Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
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Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
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Por Guilbert Inácio
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26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

por
Natanael Oliveira
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27/05/2020 - 12h

A pandemia causada pelo coronavírus afeta diversos setores da economia. O isolamento social, adotado pela grande maioria dos países para tentar frear a contaminação e aliviar a ocupação de leitos hospitalares, impacta economicamente redes de comércio e entretenimento, que atraem massas da população, como shoppings e estádios de futebol. Um dos maiores prejudicados é a indústria cinematográfica.

Na última semana de março, pela primeira vez na história do Brasil, as salas de cinema ficaram vazias. No mesmo mês, o mercado cinematográfico perdeu cerca de US$ 5 bilhões. De acordo com analistas, o número pode chegar a US$ 15 bilhões, dependendo de quanto a pandemia irá durar.  Além disso, a crise foi responsável pela demissão de 120 mil funcionários de audiovisual, somente nos Estados Unidos.

Apesar do grande prejuízo financeiro no mercado global da sétima arte, Mafran Dutra, diretor geral de Produção da Record TV, crê que haverá uma certa recuperação após o fim da quarentena. Ele ressalta a necessidade de uma revisão orçamentária no setor.

“Como o esvaziamento das salas de cinema não tem relação com um desinteresse pelo cinema, mas sim pelo impacto da pandemia, tudo indica que, após a retomada da rotina, as salas de cinema retornarão às suas atividades normalmente. Para tanto, os estúdios já revisaram o calendário de lançamentos. É evidente que este desfalque de faturamento vai exigir uma revisão no orçamento das redes de cinema”, diz.

Para o diretor, os estúdios têm experiência em lidar com lançamentos que não geram o retorno financeiro esperado, o que pode facilitar a adoção de medidas para reduzir os prejuízos.

“Os estúdios estão habituados a lidar com prejuízos em alguns dos seus lançamentos. O fator pandemia trouxe este impacto para os projetos que estavam com lançamentos programados para este semestre. Alguns foram adiados e outros tiverem bilheteria comprometida. O procedimento tem sido revisar os planos de produção e datas de novos lançamentos. Quanto aos lançamentos que não foram adiados, o prejuízo com a baixa bilheteria foi inevitável, resta buscar compensação nas receitas de licenciamentos para as demais plataformas e em outros lançamentos”, analisa.

Os grandes beneficiários do esvaziamento dos cinemas imposto pela pandemia estão sendo os serviços de streaming, que tiveram alta de 9% em março. O crescimento levou a Netflix a ultrapassar a Disney em valor de mercado. De acordo com um levantamento feito pela Nielsen, até o fim do ano, o crescimento poderá ser de 60% entre as plataformas.

A estratégia usada pelos grandes estúdios para contornar a situação está sendo fazer os lançamentos via streaming. O primeiro a adotar essa estratégia foi a Universal, que colocou filmes como Hunt e O Homem Invisível à disposição para serem alugados.

Segundo Mafran Dutra, o crescimento no valor de mercado do streaming já era maior antes mesmo da pandemia, e agora está sendo intensificado pelo coronavírus.

“Os procedimentos de confinamento em massa têm impulsionado o consumo de conteúdo audiovisual em todas as plataformas, não somente dos streamings. Ao mesmo tempo que consumidores que já eram assinantes dos serviços de streaming estão consumindo com mais intensidade, novos potenciais consumidores estão sendo impulsionados a experimentar os serviços de streaming, sendo de fato uma grande oportunidade para fidelizar e agregar assinantes. A indústria já vem se ajustando para estes novos tempos, agregando o streaming como mais uma janela para exibição e faturamento das suas produções ou até mesmo como a primeira delas”, analisa.

Ele complementa: “É possível dizer que a longo prazo, o streaming tem potencial de se tornar a dinâmica de distribuição de obras audiovisuais mais acessível ao grande público. Mas a médio prazo, as demais janelas continuarão competitivas. Desde o lançamento do VHS e do videocassete, que se dizia sobre o futuro incerto do cinema, o que não aconteceu”.

