Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
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Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
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Por Guilbert Inácio
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26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Aos 92 anos, o arquiteto faleceu no último dia 23 de maio, após perder uma batalha para o câncer
por
Barbara Ferreira, Diogo Moreno, Flávio Guion e Isabel Gaspar
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22/06/2021 - 12h

“Sua morte foi uma grande perda para a arquitetura, não só no Brasil mas em escala mundial”, lamenta Vinicius Gessi, arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (FAU-Mackenzie), mesma instituição em que estudou Paulo Mendes da Rocha (PMR), morto em maio de 2021 por câncer.

Capixaba, Mendes da Rocha foi, ao lado de Vilanova Artigas, um dos expoentes da chamada Escola Paulista de Arquitetura, corrente de arquitetos modernistas paulistas que se identificavam com o brutalismo e se distanciavam do aspecto “beaux-arts” do modernismo carioca de Niemeyer.

Mas PMR e Niemeyer não tinham em comum apenas raízes modernistas; partilhavam também de grande reconhecimento nacional e internacional, sendo os dois únicos arquitetos brasileiros a ganharem o Prêmio Pritzker, o mais importante a nível mundial.

“É muito difícil ganhar esse prêmio. É como se fosse um Oscar”, afirma Vinicius sobre o Prêmio Pritzker, entregue anualmente ao arquiteto que melhor alcança os “princípios de Virtrúvio”: solidez, beleza e funcionalidade.

O arquiteto paulista, aliás, acumulou importantes prêmios ao longo de sua carreira. Já aos 29 anos de idade, por exemplo, venceu o concurso para o ginásio do Clube Paulistano, o que lhe rendeu o Grande Prêmio Presidência da República, na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, 1961.

Recebeu também, em 2016, o Prêmio Imperial do Japão e, no ano seguinte, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza e a Medalha de Ouro do Real Instituto de Arquitetos Britânicos. Neste ano, receberia a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos (UIA), porém foi impedido pela pandemia e por seu falecimento.

Além de arquiteto, Mendes da Rocha foi também urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), onde passou a lecionar após convite de Vilanova Artigas. Ambos, entretanto, membros do Partido Comunista, foram afastados da instituição após o Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, apenas retornando em 1979.

“Foi a primeira aproximação com PMR, seguida pelo acompanhamento de projeto que concorria à seleção de projetos estudantis da UIA em 1980, e depois no 5º ano, como orientador do trabalho de graduação interdisciplinar para conclusão do curso”, conta Renata Semin, sócia do Piratininga Arquitetos Associados e ex-aluna da FAU-USP, sobre seus primeiros contatos com Mendes da Rocha, após seu retorno à vida universitária.

Semin conheceu de perto o mestre da arquitetura. Depois de formada, trabalhou junto com PMR em diversos projetos arquitetônicos, como o do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP e o encomendado pela Prefeitura de São Paulo ao se candidatar para ser sede das Olimpíadas de 2012.

“Experiência marcante e indelével para o amadurecimento profissional e pessoal, dados os desafios colocados”, comenta Renata. “A comunicação sempre aconteceu em encontros informais, reuniões de trabalho, sempre com papel e lapiseira na mesa e a exposição clara do objetivo de cada projeto e sua contextualização. [PMR] Entendia perfeitamente a evolução tecnológica para o projeto, mas não era afeito à dissociação da conexão mente-mão”.

 

O brutalismo

Definir a corrente arquitetônica da qual Mendes da Rocha fez parte, o brutalismo, não tem sido tarefa fácil, devido à grande abrangência do termo e diversidade de obras ao redor do mundo.

O nome “brutalismo” origina-se nos anos 1950 do conceito de “béton brut” (concreto aparente), utilizado por Le Corbusier, e passa a designar uma arquitetura exposta, crua, sem receio de esconder suas formas e materiais brutos.

O uso do concreto cru e predominância de ângulos abruptos, bem como de escala geralmente monumental, fazem com que as obras brutalistas tenham uma certa imponência. Isso faz com que, comumente, sejam referenciadas no meio audiovisual como a personificação da grandeza.

