Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
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10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
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09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
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09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Artista gráfico consagrado por ilustrar mais de 450 capas de álbuns, morreu aos 76 anos após complicações por conta de um infarto.
por
Ana Kézia Andrade
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29/03/2022 - 12h

 

Elifas Vicente Andreato, nasceu em 22 de Janeiro de 1946 na cidade de Rolândia no Paraná. Era reconhecido pelo traço marcante e original. O artista paranaense trabalhou na capa de diversos álbuns para Martinho da Vila, Chico Buarque, Caetano Veloso e nomes importantes que compõem o cenário da Música Popular Brasileira. Além de artista gráfico, ilustrador e diretor de arte, Andreato trabalhou como escultor; cenógrafo, roteirista e diretor de shows de MPB e programas de TV; cenógrafo teatral; jornalista e editor.

 

Dono de uma linguagem visual pautada em cores vivas e formas que retratam a imagem do povo brasileiro, Elifas deixa para a cultura brasileira um legado iniciado no começo dos anos 70, acompanhou a evolução digital e tecnológica da música e da arte até o fim da vida. 

 

Em 2012, produziu a obra “A verdade ainda que tardia”, a pedido da Comissão Nacional da Verdade para retratar a realidade das torturas ocorridas na ditadura militar. Denunciou, através de sua arte, o assassinato do Jornalista Vladimir Herzog. Em 2015, a arte que estava exposta nos corredores da Câmara dos Deputados foi arquivada sob o pretexto de falta de espaço na exposição permanente do local.

 

Um de seus últimos trabalhos foi feito para a PUC-SP, Elifas foi responsável pela arte exclusiva para a celebração pela volta das atividades presenciais dos campi da faculdade, inspirada na Semana de 22. A obra intitulada Arte do reencontro é caracterizada por cores fortes, calor humano e traços de conjunção. 

 

A confirmação da morte foi divulgada pelo irmão do artista, Elias Andreato, através de perfil no Instagram. Elifas estava internado desde a semana passada, em decorrência de um infarto. O corpo será cremado às 16h desta quarta-feira (29) no Crematório Vila Alpina, na Zona Leste da capital paulista.

Alguns professores marcam a vida dos estudantes, seja como educador ou amigo. Alunos e ex-alunos relatam como Alexandre Brandão marcou suas trajetórias.
por
Vitória Nunes de Jesus
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17/11/2021 - 12h

       Alexandre Brandão é professor há 14 anos. Ele pode pensar que é apenas professor de História, porém para alguns alunos, ele também ensina como viver com sabedoria. O professor diz que não se arrepende de ter escolhido a profissão e relembra o início de sua carreira: “Com 23 anos decidi ser professor. Nessa época eu comecei a fazer um trabalho voluntário numa escola que me dava direito a concorrer a uma bolsa de estudos, o que me permitiu iniciar uma faculdade e dentre as opções a que mais se identificava comigo era História.”

      Conhecido por “Xi” pela turma de 2020 do 3° ano do Ensino Médio do Colégio Batista, Alexandre foi e ainda é para os ex-alunos, um amigo e conselheiro. Conhece-os desde 2014, quando ainda eram do 6° ano do Ensino Fundamental. Com o passar dos anos, pôde conhecer cada um, e às vezes, até mesmo as dificuldades pelas quais passavam. A ex-aluna Anna Luiza Gandini relata uma experiência com ele: “Um dia minha melhor amiga da sala faltou e eu estava sozinha no meu lugar. Na época eu estava passando por um momento difícil em minha vida, até que ele foi até minha mesa e disse que notou que eu estava abatida e perguntou o motivo de eu estar assim, então eu contei o que estava acontecendo e ele simplesmente disse que era para eu confiar em Deus, que Ele estava no controle. O professor disse também que eu poderia contar com ele. Talvez ele não se lembre disso, mas eu nunca vou esquecer”.

Professor Alexandre no Colégio Batista (2018).
Professor Alexandre no Colégio Batista (2018).

      O professor Alexandre conta que um dos benefícios em ser professor é receber o carinho e a gratidão dos alunos e diz ainda que existem situações que o marcam: “As situações impactantes geralmente são aquelas em que se percebe a gratidão do estudante. Mas em uma oportunidade, eu precisaria me ausentar para fazer uma cirurgia, e no meu último dia na unidade escolar, alunos do 6º ano fizeram uma série de homenagens em gratidão e apoio.”

Professor Alexandre e alunas do 6° ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fábio Prado (2019).
Professor Alexandre e alunas do 6° ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fábio Prado (2019).