No dia 23 de abril, uma quinta-feira, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) aprovou o uso do Fundo Setorial do Audiovisual, visando ajudar as salas de cinema prejudicadas pela crise. Segundo o FilmeB, um dos maiores portais especializados em cinema do país, o montante pode chegar até R$ 400 milhões. A medida é a principal esperança de sobrevivência do mercado cinematográfico brasileiro.

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por
Paula Paolini
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17/05/2020 - 12h

Com o avanço do coronavírus no Brasil, entre os diversos setores afetados, a indústria cultural foi uma das primeiras a sentir o impacto das medidas de isolamento social tomadas para enfrentar a pandemia. Antes mesmo de sua chegada, os problemas já haviam começado. Artistas estrangeiros com viagem marcada para o Brasil tiveram que cancelar sua vinda, devido à propagação da doença em outras partes do mundo.

Grandes shows, como o da cantora americana Billie Eilish e o da banda inglesa McFly, foram adiados ou cancelados. O festival Lollapalooza, que seria realizado em abril, foi transferido para dezembro e ainda está devendo a confirmação dos diversos artistas que viriam nesse começo de ano. Muitos shows nacionais também foram suspensos ou remarcados, como o de Roberto Carlos e o de Black Alien. 

Os eventos em geral, principalmente os musicais, são uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil, representando 13% do PIB e movimentando cerca de R$ 936 bilhões na economia. Além disso, geram cerca de 25 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo estimativas fornecidas por Pedro Augusto Guimarães, presidente da Apresenta Rio, em entrevista para a Folha de S. Paulo.

O mercado de música ao vivo, de forma geral, acredita que a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19 será a pior já enfrentada pelo setor. Mais vulneráveis que os peixes grandes, estão os pequenos produtores, os músicos independentes e todos que trabalham com eles nos eventos e shows.

Algumas alternativas ganharam destaque no meio desse isolamento social, como as lives. Artistas com grande fama fizeram apresentações ao vivo no YouTube ou no Instagram para entreter os fãs nesses dias desanimados. A cantora Ludmilla levou isso além e continuou pagando sua equipe pelos shows que estariam acontecendo se não fosse a pandemia.

Muitos desses shows online se propõem a divulgar instituições de caridade, projetos sociais ou apenas arrecadar recursos para comunidades em situação precária que precisam de ajuda em meio às dificuldades da pandemia, motivando os que assistem às apresentações a fazerem contribuições. Gusttavo Lima conseguiu mais de R$ 500 mil para doação e a dupla Jorge e Mateus, que superou 3 milhões de visualizações em sua live no YouTube, arrecadou mais de 172 toneladas de alimentos e 10 mil frascos de álcool em gel. Já o rapper Djonga aplicou um QR Code na página da live para quem pudesse doar, ultrapassando R$ 80 mil em arrecadação para uma comunidade carente em Belo Horizonte que está sofrendo os efeitos do vírus.         

Em relação aos pequenos músicos, há outras alternativas. Um fundo de ajuda para compositores e artistas atingidos pela crise do novo coronavírus foi lançado pela União Brasileira dos Compositores (UBC) e pelo Spotify. É necessário ser filiado à UBC para ter acesso ao benefício. A entidade tem 30 mil associados, entre autores, intérpretes, músicos, editoras e gravadoras, que recebem direitos autorais. 

A UBC disponibilizará R$ 500 mil, que se somarão a outros R$ 500 mil doados pela plataforma de música streaming. Esse valor de R$ 1 milhão será compartilhado com todos os associados atingidos pela crise do vírus. O Spotify vai acrescentar US$ 1 para cada US$ 1 doado no site do projeto, chamado Spotify Covid-19 Music Relief, até o fundo atingir um valor próximo ou igual a US$ 10 milhões.