Mais do que apenas gerar impacto emocional no observador, a arquitetura brutalista provou-se muito eficaz para a criação de moradia para grandes contingentes populacionais. Seu exemplo mais notório é o da União Soviética, nas décadas de 1950 e 1960.

Paulo Mendes da Rocha, não fugiu a esses preceitos brutalistas e buscou sempre a veia da praticidade e da inclusão social, vistas, por exemplo, em projetos urbanos e arquitetônicos que prezavam pela convivência social harmônica. “A ideia de eliminar barreiras para a convivência/vivência é ponto de partida do projeto [de PMR], seja na escala de uma residência unifamiliar ou na de edifícios que reúnem muita gente”, afirma Renata Semin.

Ainda assim, recentemente, o arquiteto foi alvo de críticas referentes ao alto custo e inacessibilidade de realização de suas obras.

 

Legado

Também criticada foi a decisão de Mendes da Rocha, em 2020, de doar todo o seu acervo profissional à Casa da Arquitectura, instituição cultural portuguesa voltada à divulgação da arquitetura pelo mundo. No total, mais de nove mil itens foram embarcados para Portugal, entre desenhos, fotografias, projetos e maquetes.

À época, em entrevista à Folha de S. Paulo, defendeu-se: “Antes de mais nada, gostaria que vissem a doação que fiz como uma manifestação da liberdade que tenho de fazer o que eu quiser. Compreendo muito bem quem acha que eu fiz mal. Como disse, eu respeito a liberdade — a minha e a de todos”.

Entretanto, a parte mais importante de seu trabalho permaneceu em solo brasileiro, na forma de um legado para as próximas gerações: suas obras. Moradores de cidades como São Paulo, ainda quando não familiarizados com o nome do arquiteto, cruzam diariamente com edifícios e espaços por ele desenhados.

Do SESC 24 de Maio da marquise da Praça do Patriarca à reforma da Pinacoteca; das Casas Gêmeas à reforma do Museu da Língua Portuguesa. O trabalho de Mendes da Rocha se espalha pela urbe paulistana e reproduz o apreço do arquiteto pela liberdade, impresso em obras com muitos vãos e estruturas que deixam o ar, a luz e as pessoas circularem livremente. “A arquitetura dele era preocupada com ambientes, espaços, principalmente fachada, vidro e cobogó”, comenta Vinicius.

Nunca ficara encastelado em seu escritório, embora tivesse medalhas, prêmios, fama internacional, o nobre arquiteto usufruía a cidade, através de saberes e percepções, sempre pensando em transformar região de central de São Paulo mais inclusiva e coletiva. Dessa maneira, simples e sofisticada, PMR concluiu seu traçado.

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Com o novo coronavírus ainda se alastrando pelo globo, o modo como as pessoas consomem livros se alterou
por
Ligia de Toledo Saicali
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21/06/2021 - 12h

No início da vida escolar, o aprendizado da leitura é um dos primeiros e mais essenciais desenvolvidos na faixa etária entre 5 e 7 anos. Apesar de sua relevância, dados apresentados pelo Instituto Pró-Livro apontam que o povo brasileiro ainda lê pouco conteúdo literário: uma média de 2,4 livros ao ano; baixa, se comparada à estimativa de 10 horas e 42 minutos semanais de leitura dedicados pelos indianos, líderes do ranking desde 2005, de acordo com dados da Biblioteca Parque Villa-Lobos. Com o advento da pandemia de Covid-19, a quarentena foi implementada em diversos países com a finalidade de frear o avanço da doença e desafogar o sistema de saúde público e privado.

