A filha do artista, Laura Andreato, comunicou que a morte decorreu do infarto sofrido na semana passada. A família informa que o corpo será velado ainda hoje no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo, às 16h. A notícia do falecimento foi divulgada por seu irmão, Elias Andreato, em sua conta no Instagram. A publicação tem como foto a bandeira do Brasil dentro de uma lágrima e uma carta com os dizeres: “E quando os homens forem amigos dos homens, vou saber que o meu irmão não sonhou em vão. Que o país que ele imaginou possa ser colorido para todos! Que a política do seu traço seja homenageada SEMPRE! Meu irmão, você retratou o que o nosso povo tem de mais belo: A DIGNIDADE!”.
O jornalista Chico Pinheiro, o ator Paulo Betti, a cartunista Laerte e o rapper Emicida também prestaram homenagens nas redes sociais.
A MPB PINTADA
O vínculo de Elifas com a arte e com a MPB se expressou em fortes traços na época da ditadura militar, principalmente pelo pintor usar isso como uma forma de luta e protesto à repressão sofrida. Na década de 1960, Elifas já participava da criação de inúmeras revistas, como Placar, Veja e História da Música Popular Brasileira, mas foi somente em 1972 que começou a produzir suas capas, estreando com o LP “Nervos de Aço”.
A história de Andreato foi marcada pela produção de mais de 300 capas de álbuns de grandes cantores da MPB, como Elis Regina, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Toquinho, entre outros. Em entrevista ao Jornal Correio Braziliense, o artista disse acreditar que “as capas dos discos são convites de fazer as pessoas se interessarem pela arte”. Suas obras foram de grande contribuição para a arte brasileira, principalmente no sentido do combate à repressão e na luta pela liberdade. De forma humilde, o pintor declarou que “a velhice é uma coisa chata, mas eu felizmente estou sempre produzindo e animado; continuo a fazer aquilo que sempre fiz e dentro dos meus limites dou minha contribuição para a cultura brasileira”.
Elifas transformou o conceito de capa da música brasileira, buscando refletir a essência da canção - por isso, o apelido “pintor de sons”. O pintor buscava estampar não apenas o que a música passava, mas o que ela trazia consigo.
Elifas Andreato usou seu talento para transformar capas de discos e painéis em símbolos brasileiros. Transitando nos mais diferentes meios, inclusive no infantil, é dele, por exemplo, a capa do álbum “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes. A vida e obra desse grande artista gráfico marcaram a cultura e a música com sua genialidade. Pensar nas capas de álbuns da MPB é um convite para reviver a presença e a contribuição de Andreato na história da arte brasileira.

Com um nome de peso no mundo artístico, o designer e ilustrador Elifas Andreato, deixa sua marca na memória dos brasileiros por meio de seus traços expressivos e suas contribuições para a literatura e a indústria musical.
Nascido no dia 22 de janeiro de 1946 em Rolândia-PR, mudou-se para São Paulo com 14 anos junto de seus pais. Não passou por um curso superior, indo direto para o mercado de trabalho. Foi inclusive no ambiente organizacional que seu talento para o desenho foi notado, ainda em seus anos de aprendiz na FIAT LUX, seu dom foi incentivado pela diretoria da empresa, chegando a receber dinheiro de seus superiores. Tudo o que recebia era repassado aos pais, a fim de ajudá-los com as despesas familiares. Com 15 anos chegou a cursar o programa de alfabetização para adultos, demonstrando o interesse por sua formação.
Elifas começou sua carreira no meio artístico e gráfico no ano de 1973, com o long-play “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola, dando início ao que seria uma carreira sólida de grandes parcerias com artistas da música popular brasileira. Somente com o vinil, produziu cerca de 362 capas de discos, ilustrando canções de Chico Buarque, Martinho da Vila entre outros nomes de grande relevância na indústria musical. Ele também deixou sua contribuição para literatura, idealizando o design de “Legião estrangeira” de Clarice Lispector.
Além de seu grande talento para as artes, Andreato tinha forte opinião política e se posicionava, em meio à ditadura. Através da arte, ele manifestava a insatisfação com o regime. Ajudou a fundar o semanário “Opinião”, além de participar das publicações “Movimento e argumento”, enfrentando a censura. No ano de 2011, o artista recebeu, pelo conjunto de sua obra, o prêmio Vladimir Herzog, que celebra profissionais que defendem a luta democrática. A cerimônia foi realizada no TUCA, espaço representante da resistência contra a repressão.
O artista ainda foi diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, revistas oferecidas para passageiros da companhia aérea TAM.
Na noite desta segunda-feira (28), com 76 anos, por complicações decorrentes de um enfarte, Elifas deixa sua linda biografia e marcas históricas para os brasileiros.
Elifas Vicente Andreato, ícone da arte gráfica de capas de discos desde 1970, faleceu nesta terça-feira (29). O artista deixa um legado marcante na MPB, tendo trabalhado com Paulinho da Viola, Chico Buarque, Clara Nunes, Martinho da Villa, Elis Regina, entre outros. Andreato conta com um acervo de 362 capas de discos, diversas ilustrações para revistas e cartazes, além de publicar dois livros e participar da montagem de peças de teatro. Foi reconhecido, em 2011, ao receber o “Prémio Especial de Vladimir Herzog”, concedido a destaques na luta por valores éticos e democráticos.
A obra de Elifas é marcada por traços sensíveis e uso abundante de cores. Dentre seus maiores destaques, encontram-se as capas dos discos “Ópera do Malandro” e “Almanaque”, ambos de Chico Buarque, assim como “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola. Ainda produziu obras políticas, como quando escarnou em tela o assassinato do jornalista Vladimir Herzog no fim da ditadura.
Em 2018, aos 50 anos, Andreato publica o livro “A Maior Palavra do Mundo, uma Fábula Alfabética”, que levou 37 anos para chegar às mãos do público e conta com colaboração do ilustrador Fê. A obra é construída de forma alegórica envolvendo um mistério: o Silêncio decide sequestrar a Curiosidade. Esta fábula foi musicada por Tom Zé.
Com tristeza icônica, nos desligamos essa semana do ponto colorido de convergência entre várias pessoas, Elifas Andreato. O artista gráfico, presente em mais de 360 capas de discos de artistas nacionais, teve como foco na carreira dar traços à cultura popular brasileira, constituindo a ponte viva entre figuras como Criolo e Chico Buarque. Expressivo, Andreato é peça chave na frente artística de oposição do período militar e modelo na integração da imagem nacional, abraçando com uma corda só a beleza e as mazelas da nação ao lado de contemporâneos como Gilberto Gil e Paulinho da Viola.

