
Neste sábado (12), ocorreu a primeira edição do festival de música GP WEEK, na cidade de São Paulo. Com shows de Fresno, The Band Camino, Hot Chip, Twenty One Pilots e The Killers.
Em referência ao ‘Grande Prêmio’ de Fórmula 1, o evento trouxe bandas que caminham entre sub estilos do rock e atraíram públicos de todas as idades. Com performance eletrizante de Twenty One Pilots e The Killers, a GP Week conquista espaço no grande calendário de festivais da cidade.
Fresno, a única banda brasileira a participar, abriu a sequências de shows às 14 horas e trouxe aos palcos o emo, juntando clássicos com novidades para conquistar a plateia que timidamente começava a preencher o Allianz Parque. Lucas Silveira, vocalista, finalizou a participação do grupo questionando o fato de ser apenas uma banda com canções em português, mas instigou os ouvintes a valorizarem o som nacional com uma versão de Eva, originalmente da Banda Eva, que foi cantada por todos ali presente.

As homenagens ao Brasil não acabaram por aí, pois The Band Camino não poupou palavras para descrever a emoção de, pela primeira vez, tocarem no Brasil - e na América Latina. Pela formação recente, a presença de um público significativo em outro território pareceu surpreender os musicistas, pois não deixavam de agradecer recorrentemente a presença de todos. Aproveitando a oportunidade, convidaram ao palco Mateus Asato, guitarrista brasileiro, famoso internacionalmente por ter tocado com Bruno Mars e Jessie J. Vestidos com a camisa do Palmeiras, a banda encerrou sua participação com uma energia contagiosa.
A banda The Hot Chip, criou um clima ainda mais animado para as bandas mais esperadas da noite, Twenty One Pilots e The Killers. O primeiro transformou o estádio às 19:00, o uníssono dos ouvintes era eletrizante e a entrega do duo incomparável. Com momentos surpreendentes, como a escalada da torre de apoio pelo Tyler Joseph e a bateria em cima da plateia por Josh Dun, a banda cria mais um show inesquecível em solo brasileiro. A interação com o público foi fundamental para que pudessem ser considerados os protagonistas da festa, sendo ovacionados ao finalizarem com “Heathens”.
O atestado da união de gerações ficou ainda mais claro com o show de The Killers, que encerraram a noite. O Allianz, que à tarde encontrava um público mais jovem, encarava durante o show espectadores maduros, mas com a vitalidade de Brandon Flowers, vocalista da banda. Com as letras na ponta da língua, os 50 mil presentes, entregaram todos os hits da banda de forma excepcional, demonstrando que a pergunta de Brandon “vocês esqueceram da gente?” era apenas ironia. Porém, um destes fãs foi convidado ao palco para tocar “For Reasons Unknown” e o fez perfeitamente em meio a aplausos e gritos. A GP Week conquista através das atrações e do público, o espaço necessário para se consagrar como mais um festival paulista no calendário nacional.

O sol da tarde entra pelos vidros do vagão moderno que corre para o centro de São Paulo, os rostos se viram, olham e voltam para as telas de brilho artificial, alguns continuam a observar. A cantoria que vem do lado tem história, tem poder, objetivo, e vem de dentro, do vagão e da alma. “a rotina do vagão é uma terapia realmente... e a música transformou a minha vida, não só por ela pagar as minhas contas hoje, mas por tudo que ela já fez, as coisas que já vivi foi através da música, através do vagão, e transformar o dia das pessoas é uma coisa que não tem preço”.
Em dupla, me contam suas histórias. Guitta tem 34 anos, carioca, vivia em Volta Redonda e veio para São Paulo em 2009. Após ter perdido a família, explica, em baixo tom e meio rouco, que morou na rua por muito tempo, “conheci muitas “coisas boas” né, as drogas, a cola o crack”. Acolhido por uma ONG, que lhe deu a oportunidade de aprender a tocar instrumentos, saiu das ruas para trabalhar com a música. É aquele que não põe valor em transformar o dia dos outros e se dispõe a ser transformado.
“São várias situações malucas que você pensa: só no vagão para acontecer isso, a pessoa se levantar e falar com você “posso te dar um abraço? Você cantou uma música que lembra do meu filho e eu não tenho mais meu filho hoje aqui” e se derramar em lágrimas, ou “perdi meu pai, precisava ouvir alguém”. São situações que a música coloca a gente, não tem preço, não tem valor, não tem moeda que pague um negócio desses”.
