Compositor e cantor vivia com sequelas decorrentes de um AVC que sofreu em março de 2017
por
Bianca Novais
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08/08/2025 - 12h

A família de Arlindo Cruz anunciou a morte do compositor, cantor e instrumentista nesta sexta-feira (8), através das redes sociais do artista. Considerado um dos maiores sambistas do país, Arlindo vivia com a saúde debilitada desde março de 2017, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.

“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho", diz a nota de falecimento. O sambista morreu no hospital Barra D'Or, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

 

 

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu na capital fluminense em 14 de setembro de 1958, no bairro de Madureira, Zona Norte da cidade. Em homenagem a ele, escreveu uma de suas canções mais conhecidas, “Meu Lugar”, parte do álbum “Hoje tem samba” (2002).

Tocava cavaquinho, banjo e ainda na juventude começou a se apresentar profissionalmente, enquanto estudava teoria musical na escola Flor do Méier. Nesse período, foi apadrinhado musicalmente por Candeia, outro renomado sambista carioca.

Estudou na escola preparatória para Cadetes do Ar aos 15 anos, em Barbacena (MG), mas logo voltou ao Rio. Passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, onde tocou com Jorge Aragão, Beth Carvalho, Ubirany e Almir Guineto. Lá, conheceu Zeca Pagodinho e Sombrinha, que, à época, também eram revelações no mundo do samba.

Escreveu algumas músicas para outros intérpretes - “Lição de Malandragem” (David Correa), “Grande Erro” (Beth Carvalho), “Novo Amor” (Alcione) - antes de entrar no Grupo Fundo de Quintal, em 1981.

 

 

Ganhou notoriedade nacional durante os 12 anos na banda e gravou sucessos como “Só Pra Contrariar”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”. Em 1993, seguiu carreira solo e continuou nos holofotes, com várias músicas em parceria com outros gigantes do samba. Entre seus álbuns de maior destaque recente estão “MTV ao Vivo Arlindo Cruz” (2009) e “Batuques do Meu Lugar” (2012).

Sombrinha foi uma de suas parcerias mais frutíferas. Escreveram “O Show Tem Que Continuar” e “Alto Lá", também com Zeca Pagodinho. Com este, assinou a autoria de sucessos atemporais da música brasileira como “Bagaço da Laranja”, “Dor de Amor” e “Camarão que Dorme a Onda Leva".

 

Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo compôs mais de 500 músicas, segundo seu site oficial, incluindo sambas-enredo para escolas de samba do Rio de Janeiro: Grande Rio, Vila Isabel, Leão de Nova Iguaçu e Império Serrano, sua escola de coração e que o homenageou no enredo do carnaval de 2023. Mesmo com a saúde fragilizada, ele participou do desfile no último carro alegórico, com ajuda de amigos e familiares.

Em 2015, ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Músico de Samba e é reconhecido como um dos responsáveis pela revitalização do gênero nos anos 1980. Seu último lançamento foi ao lado do filho Arlindinho, em 2017, gravado pouco antes de sofrer o AVC.

Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Ele foi apelidado de “o sambista perfeito” por amigos e admiradores, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido virou o título da biografia do músico, escrita pelo jornalista Marcos Salles e publicada em junho deste ano.

Arlindo Cruz era candomblecista, filho de Xangô, e atuava contra a intolerância religiosa. Ele deixa esposa, Babi Cruz, e três filhos: Arlindinho, Flora e Kauan.

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Banda mineira trouxe show inédito para a capital paulista com mistura de sentimentos e surpresas
por
Giovanna Britto
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06/08/2025 - 12h

No último sábado (02) a banda Lagum se apresentou no Espaço Unimed com a turnê “As cores, as curvas e as dores do mundo”. Com ingressos esgotados, o espetáculo contou com todas as músicas do novo álbum, que dá nome à  apresentação, e com diversos outros hits do grupo, como “Deixa”, “Oi”, “Ninguém me ensinou” e “Bem melhor”.

Banda Lagum no palco do Espaço Unimed
Banda Lagum durante show no Espaço Unimed. Foto: Reprodução/Instagram/@lagum

O quinto disco, lançado em maio de 2025, teve uma recepção calorosa pelos fãs e gerou expectativas em torno da subida de Pedro, Chico, Jorge e Zani ao palco. Cada momento do show condiz com a proposta da nova fase da banda: questionar o mundo moderno, ao mesmo tempo em que aproveita o momento e enxerga a beleza no cotidiano.

