Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
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10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
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09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
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09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Palestinos buscam reconhecimento, autonomia enquanto Estado e pelo direito do território cada vez mais ocupado pelo Estado de Israel.
por
Luan Leão
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07/11/2023 - 12h

A criação do Estado de Israel em novembro de 1947, após resolução da Organização das Nações Unidas, iniciou uma tensão na região. O último capítulo dessa história foi a escalada entre Israel e o grupo islâmico Hamas, retomada no dia 07 de outubro, e que já resultou em mais de 8 mil mortos entre palestinos e israelenses. Para entender a ofensiva dos últimos dias, a AGEMT preparou uma série especial de quatro reportagens sobre o conflito Palestina e Israel. Nesta segunda reportagem, você vai acompanhar o processo de expansão territorial israelense, a movimentação para a organização política de uma resistência palestina e as tentativas de acordos de paz na região.

Com o fim do primeiro conflito árabe-israelense, com o acordo de armistício entre Egito e Israel, em fevereiro de 1949, e depois em julho com o acordo entre Israel e os países árabes vizinhos, o controle da região conhecida como Faixa de Gaza ficou com sob ocupação dos egípcios e a Cisjordânia sob ocupação de forças militares da Jordânia.

O pesquisador Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP) e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe, ressalta que esse controle feito por egípcios e jordanianos tinham finalidades distintas. “Havia uma diferença da perspectiva desses dois governos. A Jordânia ela quis anexar, ela pensava em controlar politicamente, administrativamente a Cisjordânia. Uma espécie de incorporação. [...] No Egito era diferente, o Egito nunca quis anexar Gaza, ou principalmente, não era esse o objetivo”, avalia o pesquisador.

Crise de Suez

O Canal de Suez tem 163 quilômetros que faz ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho foi construído entre 1859 e 1869, e tem importância estratégica por permitir que embarcações façam o trajeto entre Europa e Ásia sem contornar a África. Por conta da dívida externa, os egípcios venderam o Canal de Suez para a Grã-Bretanha, que instalou tropas britânicas na região em 1882. 

Em julho de 1956, o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, declarou lei marcial e decidiu nacionalizar a Companhia do Canal de Suez. A medida foi uma reação após Estados Unidos e Grã-Bretanha não financiarem a construção da Barragem de Aswan. O presidente egípcio acreditava que o pedágio recolhido iria financiar a construção em cinco anos. O temor do Reino Unido e da França era a interrupção do fornecimento de petróleo na Europa.

Com o apoio franco-britânico, o Estado de Israel declarou guerra ao Egito e, no dia 29 de outubro, promoveu uma violenta invasão na Península do Sinai. No mesmo período, França e Grã-Bretanha realizaram a tomada do Port-Said, na entrada do Canal de Suez. Apesar de ter conquistado o controle de Sinai, a crise terminou com a retirada de tropas israelenses, britânicas e francesas, depois de a União Soviética ameaçar França e Grã-Bretanha de um ataque nuclear.

O êxito da ação de Nasser estabeleceu a ideia do nacionalismo árabe - ou  “arabismo” - na política árabe. O movimento tinha como ideal a união de países de maioria árabe-muçulmana, para fortalecer a cultura e a causa islâmica ante o Ocidente. O posicionamento de Israel confirmou a visão dos países vizinhos que identificavam o país como uma criação colonial. Dois anos mais tarde da Crise Suez, a queda da monarquia iraquiana - apoiada pelos britânicos - mostrou a força do nacionalismo árabe.


Organização política para resistência

Em 28 de maio de 1964, mais de 300 membros representantes dos países da região - integrantes da Liga Árabe - realizaram o 1º Conselho Nacional Palestino, tido como uma espécie de parlamento palestino no exílio. Das deliberações deste Conselho surgiu a Organização para a Libertação Palestina (OLP). Nos crachás dos delegados que fundaram a OLP estava a palavra “Sanaud”, que significa “voltaremos” em árabe. 

A ideia da Organização para a Libertação Palestina era unificar diversas camadas da sociedade palestina. Na sua estrutura estão representados além da sociedade civil (estudantes, mulheres e trabalhadores) todos os partidos políticos palestinos, dentre eles: Al Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina); Frente Popular para a Libertação da Palestina; Frente Democrática para a Libertação da Palestina; Frente de Libertação da Palestina; União Democrática Palestina; Partido Popular Palestino - ex-Partido Comunista Palestino; As-As’Iqa; Frente de Libertação Árabe; Frente de Libertação Popular da Palestina e Frente Árabe Palestina.

O primeiro a comandar a OLP foi o advogado libanês Ahmad Shuqueire. Considerado moderado e hábil politicamente, tinha confiança dos países árabes e havia sido secretário-geral da Liga das Nações Árabes entre 1950 e 1956. Shuqueire permaneceu à frente da OLP até dezembro de 1967, após a derrota dos países árabes na chamada Guerra dos Seis Dias.

