O Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo deste ano teve formato híbrido após dois anos remoto. O evento promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) desde 2005, começou nesta quarta(03) e acabou hoje(07).
Os primeiros dias de conferência foram gratuitos e online, as palestras transmitidas ficarão disponíveis até o dia 07 de setembro. Enquanto a programação dos demais dias aconteceu no campus da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), localizado em Higienópolis, São Paulo, com entrada mediante compra de ingresso e sem qualquer transmissão virtual.
Segundo Cristina Zahar, diretora-executiva da Abraji, o fato de parte do evento ter sido feito via web e gratuitamente não afetou a qualidade do conteúdo, tampouco recebeu menos dedicação da diretoria. Na abertura do Congresso, a presidente da Associação, Natalia Mazotte, afirmou que vê nesse modelo uma “oportunidade imensa de incluir mais jornalistas e estudantes de todo Brasil”. Mazotte acrescentou que o seminário teria 100 atividades e mais de 250 palestrantes e mediadores.
O estudante de jornalismo da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Jonathan Monteiro fez questão de participar do congresso e por isso veio do Rio Janeiro à São Paulo numa viagem de ônibus que durou seis horas. Quando questionado se a viagem valeu a pena, Jonathan hesitou ao dizer que sim, pois em determinada palestra na sexta-feira, alegou ser o único preto presente. “Agora no segundo dia [sábado, 06], a gente já vê mais pessoas pretas e pardas”, completou o universitário. As pautas da comunidade preta, inclusive, foram temas de painéis do evento.
As mesas proporcionadas dialogavam diretamente com as necessidades e os acontecimentos atuais. Com foco no panorama eleitoral, a violência contra jornalistas, a cobertura climática, ameaças à democracia, o cenário político de países da América Latina, a Guerra na Ucrânia, combate à desinformação e checagem de fatos.
Também aconteceram atividades que debatiam sobre o modo midiático de retratar pessoas de grupos sub-representados, como indígenas, pretos, mulheres e a comunidade LGBTQIAP+. Câe Vasconcellos, jornalista e autor do livro “Transresistência: pessoas trans no mercado de trabalho”, esteve presente no painel “A cobertura da pauta trans no Brasil” e comentou do seu desejo de ver mais histórias positivas de pessoas trans sendo compartilhadas e ganhando espaço no jornalismo.
Ademais, ao longo desses cinco dias foi lembrada a trajetória de Tim Lopes, repórter assassinado enquanto fazia uma reportagem sobre o abuso de poder no tráfico de drogas no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. A criação da Abraji foi justamente uma resposta ao que aconteceu com Tim, por isso, a celebração dos vinte anos da instituição o homenageou, além de convidar sua família e colegas de profissão para compor os debates sobre os temas de seus trabalhos.
Em entrevista exclusiva, Fernando Molica, um dos fundadores da Abraji, declarou que estava achando o evento fantástico. ”A gente nunca imaginou que a ABRAJI teria essa dimensão”, Molica ainda brincou dizendo que “dá até vontade sair daqui e ser jornalista”.
Infelizmente, Tim Lopes não é o único repórter a ser assassinado por conta da profissão, muito pelo contrário, vários convidados afirmaram que recebem ou já receberam ameaças, provando que esse cenário de retaliação à imprensa está longe de mudar. A última atração do sábado (06) foi “Dom Phillips e Bruno Pereira: como chegamos até aqui"; em seu início, houve a apresentação de diversos nomes de jornalistas que faleceram nos últimos doze meses, sendo que muitos têm como causa da morte a mesma que Dom, Bruno e Tim: o desejo de mostrar aquilo que querem esconder.
Por ter uma magnitude internacional, diversos convidados eram de outros países como é o caso de Mattia Fossati, jornalista italiano e autor do livro “Narcos Carioca: Una Storia di Mafie e Favelas”. Fossati se sentiu honrado pelo convite e confessou que até ficou nervoso para sua palestra, entretanto reforçou a importância da ocasião. “Porque estamos passando por um ataque muito forte contra a liberdade de imprensa, é fundamental estar aqui”, explicou.
