Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
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Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
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Por Guilbert Inácio
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26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Digitalização de filmes antigos é garantia para preservação da história
por
Paula Moraes
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21/09/2021 - 12h

Por Paula Moraes

 

Durante o incêndio da Cinemateca em 29 de julho, que resultou na queima de arquivos surgiu a questão sobre a importância da preservação da memória audiovisual histórica do País. Dessa maneira, questiona-se qual seria a melhor maneira de se preservar as produções digitalizando-as para um formato que pode se tornar datado ou guardando os originais e, consequentemente, perdendo a chance de apresentá-los como parte da história da produção audiovisual.

As produções de audiovisual tiveram seu início em 1887, com a criação de câmeras com cartuchos de filme com bitola de 8mm feito de celuloide, criadas por Hannibal Goodwin. Em 1888, as bitolas foram patenteadas pela empresa Kodak. Futuramente foram criados outros formatos de bitola, como a 35mm em 1889, que é o principal formato utilizado até hoje, inclusive para os filmes em IMAX, ou a 16mm em 1923, que era usado especialmente em documentários, filmes experimentais, filmes de treinamento e por cineastas independentes, e parou de ser utilizada nos anos 80. Com a patente da Kodak, a câmera passou a ser acessível para todos. A bitola com celuloide parou de ser usado por ser considerado altamente explosivo, e em 1950 foi trocado pelo de poliéster. Ele manteve o formato original de 8mm, mas passou a ser chamado de Super-8.

A digitalização do cinema começou a ser feita nos anos 80. Ela começou nas áreas sonoras dos filmes, e logo se estendeu para a pós produção, nas áreas de efeitos especiais e edição. E depois disso, foram criadas as câmeras digitais. Em 1995 foi lançada a filmadora Digital Video (DV), que apresentava uma qualidade superior há imagem e não desgastava está ao longo do tempo, como acontecia com o filme de poliéster. A DV também proporcionava um baixo custo de equipamento para as produtoras, e permitia que os atores e diretores tivessem mais liberdade durante as filmagens, além de permitir o registro de cenas mais longas. Em 1998 foi gravado o distribuído o primeiro filme gravado com uma câmera MiniDV, “A Festa” de Thomas Vinterberg Festen.

            Com o início das câmeras digitais, as câmeras de filme passaram a ser cada vez menos utilizadas. Em 2011 três grandes empresas do setor deixaram de produzir câmeras analógicas, a Arri, a Panavision e a Aanton, substituindo-as por modelos digitais, como a Kaufman. Essa troca fez com que os filmes passassem a serem feitos com câmeras digitais. Por conta disso, pararam de ser produzidos projetores de filmes, e os cinemas passaram a ter que se modernizar e comprar projetores digitais. À vista disso, para que fosse possível passar filmes antigos considerados clássicos, os estúdios de cinema passam a digitalizar seus filmes antigos.

            Existem duas maneiras de digitalizar filmes. A primeira é a “Digitalização” que proporciona qualidade Full HD, mas só consegue ser feito com bitolas 8 mm, Super 8 e 16mm em bom estado. Neste processo, o filme é digitalizado quadro a quadro com um scanner, permitindo corrigir erros de edição, restauração de cores e sonorização. A segunda maneira é a “Telecinagem”, que é usada como recuperação e restauração de bitolas 8mm, Super 8 e 16mm, que estão em mau estado de conservação. O resultado da qualidade da imagem é inferior ao da digitalização, apenas resolução 720×480. 

Para a técnica de conservação de acervo, Antônia Silva, as maiores dificuldades que um acervo de filmes podem passar é a luz, que queima os filmes, o calor, a umidade, a poeira, a gordura, a poluição e técnicas incorretas de limpeza. Para Silva, a digitalização de filmes é essencial para a preservação da história do audiovisual de cada país. “O risco de que filmes importantes da história do cinema desapareçam para sempre em algumas décadas é grande. Há muito se fala que o celuloide não resiste ao tempo”, explica.