Em diferentes estados, sindicatos e associações de músicos, como a Associação de Compositores, Músicos e Produtores de Mato Grosso (ACMP), a companhia de teatro Os Satyros e o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated SP), também estão fazendo campanhas para ajudar os artistas prejudicados pelas medidas de isolamento social.

Muitos que vivem de shows e produções independentes ainda vão sofrer com esses impactos. Guilherme Bustamante ou GB seu nome artístico –, um estudante de produção musical que já trabalha como produtor independente e participa de um grupo de rap, o DoideraCrew, diz que a falta de shows e batalhas está afetando sua renda e a divulgação de seu trabalho. 

“A abstinência de shows para nós que somos artistas pequenos é uma das piores coisas. É um dos nossos principais meios de divulgação, sempre cantando para novas pessoas que vão conhecendo nosso trabalho e abrindo novas oportunidades de participação em outros eventos”, conta GB.

“A renda dos shows ainda não é suficiente para me manter, porém muitos shows ainda vêm como um bom complemento e ajudam bastante. Agora, sem eles, tudo fica um pouco mais apertado, mas sigo na minha motivação de fazer o que eu amo, muita música”, complementa Guilherme. 

O baterista Paulo Stortini fala sobre o baque que os músicos sentiram com a pandemia. “Muitos shows que estavam agendados há tempos foram totalmente cancelados. Agora, nosso foco é se reinventar, já que todos os artistas estão sem o ganho deles.”

Além de baterista, Stortini diz que tem sorte de trabalhar com outras coisas envolvendo música, como gravação, produção, mixagem e ainda dar aula de bateria. Porém, outras atividades, como transcrições de músicas e produções maiores, em que recebia por ensaio e pelo espetáculo, foram completamente excluídas de sua renda no momento. “Minha impressão é que, quando tudo voltar ao normal, a relação das pessoas com a arte vai ser diferente.”

“Ainda tento fazer algumas gravações online e continuar dando aula, mas o resultado não está sendo bom. Uso as redes sociais para me promover e ver se consigo mais alunos, mas vejo que ninguém está pensando em gastar com aulas de música em tempos tão difíceis. Para ajudar na renda, apelei para os aplicativos de mobilidade urbana, como Uber, Cabify ou 99.”

O baterista conta que alguns alunos que não foram tão afetados pelo coronavírus continuam honrando o pagamento das aulas, mesmo sem tê-las no momento. “Do dia para a noite, minha renda foi praticamente a zero." Agora, Stortini segue rodando com os aplicativos de transporte para sobreviver e tentar olhar toda essa situação com o mínimo de esperança.   

por
Gabriella Lopes e Isabela Câmara
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21/04/2020 - 12h

Depois de muitos pedidos de seus fãs, Jorge e Mateus – uma das maiores duplas sertanejas atuais no país – fizeram um show virtual por quatro horas e meia no YouTube no dia 3 de abril. A live está disponível no canal dos cantores e até o momento que foi escrita esta matéria, tem mais de 38 milhões de visualizações. Segundo o Uol, eles quebraram o recorde mundial de transmissão, conseguindo 3,2 milhões de espectadores ao mesmo tempo. Eles também aproveitaram a visibilidade e arrecadaram “216 toneladas de alimentos que ajudarão inúmeras famílias pelo país”, como declararam no Twitter.

Jorge e Mateus não foram os primeiros a tomarem tal atitude e com certeza não são os últimos. Outros artistas já estavam fazendo shows em diferentes plataformas, como o comediante Whindersson Nunes no dia 1 de abril. O cantor Mumuzinho, a pedido do Fantástico, da Globo, no dia 27 fez um show na varanda de seu apartamento para os outros prédios de seu condomínio na zona oeste do Rio de Janeiro. Além disso, começou um cronograma de shows que estão acontecendo virtualmente e, entre eles, constam apresentações da Marília Mendonça, Péricles, Zé Neto e Cristiano, Wesley Safadão, Bruno e Marrone, Gusttavo Lima e vários outros.