Fossati participou de uma mesa presencial, bem como o salvadorenho Carlos Dada, fundador e diretor do site de notícias El Faro, Jennifer Ortiz, fundadora do Nicaragua Investiga, Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times e Haley Willis, jornalista do New York Times.
Já a versão online contou com a participação dos noruegueses Natalie Remøe Hansen, Erlend Ofte Arntsen, Kristoffer Kumar, autores da reportagem que deu origem ao documentário O Golpista do Tinder (Netflix); a peruana Paola Ugaz e as mexicanas Maria Teresa Montaño Delgado e Gabriela Martinez participaram da mesa “Ameaças a mulheres jornalistas na América Latina”; o francês Laurent Richard, diretor do Projeto Pegasus, da Forbidden Stories, que revelou a espionagem de ativistas e jornalistas por governos; as ucranianas Katerina Sergatskova e Sevgil Musayeva, que estão cobrindo a guerra. E Julia Angwin, estadunidense fundadora da The Markup, criada para investigar o uso dos algoritmos na sociedade; o engenheiro Christopher Bouzy, do Bot Sentinel, focado no combate à desinformação.

Tanto nos chats das transmissões quanto nos espaços da FAAP, foi possível observar a forte presença de estudantes de jornalismo. Isso é fundamental, segundo o Coordenador do Núcleo Investigativo da CNN Brasil, José Brito, pois o congresso proporciona o conhecimento da existência de “técnicas e ferramentas que podem ser implantadas no dia a dia [do jornalismo investigativo] vai ajudar” a formar esses futuros profissionais.
Com exclusividade aos repórteres Camilo Mota e Maria Ferreira dos Santos, a jornalista do UOL Juliana Dal Piva aconselhou aos profissionais em pré-serviço para não terem pressa de trabalhar. “Aproveitem muito esse momento para estudar porque vai chegar a hora montar a mão na massa”, esclareceu Dal Piva.
O conselho de Juliana aos estudantes de jornalismo junta-se com as dicas dadas pela Adriana Farias em sua conta no instagram @jornalismoinvestigativo9. Ambas as profissionais estavam como palestrantes na conferência, Farias disse que foi uma honra ter recebido o convite para participar, pois para ela esse é o congresso mais importante da área e, consequentemente, o mais esperado.
Depois de uma lacuna de quatro anos devido a pandemia de Covid-19, a Bienal do Livro finalmente ganhou uma nova edição. A feira literária que aconteceu entre os dias 02 e 10 de julho tinha como previsão receber 500 mil visitantes nos 65 mil m² de ocupação do Expo Center Norte.
Além de ter contado com 185 expositores, o evento também teve uma programação cultural de cerca de 1300 horas, distribuídas por mais de 800 atrações. E o que mais os leitores queriam eram os encontros diretos com os autores para conseguir o sonhado autógrafo. A organização preferiu distribuir senhas através de seu site que se esgotaram rapidamente. Mesmo assim, formaram-se imensas filas nas mesas dos escritores, com direito a aglomeração de pessoas tanto dentro quanto fora da Bienal.
O evento dividiu as atrações em oito espaços, trazendo programações multiculturais entrelaçadas com a literatura. A Arena Cultural, por exemplo, foi pensada para gerar contato do visitante com autores nacionais e internacionais. Entre os convidados estavam nomes como Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, a jornalista Miriam Leitão, a empresária Nathalia Arcuri e o escritor Maurício de Souza.

Já o Cozinhando com Palavras apresentou o universo gastronômico com chefs, jornalistas e autores ligados ao ramo. O local permitiu aos visitantes interações por meio de palestras, mesas de autógrafos e, ainda, degustações de pratos preparados durante os bate-papos.
