Na terça-feira (6), aconteceu a quarta edição do Troféu Audálio Dantas – Indignação, Coragem, Esperança, no auditório Prestes Maia, sediado na Câmara Municipal de São Paulo. Em conjunto com a curadoria da família Kunc Dantas e da Oboré Projeto Especiais, 97 associações contribuíram para a realização do prêmio incluindo a participação dos Centros Acadêmicos Benevides Paixão (PUC-SP), Lupe Cotrim (ECA-USP), Vladimir Herzog (Cásper Líbero) e de estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog. Além de mais uma vez celebrar o dia do Jornalista e o dia Nacional de Liberdade de Imprensa, comemorados em 07 de abril e 07 de junho, respectivamente, o evento regido pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB) e com o apoio dos jornalistas Sérgio Gomes, um dos fundadores da Oboré e Vanira Kunc, viúva de Audálio Dantas homenageou seis jornalistas nesta edição.

Com o início às 19h, o vereador começou a cerimônia relembrando a carreira do jornalista Audálio Dantas, nome o qual a premiação carrega desde a data de seu falecimento (30 de maio de 2018) para preservar sua memória e o legado. Em seguida, representantes de algumas entidades participantes do evento promoveram uma reflexão sobre o atual cenário jornalístico no Brasil. “Nós suportamos tempos duros, mas resistimos e seguiremos resistindo na defesa de um direito que não é só dos jornalistas, e sim de toda a sociedade”, declarou Cristina Zahar, representante da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), somando em sua fala um dado levantado por sua própria entidade de que os números de ataques à imprensa quase quadruplicaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Audálio Dantas não teve tempo de ter medo”, afirmou José Eduardo, representante do Sindicato dos Jornalistas, ele reafirmou a importância da ética na profissão independente das condições de trabalho. “Infelizmente, estamos vivendo um tempo de profundo desrespeito ao diferente, provocado pelo fascismo que cresce nesse país”, refletiu Eduardo. Ademais, recém-formados e estudantes de jornalismo, uniram-se para a leitura de uma carta propondo o compromisso para a continuação do Troféu Audálio Dantas a fim de contemplarem jornalistas experientes na profissão em uma possível próxima edição.
Bruno Paes Manso, Gregório Duvivier, Juliana Dal Piva, Leonardo Sakamoto, Rene Silva e Valmir Salaro foram os seis jornalistas homenageados nesta edição, a qual buscou profissionais que produzem um "jornalismo ético e plural que a gente quer e que o país precisa", segundo Leda Beck, atual presidente da Associação Profissão Jornalista (APjor).

Ao receber o troféu, Salaro, experiente repórter policial da Rede Globo e o primeiro a ser gratificado levantou uma reflexão sobre o erro jornalístico que qualquer profissional da área está sujeito a cometer ao exercício da profissão.
Sakamoto, um dos fundadores da Repórter Brasil, organização focada em investigações sobre direitos humanos, ressaltou a dificuldade dos comunicadores durante o governo bolsonarista. “Se a gente que é jornalista e moramos no Sul-Sudeste, em grandes cidades, sofremos muito nos últimos 4 anos de Jair Bolsonaro, tenho certeza de que jornalistas do interior do Brasil sofrem muito mais desde sempre", afirmou Sakamoto. Por fim, o jornalista avaliou que a crise democrática no país não possui 4 anos, e sim 523 anos.

O terceiro prestigiado, Bruno Paes Manso, escritor do livro “República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” e repórter especializado na área de segurança pública, exaltou sua relação com os colegas homenageados e a importância de cada um para o funcionamento de um bom jornalismo no Brasil.
A jornalista Juliana Dal Piva, que fez trabalhos investigativos relacionados à família Bolsonaro, ao ser agraciada, fez uma crítica sobre o cenário feminino no jornalismo brasileiro diante do fato dela ser a única mulher homenageada nesta edição. “Não posso parar e não olhar para mim e saber quem eu sou. Sou uma mulher jornalista e para que eu pudesse ter feito o trabalho que fiz e recebesse essa homenagem linda hoje, muitas [mulheres] vieram antes de mim”, declarou Dal Piva.