      Também relata sua gratidão por tudo que já viveu em seu trabalho: “O sentimento de satisfação e de realização são inevitáveis. Alunos da Escola de Jovens e Adultos (EJA) já voltaram na Instituição de Ensino para agradecerem a formação e informarem que estavam ingressando num curso técnico ou faculdade.”

     Ser educador exige diversas competências e é uma das profissões mais nobres. Porém são várias as dificuldades encontradas, presencialmente e on-line. Nas escolas é necessário oferecer condições de manter a turma focada. Para conhecer os problemas, nada melhor que um professor contando quais ele enfrenta: “Existe a dificuldade de conseguir manter o foco e atenção dos alunos. O número alto de alunos nas salas de aula. A falta de acompanhamento dos pais. A falta de estrutura tecnológica e as vezes básica (como livros didáticos)”. Alexandre observa que os problemas estruturais são mais acentuados nas escolas públicas. Durante a pandemia, grande parte da população já ouviu dos alunos que o rendimento na escola caiu bastante e até já conhecem as dificuldades do Ensino à Distância. Mas os professores também passam por alguns desajustes: “Geralmente os professores citam a adaptação ao ambiente virtual, as novas tecnologias e ao fato de falar para um público não presente (apenas on-line). Particularmente, não senti dificuldades nesses itens. Outra complicação é a percepção da recepção do aluno, algo que só é plenamente possível no presencial”. Ele diz que existem casos em que os estudantes não têm acesso as aulas remotas e é necessário “correr atrás” de alguns: “Na escola pública, apesar de termos uma excelente plataforma digital, nem todos os alunos têm acesso a equipamentos e internet de qualidade. Muitas vezes precisamos recorrer a canais informais como WhatsApp para estabelecer o contato mais direto”.

Professor Alexandre ministrando aula on-line durante a pandemia no Colégio Batista.
Professor Alexandre ministrando aula on-line durante a pandemia no Colégio Batista.
 

      O professor de História conta as dificuldades no trajeto de casa até o trabalho e pontua aglomerações: “O transporte público ainda é lotado. Eu utilizo o metrô e ele sempre está cheio”. Ele menciona que não se sente seguro ao trabalhar presencialmente durante a pandemia de COVID-19 e diz que não considera essencial o retorno das aulas nas escolas, afirma que a vida está a cima de qualquer outra coisa: “Mesmo com as medidas sanitárias e protocolos seguidos, sair de casa e pegar transporte público ou conviver com pessoas que precisam sair de casa para o serviço, nos deixam expostos ao contágio. O essencial é a vida. Se for algo que a ponha em risco, deixa de ser essencial”.

Aparentemente, Alexandre tem um perfil competente de educador. Além da qualidade técnica, consegue acolher os alunos também em situações que, mesmo sendo originárias de suas vidas pessoais, manifestam-se na sala de aula. Com isso, marca as memórias de muitos estudantes e pode ser definido como "O melhor professor que já tive", como afirma uma ex-aluna do Colégio Batista.

Como o Presidente da República, muitas igrejas criticam a vacina, atacam a imprensa e fazem propaganda de curas milagrosas durante a pandemia
por
Esther Ursulino e Gabrielly Mendes
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09/08/2021 - 12h

 

Durante a pandemia do novo coronavírus, diversas autoridades políticas e religiosas utilizam sua influência para promover discursos que desinformam a população. O ataque à mídia e à ciência, somado a soluções simples para problemas complexos, levam os seguidores dessas lideranças a minimizarem a gravidade do vírus, e com isso, a arriscarem suas vidas. 

O bispo Edir Macedo, fundador da igreja Universal do Reino de Deus, disse que aqueles que tiverem ‘coronafé’ não serão infectados; Valdemiro Santiago, pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus, vendeu feijões com suposto poder de cura pelo valor de 100 a mil reais; e Elenildo Pereira, padre da Canção Nova de Cachoeira Paulista, pregou contra a vacina ao descredibilizar os estudos que comprovam sua eficácia. 

Similarmente, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimiza a gravidade do coronavírus. Em março de 2020, durante um pronunciamento feito em rede nacional, chamou a Covid-19  de "gripezinha". O chefe do executivo, tal como o pastor Valdemiro, apresenta soluções ineficazes para o combate ao vírus, como a cloroquina e outros remédios do kit-covid. Ademais, faz declarações contrárias à vacinação que induzem a população a questionar a eficiência e segurança dos imunizantes. “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina. Eu não vou tomar. Eu já tive o vírus. Já tenho anticorpos. Para que tomar vacina de novo?”, disse durante um discurso em Porto Seguro – BA, em dezembro de 2020.