Shows que antes eram muito caros, agora estão sendo oferecidos de graça, devido à quarentena. Como disse Eliane Brum, em seu texto O vírus somos nós (ou uma parte de nós), “as pessoas se aproximaram socialmente com o isolamento social”. Mesmo que o texto de Brum se refira ao meio ambiente, podemos interligá-lo – assim como fez o Papa Francisco durante sua encíclica de Páscoa – com a empatia e o cuidado com o outro como parte de cuidar do mundo – algo que negligenciamos tanto quanto cuidar das mudanças climáticas do nosso planeta. E, nesse caso, falamos sobre os cuidados com a saúde mental.

Nem todos os envolvidos nessa onda de empatia são artistas, empresas também aderiram à ideia. Amazon, Telecine e Lacta são exemplos de corporações que aderiram ao ‘Fique em casa”, cada um à sua maneira. Seja disponibilizando e-books gratuitos, um mês de filmes grátis ou adotando o delivery de ovos de páscoa. Cada um fazendo sua parte nesses últimos dias para manter o público entretido em casa e diminuir a necessidade de mobilidade.

As iniciativas em favor do isolamento social ter surgido efeitos nas pessoas. Em uma entrevista, Isabella Silvestre declara ser cliente assídua da Amazon, e diz estar muito satisfeita.

Jornalista: A quanto tempo possui o Kindle?

Isabella: Tenho o aplicativo desde 2015 e o aparelho há mais ou menos um ano.

J: Qual a sua avaliação sobre a Amazon em geral? Sempre esteve satisfeita com o serviço?

I: É um site ok. Fácil de mexer. Tem uma grande variedade de produtos e um preço ok. A respeito do serviço, nunca tive problemas, em um geral o atendimento ao cliente deles é rápido e bom.

J: O que achou quando a Amazon anunciou o começo dos e-books gratuitos devido à quarentena?

I: Ao entrar na Amazon era comum encontrar alguns e-books gratuitos antes mesmo da pandemia, porém, com o início da quarentena, muitos autores e editoras decidiram disponibilizar e-books gratuitos para o entretenimento durante esse período. A iniciativa é interessante pois é uma forma de entreter o leitor durante um período difícil e que também permitiu muitas pessoas terem acesso a diversos livros de forma gratuita.

J: Quase dois meses depois de realizar esta iniciativa, eles continuam disponibilizando, como uma ação para manter a quarentena mais suportável. Acha que está funcionando?

I: Acredito que ainda funcione, porém não com tanta eficácia como no início. Antes havia toda aquela preocupação e um pouco de desespero e eu acho que o serviço dos autores e das editoras, assim como outros, ajudaram a acalmar as pessoas, dando a elas algo para ocupar a mente e até estimulando as pessoas a ficarem em casa. Vale lembrar que a decisão de disponibilizar livros gratuitos deve partir das editoras e dos autores por meio da plataforma Kindle na crise epidêmica. Resta aos consumidores a imaginação de como utilizar o serviço, como ler ao mesmo tempo que os amigos, socializar vendo as mesmas séries (como a Amazon Prime, Netflix, Telecine Play, GloboPlay que também disponibilizaram um mês gratuito de seus serviços de streaming). 

Até 2020 artistas e instituições privadas e públicas nunca tinham realizado tal feito. O uso em massa dos serviços de vídeo online tem mostrado novos tipos de relações entre consumidor e fornecedor. Por ser algo pioneiro, não é perfeito, mas demonstram que existe a capacidade de democratizar culturas e serviços como nunca vistos antes.

A solidariedade e a união afloraram fortes logo no momento que a separação veio duramente imposta pela covid-19. A tecnologia pode ser uma grande aliada nesses tempos: vídeo chamadas, ligações e mensagens instantâneas têm permitindo o home office e o ensino à distância.