O humorista, escritor e apresentador do “Greg News”, programa de jornalismo satírico disponível na plataforma de streaming HBO Max, Gregório Duvivier não pôde comparecer ao evento. Entretanto, Denis Russo, um dos editores-chefes do programa, compareceu à premiação representando o humorista. Russo destacou o caráter não jornalístico do Greg News, mas demonstrou a importância do viés humorístico em torno de uma narração factual produzida pela equipe de Duvivier.
Por fim, o último jornalista a receber o troféu Audálio Dantas foi Rene Silva, criador do jornal “Voz das Comunidades”, originário no Morro do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro. Silva recebeu o prêmio através da reunião entre os integrantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog no palco. “Nossos estudantes vieram aqui porque sabiam da possibilidade de conhecer o futuro. Homenagear o jornalista Rene Silva nesta noite, é conhecer o futuro de um jovem da periferia do Rio de Janeiro com características de vida escolar muito parecidas com a dos estudantes de nossa escola”, declarou Keila Girotto, diretora da escola.

“O que a gente não quer mais, é ver a favela sendo retratada a partir de um olhar de violência, tráfico de drogas e mortes. Queremos que a favela seja mostrada como um lugar de esperança e coragem”, refletiu o jornalista, acrescentando a ideia de democratização da informação diante da pouca comunicação existente nas comunidades brasileiras por meio do jornalismo comunitário enquanto um trabalho de resistência.
A solenidade foi transmitida pela Câmara Municipal de São Paulo e pode ser assistida através do link.
"99% das vezes que somos chamados, não fazemos ideia do que vamos dublar", diz Cassius Romero, (56), dublador, ator e cartunista brasileiro que fala sobre os bastidores e como funciona um estúdio de dublagem. O contato foi feito via WhatsApp, e mesmo saindo de São Paulo, na volta para casa no interior, dentro de um ônibus de viagem, o artista ainda disponibilizou um tempo para a entrevista.
Cassius é um dos grandes nomes entre os dubladores brasileiros, com 30 anos de carreira, é ele quem fornece a voz para diversos personagens no universo cinematográfico, como os de John Rambo e Exterminador. Mas ganhou maior destaque com o vilão Negan, da série de terror americana "The Walking Dead".
O ator descreve como funciona o processo de chamada de um dublador: "O coordenador artístico ou diretor em dublagem indica um talento. Daí a empresa manda mensagem para o dublador no WhatsApp para escalá-lo, a produção é quem faz esse trâmite. Após o artista dar o ok que aceitou a escala em determinado horário, seu nome é incluído numa famosa 'pedra' ou 'tabela' com outros tantos dubladores, e preenchem o dia do estúdio em si".
Para trabalhar profissionalmente e exercer a função de dublador, é necessário dar entrada ao DRT, documento a partir do qual a pessoa está capacitada e tem autorização legal para trabalhar como ator/atriz profissional, essencial e obrigatório para exercer a função. Além das obrigatoriedades, Cassius cita como essencial para um bom profissional "ter uma boa comunicabilidade, boa desenvoltura de fala, entendimento de texto, boa leitura, conhecimento da gramática portuguesa, ter noções em outros idiomas e ter ciência de cultura".
Contudo, uma das habilidades imprescindíveis e que não é ensinada em nenhum curso de dublagem é a de adaptação. O dublador necessita pegar com rapidez o entendimento da ideia que lhe foi passada em minutos e dublar, pois de acordo com Romero: "Somente quando o dublador adentra o estúdio que o diretor conta a história do personagem que ele fará ali naquele instante. Já o diretor, deve e precisa saber com antecedência do projeto para dirigir e indicar o caminho para o dublador. Chamamos isso de 'ter o filme na mão'".
Além de sua vida cotidiana, Cassius também fala como foi trabalhar na pandemia: "No começo, alguns links foram disponíveis para gravação, logo, o diretor dirigia da casa dele, o técnico operava de casa e o dublador dublava na casa dele". Além disso, as dificuldades eram diversas. Muitos dubladores criaram em casa verdadeiras cabanas com lençóis e edredons para diminuir o som externo.
O investimento foi necessário por parte dos atores, com equipamentos como computadores, microfones, fones, tablets e mesinhas de som. Em muitos casos, houve um atraso nas produções de dublagem devido aos problemas com a internet que retardam o processo - Netflix e outras plataformas, avisaram o público que as dublagens de diversas séries demorariam para ser entregues. Com o tempo, os técnicos em dublagem começaram a ajudar os atores para poderem gravar de casa, os auxiliando com cabines de áudio, acústica seca e equipamentos em geral.
