Grande nome da luta antirracista, pensadora reforça sua aliança com vozes progressistas do Sul Global
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
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06/05/2025 - 12h

Uma das principais vozes do feminismo negro, Angela Yvonne Davis, fez parte do grupo revolucionário “Panteras Negras” e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Além disso, foi amiga de Herbert Marcuse, um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt. Marcuse foi seu orientador durante o tempo em que ela passou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a incentivou a explorar suas ideias revolucionárias de forma mais profunda. Ele foi uma grande influência sobre seu entendimento do socialismo, feminismo e teoria crítica. "A liberdade é uma luta constante. Não há fronteiras para a luta pela liberdade", diz trecho do livro "A liberdade é uma luta constante”, um de seus livros de grande repercussão.

Angela Davis tem uma forte ligação com a música, especialmente com o jazz. Ela costumava frequentar os clubes de jazz em Los Angeles e é fã de artistas como John Coltrane e Miles Davis, cujos trabalhos influenciaram sua visão artística do mundo. Além disso, Davis mantém uma profunda admiração pelo Brasil. Suas visitas ao país ao longo dos anos, revelam não apenas um interesse político, mas também um verdadeiro afeto pela cultura brasileira e pelos movimentos sociais locais. “Tive a oportunidade de conhecer Lélia Gonzalez, e minha percepção é que nós temos muito o que aprender com os movimentos do Brasil”, disse ela em sua passagem a São Paulo em 2019 durante sua participação em um ciclo de debates e palestras que aconteceu também no Rio de Janeiro.

Ela reconhece no Brasil um território fértil para o debate sobre raça, gênero e justiça social  “Há uma vibração, um pulso coletivo nos jovens, principalmente nas mulheres negras e jovens, que é muito grande”, diz Davis. Esse carinho pelo país latino-americano se estende desde 1997, quando esteve pela primeira vez em nosso solo, mais especificamente na Bahia, em evento que celebrava o legado da ativista negra Lélia Gonzalez. No geral, em todas as suas passagens pelo país, participou de conferências, encontros com lideranças de movimentos negros e feministas, além de fortalecer laços com intelectuais e artistas comprometidos com a transformação social.

Davis afirma ver no país uma esperança para a luta das mulheres negras e não enxerga a necessidade de buscarem nela uma referência para o feminismo negro, quando ela mesma aprende com figuras como Marielle Franco, Carolina de Jesus e Lélia. Também se posicionou incisivamente diante de questões políticas brasileiras. Durante o lançamento de sua autobiografia “A liberdade é uma luta constante”, pela editora Boitempo, em 2019, se mostrou atenta ao cenário nacional ao defender a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República. No mesmo evento, Davis pediu justiça por Marielle Franco, que havia sido vítima de assassinato no ano anterior. 

Angela retornou ao Brasil, em 2024, para participar da abertura da terceira edição do Festival LED falando sobre a educação como ferramenta para a libertação, momento em que exaltou outra figura brasileira: Paulo Freire, dizendo o considerar o maior educador do mundo. Durante o evento, também se posicionou contra a PL Antiaborto, que estava em discussão na época, e a retirada do livro “O menino marrom” de escolas municipais de Minas Gerais. Afirmou que esses movimentos fazem parte de um crescimento conservador que vem afligindo todo o mundo.

Pesquisa aponta redução de cerca de 7 milhões de leitores no Brasil nos últimos quatro anos
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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10/05/2025 - 12h

No dia 23 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, a homenagem aos autores e obras contrasta com um cenário preocupante: o Brasil está lendo menos. Dados da 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, revelam uma redução de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos, reacendendo o debate sobre os desafios de manter a leitura como hábito em meio a transformações culturais e digitais. Em 2024, a pesquisa apontou que 53% da população, o que corresponde a 93,4 milhões de pessoas, é composta por não leitores. Isso significa que mais da metade dos brasileiros não leu um único livro, e nem mesmo parte dele, nos últimos três meses. 

“São fatores multifacetados. Não é um único problema. Acho que a queda na leitura do povo brasileiro reforça questões estruturais como, por exemplo, a desigualdade social", diz Bruna Martiolli, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade do Minho, em entrevista à AGEMT.

Ela reforça que questões estruturais, como a desigualdade social, impactam diretamente o acesso à leitura. Segundo a pesquisa, um dos principais pontos é a disparidade entre as classes sociais. Enquanto 3 milhões de pessoas da classe A são consideradas leitoras (62% desse grupo), nas classes D e E, apesar de o número absoluto ser maior — 19 milhões —, o índice proporcional cai para apenas 35%.

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Foto: Reprodução/Retratos da Leitura no Brasil 


Em Portugal, por exemplo, o público tem consumido cada vez mais livros, registrando um aumento de 9% nas vendas de 2024 em relação ao ano anterior, segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Em entrevista à revista Executive Digest, o presidente da APEL afirmou que este fenômeno é fruto de um esforço coletivo que envolve pais, educadores, autores, organismos públicos e, inclusive, a influência de criadores de conteúdo. Enquanto os portugueses estão tirando proveito das mídias digitais, o Brasil enfrenta barreiras que vão muito além das distrações das telas. Para a professora Bruna, essa contradição revela que o problema na queda da leitura dos brasileiros não se resume a fatores como globalização ou ao uso cada vez maior das redes sociais.

“A gente lida com um país que vive no auge da desigualdade social. A falta de acesso a livros é um problema, e a falta de interesse em ler é outro”, diz ela, que reforça a falta de espaços de incentivo à leitura, como bibliotecas públicas e comunitárias no Brasil, até os altos índices de analfabetismo que persistem e excluem milhões. 

Interesse pela Leitura

Mesmo em um mundo dominado pelo digital, Bruna Martiolli diz não ter “a menor dúvida de que a literatura não corre perigo algum”, pois "por mais globalizados e conectados que estejamos, os seres humanos não conseguem abrir mão daquilo que faz parte da sua essência — a busca pelo sentido, beleza e reflexão da vida. Cedo ou tarde, a literatura encontra o seu lugar", garante. Ainda que o interesse imediato pareça diminuir entre os mais jovens, o fascínio pela leitura, que se mantém desde o surgimento do livro, nunca desapareceu; o encanto apenas se manifesta em momentos diferentes para cada leitor.

