A poesia de rua se manifesta em diversas regiões da cidade de São Paulo. Os slams, eventos que reúnem poetas independentes da periferia da cidade, são batalhas de poesias que servem como canal para que marginalizados possam ter um lugar na cena artística da metrópole. O podcast "Vozes da Rua" conversou com especialistas, organizadores, fãs e alguns desses artistas que fazem dos slams um símbolo de arte e resistência na capital.
Em três episódios do PodFalá, mães de diferentes perfis contam suas experiências. Por exemplo, Cibele, que tem cinco filhos e é separada há 8 anos, fala das dificuldades financeiras e sociais que enfrenta no episódio “Mãe de Cinco”.
Já a Luana tem 21 anos e uma filha de quatro, e explica, no episódio “Mãe aos 17”, como foi ser mãe tão cedo e as dificuldades no início da carreira profissional. E no terceiro episódio, “Mãe Lésbica”, Lilian diz o que é ser mãe solo e homossexual. Todos os episódios estão disponíeis abaixo:
Episódio 1: Cibele, Mãe de Cinco
Episódio 2: Luana, Mãe aos 17
Episódio 3: Lilian, Mãe Lésbica
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O Brasil é repleto de misturas culturais, nas quais boa parte é proveniente da imigração. Uma delas é a arte oriental conhecida como charão, que corresponde à extração da laca para revestir objetos. Poucos sabem que, nos anos 30, houve um forte esforço para que essa técnica se tornasse no país tão conhecida como um dos nossos tesouros, o futebol.
O método chegou pelas mãos do japonês Ryoichi Nakayama, um economista que, cansado das atividades monótonas que a profissão lhe causava, resolveu, diante das dificuldades enfrentadas pelo Japão após a primeira guerra e da crise de 1929, vir com sua família para tentar a sorte de uma vida melhor.
“Quando meu avô veio ao Brasil ele achava que aqui era tudo mato. Então, ele trouxe coisas suficientes [para a sobrevivência] até que os filhos, que eram pequenos na época, completassem 16 anos. Então imagina, por exemplo, ele trouxe uma quantidade de fósforos imensa”, conta Sergio Nakayama, neto de Ryoichi.
Ao pisar em solo brasileiro, Ryoichi Nakayama se deparou com uma realidade muito diferente. Ele não imaginava que aqui não se faziam peças do charão. As que existiam, eram frutos de importação. Assim, voltou ao Japão, aprendeu técnicas com artesãos locais, recolheu ferramentas e retornou ao Brasil trazendo sementes para plantar as árvores e o sonho de prosperar.
Mas, a espécie que ele trouxe não se aclimatou no Brasil. Dessa forma, ele buscou ajuda do então Serviço Florestal, que conseguiu sementes da Indochina Francesa, convencendo Nakayama de que essa técnica artística poderia passar de um interesse próprio para um indústrial, no qual São Paulo seria o palco para o desenvolvimento.
Natália Ferreira de Almeida, que é a responsável pelo Museu Florestal Octávio Vecchi, em São Paulo, que possui acervos de charão explica: “na verdade, a técnica pode ser aplicada em diversas superfícies, então tem aplicações em ferro, aço, papelão, madeira”.
Entretanto, para se fazer o charão é preciso muita paciência e tempo.
Basicamente é necessário plantar as sementes, esperar alguns anos para que a árvore atinja o período certo para a extração da laca (que é uma espécie de resina incrustada), passar diversas camadas dessa laca no objeto e, por fim, finalizar com um acabamento, que costuma ser sempre com um desenho artístico.

Foto: Japanese Lacquer “Urushi”
(Japanese Culture Book).
O charão costuma ser mais visto em utensílios de cozinha “hoje a culinária japonesa está mais que popularizada aqui no Brasil, então, se você vai em um restaurante japonês tem aqueles utensílios pretos, que remetem a estética do charão”, diz Natália Ferreira.
Mas o charão também reveste caixas de músicas, biombos, leques, dentre muitos outros objetos, além de estar presente na moda, como em cintos.
Porém, com a demora em fabricar as peças e com o surgimento de alternativas mais baratas, como é o caso do óleo da semente de caju, contribuíram para que essa arte fosse perdendo o espaço no Brasil e caísse no esquecimento.
A professora de História da Arte da Ásia da UNIFESP, Michiko Okano, conta os motivos pelos quais o charão foi esquecido: “o artesanato no Brasil é muito desvalorizado. As pessoas não conseguem se sustentar da arte. No Japão, as obras que são artesanais, são muito valorizadas. Lá temos artesãos que são considerados patrimônios culturais”, argumenta.
O artista francês Francis Jean Marie, que mora no Brasil há muitos anos, foi até a terra do sol nascente na década de 80 e teve aulas em uma universidade tradicional para aprender a fazer charão.
Ele tentou fazer suas obras aqui no Brasil, mas enfrentou dificuldades burocráticas e econômicas, o que fez com que atualmente desenvolvesse outro tipo de arte: “madeiras torneadas são um pouco mais fácil, tem um custo bem inferior e as pessoas tem um pouco mais de afinidade. O charão precisa fazer um curso, ter uma educação para ver como o trabalho é importante”, destaca.