Além das dificuldades na pandemia, no presencial, Cassius relata que o deslocamento de um estúdio para outro sempre foi um problema em sua rotina, muitas vezes inclusive, tendo que atravessar a cidade para chegar ao local. "O diretor em dublagem geralmente fica em estúdio fixo, mas os dubladores, de um modo geral, circulam em quase todos os estúdios. Quando eu comecei na dublagem havia seis estúdios em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. Atualmente temos aproximadamente 30 em São Paulo e mais 16 no Rio", comentou.
No ramo da dublagem, Edeli Cremonese é a empresária e fundadora da empresa Lexx Filmes e Produções. A companhia é especializada em Dublagem e Legendagem para a indústria cinematográfica, televisão mundial, plataformas de videogames e outros meio audiovisuais. Estabelecida desde 2010 em São Paulo.
Edeli disseca o procedimento que percorre um filme até o estúdio de gravação. "Antes que um script entre em produção, ele percorre um longo caminho dentro da empresa, desde o atendimento ao cliente, orçamento, aprovação de valores e prazo de entrega e recebimento. Tudo concordado, inicia-se a produção da peça", conta a empresária.
Logo após, segundo ela: "chegam vídeos e script originais em sua língua oficial, ambos são enviados para a tradução; já com as falas traduzidas, passa para o 'marcador de anéis, essa pessoa é responsável, por fazer uma marcação no script de 20 e 20 segundos, numerando-os de 01 no início da primeira fala até o último número no final da última fala, existe um cronômetro na tela para que isso seja feito", assim o dublador saberá a hora exata em que sua fala aparecerá, e os anéis ajudam também a contabilizar quantas horas de escala é preciso para cada ator, que vai determinar quanto será pago. Cada grupo de 20 anéis representa uma hora de dublagem (o dublador recebe por hora).
Outro ponto importante citador por Cassius é o tal do "boneco", que é determinado por dublar inúmeras vezes o mesmo ator ou atriz. "Por exemplo, quando pensamos no personagem Nick Fury dos Vingadores, logo lembramos da voz do dublador. Assim é com o Homem de Ferro. Isso é Boneco".
Cassius passa por situações de apego em relação a um personagem, o que pode colaborar com a sua performance: "Eu mesmo me conectei ao Negan; só não podemos agir como tal, mas ter um apego no bom sentido, ajuda muito também na integração e interpretação com o personagem".
No dia 31 de outubro, começou no Rio de Janeiro o campeonato mundial de Counter Strike: Global Offensive, reunindo as melhores equipes e jogadores do cenário de um dos jogos mais tradicionais do mundo. O torneio vem ao Brasil pela primeira vez em sua história, com 24 equipes participantes do mundo inteiro. Entre elas, as brasileiras Imperial, 00Nation e FURIA, além da sul-americana 9Z.
Também estreia no IEM Rio Major 2022 a presença de público nas duas primeiras fases do campeonato, inédito na história dos mundiais. Normalmente, esses jogos são realizados em hotéis ou arenas menores, enquanto no campeonato atual, serão divididos entre com ou sem público. A “Challengers Stage” e “Legends Stage” ocorrem no Riocentro, com capacidade para 10.000 pessoas. Essas fases são formadas pelo Formato Suíço, em que o time que consegue três vitórias, ou três derrotas, será classificado, ou eliminado. Apenas as equipes com o mesmo recorde podem se enfrentar.
O evento conta com lojas da organizadora e patrocinadora ESL, anteriormente conhecida como Electronic Sports League, que vende uniformes, acessórios e merchs das equipes com preços de R$150 a R$280 e um fácil acesso à comidas e banheiros no Riocentro.
Para a próxima fase, onde ocorrerá o mata-mata, será jogado na Jeunesse Arena, com um público previsto de 20.000 torcedores. A premiação do campeonato é avaliada em 1 milhão de dólares, aproximadamente R$5.000.000;
A narração e coordenação da torcida no evento conta com o streamer Alexandre Borba, mais conhecido como Gaules. O brasileiro é o mais seguido do mundo na plataforma Twitch, com mais de 15 milhões de seguidores e transmite os jogos em seu canal para uma média de 200 mil pessoas. Além de Gaules, a “Tribo”, grupo de outros streamers e influenciadores organizados por ele, participa da transmissão, seja com reportagens, entrevistas ou comentários.
Outro ponto a se destacar é o público brasileiro, mais conhecido como “La Tribonera”, apelido dado por Gaules, sendo elogiado por grande parte dos jogadores pelo barulho excessivo e paixão pelo jogo, como Oleksandr "s1mple" Kostyliev, ucraniano eleito o melhor do mundo em 2021, descrevendo a torcida brasileira em seu twitter como “A melhor do mundo, eu amo vocês”, além do russo Dzhami "Jame" Ali, que comparou com a plateia europeia “Sempre fui tratado na Europa como vilão, e diziam pra mim ‘Vá se foder’, enquanto aqui, gritam e comemoram meu nome, me sinto muito bem”, à Liminha, em live de Gaules.
Porém, a torcida brasileira também têm sido alvo de polêmicas e sanções da ESL. No Counter-Strike, há a opção de ver a silhueta do personagem para facilitar ao telespectador entender a partida, como um raio-x. Contudo, muitas vezes o público gritava aos jogadores, que não possuem acesso ao sistema, a posição e estratégia dos adversários, fazendo a organizadora retirar o xray e o mapa do jogo na transmissão do Gaules.