Como é o caso da influenciadora digital e apresentadora Giovanna Souza, conhecida como Gih Souza nas redes sociais. “Na minha escola, existia aquele estereótipo do ‘nerd’ que fica lendo. E eu pensava: ‘Não vou ler, não vou ser a nerd que fica lendo’. Deixei esse meu lado pra lá e, na pandemia, comprei um Kindle [aparelho para leitura digital]. Eu falei: ‘Vou voltar a ler’, e comecei a ler muito”, orgulha-se.

O Kindle, dispositivo que permite o acesso e a leitura de diversas obras, é um exemplo da popularidade do mercado de livros digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen BookData, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, 30% dos leitores brasileiros compraram livros tanto em formato físico quanto digital no ano de 2024, enquanto 14% optaram exclusivamente pelo formato digital.

O que os criadores de conteúdo digital tem feito para aproximar os jovens da leitura é adaptar, ou “mastigar”, uma obra para os usuários e seus seguidores, por meio de storytellings que funcionam para as redes sociais e para o universo dos algoritmos e vídeos curtos. “Acho que elas [as adaptações] incentivam, sim. Tanto que meus maiores vídeos são quando eu faço resumo dos livros. Às vezes as pessoas gostam de ler para realmente comentar sobre. Gera curiosidade para leitura”, disse Giovanna.

O TikTok, aplicativo chinês famoso pelos vídeos curtos e por ditar as novas tendências na internet, tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens. Dentro da rede social, surgiu o movimento “BookTok”, impulsionado por influenciadores digitais, em vídeos são publicados para compartilhar o que o criador está lendo, recomendações e discussões de livros, além de edições e montagens com cenários e roteiros diversos que, das formas mais criativas, incentivam a leitura. 

 

@_gihsouzaf A pergunta de milhões pós #culpatuya é : qual a data de culpa nossa? #culpables #culpamia #nicolewallace #gabrielguevara #culpamiaedit ♬ som original - Gih
A aceleração virou hábito: vídeos em 2x, informações em avalanche e menos tempo para processar o que realmente importa
por
Maria Dantas Macedo
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05/05/2025 - 12h

Cada vez mais pessoas estão consumindo vídeos em velocidade acelerada — 1.5x, 2x, até 3x. A promessa é ganhar tempo. Mas será que estamos realmente aproveitando esse tempo extra? Nesta entrevista em vídeo, vamos investigar como esse comportamento afeta nossa compreensão, saúde mental e a qualidade da informação absorvida. Confira!

 

Em uma discussão sobre tempo e lembranças, Maria Flor e Maria Matilde mostram como o tempo transforma as memórias
por
Isabela Fabiana
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05/05/2025 - 12h

Qual é a sua primeira lembrança do dia de hoje? Pensou? A minha é de acordar e se sentir muito cansada. Mas qual a diferença de lembrança e memória? Será que é o tempo que define? Mas o que é o tempo? Ai estou tão sem tempo! Nem lembro o que comi ontem. Será que comi? Será que estou esquecendo das coisas? E se quando eu ficar idosa eu esquecer de Tudo? Calma, como diz Renato Russo: "temos todo tempo do mundo".

Para essa discussão vamos conversar com dois opostos, mas definitivamente iguais. Maria Flor, 8 anos, e Maria Matilde, 91. Sejam todos bem-vindos ao episódio 01 de Memórias de uma velha infância. Para ouvir o restante do podcast click no vídeo abaixo!

O tempo passa e as memórias também. O esquecimento nos assombra, ele vai chegar. Não é sobre esquecer quem você é, e sim sobre não lembrar das pequenas memórias que você viveu. Maria Flor lembra detalhadamente dos seus primeiros anos, maquiagem escondida da mãe e de seus primeiros aniversários. Maria Matilde até lembra da infância, mas principalmente se recorda dos sentimentos e lições que a formou na vida. O tempo é uma grandeza física, ele é relativo, mas, por favor, não tenha medo dele. Me despeço agora, assim como as memórias de uma velha infância.  

Esporte símbolo do país se torna palco para discussões sobre punições indevidas
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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05/05/2025 - 12h

A crescente intervenção nas atividades do futebol brasileiro, marcada por regras excessivas e conflitantes, têm transformado a modalidade nacional. A criação de novas regras em eventos tratados como "brincadeiras" do esporte e falta de atenção em casos que impactam o bem-estar dos atletas tem se tornado cada vez mais comum.

 Em entrevista à AGEMT, o jornalista esportivo da Record Bruno Scaciotti comentou a repercussão dos casos e refletiu sobre as mudanças no esporte nacional. "A partir do momento que você impõe as regras, é porque existe uma iniciativa de melhorar o jogo. De criar novos meios para melhorar a competição. A questão é quando você tem esse aumento exacerbado num período muito curto. Nesse caso começamos a nos preocupar", explica Scaciotti. 

Durante a final do Campeonato Paulista de Futebol, o jogador corinthiano Memphis Depay ganhou repercussão nas redes após praticar uma pequena brincadeira comum dentro do esporte. O atleta acabou subindo na bola por alguns segundos, pressionando ainda mais os adversários. O confronto entre seu time e o Palmeiras já estava decidido e a ação foi realizada ao longo dos minutos de acréscimo. Apesar de não ser notificado no momento e a movimentação ser considerada uma diversão pela comunidade futebolística, a confederação resolveu em poucos dias tornar a prática plausível de um cartão amarelo. 

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Memphis Depay subindo na bola durante final do Paulista 2025 (Foto: Reprodução/X)

Poucos dias depois, durante um confronto do Sub-17, entre Brasil e Colômbia, o jovem Ruan Pablo – que marcou um dos gols da vitória – repetiu a movimentação, já recebendo um cartão amarelo como punição. A decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) veio pouco menos de uma semana depois. O documento enviado aos clubes brasileiros declara que todos os jogadores que subirem com os dois pés na bola como ato de provocação devem ser punidos com uma marcação amarela e o árbitro deve marcar tiro livre indireto.

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Ruan Pablo subindo na bola durante o confronto do Sub-17 (Foto: Reprodução/Sportv)

A CBF argumenta que a ação “gera impactos negativos ao nosso esporte e provoca transtornos no ambiente de jogo, produzindo confrontos generalizados”. A nova regulamentação utiliza uma interpretação específica da cláusula “infrações por conduta antiesportiva”, indicando que a prática é um desrespeito ao futebol – ato condenável na modalidade. A rapidez na aprovação das novas regras gerou revolta na comunidade e nos amantes do futebol por se tratar de uma banalidade e expor que a atenção em casos verdadeiros não está sendo efetiva. 

