A democratização da cultura é um assunto muito pautado nos debates atuais, principalmente, no âmbito do audiovisual. Esse é um tópico relevante, visto que a cultura do cinema não se trata apenas de lazer, mas de uma manifestação artística repleta de detalhes e motivações por trás. Contudo, a democratização do cinema em si, visa a distribuição e popularização da arte cinematográfica, de forma que todos tenham acesso a esse meio de maneira igual.
O cineasta Ralph Friedericks traz, em entrevista, suas visões sobre a temática a partir de suas experiências na área: “A democratização do cinema brasileiro é muito importante. O cinema sempre esteve nas mãos de uma classe privilegiada e, por isso, precisamos que o cinema, espelho da sociedade, tenha obras dos mais diversos pontos de vista e lugares de fala.”
Além de Cineasta, Ralph também é sócio-proprietário da produtora Matiz Filmes em São Paulo, além de fazer parte da equipe do projeto PONTOS MIS do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, fazendo Oficinas De Cinema para todas as idades. “O distanciamento da população a cultura audiovisual intensifica a segmentação social pois o acesso à cultura (filmes) é a um senso crítico e identitário acaba não acontecendo aumentando assim a diferença cultural das pessoas.”, relata.
O acesso restrito à uma parcela da sociedade aos espaços de cultura elitiza as artes, principalmente, o audiovisual, que possui locais específicos e muitas vezes dentro de shoppings. Essa forma elitizada de tratar o cinema vem sendo quebrada ao longo dos anos. Com a diminuição de pessoas indo aos cinemas no período pós-pandemia, a empresa ‘Cinemark’ criou a campanha ‘Semana do cinema’, em que a marca propõe uma semana completa em que os ingressos para os filmes em cartaz ficam por R$10,00; com o intuito de aumentar o público e de certa forma, impulsionar o acesso de toda a população ao mundo cinematográfico.
Em entrevista a jovem Ana Beatriz Pereira, graduanda em cinema e audiovisual pela PUC-Minas, comenta: “Na minha opinião, o valor dos ingressos e a localização é o que mais afasta as pessoas do cinema. A maioria dos cinemas hoje está localizado nos shoppings - lugares que não são de fácil acesso a toda a população. Além disso, esses cinemas que são de rede possuem um valor de ingresso muito alto, isso dificulta a possibilidade ‘das’ pessoas irem ao cinema com frequência.”, a respeito do afastamento da população a arte do audiovisual.

Historicamente, os cinemas começaram a ser explorados cada vez mais pelo sistema capitalista nos anos 80, quando os cines de rua foram substituídos pelas grandes redes de cinema localizadas dentro de shoppings, buscando maior lucro pela grande quantidade de pessoas que circulam no espaço fechado. Hoje em dia, poucos cinemas de rua sobrevivem nas metrópoles, como o CineSala, criado em 1959 e localizado, até hoje, em Pinheiros na grande São Paulo.
O espaço promove a preservação da memória do local e uma facilidade no acesso com preços menores e estação de metrô próxima. Os cinemas de rua, além de acolherem mais a população por seus diferenciais, também favorecem as produções nacionais e independentes. “O cinema de rua alimenta a cultura audiovisual local. É lá que que os filmes nacionais e independentes ganham espaço, já que as redes preferem os mainstream, que é o que dá dinheiro ‘pra’ eles.”, complementa a Ana.

(Foto: franparente/cinesala)
Enquanto existem algumas medidas para que o acesso ao cinema chegue a todos, grandes empresas buscam maneiras de lucrar cada vez mais com a elitização dos espaços, como com a criação do Kinoplex Diamante pela grande rede Kinoplex. Esse cinema de luxo, localizado no Vale Sul Shopping em São José dos Campos no interior de São Paulo, integrado juntamente a um bar e restaurante em seu interior, possui suas salas compostas por cabines, com dois lugares VIP’S cada. A empresa visa trazer experiências únicas para todos nesse espaço, mas os preços dos ingressos são acima de R$90,00; reforçando a ideia da elitização das vivências culturais.