O confinamento no ambiente doméstico lançou holofotes para a implementação de novos hábitos, e o resgate de outros. A leitura foi um dos costumes resgatados, sendo recentemente carregado pelo comércio online e livros no formato digital. De acordo com números divulgados pelo Painel do Varejo de Livros, a venda de livros em março deste ano saltou 38% em relação a março de 2020. Além disso, o consumo de e-books duplicou durante o período da quarentena brasileira, de acordo com levantamento feito pela Bookwire Brasil, indicando a migração cada vez maior das páginas de papel para o toque das telas. “O consumo de livros não está diminuindo. A questão é que ainda temos uma parcela muito pequena da população que tem esse hábito, sem contar os critérios utilizados pelas pesquisas na definição do que seria ‘ler’. Elas costumam considerar alguém que lê um livro inteiro no ano, ou até quatro livros, algo assim”, explica Laura Folgueira, tradutora, revisora autônoma e jornalista formada pela Cásper Líbero. “Quando você pergunta o que as pessoas mais leem, a grande maioria dos brasileiros cita a Bíblia. Não que tenha algum problema nisso, mas não é um dado que consideramos em relação ao mercado editorial”, diz Folgueira. Ao ser questionada sobre a crise financeira sofrida pelas livrarias físicas, ela aponta que essa complicação não é recente, já que o comércio eletrônico provê informações suficientes na descrição de determinados produtos.

“O livro não é necessariamente uma coisa que você precisa ver antes para comprar, como móveis, que algumas pessoas preferem ir até a loja e analisar. O livro não pede isso”, acrescenta. Com a onda ascendente das compras online e, consequentemente, dos livros eletrônicos, os estabelecimentos físicos passam a direcionar sua estratégia para um ramo relacionado ao ambiente. Similar ao processo de “gourmetização” das salas VIP de cinema para fazer frente ao boom dos streamings, com poltronas reclináveis, assentos exclusivos e cardápios com diversas opções gastronômicas, livrarias passam a investir ainda mais no conforto presencial e na experiência completa dos leitores. Associação a cafeterias, conceito a céu aberto e expansão do setor de papelaria são alguns exemplos que compõem a construção de um novo nicho na experiência presencial destes espaços, que aguardam  a retomada após pandemia. 

“A experiência da livraria física não vai desaparecer. Ela só terá um público mais restrito. Aqui eu nem estou pensando em pandemia, mas eu acho que a experiência de ir à livraria em tempos normais é muito voltada para os amantes de livros. Eu não imagino que a gente abra mão disso”, analisa Laura. A revisora também aponta como apoiar livrarias menores e serviços independentes de distribuição e encomenda (como livreiros) também é uma forma de inovação sem deixar de oxigenar uma área mais tradicional do mercado literário. “Eu estou morando em Santos, desde o fim do ano passado, e tem uma livraria aqui que se chama Realejo Livros, que começou um trabalho bem interessante chamado ‘livreiro em domicílio’. Você entra em contato com ele, pede o livro e ele te entrega no mesmo dia se tiver como, sugere outros. É muito legal essa troca, ele tem muito bom gosto. Um pouco essa ideia de livreiro a moda antiga, mesmo”, conta. 

No meio virtual, os clubes de leitura por assinatura também representam mais uma opção na extensa lista de caminhos que conduzem ao hábito, atualmente. A TAG Livros, empresa  brasileira mais famosa do ramo, apresenta opções diversas, como combos de obras inéditas ou de curadorias especiais personalizadas. Já o clube “Intrínsecos” está diretamente associado às publicações exclusivas da editora Intrínseca. As assinaturas também podem ser ferramentas direcionadas para além do lazer,  promovendo autoconhecimento e cuidado mental, como é o caso do clube do livro da plataforma Eurekka, voltada para o desenvolvimento pessoal e psicológico. “O que eu acho bacana dessas assinaturas é a experiência criada na caixa, com o fato de vir brindes, cadernos, não é só o livro. É o contexto, a própria TAG [Livros] também tem um aplicativo que permite você falar e interagir com outros leitores. Fora isso, eu acho especialmente interessante você receber livros que talvez não conheceria de outra forma”, opina Laura.