“O Nasser (presidente do Egito) se utilizava da resistência Palestina para proveitos próprios. Ele tentava, nessa negociação tensa que ele tinha, transformar em uma frente contra Israel mas que ele podia tanto incentivar, quanto segurar, quando fosse da vontade dele. Outra coisa que simbolicamente era muito importante o Nasser estar ligado à OLP, (era) como se fosse um braço da causa árabe do pan-arabismo dele. Só que em 1968, e tem a ver com a guerra dos seis dias, os palestinos tomam a OLP. A OLP deixa de ser mais controlada pelo Nasser”, analisa Hartmann.

Palestina e Israel
Fatah é o principal partido político da Palestina. Foto: Reprodução

Fundado em 1959, o Al Fatah - acrônimo para Harakat al-Tahrir al-Watani al-Filastini ou Movimento de Libertação Nacional da Palestina - é o principal partido palestino e surgiu com a linha política de resistência armada, da negação da existência de um Estado sionista de Israel e defesa da volta da Palestina histórica, com um só território e sem divisões. O Fatah tem atuação determinante nas ações políticas da OLP a partir de 1968, quando Yasser Arafat, um dos fundadores do Fatah, assumiu o comando após a saída de Shuqueire. Além de Arafat, Mahmoud Abbas, atual presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), também esteve na fundação do Fatah, e sucedeu Arafat à frente da OLP, em outubro de 2004. 

Guerra dos Seis Dias

Em maio de 1967, tropas militares da Síria e da Jordânia passaram a movimentar tropas regulares na fronteira com Israel, ao sul. Com a pressão dos aliados, Abdel Nasser mobilizou tropas egípcias na fronteira ao norte de Israel, na Península do Sinai. O presidente egípcio ordenou, também, a saída de tropas da Organização das Nações Unidas, que estavam lá desde a Crise de Suez, em 1956. Já próximo do final do mês, Nasser instituiu um bloqueio a Israel no Estreito de Tiran, que dava acesso ao golfo de Aqaba, fechando uma importante rota de acesso ao mercado asiático e afetando o recebimento de petróleo do então principal fornecedor israelense, o Irã.

Após as movimentações militares, no dia 05 de junho, por ordens do primeiro-ministro Levi Eshkol, Israel deu início a Mitzvá Moked - Operação Foco - com a destruição de 300 dos 340 aviões de combate do governo egípcio em cerca de menos de duas horas. A ofensiva isralense seguiu com a ocupação das cidades de Rafah, na Faixa de Gaza, El Arish, no Egito, e da Península do Sinai.

As forças militares israelenses também entraram nas cidades de Gaza, Qalqilya e Ramallah, além de cercar a cidade de Jerusalém, no segundo dia de guerra. No dia 07 de junho, Israel tomou o controle de Jerusalém Oriental, que estava sob poder da Jordânia, e chegou ao Estreito de Tiran. Ao longo do conflito as tropas israelense também avançaram sobre os territórios de da Judeia, Jericó, Nablus, Hebrom e as Colinas de Golã, que estavam sob controle da Síria. A derrota árabe foi um duro golpe no movimento nacionalista árabe Abdel Nasser.

Palestina e Israel
Israel ocupou território do Sinai (Egito), Golã (Líbano), além de Gaza e Cisjordânia (Palestina). Arte de Luana Galeno com informações da BBC

A ONU propôs um cessar-fogo imediato ainda no dia 07 de junho, mas só foi concretizado no dia 10, com a assinatura de Jordânia, Egito e Síria. O resultado da Guerra dos Seis Dias foi uma expansão territorial israelense, que triplicou o tamanho com relação ao território estipulado pela ONU no acordo de partilha. A Guerra deixou cerca de 11 mil mortos do lado do Egito, pelo menos seis mil jordanianos e mil sírios. Do lado de Israel, ao menos 700 pessoas morreram e outros seis mil foram feitos prisioneiros. Outros 300 mil palestinos foram forçados a deixar suas casas.

Para Isabela Agostinelli, doutora em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas na área de concentração da Paz, Defesa e Segurança Internacional, e integrante do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUC-SP, a postura dos agentes internacionais no pós-guerra dos Seis Dias, com relação a Israel, é importante para entender a expansão da ocupação israelense. “Temos duas posturas, a diplomática e a material. A postura diplomática dos países, principalmente daqueles que concordam com a divisão da ONU, de 1947, de divisão do território entre Israel e Palestina, a Palestina sendo composta pela Cisjordânia e a Faixa de Gaza. [...] Mas em termos materiais, o que a gente vê é a expansão dos territórios israelenses, na Cisjordânia principalmente, e quanto a isso a comunidade internacional está calada.”, explica Agostinelli.

“É tudo quase como se fosse um pequeno teatro. Apenas declarações de apoio a essa resolução da ONU, mas ao mesmo tempo não se fala quase nada sobre a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia” - Isabela Agostinelli, doutora em Relações Internacionais com estudos na área de concentração da Paz, Defesa e Segurança Internacional

Dois dias depois do cessar-fogo, o então primeiro-ministro, Levi Eshkol, ao falar sobre a vitória israelense no Knesset - parlamento de Israel - disse que “a existência do Estado de Israel estava por um fio”, e reforçou a tese israelense de que um segundo holocausto havia sido evitado. No entanto, em um simpósio, em Tel Aviv, no clube Zavta, em março de 1972, o general Mattityahu Peled, chefe do comando logístico da Guerra dos Seis e membro do Estado-Maior de Israel, afirmou que esse argumento “não era nada mais que um blefe que nasceu durante a guerra e depois cresceu”.