Mas a tecnologia serve apenas como meio para nos manter sãos enquanto estamos isolados. São as ações humanitárias de artistas, empresas e dos próprios cidadãos (que visam ajudar quem precisa nesse momento tão difícil) que servem como fim. E vale lembrar, ainda, que devem partir de nós a iniciativa de manter contato, mesmo à distância, com nossos amigos e familiares. Em outras palavras, a mudança deve partir de nós seres humanos e não da inovação tecnológica.

 

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Artistas e famosos de diversos meios, em especial da música, estão oferecendo seus serviços como forma de entretenimento e chamando a atenção para causas sociais
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Beatriz Aguiar e Sara de Oliveira
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21/04/2020 - 12h

Dados do Mapa Brasileiro da Covid-19 mostram que 50% da população brasileira está confinada em casa. Um balanço da agência France Presse (AFP) do final de março constata que ⅓ da população mundial está de quarentena graças ao Covid-19.  

Isolados, o entretenimento e a fuga ao tédio dessas pessoas muitas vezes se dão pelas redes sociais. Um estudo da consultoria Kantar, com mais de 25 mil pessoas, demonstra um crescimento de participação nas redes sociais Facebook, WhatsApp e Instagram de 40% no período entre 14 e 24 de março. Sendo agora um dos únicos meios de contato social é natural o crescimento da participação e interatividade em tais plataformas. E as celebridades estão fazendo sua parte para conscientizar as pessoas da importância de permanecer em quarentena e combater possíveis danos à saúde mental gerados pela distância social.

A oferta de entretenimento online cresceu. Todos os dias, pelas redes sociais como Facebook, Instagram e Youtube, é possível encontrar alguma live ou vídeo novo. E os conteúdos são diversos. Vão desde lives musicais até oficinas ensinando idiomas e receitas culinárias.

Na quarta-feira, 8 de abril, a cantora Marília Mendonça bateu o recorde de visualizações (3,2 milhões) ao vivo em sua página no Youtube. A sertaneja fez um show de quase quatro horas com seus maiores sucessos, troca de mensagens entre ela e fãs e incentivo a doações para o Mesa Brasil do Sesc e a compra por meio do aplicativo (APP) CompreLocal. O recorde antes era da dupla sertaneja Jorge & Mateus em sua live feita pouco menos de uma semana antes da cantora. Esse formato de show vem se consolidando entre músicos e fãs.  Somente no final de semana de Páscoa foram cerca de 25 shows “improvisados” de todos os gêneros, desde o cantor de ópera Andrea Bocelli aos sertanejos Chitãozinho e Xororó e ao DJ Dennis.

Música não é a única oferta nos tempos de quarentena. Apresentadores conhecidos por seus programas de culinária, como Rita Lobo, estão fazendo lives, diárias ou semanais, ensinando receitas diversas. Debates sobre racismo, feminismo e outros assuntos estão sendo feitos. A filósofa Djamila Ribeiro está nessa onda. Programas de auditório, por exemplo, estão seguindo com seus apresentadores, convidados e telespectadores conectados por seus aparelhos digitais. The Late Late Show com James Corden e The Tonight Show com Jimmy Fallon são alguns deles.

No dia 18 de abril deste ano aconteceu o evento One World: Together At Home criado ONG Global Citizen em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e contou com curadoria de Lady Gaga. O objetivo era de incentivar as pessoas a ficarem em casa durante o período de isolamento social causado pelo Covid-19. “US$ 127,9 milhões arrecadados para o alívio da covid-19. Para todos em todo o mundo: mantenham-se fortes, mantenham-se seguros, em breve estaremos juntos pessoalmente”, afirmou a ONG no Twitter.