(Foto: Beatriz Lima)
Em 2001, a ANCINE (Agência Nacional do Cinema) foi fundada, com principal objetivo fomentar, desenvolver e regular o setor audiovisual em benefício da sociedade brasileira. Com a criação dessa agência pública, o acesso recorrente da população à essa arte continua restrito à certas classes sociais. “Pequenas cidades dificilmente têm acesso a cinemas ou atividades culturais. De modo geral, essas atividades costumam ser localizadas nos grandes centros urbanos e, ainda assim, não são levadas igualmente a toda a população, seja por meio do custo ou localidade.”, reforça.
Além disso, a falta de incentivo estatal na divulgação e no acesso ao cinema no Brasil intensifica ainda mais essa problemática, uma vez que a indústria cinematográfica se mantém controlada pelo monopólio privado. Com o cinema nas mãos de uma parcela rica da sociedade, a elitização dessa arte é certeira. Ana Beatriz afirma: “Cinema é uma indústria que precisa de capital para continuar existindo e, para isso, precisa-se de incentivo do governo e da população. Os cinemas de rua vão fechando cada vez mais, a partir do momento em que não se valoriza os filmes locais.”.
“Eu sou Longun Edé. O grande príncipe herdeiro da raça dos meus pais! Tenho a sensibilidade e a inteligência de minha mãe e a bravura e a esperteza de meu pai. Caçador e pescador, sou minha própria natureza. Sou o único capaz de reunir todos os mundos. Sou o equilíbrio entre os homens e as mulheres. Sou cultuado nos axés do Brasil.”
Escreveu Anitta, homenageando o orixá em sua postagem do Instagram que anunciava seu novo clipe musical “Aceita”, no qual ela abrange temas de sua religião afro-brasileira, o Candomblé. Após a divulgação, a cantora perdeu mais de 200 mil seguidores na rede social. Essa não seria a primeira vez que ela mencionou a sua religião para o público, mas foi o primeiro trabalho em que ela a retrata abertamente na música.
Essa reprovação sofrida pela artista reflete à intolerância religiosa propagada no Brasil, um país majoritariamente cristão, que historicamente repele culturas de origens que não são brancas. Durante o período escravagista, os escravos cultuavam suas religiões e entidades africanas, que eram vistas como bruxaria pelo povo católico, de origem europeia. Entre as religiões originadas na África, estava o Candomblé. Vanderlei Aurora, que é parte do Candomblé há 12 anos, conheceu a religião por meio de uma amiga que o levou para conhecer um terreiro. Ao ser questionado sobre intolerância e preconceito, ele afirma que já ouviu falas discriminatórias a respeito do uso de roupas brancas: “As pessoas olham e falam ‘Olha lá os macumbeiros’” e relata, também os olhares tortos que recebe das pessoas na rua.
Sua prática do Candomblé é a conhecida como “Jeje”. Ele afirma que existem tipos diferentes de manifestar essa religião, a qual são organizados os terreiros com frequência quando há festas. A religião ainda é confundida com a umbanda por leigos por se assemelharem na origem africana e ambas terem orixás e, ao ser questionado sobre as diferenças, Vanderlei enfatiza que, enquanto a umbanda foi desenvolvida no Brasil, o Candomblé veio direto da África.

Como alguém que sempre foi alvo de críticas desde o começo de sua carreira, após perder parte dos seguidores, Anitta afirmou em seu perfil do Instagram que não recebe as críticas com negatividade: “Eu não acredito no céu e no inferno, não acredito no diabo... acredito que todos nós temos o poder de manifestar em nós o divino e a diabólico. Quando recebo mensagens de repúdio e intolerância religiosa, não sinto energia divina sendo emanada em minha direção, sinto a energia contrária. Eu tenho fé, não tenho medo.”