O Espaço Infantil, por sua vez, contou com programação para toda a família, com narrações de histórias, oficinas temáticas e atividades de curta duração. O ambiente foi marcado por debates relacionados à inclusão com foco no público infantil, como na mesa "Apresentação de Personagens Inclusivos - Dorinha e Luca'', personagens com deficiência criados por Maurício de Souza, e a “Roda de Leitura em Braille”.
Com curadoria da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sesc São Paulo, o Salão de Ideias foi planejado para promover discussões sobre questões de grande relevância social e cultural. Feminismo, política, empreendedorismo e literatura periférica foram alguns dos assuntos abordados nas palestras.

O Sesc contou com três espaços distintos no evento,além da curadoria do Salão de Ideias, dispôs do Auditório das Edições Sesc no qual apresentou discussões sobre temas como os
100 anos da Arte Moderna, racismo, games e sexualidade, e contou com nomes como Rita Von Hunty, Edney Silvestre e Eliete Negreiros. Já os Bibliosescs - Praça da História e Praça da Palavra- foram palcos para atividades como saraus, contação de histórias e apresentações musicais.
Cordel e Repente trouxe conteúdos relacionados ao universo da produção de cordéis e da xilogravura. O espaço teve intenso cronograma de apresentações musicais, declamação de cordéis, shows e outras atividades relativas ao tema.

O Papo de Mercado, com curadoria a cargo de Leonardo Neto, foi palco para bate-papos referentes ao âmbito editorial entrelaçados com tecnologia, sustentabilidade e adaptações do universo literário para o audiovisual. Mayra Lucas, Juliano Griebeler e Bruna Vieira foram personalidades que passaram pelo espaço.

O Pavilhão do convidado de honra deste ano, Portugal, foi cenário para interseções entre a cultura portuguesa e brasileira. Houve conversas sobre as particularidades de ambas as literaturas, espaço para bate-papos entre editores brasileiros e portugueses e diálogos sobre os 200 anos de Independência.

Apesar de tanta programação, há aqueles que vão, principalmente, para comprar livros como a coordenadora escolar Cláudia Rodrigues Figueredo, a antiga professora de literatura frequenta a Bienal há mais de dez anos e esse ano veio acompanhada da filha Giovanna (19) como maneira de incentivar a leitura desta. “Para mim é realmente emocionante estar de volta à Bienal”, declarou a docente referindo-se ao período de quatro anos sem o evento.
Há também aqueles que vão com o intuito de vender suas próprias obras, como a escritora Déa Henrique. A autora do livro infantil “Um Inesperado Kamba” explicou que seu livro surgiu de uma necessidade pessoal ao observar que seus filhos não conheciam histórias africanas. “Eu percebi a importância disso [literatura africana] para as crianças, principalmente para aquelas que têm afrodescendência. Porque elas não têm contato, então trazer esse universo da África para elas aqui no Brasil. Para mim e para as minhas crianças foi importante, então acredito que para outras também seja”, disse Déa.

A visão de Déa Henrique sobre a literatura como necessidade é compartilhada também por Vanda Franco Pedrosa. Para ela, é possível “enxergar nos livros o resultado do aprendizado humano, os livros nos mostram isso. Você abre um livro e se enxerga, enxerga o outro e o mundo em que ele está vivendo”. Ambas estavam emocionadas com a ocasião, Déa comentou que sua mãe mesmo de cadeira de rodas estava presente só para prestigiá-la, já Vanda acredita que “da onde eu venho uma professora chegar à Bienal é um evento, é um fato histórico”.