Explicação do Sistema Suíco. Foto: Reprodução / GOAL
Exemplo da visão do telespectador. Para o jogador, não há silhuetas. Foto: Reprodução / ESLCSGO
Com isso, internautas do mundo inteiro criticaram massivamente a torcida brasileira: ”Vai ser tão bom quando todos os times brasileiros forem eliminados, então essa torcida nojenta irá acabar“ escreveu um torcedor no Twitter.
Alexandre desabafou após as medidas: “Peço desculpas à maior transmissão de Counter-Strike do mundo por não estar podendo assistir com xray e mini-mapa. Pra nós, é sempre mais difícil”, e complementa com o lema que viria a ser utilizado pelos brasileiros durante o campeonato “Eles não vão entender nunca o que é ser brasileiro e traduz para eles essa p#rra”.
Gaules com “La Tribonera” ao fundo em jogo da FURIA. Foto: Divulgação / Gaules
Foto destaque: Torcida brasileira no IEM Rio Major 2022. Foto: Reprodução / theMAKKU.
Escritório lotado, telefones tocando, televisão ligada, vozes intercalando-se e barulhos do teclado do computador são as primeiras características notadas ao chegar na Agência MTC assessoria de imprensa, localizada no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. A empresa especializada em assessoria e relações públicas atende clientes do meio de entretenimento e das artes como cantores, atores e principalmente influenciadores digitais.
O dia-a-dia dos funcionários baseia-se em cada demanda e necessidade do agenciado no momento. ''Cada dia preciso estar em um lugar diferente, seja na própria agência ou em alguma externa como uma sessão de fotos, a gravação de um programa de TV, o lançamento de alguma marca. Sempre acompanhando o artista, auxiliando a imprensa presente’’, explica a estagiária Lívia Almeida, que está a quase dois anos na empresa.
Como estudante do último ano de Relações Públicas na Fundação Cásper Líbero, Almeida diz que as áreas possíveis em sua profissão são diversas, mas foi na assessoria de imprensa que ela encontrou-se e descobriu um mundo dos bastidores dos influenciadores digitais que se encontrou.
A estagiária entra em seu trabalho às treze horas da tarde e encerra o expediente às dezenove horas. Quando ela precisa fazer alguma pauta externa, passa o dia fora acompanhando aquela diária, porém quando o trabalho é interno ela alterna entre o home office e a presença no próprio escritório da agência.
‘’Acredito que quando lidamos com a assessoria de imprensa de artistas, estamos trabalhando com sonhos, é a construção de uma carreira e a inserção dessas pessoas nos meios de comunicação. Tem que ter uma atenção minuciosa aos detalhes e ser proativo para trazer os melhores resultados possíveis’’, pontua Almeida.
Mayara Oliveira, coordenadora da assessoria de quatro artistas da Agência MTC, inicia seu expediente às dez da manhã. Ao longo do dia, monitora todos os grupos com os artistas que cuida como assessora, para saber se tem alguma novidade de agenda, alguma crise acontecendo ou alguma atividade externa para ir. Normalmente, seu dia é cheio de reuniões para alinhar demandas para algumas entrevistas e futuros projetos e eventos que irão acontecer.
Ao mesmo tempo, Oliveira também precisa ficar o dia todo em contato com jornalistas de diversos veículos para conseguir incluir seus clientes em pautas de veículos importantes. A assessora é atarefada de alinhar coletivas de imprensa, os veículos que vão contatar, quais assuntos vão debater e checar com os artistas a disponibilidade para atender a imprensa. Ao final do dia, ainda tem que reunir tudo aquilo que fez e anotar, para no dia seguinte dar continuidade e continuar as estratégias de comunicação.
Como assessora de imprensa da Agência MTC, Mayara Oliveira conta que a rotina de alguém que trabalha na área é muito diversa e requisita muita disposição: ela precisa lidar com o gerenciamento de crises, pois não tem hora para sair e nem entrar; precisa se dedicar 24 horas para amenizar a situação e sair dela o mais rápido e da melhor forma possível; é necessário estar disposta a acompanhar os artistas em alguns eventos a qualquer hora do dia.
Por outro lado, a assessora diz que esse ramo do jornalismo abriu novas portas em sua vida: “Obtive a oportunidade de conhecer vários artistas que admiro e sou fã, indo em shows, programas e eventos com eles, lado a lado. É um universo muito diverso, que te leva para diversas áreas, e quando se trabalha com artistas é uma explosão de cultura e conhecimento do universo das celebridades que me faz muito feliz”.
Diante de uma rotina movimentada e exaustiva com muitas interações no mundo jornalístico, o ramo da assessoria de imprensa continua sendo necessário e altamente requisitado. Porém, Mayara e Lívia, mesmo tendo encontrado prestígio na profissão em uma área que não é bem valorizada no meio da comunicação, persistem ao enfrentar os desafios presentes em suas rotinas.