O general Peled ainda publicou um artigo, em 24 de março, no jornal israelense Maariv, onde defendeu sua fala e disse que desde 1949, ninguém havia de fato “ameaçado a existência do Estado de Israel”. Também em entrevista ao Maariv, o general Haim Bar-Lev, que era vice-chefe do Estado Maior em 1967, declarou que Israel não havia sido “ameaçado de genocídio na véspera da guerra” e de que não tinham pensado em tal possibilidade. Um artigo intitulado “O Mito da Aniquilação e a Guerra dos Seis Dias”, publicado pelo pesquisador Joseph L. Ryan, em 1973, disponível nos arquivos da Universidade de Cambridge, mostra outras versões de membros do governo israelense na época, e que colocam em contradição o argumento apresentado por Eshkol. 

“O desenho das fronteiras foi estabelecido em 1949, o que acontece em 1967 é o apagamento dessas fronteiras. [...] Quando Israel conquista esses territórios, é uma ocupação militar, mas sem os colonos. Os colonos vão sendo colocados aos poucos, é o tal dos assentamentos. Isso acontece até hoje. [...] É esse processo”, explica o pesquisador Arturo Hartmann sobre o resultado da Guerra dos Seis Dias. 

Ecos da guerra

A derrota árabe na Guerra dos Seis Dias intensificou o descontentamento palestino na região e levou a criação de organizações fedayin - termo utilizado para definir militantes e guerrilheiros. Esses grupos intensificaram suas ações a partir de 1968, depois da derrota. Entre esses grupos, o principal é o Fatah, liderado pelo jovem Yasser Arafat, prometendo uma “libertação de toda a Palestina” utilizando-se da luta armada. Com ações bem sucedidas, a resistência sofreu pela dificuldade em estabelecer uma estratégia política e militar para confrontar as forças militares não apenas israelenses, mas também jordanianas, e até sírias. 

“O dilema dos movimentos de resistência, é como se utilizar de um direito de resistência, pelos meios possíveis, e está implícito a resistência armada, mas ao mesmo tempo muito vaga. [...] Quais são esses meios possíveis? Quando você tem também uma lei humanitária que você não pode matar civis, você tem uma regra da guerra e em uma situação colonial você tem o direito à resistência, em uma situação de ocupação ilegal. No caso dos palestinos, eles têm um momento na década de 70 que sim eles têm uma luta armada.” - Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP)

Mesmo com a dificuldade, em novembro de 1971, a Organização Setembro Negro, que teve como principal líder Ali Hassan Salameh, assassinou Wasfi al-Tal, então primeiro-ministro da Jordânia. No ano seguinte, em 1972, o mesmo grupo realizou uma ação que ficou conhecida como “Massacre de Munique”. Durante as olimpíadas de Munique, na Alemanha, a organização invadiu a Vila Olímpica e pretendia sequestrar membros da delegação israelense para negociar a soltura de mais de 200 presos palestinos. A ação vitimou 11 membros da delegação israelense, sendo seis treinadores e cinco atletas. Além deles, cinco integrantes do Setembro Negro e um policial da Alemanha Ocidental também morreram.

Camp David e o Sinai

Apesar das tensões crescentes na década de 70, o cenário político no Oriente Médio contou com uma surpresa. Em 1977, dez anos após a Guerra dos Seis Dias, o então presidente do Egito, Anwar Sadat, visitou a cidade de Jerusalém. A visita foi considerada um marco para a história do Oriente Médio, e contou com discurso de Sadat no Knesset, o parlamento israelense.

Por conta da atitude, Sadat passou a ser alvo de críticas por parte dos demais países árabes, até então aliados contra o Estado de Israel. No entanto, a visita abriu caminho para um encontro entre Anwar Sadat e Menachem Begin, então primeiro-ministro de Israel, em setembro de 1978. O encontro aconteceu em Camp David, base militar e casa de campo, no estado de Maryland, nos Estados Unidos, foi mediado pelo então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e ficou marcado por ter sido o primeiro entre um líder de um Estado árabe e de Israel.

Egito e Israel
Anwar Sadat (esq.), Jimmy Carter (centro) e Menechem Begin durante Acordo de Camp David. Foto: Bob Daugherty/AP Images

Anwar Sadat e Menechem Begin dividiram o Prêmio Nobel da Paz de 1978 pelos esforços nas negociações. 

Antes do encontro foi definido que as duas partes apresentariam uma proposta para a formulação de um acordo de paz. As tratativas tiveram como base a Resolução 242 da Organização das Nações Unidas (ONU), que em novembro de 1967, havia considerado inadmissível a aquisição de território por meio de guerra - como havia feito Israel ao final da Guerra dos Seis Dias. A resolução afirmava, também, a necessidade de se trabalhar pela paz “justa e duradoura na qual cada Estado na região possa viver em segurança”. 