Juntam-se a esse time de escritoras da Bienal, Isabella Falce e Letícia Bartulihe. Falce, autora de “Intoxicada Por Um Relacionamento Abusivo”, livro com teor autobiográfico, disse que viu na escrita um processo terapêutico mesmo que “complicado” devido ao assunto retratado. Hoje, Isabella se diz muito orgulhosa por ter uma publicação sua. “Porque eu tenho ajudado tanta gente, tantas mulheres me procuram querendo saber se há vida após relacionamento abusivo[...] a gente precisa tirar uma força para entender a grandiosidade de uma mulher”. Já Bartulihe desenvolveu a escrita como hobby, com quinze anos ela divulgou digitalmente seu primeiro livro “sem pretensão nenhuma”, mas ao ver o número de leituras alcançadas resolveu levar seu trabalho ao papel impresso.


Não deixando de fora o contexto político desse ano e sua importância para a história brasileira, a Bienal proporcionou um universo multicultural, convidando grandes intelectuais para debater diversos temas.
Como exemplificação para tal, há o momento em que a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz discorreu sobre o imaginário europeu na construção da história do país, durante a mesa “Falamos de Quem Quando Falamos do Outro?”. Ao tocar nesse passado, Lilia ressaltou a necessidade de se fazer vigilância cidadã perante aos ataques à democracia feito no âmbito político, destacando ser imprescindível fazer desse ano um ano de oportunidade e mudança para o Brasil.

Em outra mesa sobre “Educação Política”, a advogada Gabriela Prioli defendeu a importância de fazer uma discussão política que considere a diversidade e que crie um diálogo inclusivo na sociedade. Gabriela salientou também a importância do público na construção do diálogo, reafirmando que a discussão é formada principalmente pelas pessoas que estão engajadas e que a partir disso “vão votar de maneira diferente [...] vão tornar a política diferente para que ela seja mais diversa e consequentemente melhor.”

Em consonância com essas falas, a jornalista Miriam Leitão, que foi ameaçada durante o governo Bolsonaro, enfatizou na mesa “Ser Jornalista No Brasil” como o poder público tem utilizado da desinformação nas redes para construir suas narrativas. A profissional de imprensa nomeou a estratégia como a “mentira que é divulgada como método”, tendo assim uma finalidade. Em seguida, Miriam acentuou a importância de se “olhar os pequenos detalhes nos grandes acontecimentos”, referindo-se às ameaças à democracia colocadas na esfera pública por meio das falas do presidente, sendo contundente ao dizer que “o maior risco é não se perceber o tamanho do risco”.
Além disso, o evento também trouxe pontos acerca do isolamento causado pela pandemia de covid-19. Na mesa " A Morte Faz Parte da Vida", a doutora Ana Cláudia Quintana, em conjunto com mais dois autores Ana Michelle e Renato Noguera discutiram sobre a importância dos cuidados paliativos, o preparo para morte e a forma de se enxergar o luto em diferentes culturas.
Além de autora, Ana Michelle também é paciente em tratamento, ela luta contra o câncer há mais de 10 anos, durante a mesa ela disse que viu as pessoas perderem o controle por causa do isolamento, uma sensação que já lhe era familiar antes da pandemia. Michele disse esperar que a pandemia tenha sido um despertar para as pessoas entenderem que o único tempo é o agora.
A próxima Bienal do Livro em São Paulo está prevista para 2024, a feira mais aguardada pelos leitores, recria o Brasil cultural que tanto almejamos ter.
O pré-candidato ao governo do Estado Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, participou de uma roda viva realizada pelas entidades estudantis da universidade. Após a fala de estudantes e personalidades, que estiveram presentes e abriram as perguntas, o professor, que foi Ministro da educação durante os governos Lula e Dilma, respondeu a perguntas do corpo estudantil, responsável pela realização do evento.
“Eu gostaria de começar falando da força que vocês precisam saber que têm. Talvez alguns de vocês saibam, mas todos precisam saber a força que têm nessa conjuntura política que o Brasil está vivendo”, declarou Haddad. Logo depois, o ex-prefeito da capital paulista enfatizou que, desde 2018, dizia às pessoas que o abordavam após a vitória de Bolsonaro que não fugiria da responsabilidade democrática e luta por direitos.