Ao redor mundo, o número de casos de racismo nos jogos tem aumentado e nos embates brasileiros isso não foi diferente. Porém, essas ocorrências não receberam nenhuma instituição de  penalidade ou política de acolhimento criada.  Como Contraponto, o jornalista esportivo esclarece a matéria que a falta de união entre os próprios jogadores em momentos como a aprovação dessa nova penalidade também influencia o cenário geral do futebol. 

"A hiper-regulamentarização impacta na postura deles. Mas, a gente também sente falta de um movimento dos próprios atletas para questionar a CBF, como nos casos de falta de profissionalização de árbitros ou em mudança de regra. Hoje ainda não vemos a criação de uma associação dos atletas, ou algo assim, para lutar pelos direitos deles, por exemplo”, completa Scaciotti.

Caso de racismo sem punições

Recentemente, um caso de racismo que tomou grande proporção na mídia foi o de Luighi, jogador da base do Palmeiras. O jovem recebeu ataques racistas diretos de torcedores do time paraguaio “Cerro Porteño” em uma partida válida pela Conmebol Libertadores sub-20. Ao ser substituído, o atacante brasileiro viu um torcedor que carregava uma criança no colo fazer gestos de macaco direcionados a ele, e os outros cuspiram no atleta pelo alambrado do campo. Na hora, o menino já começou a chorar indo em direção ao banco. Em entrevista ao Fantástico, Luighi comentou: “Eu não me aguentei. Fiquei com muita raiva. Fui nos policiais que estavam do lado. Falei: ‘vocês vão deixar ele falar isso daí para mim? Vocês não vão fazer nada?’ E eles só olharam para mim, de mão cruzada e não fizeram nada”, “O árbitro, ele só pedia para eu sair do campo. Parecia, tipo, que não ligava para o que aconteceu.”, completou o jovem.

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Luighi chorando na entrevista pós jogo. (Foto: Reprodução/Goat)

Após tamanha repercussão, clubes como São Paulo e Corinthians prestaram solidariedade ao jovem, emitindo uma nota em seus perfis oficiais. Não só clubes como jogadores também. Depois do ocorrido, como forma de resposta, a Conmebol multou o clube paraguaio em 50 mil dólares (aproximadamente $285 mil reais), proibiu a presença de público nos jogos da equipe no restante da competição e decretou que o time promovesse uma campanha de conscientização sobre o racismo nas redes sociais. 

"A CBF tem que ter uma regulamentação mais forte quanto a qualquer tipo de preconceito, seja machismo, homofobia ou qualquer outra violência. E isso tem que se tornar punições graves, gerar algo muito além do que uma ‘multinha’ de 20 mil reais para clubes que recebem milhões e bilhões. Temos que ter punições de perda de mando, redução de público etc. E os árbitros também precisam ser orientados, eles precisam ter noção, situar o que ocorreu e justificar na súmula”, explica o jornalista.

Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, discursou sobre o racismo durante o evento de sorteio da fase de grupos da Copa Sul-Americana, e disse às medidas que seriam tomadas. Mas a equipe Alviverde discordou por meio de nota oficial, considerou que as medidas são "extremamente brandas" e "inócuas" diante da gravidade dos fatos, além de serem "insuficientes para combater casos de racismo no futebol sul-americano".

O desequilíbrio está na falta de ações para casos desse nível de gravidade como o racismo, e a facilidade na criação de regras quando se trata de brincadeiras futebolísticas dentro de campo. "É de extrema importância não só a CBF ter essas decisões mais duras, mas as diretorias estarem de olho no que acontece". termina Bruno.

 

Organizado por 16 entidades, o evento aconteceu nesta terça-feira (27) na PUC-SP
por
Maria Ferreira dos Santos
Sônia Xavier
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28/09/2022 - 12h

Muitas vezes o exercício jornalístico envolve a investigação e a publicação daquilo que determinados grupos não querem que seja revelado, o resultado disso é a perseguição a esses profissionais.

Ontem (27) o “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” destacou um grupo específico de perseguidores e perseguidos: os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e mulheres jornalistas. 

 

Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos

De acordo com a Fenaj ( Federação Nacional dos Jornalistas), uma das associações convocadoras do ato, o ano de 2021 registrou recorde de registros de ataques aos profissionais e aos veículos de comunicação. Cerca de 34,19% desses ataques foram promovidos pelo próprio presidente da República.

 

Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj
Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj

As jornalistas Patrícia Campos Mello e Bianca Santana, vítimas desse desrespeito do presidente Bolsonaro e seus apoiadores, estiveram presentes no encontro de maneira remota. Em sua fala, Patrícia relembrou a série de ataques que sofreu em 2018, após a publicação da série de reportagens sobre campanhas de desinformação.

Patrícia ainda relatou que as agressões iam de montagens de fotos a ataques diretos a sua integridade física. “Pessoas que ligavam pro meu celular dizendo que iam dar um murro na minha cara, mensagens dizendo que eu deveria sair do país se quisesse a segurança do meu filho [...] chegou um momento que eu não podia sair de casa porque eu tinha medo”, desabafou.

Em conjunto com a Fenaj, outras organizações convocaram a cerimônia, sendo essas: o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP),  Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Centro Acadêmico Vladimir Herzog (Cásper Líbero), Centro Acadêmico Benevides Paixão (PUC-SP). Ademais, tiveram a participação de corporações da sociedade civil entre eles o Grupo Prerrogativas, CONDEPE(Conselho Estadual de direitos da Pessoa Humana), OAB e o Grupo Tortura Nunca Mais.

A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos
A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos

A mesa foi presidida por Cláudia Tavares, integrante da diretoria do SJSP, e foi composta por  Fábio Cypriano, diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC (Faficla), Diogo de Holanda, coordenador do curso de jornalismo da universidade, Thiago Tanji, presidente do SJSP, Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (que representou também todas as demais entidades organizadoras do evento), Ana Amélia Camargos, representante do grupo prerrogativas, Natália Cristóvão, advogada da OAB, Ariel de Castro Alves, advogado representante do Grupo Tortura Nunca Mais e a vice-diretora do Centro Acadêmico Benevides Paixão (BENÊ), Maria Clara Alcântara. 

Na sua fala, Maria Clara apontou a importância da defesa da democracia para o jornalismo brasileiro. "É impossível fazer jornalismo num país que não exista a democracia, principalmente como mulheres, porque eles atacam a gente não somente pela profissão, mas duvidam do nosso caráter e nos atacam diariamente no âmbito pessoal e profissional”, afirmou a estudante.