De um lado, Sadat colocou nas negociações as demandas do Egito e de países árabes, como indenizações pelo uso das terras ocupadas, o retorno dos refugiados para a Cisjordânia, a retirada dos militares israelenses de acordo com as fronteiras anteriores ao conflito de 1967 - incluindo a devolução do Sinai, e que Israel permitisse a Palestina formar sua própria nação e ter controle sobre Jerusalém Oriental. Já Begin defendia a manutenção dos territórios ocupados sob a alegação de que a devolução representava um risco à segurança interna. 

Os acordos foram finalizados apenas em março de 1979, em Washington. O primeiro firmou a paz entre Israel e Egito e a recuperação do Sinai - o que aconteceu em 1982. O segundo estabeleceu bases para a negociação do estabelecimento de um Estado autônomo nos territórios da Cisjordânia e da Faixa da Gaza. O primeiro, vingou e tornou diplomática a relação entre Egito e Israel, e até Egito e os Estados Unidos. No entanto, o segundo, que tratava sobre os palestinos, não foi aplicado. 

Para o Egito, o acordo rendeu uma suspensão da Liga Árabe, que trocou sua sede do Cairo para Tunis. Yasser Arafat, presidente da OLP, chegou a afirmar que mesmo com a assinatura, a paz não iria durar. Em 1981, em um ataque reivindicado pelo grupo Jihad Islâmica, o presidente Anwar Sadat foi morto a tiros durante o desfile de celebração da travessia do Canal de Suez durante a Guerra de 1973.

Intifada das pedras

Apesar de ser traduzida como “revolta”, o termo mais próximo do árabe para intifada é se livrar de algo ou alguém através de um movimento de agitação. Em dezembro de 1987 teve início o primeiro levante árabe. Completados 20 anos da ocupação israelense, mais de 2000 colonos armados ocuparam parte do território de Gaza, deixando o restante do território ocupado pelos palestinos densamente povoado.

No dia 08 de dezembro, um caminhão israelense bateu em um outro caminhão que transportava trabalhadores palestinos do campo de refugiados de Jabalya. Quatro pessoas morreram e dez ficaram feridas. A interpretação palestina é de que o acidente na verdade seria uma resposta a morte de um judeu em Gaza.
 

Palestina e Israel
Palestinos atiravam pedras contra soldados israelenses. Foto: AP Images

A Primeira Intifada também é conhecida como “guerra das pedras” já que no dia seguinte os palestinos foram às ruas em protesto, queimando pneus e atirando pedras e coquetel molotov contra forças policiais israelenses. Em Jabalya, uma patrulha do exército de Israel matou um jovem de 17 anos e feriu outro de 16. O movimento foi se disseminando entre a sociedade palestina, além dos jovens, comerciantes e mulheres se uniram à resistência, adotando táticas de boicote. 

Em julho de 1988, a Jordânia renunciou ao controle da Cisjordânia, corroborando com a pressão palestina no território. No mesmo ano, quatro meses mais tarde, a OLP aprovou a proclamação de um Estado palestino independente. Com quase um ano, a Primeira Intifada já tinha mais de 11 mil feridos e cerca de 300 palestinos mortos. Durante todo o processo, as forças israelenses se utilizavam de prisões em massa, espancamentos e torturas para reprimir a organização palestina. Foi no contexto da Primeira Intifada que surgiu o grupo radical Hamas.

“A agenda da Primeira Intifada, de alguma forma, dá um sinal de que não vai se aceitar a ocupação israelense. [...] Mas, em um certo sentido, era quase um reconhecimento de Israel. Porque a revolta ela foi forte, tinha uma coordenação, mas ela dá o sinal de que ela aceitaria a solução de dois estados, quando a OLP, na figura do Arafat, reconhece o Estado de Israel", diz Hartmann. 

Ainda em 1988, Yasser Arafat surpreendeu ao condenar o terrorismo e reconhecer o direito de existir do Estado de Israel, o que abriu caminho para negociações de paz. O líder do Partido Trabalhista israelense, Yitzhak Rabin - ex-general do exército israelense e considerado um herói nacional pela Guerra dos Seis Dias - assumiu o governo de Israel em 1992, com o compromisso de iniciar processos de paz. Uma das ações foi o congelamento da criação de assentamentos em territórios ocupados.

De acordo com dados da ONG israelense B'Tselem, ao longo de toda a Primeira Intifada, morreram cerca de 1.200 palestinos e 179 israelenses.

Ao vivo para o mundo

Na Conferência de Madri, em 1991, um vislumbre de um processo de paz foi iniciado. No ano seguinte, em Oslo, na Noruega, os termos para esse acordo foram elaborados. Com os acenos de Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, mais uma vez os Estados Unidos, agora com Bill Clinton como presidente, mediaram um novo acordo, este, diretamente entre palestinos e israelenses.