Em entrevista à AGEMT, Pedro Calais, o vocalista, comenta sobre a experiência: “A vida é agora, a gente só tem essa chance de viver e não vamos nos privar de fazer uma coisa maneira, de estar com as pessoas que querem o nosso bem e pessoas que queremos o bem, como nossos fãs”.

O pré-show já exalava a energia do que estava por vir, com uma setlist, que ia de Charlie Brown Jr. até Jão. Com a entrada marcada para às 22:30, o grupo manteve a exaltação do público com “Eterno Agora”, “Dançando no escuro” e “Universo de coisas que desconheço”, a última em parceria com a dupla AnaVitória, presente na plateia para apoiar os amigos. 

Atenciosos, os músicos estavam atentos ao bem-estar do público e parando as canções para pedir ajuda aos socorristas quando necessário. Os momentos de conexão foram compostos de falas com piadas internas entre a fanbase - como a ausência do hit queridinho dos fãs “Fifa” - até ao chá revelação de Chico, baixista, que espera uma menina com a esposa e influenciadora Marina Gomes.

Baixista Chico falando ao microfone enquanto coloca a mão na barriga da sua esposa grávida Marina
Foto: Reprodução/Instagram/@portallagum

 

Pedro também comentou sobre essa relação cada vez mais próxima entre os fãs: “De uma hora pra outra, a gente começou a ser visto como artista, como alguém importante. Essa quebra de mostrar para as pessoas que o que a gente tá fazendo é pela essência, é pelo produto musical em si, vai total de encontro com o nosso conceito. É descer um pouco dessa coisa da cabeça de, ‘pô, tamo querendo fazer isso aqui pra tá aqui em cima’, sabe? Vai bem de encontro com o que a gente tá propondo”.

O momento mais esperado da noite foi com a penúltima música “A cidade”, terceira faixa do novo álbum, que viralizou  no TikTok com pessoas retratando perdas e saudades de entes queridos. A emoção tomou conta do público, que cantava e chorava por todo o Espaço.

Visão ampla do palco, telões e plateia no espaço Unimed
Visão do fundo na plateia com Pedro interagindo no microfone. Foto: AGEMT/Giovanna Britto

 

Algumas canções, como “Tô de olho”, possuem sonoridades diferentes das gravações divulgadas nas plataformas digitais. Isso complementa a sensação de estar presenciando algo especial, pensado com carinho e a dedo.  Esses aspectos reafirmam mais uma vez a intenção do grupo de fazer com que as pessoas se conectem com o agora, vivenciando momentos marcantes e de forma original.

O show, sem dúvida, é uma experiência emocional e musical única. A escolha das performances e timbres é preparada exclusivamente para cada noite e cidade, de forma a impactar e proporcionar um momento sensorial muito mais imersivo. A Lagum volta à cidade de São Paulo no dia 3 de outubro para uma data extra devido à grande procura de ingressos.

Painel fotográfico com a divulgação da turnê "As cores, as curvas e as dores do mundo" e patrocínios do show.
Painel de divulgação da turnê para tirar fotos. Foto: AGEMT/Giovanna Britto

 

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Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
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Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
por
Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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Conhecido pela estética e cultura oriental, o bairro renomeado em 2023 para Liberdade África-Japão carrega história ainda desconhecida
por
Vinícus Evangelista
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08/05/2024 - 12h

Famoso por suas icônicas luminárias japonesas e por abrigar a maior comunidade asiática do Brasil, o bairro da Liberdade, em São Paulo, atrai cerca de 20 mil visitantes todos os fins de semana, conforme dados da APECC (Associação Paulista dos Empreendedores do Circuito das Compras). Muitos, cativados pela culinária, produtos e atmosfera oriental que permeia as ruas, desconhecem a origem negra do bairro e pouco têm acesso a essa história quando caminham sob a região próxima ao centro da cidade.