Sérgio Nakayama também contou que ninguém mais da família faz o charão: “eu tenho a missão de fazer o resgate dessa história para passar para os meus filhos, para que eles saibam como o avô foi pioneiro”.
Apesar das dificuldades, Michiko Okano revela uma vantagem de fazer esse tipo de arte no Brasil: “Aqui, não existe um consenso [tradicionalismo], então as pessoas se sentem com liberdade de fazer novas criações”.
Por mais que as esperanças pareçam acabar, no Instituto Florestal de São Paulo foram encontrados resquícios e novas mudas da espécie que produz a laca, que nasceram em função da própria natureza. Assim, o charão ainda revive. Para que ele esteja presente, basta desejarmos e termos o interesse de que ele renasça.
Ao chegar na casa de um amigo, se é recebido na porta pelo anfitrião, e não é diferente na portinha da rua Álvaro de Carvalho, que dá acesso à Ocupação 9 de Julho. É de praxe a recepção feita por um dos 500 moradores para o tradicional almoço de domingo. Promovido por moradores e voluntários, o evento que acontece no último final de semana de cada mês tem se tornado ponto do circuito "cult" de São Paulo, servindo desde comida caseira até bebidas alcoólicas, sucos, diversos doces e um ambiente descontraído e amigável.
O prédio tem sido moradia de integrantes do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC) desde 2016. Muito deles vindos da ocupação do Hotel Cambridge, que hoje está desocupado e passa por revitalização. O acordo é que, quando apto para habitação novamente, os apartamentos serão financiados pelo governo federal a valores flexíveis às famílias que lá residiam. Como o prazo para entrega da reforma é somente para 2021, grande parte dos moradores se abrigaram no prédio vizinho, dando início a Ocupação 9 de Julho.
O evento existe há aproximadamente dois anos e se expandiu rápido. Graças a uma rede de moradores, voluntários e ativistas, a abertura da Cozinha Ocupação 9 de Julho ao público é uma forma eficaz de romper a barreira com as pessoas de fora e se consolidar fisicamente. A popularidade vinda dessa interação se tornou também uma proteção. Com a quebra do isolamento, o movimento se integra de fato á sociedade ao invés de ser marginalizado. As pessoas passam a conhecer quem faz parte desse grupo pela convivência durante os fins de semana e assim podem quebrar estereótipos sobre ocupações urbanas.
Além dos tradicionais almoços, o edifício também é aberto para oficinas, palestras, exibição de documentário, e festas típicas, como o "Arraiá da Resistência" em junho com o apoio da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Na ocasião, Felipe Catto, Mariana Aydar, Marcelo Jeneci, Ana Cañas é outros músicos se apresentaram gratuitamente para o público presente. Inclusive, a presença de artistas e personalidades conhecidas é frequente no espaço. O ex-senador Eduardo Suplicy, um dos maiores apoiadores do movimento, escolheu o local para celebração de seu aniversário neste ano.
"O investimento inicial foi de nove mil reais e a receita que circula durante o ano chega a praticamente 90 mil. Não é muita coisa, na verdade, mas é um capital de giro suficiente para continuar fazendo os próximos eventos. A reforma da cozinha também foi feita com esse dinheiro", contou Néle Azevedo, artista plástica e voluntária da ocupação. "Os almoços também ajudam na renda de algumas famílias. São 10 pessoas que trabalham cozinhando e recebem para isso. Além disso, as barraquinhas de fora também são de moradores do prédio".
À exemplo disso, o Coletivo Empodera foi um projeto que nasceu dentro da ocupação, formado essencialmente por mulheres que buscavam independência financeira, e hoje comercializam alimentos regularmente. Um curso profissionalizante foi feito por todas e hoje, elas conseguem vender quiches e alfajores caseiros e veganos sem adição de conservantes.
O prato da casa fica por conta de um grupo específico de moradores, que se organizam na cozinha sempre deixando o espaço de convivência limpo e democrático. No dia 22 deste mês Fernando Goldenstein Carvalhaes e Leonardo Andrade, membros da Companhia dos Fermentados, comandaram a cozinha oferecendo o prato do dia: chucrute, costela de porco, abóbora e arroz integral. Para os veganos, abobrinha, tomate e cebola grelhada também participam do cardápio. Todas as salas do mesmo andar disponibilizam mesas e cadeiras comunitárias e sempre existe fila até a cozinha, das 11 às 16 horas.
Além do espaço externo, onde quase todas as paredes são cobertas de grafites, o prédio fica aberto a visitação guiada e, no último andar, a galeria RE O CUPA fortalece os laços entre a produção artística e movimentos sociais. Inaugurada em outubro do ano passado, a galeria usa do espaço robusto e amplo do que anteriormente era o antigo saguão como forma de potencializar a ocupação e convergir as diversas experiências entre artistas, curadores e arquitetos que são fora do circuito. Acima de tudo, a criação da Ocupação e da galeria são instrumentos de articulação, que participam do meio cultural e já fazem parte da agenda da população de São Paulo.