Entretanto, escolher o formato de digitalização não é tão fácil. Os dados digitais são legíveis apenas por um certo tempo. À medida que software e hardware avançam, tornam o formato rapidamente ultrapassado, fazendo com que estes precisem ser convertidos novamente para formatos cada vez mais atuais.

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Um dos eventos de moda mais esperados do ano chocou ao trazer conceitos, críticas e elegância
por
Cecília Mayrink O’Kuinghttons e Clara Maia de Castro
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16/09/2021 - 12h

Após o cancelamento do Met Gala de 2020 em decorrência da pandemia da Covid-19, todos os holofotes estavam voltados para um dos eventos de moda mais famosos e esperados que ocorreu nesta segunda-feira (13/09) em Nova York, o Met Gala 2021. Com uma lista extensa e diversa de celebridades, a edição deste ano foi dividida em dois temas: "Na América: Um Léxico da Moda", que ocorreu esta semana, e "Na América: Uma Antologia da Moda", que estreará no dia 5 de maio de 2022. 

A lista de convidados é feita pela editora-chefe da Vogue USA, Anna Wintour, e as celebridades devem se vestir de acordo com o tema escolhido para a edição em questão.  Envolvendo temas estilo estadunidense, foram vistas muitas roupas que carregavam importantes símbolos da cultura local e da história do país, bem como o fez a poetisa Amanda Gorman, ao fazer referências à Estátua da Liberdade no seu visual.  

A moda em si é um ciclo que contempla as necessidades e movimentos culturais, sociais e políticos de cada época. Para a melhor análise histórica, uma linha do tempo do estilo estadunidense pode ser traçada:

A identidade de moda do país se iniciou a partir do meio do século 19 até o início do século 20, com o surgimento do estilo cowboy: chapéu country, peças de couro, franjas, botas, colete e camurça. Algumas das celebridades que trouxeram essa leitura para o evento foram Jennifer Lopez, Maluma e Leon Bridges.

Jennifer Lopez no Met Gala 2021 (Foto Mike Coppola/Getty Images)
Jennifer Lopez no Met Gala 2021 (Foto: Mike Coppola/Getty Images)

Sendo um dos símbolos da moda dos anos de 1920, o clássico vestido preto básico ganhou espaço durante o evento. Criado por Coco Chanel em 1919, o “black dress” - vestido feito no tecido crepe com mangas compridas e justas - causou certa estranheza quando a peça foi lançada, uma vez que na época, a cor preta era símbolo de luto e portanto, não era usada no cotidiano pelas pessoas. Entretanto, essa visão passou a ser contestada por volta de 1926, quando a Vogue dos EUA apelidou o modelo de “a Ford da estilista” e afirmando que dentro de pouco tempo, o vestido seria uma nova tendência.  

O “pretinho básico” tornou-se ainda mais popular ao ter sido referência para os clássicos figurinos de Audrey Hepburn, no filme “Bonequinha de Luxo” (1961). Adaptando-se ao Met Gala, Troye Sivan se inspirou em tal peça para a sua composição no evento, utilizando um decote arredondado, baixo e com recortes na cintura. Além disso, Sivan acrescentou à referência um colar de prata, que lembra a gargantilha de diamantes usada por Hepburn no filme. 

Troye Sivan no Met Gala 2021 (Foto: Taylor Hill)
Troye Sivan no Met Gala 2021 (Foto: Taylor Hill)

Em relação à década de 1950, outras referências foram observadas, principalmente na escolha dos tecidos para compor os vestuários. É importante ressaltar que após o período das grandes guerras, a moda enfrentou uma considerável revolução. Com tecidos mais leves e maleáveis e a adoção do corte, até então masculino, como calças, foi apropriado pela moda feminina. Vale destacar a influência crescente do jeans, tecido adotado por Lupita Nyong'o em seu vestido para o evento, que reconheceu a importância e impacto que ele trouxe na história dos EUA.