Palestina e Israel
Aperto de mão entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, com a presença de Bill Clinton.
Foto: Gary Hershorn/REUTERS

Em 13 de setembro de 1993, ao vivo pela televisão, o mundo assistiu a um aperto de mão entre Arafat e Rabin, no jardim da Casa Branca, residência oficial do presidente dos Estados Unidos. Após três décadas de conflito, o representante da OLP e o primeiro-ministro israelense se mostraram dispostos a negociar um acordo de paz.  “Nós que lutamos contra vocês, palestinos, lhe dizemos hoje com voz clara e forte: basta de sangue e de lágrimas. Basta.”, disse o primeiro-ministro Rabin.

No chamado “Oslo I”, Israel reconheceu a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) como representante do povo palestino, com sede administrativa na cidade de Ramallah, na Cisjordânia. Do outro lado, a OLP passou a reconhecer o direito da existência do Estado de Israel. O acordo também condenou a violência como método de negociação para a paz entre os dois Estados. Como parte das negociações, foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que de forma interina seria o governo palestino em parte da Cisjordânia e na Faixa de Gaza. O primeiro presidente da ANP foi justamente Yasser Arafat.

O acordo previa ações escalonadas até a criação de um estado palestino independente no prazo de até cinco anos. Nas negociações estavam, também, a saída de Israel do sul do Líbano e o status de Jerusalém. A cidade, sagrada para árabes e judeus, seria dividida - como estabeleceu a ONU em 1947 - com a parte Oriental como capital palestina e a Ocidental, de Israel. Em 1993, quando o acordo foi assinado, cerca de 110 mil colonos judeus viviam na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Segundo a ONU, em 2023, já passam de 700 mil o número de colonos nos assentamentos em território palestino. 

Para o professor Arturo Hartmann, os acordos impuseram aos movimentos palestinos um dilema do que fazer. “Os acordos de Oslo, com a criação da Autoridade, colocam um dilema para a resistência e para os grupos da Palestina em geral. É o caminho da diplomacia e de uma negociação com o teu colonizador, o teu ocupante, Israel. Isso de alguma forma perpassa esse século todo”, analisa.

Como consequência do acordo, a ANP começou a ser responsável por serviços básicos como saúde, educação e segurança nos territórios de Gaza e de parte da Cisjordânia. Ainda sim, 60% da Cisjordânia ainda permaneceu sob total controle israelense.

Palestina e Israel
Arafat, chanceler Shimon Peres e o primeiro-ministro Yitzhak Rabin com o Prêmio Nobel da Paz
Foto: Reuters

As tratativas pela paz renderam o Prêmio Nobel da Paz de 1994 para o presidente da ANP, Yasser Arafat, ao primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e ao chanceler israelense Shimon Peres.

Tensão e fracasso

Na análise de Isabela Agostinelli, os acordos não produziram o resultado esperado. “Foi a primeira vez que israelenses e palestinos sentaram na mesa de negociação para tentar dar alguma solução para a questão palestina. Desde o começo os acordos de Oslo foram um fracasso, porque não resultaram em qualquer momento em paz, tão pouco em autonomia palestina, quem dirá a criação de um Estado palestino, que é a reivindicação desde o começo da questão”, avalia.

Em Israel, a oposição nacionalista era contrária aos acordos. Nome forte da oposição era Benjamin Netanyahu, líder do Likud. Os nacionalistas classificavam Rabin como traidor da pátria pelos acordos assinados. O mesmo Rabin, em 1984, foi ministro da Defesa de Israel em um governo de coalizão com o Likud. Na Primeira Intifada, foi questionado por órgão internacionais pela chamada “política quebra ossos”. Pelas ordens, às tropas de ocupação israelense poderiam quebrar os ossos das mãos de palestinos condenados por atirarem pedras contra soldados israelenses. 

Em setembro de 1995, um novo acordo - “Oslo II” - foi assinado, este tratava especificamente do futuro dos territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. No mesmo ano, em 04 de novembro, o primeiro-ministro Rabin discursou pela paz para 100 mil pessoas. “O caminho pela paz é preferível ao caminho da guerra”, disse o premiê israelense. No dia seguinte, enquanto se dirigia para o carro oficial, Yitzhak Rabin foi morto a tiros pelo estudante israelense Igal Amir, militante da extrema-direita. O assassino foi preso no local do crime e posteriormente condenado à prisão perpétua. Foi Yasser Arafat, presidente da ANP, o primeiro a manifestar suas condolências pela morte do líder isralense. 

Palestina e Israel
Velório de Yitzhak Rabin reuniu lideranças mundiais. Foto: Peter Turnley/CORBIS

Após a morte de Rabin, Shimon Peres assumiu como primeiro-ministro de forma interina e reafirmando as intenções de negociações para a paz. Em 1996, Benjamin Netanyahu foi eleito com o mesmo discurso, no entanto, congelou as tratativas em 1997, ao aprovar a instalação de novos assentamentos israelenses no território de Jerusalém Oriental.

“Muitos acham que talvez de religião, de disputa entre muçulmanos e judeus, e não é nada disso. Na verdade, é uma questão relacionada à terra. E uma questão relacionada à terra por meio da colonização. Então, o enquadramento da questão precisa ser entendido [...] A questão Palestina, ela é desde o início e, estruturalmente, uma questão colonial”, analisa Agostinelli ao explicar o enquadramento dado ao conflito por parte do mundo. 