Sob essa perspectiva, a organização do evento exibiu um vídeo com depoimentos de oito jornalistas mulheres, de diferentes veículos, sobre as violências que sofrerem devido ao seu gênero e sua carreira. A gravação contou com depoimentos de Carla Vilhena, Flávia Oliveira , Josi Gonçalves, Amanda  Audi, Paula Guimarães, Tatiana Dias, Tai Nalon e Juliana Dal Piva.

As mulheres viraram o principal foco dos ataques direcionados à imprensa, retrato que se ampara na misoginia da sociedade brasileira. A situação fica ainda mais tensa e intensa, como apontou Flávia Oliveira, d’O Globo, se a profissional for negra.

O depoimento de Bianca Santana foi o último a ser apresentado e logo depois a representante da Abraji, Cristina Zahar leu o documento preparado pelas entidades organizadoras que lembrou os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, enquanto realizavam seu trabalho na Amazônia em junho deste ano. 

Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 

O evento aconteceu no TUCA, teatro da universidade, na 5a.feira - 22/09, e contou com a participação de representantes da sociedade civil e da comunidade universitária.
por
Maria Ferreira dos Santos
Artur dos Santos
Danilo Zelic
Yasmin Solon
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23/09/2022 - 12h

De 1964 a 1985, o Brasil estava sob regime militar e, por isso, havia forte repressão a qualquer movimentação política. Com isso em mente, em 1977, estudantes se organizaram para driblar os militares para que conseguissem realizar o III Encontro Nacional dos Estudantes (ENE), organizado pela UNE (União Nacional dos Estudantes), marcado para o dia 22 de setembro. O plano de fazer com as tropas acreditassem que o evento estaria acontecendo na USP foi bem sucedido por um tempo, mas assim que descobriram a manobra a infantaria tratou de ir ao local verdadeiro.

Ao encontrar os universitários reunidos diante do TUCA (Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), os militares começaram a dispersar as pessoas com extrema violência, aos que participavam do Ato restou passarem por uma “triagem”, para identificar seus antecedentes e serem ou não conduzidos ao Departamento de Ordem e Política e Social (DOPS). O ambiente passou de um ato de resistência para um centro de tortura e violência a céu aberto. Como relembra o então aluno e agora  professor do curso de jornalismo na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Norval Baitello. “Entraram para quebrar mesmo”,afirmou em entrevista à AGEMT sobre as salas de aula e equipamentos destruídos pelos agentes.

Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.
Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.

A memória marcante do docente é compartilhada entre as demais pessoas presentes durante essa violação. Com o objetivo de evocar essas lembranças, a PUC-SP em parceria com o Prerrô (Grupo Prerrogativas) e o Washington Brazil Office realizou o “PUC pela democracia” nesta quinta-feira (22), há exatos 45 anos do desrespeito militar.

Uma apresentação do Coral do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras) abriu o ato, mediado pelo jornalista Chico Pinheiro, enquanto a Bateria 22, do curso de direito, tocava em frente ao TUCA. Na presença de figuras importantes na luta pelo Estado Democrático de Direito, como ex-ministros, professores e estudantes da época da invasão, a PUC-SP declarou estar em “estado de vigilância permanente pela democracia”. 

Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.
Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.

A maioria das pessoas que discursaram na cerimônia frisou a questão das prisões e perseguições do Regime Cívico Militar e, consequentemente, sofridas pelos militantes da instituição. O público prestou homenagem aos estudantes assassinados durante o período e demonstrou repulsa e resistência ao governo Bolsonaro e suas ações antidemocráticas.“As mesmas forças que tentaram invadir a PUC naquela época são as que ameaçam uma ditadura hoje. E nós não vamos aceitar isso”, declarou o jornalista José Arbex. No saguão do Tuca, estavam expostas fotografias da invasão de 1977, do fotojornalista Hélio Campos Mello.

Na ocasião, o jornalista Juca Kfouri afirmou estar emocionado, não só  pelo ato ocorrido naquele mesmo lugar há 45 anos, mas também pelo apelo sentimental ao se lembrar da tia, Nadir Gouvêa Kfouri, então reitora da Pontifícia. Isso porque quando Erasmo Dias, o coronel responsável pelo batalhão invasor e, na época, Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foi cumprimentar a professora, ela o deixou  “com a mão no ar”, pois não daria sua mão a assassinos. 

”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat
”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat

Outra notável personalidade da luta pelo fim da ditadura foi aclamada, a de Dom Paulo Evaristo Arns. “Quero dizer que, no dia da invasão, ela [Nadir Kfouri] foi a grande voz e esteve o tempo todo presente com dignidade excepcional. Deve ser modelo para todos nós”, afirmou a professora de direito Silvia Pimentel, também atuante durante o ocorrido em 1977. “A invasão foi, não apenas em função de movimentações nossas, mas relacionada à reitoria que a PUC tinha. Essa dupla [Dom Paulo e Nadir Kfouri] é o exemplo maior de toda uma vida”, completou.

Além de rememorar a invasão, outra temática do evento foi o cenário atual pelo qual a PUC-SP está passando. Há duas semanas, todo o corpo docente da universidade recebeu um salário com 10% a menos de seu valor integral. Unilateralmente, a Fundação São Paulo (FUNDASP), mantenedora da Pontifícia, computou 4,5 semanas mensais aos salários que eram calculados em cima de 5 semanas desde 1987 - tempo que o qualifica como Direito Adquirido dos professores.

A Associação dos Professores da PUC-SP classificou a medida de antidemocrática e contestou o corte. Em apoio, o Movimento Estudantil da PUC-SP realizou  no dia 15 deste mês um ato em solidariedade à causa dos professores com a união não só dos Centros Acadêmicos e Entidades Estudantis, mas dos três setores da Universidade: estudantes, professores e funcionários. Na ação foi questionada a conduta da FUNDASP, além de defendida a saída dessa da gestão da PUC, junto à saída do Gestor Padre Rodolpho Perazzolo de seu posto. 

Dentre os discursos do evento da manhã de 22 de setembro, uma carta redigida pelo Movimento Estudantil e lida por Camilo Mota, representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, apresentou indignação diante de tais condutas antidemocráticas da FUNDASP.  “A democracia não deve ser só dos portões pra fora”, afirma a carta. 

Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.
Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.

Próximo ao final do evento, a organização foi informada de que viaturas da Polícia Militar estavam em frente ao TUCA. Os policiais teriam sido acionados por uma transeunte que afirmou que um dos quatro meninos negros que estavam vendendo balas na região estaria portando uma faca. Estes meninos foram abordados, e, durante a revista, a advogada Jaqueline Pereira se disse responsável pelos menores.

Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.
Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.

Quando questionada de sua profissão, ela se recusou a entregar ao agente sua carteira da OAB, um dos policiais responsáveis pelo enquadro retirou o documento bruscamente das mãos de Pereira, que, por sua vez, o acusou de ser racista. Durante toda a deliberação e discussão sobre o ocorrido, diversos professores presentes se inteiraram do assunto. Durante o conflito, os meninos ainda não tinham sido liberados e estavam em linha, com as mãos atrás das costas. 

A polícia, não havendo encontrado a arma branca na posse de nenhum dos meninos, os liberou e, segundo fontes contaram à AGEMT, deu Voz de Prisão a Jaqueline Pereira, que, não querendo ir à delegacia de “camburão”, foi dentro de um carro de uma das testemunhas presentes durante a abordagem.

Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denùncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.
Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denúncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.

 

Apesar do destaque às eleições, o evento da Jeduca colocou em sua programação temas como Lei de Cotas, dificuldades educacionais na Floresta Amazônica, impactos da pandemia, entre outros.
por
Maria Ferreira dos Santos
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15/09/2022 - 12h

A Jeduca (Associação de Jornalista de Educação) realizou nos dias 12 e 13 neste mês o 6° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, que teve como tema “Eleições e a cobertura de educação nos próximos anos”. Entretanto, o evento também abordou assuntos como Lei de Cotas, o escândalo dos pastores no MEC, educação na Amazônia, entre outros.

Após dois anos sendo realizado de maneira online, a edição deste ano optou pelo formato híbrido, isto é, era possível assistir de casa as palestras que aconteciam no Teatro Fecap, localizado no Bairro Liberdade, em São Paulo.

17 atrações, entre palestras e oficinas, foram divididas ao longo desses dois dias.

Da esquerda para direita: Nelson Marconi, Rossieli Soares, Reginaldo Lopes, Antônios Gois e Renata Cafardo. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita: Nelson Marconi, Rossieli Soares, Reginaldo Lopes, Antônios Gois e Renata Cafardo. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

A primeira delas teve como eixo a relação da educação na disputa presidencial. Para isso, os jornalistas da Jeduca, Antônio Gois e Renata Cafardo, convidaram representantes das quatro candidaturas melhores colocadas na pesquisa. Dessa forma, Lula (PT), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) foram representados pelo deputado Reginaldo Lopes (PT), o ex-ministro Rossieli Soares e o economista Nelson Marconi, respectivamente. A equipe de Jair Bolsonaro (PT) nem mesmo respondeu ao convite da Associação.

Paulo Saldaña, jornalista da Folha de S.Paulo,  Paula Ferreira, do jornal O Globo, Breno Pires, repórter da Revista Piauí e Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e da Jeduca, respectivamente, da esquerda para a direita. Foto: Malu Araujo
Paulo Saldaña, jornalista da Folha de S.Paulo,  Paula Ferreira, do jornal O Globo, Breno Pires, repórter da Revista Piauí e Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e da Jeduca, respectivamente, da esquerda para a direita. Foto: Malu Araujo

A segunda mesa, por sua vez, debruçou-se sobre o trabalho de grandes veículos de comunicação para a revelação do escândalo do MEC (Ministério da Educação), revelado no primeiro semestre deste ano e que culminou na demissão de Milton Ribeiro, ex-ministro da pasta. Nessa ocasião, os palestrantes convidados reforçaram a importância de investigações coletivas. Diante disso, o  jornalista Paulo Saldaña, da Folha de S. Paulo, afirmou: “O jornalismo resgata a sua missão mais nobre que é a de revelar aquilo que o poder quer esconder”.

Kátia Schweickardt, Raimundo Kambeba e Karina Yamamoto, respectivamente, da esquerda para direita, no 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Kátia Schweickardt, Raimundo Kambeba e Karina Yamamoto, respectivamente, da esquerda para direita, no 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Em seguida, os professores Raimundo Kambeba e Kátia Schweickardt conversaram com Karina Yamamoto, membro do Comitê da Jeduca, sobre os desafios de lecionar na Floresta Amazônica. Uma das questões levantadas pelos educadores foi a da padronização do ensino, eles defenderam que não há como uma pessoa de Manaus ter as mesmas necessidades  educacionais que alguém de São Paulo, é imprescindível refletir sobre as particularidades locais.

Ademais, os palestrantes evidenciaram a ausência de coberturas jornalísticas nesse território. Em entrevista à AGEMT, Kambeba afirmou que falar da educação amazônica num congresso desse porte é de grande importância, pois “vão começar a olhar a educação da Amazônia de uma forma mais respeitosa e mais organizada [...] um evento como esse faz com que haja uma visibilidade maior para o processo de educação que queremos”.

Da esquerda para direita estão Luiz Augusto Campos, Luanda de Moraes, Dyane Brito Reis e Pedro Borges durante a palestra “Dez anos de Lei de Cotas: aprendizados e desafios” no 6° Congresso Jeduca. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita estão Luiz Augusto Campos, Luanda de Moraes, Dyane Brito Reis e Pedro Borges durante a palestra “Dez anos de Lei de Cotas: aprendizados e desafios” no 6° Congresso Jeduca. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Além da diversidade regional, a conferência contou com a representatividade racial em diferentes momentos, como nas palestras “Do Quarto de Despejos às escolas”, “O que jornalistas de educação devem priorizar na cobertura de eleições?”, “Educação com escolas fechadas: experiências internacionais”, “Jornalismo, leveza e humor: a educação sob diferentes abordagens”. Uma em especial discutia os aprendizados e desafios dos dez anos de Lei de Cotas, nela estavam presentes o professor de sociologia  Luiz Augusto Campos, a doutora em educação Dyane Brito Reis, Luanda de Moraes, a primeira reitora negra da Uezo (Centro Universitário Estadual da Zona Oeste), no Rio de Janeiro, e o editor-chefe do portal Alma Preta, Pedro Borges.

Outro ponto interessante do seminário foi a participação de jornalistas de diferentes lugares, caso de Allan Arroyo Castro, Erick Juárez Pineda, Paula Casas Mogollón, Patience Atuhaire e Kalyn Belsha que são, respectivamente, da Costa Rica, México, Colômbia, Uganda e Estados Unidos.