Além dos púlpitos e do Planalto, o negacionismo ganha espaço nos meios de comunicação aliados ao governo — dos quais muitos evangélicos são espectadores. De acordo com Gilberto Nascimento, jornalista e autor de “O Reino: A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal”, a Record, emissora de Macedo, passou a “defender com mais unhas e dentes a pauta desse movimento evangélico-conservador” após o impeachment de Dilma. Segundo Nascimento, o canal foi oferecido como palanque eleitoral para o futuro presidente em 2018, o que contribuiu para que fosse utilizado em defesa de interesses políticos.  

Como resultado, a cobertura jornalística teve que se adequar à postura bolsonarista, que minimiza a gravidade da pandemia. Para se contrapor à linha editorial "alarmista", a TV Record abordou as notícias relacionadas ao coronavírus de forma branda, e assim como o SBT, deu enfoque ao número de recuperados como quis o chefe da nação. A propagação do discurso da “gripezinha” rendeu privilégios a esses veículos. Segundo o site Nexo, em 2020 ambos receberam um grande repasse de verbas federais, com valores de 13,1 e 9,3 milhões respectivamente. 

Quantos dízimos valem uma vida? 

Sob o argumento de que a igreja é o “último refúgio para os desesperados”, líderes religiosos aliados a Bolsonaro insistem em manter as portas de seus templos abertas mesmo com risco à saúde dos fiéis. Em abril deste ano, quando o Brasil registrava mais de 1000 mortes diárias, o ministro Nunes Marques atendeu a uma liminar da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) e proibiu que estados e municípios vetassem celebrações religiosas para conter a disseminação do vírus decisão que o STF derrubou. Segundo a associação, os decretos são inconstitucionais, pois violam o direito de liberdade religiosa. Contudo, para o jornalista Gilberto Nascimento, “a grande preocupação é ter a igreja fechada e a receita diminuir”. 

Devido ao isolamento social, os dízimos e ofertas, antes doados presencialmente, pararam de chegar aos cofres santos. Para contornar o problema, missionários sugeriram que os membros realizassem depósitos online. Entretanto, a Revista Piauí mostrou na matéria "Sem fiéis, sem dízimo, sem palanque", que a quantia recebida foi inferior ao esperado, o que causou prejuízo às instituições

O escritor de O reino, que cobre a área de religião há quarenta anos, aponta ainda que o discurso negacionista tem mais recepção em algumas denominações. Segundo ele, as que possuem a maior parte de seus fiéis provenientes da classe média e elite, como é o caso da Luterana, Metodista e Presbiteriana, são menos suscetíveis a discursos falaciosos. As pentecostais como a Batista e a Congregação atraem diferentes camadas sociais, apresentando narrativas diversificadas. Em contraposição, as neopentecostais atraem pessoas em situação de dificuldade extrema – seja na área financeira, social ou psicológica –, geralmente com pouca escolaridade e sem acesso à informação, o que as tornam dependentes das interpretações dos pastores.

“Não é uma verdade dizer que entre os evangélicos qualquer coisa que o pastor falar as pessoas vão seguir cegamente.  Vão ter pastores negacionistas e não negacionistas e aquilo que eles falarem nem todos vão cumprir. Mas em algumas igrejas neopentecostais isso acontece sim, as pessoas confiam piamente", afirma Gilberto. 

Persuadidos por discursos difundidos dentro de templos e reafirmados por autoridades como o presidente da república, muitos fiéis vêem a vacina com desconfiança e se recusam a serem imunizados. De acordo com pesquisa do Datafolha realizada em março de 2021, 14% dos 2.023 religiosos entrevistados não pretendem se vacinar contra a covid-19. O número, que representa os evangélicos, é superior ao de católicos ouvidos (6%). 

Magna Aparecida, membro da Congregação Cristã do Brasil, diz que notou discursos negacionistas entre religiosos de diferentes denominações. “Tenho colegas de caminhada que não querem tomar a vacina e justificam com aquele discurso de que ‘Deus cuida'''. Contudo, ela pondera: "temos que fazer a nossa parte, pois Deus criou a medicina, então temos que segui-la". 

É necessário pontuar que pessoas transexuais e travestis não são tratadas pela sociedade como merecedoras de afeto.
por
Aline Freitas, Luan Leão, Tábata Santos, Larissa Isabella
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22/06/2021 - 12h

Vistos, em sua maioria, como pessoas não dignas de afeto, transexuais e travestis são colocados em um lugar de exclusão e hostilização. Em uma sociedade que não busca se informar sobre temas relacionados a identidade de gênero e sexualidade, Gabrielle Graciolli, 18, mulher transexual, ressalta: “Por mais que seja um assunto mais falado do que era a alguns anos atrás, eu acho que a sociedade não está pronta para pessoas trans. As pessoas ainda marginalizam muito, principalmente as mulheres trans, e as travestis. A gente ainda tem muitos desafios e a nossa vida é dez vezes mais difícil do que a vida de uma pessoa cis”.