Reprodução: PUC-SP
Nas primeiras semanas de março, o reencontro do corpo docente e alunos da PUC-SP foi ilustrado pelo caloroso abraço desse velho irmão de luta. O casamento da instituição com o artístico é, primeiramente, de gigante simbolismo da relação política na sociedade civil. A faculdade combateu à base de subversão ideológica os avanços militares, virando símbolo da oposição durante o período. Elifas fez o mesmo à base de canetas, lápis e papel. Assim como a universidade carrega orgulhosa essa herança, sua pós-vida não foge de igual importância.
A arte espalhada pelas vias principais representou o abraço metafórico do campus Monte Alegre, que mesmo privado do toque físico pelas restrições sanitárias, teve sua cultura de troca social revivida pelas vozes nos corredores e olhares deslumbrados com a nova fase da vida que começa à sua frente. As cores vivas e concretas do abraço compartilhado em contraste às paredes cinzas e amareladas dos corredores alude perfeitamente à vida no campus, a base da identidade tradicional da Pontifícia. Assim como no desenho, este é um lugar onde mentes se intercalam e a união se mostra presente à base da cultura brasileira. Assim como os traços da arte, a vida é fluida, feita de contato e palco para encontros, reencontros e, infelizmente, despedidas.
Sua última obra em vida, a cenografia da peça ‘Morte e vida severina’ dirigida pelo irmão Elias Andreato, também habita sob teto puquiano, no TUCA. O entrelaçamento de duas figuras tão emblemáticas na história do Brasil, da cultura e entre si não poderia ter fim mais apropriado e familiar.
Um dos maiores artistas plásticos do Brasil, Elifas Andreato morreu nesta terça-feira (29), aos 76 anos, resultante de um infarto. Elifas dedicou grande parte da sua carreira à luta contra o totalitarismo e a defesa pela democracia no Brasil.
Elifas começou sua carreira, durante a ditadura, como estagiário na revista Abril, passando a conviver com pensadores contrários ao regime militar. Com isso, produziu o livro negro da ditadura militar, que foi exposto aos militares quando um de seus companheiros foi preso, resultando em uma perseguição ao artista.
Após essa eventualidade, saiu da revista Abril e participou da fundação do jornal semanal “Opinião”. Nessa época vivenciou a repressão diretamente dentro da redação.

Um dos seus episódios marcantes foi quando o artista resolveu desenhar o D. Paulo Evaristo Arns. O censor, que avaliou a obra, deu um tapa na cara de Elifas e o jogou em um camburão, aprisionando o artista por aproximadamente 3 horas, por conta da cor vermelha escolhida para a roupa do cardeal. Durante sua prisão, foi interrogado e sofreu com violência e humilhação.
Após ser solto, começou a ilustrar livros e se destacou com uma coleção da Ática chamada Nosso Tempo pela utilização de metáforas, com o intuito de despistar a censura. Mesmo diante da morte do seu companheiro Vladimir Herzog, com imenso medo, continuou a produzir suas obras.
Andreato lembrava da época da ditadura militar como uma fase muito difícil em sua vida e uma mancha na história do país. Entretanto, dizia que foi o período de maior fertilidade e criatividade de sua geração.
Elifas produzia artes como: capas de discos, quadros, cartazes e esculturas, procurando sempre estabelecer diante de suas obras a luta contra o autoritarismo vivenciado. Buscava, também, trazer intérpretes para suas obras e reforçar a importância da luta pela liberdade de expressão.
