mais variadas expressões artísticas, desde o ballet clássico, contemporâneo, até a história da dança. Para as crianças mais dedicadas, há uma pequena turma de 15 estudantes entre 8/10 anos, chamada de “infantil”, que é ainda mais intensiva e preparatória para a carreira na arte. Durante a visita, a fundadora revelou que o Ballet busca, ao máximo, dar as condições necessárias aos alunos para que eles, com força de vontade e persistência, tornem o desejo de dançar uma realidade.

Por ser uma instituição sem fins lucrativos, o Ballet Paraisópolis é patrocinado por algumas empresas privadas e financiado por projetos de incentivo governamental, além de doações. Contudo, todos os funcionários são remunerados, assim como os bailarinos da companhia, que embora tenha sido fundada em 2022, só foi oficializada no mês passado, representando um passo importante para a profissionalização e reconhecimento dos artistas. As obras "Grand Pas de Deux de Don Quixote", montado por Weverton Aguiar, e "Véspera", por Christian Casarin, marcaram o lançamento. 

Além disso, os 18 integrantes da cia recebem bolsa para formação no ensino superior, direcionamento nutricional e assistência fisioterapêutica. Logo, o cuidado com o bailarino vai desde o início de sua formação até sua atuação profissional. Entre os dançarinos presentes durante a visita, oito já eram da escola, enquanto os sete, que vieram de fora, tiveram que passar por uma audição antes de serem contratados.

Visitantes e companhia após apresentação e roda de conversa. Foto: Reprodução/Instagram/@balletdeparaisópolis
Visitantes e companhia após apresentação e roda de conversa. Foto: Reprodução/Instagram/@balletparaisopolis

Por fim, a organização interna da academia incentiva um senso de comunidade entre os estudantes. A limpeza das áreas de convivência e dos banheiros é de responsabilidade da companhia, que influencia os mais novos a seguirem seu exemplo. Outro hábito dos bailarinos é oferecer auxílio aos professores, mantendo a sala organizada durante as aulas, e à coordenação, colaborando com ideias de marketing, sugestões e levantando demandas dos dançarinos. 

Para além da beleza da sede, ela traz visibilidade à região, oportunidade de acesso à cultura e à arte, e com isso, um desenvolvimento social significativo. Nesse sentido, a sensação de coletividade extrapola a infraestrutura do Ballet e contamina Paraisópolis. Em junho de 2021, a instituição recebeu o título de “Ponto de Cultura do Ministério da Cidadania”, e em outubro, o “Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade”.

Ainda sem previsão da próxima visita, é indicado acompanhar as páginas do Ballet nas redes sociais para outras oportunidades. 


 

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Evento gratuito de música no Parque Villa Lobos traz grandes atrações e anima o fim de semana dos paulistanos
por
Beatriz Yamamoto
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17/04/2024 - 12h

No último fim de semana (13/4), São Paulo recebeu a 8ª edição do Festival BB Seguros de Blues e Jazz. Patrocinado pela Lei de incentivo à cultura, o festival proporcionou shows gratuitos ao ar livre, reunindo grandes músicos nacionais e internacionais. As apresentações aconteceram na Ilha Musical do Parque Villa-Lobos, em São Paulo, proporcionando ao público a oportunidade de desfrutar de boa música em meio aos espaços verdes urbanos da cidade.

Os espectadores trouxeram cangas, fizeram piqueniques e desfrutaram do evento, imersos em músicas no ambiente descontraído. Para as crianças, pintura facial, oficina de desenho e malabares.

O primeiro show foi do Monk's Dream Jazz Group, um quarteto em homenagem a um dos maiores pianistas e compositores do jazz moderno, Thelonious Monk.

Show do Monk's Street Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto
Show do Monk's Dream Jazz Group no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto

Durante os intervalos, a Orleans Street Jazz Band alegrava o público, trazendo a energia das ruas de Nova Orleans com músicas conhecidas do jazz.

Em seguida, a banda Bixiga 70, assim chamada por ter nascido no número 70 da Rua Treze de Maio, no bairro do Bixiga, misturou elementos da música africana, afrobeat, brasileira, latina e jazz. Houve muita animação, e ainda tocaram músicas do “Rei do Baião” Luiz Gonzaga.

Durante o outro intervalo, a Orleans Street Jazz Band tocou mais músicas, incluindo composições de Jorge Ben e Tim Maia, deixando o público ainda mais animado.

 

Orleans Street Jazz Band no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto
Orleans Street Jazz Band no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto

 

Como já é tradição no festival, o show especial do grupo O Bando Rock & Blues fez o público vibrar e cantar junto músicas icônicas que marcaram a história entre esses dois estilos.

Em seguida, Renato Borghetti, entrou no ritmo gaúcho com seu acordeão e seus músicos, incluindo seu flautista que deu um show ao interpretar "Asa Branca". Foi uma experiência emocionante, com o gramado totalmente tomado pelos amantes da música.