 

O maior evento de jornalismo investigativo da América Latina teve formato misto e abrangente com foco em temas atuais.
por
Maria Ferreira dos Santos
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08/08/2022 - 12h

O Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo deste ano teve formato híbrido após dois anos remoto. O evento promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) desde 2005, começou nesta quarta(03) e acabou hoje(07). 

Os primeiros dias de conferência foram gratuitos e online, as palestras transmitidas ficarão disponíveis até o dia 07 de setembro. Enquanto a programação dos demais dias aconteceu no campus da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), localizado em Higienópolis, São Paulo, com entrada mediante compra de ingresso e sem qualquer transmissão virtual.

Segundo Cristina Zahar, diretora-executiva da Abraji, o fato de parte do evento ter sido feito via web e gratuitamente não afetou a qualidade do conteúdo, tampouco recebeu menos dedicação da diretoria. Na abertura do Congresso, a presidente da Associação, Natalia Mazotte, afirmou que vê nesse modelo uma “oportunidade imensa de incluir mais jornalistas e estudantes de todo Brasil”. Mazotte acrescentou que o seminário teria 100 atividades e mais de 250 palestrantes e mediadores.

 

Cristina Zahar,  diretora-executiva da Abraji, em conversa com o estudante Camilo Mota, participante do Projeto Repórter do Futuro, da Oboré. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Cristina Zahar,  diretora-executiva da Abraji, em conversa com o repórter Camilo Mota. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 

O estudante de jornalismo da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Jonathan Monteiro fez questão de participar do congresso e por isso veio do Rio Janeiro à São Paulo numa viagem de ônibus que durou seis horas. Quando questionado se a viagem valeu a pena, Jonathan hesitou ao dizer que sim, pois em determinada palestra na sexta-feira, alegou ser o único preto presente. “Agora no segundo dia [sábado, 06], a gente já vê mais pessoas pretas e pardas”, completou o universitário. As pautas da comunidade preta, inclusive, foram temas de painéis do evento.

As mesas proporcionadas dialogavam diretamente com as necessidades e os acontecimentos atuais. Com foco no panorama eleitoral, a violência contra jornalistas, a cobertura climática, ameaças à democracia, o cenário político de países da América Latina, a Guerra na Ucrânia, combate à desinformação e checagem de fatos.

Também aconteceram atividades que debatiam sobre o modo midiático de retratar pessoas de grupos sub-representados, como indígenas, pretos, mulheres e a comunidade LGBTQIAP+. Câe Vasconcellos, jornalista e autor do livro “Transresistência: pessoas trans no mercado de trabalho”, esteve presente no painel “A cobertura da pauta trans no Brasil” e comentou do seu desejo de ver mais histórias positivas de pessoas trans sendo compartilhadas e ganhando espaço no jornalismo.

Ademais, ao longo desses cinco dias foi lembrada a trajetória de Tim Lopes, repórter assassinado enquanto fazia uma reportagem sobre o abuso de poder no tráfico de drogas no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. A criação da Abraji foi justamente uma resposta ao que aconteceu com Tim, por isso, a celebração dos vinte anos da instituição o homenageou, além de convidar sua família e colegas de profissão para compor os debates sobre os temas de seus trabalhos.

 

Jornalista Marcelo Moreira durante a palestra “20 anos da morte de Tim Lopes: o que mudou na cobertura das periferias?“ neste sábado (06) no 17° Congresso ABRAJI. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Jornalista Marcelo Moreira durante a palestra “20 anos da morte de Tim Lopes: o que mudou na cobertura das periferias?“ neste sábado (06) no 17° Congresso Abraji. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Em entrevista exclusiva, Fernando Molica, um dos fundadores da Abraji, declarou que estava achando o evento fantástico. ”A gente nunca imaginou que a ABRAJI teria essa dimensão”, Molica ainda brincou dizendo que “dá até vontade sair daqui e ser jornalista”. 

Infelizmente, Tim Lopes não é o único repórter a ser assassinado por conta da profissão, muito pelo contrário, vários convidados afirmaram que recebem ou já receberam ameaças, provando que esse cenário de retaliação à imprensa está longe de mudar. A última atração do sábado (06) foi “Dom Phillips e Bruno Pereira: como chegamos até aqui"; em seu início, houve a apresentação de diversos nomes de jornalistas que faleceram nos últimos doze meses, sendo que muitos têm como causa da morte a mesma que Dom, Bruno e Tim: o desejo de mostrar aquilo que querem esconder.

Por ter uma magnitude internacional, diversos convidados eram de outros países como é o caso de Mattia Fossati, jornalista italiano e autor do livro “Narcos Carioca:  Una Storia di Mafie e Favelas”. Fossati se sentiu honrado pelo convite e confessou que até ficou nervoso para sua palestra, entretanto reforçou a importância da ocasião.  “Porque estamos passando por um ataque muito forte contra a liberdade de imprensa, é fundamental estar aqui”, explicou.

Fossati participou de uma mesa presencial, bem como o salvadorenho Carlos Dada, fundador e diretor do site de notícias El Faro, Jennifer Ortiz, fundadora do Nicaragua Investiga, Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times e Haley Willis, jornalista do New York Times.

 

Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times, e Natalia Mazotte, presidente da Abraji neste sábado (06) durante palestra. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times, e Natalia Mazotte, presidente da Abraji neste sábado (06) durante palestra. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Já a versão online contou com a participação dos noruegueses Natalie Remøe Hansen, Erlend Ofte Arntsen, Kristoffer Kumar, autores da reportagem que deu origem ao documentário O Golpista do Tinder (Netflix); a peruana Paola Ugaz e as mexicanas Maria Teresa Montaño Delgado e Gabriela Martinez participaram da mesa “Ameaças a mulheres jornalistas na América Latina”;  o francês Laurent Richard, diretor do Projeto Pegasus, da Forbidden Stories, que revelou a espionagem de ativistas e jornalistas por governos; as ucranianas Katerina Sergatskova e Sevgil Musayeva, que estão cobrindo a guerra. E Julia Angwin, estadunidense fundadora da The Markup, criada para investigar o uso dos algoritmos na sociedade; o engenheiro Christopher Bouzy, do Bot Sentinel, focado no combate à desinformação.

