“Sua morte foi uma grande perda para a arquitetura, não só no Brasil mas em escala mundial”, lamenta Vinicius Gessi, arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (FAU-Mackenzie), mesma instituição em que estudou Paulo Mendes da Rocha (PMR), morto em maio de 2021 por câncer.
Capixaba, Mendes da Rocha foi, ao lado de Vilanova Artigas, um dos expoentes da chamada Escola Paulista de Arquitetura, corrente de arquitetos modernistas paulistas que se identificavam com o brutalismo e se distanciavam do aspecto “beaux-arts” do modernismo carioca de Niemeyer.
Mas PMR e Niemeyer não tinham em comum apenas raízes modernistas; partilhavam também de grande reconhecimento nacional e internacional, sendo os dois únicos arquitetos brasileiros a ganharem o Prêmio Pritzker, o mais importante a nível mundial.
“É muito difícil ganhar esse prêmio. É como se fosse um Oscar”, afirma Vinicius sobre o Prêmio Pritzker, entregue anualmente ao arquiteto que melhor alcança os “princípios de Virtrúvio”: solidez, beleza e funcionalidade.
O arquiteto paulista, aliás, acumulou importantes prêmios ao longo de sua carreira. Já aos 29 anos de idade, por exemplo, venceu o concurso para o ginásio do Clube Paulistano, o que lhe rendeu o Grande Prêmio Presidência da República, na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, 1961.
Recebeu também, em 2016, o Prêmio Imperial do Japão e, no ano seguinte, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza e a Medalha de Ouro do Real Instituto de Arquitetos Britânicos. Neste ano, receberia a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos (UIA), porém foi impedido pela pandemia e por seu falecimento.
Além de arquiteto, Mendes da Rocha foi também urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), onde passou a lecionar após convite de Vilanova Artigas. Ambos, entretanto, membros do Partido Comunista, foram afastados da instituição após o Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, apenas retornando em 1979.
“Foi a primeira aproximação com PMR, seguida pelo acompanhamento de projeto que concorria à seleção de projetos estudantis da UIA em 1980, e depois no 5º ano, como orientador do trabalho de graduação interdisciplinar para conclusão do curso”, conta Renata Semin, sócia do Piratininga Arquitetos Associados e ex-aluna da FAU-USP, sobre seus primeiros contatos com Mendes da Rocha, após seu retorno à vida universitária.
Semin conheceu de perto o mestre da arquitetura. Depois de formada, trabalhou junto com PMR em diversos projetos arquitetônicos, como o do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP e o encomendado pela Prefeitura de São Paulo ao se candidatar para ser sede das Olimpíadas de 2012.
“Experiência marcante e indelével para o amadurecimento profissional e pessoal, dados os desafios colocados”, comenta Renata. “A comunicação sempre aconteceu em encontros informais, reuniões de trabalho, sempre com papel e lapiseira na mesa e a exposição clara do objetivo de cada projeto e sua contextualização. [PMR] Entendia perfeitamente a evolução tecnológica para o projeto, mas não era afeito à dissociação da conexão mente-mão”.
O brutalismo
Definir a corrente arquitetônica da qual Mendes da Rocha fez parte, o brutalismo, não tem sido tarefa fácil, devido à grande abrangência do termo e diversidade de obras ao redor do mundo.
O nome “brutalismo” origina-se nos anos 1950 do conceito de “béton brut” (concreto aparente), utilizado por Le Corbusier, e passa a designar uma arquitetura exposta, crua, sem receio de esconder suas formas e materiais brutos.
O uso do concreto cru e predominância de ângulos abruptos, bem como de escala geralmente monumental, fazem com que as obras brutalistas tenham uma certa imponência. Isso faz com que, comumente, sejam referenciadas no meio audiovisual como a personificação da grandeza.
Mais do que apenas gerar impacto emocional no observador, a arquitetura brutalista provou-se muito eficaz para a criação de moradia para grandes contingentes populacionais. Seu exemplo mais notório é o da União Soviética, nas décadas de 1950 e 1960.
Paulo Mendes da Rocha, não fugiu a esses preceitos brutalistas e buscou sempre a veia da praticidade e da inclusão social, vistas, por exemplo, em projetos urbanos e arquitetônicos que prezavam pela convivência social harmônica. “A ideia de eliminar barreiras para a convivência/vivência é ponto de partida do projeto [de PMR], seja na escala de uma residência unifamiliar ou na de edifícios que reúnem muita gente”, afirma Renata Semin.