O mais aguardado, um dos maiores nomes do blues e jazz nacional e internacional, era o renomado trompetista cubano Arturo Sandoval, vencedor de dez prêmios Grammy. A verdadeira lenda do jazz e sua banda subiram ao palco depois da apresentação de Borghetti. Inspirado por grandes nomes do jazz como Charlie Parker e Dizzy Gillespie, Sandoval proporcionou um show único e bem-humorado, trazendo elementos da cultura cubana. O trompetista e sua banda impressionaram o público, tornando o espetáculo verdadeiramente inesquecível.

 

Show de Arturo Sandoval no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto
Show de Arturo Sandoval no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto

 

Show de Alabama Mike no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto
Show de Alabama Mike no Festival BB Seguros de Blues e Jazz/Foto: Beatriz Yamamoto

O público permaneceu em qualquer clima. À medida que a noite caía e a garoa típica de São Paulo começava, a multidão continuava animada para o último show, protagonizado por Alabama Mike, o bluesman americano que encerrou o evento.

Além de São Paulo, o festival também acontece em Brasília (20/4) e Recife (18/5), ampliando seu alcance e impacto cultural em todo o país. Em cada cidade, o evento reafirma sua missão de democratizar o acesso à cultura e à música de qualidade, oferecendo ao público a oportunidade única de vivenciar performances que normalmente estariam confinadas a espaços mais restritos e exclusivos.

O festival se despede de mais um ano de sucesso e os espectadores já aguardam ansiosamente pelo próximo encontro com a magia do blues e jazz.

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Apesar da aprovação institucional, a realidade do movimento nas ruas ainda demonstra ser outra
por
Amanda Tescari
Helena Campos
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16/04/2024 - 12h

No dia 6 de março, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou o Projeto de Lei 498/2021, que reconhece o hip hop como patrimônio cultural imaterial do estado de São Paulo. A iniciativa legislativa se deu a partir da articulação da deputada Leci Brandão (PCdoB) em coautoria com Márcia Lia (PT), Márcio Nakashima (PDT) e Emídio de Souza (PT).

 

A necessidade de tal reconhecimento exposta pelos deputados é justificada pela grande importância do movimento cultural na vida dos jovens periféricos. A partir do hip hop, milhares de jovens são incentivados a vivenciar a cultura, os projetos sociais e econômicos de grande impacto que não são desenvolvidos pelo Estado, estimulando sua autoestima e autoconhecimento.

 

São Paulo não foi o pioneiro em tal movimentação legislativa. O reconhecimento da cultura hip hop como patrimônio cultural imaterial foi tema de discussão em 2023 em Brasília, com a aprovação da lei nº 97/2023, de autoria de Max Maciel (PSOL).

 

A popularização do rap e sua chegada ao mainstream

 

            Nos últimos anos, é notória a constante crescente pela qual o estilo musical tem passado nas plataformas digitais, levando diversos artistas que antes não possuíam tal alcance ao posto de mainstream.

 

Segundo o site Trace Brasil, em agosto de 2023, 25% dos usuários do Spotify eram ouvintes de hip hop, 53 milhões das playlists eram compostas de músicas do gênero e dois bilhões de pessoas tinham pelo menos um hip hop salvo. A playlist “RapCaviar” é a mais ouvida do planeta e o Brasil está em terceiro lugar no ranking dos países que mais escutaram o gênero em 2023.

 

A realidade do hip hop nas ruas

 

Mesmo com todo esse crescimento, popularização e até reconhecimento institucional, a realidade dos artistas fora dos aplicativos de música é diferente. Cinco dias depois da aprovação do projeto de lei que reconheceu o hip hop como patrimônio cultural, a artista MC Kisha foi retirada à força de um vagão da CPTM e posteriormente agredida pelos próprios agentes de segurança do local enquanto rimava.

 

Ela e outras MC'S voltavam de um evento de rima realizado na zona sul de São Paulo, e na hora da agressão, contaram estar rimando e conversando sobre pautas sociais no transporte público.

 

A MC conta em entrevista ao UOL, já ter sofrido outras agressões pela mesma razão, mas nada tão brutal. No seu Instagram, Kisha publicou fotos de seu rosto inchado e das tranças, que foram arrancadas de sua cabeça. Na legenda, escreveu: “Pra quem me pergunta ‘Kisha, parou de rimar em trem?’ Tá aí sua resposta!”

        

Fora dos vagões do trem, na zona oeste da cidade, a tradição das rimas se mantém ativa. “Tem que ter coragem, não pode jogar toalha, toda quarta-feira tem Largo da Batalha”, cantam os MC's junto da plateia na praça ao lado do metrô Faria Lima. A competição é receptiva e repleta de discussões políticas. Os participantes se inscrevem na batalha em duplas e há sempre o ganhador do dia. Durante as rimas, o público interage com os Mc´s e demonstra sua satisfação. As votações são feitas com base nas palmas e na torcida do público.