Foto da entrevistada Gabrielle Graciolli, 18.
Gabrielle Graciolli, 18

Graciolli nunca esteve em um relacionamento sério e acredita que isso tem a ver com o fato de ser uma mulher trans. “O motivo é que as pessoas cis, a grande maioria homens cis,  podem até se apaixonar por uma mulher trans, e querer ter um relacionamento com elas, mas eles não assumem esse relacionamento, e deixam de uma forma escondida, por conta do medo de sofrer preconceito e do que os familiares e os amigos vão pensar”, diz. 

 A psicóloga Laís Mendes, especializada em atendimento a pessoas LGBTQIA+, concorda com o pensamento da estudante. “Geralmente o receio de assumir se dá devido ao receio de ser zoado pelos amigos, por vergonha ou medo de enfrentar junto a essa pessoa o que ela passa no dia a dia”, afirma.

A criadora de conteúdo Thiessita, também mulher trans, lista, em seu canal no Youtube, motivos que levam a essa realidade. Segundo ela, os homens cis, além de terem  medo de serem julgados pela sociedade, também enxergam as mulheres trans de uma forma muito fetichizada. Para Graciolli, a fetichização decorre da pornografia: “A pornografia de trans e travesti é bem fetichizada. É sempre a trans como se fosse apenas uma boneca inflável. Então, muitos homens acabam tratando as mulheres como fetiche”, completa. Segundo relatório do site pornográfico “Pornhub”, o Brasil está entre os países que mais consomem pornografia transexual no mundo. 

Foto do entrevistado Matheus Menatto, 19
Matheus Menatto, 19

A problemática da fetichização não afeta só as mulheres trans e travestis, como também os homens transexuais. Matheus Menatto, 19, homem trans, afirma que sofre na pele as consequências dessa realidade até mesmo  por membros da própria comunidade LGBTQIA+: “Tem muitos homens, gays ou héteros, que têm fetiches em homens trans. Eles chegam já mandando foto deles, achando que a gente é um objeto”. 

Graciolli infere que a fetichização, causada pela pornografia, desencadeia o assédio. “Eu mesma passo por isso, de mandarem fotos do órgão genital para mim no Instagram, nas redes sociais”, relata. Ela afirma que de todas as vezes que sofreu assédio, denunciou apenas uma delas: “Ele ficava me perseguindo, eu tive que denunciar. Mas eu fiz só o boletim de ocorrência virtual, nunca cheguei a fazer uma denúncia muito séria”. 

De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% desse grupo, no Brasil, recorre à prostituição como fonte de renda. Isso mostra que a fetichização leva ao assédio, ao alto índice de prostituição desse grupo, e ainda contribui para a negação de afeto sofrida por essas pessoas. 

Contudo, é perceptível a diferença de tratamento recebido pelos homens trans em comparação com as mulheres transexuais. Um artigo escrito por Kristen Schilt da Universidade da Califórnia, Los Angeles, demonstra como homens trans ganham mais visibilidade, autoridade e respeito em seus trabalhos. Kawan Freitas, 21, homem trans, afirma nunca ter passado por nenhum preconceito com as pessoas com que se relacionou e suas famílias: “Sou casado com uma mulher cis. A gente nunca enfrentou nada, temos a aceitação das pessoas. Minha família sabe, a família dela sabe e aceitam a gente, respeitam”. O mesmo acontece com Menatto que namorava uma mulher cis durante seu processo de transição. “Assim que eu comecei a transição eu tava namorando uma menina. Ela era da minha escola e me apoiou. Enfim, eu terminei, ela é minha ex-namorada. Quando eu mudei de escola eu não cheguei a sofrer nada do tipo, hoje eu namoro de novo”, relata. Em seu novo relacionamento, a aceitação é a mesma: “Em nenhum dos relacionamentos que tive, eu sofri preconceito”. 

Foto do entrevistado Kawan Freitas, 20
Kawan Freitas, 20

Já Graciolli enfrenta uma realidade diferente. “O relacionamento que eu tive não era um relacionamento sério porque eu nunca fui assumida", conta. “Ele falava que me amava só para conseguir se relacionar comigo quando ele quisesse. Ele só me usava e falava coisas para me manter por perto”. Ela ainda relata o medo que seu parceiro sentia de que a relação fosse descoberta: “Teve uma vez que eu estava em uma festa que estavam os amigos dele e ele me mandou um monte de mensagens falando para não contar para ninguém. Umas mensagens desesperadas. Uma coisa bem horrível, bem desconfortável”. 