Ainda assim, recentemente, o arquiteto foi alvo de críticas referentes ao alto custo e inacessibilidade de realização de suas obras.
Legado
Também criticada foi a decisão de Mendes da Rocha, em 2020, de doar todo o seu acervo profissional à Casa da Arquitectura, instituição cultural portuguesa voltada à divulgação da arquitetura pelo mundo. No total, mais de nove mil itens foram embarcados para Portugal, entre desenhos, fotografias, projetos e maquetes.
À época, em entrevista à Folha de S. Paulo, defendeu-se: “Antes de mais nada, gostaria que vissem a doação que fiz como uma manifestação da liberdade que tenho de fazer o que eu quiser. Compreendo muito bem quem acha que eu fiz mal. Como disse, eu respeito a liberdade — a minha e a de todos”.
Entretanto, a parte mais importante de seu trabalho permaneceu em solo brasileiro, na forma de um legado para as próximas gerações: suas obras. Moradores de cidades como São Paulo, ainda quando não familiarizados com o nome do arquiteto, cruzam diariamente com edifícios e espaços por ele desenhados.
Do SESC 24 de Maio da marquise da Praça do Patriarca à reforma da Pinacoteca; das Casas Gêmeas à reforma do Museu da Língua Portuguesa. O trabalho de Mendes da Rocha se espalha pela urbe paulistana e reproduz o apreço do arquiteto pela liberdade, impresso em obras com muitos vãos e estruturas que deixam o ar, a luz e as pessoas circularem livremente. “A arquitetura dele era preocupada com ambientes, espaços, principalmente fachada, vidro e cobogó”, comenta Vinicius.
Nunca ficara encastelado em seu escritório, embora tivesse medalhas, prêmios, fama internacional, o nobre arquiteto usufruía a cidade, através de saberes e percepções, sempre pensando em transformar região de central de São Paulo mais inclusiva e coletiva. Dessa maneira, simples e sofisticada, PMR concluiu seu traçado.
No início da vida escolar, o aprendizado da leitura é um dos primeiros e mais essenciais desenvolvidos na faixa etária entre 5 e 7 anos. Apesar de sua relevância, dados apresentados pelo Instituto Pró-Livro apontam que o povo brasileiro ainda lê pouco conteúdo literário: uma média de 2,4 livros ao ano; baixa, se comparada à estimativa de 10 horas e 42 minutos semanais de leitura dedicados pelos indianos, líderes do ranking desde 2005, de acordo com dados da Biblioteca Parque Villa-Lobos. Com o advento da pandemia de Covid-19, a quarentena foi implementada em diversos países com a finalidade de frear o avanço da doença e desafogar o sistema de saúde público e privado.
O confinamento no ambiente doméstico lançou holofotes para a implementação de novos hábitos, e o resgate de outros. A leitura foi um dos costumes resgatados, sendo recentemente carregado pelo comércio online e livros no formato digital. De acordo com números divulgados pelo Painel do Varejo de Livros, a venda de livros em março deste ano saltou 38% em relação a março de 2020. Além disso, o consumo de e-books duplicou durante o período da quarentena brasileira, de acordo com levantamento feito pela Bookwire Brasil, indicando a migração cada vez maior das páginas de papel para o toque das telas. “O consumo de livros não está diminuindo. A questão é que ainda temos uma parcela muito pequena da população que tem esse hábito, sem contar os critérios utilizados pelas pesquisas na definição do que seria ‘ler’. Elas costumam considerar alguém que lê um livro inteiro no ano, ou até quatro livros, algo assim”, explica Laura Folgueira, tradutora, revisora autônoma e jornalista formada pela Cásper Líbero. “Quando você pergunta o que as pessoas mais leem, a grande maioria dos brasileiros cita a Bíblia. Não que tenha algum problema nisso, mas não é um dado que consideramos em relação ao mercado editorial”, diz Folgueira. Ao ser questionada sobre a crise financeira sofrida pelas livrarias físicas, ela aponta que essa complicação não é recente, já que o comércio eletrônico provê informações suficientes na descrição de determinados produtos.