A live que foi transmitida em canais do Youtube e redes de TV do mundo inteiro, durou 8 horas e contou com cantores como Alicia Keys, Billie Eilish, Billie Joe Armstrong (Green Day), Celine Dion, Chris Martin (Coldplay), Eddie Vedder (Pearl Jam), Elton John, Jennifer Lopez, Lady Gaga, Lizzo, Paul McCartney, Stevie Wonder, Taylor Swift, entre outros. Além, de depoimentos de médicos, profissionais da área de saúde espalhados pelo mundo que se afastaram de suas famílias para cuidar de outros, houve a exibição de vídeos das soluções criativas e divertidas encontradas em meio ao isolamento, como casamentos feitos à distância e shows realizados na varanda de apartamentos.

Durante a programação, a cantora Beyoncé usou sua influência para falar da população que mais sofre com o vírus nos Estados Unidos: a população negra. A cantora citou um estudo da Texas Medical Center afirmando que 57% das mortes pelo Covid-19 no Texas eram de pessoas negras. Aqui no Brasil não é diferente e organizações têm mostrado grande preocupação com a população mais vulneráveis. Como o caso da CUFA (Central Única das Favelas). A organização fez diversas parcerias como a com os cantores Péricles e Luan Santana, e a supermodel Gisele Bündchen.

Hoje, dia 20, acontece o primeiro dia do “KondZilla Festival Em Casa”, um baile funk em casa. Com shows de Lexa, Dani Russo e MC Dede. Já no segundo dia, 26, os responsáveis por trazer o baile até as casas será MC Kekel, Jottapê, Mila e MC MM. Durante a programação da live acontecerão doações convertidas para a organização CUFA.

A CUFA entende a importância da ajuda nas comunidades e por isso pela primeira vez, em 20 anos de história estão solicitando doações. O vírus não escolhe classe, mas a mais pobre é que a mais sofre. Com falta de políticas públicas não só durante a pandemia e falta de informação, a prioridade agora é “conscientizar os moradores que até aqui não estão levando tão a sério quanto deveriam, seja colaborando na distribuição de alimentos, álcool em gel, cesta básica ou mesmo em processo de elaboração de novas práticas e formação de redes de favelas, para plugar em outras iniciativas”, CUFA em nota no site oficial.

“A situação é muito séria. Muitos moradores de favela ainda não caíram na real e não estão cumprindo a quarentena como deveriam. Estamos colocando toda a nossa força na conscientização deles, para que juntos possamos vencer mais essa luta” disse Claudia Rafael, da CUFA de Paraisópolis (SP) para matéria no site da instituição.

“São aproximadamente 15 milhões de moradores de favela em todo o território nacional. Muitos deles não podem deixar de trabalhar, e ainda transitam pelas ruas se expondo ao risco do contágio. A CUFA vai contribuir de todas as formas possíveis para que o impacto do coronavírus seja mínimo nas favelas brasileiras. Essa é nossa luta, faça parte dela também”, falou Kaline, coordenadora da CUFA Paraíba, 83-88145528 para a matéria oficial da organização.

 

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Beatriz Aguiar e Gabriella Tavares
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25/03/2020 - 12h

Em 2019 Greta Gerwig surpreende mais uma vez lançando “Adoráveis Mulheres”. A adaptação do clássico “Mulherzinhas” recebeu 95% de aprovação dos críticos do Rotten Tomate e 92% do público, sem dúvida, uma honra. O filme começa com Josephine March, Jo, crescida em Nova York, vendendo suas histórias enquanto se sustentava dando aulas na pensão em que vive. Conhecemos seu futuro amor, Friedrich Bhaer. Eles não parecem ter intimidade

Os primeiros dez minutos do filme já são completamente diferentes das adaptações anteriores. A história é a mesma, alguns diálogos são copiados do livro. A construção narrativa, porém, é oposta. Não segue a vida das March linearmente: da infância a vida adulta. Gerwing opta por iniciar o filme e ter como linha temporal principal a vida adulta das irmãs. A infância é mostrada como lembranças, flashbacks. Esse poderia ser um detalhe, apenas uma questão de gosto e abordagem da diretora. Afinal, sendo um livro já tantas vezes adaptado, mudanças entre as obras cinematográficas são bem vindas.