De acordo com a pesquisa Datafolha de janeiro de 2020, 50% dos brasileiros são católicos e 31% são evangélicos, enquanto 2% da população segue religiões afro-brasileiras, tais como a Umbanda e o Candomblé. As denúncias de intolerância religiosa vêm aumentando desde o ano de 2021, apesar da prática ser proibida por Lei. A maioria desses casos são direcionados a religiosos de origem africana, enfatizando a relação entre intolerância e racismo religioso. As manifestações de intolerância ocorrem desde piadas preconceituosas até atos de violência e vandalismo contra os terreiros e os praticantes. Além dos ataques sofridos pelos negros por seus cultos, o preconceito também é direcionado a religiões islâmicas, que ainda são alvos de muita crítica e desinformação sobre as práticas religiosas.
A chegada de junho vem sempre acompanhada do romântico dia dos Namorados, na quarta-feira, 12, e das celebrações juninas. Entretanto, aos que desejam se aventurar pelo lazer paulistano não é necessário uma companhia para curtir as diversas opções musicais, teatrais, gastronômicas e artísticas que a cidade oferece.
Horizonte+, Piedad e Salvaje
Dividido em dois tempos, o espetáculo de coreografia de criação da cubana Judith Sanchéz Ruíz, Piedad e Salvaje, estreia logo após a sessão de Horizonte+, uma remontagem coreográfica realizada pelo Balé da cidade de São Paulo, com direção artística de Alejandro Ahmed. Inspirada na incorporação de práticas corporais asiáticas e na composição humana de comunidade, ativismo, ela entra pela primeira vez no Theatro Municipal de São Paulo no mês de junho.

Quando: 7 a 15 de junho
Onde: Theatro Municipal de São Paulo (Praça Ramos de Azevedo, s/n, República, São Paulo, SP)
Ingressos: R$ 12 a R$ 87
Os ingressos podem ser adquiridos pela bilheteria online aqui
Estranhos Seres Nebulosos e Ilusórios
O Vão da Praça das Artes exibirá uma interpretação da série de fotografias Escultura do Inconsciente, do fotógrafo Tatewaki Nio, com a Companhia de Artesãos. A apresentação faz parte da 35ª edição do Programa Municipal de Fomento à Arte de São Paulo, e incorporará um diálogo entre a dança e os ideais de demolição, implosão, desconstrução, ocupação, despejo e deslocamento.
Quando: 13 e 15 de maio
Onde: Praça das Artes (Av. São João, 281 - Centro Histórico de São Paulo, São Paulo, SP)
Ingressos: Entrada franca
O amor está nas pequenas coisas
A escritora, animadora e ilustradora sul-coreana Puuung leva a exposição de desenhos e ilustrações O amor está nas pequenas coisas para o Centro Cultural Coreano, em seu décimo ano de carreira. O horário de funcionamento será estendido durante o Dia dos Namorados.

Quando: 2 de junho a 1º de setembro
Onde: Centro Cultural Coreano do Brasil (Av. Paulista, 460. Térreo. Bela Vista, São Paulo, SP)
Horário de funcionamento: terça-feira a sábado, das 10h30 às 18h e domingo das 11h30 às 16h30. No dia dos namorados (12/06), a exposição ficará aberta até 22h
Ingressos: Entrada franca
São Paulo Coffee Festival
O festival do café chega a São Paulo no Ibirapuera com degustações de safras especiais, além de palestras e cursos para os amantes da arte do café. O evento também conta com comidas e com produtos culinários que movimentam o mercado gastronômico.
Quando: 21 a 23 de junho
Onde: Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/n - Vila Mariana - São Paulo, SP)
Ingressos: R$ 30
Hermeto Pascoal e grupo
O músico Hermeto Pascoal tocará seu álbum em homenagem a Ilza, esposa que partiu já 24 anos, com 198 partituras próprias dedicadas a ela, compostas entre 1999 e 2000.

Quando: 21 a 23 de junho
Onde: SESC Vila Mariana, Teatro Antunes Filho (R. Pelotas, 141 - Vila Mariana, São Paulo, SP)
Ingressos: R$ 18 a R$ 60
São João de Nóis Tudim
Organizada pelo Centro de Tradições Nordestinas, a 8ª edição da festa de São João traz atrações juninas, como shows e apresentações de quadrilhas e de música ao vivo, brincadeiras típicas do evento e cerca de 25 expositores e quiosques relacionados à gastronomia e ao artesanato local. Veja a programação completa do evento aqui.

Quando: 1 a 30 de junho
Horário de funcionamento: sextas-feiras das 15h às 23h; aos sábados das 11h às 04h; aos domingos das 11h às 22h
Onde: Centro de Tradições Nordestinas (Rua Jacofer, 615, Limão, São Paulo, Sp)
Ingressos: Entrada franca
Todo domingo na Avenida Paulista, o destino mais comum para aqueles que querem espairecer do caos do dia a dia paulistano, podemos desfrutar de diversas culturas e entretenimentos. Espalhados pelas ruas ou calçadas, encontramos "gente que faz trabalho de gente". Pessoas que colocam seu dom, seja vocal, corporal ou manual, em exposição à céu aberto e nos dá a honra de prestigiar.