“O livro não é necessariamente uma coisa que você precisa ver antes para comprar, como móveis, que algumas pessoas preferem ir até a loja e analisar. O livro não pede isso”, acrescenta. Com a onda ascendente das compras online e, consequentemente, dos livros eletrônicos, os estabelecimentos físicos passam a direcionar sua estratégia para um ramo relacionado ao ambiente. Similar ao processo de “gourmetização” das salas VIP de cinema para fazer frente ao boom dos streamings, com poltronas reclináveis, assentos exclusivos e cardápios com diversas opções gastronômicas, livrarias passam a investir ainda mais no conforto presencial e na experiência completa dos leitores. Associação a cafeterias, conceito a céu aberto e expansão do setor de papelaria são alguns exemplos que compõem a construção de um novo nicho na experiência presencial destes espaços, que aguardam a retomada após pandemia.
“A experiência da livraria física não vai desaparecer. Ela só terá um público mais restrito. Aqui eu nem estou pensando em pandemia, mas eu acho que a experiência de ir à livraria em tempos normais é muito voltada para os amantes de livros. Eu não imagino que a gente abra mão disso”, analisa Laura. A revisora também aponta como apoiar livrarias menores e serviços independentes de distribuição e encomenda (como livreiros) também é uma forma de inovação sem deixar de oxigenar uma área mais tradicional do mercado literário. “Eu estou morando em Santos, desde o fim do ano passado, e tem uma livraria aqui que se chama Realejo Livros, que começou um trabalho bem interessante chamado ‘livreiro em domicílio’. Você entra em contato com ele, pede o livro e ele te entrega no mesmo dia se tiver como, sugere outros. É muito legal essa troca, ele tem muito bom gosto. Um pouco essa ideia de livreiro a moda antiga, mesmo”, conta.
No meio virtual, os clubes de leitura por assinatura também representam mais uma opção na extensa lista de caminhos que conduzem ao hábito, atualmente. A TAG Livros, empresa brasileira mais famosa do ramo, apresenta opções diversas, como combos de obras inéditas ou de curadorias especiais personalizadas. Já o clube “Intrínsecos” está diretamente associado às publicações exclusivas da editora Intrínseca. As assinaturas também podem ser ferramentas direcionadas para além do lazer, promovendo autoconhecimento e cuidado mental, como é o caso do clube do livro da plataforma Eurekka, voltada para o desenvolvimento pessoal e psicológico. “O que eu acho bacana dessas assinaturas é a experiência criada na caixa, com o fato de vir brindes, cadernos, não é só o livro. É o contexto, a própria TAG [Livros] também tem um aplicativo que permite você falar e interagir com outros leitores. Fora isso, eu acho especialmente interessante você receber livros que talvez não conheceria de outra forma”, opina Laura.
Apesar das inúmeras formas de popularização do livro e do aumento de sua procura no último ano, a falta de acessibilidade e poder de compra ainda são peças-chave para entender como o potencial de leitura do brasileiro não é aproveitado ao máximo. De acordo com informações reveladas na 4ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, 30% de toda população do país nunca comprou um livro. No fim de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, imergiu em uma polêmica relacionada à intenção de aumentar tributos sobre livros, alegando que se trata de um “produto de elite”.
Não dá para dizer que a literatura não é um privilégio. Uma forma de combater isso é a biblioteca. Dar acesso a cultura literária sem necessariamente passar por essa questão financeira é investir em mais bibliotecas, criar uma cultura de frequentar e ‘pegar livros’. E programas governamentais, que é uma coisa com a qual a gente vem sofrendo gravemente”, aponta Laura. “Quando a gente fala de literatura, é preciso expandir. Porque, se não, a gente vai deixar de conhecer uma parte do país. E também vamos deixar de estimular talentos, porque, para a pessoa ser escritora, ela precisa saber que aquilo também é para ela”, conclui Laura.
Foto destaque: Reprodução Facebook /Powell's Book
Danilo Martins Pereira, 35 anos, nascido em São Paulo, enxerga a música como uma arte que é inspirada por Deus, seja o ritmo que for, porque não é qualquer um que consegue fazer uma música, ou executá-la em qualquer instrumento. Além disso também é seu sustento há 16 anos. O desejo pela música veio quando experimentou o primeiro acorde no violão, quando o pai dele, que já tocava, passou esse acorde para ele. O pai tocava na igreja e Danilo desde os nove anos o acompanhava.