A escolha, no entanto, pode ser entendida como um traço geracional. Não é algo intrínseco a Greta Gerwing, mas ao século XXI ao qual faz parte. É a aceleração do tempo. O sr. Bhaer é jovem, com um belo sotaque francês, elegante e bem arrumado. Diferente do professor Bhaer original: velho, por volta dos 40 anos e pobre. Suas roupas estavam sempre danificadas e com remendos, possuía barba mal feita e cabelos longos e desgrenhados. Além disso, era alemão de sotaque forte. Nesses primeiros minutos de filme, a primeira mudança de Greta: uma Josephine feminista moderna não se casaria com um homem velho e feio.

De Nova York, a história voa a Paris. Para Amy. Realizando seu sonho de aprimorar suas pinturas, vive a vida com a qual só podia sonhar na infância. Circula na alta sociedade com os melhores ornamentos e sedas, participando de bailes e chás. Encontra Laurie, por acaso, nas ruas da Cidade da Luz e o convida para uma festa que vai ocorrer à noite. É o começo da interação de ambos que acarretará em uma paixão. Da parte dele, ao menos.

Mesmo que no filme, Amy tenha amado a vida toda Laurie, para Alcott, o amor não  se mantém tão fácil assim. O depressivo Laurie se torna o fanfarrão da madrugada, trata mal Amy e é o famoso “mulherengo”. Seu romance é tão pouco bem desenvolvido, fazendo parecer que Amy é uma substituta para Jo. Em outras palavras, o mais próximo que ele vai conseguir ficar de uma menina March. Enquanto o romance dos dois floresce como uma flor de bambu na obra clássica, Greta opta pelo verdadeiro romance hollywoodiano – em que tudo que leva a felicidade eterna acontece em três dias. Mostrando-se mais uma adaptação para que fique mais confortável aos padrões do século XXI, a diretora provavelmente reconhecendo que ninguém ficaria sentado várias horas para ver o filme, sacrificou o romance dos protagonistas, em detrimento dessa característica impaciente dessa sociedade.

Outra mudança que aponta modernização de Greta no filme é Tia March. Na produção audiovisual, ela não é rica por casamento, mas por herança. A carrancuda personagem ganha a simpatia do público na pele de Meryl Streep e com a incoerência entre seu discurso conservador a favor do casamento contra sua própria história, de alguém que prosperou solteira. Tia March ganha energia, movimento. É acelerada.

Todas as mudanças de Greta, trazendo 1898 para 2019, não são necessariamente ruins. Mas devem ser consideradas. Um dos pontos mais interessantes de livros de escritoras como Louisa May Alcott e Jane Austen é a narrativa à frente de suas épocas. A Primeira Onda Feminista aconteceu pouco depois das obras dessas autoras, no final do século XIX, porém conseguimos ver traços do movimento em suas obras. São sutis, não quebram o paradigma social vigente, mas são avanços. Para elas, não para nós. Em 2020, já não é tão chocante ver uma mulher perseguir seus sonhos em ter uma carreira ao invés de marido e filhos. Ainda assim, Greta apaga esses desenvolvimentos e coloca as personagens em contextos mais próximos ao nossos do que ao delas.

A aceleração do tempo cortou a dinâmica que existe em assistir e ler conteúdos antigos. Isto é, quando se está lendo “Mulherzinhas”, é natural a reflexão entre as realidades. É importante que passemos pelo processo de perceber o quão absurdo é uma jovem de vinte anos se casar com um homem de quarenta, assim como casar por dinheiro felizmente não é mais o destino para a maioria das garotas (apesar de ainda ser para uma parte considerável). Entretanto, Greta cortou consideravelmente parte desse processo no filme.