É importante ressaltar que os homens trans também passam por preconceitos e que Menatto e Freitas são exceções. Contudo, isso aponta que as mulheres trans sofrem ainda mais em decorrência do machismo. Segundo Graciolli, questões relacionadas à masculinidade fazem com que homens cis que se relacionam com mulheres trans sofram mais que mulheres cis que se relacionam com homens trans. “Quem namora com uma pessoa trans, acaba sofrendo transfobia também, principalmente os homens, porque tem toda a questão da masculinidade”, conta. 

Entender as questões de gênero é um dos principais fatores que contribuem para que a violência da rejeição amorosa não faça parte da vida de uma trans ou travesti de maneira traumática, Mendes ressalta: “É de extrema importância que as pessoas se informem e desconstruam o que inicialmente foi aprendido sobre gênero. O gênero não é uma ideia de pênis e vagina, isso é uma característica genética fenotípica. As vezes tem pessoas que se relacionam com trans ou travestis que decidiram não passar por uma cirurgia e os amigos chamam essa pessoa de gay ou lésbica, por estar se relacionando com pessoas que tenham a mesma genitália, então a sociedade tem que entender que gênero não é biologia, gênero é algo a ser aprendido”. E finaliza: “No país que mais mata trans e travestis no mundo, é um ato de resistência essas pessoas se permitirem amar e demonstrar esse amor.”

Mais de 9 mil famílias foram despejadas durante a pandemia da Covid-19, contrariando as orientações do Conselho Nacional de Justiça
por
Laura Naito e Letícia Coimbra
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15/06/2021 - 12h

Apesar da recomendação das entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) para a população ficar em casa, no Brasil mais de 9.156 famílias foram despejadas entre março de 2020 e fevereiro de 2021. Durante a pandemia, os despejos deixaram as pessoas ainda mais expostas à doença.

Fonte: Campanha Despejo Zero
Fonte: Campanha Despejo Zero

 

Além disso, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma recomendação para que seja avaliado com cuidado as ações de desocupação de imóveis, urbanos ou rurais, em especial aquelas que dizem respeito àquelas que envolverem pessoas vulneráveis seja social ou economicamente. Mesmo assim, a questão dos despejos já foi muito renegada pelo governo que, mais uma vez, coloca a população em perigo.

Nesse contexto, em setembro de 2020, surgiu a Ocupação Manoel Aleixo, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), um movimento nacional que luta pelo direito de morar de forma digna.

Selma Maria, coordenadora da Ocupação, relata: “Eu tinha que escolher, ou eu pagava água ou eu pagava luz, ou eu comia ou pagava o aluguel. E a gente sempre pagava o aluguel, porque a gente senão ia para debaixo da ponte, então a gente passava fome pagando aluguel. Aí quando eu recebi essa proposta eu aceitei, já que pelo menos lá a gente vai ter uma garantia de procurar um lugar sem ter o peso do aluguel”.

Selma Maria, coordenadora da ocupação (Foto: A Verdade)
Selma Maria, coordenadora da ocupação (Fonte: A Verdade)

 

No local, moram 40 famílias que fizeram a mesma escolha de Selma e que tiveram que se acostumar com essa nova realidade de moradia. A organização é feita em uma escala semanal, dependendo da cooperação de todos. As tarefas domésticas, da cozinha até a lavagem de roupas, são divididas entre todos e existe, inclusive, uma creche para ajudar as mães solos.

Essa dinâmica da ocupação foi idealizada e realizada pelos próprios moradores, quando tais ações deveriam ser proporcionadas pelo governo, considerando o Art. 6o da Constituição de 1988, que garante, entre outros, o direito à moradia e saúde. Entretanto, como esses direitos foram negados pelo Estado, deixando essas pessoas vulneráveis. Segundo o estudo “População em Situação de Rua em Tempos de Pandemia: Um Levantamento de Medidas Municipais Emergenciais”, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, pessoas em situação de rua ficam mais expostas ao vírus da Covid-19.

Além da maior vulnerabilidade para o vírus, as ocupações não têm sido reconhecidas como residência, portanto, os moradores da Manoel Aleixo ainda são considerados sem-teto perante à lei. No entanto, no Brasil, a comprovação da residência é necessária para a realização de matrículas escolares ou até registros de empregos, como consequência, essas pessoas são impossibilitadas de sair dessa situação, culminando em um ciclo sem fim.