Apesar das inúmeras formas de popularização do livro e do aumento de sua procura no último ano, a falta de acessibilidade e poder de compra ainda são peças-chave para entender como o potencial de leitura do brasileiro não é aproveitado ao máximo. De acordo com informações reveladas na 4ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, 30% de toda população do país nunca comprou um livro. No fim de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, imergiu em uma polêmica relacionada à intenção de aumentar tributos sobre livros, alegando que se trata de um “produto de elite”. 

Não dá para dizer que a literatura não é um privilégio. Uma forma de combater isso é a biblioteca. Dar acesso a cultura literária sem necessariamente passar por essa questão financeira é investir em mais bibliotecas, criar uma cultura de frequentar e ‘pegar livros’. E programas governamentais, que é uma coisa com a qual a gente vem sofrendo gravemente”, aponta Laura. “Quando a gente fala de literatura, é preciso expandir. Porque, se não, a gente vai deixar de conhecer uma parte do país. E também vamos deixar de estimular talentos, porque, para a pessoa ser escritora, ela precisa saber que aquilo também é para ela”, conclui Laura. 

Foto destaque: Reprodução Facebook /Powell's Book

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Com a quarentena, bares e restaurantes fechados, artista passou a dar aulas online e vender seus cursos em uma plataforma na internet
por
Mateus França e Renan Mello
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18/06/2021 - 12h

Danilo Martins Pereira, 35 anos, nascido em São Paulo, enxerga a música como uma arte que é inspirada por Deus, seja o ritmo que for, porque não é qualquer um que consegue fazer uma música, ou executá-la em qualquer instrumento. Além disso também é seu sustento há 16 anos. O desejo pela música veio quando experimentou o primeiro acorde no violão, quando o pai dele, que já tocava, passou esse acorde para ele. O pai tocava na igreja e Danilo desde os nove anos o acompanhava.

Antes da pandemia, ele tocava em igrejas, realizava shows e dava aulas presenciais para seus alunos. Aula de bateria, violão, entre outros instrumentos. Normalmente, tinha em torno de 35 alunos. Com o avanço da pandemia de Covid-19, o número de alunos reduziu para três ou quatro alunos, uma redução enorme. Depois iniciou-se o período em que todos as aulas passaram a ser online. Aula de escolas, faculdades, personal e as aulas de músicas. 

O baterista profissional entrou para esse mundo do EAD e passou a dar aulas online. Mas ainda não era o bastante. Então Danilo se reinventou e passou a vender seus cursos na Hotmart, plataforma de comercialização e distribuição de produtos digitais.. Essa renda o ajudou bastante a sustentar sua casa e seus instrumentos para continuar trabalhando com o que gosta, já que muitos músicos deixaram essa vida por não gerar dinheiro e passaram a fazer outras coisas.
 

“Muitos amigos que não davam aulas apenas tocavam, sofreram muito, e precisaram migrar para outras profissões, como motoristas de aplicativo e marketing digital”, diz Danilo, que acrescenta: o estúdio que tenho em casa me ajudou muito financeiramente pois conseguiu gravar até os alunos começarem a voltar às aulas. Em nenhum momento Danilo não ficou parado, esperando para ver no que iria dar essa pandemia. Já buscou novos meios de comunicação dentro desse mundo da música.

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A indústria do entretenimento realmente reforça estereótipos e preconceito sobre o paganismo ou usa de elementos reais para criar uma ficção que incomoda?
por
Rafaela Correa de Freitas, Maria Luiza de Oliveria, Giulia Palumbo
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16/06/2021 - 12h

No Brasil, não há dados separados para pessoas que se consideram pagãs, ficando na categoria “Outros” da pesquisa do Datafolha publicada em Janeiro de 2020, representando apenas 2% da população brasileira. Religiões espíritas e afro-brasileiras também ocupam a margem de 2% cada. Os números expressam não só poucas pessoas inseridas nessas religiões, mas a falta de procura por conhecimento de cada uma delas. Essa ignorância é facilmente transformada em opressão quando colocada nas mãos de grupos majoritários e que possuem grande influência nos meios de comunicação.
 