Há uma felicidade exacerbada no filme, principalmente nos flashbacks. Mesmos as dores de crescimento das irmãs parecem melhor do que suas realidades. Há sorrisos mesmo dentro de espartilhos opressores. Este saudosismo é uma leitura nossa. Em tempos acelerados, onde 24 horas já não parecem suficientes, o passado é pintado como uma calmaria desejável. 

Outro ponto de divisão é questão de classes. No livro, o pobre e o rico são bem divididos. Quem é rico usa seda e quem é pobre usa “pano”. Os abastados moram em uma mansão e o “resto” em uma cabana. Para as irmãs a pobreza é um fardo quase impossível de aguentar. Meg e Jo trabalhavam desde jovens para ajudar no sustento da casa e nenhuma delas suportavam o que faziam. Mas pouco ficamos sabendo sobre isso no filme sobre isso. A pobreza é relatada de forma leve, sem o peso real que ocupava na vida dos March.

 

O tempo acelerado através dos outros filmes

Podemos perceber o século XXI na obra de Gerwing se compararmos as adaptações mais famosas da obra de Alcott. Há diferenças cruciais entre os filmes que nos fazem perceber as épocas nas quais foram filmadas e seus costumes.

“As Quatro Mulheres”, de 1933, era em preto e branco. O recurso das cores ainda não existia. Fidedigno ao livro, os diálogos pesam na versão com Katherine Hepburn como Jo March. Menos ação, mais fala. Era a primeira década do cinema falado e se aproveitavam deste recurso ao máximo. Portanto, ao contrário do filme de Greta, com diversos cenários tão dignos de atenção quanto os atores e suas falas, os cenários eram mais recatados e os atores eram a peça central (e praticamente única) das cenas. São impensáveis longos diálogos sem nenhuma outra distração em tela para o telespectador atualmente. No cinema, ele dormiria; na TV, trocaria de canal.

A versão de Elizabeth Taylor é uma cópia em cores do filme de Katherine. “Quatro Destinos” (1949) foi filmado em Technicolor, dando ao filme um aspecto mais inocente e sonhador. A história das irmãs March é uma fábula. E como uma, passa lentamente e se detém na beleza e nos pequenos momentos. A única diferença para o filme original é o que, talvez, detenha a atenção por um tempo maior do telespectador do século XXI. Mas não muito. O salto entre a segunda a terceira adaptação é de 55 anos. O cinema e o mundo mudaram nesse meio tempo. A computação pessoal dava seus primeiros passos e a palavra “globalização” já estava na moda. Sendo assim, longos diálogos com fortes atuações ou apostas altas na beleza da imagem não sustentariam um filme.

Seria um fracasso de bilheteria para uma grande produtora hollywoodiana. Uma quantidade maior de cenários e técnicas de enquadramento de cena são empregados. Cada March, inclusive a matriarca, ganha seu momento de tela. Amy, até então mimada e odiada, pode crescer em prol de um desempenho mais dinâmico. Com todas as mudanças para as outras versões, porém, não há como esquecer que a história se passa um século antes.

A visão de Greta, como já dito, anseia por selar a obra de Alcott como um símbolo feminista. É natural para a diretora. Lady Bird (2017), sua primeira obra, guarda semelhanças com Adoráveis Mulheres. É sobre as dores e as marcas do crescimento, especialmente para uma mulher, com a diferença de ser ambientada na Califórnia do começo dos anos 2000. A semelhança não para aí: ambas têm um toque autobiográfico da autora. A primeira história é uma adaptação da adolescência de Gerwing; já a segunda é um de seus livros favoritos. Não há como um diretor não imprimir sua marca em sua obra, ainda mais uma tão pessoal. Mas as marcas de Greta se confundem com as de um tempo sem tempo. Ao querer atualizar “Mulherzinhas” para uma audiência que vive sua primeira onda feminista, perde-se a inspiração pelas irmãs March e se torna um modelo perigoso e ultrapassado.

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