Antes da pandemia, ele tocava em igrejas, realizava shows e dava aulas presenciais para seus alunos. Aula de bateria, violão, entre outros instrumentos. Normalmente, tinha em torno de 35 alunos. Com o avanço da pandemia de Covid-19, o número de alunos reduziu para três ou quatro alunos, uma redução enorme. Depois iniciou-se o período em que todos as aulas passaram a ser online. Aula de escolas, faculdades, personal e as aulas de músicas.
O baterista profissional entrou para esse mundo do EAD e passou a dar aulas online. Mas ainda não era o bastante. Então Danilo se reinventou e passou a vender seus cursos na Hotmart, plataforma de comercialização e distribuição de produtos digitais.. Essa renda o ajudou bastante a sustentar sua casa e seus instrumentos para continuar trabalhando com o que gosta, já que muitos músicos deixaram essa vida por não gerar dinheiro e passaram a fazer outras coisas.
“Muitos amigos que não davam aulas apenas tocavam, sofreram muito, e precisaram migrar para outras profissões, como motoristas de aplicativo e marketing digital”, diz Danilo, que acrescenta: o estúdio que tenho em casa me ajudou muito financeiramente pois conseguiu gravar até os alunos começarem a voltar às aulas. Em nenhum momento Danilo não ficou parado, esperando para ver no que iria dar essa pandemia. Já buscou novos meios de comunicação dentro desse mundo da música.
No Brasil, não há dados separados para pessoas que se consideram pagãs, ficando na categoria “Outros” da pesquisa do Datafolha publicada em Janeiro de 2020, representando apenas 2% da população brasileira. Religiões espíritas e afro-brasileiras também ocupam a margem de 2% cada. Os números expressam não só poucas pessoas inseridas nessas religiões, mas a falta de procura por conhecimento de cada uma delas. Essa ignorância é facilmente transformada em opressão quando colocada nas mãos de grupos majoritários e que possuem grande influência nos meios de comunicação.
Entre as manifestações físicas dessa desinformação, vê-se de maneira clara na indústria do entretenimento a falta de conhecimento sobre essas religiões que geram estereótipos e, em outros casos, alimentam diversos tipos de intolerância se colocados em determinados contextos.
O filme “Invocação do Mal", distribuído pela Warner Bros. Pictures, é conhecido por criar ficções em cima de práticas como o satanismo e inserir símbolos, como a tábua Ouija, relacionada ao universo do Espiritismo, como coisas relacionadas ao que cristãos enxergam como o diabo. O casal, que existiu de verdade, era composto de dois agentes da igreja católica que estavam em contato direto com o Vaticano na época.

Outro exemplo que ficou muito conhecido foi a série “O Mundo Sombrio de Sabrina” distribuída pela Netflix, que entrou em conflito com um templo satânico após usar a estátua da criatura simbólica “Baphomet” para representar o diabo cristão. O templo The Satanic Temple acusou a série de “fazer uma representação estereotipada do mal”
"Foram anos de cuidadosas decisões de design, investimento financeiro pessoal quando o financiamento coletivo não deu certo, e muitos anos elaborando o significado desse monumento. Tudo para aqueles que nos silenciam usarem a imagem com a intenção de dar uma boa risada", afirmam as lideranças do Templo através de um comunicado oficial.
Cedrec Nightingale, de 29 anos, sacerdote wiccaniano e produtor de conteúdo, tem uma visão ampla do assunto. “Eu acho que na bruxaria, a gente não pode ser 8 ou 80, a gente tem que seguir o caminho do meio, sabe? Então, todas as coisas precisam de equilíbrio. Eu cheguei na bruxaria graças ao Castelo Rá-Tim-Bum, onde eu tinha um garoto que tinha 360 mil anos, uma bruxa de cabelo em pé, então eu gostei e me apaixonei pela bruxaria por coisas como essa, extremamente fictícias! Eu amo Harry Potter que solta raio pela varinha. A bruxaria tem um chamado, e eu não falo um chamado porque alguém é especial, mas eu falo um ‘clique’ de que tem alguma coisa que é diferente, e você pode buscar isso! Eu acho que as artes despertam isso, a arte é como eu me comunico.”