Lupita Nyong'o no Met Gala 2021 (Foto: Mike Coppola)
Lupita Nyong'o no Met Gala 2021 (Foto: Mike Coppola)

Outro estilo que ganhou destaque na noite foi o hippie, que se categoriza pelos tecidos leves e coloridos. Esse movimento se tornou ainda mais popular com o Festival Woodstock, que teve a sua primeira edição em 1969, recebendo artistas como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jefferson Airplane. Lourdes Maria Ciccone Leon, filha da cantora Madonna, fez referência ao famoso estilo de Cher no evento, com cabelo longo preto, vestido com cores vibrantes e recortes ao longo da cintura, busto e costas.

Lourdes Maria no Met Gala 2021 - Getty Images
Lourdes Maria no Met Gala 2021 - Getty Images

O período de 1970 foi marcado também pelos vestidos floridos, muitos acessórios e houve uma série de referências nas peças usadas pelas celebridades presentes. Nos EUA, estilistas como Roy Halston Frowick e Calvin Klein se destacaram por buscar fazer roupas sofisticadas e ao mesmo tempo concisas. No Met Gala 2021, a atriz Lili Reinhart utilizou um vestido rosa claro e com diversas flores coloridas originárias de cada estado do país.  

Lili Reinhart no Met Gala 2021 (Foto: Getty Images)
Lili Reinhart no Met Gala 2021 (Foto: Getty Images)

A década de 1980 se destacou pela popularização dos ternos, saias e  vestidos longos. A ostentação de dinheiro se tornou parte do vestuário, bem como se viam nos filmes em que as atrizes usavam acessórios caros e bolsas de coleção. Em contraposição a esse novo estilo, nasceu o movimento Punk, que se opunha à sociedade de consumo. Tachas, roupas pretas de couro, coturnos e alfinetes se tornaram populares e foram usadas por celebridades no evento, como  Evan Mock. 

Evan Mock no Met Gala 2021 (Foto: Taylor Hill)
Evan Mock no Met Gala 2021 (Foto: Taylor Hill)

Já os anos de 1990, foram marcados pela diversidade de estilos, uma vez que variam entre jeans coloridos e blusas básicas de malha fina. Calças despojadas, bermudas e camisas xadrez foram marco também dessa década a partir das coleções feitas por Perry Ellis e Marc Jacobs. Entre outros visuais, está a calça de cintura alta e o jeans rasgado. O cinema também teve grande influência na moda desse período, como o filme Matrix (1999) que inspirou a atriz Maisie Williams em sua composição para o evento. 

Maisie Willians (Foto: Matt Baron/Shutterstock)
Maisie Willians no Met Gala 2021 (Foto: Matt Baron/Shutterstock)

Mais inspirações Hollywoodianas ocorreram no Met Gala deste ano. Releituras de trajes clássicos do cinema como o de Emily Blunt, inspirado no vestido atemporal usado por Hedy Lamarr no filme “Ziegfeld Girl”, de 1941 e também o de Kendall Jenner, inspirado na atriz Audrey Hepburn no filme  “My fair lady“, de 1964. 

Kendall Jenner no Met Gala 2021 (Foto: Getty Images)
Audrey Hepburn no filme "My fair lady" e Kendall Jenner no Met Gala 2021 (Foto: Getty Images)

O protesto por meio da moda também foi visto. O mais comentado foi o de Jeremy Pope, cantor, ator e ativista no movimento negro. Pope apresentou uma composição que fazia alusão a escravidão nos Estados Unidos. Com roupa branca e uma grande capa, que relembra os grandes sacos de algodão carregados nas costas dos escravos. O ator postou em seu instagram uma foto de seu traje, juntamente com um registro da época; na legenda um discurso emocionante: “Eles plantaram sementes de beleza. Serviram em campos com força indescritível, e colheram uma espécie de excelência que iria ser relembrada por eles durante séculos. Para que pudéssemos um dia nos levantar, nos alongarmos em direção ao sol, e contar a história deles”.