Entre as manifestações físicas dessa desinformação, vê-se de maneira clara na indústria do entretenimento a falta de conhecimento sobre essas religiões que geram estereótipos e, em outros casos, alimentam diversos tipos de intolerância se colocados em determinados contextos.
 

O filme “Invocação do Mal", distribuído pela Warner Bros. Pictures, é conhecido por criar ficções em cima de práticas como o satanismo e inserir símbolos, como a tábua Ouija, relacionada ao universo do Espiritismo, como coisas relacionadas ao que cristãos enxergam como o diabo. O casal, que existiu de verdade, era composto de dois agentes da igreja católica que estavam em contato direto com o Vaticano na época.

O casal do cinema, ed e lorraine warren estão juntos com uma expressão preocupada. Lorraine, na frente e Ed um pouco desfocada ao fundo
Imagem: Reprodução

 

Outro exemplo que ficou muito conhecido foi a série “O Mundo Sombrio de Sabrina” distribuída pela Netflix, que entrou em conflito com um templo satânico após usar a estátua da criatura simbólica “Baphomet” para representar o diabo cristão. O templo The Satanic Temple acusou a série de “fazer uma representação estereotipada do mal”
 

"Foram anos de cuidadosas decisões de design, investimento financeiro pessoal quando o financiamento coletivo não deu certo, e muitos anos elaborando o significado desse monumento. Tudo para aqueles que nos silenciam usarem a imagem com a intenção de dar uma boa risada", afirmam as lideranças do Templo através de um comunicado oficial.

 

Cedrec Nightingale, de 29 anos, sacerdote wiccaniano e produtor de conteúdo, tem uma visão ampla do assunto. “Eu acho que na bruxaria, a gente não pode ser 8 ou 80, a gente tem que seguir o caminho do meio, sabe? Então, todas as coisas precisam de equilíbrio. Eu cheguei na bruxaria graças ao Castelo Rá-Tim-Bum, onde eu tinha um garoto que tinha 360 mil anos, uma bruxa de cabelo em pé, então eu gostei e me apaixonei pela bruxaria por coisas como essa, extremamente fictícias! Eu amo Harry Potter que solta raio pela varinha. A bruxaria tem um chamado, e eu não falo um chamado porque alguém é especial, mas eu falo um ‘clique’ de que tem alguma coisa que é diferente, e você pode buscar isso! Eu acho que as artes despertam isso, a arte é como eu me comunico.”

 

Cedrec aparce usando um chapéu, com um atame na mão direita, na parte de trás, enquanto a esquerda aponta para a câmera de forma mística
Imagem: Acervo pessoal Cedrec Nightingale

Já o produtor e jornalista Alexandre Petillo, como profissional da comunicação, defende a liberdade criativa nas obras que citam crenças e rituais:  “Eu acho que na ficção, a imaginação pode ir longe, você pode usar esses elementos para criar uma história ficcional e obviamente você vai esbarrar em coisas onde você vai aumentar ou reforçar um estereótipo, eu acredito que é difícil dar um limite à ficção. O importante é você ter o bom senso de entender se aquilo ofende ou vai prejudicar alguém de certa forma.”
 

“Para criar essa ficção da maneira que você quiser, você precisa antes de tudo, entender do que você está falando”

 

Alexandre está em um ambiente bem iluminado entre duas taças de vinho tinto quase vazias, ambos os ante braços apoiados na mesa enquanto ele sorri para a câmera.
Imagem: Acervo pessoal Alexandre Petillo

 

A grande maioria dos filmes e séries modernas que retratam o paganismo, religiões de matrizes africanas ou espíritas, não têm o intuito de informar ou criticar. A técnica muito utilizada em produções de terror, “jump scare”, onde há uma mudança repentina de cena com o intuito de assustar quem assiste, se popularizou muito. Junto com o drama, essa técnica tomou conta das telas dessas produções que se tornaram propositalmente uma experiência plenamente assustadora, muitas vezes sem explorar o lado mais psicológico do terror. Os elementos dessas religiões se tornaram parte dessa realidade tenebrosa e a discussão sobre se isso influencia a intolerância em cima dessas práticas é extensa.