Do lado esquerdo, atrás do corrimão das escadas que encostei no meio da estação, ouço o Dagmar, de 26 anos, filho de pastor, aprendeu a tocar no ministério e vive no mundo da música desde os 13 anos. Enxerga o metrô como uma escola, aquela que melhora a qualidade do som e mostra a variabilidade do público, do povo. O objetivo de Dag é ser a voz da sociedade brasileira.
“A arte é uma forma de expressão, e tem muita gente que se cala diante de coisas que não são para ficar quieto, então a arte ajuda a gente a falar, a arte é a voz do povo. Botar a boca no trombone, você se expressar dentro de uma letra, de uma canção, é maravilhoso”. Quem não gosta, quem reclama e não ouve não foge ao seu foco, o músico está nesse mundo para mudar opiniões.
No vagão, a música é o instrumento. Dois homens e dois violões, carregam o sonho de gravar CDs e eternizarem suas vozes e mensagens, salvam vidas. A dupla canta MPB, samba, rap, forró e o que a Música Popular Brasileira permitir de encaixe. Ambos lembram aos que se sentam nos bancos azuis o legado de protesto, paz, amor e vida que a música brasileira carrega. Cantando todos os dias pelas estações da linha vermelha, os itinerantes já viram e viveram todo tipo de histórias e criticam fortemente a vida forçada dos seres da capital.
“Hoje os valores infelizmente estão sendo invertidos, o sistema obriga a gente a viver uma vida monótona, uma vida sem muitos prazeres ou até objetivos nossos, pessoais, só de pagar as contas e viver um dia de cada vez assim... o stress, a depressão é o que rola, é a doença do século, e a gente está para combater isso, através da arte, da música e da cultura”, explica o carioca.
Dag conta que já se deparou com várias pessoas no metrô que estavam prestes a se jogar na linha, “cê olha, canta, faz um som e tenta uma forma de comunicação, isso muda o dia das pessoas”. E esse é o cenário brasileiro e dos cantores que fazem para além de música. A pandemia rendeu 25% de aumento nos casos de depressão e ansiedade no mundo em seu primeiro ano, segundo a OMS, e atingiu o cotidiano de todos por aqui. A tensão é aliviada com a arte, tanto para o artista quanto para o público.
Vivendo no centro da desigualdade da cidade, os artistas criam uma consciência social que seria impossível sem a vivência das ruas e dos trajetos. O som é influenciado pelo cotidiano, pela vida na cidade, e cada detalhe é reparado. A mulher que anda no escuro sem segurança, os hospitais sem leitos, as mortes de frio na rua, são os sintomas reconhecidos da negligência do Estado e da crise do atual governo. O destino do balanço das cordas dos violões não é só entretenimento, como aquele que passa na TV, o agro passa longe de ser pop por aqui, a ideia é lembrar às cabeças baixas que “está tendo uma guerra, é só olhar para o lado e você vai ver”.
A desigualdade é a realidade e as palavras ritmadas são o melhor jeito de gritar. Guitta deixa claro quando me diz que esse trabalho “é relatar nossa vida, você vai no interior, vê o sertanejo contando o que ele vive ali, vai na periferia e vê o rap, é a realidade dele, a nossa realidade é um tapa na cara, a desigualdade social, essa coisa de classe, a pessoa não conseguir comer direito uma vez ao dia, e por quê? O que a gente fez para merecer todo esse destrato. A gente precisa falar disso, a fome e a miséria ainda existem no Brasil, o país que joga toneladas de comida fora”.
Conduzido pela Rede PENSSAN e divulgado no início de junho, o Inquérito Nacional de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil aponta que 33,1 milhões de brasileiros vivem em situação de fome no país. Eram 19,1 milhões no fim de 2020.
São duas vidas, dois narizes que respiram Brasil, no estilo cantado e na realidade individual. Os seguranças estão ali para lembrá-los todos os dias que os seus sons estão fora da legalidade, segundo o site do metrô, tem que se inscrever para cantar por lá, e quando a empresa decidir, mas eles lembram aos passageiros que eles estão ali para “ficar bem à vontade e na verdade são assim, descobridores dos sete mares”.
Depois de perguntar sobre como os passageiros reagem, eu, a entrevistadora , virei o foco. “como você reage quando alguém entra cantando no vagão?”. Minha própria resposta de passageira foi de que ajudo quando posso, mas sempre presto atenção. Os artistas me explicam que lidam com todo tipo de gente, os que se incomodam, os que gostam… e aproveitam para me perguntar sobre a vida de jornalista. “e no seu trabalho? Como as pessoas regem?” Os itinerantes não passeiam apenas pelos vagões, mas pela vida real daqueles que passam por eles. Expliquei os desafios de ser repórter e entrevistar pessoas em diferentes condições, nunca se sabe o que vai chegar até você.