 

Foto 1
Os dias mais movimentados do bairro são sábado e domingo, quando acontece a "Feira de Arte, Artesanato e Cultura da Praça da Liberdade", popularmente conhecida como "feirinha da Liberdade", criada em 1975, que percorre toda a rua Galvão Bueno. Foto: Vinícius Evangelista.
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Foto 2
A estética do bairro tal qual conhecemos hoje começou a se moldar em 1970, quando foram instaladas as primeiras famosas lanternas japonesas. Foto: Vinícius Evangelista

 

Foto 2
Em meio ao movimento da feira na atual Praça da Sé, antes Largo da Forca, está a "igreja de Santa Cruz das Almas dos Enforcados", fundada em 1891, no local onde antes se erguia uma cruz em memória das execuções de Joaquim José Cotindiba e Francisco José das Chagas, militares negros condenados a enforcamento por liderarem um motim que exigia, durante o governo Imperial, igualdade salarial entre soldados brasileiros e portugueses, além do pagamento atrasos remuneratórios. Joaquim foi morto, porém Francisco, conhecido como Chaguinhas. sobreviveu por três vezes à forca e foi morto a paulada. A cruz e a mesa com velas postas no local, foram sendo deslocadas conforme a região foi sendo habitada, até parar onde hoje está a igreja. Foto: Vinícius Evangelista.
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Foto 3
Antes de ser considerado centro, na então Vila de São Paulo, o bairro era denominado de "bairro da pólvora", uma simples periferia afastada o suficiente para ser construída ali, num dos largos, em 1754, a "Casa da Pólvora", um depósito de explosivos projetado para minimizar danos em caso de acidentes. Apesar da demolição do armazém, o local manteve o mesmo nome e foi transformado em um jardim oriental. Foto: Vinícius Evangelista.
Foto 4
Monumento instalado, em 2018, rememorando os então 110 anos da imigração japonesa ao bairro e saudando a neta mais velha do então imperador japonês, Akihito, "sua alteza imperial Princesa Mako", que em 2021 abriu mão de seu título real para se casar com um plebeu e ir morar em Nova York. Foto: Vinícius Evangelista.

 

Foto 4
No jardim, rodeado por bustos, estátuas e monumentos que contam a história da ocupação asiática no bairro, esta é a única placa que rememora o que era o largo antes da imigração. Foto: Vinícius Evangelista
Foto 5
Antes chamado de "Largo do Pelourinho", o Largo de 7 Setembro foi renomeado em 1865, até quando havia um pelourinho no local, um poste de madeira para açoitamento público de escravizados, previstos no “Código Criminal do Império” de 1830, e na famigerada “Lei da Morte” de 1835. Os escravizados condenados a morte eram açoitados no pelourinho e iam caminhando até o Largo da Forca para a execussão. Foto: Vinícius Evangelista.
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Foi apenas em 2019 que uma pequena placa foi instalada na região memorando o fato. Foto: Vinícius Evangelista
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Apesar das poucas lembranças institucionais, os grafites e expressões populares tratam de lembrar a história de Chaguinhas e a resistência negra, em meio aos vislumbres da estética japonesa que compõe o bairro. Foto: Vinícius Evangelista.

 

O crescimento das escritas livres em massa nas redes sociais
por
Beatriz Lima
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02/05/2024 - 12h

Com o avanço das redes sociais a partir dos anos 2000 e a imersão dos jovens cada vez mais intensa nesses veículos, a sociedade se adaptou a viver com o ‘online’, quase como uma vida dupla. Tudo o que está presente na realidade agora também tem sua forma virtual, principalmente após o período pandêmico.  

Isso não seria diferente para a literatura, onde jovens vem cada vez mais se interessando pela escrita e vem buscando novos meios de divulgá-las. Aplicativos como ‘Wattpad’, ‘Spirit’ e ‘Archive of Our Own’ (AO3) eram utilizados, há 14 anos atrás, majoritariamente nos Estados Unidos para a escrita das famosas ‘fanfics’ - histórias fictícias criadas por fãs com o intuito de se aproximarem de seus ídolos, que se popularizaram entre jovens fãs de diversos nichos artísticos pelo mundo – mas agora, essas histórias se tornaram inspiração para filmes, séries ou até foram publicadas como livros  que circulam pelo mundo afora. 

Obras hoje famosas, já foram inicialmente fanfics.  Como a trilogia de ‘Cinquenta Tons de Cinza’, que se tratava de uma história de ‘Crepúsculo’, ou até mesmo a própria saga Crepúsculo, que foi baseada em uma fanfic sobre o vocalista da banda de rock ‘My Chemical Romance’, Gerard Way. Outro exemplo, é a franquia de livros e filmes ‘After’. que consistia em uma fanfic do cantor inglês Harry Styles. 