“Nós vamos estar juntos aqui cercando fileiras pela Liberdade, pela democracia, pela soberania e por pior que seja o cenário, a gente sabia que o desastre ia ser enorme, porque ninguém coloca o Bolsonaro na presidência da República sem saber no que vai dar”. Para Haddad, Bolsonaro já se mostrava como é, “uma pessoa grotesca” e que “a cada dia dá péssimos exemplos para o país”, pontuou.
Ao longo da sua fala, o professor universitário chamou a atenção para a “confusão” que Bolsonaro está criando sobre das eleições: “por maior que seja confusão que ele queira criar, ele vai tentar criar confusão, ele já está tentando criar confusão. Isso vai acontecer, em parte, por causa do que aconteceu na universidade brasileira, não é por outra razão. Em parte, é pela mobilização nos campi universitários desse país.”
O ex-Ministro enfatizou que, enquanto a população brasileira era de cerca de 70 milhões de habitantes em 1964, hoje ela é três vezes maior, acima de 210 milhões. “Só que naquele ano nós éramos 200 mil universitários e hoje nós somos 40 vezes mais”. Esses números, para ele, trazem a dimensão do poder que essa parte da sociedade tem. E a maneira de derrotar Bolsonaro é nas urnas. “Vocês vão vencer e vocês são a geração que vai radicalizar a democracia no país.”
O evento foi realizado pela Associação de Pós-Graduandos (APG PUC/SP), o Centro Acadêmico Benevides Paixão (Jornalismo), o Coletivo Contestação e o Coletivo Reconvexo (Direito), a União Estadual dos Estudantes (UEE) e o DZ PT Perdizes, na Quadra do campus Monte Alegre na terça-feira (17). A Profa. Maria Amália, reitora da universidade, esteve presente e saudou o professor após as demais entidades:
“Essa universidade foi invadida em 1977, porque defendia naquele momento a ciência, a sociedade brasileira, o progresso da ciência, e permitiu que aqui acontecesse um encontro estudantil. A Ditadura invadiu a universidade, levou estudantes e professores presos. Levou material e a universidade resistiu. Ela tinha uma reitora mulher. Dona Nadir. Isto fortaleceu a universidade. Então, quando a gente diz a PUC tem uma história, a PUC tem uma história. De defesa do Brasil, de defesa da universidade como lugar de diálogo, de discussão, de desavença, mas principalmente de reflexão, de formação de produção de conhecimento”.
O evento ainda contou com a participação de algumas personalidades, estudantes, representantes de entidades estudantis e indígenas e políticos e pré-candidatos de partidos de centro-esquerda.
O Ministro e professor da Universidade de São Paulo concebeu uma entrevista exclusiva para a Agemt antes do início do evento, durante conversa com as entidades estudantis promotoras e a reitoria da universidade.
Ministro, o senhor tem relação próxima com a PUC-SP. O senhor deu um depoimento no Tribunal do Genocídio, que foi realizado no Tuca no ano passado, também deu uma aula magna sobre educação antes do início do 2º semestre de letivo de 2021 e é conselheiro da universidade. O que a PUC-SP representa para o senhor e para a educação do país?
Acho que não é nem na minha vida, mas na vida de São Paulo. A PUC-SP é uma das instituições mais respeitáveis da cidade, que tem muitas instituições, mas os quadros que a PUC forma e formou, para São Paulo e para o Brasil, todo mundo tem como referência. O corpo docente, o corpo discente, as entidades, todas elas, estudantis ou não, os vários reitores, a reitora atual – Profa. Maria Amália - que passaram por aqui. Quer dizer, tem um simbolismo que transcende as fronteiras do Estado. As PUCs em geral, mas a PUC-SP em particular. Então, como toda instituição que presta um serviço inestimável, ela merece o respeito de todo mundo e ela tem o respeito do mundo. E é bom que seja assim. Essas instituições que formam os quadros dirigentes do país, que querem transformar para melhor o Brasil, tenham o respeito e o selo da instituição que as formaram.