”Imprensa livre é livre de ataques” é a frase que passa antes de começar as transmissões online do 17° Congresso de Jornalismo Investigativo”. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
”Imprensa livre é livre de ataques” é a frase que passa antes de começar as transmissões online do 17° Congresso de Jornalismo Investigativo”. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Tanto nos chats das transmissões quanto nos espaços da FAAP, foi possível observar a forte presença de estudantes de jornalismo. Isso é fundamental, segundo o Coordenador do Núcleo Investigativo da CNN Brasil, José Brito, pois o congresso proporciona o conhecimento da existência de “técnicas e ferramentas que podem ser implantadas no dia a dia [do jornalismo investigativo]  vai ajudar” a formar esses futuros profissionais.

Com exclusividade aos repórteres Camilo Mota e Maria Ferreira dos Santos, a jornalista do UOL Juliana Dal Piva aconselhou aos profissionais em pré-serviço para não terem pressa de trabalhar. “Aproveitem muito esse momento para estudar porque vai chegar a hora montar a mão na massa”, esclareceu Dal Piva.

O conselho de Juliana aos estudantes de jornalismo junta-se com as dicas dadas pela Adriana Farias em sua conta no instagram @jornalismoinvestigativo9. Ambas as profissionais estavam como palestrantes na conferência, Farias disse que foi uma honra ter recebido o convite para participar, pois para ela esse é o congresso mais importante da área e, consequentemente, o mais esperado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acabou neste domingo (10/07) a 26° Bienal Internacional do Livro de São Paulo, localizado no Expo Center Norte o evento teve início sábado (02) após quatro anos sem acontecer.
por
Maria Ferreira dos Santos
Sônia Xavier
Malu Araújo
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10/07/2022 - 12h

Depois de uma lacuna de quatro anos devido a pandemia de Covid-19, a Bienal do Livro finalmente ganhou uma nova edição. A feira literária que aconteceu entre os dias 02 e 10 de julho tinha como previsão receber 500 mil visitantes nos 65 mil m² de ocupação do Expo Center Norte.

Além de ter contado com 185 expositores, o evento também teve uma programação cultural de cerca de 1300 horas, distribuídas por mais de 800 atrações. E o que mais os leitores queriam eram os encontros diretos com os autores para conseguir o sonhado autógrafo. A organização preferiu distribuir senhas através de seu site que se esgotaram rapidamente. Mesmo assim, formaram-se imensas filas nas mesas dos escritores, com direito a aglomeração de pessoas tanto dentro quanto fora da Bienal.

O evento dividiu as atrações em oito espaços, trazendo programações multiculturais entrelaçadas com a literatura. A Arena Cultural, por exemplo, foi pensada para gerar contato do visitante com autores nacionais e internacionais. Entre os convidados estavam nomes como Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, a jornalista Miriam Leitão, a empresária Nathalia Arcuri e o escritor Maurício de Souza.

O escritor Maurício de Souza na Arena Cultural da Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos
O escritor Maurício de Souza na Arena Cultural da Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos

Já o Cozinhando com Palavras apresentou o universo gastronômico com chefs, jornalistas e autores ligados ao ramo. O local permitiu aos visitantes interações por meio de palestras,  mesas de autógrafos e, ainda, degustações de pratos preparados durante os bate-papos. 

O Espaço Infantil, por sua vez, contou com programação para toda a família, com narrações de histórias, oficinas temáticas e atividades de curta duração. O ambiente foi marcado por debates relacionados à inclusão com foco no público infantil, como na mesa "Apresentação de Personagens Inclusivos - Dorinha e Luca'', personagens com deficiência criados por Maurício de Souza, e a “Roda de Leitura em Braille”. 

 

Com curadoria da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sesc São Paulo, o Salão de Ideias foi planejado para promover discussões sobre questões de grande relevância social e cultural. Feminismo, política, empreendedorismo e literatura periférica foram alguns dos assuntos abordados nas palestras.

Entrada do Salão de Ideias na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Entrada do Salão de Ideias na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos

O Sesc contou com três espaços distintos no evento,além da curadoria do Salão de Ideias, dispôs do Auditório das Edições Sesc no qual apresentou discussões sobre temas como os 

100 anos da Arte Moderna, racismo, games e sexualidade, e contou com nomes como Rita Von Hunty, Edney Silvestre e Eliete Negreiros. Já os Bibliosescs - Praça da História e Praça da Palavra-  foram palcos para atividades como saraus, contação de histórias e apresentações musicais. 

 Encenação da peça infantil “A Bruxinha” no Bibliosesc - Praça da História. Foto: Malu Araújo
Encenação da peça infantil “A Bruxinha” no Bibliosesc - Praça da História. Foto: Malu Araújo

Cordel e Repente trouxe conteúdos relacionados ao universo da produção de cordéis e da xilogravura. O espaço teve intenso cronograma de apresentações musicais, declamação de cordéis, shows e outras atividades relativas ao tema.

Fachada do espaço Cordel e Repente na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Fachada do espaço Cordel e Repente na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos

O Papo de Mercado, com curadoria a cargo de Leonardo Neto, foi palco para bate-papos referentes ao âmbito editorial entrelaçados com tecnologia, sustentabilidade e adaptações do universo literário para o audiovisual. Mayra Lucas, Juliano Griebeler e Bruna Vieira foram personalidades que passaram pelo espaço.

Papo de Mercado durante a palestra “Direitos de Autor em Tempos de Blockchain, Inteligência Artificial, NFT e Metaverso”, na mesa estão Gustavo Martins de Almeida, Fernanda Gomes Garcia, Jens Klingelhöfer e Fredy Forero, da esquerda para a direita. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Papo de Mercado durante a palestra “Direitos de Autor em Tempos de Blockchain, Inteligência Artificial, NFT e Metaverso”, na mesa estão Gustavo Martins de Almeida, Fernanda Gomes Garcia, Jens Klingelhöfer e Fredy Forero, da esquerda para a direita. Foto: Maria Ferreira dos Santos

O Pavilhão do convidado de honra deste ano, Portugal, foi cenário para interseções entre a cultura portuguesa e brasileira. Houve conversas sobre as particularidades de ambas as literaturas, espaço para bate-papos entre editores brasileiros e portugueses e diálogos sobre os 200 anos de Independência. 

Troca de presentes, realizada no Pavilhão de Portugal, entre o escritor timorense Luís Cardoso e o brasileiro Cristino Wapichana. Foto: Sônia Xavier
Troca de presentes, realizada no Pavilhão de Portugal, entre o escritor timorense Luís Cardoso e o brasileiro Cristino Wapichana. Foto: Sônia Xavier

Apesar de tanta programação, há aqueles que vão, principalmente, para comprar livros como a coordenadora escolar Cláudia Rodrigues Figueredo, a antiga professora de literatura frequenta a Bienal há mais de dez anos e esse ano veio acompanhada da filha Giovanna (19) como maneira de incentivar a leitura desta. “Para mim é realmente emocionante estar de volta à Bienal”, declarou a docente referindo-se ao período de quatro anos sem o evento.