Já o produtor e jornalista Alexandre Petillo, como profissional da comunicação, defende a liberdade criativa nas obras que citam crenças e rituais: “Eu acho que na ficção, a imaginação pode ir longe, você pode usar esses elementos para criar uma história ficcional e obviamente você vai esbarrar em coisas onde você vai aumentar ou reforçar um estereótipo, eu acredito que é difícil dar um limite à ficção. O importante é você ter o bom senso de entender se aquilo ofende ou vai prejudicar alguém de certa forma.”
“Para criar essa ficção da maneira que você quiser, você precisa antes de tudo, entender do que você está falando”

A grande maioria dos filmes e séries modernas que retratam o paganismo, religiões de matrizes africanas ou espíritas, não têm o intuito de informar ou criticar. A técnica muito utilizada em produções de terror, “jump scare”, onde há uma mudança repentina de cena com o intuito de assustar quem assiste, se popularizou muito. Junto com o drama, essa técnica tomou conta das telas dessas produções que se tornaram propositalmente uma experiência plenamente assustadora, muitas vezes sem explorar o lado mais psicológico do terror. Os elementos dessas religiões se tornaram parte dessa realidade tenebrosa e a discussão sobre se isso influencia a intolerância em cima dessas práticas é extensa.
Cedrec conta que, para ele, isso é algo que depende da abordagem utilizada. “O limite é quando você ofende uma prática. Eu não me sinto ofendido quando alguma pessoa coloca uma bruxa junto com o diabo, eu não me sinto ofendido, mas se houver, por exemplo, documentários ou alguma coisa assim, dentro da cultura literária ou audiovisual que incentiva a opressão, a agressão, que incentive práticas desse tipo, aí sim…”
“Se pra você, meu Deus é o diabo, que assim seja”
Ele ainda comenta que o conhecimento e presença de especialistas nas produções é essencial para “dar menos margem para dores”: "Talvez, a solução para isso seja, nas grandes produções, a gente dar oportunidade para as bruxas falarem. E principalmente dar espaço para as bruxas na internet, na televisão, nos jornais, para além de tarot e leitura de signos. Vamos falar, vamos explicar aquilo que as pessoas não querem ouvir ou que a gente não teve oportunidade de explicar”
Alexandre concorda, “Se você for se debruçar sobre uma religião, principalmente uma religião que você não conhece, na qual você não está inserido, o maior erro é você filmar ou escrever isso, sem conhecer. Eu acho que quando a gente lida com religião, a gente tem que sempre lembrar que tem muita gente que acredita naquilo, tem muita gente que dedica a sua vida àquilo e todas as pessoas merecem respeito, aquela crença merece ser retratada com respeito[…] Se você tem críticas a ela [religião], você pode criticá-la, você pode buscar pessoas que são contrárias à sua opinião e promover o debate”
As religiões cristãs não escapam das sátiras, ainda que em menor proporção. A produção natalina do grupo de humor Porta dos Fundos, “A Primeira Tentação de Cristo”, foi tema de debates no Supremo Tribunal Federal e depois de um abaixo-assinado com mais de 1,6 milhão de assinaturas que pediam a retirada do catálogo da Netflix. O pedido não foi atendido. A sede da produtora foi atacada com dois artefatos incendiários.
"Jesus é retratado como um homossexual pueril, Maria como uma adúltera desbocada e José como um idiota traído", disse a Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, responsável pelo processo.
Alexandre comentou o caso,
“A gente tem vivido um momento meio um pé cá e um pé lá entre a liberdade que a gente conquistou pra um momento onde precisaremos pensar na nossa família acima de tudo”
The Satanic Temple tentou processar a Netflix pelo uso indevido de sua estátua, mas não recebeu resposta.
Foto de capa: O Mundo Sombrio de Sabrina, Netflix
Nascido na zona norte da capital paulista, Kevin Nascimento Bueno ou MC Kevin, viveu a maior parte de sua vida em uma situação de extrema dificuldade. Ele foi criado pela sua mãe solteira, que além do cantor tinha que sustentar mais quatro filhos, trabalhando diariamente, geralmente em períodos dobrados, fazendo faxinas em quartos de hotel.