Em entrevista à AGEMT, a jovem Leona Nunes, 17, escritora e leitora assídua desse conteúdo diz que, ao dar início a prática de ler fanfics, conseguia se sentir, de certa forma, mais próxima e mais íntima de seus ídolos. “Ler e escrever conteúdo sobre eles exige que eu conheça no mínimo um pouco deles, ler algo que os envolve é muito mais estimulante. Uma vez que o público-alvo consome um conteúdo de pessoas que sentem afeição, tudo se torna mais envolvente e fácil de se aproveitar.”, complementa. 

É comum,  autores utilizarem de suas obras para, também, ressaltar e dar visibilidade a temáticas sociais, como a luta contra a homofobia, transfobia e a visibilidade a transtornos mentais e ao Espectro Autista. A fanfic ‘Senhor Coelho’, escrita pela jovem Ana, carrega uma história fictícia de romance homoafetivo que gira em torno de dois membros do grupo de K-pop Stray Kids, Han Jisung, um jovem pai solo dedicado ao seu filho doente, e Lee Minho, um médico diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) que busca salvar a criança. Ao longo da trama, a autora – também diagnosticada com TEA – traz como objetivo informar o público sobre o transtorno, pois, ela afirma, ser mais fácil aprender com o entretenimento.

Em entrevista à AGEMT, Ana Bittencourt, 20, a autora de ‘Senhor Coelho’, diz um pouco sobre seu processo de aceitação como pessoa no Espectro Autista, “Recebi meu diagnóstico aos 19 anos de idade, e foi algo que eu realmente não esperava. Foi doloroso, estranho, e eu neguei na primeira vez, mas no segundo profissional não consegui me convencer de que era um erro. De certa forma, tudo fez sentido, mas eu não entendia, a minha noção sobre autismo era totalmente limitada. Eu já estava escrevendo “Senhor Coelho” quando fui ao primeiro neuropsicólogo, e quando recebi a notícia, foi como abrir uma porta para uma nova descoberta.” 

No final de cada capítulo da obra, a escritora faz questão de explicar os comportamentos do personagem com TEA, com base em pesquisas, conversas com profissionais e suas próprias vivências, como forma de fazer os leitores entenderem suas ações e as informar sobre o Espectro sem estereótipos e de maneira divertida. Assim como, a própria escritora disponibiliza em sua página do ‘X’ um informativo de sua fanfic, repleto de informações complementares e curiosidades sobre toda a temática por trás da história. 

“Pesquisas e mais pesquisas me fizeram criar o personagem principal, Minho, no intuito de descobrir mais sobre mim. Ao escrever ele, suas peculiaridades, sua personalidade, cada detalhezinho que fazia dele alguém único, eu aceitei que não era o fim do mundo ser uma pessoa autista, que eu podia lidar com aquilo, que eu poderia me encaixar de verdade. O Minho é um personagem que foi muito machucado por ser quem é, mas busca melhorar a cada dia, assim como a maioria de nós, adultos autistas”, completa a jovem autora.

Abordar essas temáticas nas fanfics fortalece a luta pela visibilidade das problemáticas sociais e, de forma marcante, apoia as pessoas a se expressarem e não terem vergonha de quem são. Ana diz ainda: “O autismo adulto ainda é um assunto que, infelizmente, carrega muita desinformação e estereótipos na mídia no geral, e quase ninguém se preza a tirar cinco ou dez minutos de seu tempo para pesquisar em sites e livros que tratam o assunto. Juntando um tópico de interesse (K-pop), um tema muito procurado (romance) e uma pauta pouco falada (TEA adulto), uma forma diferente de informar e visibilizar é criada e disponibilizada para todos, sendo muito mais fácil de compreender e estimular a curiosidade.”

Ainda assim, existe um certo preconceito de alguns em relação à produção de fanfics e, também, descaso do público com o trabalho dos autores do gênero . Quando questionada sobre já ter sofrido algum desrespeito por ser uma escritora independente de um conteúdo muito específico, Ana afirma que sente que se falasse que escreve um livro seria muito mais levada a sério: “Sinto que, se eu falasse que escrevo um livro, mas não citasse a plataforma, levariam mais a sério e não teriam aquele típico olhar de ‘ah, então não é importante’ que nós, escritores, recebemos quando descobrem que o nosso meio é independente.” 

Os jovens escritores também utilizam o‘X’ (antigo ‘Twitter’) como plataforma para suas obras, nesse espaço as fanfics são conhecidas como ‘AU’, do inglês ‘Alternative Universe’. As AUs consistem em posts em sequência com a própria escrita narrada ou em uma sequência de ‘prints’ de mensagens e narrativas que completam a história - como um meio de economizar espaço, pois a plataforma disponibiliza um limite de 4 imagens por postagem. 