Jeremy Pope no Met Gala 2021 (Via Instagram)
Jeremy Pope no Met Gala 2021 (Via Instagram)

Este evento mostra o quanto a moda em si é volátil e que se baseia em desejos momentâneos de mercado, que com o tempo, saem de uso. A indústria têxtil adotou a forma de produção capitalista e se deixou influenciar pela dinâmica de superprodução: fazer muitas peças de acordo com as principais tendências do momento, com o objetivo de vender a maior quantidade possível - e, consequentemente, lucrar ainda mais. Esse método ganhou considerável incentivo nos EUA no período em que houve a chamada “crise do petróleo”. Nesse sentido, procura-se no meio a mão de obra barata, de modo criar um ciclo análogo à escravidão. Dentro do contexto mencionado, nasceu o termo “fast fashion”, junto às atuais lojas de departamento. 

Ao não ter a qualidade das peças como prioridade, o meio ambiente é uma das principais vítimas desse processo. De acordo com um relatório feito pela McKinsey & Company e Global Fashion Agenda, essas roupas fast fashion são utilizadas menos de cinco vezes pelos consumidores e geram 400% mais emissões de carbono do que peças comuns - que são utilizadas 50 vezes. Vale lembrar que esse tipo de produção não polui apenas por conta da emissão de carbono, - uma vez que a fibra têxtil mais empregada na produção é o poliéster, um plástico - que demora cerca de 200 anos para se decompor. Além disso, para produzir fibras têxteis, é preciso desmatar, utilizar fertilizantes, agrotóxicos, extrair petróleo e transportar, entre outras formas de poluição.

Sendo assim, o Met Gala 2021 reforça a importância de se consumir uma moda consciente e que não esteja apegada apenas às tendências; mas também ao registro sociocultural que envolve toda a história milenar da produção de tecidos e de peças em si.        

 

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Longe do público e com oportunidades reduzidas, profissionais comemoram prorrogação de auxílio da Lei Aldir Blanc
por
Bruna Janz
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26/06/2021 - 12h

Em março de 2020, quando foi declarada a pandemia do novo coronavírus pela OMS, as aglomerações e os eventos sociais foram suspensos. Em meio ao cenário da crise de saúde brasileira, os profissionais da cultura foram duramente prejudicados, com 458 mil postos de trabalho, tanto formais quanto informais, perdidos ao final do ano passado, em comparação com o último trimestre de 2019, segundo informações do Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural.

Antes da pandemia, o segmento cultural, junto com o setor criativo, movimentava cerca de R$ 171,5 bilhões por ano, correspondente a quase 3% da riqueza nacional. A previsão era de que esses segmentos gerassem R$ 43,7 bilhões para o PIB brasileiro até 2021, porem 35% desse valor deixou de ser gerado devido às paralisações causadas pela crise do novo coronavírus, como foi apresentado nos resultados preliminares da pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil, divulgados em 29 de abril e feita pela Universidade de São Paulo (USP).

No terceiro trimestre de 2020 que a Lei Aldir Blanc entrou em vigor, prevendo uma renda emergencial de três parcelas de R$ 600 para profissionais da cultura, além de um subsídio mensal de R$ 3 mil a R$10 mil para a manutenção de pequenas empresas, organizações culturais e espaços artísticos que ficaram paralisados.

Também foi disponibilizado um montante de R$ 3 bilhões, repassado pelo governo federal para o pagamento desse auxílio. Porém, segundo o Ministério do Turismo em abril de 2021, 25% desse valor, que corresponde a R$ 773,9 milhões, não foram utilizados nos 120 dias do prazo inicial, permanecendo, assim, nas contas dos Executivos locais.

Esse atraso na utilização da verba destinada aos profissionais da cultura ocorreu devido a irregularidade de diversas regulamentações que deveriam ser feitas por prefeitos e governadores dentro do prazo inicial. Assim, em 21 de abril de 2021, foi aprovado um projeto de lei que reformulou a Lei Aldir Blanc, permitindo aos Estados e Municípios a utilização do saldo remanescente do montante até dia 31 de dezembro.