Na próxima reportagem vamos falar sobre o papel do Hamas, do surgimento até o ataque no início de outubro, e também do grupo Hezbollah, responsável pela resistência no território do sul do Líbano. Além dos dois grupos, vamos entender como a Segunda Intifada, nos anos 2000, mostra a complexidade das negociações para paz no conflito atual. 

A disputa territorial é questão central no conflito do Oriente Médio entre Palestina e Israel
por
Luan Leão
|
12/10/2023 - 12h

No sábado (07), integrantes do grupo islâmico Hamas realizaram uma ofensiva contra Israel que desencadeou um novo confronto armado com mais de três mil mortos entre palestinos e israelenses, segundo as autoridades locais. A AGEMT preparou uma série especial de quatro reportagens sobre o conflito Palestina e Israel. Para entender esse novo capítulo da história, é necessário voltar à segunda década do século XX, ao final da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), com a vitória dos Aliados da Entente - aliança militar composta por França, Rússia e Grã-Bretanha - sobre o Império Otomano.

Em 30 de outubro de 1918, foi assinado o Armistício de Mudros, que decretou a derrota do Império Otomano. Dois anos mais tarde, em 10 de agosto de 1920, os Aliados e o Império assinaram o Tratado de Sévres, que concedeu independência à Grécia, Armênia e o Curdistão, deixando o território Otomano restrito à Turquia. Uma guerra civil comandada por Mustafa Kemal Pasha, conhecido como Ataturk (pai dos turcos), colocou fim ao Império Otomano, reconquistou a Armênia e parte do território concedido à Grécia, e proclamou a República da Turquia em 1923.

O novo arranjo territorial resultou no Tratado de Lausanne, em 1923, que reconheceu a República da Turquia com as fronteiras atuais, e colocou os territórios árabes sob mandatos de França e Reino Unido. Os franceses ficaram com a Síria e o Líbano, enquanto os britânicos ficaram com a Mesopotâmia e a Palestina - então formada pela Palestina e a Transjordânia.

Território Mandato Britânico
Território do Mandato Britânico sobre a Palestina a partir de 1923.
Arte de Luana Galeno com informações da BBC



Colonização sionista

O sionismo é um movimento político que surgiu no final do século XIX e defendia a autodeterminação do povo judeu no que chamava de sua “terra histórica”. O primeiro teórico do movimento foi o filósofo alemão Moses Hess (1812-1875), que utilizou a perseguição sofrida pelos judeus para justificar a necessidade da criação de uma nação judaica na palestina. O termo "sionismo", foi criado pelo escritor austríaco Nathan Birnbaum (1864-1937), como referência a Sião, um dos nomes bíblicos para a cidade de Jerusalém. O historiador israelense Ilan Pappé defende que o sionismo secularizou e nacionalizou o judaísmo, utilizando o território bíblico como base para um movimento nacionalista.

O pesquisador Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP) e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe, explica que o início do processo de colonização do território acontece ainda no século XIX. “Os colonos europeus, sionistas especificamente, começam a chegar na Palestina em 1880, mas era um movimento incipiente. O Arthur Ruppin, como o diretor da companhia de terras da Palestina, que era uma organização sionista, estava imbuído de comprar terras de proprietários árabes, palestinos, alguns eram libaneses, isso ainda no governo Otomano”, conta o pesquisador.

“Era a compra da terra e ali a colocação do trabalhador judeu. Alguns sociólogos israelenses vão falar do ‘trabalho judaico’. Então, era essa chave dupla, no início da prática da colonização na visão desses caras, que era a conquista da terra, nesse momento pela compra, e a inserção de trabalho judaico. E começam a ter primeiras tensões, porque você tinha um sistema de terras de cultivadores palestinos secular. Quando os sionistas compravam aquelas terras, eles [nativos] eram expulsos ou impedidos de cultivar essa terra. [...] Era a primeira percepção de que aquilo causaria um choque” - Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe 

Em 29 de setembro de 1923 entrou em vigor o “Acordo de Mandato”, da então Liga das Nações, do Reino Unido em território palestino. Nos 28 artigos contidos no texto do Mandato, não há citação direta dos palestinos. No entanto, o acordo cita o “povo judeu” aos quais foi “reconhecido o vínculo histórico do povo judeu com a Palestina e os fundamentos para a reconstituição de seu lar nacional naquele país”.

O texto do que também foi chamado de “protetorado” se baseia na Declaração de Balfour, documento elaborado em 1917 pelo então ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Arthur Balfour, que respalda pela primeira vez “o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”. A mensagem de 67 palavras foi enviada por Balfour a Walter Rothschild, importante figura do movimento sionista.

Declaração de Balfour
O texto escrito por Arthur Balfour tem 67 palavras e foi escrito em 1917. Foto: BBC/Reprodução

"O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país"

Tanto o texto do Mandato quanto a Declaração de Balfour previam a preservação dos “direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas existentes na Palestina”. No artigo 2º determina que os mandatários serão os responsáveis por “colocar o país sob tais condições políticas, administrativas e econômicas que assegurem o estabelecimento do lar nacional judaico”, o que significou na prática uma repressão a qualquer movimento de autodeterminação palestino.