Cedrec conta que, para ele, isso é algo que depende da abordagem utilizada. “O limite é quando você ofende uma prática. Eu não me sinto ofendido quando alguma pessoa coloca uma bruxa junto com o diabo, eu não me sinto ofendido, mas se houver, por exemplo, documentários ou alguma coisa assim, dentro da cultura literária ou audiovisual que incentiva a opressão, a agressão, que incentive práticas desse tipo, aí sim…”

 

“Se pra você, meu Deus é o diabo, que assim seja”

 

Ele ainda comenta que o conhecimento e presença de especialistas nas produções é essencial para “dar menos margem para dores”: "Talvez, a solução para isso seja, nas grandes produções, a gente dar oportunidade para as bruxas falarem. E principalmente dar espaço para as bruxas na internet, na televisão, nos jornais, para além de tarot e leitura de signos. Vamos falar, vamos explicar aquilo que as pessoas não querem ouvir ou que a gente não teve oportunidade de explicar”
 

Alexandre concorda, “Se você for se debruçar sobre uma religião, principalmente uma religião que você não conhece, na qual você não está inserido, o maior erro é você filmar ou escrever isso, sem conhecer. Eu acho que quando a gente lida com religião, a gente tem que sempre lembrar que tem muita gente que acredita naquilo, tem muita gente que dedica a sua vida àquilo e todas as pessoas  merecem respeito, aquela crença merece ser retratada com respeito[…] Se você tem críticas a ela [religião], você pode criticá-la, você pode buscar pessoas que são contrárias à sua opinião e promover o debate”
 

As religiões cristãs não escapam das sátiras, ainda que em menor proporção. A produção natalina do grupo de humor Porta dos Fundos, “A Primeira Tentação de Cristo”, foi tema de debates no Supremo Tribunal Federal e depois de um abaixo-assinado com mais de 1,6 milhão de assinaturas que pediam a retirada do catálogo da Netflix. O pedido não foi atendido. A sede da produtora foi atacada com dois artefatos incendiários.

 

"Jesus é retratado como um homossexual pueril, Maria como uma adúltera desbocada e José como um idiota traído", disse a Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, responsável pelo processo.

 

Alexandre comentou o caso,

“A gente tem vivido um momento meio um pé cá e um pé lá entre a liberdade que a gente conquistou pra um momento onde precisaremos pensar na nossa família acima de tudo”

The Satanic Temple tentou processar a Netflix pelo uso indevido de sua estátua, mas não recebeu resposta.


Foto de capa: O Mundo Sombrio de Sabrina, Netflix

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O legado de MC Kevin para seus fãs, de ensinamentos à superações
por
Daniel Dias, Felipe Albanez, Leonardo Cavazana e Rafael Monteiro
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15/06/2021 - 12h

Nascido na zona norte da capital paulista, Kevin Nascimento Bueno ou MC Kevin, viveu a maior parte de sua vida em uma situação de extrema dificuldade. Ele foi criado pela sua mãe solteira, que além do cantor tinha que sustentar mais quatro filhos, trabalhando diariamente, geralmente em períodos dobrados, fazendo faxinas em quartos de hotel.

Em sua infância ele foi privado de muitas coisas, algumas vezes faltava comida em sua mesa, um tênis para calçar ou até mesmo um teto sobre sua cabeça e de seus familiares. Porém, após tanto sofrimento ele descobriu um novo talento, sua carreira no funk, e com isso saiu do mundo do crime, que segundo ele "é o que a quebrada proporciona para o menino que nasce na favela”.

Entretanto, com apenas 23 anos, no dia 16 de maio de 2021, o funkeiro veio a falecer, por conta de uma queda que ele teve do 5º andar do hotel em que estava hospedado. Por ser tão repentino, chocou o mundo do funk, que perdeu um grande talento. Para os fãs que o acompanhavam desde o começo de sua carreira, o momento foi ainda mais difícil. 