A prorrogação da lei foi vista como uma vitória por muitos do setor cultural, já que ainda não existe um meio viável para criar ambientes presenciais seguros para muitos segmentos artísticos, e o auxílio permite que muitos profissionais mantenham seus trabalhos. 

O ator, pesquisador e estudante Pitágoras Lemos ressalta que a Lei Aldir Blanc foi sancionada em um momento altamente necessário, porém nada é perfeito. “Para muitas pessoas pode parecer só um ‘legal, ganhei 600 reais’, mas nós (artistas) precisamos continuar trabalhando, e pra isso eu preciso apresentar uma peça, uma dança, uma performance. E eu, que faço teatro, sei lidar com o público, mas não sei lidar com edição de imagem, então eu vou ter que contratar alguém que saiba, e aí esses 600 reais já se transformaram em 500, em 400... Isso é o suficiente para uma compra do mês?”

Compartilhando a mesma visão acerca do auxílio, a dançarina, professora e estudante Deborah Lugli também ressalta que continuar trabalhando não precisa significar um trabalho contínuo ou automático, e sim de forma que seja possível e acessível para cada profissional no meio virtual. “É preciso olhar para o todo, e não apenas para o individual. Então, esses coletivos que se juntaram para repensar o setor cultural devem continuar a se fortalecer, é preciso olhar para o todo”, adiciona.

Porém, os impactos no meio cultural vão muito além das questões financeiras e do auxílio emergencial. A vida longe dos palcos físicos e sem a possibilidade de trocar experiências e sensações com o público dificultam muito o trabalho dos artistas, assim como a diminuição das oportunidades no mercado de trabalho  e a maneira com que o governo tem tratado as questões referentes ao setor. 

“Quando a gente está finalizando a graduação, é um momento complicado, é um momento de caminharmos com as próprias pernas, mas descobrir isso no meio de uma crise sanitária, em um momento que tudo se transformou, é bastante difícil de lidar, porque a cena mudou, e ter estudado a cena presencial e me formar na cena digital nesse período da crise é algo difícil de entender”, aponta Deborah.

Já para Pitágoras, a falta de contato com os espectadores é o principal desafio: “Há a perda da troca, da crítica. O que é apresentar para uma tela? Como é para o público receber isso? Nós não sabemos mais, tudo é mediado pelo computador, não há mais troca física”.

Sem mais a possibilidade de juntar um público, as peças via Zoom, lives no Instagram, exposições virtuais e até ensaios fotográficos via FaceTime explodiram por todo o país, e mesmo entre tantas dificuldades, os artistas ainda veem no cenário digital, uma premissa para o futuro, afirmando que dificilmente haverá o rompimento com o virtual, por já ter se tornado uma camada incorporada à arte, capaz de conectar pessoas de todo o Brasil e do mundo em um único lugar.

Ainda assim, as soluções à distância não são o bastante para manter economicamente os mais de 6 milhões de profissionais que trabalham no segmento cultural, tornando um subsídio do Estado uma necessidade para todo o setor, que deverá ser o último a retomar as atividades presenciais, em razão das medidas sanitárias necessárias para tal acontecimento.

Foto da capa: O ator Luis Carlos Shinoda, fundador do Cangaias Coletivo Teatral. Imagem de divulgação da peça "Na colônia penal", transmitida pelo YouTube. 