A jovem Flavia (@tolovchan no X), 25, formada em Psicologia e autora da au ‘Somos de Mentira’, diz em entrevista à AGEMT sua visão sobre a inserção das fanfics e au’s no mundo literário “Acredito que sempre tenha feito parte da literatura, mas agora estamos nomeando e categorizando. Tenho certeza de que essa foi a entrada para a leitura/escrita de muitas pessoas. Mas é claro que, além de tudo, agora também existe uma visibilidade maior por conta da internet. O mais bacana nisso é a possibilidade que as pessoas estão encontrando na publicação independente e, sem dúvida, a facilidade que as redes sociais dão ao público para acessar a escrita dessas pessoas.” completa.

Atualmente existem AU’s no ‘X’ com mais de um milhão de visualizações, como é o caso de ‘Somos de Mentira’,que retrata uma história fictícia entre Jisung e Minho, dois membros de um grupo sul-coreano de K-pop, chamado Stray Kids. Mesmo ainda não concluída, a obra assegura mais de 6.000 curtidas e 2.000 repostagens, trazendo um incentivo positivo à popularização de fanfics e, também, estimulando a escrita e leitura dos jovens e adolescentes imersos nessa cultura.

As fanfics online facilitam de maneira significativa o acesso à literatura. Em um mundo tão imerso nesse meio virtual é importante que haja mecanismos para que o hábito da leitura, e escrita, não se percam. “É uma forma das pessoas acessarem a leitura de forma muito fácil e muito frequente, e tudo isso acontecer pelo celular/computador de certa forma ajuda a inserir a leitura na vida das pessoas sem que elas necessariamente precisem buscar por isso. É um bom estímulo inicial na minha perspectiva, muitas pessoas criam o hábito a partir disso.” finaliza Flavia.  

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De peças de teatro a exposições, confira todas as atrações que a capital paulista oferece
por
Maria Eduarda Camargo
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02/05/2024 - 12h

Com o fim de abril, maio não fica para trás na agenda cultural. Entre exposições, experiências interativas, e até a famosa Virada Cultural de São Paulo, diferentes tipos de passeios são uma opção viável para os paulistanos durante o mês. Confira agora o que há de imperdível no lazer paulistano.

Música

Festival Nômade SP

Realizado no parque Villa Lobos, o Festival Nômade traz nomes de peso para a cidade, como Alceu Valença, Pabllo Vittar, Baco Exu do Blues, Maria Gadú, Urias e Nando Reis, durante os dois dias de atrações.

Pabllo Vittar
Pabllo Vittar, uma das atrações do Festival Nômade. Foto: @pabllovitar Via Instagram

 

Quando: 25 e 26 de maio

Onde: Parque Villa Lobos (Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2001, 70, Alto de Pinheiros, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP)

Ingressos: R$ 74 a R$ 184

 

Municipal Circula – Coro Lírico Municipal e Pastoras do Rosário no CEU Vila Curuçá

O Theatro Municipal de São Paulo apresenta um evento externo com o Coro Lírico Municipal, no show das Pastoras do Rosário em seu primeiro álbum, Da Nebulosa ao Brilho. Segundo o site do Theatro Municipal, o grupo foi formado em 2017, “na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, na zona leste de São Paulo”, e possui influências de moçambiques e congadas no ritmo.

Pastoras do Rosário
Pastoras do Rosário durante evento no Itaú Cultural, em novembro de 2023. Foto: Cassandra Melo

 

Quando: 25 de maio - 11h

Onde: CEU Vila Curuçá (Av. Marechal Tito, 3.452. Vila Curuçá, São Paulo/SP)

Ingressos: Entrada gratuita

 

Virada Cultural de São Paulo

Virada Cultural
Palco Heliópolis, na Virada Cultural de 2023. Foto: André Porto/UOL

A 19ª edição da Virada Cultural de São Paulo ocorre entre os dias 18 e 19 de maio, e conta com diversos shows e apresentações em espaços públicos, além de parcerias com centros culturais. O evento é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. O lineup da Virada Cultural 2024 ainda não foi divulgado.