Conversamos um pouco sobre os lugares que conhecemos pelo Brasil antes de me convidarem para ouvi-los tocar no trajeto de uma linha que vai conectando nossas vidas. Para minha surpresa, os dois já caminharam por cidades da Bahia, o Estado de onde vim.
E ao som de “Descobridor dos Sete Mares” do Tim Maia, na voz de Guitta e Dagmar, viajo até a nossa última parada, sobre as linhas de ferro do metrô, que se encaixam nos versos Populares Brasileiros das próximas estações e nas linhas de outras vidas.
Quando pensamos no bairro da Liberdade a primeira coisa que vem no nosso imaginário são os “suzuranto”, as tradicionais lanternas japonesas que decoram as ruas principais, ou a grande predominância da cor vermelha, “akai” que culturalmente está associada a proteção. Ao caminhar encontramos vários símbolos que traduzem uma cultura, apenas uma.
O que poucas pessoas sabem é que o primeiro bairro a ser habitado por pessoas negras na cidade de São Paulo foi o Bairro da Liberdade, nos séculos XVIII e XIX a região era conhecida como a periferia da capital. Parte do coletivo UNAMCA (União dos Amigos da Capela dos Aflitos), Eliz Alves faz uma reflexão sobre a localização do bairro. “A Liberdade tinha todo o processo de punição dentro dela, o Pelourinho, o Largo da Forca, e o Largo da Pólvora. Quem quer morar do lado da cadeia? Quem quer morar onde pode ir pros ares a qualquer momento? Então a Liberdade era esse lugar. Quem veio morar aqui? Os pobres, os pretos”, comenta.
A história que vem se propagando pela oralidade está ligada à capela dos aflitos ao lado da história de Chaguinhas, traduzindo o verdadeiro significado do nome atribuído para o bairro. No ano de 1821 insurgiu a Revolta Nativista. Os soldados estavam 5 anos sem receber seu soldo, e, revoltados vão atrás de justiça. Sendo um dos cabeças da rebelião Chaguinhas é julgado e condenado à morte em praça pública.
“Chaguinhas é enforcado três vezes, na terceira tentativa a corda se rompe, ele vai ao chão e se joga a bandeira da misericórdia sobre ele” relata Eliz Alves.“As pessoas que se aglomeraram para assistir gritavam por - Liberdade! Liberdade! Liberdade! Mas o império como estava punindo ele exemplarmente, nega. E acaba sendo executado” complementa.
Hoje no local onde Francisco Chagas foi executado ergueu-se uma cruz que anos depois deu origem a Igreja da Santa Cruz dos Enforcados. A Capela dos Aflitos se transformou em um lugar de homenagem e fé a Chaguinhas. “As pessoas para escrever pedidos ou agradecimentos, colocar na porta onde supostamente foi a cela que ele ficou em pernoite, e bater na porta 3 vezes”.
Apesar desses dois lugares serem grandes símbolos da história do povo preto no bairro da liberdade, infelizmente se limitam a eles. Sendo sufocados pouco a pouco pela cultura asiática, esses símbolos tentam sobreviver para manter parte da história viva e lembrada. “Depois que você toma conhecimento de tudo que a Liberdade viveu de 1800 até agora, você vê a importância desse pedaço de história, é um marco para a população, dos povos originários e para todos nós paulistas”.
“É uma história que precisa ser apagada? Esquecida? Não, ela tem que ser valorizada, é a história do nosso povo, da nossa gente humilde. Por isso que a gente tem um amor tão grande nesse patrimônio. Por ser uma capela de cemitério, todo mundo se torna igual, né?” aclama Elis.
A Avenida Paulista é um dos espaços mais importantes de São Paulo por ser palco de grandes eventos e manifestações políticas e culturais. Constantemente as comunidades e coalizões políticas se reúnem no local e levantam suas vozes em busca daquilo que reivindicam. No último domingo (19/06/2022) aconteceu a Parada do Orgulho LGBT+ 2022, que estava suspensa de forma presencial desde 2020 por conta da pandemia da Covid-19. Essa foi a 26 edição do evento e bateu recorde de público, contando com 4 milhões de pessoas e tornando-se a maior Parada LGBT+ do mundo. A Avenida Paulista ficou completamente ocupada pelos participantes.
Para conhecer mais sobre a Parada LGBT+ é sobre os espaços culturais da Avenida Paulista, clique aqui para assistir o vídeo reportagem.