Graziela Vieira, dona do perfil "Brizei no Kevin" contou que conheceu o funkeiro através das redes sociais em 2015. "Conheci o Kevin através do Facebook. Um vídeo de Medley dele teve uma repercussão grande na época, e logo depois ele lançou "Prepara Novinha" que é um feat com o Mc Pedrinho"

Para Maria Gabriella Silva Barbosa, dona do fã clube, Encantos do Kevin, criar a página do Instagram foi uma forma de mostrar todo seu sentimento e agradecer por tudo que o funkeiro a ajudava a passar. "Eu estava em um momento muito difícil da minha vida, início de depressão e assim que escutei sua voz, vi seus vídeos e me encantei com seu jeito."

No caso de Graziela, o perfil foi o meio que encontrou de se conectar ainda mais com o MC. "Eu sinto que tive uma conexão com o Kevin logo de cara, o fã clube foi uma maneira que achei de estar perto dele mesmo de longe.  Demonstrando todo meu carinho e admiração", diz Graziela.

Esse jeito que todos citam, é algo que marcou todas as gerações de fãs do funkeiro, desde aqueles que o acompanham desde o começo, até os mais recentes. "As músicas dele retratavam a realidade das comunidades no Brasil, ele tentava alertar os jovens a não escolherem o caminho errado", Graziela sobre como Kevin ajudava todos a sua volta com seu jeito e suas músicas.

"Ele sempre dizia para viver como se não houvesse amanhã, nunca desistir dos sonhos e manter sempre o foco" concluiu a dona do perfil Brizei no Kevin. Ambas, sobre como seria a última mensagem que falariam se pudessem encontrar Kevin mais uma vez.  "Quando eu vi o Kevin pessoalmente, falei tudo que queria dizer para ele. Mas se eu tivesse uma última chance, diria: Obrigada por ser meu porto seguro nesses quase 10 anos. Estou muito orgulhosa e com bastante saudades" concluiu Graziela sobre o assunto.

Maria Gabriella iniciou dizendo sobre a última coisa que gostaria de ter dito para o Kevin. "Obrigado por fazer morada em meu coração, pelo amor que se renova a cada dia em mim. O seu abraço sempre vai ser o melhor do mundo. Nossa frase ainda continua a mesma , te cuido mesmo de longe. Eu te amo para sempre", conclui Gabriella.

Porém, ela aproveitou para deixar uma última mensagem para todos os fãs que estão se sentindo desamparados nesse momento tão complicado para todos eles. Segue o texto: "eu sei que essa dor vai estar sempre conosco, que nada que eu diga vai trazer ele de volta. Nesse momento nós temos que ser fortes, o Kevin não gostaria de ver ninguém triste. Lembrem-se dele como aquele cara maluquinho que estava sempre fazendo a gente rir das maneiras mais aleatórias possíveis, que abria live de madrugada do nada só para contar histórias do dia dele. A trajetória dele na terra foi encerrada, mas eu tenho certeza de que ele está muito feliz lá de cima".

No dia 21 de maio deste ano, foi lançado o álbum póstumo do cantor, chamado “Passado e Presente”, contando com a presença de vários artistas famosos principalmente do mundo do funk como MC Hariel, MC Ryan Sp entre outros, através de 10 faixas lançadas nas principais plataformas digitais. 

capa álbum mc kevin
Capa do novo álbum de Kevin "Passado e Presente (Google imagens)

 

A obra conta sobre o passado de Kevin, sua trajetória até chegar ao sucesso e críticas sobre o sistema, além disso tudo, o álbum foi o primeiro lançamento da gravadora independente recém-criada pelo MC, “Revolução Records’’. Até o fechamento desta reportagem, ainda não se tem uma resposta e resolução sobre o caso do funkeiro por parte da Polícia Civil.

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