 

Cantora revela abusos em depoimento inédito
por
Jorge Nagib Koike
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24/06/2021 - 12h

No ano de 2019, em um podcast que analisa as postagens de Britney Spears no Instagram, um áudio de um advogado anônimo foi revelado onde o mesmo expressava suas dúvidas e críticas sobre como o pai e equipe da cantora lidava com a tutela e a vida pessoal de Spears. Após a disseminação do áudio, os fãs da cantora ressurgiram com o movimento #FreeBritney, pedindo a liberdade total da artista da tutela que vive sob desde 2008. No dia 23 de Junho de 2021, a cantora norte-americana finalmente quebrou seu silêncio e deu veracidade às suspeitas que seus fãs tinham. Em uma audiência pública transmitida online por áudio, a artista revelou que em 2018, foi obrigada a performar em sua turnê em Vegas após ser ameaçada por sua equipe. Mais tarde, depois de se recusar a incluir um passo de dança em uma de suas performances, foi forçada a se registrar em uma casa de reabilitação em Beverly Hills, na Califórnia. 

 

Seguindo o ocorrido, seus medicamentos foram trocados sem seu consentimento e Britney revelou se sentir bêbada com os efeitos do lítio, sua nova pílula. Em uma de suas falas mais chocantes e repercutidas, a cantora revelou que quer se casar e ter novos filhos, mas a equipe da tutela não a deixa, inclusive proibindo Spears de retirar seu DIU, método contraceptivo que é forçada a utilizar. Spears também sinalizou abusos cometidos por seu pai e o resto de sua família; em um momento afirmou que todos merecem estar na prisão e que pretende processá-los. 

 

Após a audiência, alguns artistas publicaram em suas redes sociais mensagens em apoio a Britney. A cantora Mariah Carey escreveu em seu twitter: "Te amamos Britney! Continue forte"; a atriz Keke Palmer postou em seu Instagram um texto apoiando Spears; o ator, cantor e ex-namorado de Britney, Justin Timberlake afirmou em uma de suas redes sociais: "Nenhuma mulher deve ser restringida de fazer decisões sobre seu próprio corpo." A próxima audiência está marcada para 14 de Julho de 2021.

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“Sai pra lá coronavírus”, quantas vezes durante este um ano e seis meses de pandemia você já não ouviu essa frase endereçada a alguém com características asiáticas?
por
Ana Carolina Cesar Sousa, João Vitor da Cruz Serradas, Livia Veiga Andrade, Thais Mollo Leoni, Victória Toral de Oliveira
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24/09/2021 - 12h

 

 

Imagem da exposição "Estigma e preconceito anti-amarelo no Brasil". (Foto: divulgação)
Imagem da exposição "Estigma e preconceito anti-amarelo no Brasil". (Foto: divulgação)

 

Com a desculpa da circulação do vírus e a forte necessidade de culpar alguém pelo acontecimento, as práticas xenofóbicas ganharam um novo contexto. Antes mesmo do início da quarentena no Brasil, a estudante Camila Odahara Monteiro, 19 anos, com descendência japonesa, vivenciou um momento de piada de cunho xenofobico no metrô de São Paulo, quando dois meninos brancos passaram por ela rindo e a chamaram de “corona”, devido a seus traços asiáticos. A jovem disse que costuma responder às provocações, mas desta vez não soube como reagir ao comentário devido ao choque.

O Brasil possui mais de dois milhões de pessoas que se autodeclararam de cor amarela, como apontam os Dados do IBGE. São asiáticos e descendentes, em sua maioria japoneses, coreanos e chineses. Estes se tornaram os maiores alvos de comentários racistas após frases twittadas em março de 2020 por Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo Estado de São Paulo (PSL), responsabilizando a China pela proliferação do vírus e a acusando de espionagem por meio de sua estrutura 5G.

O instituto Ibrachina, responsável por fortalecer as relações entre Brasil e China, abordou a influência dos líderes, ao apontar que todas as atitudes, comentários ou ações têm potencial em repercutir entre seus seguidores. “Algumas vezes, as pessoas não pensam sobre a questão e adotam a postura do influenciador. Em outras, entendem que a forma como pensam e sentem está sendo “validada”. Isso os empodera para externalizar atitudes que estão em desacordo com os princípios de respeito ao próximo, e de acordo com princípios legais.”