Em seu 4º artigo, foi previsto que uma “agência judaica” seria reconhecida como órgão público para auxiliar na administração da Palestina. O próprio texto estabeleceu a Organização Sionista como a “agência judaica” responsável. O resultado desse controle foi o reconhecimento de diversas entidades judaicas pelo Império Britânico e nenhuma entidade árabe palestina.

Acordo de Mandato
Acordo de Mandato não citava palestinos.
Foto: Federação Árabe Palestina do Brasil/Reprodução

“A Agência Judaica ali criada naquele momento, ela vai se acoplar e vai quase ser como um departamento de governo dentro da administração britânica. [...] Os britânicos fizeram isso em outros lugares, ele cria um mediador ou um colaborador da colonização de determinado território. E no caso da Palestina, os sionistas se acoplaram como esse mediador. Então, eles ganham acessos a recursos, começam a administrar questões públicas como eletricidade, as empresas sionistas vão receber um aporte britânico [...] e crescem muito a partir da década de 20 e, principalmente, na década de 30”, explica Hartmann.

Em 1929, a tensão entre palestinos e judeus chega ao seu primeiro conflito. A Revolta de Buraq se deu por disputa das duas comunidades com relação ao Muro das Lamentações, local em que muçulmanos e judeus realizam suas orações. Os conflitos duraram de 23 a 29 de agosto, e estima-se que mais de 116 palestinos e 133 judeus foram mortos. Outras mais de 400 pessoas ficaram feridas, entre palestinos e judeus.



A Revolta Palestina


A morte de Sheikh Izz al-Din al-Qassam, líder da resistência palestina, em 1935, em um tiroteio com forças coloniais aumentou a revolta entre os palestinos. A essa altura, a comunidade palestina convivia com uma lei promulgada pelos britânicos que previa o confisco de terras para fins militares. Porém, depois de confiscadas essas terras eram entregues aos colonos judeus.

Em 16 de abril de 1936, em Nablus - hoje território da Cisjordânia -, foi criado um Comitê Nacional Árabe na Palestina. O Comitê convocou os palestinos a uma greve geral, incentivando que os palestinos deixassem de pagar impostos aos britânicos e provocando o boicote a produtos dos colonos judeus. Dez dias depois, comitês nacionais dos países árabes se uniram e formaram o Alto Comitê Árabe, liderado por Amin Al-Husseini.

A greve contou com adesão de parte significativa da sociedade, comprometendo o funcionamento da economia. Em resposta, os palestinos foram presos, torturados, submetidos a buscas e demolição de suas residências. A Grã-Bretanha enviou uma Comissão Real de Inquérito - conhecida como Comissão Peel, por ser presidida por Earl Peel - para apurar as razões da revolta e buscar soluções.

Acreditando no trabalho da Comissão Peel, a greve foi encerrada em novembro de 1936. No entanto, o relatório apresentado pela Comissão, em julho de 1937, fez voltar a insatisfação palestina, já que sugeria a divisão da Palestina em um estado árabe e um estado judeu. Pelo plano elaborado, havia mais transferências de terras e o deslocamento forçado de 225 mil habitantes palestinos.

O resultado do relatório foi a retomada da resistência, dessa vez com mais intensidade, com palestinos assumindo o controle total de cidades do interior, criando instituições para substituir estruturas e serviços do mandato colonial. A resposta britânica foi o envio de cerca de 20 mil soldados e armamento para conter a revolta popular. Essas ações também fortaleceram grupos paramilitares sionistas, que foram treinados e armados pelo mandato colonial, como as gangues Haganah que depois se tornou a força de defesa do então proclamado Estado de Israel.

Uma nova comissão, chefiada por John Woodhead, entregou um relatório em novembro de 1938, afirmando que a partilha não era viável por conta da resistência. A revolta palestina terminou em maio de 1939. Entre 1936 e 1939, segundo números do governo britânico, 3.069 palestinos morreram na revolta, seja em combate, enforcados ou por causa de “gangues e atividades terroristas”. O número, no entanto, foi contestado pelo historiador palestino Walid Khalid, formado na Universidade de Oxford, que afirmou a morte de 5.032 palestinos, além de mais de 14 mil feridos e outros 5.600 presos.
 

Um território e dois Estados


Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando cerca de seis milhões de judeus morreram vítimas do regime nazista, o debate sobre um território judeu na Palestina foi intensificado. Em 18 fevereiro de 1947, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Ernest Bevin, anunciou o fim do mandato britânico sobre o território da Palestina, assumindo o fracasso britânico e deixando a cargo da Organização das Nações Unidas (ONU) a promoção da paz entre árabes e judeus. No mesmo período, países da Liga Árabe, fundada em 1945 e formada por Egito, Iraque, Árabia Saudita e Líbano - que conquistou a independência em 1943 - e Síria, solicitaram uma sessão especial para tratar do fim do mandato britânico e da sua independência.