Na segunda-feira, 17, a primeira mesa da Semana da Diversidade foi composta por William de Lucca, apresentador do podcast “ Nos armários dos vestiários” e um dos fundadores do coletivo LGBTQIA+ “Palmeiras Livre”; Nathan Mouro, representante do coletivo “Porco Íris”; Tayna Fiori, jornalista e produtora de futebol feminino na TNT Sports Brasil; e Gabriel Paes, administrador da página “Quebrando o Tabu”. O mediador da mesa foi o jornalista e também representante das causas LGBTQIA+ no futebol brasileiro, João Abel.
De Lucca mencionou os ataques que sofreu em suas redes sociais, em 2018, após criticar o canto homofóbico da torcida palmeirense em jogo contra o São Paulo, e relata muitas ameaças online, inclusive, de morte. Mas o apresentador reiterou que, apesar da violência enfrentada pelas pessoas LGBTQIA+, não deixará a militância: “Eu sou um homem homossexual, jornalista e vou ocupar o espaço que acho que tenho que ocupar, e as arquibancadas são um espaço de todo mundo".

Nathan, ativista da causa, diz que o "Porco Íris" foi fundado em 2019, com o objetivo de criar um lugar que não existia para a comunidade LGBTQIA+ dentro dos estádios, e afirma que este é “um espaço que ainda precisa ser ocupado". O coletivo já levou a bandeira de representatividade em dois jogos do Palmeiras antes da pandemia, mas, desde a volta aos estádios, ainda não puderam fazê-lo novamente.
O "Palmeiras Livre" também já foi pro estádio com as bandeiras arco-íris, porém somente em jogos femininos. O motivo disso, consensual entre os palestrantes, é de que a discussão sobre a LGBTfobia é muito maior na liga feminina.
“O futebol feminino é um cenário que engloba e aceita muito mais”, diz Tayna.

a homofobia no esporte.
“Eu acho que a gente precisa dar tempo pra gente sofrer”

Na terça-feira, 18, o debate foi sobre a “ Psicofobia, banalização e romantização de transtornos mentais” e contou com a presença de Luana Alves, trabalhadora da saúde e vereadora em São Paulo; e Bruno Branquinho, psiquiatra com foco na saúde mental da comunidade LGBTQIA+.
Luana mencionou que a aceitação e o interesse em discutir transtornos mentais é resultado de uma luta mais antiga, a antimanicomial. Para ela, “prender” um indivíduo no manicômio é um dos passos da violência e da discrminação, mas que “negar direitos, desumanizar, desconsiderar aquela pessoa enquanto uma pessoa que tem opiniões” fazem parte, também, da lógica de exclusão, e são formas de deslegitimar a identidade do indivíduo.
Branquinho acredita que o conhecimento atual sobre os transtornos psíquicos têm ajudado a quebrar as barreiras do preconceito em relação à psiquiatria, mas que, por outro lado, há uma “patologização” excessiva de situações que não são transtornos.