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi um dos líderes que demonstrou suporte ao racismo contra descendentes asiáticos, com comentários disseminando ódio, principalmente contra a China, assim como Eduardo Bolsonaro (PSL). Em resposta aos ataques cresceu o movimento Stop Asian Hate nos Estados Unidos (Pare o ódio asiático), com intuito de colocar fim a qualquer insulto ou ação xenofóbica direcionada ao povo e cultura asiática, por meio de denúncias e manifestações nas redes sociais. A campanha teve início em março de 2020, período inicial da pandemia.

Com o tempo, o movimento também gerou impacto no Brasil, a influenciadora e atriz Ana Hikari, a primeira descendente asiática a protagonizar uma novela da rede Globo, traz consigo uma importância muito grande ao meio artístico e ao movimento, contribuindo fortemente na divulgação de informações, explicações e manifestações em prol da campanha.

Mas não só no meio político houve ações inapropriadas. Influenciadoras, principalmente voltadas à maquiagem, trouxeram uma nova técnica para ensinarem a seus seguidores, o foxy eye, procedimento que utiliza cílios postiços e delineador para alongar os olhos, aproximando-se dos traços asiáticos. De acordo com a publicitária Melissa Ery, que tem ascendência asiática, é uma ação incômoda, pois traz a ideia de que características asiáticas, que sempre foram motivos de zombarias, só ficam bonitas quando uma garota branca as está usando.

Com uma explicação histórica muito antiga, a xenofobia no Brasil é algo forte e ainda presente. O processo migratório asiático, essencialmente japonês, intensificou-se após o fim da escravidão negra. Em 1906 ocorreu a entrada de 15 mil japoneses no território brasileiro. Após acordo realizado entre os dois países esses imigrantes foram submetidos a uma escravidão velada, um cenário que se apresentou quando cafeicultores brasileiros depararam-se com escassez de mão de obra para seu plantio. Acordos feitos com a China possibilitaram contratar descendentes para trabalharem por um salário injusto, jornadas exaustivas e nenhum direito garantido.

Mesmo com a intensa interação das culturas asiáticas e brasileiras, a formação do pensamento eugênico fortaleceu e marcou  a História com ações políticas anti-nipônicas, como o Regime de Cotas, que limitava as correntes migratórias, principalmente a amarela.  Revistas retratando a inferioridade e a estranheza deles circularam, reforçando a não miscigenação com asiáticos.

Arte: Vinicius Chozo
Arte: Vinicius Chozo

O cenário pandêmico tornou o problema mais visível e intenso, como aponta o Instituto: “O que chega na mídia geralmente são casos extremos, mas as pessoas também manifestam xenofobia de formas sutis”. Piadas, gestos e a criação de esteriótipos, são práticas marcantes na sociedade. Júlia Haruko Minamihara, 18 anos, com descendência japonesa, identificou pela primeira vez essa situação em 2018, após ouvir risadinhas e piadinhas por sua aparência e ser chamada de “japa”.

O racismo amarelo, também chamado de micro racismo, é perpetuado pela falta de conhecimento e interesse popular, mesmo o assunto sendo colocado em evidência. Júlia também relata que por muitas vezes escutou de pessoas próximas “Não há necessidade de mudar a forma como eu te chamo, sempre te chamei de “japa””, identificando a descrença na necessidade de mudanças.

Apesar disso, racismo e xenofobia são classificados como “crimes de ódio”. “O racismo é crime inafiançável, de acordo com o inciso XLII do artigo 5º da Constituição Brasileira e xenofobia também é crime. O artigo 140, inciso 3º do Código Penal, trata sobre injúria racial e abarca o conceito de xenofobia”, como levantou o Instituto Ibrachina. Eles também orientam a gravar a situação caso presencial, tirar prints de publicações, denunciar às plataformas e salvar links, quando o ataque ocorre nas redes sociais. E assim, encaminhar as denúncias à Polícia Federal, ou procurar o DECRADI, Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, são formas de combater ações preconceituosas.

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