 

Mano Jhowse, duas vezes ganhador do Largo da Batalha, apontou em sua entrevista à Agemt que o hip hop é, de início, um ambiente machista, "mas a gente tá em constante evolução para poder ser um espaço mais inclusivo, para que mais pessoas tenham acesso a essa cultura", concluiu.

 

Os organizadores do evento compartilharam com a plateia que todas as mulheres que haviam se inscrito para batalhar, tiveram a oportunidade de rimar. Mas Gisele Amâncio, mais conhecida como MC Girassol, ainda sente falta de mais representatividade durante as rimas. “Eles falam ‘é MC contra MC’ mas não é assim, porque se fosse tão justo, ia ter oito minas e oito manos na chave”, expõe à Agemt.

 

A artista do Grajaú relata ainda que já perdeu batalhas por falar da sua luta, "mas é isso, eu bato nesses cara tudo e não tô nem aí", brincou.

 

Apesar de alguns momentos de falta de luz na praça, a batalha foi finalizada. Sobre esse tipo de acontecimento, Jhowse relatou: "a questão é a seguinte: os espaços públicos são nossos, certo? A gente acredita que não é. Quando você domina um espaço público, de início, o sistema vai tentar te oprimir pra que isso não cresça, ainda mais porque as coisas que a gente fala aqui são contra o sistema capitalista, esse sistema de opressão".

 

            Ele destaca, ainda, que o hip hop sempre foi um movimento de luta contra o Estado, e que isso tem como consequência uma reação de querer abafar a cultura de alguma maneira. "E a resistência depende de uma firmeza, de uma base, uma raíz bem fixada", finaliza.

                                                            

                                                 Mano Jhowse após sua vitória no Largo da Batalha. Via: Instagram

 

Origem do hip hop

 

Diante do contexto de grande inseguridade social vivenciado pelos Estados Unidos nos anos 70, evidenciaram-se as diferenças sociais, os processos de discriminação racial e favorecimento do acesso à criminalidade e às drogas em diversos locais do país, mais especificamente no Bronx, bairro periférico de Nova York e futuro berço do hip hop.

 

Em oposição a esse cenário, a primeira festa de hip hop foi promovida em agosto de 1973, pelo DJ jamaicano Kool Herc e sua irmã Cindy Campbell. Conhecidos na época como Block Parties, estes eventos uniam técnicas de discotecagem inovadoras, mestres de cerimônia - os MC's - que rimam nessa batida e o break dance, interpretado pelos B boys e B girls. O grafitti também se comunicava diretamente com esse universo, operando como manifestação política nos muros da cidade.

 

Em novembro do mesmo ano, o DJ Afrika Bambaataa, outro alicerce do movimento, fundou a ONG chamada Zulu Nation, com o intuito de promover de maneira unificada e organizada as batalhas de rimas e em prol da valorização da juventude negra a partir do hip hop, afastando inúmeros jovens de envolvimento com o mundo do crime.

 

Além de Herc e Afrika Bambaataa, o terceiro pilar dessa cultura é o DJ Grandmaster Flash, responsável pela criação do beat box, que é a batida base para a composição dos raps e para a consolidação da importância do DJ no cenário.

 

A expressão "hip hop" é uma gíria na qual o termo "hip" significa "quadril", e "hop" designa "balançar", em referência às festas que deram origem a essa cultura. De maneira lúdica, a expressão promove o vínculo entre diversão e informação, funcionando como um chamado ao engajamento à vivência do cotidiano periférico.

 

O hip hop chegou com força no Brasil dez anos depois, com o álbum “Hip-Hop Cultura de Rua”, que contou com a participação de diversos nomes emblemáticos para o movimento no país, como Thaíde, DJ Hum, O Credo, Código 13 e outros.

 

A concentração dos adeptos do hip hop acontecia principalmente no centro de São Paulo, entre o Viaduto do Chá, a Estação São Bento e a Rua 24 de maio, em manifestações como rodas de break dance, como a Roda do Nelsão, pioneira nacional idealizada por Nelson triunfo.

 

Desde a sua origem, o hip hop surge como um estilo de arte de denúncia da realidade. Nas letras dos raps, são comuns temas como a exclusão social, o racismo e as violências estatais sofridas por uma grande parcela da população diariamente - muitas vezes com o objetivo de conscientização e politização do ouvinte.   

 

Estes princípios, enraizados ao movimento há 50 anos, ainda se mantêm como norte para os artistas e todos aqueles adeptos da cultura. "Eu quero que tenha liberdade pra gente poder, de fato, estar em todos os lugares, em todas as praças e ser respeitado. Que a gente transmita mais cultura e que não seja oprimido, mas essa é uma luta que tem que ter muita consciência de classe, união, e todo mundo com o mesmo objetivo. É difícil, mas existe resultado pelo movimento que a gente faz, e a gente tira muito mais gente do crime do que a própria organização do Estado, então de fato a gente está aqui pela mudança", finaliza Mano Jhowse para a Agemt.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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