“A gente precisa dar tempo pra gente sofrer, dar tempo pras nossas emoções, na verdade. Talvez não seja patológico, talvez seja o tempo que você precise”, orienta.
“ Ninguém dá valor à carne indígena, dão valor à terra indígena”
O tema discutido no terceiro encontro, 19, destacou a representatividade indígena, principalmente, na educação. Daniela Reis, coordenadora do programa social "Pindorama" - criado em 2001 pela PUC-SP para oferecer bolsas de estudo para alunos indígenas -, diz que, além das dificuldades financeiras para permanência dos alunos indígenas nas universidades, têm questões relacionadas à manutenção das culturas e ao reconhecimento étnico, que também precisam ser enfrentadas.

Álvaro Gonzaga, indígena e professor de Direito na PUC-SP , relata que o preconceito em relação à formação de indígenas está relacionado à ideia de primitividade e que, por outro lado, a universidade significa universalidade.
Álvaro menciona que todo o processo de incorporação do indígena nas cidades foi feito de forma a subalternizar esses corpos, colocando-os em uma posição sempre abaixo dos outros. “Ninguém dá valor à carne indígena, dão valor à terra indígena”, declara.

“É necessário que a nossa geração entenda que houve um grupo que lutou pela constituição, mas que existe um outro que precisa lutar pela implementação dela”, finaliza Gonzaga.
“ Se Deus é por nóis quem será contra nóis?”

Na quinta-feira, 20, o tema abordado foi a elitização da cultura, principalmente o funk. Para Thiagson, professor de música clássica e doutorando em Funk, todas as produções pretas e periféricas sempre trabalharam em um espaço de precariedade, e isso resultou no processo de desmerecimento de tudo aquilo que é popular.
Além dessa precarização, Lorrany, DJ desde 2013, também cita o “embranquecimento” das letras como uma forma de tornar essas produções um pouco mais elitizadas. “Eu não toco as mesmas músicas em festas de branco que eu toco na quebrada porque a galera branca se ofende”, compartilha.

Thiagson acrescentou que esse processo de embranquecimento parte, muitas vezes, de um cancelamento do funk por setores progressistas da sociedade, principalmente, pelo feminismo, mas um feminismo branco. “Eu não sei se essa coisa de objetificação do corpo assusta uma mina de quebrada, porque o corpo na favela já é objetificado, não só em relação ao sexo, mas também em relação ao trabalho”.
O professor ainda menciona que a música vai muito além de uma experiência auditiva, já que ela também carrega um estigma social.
“Levantar uma bandeira é ser atacado dia sim, dia também”

A última mesa do evento aconteceu na sexta-feira, 21, formada por Jonas Maria, palestrante sobre diversidade e gênero; Jacqueline Rocha, ativista em causas de inclusão, como a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); Marina Daquanno Testi, estudante de jornalismo e pessoa não-binárie; e Alexandre Makhlouf, jornalista e produtor de conteúdo de pautas identitárias.
Na discussão sobre o ativismo LGBTQIA +, Alexandre Makhlouf, mediador da mesa, falou sobre a hostilidade que os indivíduos da comunidade sofrem. “Levantar uma bandeira é ser atacado dia sim, dia também”. Ele ainda relatou que, muitas vezes, só não sente medo de sofrer algum tipo de violência na rua com seu companheiro por conta da “passabilidade heteronormativa” com que são identificados. “Somos dois homens que, se você não abrir a boca e fizer a gente rir, você não sabe se a gente é gay ou não”.
Sobre os ataques que as pessoas LGBTQIA+ sofrem, Jonas conta que foi alvo antes mesmo de compreender sua sexualidade. "Na escola, eu era chamado de sapatão, mas não sabia o que era isso, então chegou antes de mim".
A respeito da provável representatividade que as bandeiras provocam na sociedade, Maria acredita que apesar das discussões sobre identidade não aderirem totalmente ou restringirem-se às bandeiras, percebe que elas possuem uma funcionalidade social. “A gente usa as bandeiras porque elas nos servem socialmente para nos conectar com outras pessoas, mas não se reduz a isso”.