 

Quando: 18 e 19 de maio

Onde: Locais indisponíveis até a data de publicação do texto

Ingressos: Entrada gratuita

 

Arte e fotografia

MAM: Sergio Milliet

A nova aquisição do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, é a série de pinturas a óleo sobre madeira de um dos maiores artistas do modernismo brasileiro, Sergio Milliet. Disponível até 12 de maio, a aquisição remonta a exposição de 1969 do artista, com pinturas oriundas de amigos próximos.

Foto: Jamile Rkain/Acervo MAM
Pintura sob madeira, do acervo do MAM do artista Sergio Milliet. Foto: Jamile Rkain/Acervo MAM

 

Quando: até 12 de maio

Onde: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3)

Horário de funcionamento: terça-feira a sábado, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h

Ingressos: R$ 30 a inteira; R$ 15 a meia. Entrada gratuita aos domingos.

 

IMS: Koudelka

A exposição fotográfica conta com os três maiores trabalhos de Josef Koudelka, representante do movimento humanista na área, e retrata a etnia cigana na cidade de Praga, em 1968. Intitulada Exílios, a fotografia de Koudelka pode ser visitada no Instituto Moreira Salles, com entrada gratuita.

Koudelka
Fotografia de Jousef Koudelka para a exposição "Exílios", disponível no IMS. Foto: Josef Koudelka/Magnum Photos/Acervo IMS.

 

Quando: 18 de maio até 15 de setembro

Onde: IMS (Avenida Paulista, 2424 - Galerias 2 e 3 - 7º e 8º andares, São Paulo)

Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segunda) das 10h às 20h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento

Ingressos: Entrada gratuita

 

Cinema

Sessão de curtas dos anos 90 e 80 na cinemateca

A cinemateca brasileira apresenta duas mostras de curtas dos anos 90 e 80, dentro da mostra Jorge Furtado: Tudo isso aconteceu, mais ou menos, com cerca de 5 curtas por mostra.

Cena do FIlme "Ângelo Anda Sumido"
Cena do FIlme "Ângelo Anda Sumido", de 1997, do diretor Jorge Furtado. Foto: Reprodução/Ângelo Anda Sumido/Cinemateca brasileira.

 

Quando: 4 de maio - 18h (sessão anos 90); 5 de maio - 17h15 (sessão anos 80)

Onde: Sala Grande Otelo (Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana / SP)

Ingressos: Entrada gratuita

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Exposição termina com a Comissão da Verdade na PUC-SP
por
Rodrigo Lozano Ferreira
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02/05/2024 - 12h

O museu, localizado no prédio onde existiu o DEOPS (1964-1985), iniciou em abril, em memória aos 60 anos do Golpe Militar, uma série de exposições e atividades culturais que buscavam de forma interativa, refletir sobre a memória da ditadura. 

A última exposição, ocorrida no sábado dia 27/04 abordou a atuação da Comissão da Verdade “Reitora Nadir Gouvêa Kfouri”, criada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2013, assim como a história de resistência da universidade. Junto com todas as instalações, a visita é imperdível para quem quer conhecer esse momento da história.
 

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Exposição PUC-SP no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira

O próprio prédio, como um monumento vivo que carrega uma história tão violenta, incita a reflexão antes mesmo de entrar, entre a caminhada de 7 minutos da estação da Luz até um dos mais violentos centros de repressão da nossa história, passa-se pelas ruas na área de uma "cracolândia", e há uma demonstração prática da violência, ao ver a polícia militar ao enquadrar com seus fuzis, a população que passava pela rua, conta Sofia Rocha, estudante de História na PUC-SP, que visitou o memorial pela primeira vez, para a faculdade.

“O momento mais marcante não foi no museu, mas nos arredores, nós de São Paulo, sabemos que o centro é perigoso, mas muitos policiais com fuzis enormes faziam abordagens violentas e aleatórias contra usuários de crack e qualquer pessoa negra, justamente quando (eu) caminhava para um dos maiores centros de repressão da ditadura.”

 

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Vista do terceiro andar do Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira

Chegando lá, há uma série de exposições fixas, como um grande arquivo organizado ao público, com informações gerais sobre a ditadura, uma grande linha do tempo, e enfim a história da própria instalação, que preservou as celas com seus rabiscos nas paredes, remonta cenários, cartas de e para detentos e o estreito corredor de banho de Sol (quase nunca utilizado).

“Eu achei legal, como faz relação com as violências atuais, a questão sensorial nas celas, com o cheiro e as paredes escritas, até achei o nome de uma familiar. Gosto muito do filme batismo de sangue, e tem várias referências de filmes sobre a ditadura. “

Conta Lola Aguiar, estudante de arqueologia pelo MAE-USP (Museu de arqueologia e etnografia na Universidade de São Paulo), que visitou a exposição para aula de museologia.