Em sua infância ele foi privado de muitas coisas, algumas vezes faltava comida em sua mesa, um tênis para calçar ou até mesmo um teto sobre sua cabeça e de seus familiares. Porém, após tanto sofrimento ele descobriu um novo talento, sua carreira no funk, e com isso saiu do mundo do crime, que segundo ele "é o que a quebrada proporciona para o menino que nasce na favela”.
Entretanto, com apenas 23 anos, no dia 16 de maio de 2021, o funkeiro veio a falecer, por conta de uma queda que ele teve do 5º andar do hotel em que estava hospedado. Por ser tão repentino, chocou o mundo do funk, que perdeu um grande talento. Para os fãs que o acompanhavam desde o começo de sua carreira, o momento foi ainda mais difícil.
Graziela Vieira, dona do perfil "Brizei no Kevin" contou que conheceu o funkeiro através das redes sociais em 2015. "Conheci o Kevin através do Facebook. Um vídeo de Medley dele teve uma repercussão grande na época, e logo depois ele lançou "Prepara Novinha" que é um feat com o Mc Pedrinho"
Para Maria Gabriella Silva Barbosa, dona do fã clube, Encantos do Kevin, criar a página do Instagram foi uma forma de mostrar todo seu sentimento e agradecer por tudo que o funkeiro a ajudava a passar. "Eu estava em um momento muito difícil da minha vida, início de depressão e assim que escutei sua voz, vi seus vídeos e me encantei com seu jeito."
No caso de Graziela, o perfil foi o meio que encontrou de se conectar ainda mais com o MC. "Eu sinto que tive uma conexão com o Kevin logo de cara, o fã clube foi uma maneira que achei de estar perto dele mesmo de longe. Demonstrando todo meu carinho e admiração", diz Graziela.
Esse jeito que todos citam, é algo que marcou todas as gerações de fãs do funkeiro, desde aqueles que o acompanham desde o começo, até os mais recentes. "As músicas dele retratavam a realidade das comunidades no Brasil, ele tentava alertar os jovens a não escolherem o caminho errado", Graziela sobre como Kevin ajudava todos a sua volta com seu jeito e suas músicas.
"Ele sempre dizia para viver como se não houvesse amanhã, nunca desistir dos sonhos e manter sempre o foco" concluiu a dona do perfil Brizei no Kevin. Ambas, sobre como seria a última mensagem que falariam se pudessem encontrar Kevin mais uma vez. "Quando eu vi o Kevin pessoalmente, falei tudo que queria dizer para ele. Mas se eu tivesse uma última chance, diria: Obrigada por ser meu porto seguro nesses quase 10 anos. Estou muito orgulhosa e com bastante saudades" concluiu Graziela sobre o assunto.
Maria Gabriella iniciou dizendo sobre a última coisa que gostaria de ter dito para o Kevin. "Obrigado por fazer morada em meu coração, pelo amor que se renova a cada dia em mim. O seu abraço sempre vai ser o melhor do mundo. Nossa frase ainda continua a mesma , te cuido mesmo de longe. Eu te amo para sempre", conclui Gabriella.
Porém, ela aproveitou para deixar uma última mensagem para todos os fãs que estão se sentindo desamparados nesse momento tão complicado para todos eles. Segue o texto: "eu sei que essa dor vai estar sempre conosco, que nada que eu diga vai trazer ele de volta. Nesse momento nós temos que ser fortes, o Kevin não gostaria de ver ninguém triste. Lembrem-se dele como aquele cara maluquinho que estava sempre fazendo a gente rir das maneiras mais aleatórias possíveis, que abria live de madrugada do nada só para contar histórias do dia dele. A trajetória dele na terra foi encerrada, mas eu tenho certeza de que ele está muito feliz lá de cima".
No dia 21 de maio deste ano, foi lançado o álbum póstumo do cantor, chamado “Passado e Presente”, contando com a presença de vários artistas famosos principalmente do mundo do funk como MC Hariel, MC Ryan Sp entre outros, através de 10 faixas lançadas nas principais plataformas digitais.

A obra conta sobre o passado de Kevin, sua trajetória até chegar ao sucesso e críticas sobre o sistema, além disso tudo, o álbum foi o primeiro lançamento da gravadora independente recém-criada pelo MC, “Revolução Records’’. Até o fechamento desta reportagem, ainda não se tem uma resposta e resolução sobre o caso do funkeiro por parte da Polícia Civil.