O senhor também já deu algumas pistas sobre a mobilização dos estudantes. Esse evento foi exclusivamente organizado pelos movimentos estudantis, majoritariamente, de diversos cursos e níveis. Como o senhor analisa atuação do movimento estudantil no âmbito acadêmico e no atual cenário brasileiro?
Eu venho dizendo que a população Universitária Brasileira triplicou de tamanho. Só para você ter uma ideia, no golpe de 1964, uma população de cerca de 70 milhões de brasileiros só tinha 200 mil universitários. A população brasileira desde então triplicou enquanto a população universitária se multiplicou por 40. Ou seja, vocês têm que ter a exata medida do que vocês representam no país hoje. O peso específico da população universitária é muito grande e eu acho que é assentar na ordem do dia que essa massa crítica nova e diversa e representativa da nacionalidade tome consciência da sua força, porque eu tenho certeza do que eu estou falando. O Brasil depende como nunca, hoje, desse exército de inteligência, de energia, que é fruto de muita luta social e de governos progressistas que abriram a porta das universidades para o filho do trabalhador, para a população negra. É uma realidade inteiramente nova e nós temos que usar essa força para o bem do país
Sobre o jornalismo, vimos na cobertura das eleições de 2018 que parte da grande imprensa evitou chamar o então candidato Bolsonaro por aquilo que ele já representava, evitando inclusive denominá-lo como um candidato de extrema direita. O senhor acredita que essa relação vai ocorrer novamente e como o jornalismo deveria a partir de agora se portar a partir do que estamos vivendo?
Eu não confio muito na grande imprensa até para não me decepcionar. Quem sabe eles, que cobraram tanto autocrítica, façam a deles e se comporte de uma maneira diferente em 2022. Porque, assim, é quase um acinte uma pessoa que passou a vida inteira dentro de uma biblioteca ou trabalhando em empresas familiares ou dedicada ao serviço público ser comparado com um psicopata. Foi isso que eles fizeram em 2018. Quiseram nivelar tudo por baixo e deu no que deu. 665 mil mortes – pela covid-19 -, a educação destruída, cultura destruída, o meio ambiente destruído, a Ciência e Tecnologia destruída. E aí? Isso não tem responsável? Quem normalizou o bolsonarismo, quem naturalizou as ações do Bolsonaro? Isso não seria possível sem a atuação da grande imprensa. E a imprensa alternativa ainda tem um alcance muito limitado para mobilizar um país. Oxalá venha ter o tamanho necessário para se contrapor à maior fake News, que foi da própria imprensa, não foi do Bolsonaro. A maior fake News foi vender para o país que o Bolsonaro é uma pessoa normal. Quando nós sabíamos que se tratava de uma pessoa totalmente desequilibrada e perigosa.
Para finalizar, como o senhor vê inclusive no âmbito da própria esquerda, o papel da comunicação?
A comunicação é um campo em aberto. Você faz mal ou bom uso da comunicação. Inclusive o que nos separa ou o que nos une é a comunicação. É por meio da comunicação que você cria fantasmas, você cria assombração, você estigmatiza pessoas, cultiva intolerância e pela mesma comunicação você faz o oposto disso. Você convida a reflexão, convida o juízo crítico. A humanidade é isso, a disputa permanente de valores, de símbolos e princípios que norteiam a vida em comunidade. O que nós precisamos fazer é escapar desse projeto protofascista que está instalado no Brasil, porque isso aí impede inclusive que o outro lado seja um jogador desse tabuleiro. O objetivo do Bolsonaro é aniquilar os seus adversários tidos por ele como inimigos. Isso faz muita diferença, você tratar o diferente como inimigo e não como um interlocutor legítimo. Esse é o paradoxo que nós estamos vivendo hoje.
Obrigado, professor.