Há também aqueles que vão com o intuito de vender suas próprias obras, como a escritora Déa Henrique. A autora do livro infantil “Um Inesperado Kamba” explicou que seu livro surgiu de uma necessidade pessoal ao observar que seus filhos não conheciam histórias africanas. “Eu percebi a importância disso [literatura africana] para as crianças, principalmente para aquelas que têm afrodescendência. Porque elas não têm contato, então trazer esse universo da África para elas aqui no Brasil. Para mim e  para as minhas crianças foi importante, então acredito que para outras também seja”, disse Déa.

A escritora Déa Henrique com seu livro “Um Inesperado Kamba” na Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.
A escritora Déa Henrique com seu livro “Um Inesperado Kamba” na Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.

A visão de Déa Henrique sobre a literatura como necessidade é compartilhada também por Vanda Franco Pedrosa. Para ela, é possível “enxergar nos livros o resultado do aprendizado humano, os livros nos mostram isso.  Você abre um livro e se enxerga, enxerga o outro e o mundo em que ele está vivendo”. Ambas estavam emocionadas com a ocasião, Déa comentou que sua mãe mesmo de cadeira de rodas estava presente só para prestigiá-la, já Vanda acredita que “da onde eu venho uma professora chegar à Bienal é um evento, é um fato histórico”.

Vanda Franco Pedrosa autografando seu livro “A Tecelã do Seu Destino”. Foto: Malu Araújo
Vanda Franco Pedrosa autografando seu livro “A Tecelã do Seu Destino”. Foto: Malu Araújo

Juntam-se a esse time de escritoras da Bienal,  Isabella Falce e Letícia Bartulihe. Falce, autora de “Intoxicada Por Um Relacionamento Abusivo”, livro com teor autobiográfico, disse que viu na escrita um processo terapêutico mesmo que “complicado” devido ao assunto retratado. Hoje, Isabella se diz muito orgulhosa por ter uma publicação sua. “Porque eu tenho ajudado tanta gente, tantas mulheres me procuram querendo saber se há vida após relacionamento abusivo[...] a gente precisa tirar uma força para entender a grandiosidade de uma mulher”. Já Bartulihe desenvolveu a escrita como hobby, com quinze anos ela divulgou digitalmente seu primeiro livro “sem pretensão nenhuma”, mas ao ver o número de leituras alcançadas resolveu levar seu trabalho ao papel impresso.

Escritora Isabella Falce na Bienal do Livro. Foto: Malu Araújo
Escritora Isabella Falce na  26º Bienal do Livro. Foto: Malu Araújo
Letícia Bartulihe com seus livros na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Letícia Bartulihe com seus livros na 26º Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Não deixando de fora o contexto político desse ano e sua importância para a história brasileira, a Bienal proporcionou um universo multicultural, convidando grandes intelectuais para debater diversos temas.

Como exemplificação para tal, há o momento em que a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz discorreu sobre o imaginário europeu na construção da história do país,  durante a mesa “Falamos de Quem Quando Falamos do Outro?”. Ao tocar nesse passado, Lilia ressaltou a necessidade de se fazer vigilância cidadã perante aos ataques à democracia feito no âmbito político, destacando ser imprescindível fazer desse ano um ano de oportunidade e mudança para o Brasil.

Da esquerda para direita vê-se Valter Hugo Mãe, Lilia Schwarcz, Cristino Wapichana e Isabel Lucas no Pavilhão de Portugal no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita vê-se Valter Hugo Mãe, Lilia Schwarcz, Cristino Wapichana e Isabel Lucas no Pavilhão de Portugal no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.

 Em outra mesa sobre “Educação Política”, a advogada Gabriela Prioli defendeu a importância de fazer uma discussão política que considere a diversidade e que crie um diálogo inclusivo na sociedade. Gabriela salientou também a importância do público na construção do diálogo, reafirmando que a discussão é formada principalmente pelas pessoas que estão engajadas e que a partir disso “vão votar de maneira diferente [...] vão tornar a política diferente para que ela seja mais diversa e consequentemente melhor.”

Gabriela Prioli e Juliana Souza no debate “Educação Política” no Salão de Ideias no domingo (03). Foto: Maria Ferreira dos Santos
Gabriela Prioli e Juliana Souza no debate “Educação Política” no Salão de Ideias no domingo (03). Foto: Maria Ferreira dos Santos

 Em consonância com essas falas, a jornalista Miriam Leitão, que foi ameaçada durante o governo Bolsonaro, enfatizou na mesa “Ser Jornalista No Brasil” como o poder público tem utilizado da desinformação nas redes para construir suas narrativas. A profissional de imprensa nomeou a estratégia como a “mentira que é divulgada como método”, tendo assim uma finalidade. Em seguida, Miriam acentuou a importância de se “olhar os pequenos detalhes nos grandes acontecimentos”, referindo-se às ameaças à democracia colocadas na esfera pública por meio das falas do presidente, sendo contundente ao dizer que “o maior risco é não se perceber o tamanho do risco”.

 Além disso, o evento também trouxe pontos acerca do isolamento causado pela pandemia de covid-19. Na mesa " A Morte Faz Parte da Vida", a doutora Ana Cláudia Quintana, em conjunto com mais dois autores Ana Michelle e Renato Noguera discutiram sobre a importância dos cuidados paliativos, o preparo para morte e a forma de se enxergar o luto em diferentes culturas. 

Da esquerda para direita vê-se Renato Noguera, Ana Cláudia Quintana Arantes, Ana Michelle Soares e Rafaela Camargo. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Da esquerda para direita vê-se Renato Noguera, Ana Cláudia Quintana Arantes, Ana Michelle Soares e Rafaela Camargo. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 Além de autora, Ana Michelle também é paciente em tratamento, ela luta contra o câncer há mais de 10 anos, durante a mesa ela disse que viu as pessoas perderem o controle por causa do isolamento, uma sensação que já lhe era familiar antes da pandemia. Michele disse esperar que a pandemia tenha sido um despertar para as pessoas entenderem que o único tempo é o agora.

A próxima Bienal do Livro em São Paulo está prevista para 2024, a feira mais aguardada pelos leitores, recria o Brasil cultural que tanto almejamos ter.