Em março de 1962, a cidade de São Paulo declarou Milão como sua cidade-gêmea (ou cidade-irmã). Foi a primeira de uma lista que, hoje, já acumula 32 cidades. Na época, o prefeito da capital lombarda, Gino Cassini, inaugurou o Largo São Paulo; e, durante visita à capital paulista em outubro do mesmo ano, presenciou a inauguração da Praça Cidade de Milão, ao lado do prefeito Francisco Prestes Maia.

Este ano, São Paulo comemora 60 anos de irmanamento com Milão, que já comemorou o marco no ano passado. Apesar de serem “gêmeas”, a data de declaração de ambas não coincide, já que a cidade meneghina anunciou a geminação com a “Terra da Garoa” em 1961. Isso se explica pelos processos políticos e burocráticos que, naquele período, eram mais lentos e acabaram atrasando o anúncio da capital paulista.
Esse processo de geminação nada mais é do que um acordo de cooperação bilateral, que ocorre quando duas cidades decidem estreitar laços políticos, culturais e econômicos. Ainda que não gere obrigatoriedades, o irmanamento contribui com a construção de amizade entre as cidades, sendo fundamental nas relações diplomáticas. “Os processos de geminação podem dar a impulsão para que as cidades estabeleçam projetos e programas de cooperação mais aprofundados, em diferentes campos, o que pode contribuir para a resolução de problemas comuns entre elas”, explica Lucas Bispo dos Santos, mestre em Relações Internacionais pela Unesp e consultor político.
Para que esse acordo aconteça, é necessária a manifestação de interesse de uma das cidades que, ao entrarem em contato, estabelecem um diálogo entre as autoridades políticas, formatam o processo de geminação e o concluem com a assinatura. “É fundamental também que o acordo de irmanamento seja recíproco”, alerta o consultor. “Não basta que uma das duas cidades se declare irmã de outra, é importante que haja o entendimento entre as duas de que o acordo será frutífero para elas”.
Nesse quesito, é comum que cidades que compartilham semelhanças, principalmente no que tange aos aspectos sociais e econômicos, busquem o acordo de geminação. Até mesmo laços culturais ou históricos, tendo como exemplo os fluxos imigratórios, podem ser fatores que contribuam para esse processo. “Os interesses podem partir tanto da esfera federal, como municipal. Porém, é mais comum que parta diretamente da esfera municipal, no caso do Brasil”, aponta o especialista.
Além de sua relevância no cenário geopolítico, o princípio de irmanamento de cidades também foi importante durante o período “mais agudo” da pandemia da Covid-19. “Durante aquele momento, diversas cidades-irmãs de São Paulo, como Seul, capital da Coreia do Sul, enviaram materiais de proteção individual, como máscaras, que foram distribuídos para as equipes de saúde do município”, relata o internacionalista.
Apesar de tudo isso, o conceito de geminação entre cidades não é muito difundido, inclusive dentro das Relações Internacionais. Para Kimberly Digolin, professora de Relações Internacionais na Universidade Paulista (UNIP) e pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), a abordagem pouco expressiva desse tema decorre de uma questão histórica, que vem do medo de novas guerras. “Durante muito tempo, as análises sobre relações internacionais centraram-se em torno dos comportamentos e interesses dos Estados, uma vez que eles eram entendidos como os atores de maior relevância no engajamento de novas guerras”, conta. “Foi apenas com o fim da Guerra Fria que a área de Relações Internacionais passou a oferecer maior espaço para análises que extrapolassem a temática da guerra, assim como passou a oferecer mais atenção aos demais atores para além dos Estados – como ONG’s, governos municipais e secretarias estaduais”.
Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, a metrópole reconhece, até o momento, 36 cidades-irmãs. O acordo mais recente foi firmado com Belmonte, de Portugal, em 2020. A lista inclui seis capitais sul-americanas, sendo Montevidéu (Uruguai) e Lima (Peru) as mais recentes destas; Luanda (Angola), da África; Havana (Cuba), do Caribe; nove cidades asiáticas, dentre elas, cinco capitais; sete cidades portuguesas; entre outras.
Em razão de sua importância política e econômica no Brasil e no mundo, sendo destino comum de fluxos econômicos, culturais e populacionais, São Paulo é reconhecida como uma cidade global. Lucas dos Santos, também ex-assessor da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, ainda reforça que a cidade deve continuar se posicionando em temas importantes, como o desenvolvimento urbano sustentável, a preservação da democracia e o incentivo às manifestações culturais. “É a partir do aprofundamento de diálogo com outras cidades globais que São Paulo pode ter conhecimento de políticas públicas que podem ser aplicadas aqui, levando em consideração a nossa realidade”, aponta. “Da mesma maneira, também possui políticas públicas que podem ser apresentadas, e é extremamente válido compartilharmos elas com o mundo”.