As ruas que diariamente são cheias de carros, ônibus, trânsito e fumaça, dão mais cor aos diversos tipos de cultura. Em meio a tantas barracas, encontramos a de Vitor Amra. Ele vende placas pirografadas e além disso, também é tatuador. A arte da pirografia, basicamente é um modo de desenho sob uma madeira, que utiliza uma ponta de metal aquecido para gravar a peça. Para saber mais um pouco desse processo e de como é trabalhar na avenida mais movimentada do país, acesse o vídeo abaixo. "É o trabalho e um pouquinho de festa ao mesmo tempo", de acordo com o Vitor. Venha conferir nesta cobertura no Instagram!
A exposição, Francis Bacon: a beleza da carne, traz pela primeira vez ao Brasil as obras do pintor irlandês. A mostra individual teve início em março e vai ficar disponível até agosto deste ano. Ela contou com a curadoria de Adriano Pedrosa, Laura Cosendey e Isabela Ferreira Loures. Localizada no primeiro andar do icônico prédio do MASP, 23 pinturas junto a fotografias e citações do artista compõem a exposição espalhada por cinco salas.

“Francis Bacon é uma grande inspiração para o meu trabalho", relata o diretor Anderson Bosh, que conheceu o trabalho do pintor durante a faculdade de Belas Artes e se inspirou em dos quadros de Bacon para a criação de sua peça Poesias do Ar Cênico. “Eu vim conferir de perto, uma vez que eu só conhecia através de vídeos, eu nunca tive a oportunidade de ter Francis Bacon assim tátil a tátil, corpo a corpo, sempre foi através de revistas, através de livros, através de filmes, mas não aqui, corpo a corpo, então eu vim de verdade, fechar um ciclo”, diz Bosh. Logo na primeira sala, as falas de Bacon que originaram o nome da exposição estão impressas na parede. Ditas em uma entrevista ao crítico de arte David Sylvester, em 1966, mostram a admiração do pintor pela beleza das peças de carne encontradas em açougues. Nos quadros é possível encontrar as figuras masculinas características de Bacon, que muitas vezes possuem traços parecidos com os de seus parceiros, Peter Lacy e George Dyer. A exibição foca no teor queer do trabalho do artista, embora esse seja um tema recorrente ao se falar de Francis Bacon, é a primeira vez que é o tema central de uma exposição sobre o pintor.

A mostra faz parte da programação anual do MASP que esse ano tem como tema as Histórias da Diversidade LGBTQIA+. “O Masp se define como um museu diverso, inclusivo e plural, e isso reflete na programação”, relatou o diretor artístico Adriano Pedrosa para Veja São Paulo. “É uma figura importante por causa do seu trabalho extraordinário em pintura e também porque dá visibilidade à questão da homoafetividade desde os anos 60” explicou Pedrosa sobre a escolha de Francis Bacon para o acervo. Além de Bacon, a programação conta com nomes como o coletivo Gran Fury e os artistas nacionais, Mário de Andrade e Leonilson.

“Eu não sou de São Paulo então toda vez que venho, procuro o MASP para me atualizar, ver quais são as novidades que tem no museu, quais são os artistas”. Comenta Mar Prado, que diz que achou a mostra interessante, mas confessa que sente falta de trabalhos femininos sendo expostos também. “É um espaço que é muito patriarcal ainda. Eu sinto uma necessidade muito grande de ver obras de artistas femininas", afirma Prado.
"Na última vez que eu vim, a maioria das exposições eram de artistas homens. Então eu sinto falta dessa energia feminina ocupando os espaços de arte.” O desabafo de Prado se conecta com dados de 2022, que mostram que apenas 21,5% das obras apresentadas no museu eram feitas por mulheres, naquele ano foi possível encontrar obras de 1.420 artistas homens no MASP, enquanto apenas 391 artistas mulheres conseguiam ter seus trabalhos expostos em um dos maiores museus do país.