No terceiro andar do prédio, a visita continua com a exposição temporária “Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política”, com curadoria de Ana Pato. A exposição traz um largo acervo fotográfico e audiovisual, de testemunhas, casos de perseguição e violência. 

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Exposição "Mulheres em Luta! Arquivos de memória política". Foto: Rodrigo Ferreira

“No terceiro andar me chamou a atenção, por ter mais informações em audiovisual, reconstrução de cenário de um filme e quadros. Como mulher também me tocou mais, por ver a vulnerabilidade sexual que elas (as mulheres na ditadura) enfrentavam”, diz Sofia Rocha.

Para Lola Aguiar: “o terceiro andar estava com uma ótima iluminação, e a autonomia que o visitante tem para andar, tá muito bonita. Mas a sinalização tá ruim e confusa, quase não vi que tinha uma sala atrás, também é maçante, muita informação, não dá pra ver tudo em um dia.

A estudante, ao analisar a exposição também notou a questão da inclusão: “nenhuma acessibilidade, no QR code só tinha a tradução para inglês, sem libras ou braille, a não ser nos vídeos, também não tem nenhum guia para acessibilidade”.

A exposição também contou com uma oficina de arte e memória, em que os participantes imprimiam em um tecido, uma foto ou imagem presente no acervo de sua escolha. O estudante de música da USP, Léo, participou da oficina e contou um pouco sobre.

“Viemos visitar o memorial na semana passada, e hoje viemos fazer uma oficina de impressão em tecido relacionado a violência contra as mulheres. É muito interessante, achamos que os recursos seriam caros, mas é bem simples, apenas a imagem, sulfite, cola e impressão a laser. Vamos levar para casa.”

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Léo após oficina de arte e memória no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Lozano


A visita é de fato emblemática para todos que querem aprender e nunca esquecer. “Manter a memória é a importância, precisamos saber que as coisas aconteceram, precisamos ser realistas, muitas violências são naturalizadas, 60 anos parece muito tempo mas não é nada, não é nada se formos parar para pensar no Brasil e no mundo de hoje, essas violências seguem acontecendo, a gente precisa lembrar, revisitar, aprender, ouvir e contar essas histórias, se não essas memórias somem, e não podem sumir”, comenta Léo.

“É muito impactante ver o nome de pessoas que você conhece fazendo parte dessa história, e pensar o museu como esse espaço de manter viva uma memória, ao preservar os arquivos e educar”, completa Lola.
 

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A Universidade Católica de São Paulo durante a ditadura militar tinha um jeito muito próprio de resistir, mas mostrou que ditador se combate
por
Rafael Francisco Luz de Assis
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01/05/2024 - 12h

Por: Rafael Luz de Assis

Quando falamos da ditadura civil-militar brasileira e movimento estudantil, lembramos de algumas instituições. A PUC pode não ser uma das primeiras a vir a mente, mas sua história é rica, e merece ser relembrada.  

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Manifestantes carregam estudante morto a tiro durante o confronto. Crédito: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

 

São casos bem famosos e sempre que falamos de resistência estudantil, algum desses já vem à cabeça. Mas e a PUC? A tradicional universidade católica de São Paulo tem seus causos e foi sim um polo importante de resistência à Ditadura.  

Diferentemente de outras universidades do país, por ser uma Pontifícia amparada na Igreja, a Católica não sofreu com tantos assédios institucionais e desmonte de projetos acadêmicos. Claro passou basicamente ilesa. Devido ao fato de ter conseguido continuar com seu plano pedagógico e acadêmico quase completo, a universidade acabou recebendo uma boa parte de professores que eram perseguidos, expulsos e aposentados compulsoriamente de outras entidades, entre eles, destaca-se Paulo Freire, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Maurício Tratenberg, Bento Prado Junior, entre outros.  

Em 1965, o TUCA (teatro da universidade católica) é inaugurado com uma peça considerada extremamente subversiva, “Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto já no ano de 1968 recebeu Caetano Veloso cantando “É proibido, proibir.  

O Ministério da Educação do regime, e a United States Agency for International Development (USAID, uma agência estadunidense de ajuda ao desenvolvimento) firmam um acordo educacional em que na verdade era um alinhamento da educação brasileira com os interesses estadunidenses, e que foi vendido como adequação brasileira as melhores práticas educacionais do mundo. Surpreendentemente, a implementação desse projeto na USP ocorreu sem maiores tormentas.  