Breno Silveira estava no interior de Pernambuco gravando “Dona Vitória”, filme que conta com Fernanda Montenegro no papel-título, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante neste sábado (14) . A morte foi anunciada pela Conspiração Filmes através das redes sociais. “Vamos chorar pelo nosso amigo e diretor genial, que nos deixa filmes, séries e documentários incríveis. Nos seus projetos, Breno Silveira sempre imprimiu sua busca incansável pela excelência e soube como poucos usar a força do seu olhar para retratar o Brasil”, escreveu a empresa na qual Silveira era sócio.
Breno tem em seu currículo grandes sucessos do cinema brasileiro, como diretor de fotografia trabalhou na produção “Eu Tu Eles (2000)”, de Andrucha Waddington, que foi selecionada para participar da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. Essa obra tem como elenco nomes como Regina Casé, Lima Duarte e Luiz Carlos Vasconcelos, além de ter canções de Gilberto Gil na trilha sonora. Ainda como diretor de fotografia Silveira também colaborou em “Carlota Joaquina(1995)”,”Traição (1998)”, “Gêmeas(1999)” e tantos outros.
O filme “Dois Filhos de Francisco(2005)”, pelo qual o cineasta ficou conhecido, foi a sua estreia como diretor e, logo de cara, tornou-se o filme mais assistido nos cinemas naquele ano, com mais de cinco milhões de espectadores. A história retrata a trajetória da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, o longa-metragem recebeu dez indicações ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e ganhou em quatro categorias, sendo uma delas a de melhor filme.
Ainda no cenário de casos reais, Silveira fez “Gonzaga: de pai para filho”, neste, o retrato é do sanfoneiro Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha, a obra também lhe rendeu prêmios e uma boa bilheteria. No âmbito das séries, o cineasta realizou “1 Contra Todos”, considerada a obra brasileira mais indicada ao Emmy Internacional, e a recente “Dom” pela Prime Vídeo, que mostra a percepção do pai de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, sobre a trajetória do seu filho de menino da classe média à bandido e dependente químico.
Em entrevista à AGEMT a coordenadora do curso de “Arte: História, Crítica e Curadoria” da PUC-SP Priscila Almeida enaltece a grande carreira de Elifas, “Ele teve em torno de 40 anos de carreira, inúmeros trabalhos, com uma produção muito grande em capas de discos. Assinou obras do Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Elis Regina. Ele também fez ilustrações de capas de livros, por exemplo da Clarice Lispector”.
A professora complementa dizendo, “A linguagem visual dele, principalmente a conhecida no campo da discografia é bastante pautada em cores vivas, que de alguma maneira dialogam com a cultura popular brasileira e geralmente trabalha com retratos emotivos que humanizam e evocam imagens de um povo brasileiro sofrido, trabalhando também com os signos políticos e que fazem parte da história do país”.
Almeida conta ainda qual é sua obra preferida de Andreato, “ele tem no campo das artes plásticas um painel que foi montado no corredor de acesso ao Plenário da Câmara dos Deputados, onde ele homenageia alguns políticos que tiveram os seus mandatos cassados na época da ditadura civil militar no Brasil. É uma obra que faz parte do resgate da história da ditadura militar, uma obra grande, que tem em torno de 5 metros de comprimento por 1,70 de altura e ela participa como um documento desse período histórico trágico do país”. Ela se refere à tela A Verdade, ainda que tardia, concluída e doada em 2012 para a Câmara. Ela foi exposta durante as homenagens daquele ano a parlamentares cassados pela ditadura e mostra cenas de tortura praticadas pelo regime contra cidadãos brasileiros nos chamados “anos de chumbo” (1968-1974). O quadro ficou um mês exposto na casa legislativa e depois foi levado para um depósito, longe do público, onde está até hoje. Na época, deputados exigiram a retirada por considerar as cenas retratadas, “constrangedoras”.
Para a docente, “desde os anos 60, o trabalho dele (Elifas Andreato) no campo da ilustração, do design gráfico, fez aqui a história da cultura da produção brasileira”.