Já na PUC os alunos ocuparam as instalações da reitoria e dos jardins por dois meses e só após comissões paritárias entre professores e alunos, que propuseram novos currículos que visassem à formação de uma consciência crítica e comprometida com a realidade a manifestação cessou.   

Já nos primeiros anos do regime ditatorial, ficou evidente que o movimento estudantil era um dos “inimigos” a serem caçados. Nas universidades públicas foram proibidos os DCEs (Diretório Central dos Estudantes) e CAs (Centros Acadêmicos) sob a alegação de que promover “qualquer ação, manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares”. A UNE também foi extinta.

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O prédio na praia do Flamengo 132, sede da União Nacional dos Estudantes desde a década de 1940 – 05/10/1963 – Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional ​​​​

 

Mais uma vez se aproveitando do caráter institucional da PUC que por ser católica passava batida pelo moralismo vigente, em 1977 os estudantes voltam a tentar se organizar e se posicionar referente a situação precária do ensino superior no país, a PUC cumpre o importante papel de sediar a 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que havia sido proibida de acontecer pela ditadura.   

O marco de truculência da ditadura e da resistência na PUC também é em 1977. Depois de uma manobra audaciosa dos estudantes que promoveram uma série de encontros relâmpago para ludibriar os militares, que queriam barrar as reuniões, alunos de todo o Brasil se encontraram no campus Monte Alegre, eram cerca de 70 delegados estudantis de todo o país. Foi o primeiro ato pró-UNE depois de vários anos.  

O movimento estudantil ficou em êxtase e como a reitoria tinha negado a abertura do TUCA justificando temer repressão policial, os estudantes fizeram um ato de “comemoração” em frente ao teatro. Cerca de 2000 estudantes segundo a CVPUC (Comissão da Verdade da PUC), estavam ao início da leitura da carta aberta quando o então coronel Erasmo Dias que chefiava o DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) paulista e seus mais de 900 policiais, invadiram o campus Monte Alegre e levaram mais de 800 pessoas presas e fichadas no órgão.  

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Mais de 800 Estudantes foram detidos e levados para um estacionamento passando por uma "triagem" - Comissão da Verdade/PUC

 

Foi então que a reitora da instituição, primeira reitora de uma universidade católica, a senhora Nadir Kfouri, foi ao socorro dos alunos e ao chegar encontrou todos sentados esperando orientações e o Coronel veio em sua direção, estendeu a mão a cumprimentando, nesse momento Kfouri diz a frase que ficou marcada para história dessa instituição como resistência do movimento estudantil no país: “não dou a mão a assassinos”.  A invasão da PUC é um marco da resistência dos estudantes, os “puquianos” se orgulham de lembrar que torturador tem que ser tratado como tal. 

Vale deixar aqui a menção vergonhosa ao fato de o Governador do Estado de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) em uma via de entroncamento na cidade de Paraguaçu Paulista (cidade natal do coronel), faz uma homenagem ao "Deputado Erasmo Dias", personagem que segundo o mandatário nunca foi condenado por "atos praticados por sua vida pública pregressa". Lembrando que o Coronel nunca foi condenado pois a lei criminosa da anistia proibiu o julgamento dessa caterva.  

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Policiais levaram estudantes para delegacia para autualos. Comissão da Verdade/PUC 

 

Atualmente, foi criada no Memorial da Resistência em São Paulo uma mostra temporária como forma de relembrar a força e a luta vivenciada na PUC-SP durante o período da ditadura militar. A exposição, que vai até 2025, conta com cinco eixos de exploração: Invasão da PUC-SP e a resistência à ditadura; Docentes, artistas e intelectuais acolhidos pela PUC-SP; Comissão da Verdade da PUC-SP Reitora Nadir Gouvêa Kfouri; Arte e resistência no TUCA; e A defesa radical da democracia. 

A democracia volta depois de anos, o regime repressor é expulso (não podemos dizer eternamente pois temos ainda hoje quem peça seu retorno), e a PUC não deixou a luta. Antes mesmo de se tornar realidade nacional, a instituição criou a própria comissão da verdade, CVPUC - Comissão da verdade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que, assim como a própria universidade, com suas marcações históricas imortalizadas, ainda segue como exemplo de resistência contra opressão de todas as formas. 

  

  

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.   

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