Criação do Estado de Israel
Plano de Partilha da ONU não incluiu a cidade de Jerusalém.
Arte de Luana Galeno com informações da BBC



O pedido dos árabes foi recusado, enquanto a moção britânica foi aceita e, no mesmo ano, em 29 de novembro, a resolução 181 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a divisão do território da Palestina em dois Estados independentes: um judeu e outro palestino. Pela resolução, 57% do território seria dos judeus - que na época representavam 32,95% da população - e 43% para os palestinos, com a cidade de Jerusalém sendo considerada território internacional.

Para Arturo Hartmann, a proposta da ONU era a materialização de medo dos palestinos desde o final do século XIX. “É bom pensar em um ciclo final, desde as primeiras colônias lá em 1880, é a década onde começa mais claramente essa colonização, até a década de 40 do século XX, são quase 60 anos. A proposta de partilha era a materialização de uma visão da ameaça que eles já tinham previsto lá no início”, explica.

“A proposta da ONU fez um apanhado dos principais distritos da Palestina em 1947, e tentou separar a Palestina entre onde tinha uma população judaica e onde tinha uma população palestina. Qual era o problema disso, era muito difícil você pegar distritos que não tinham população palestina. Naquele momento, dois terços da população era palestina e um terço era judaico.” - Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe

Na Assembleia, 33 dos 56 países votaram a favor da partilha, dentre eles Brasil, Estados Unidos e a extinta União Soviética. Outros 13 votaram contra e 10 se abstiveram. A resolução foi rejeitada pelos palestinos e demais estados árabes vizinhos, que se recusaram a acatar a divisão territorial.

Em 14 de maio de 1948, as tropas britânicas se retiraram da Palestina e foi proclamado o Estado de Israel. Antes, o governo colonial elaborou o Plano de Dalet, que alegava ser um plano de contingência e defesa do estado judaico. Na prática, foi um plano de ocupação das instalações civis e militares por integrantes do estado judaico. Ainda na retirada de tropas, os britânicos deixaram parte do seu arsenal militar com os grupos sionistas.

No dia seguinte à saída britânica, países da Liga Árabe iniciaram uma ofensiva militar contra a independência de Israel e consolidação do novo Estado, no que ficou conhecido como a Primeira Guerra Árabe-Israelense. 

 

O terrorismo sionista

Dois grupos clandestinos alinhados com o movimento sionista de direita, se notabilizaram pelo planejamento e execução de ideias para expulsar palestinos do próprio território. O Irgun, liderado por Menachem Begin, que mais tarde seria primeiro-ministro de Israel (1977-1983), e o Lehi, comandado por Avraham Stern. No início dos anos 40, o Lehi ensaiou uma aliança com o nazismo. Os judeus alemães seriam transferidos para a Palestina em troca da expulsão dos ingleses. O acordo não vingou pelo fato de a mão de obra escravizada judaica ser relevante na guerra.


Atentado do Hotel King David

Em 22 de julho de 1946, antes da proclamação da república de Israel, integrantes do grupo Irgun promoveram um atentado, organizado por Menachem Begin, contra o Hotel King David, situado a oeste da cidade de Jerusalém, no território palestino. O Hotel funcionava como uma espécie de sede administrativa do mandato palestino.
 

Hotel King David foi alvo de ataque do grupo Irgun
Hotel King David era sede administrativa da Autoridade Palestina e foi alvo de ataque à bomba pelo grupo sionista Irgun. Foto: WikiCommons

A explosão do prédio deixou 91 mortos entre palestinos, britânicos, judeus e outras cinco nacionalidades, além de 45 pessoas gravemente feridas.

Em 1974, o jornalista britânico Russell Warren Howe conduziu uma entrevista com o líder do grupo Irgun. Na conversa com Begin, Russell perguntou como ele se sentia sendo “o pai do terrorismo no Oriente Médio”. Segundo o jornalista, Begin respondeu: “No Oriente Médio? Em todo o mundo!”.

A conversa foi retratada na coluna “Seeing the Light” ( em tradução, Vendo a Luz), o artigo foi publicado em 12 de julho de 1991 e teve o título de “Fighting the “Soldiers of Occupation,” From WWII to the Intifada” (em tradução, “Lutando Contra os “soldados da ocupação”, da Segunda Guerra Mundial à Intifada”). A coluna na íntegra está disponível no site da revista estadunidense Washington Report on Middle East Affairs.

Massacre de Deir Yassin

No dia 09 de abril de 1948, já com a proclamação do Estado de Israel e dando sequência ao plano de expulsão dos palestinos do território, 120 integrantes desses grupos Irgun e Lehi invadiram o povoado de Deir Yassin, localizado a oeste da cidade de Jerusalém.

Já durante a manhã, o vilarejo de 610 habitantes estava tomado. De acordo com relatos de sobreviventes, os terroristas passaram de casa em casa para assassinar os moradores sejam crianças, mulheres ou idosos. Também há relatos de mutilações, estupros e sobreviventes sendo carregados pelas ruas em uma espécie de desfile da vitória antes de serem executados. Estima-se que morreram entre 100 e 250 pessoas.

A ação foi encerrada à tarde, quando moradores judeus-ortodoxos retornaram e contaram que os demais habitantes do vilarejo sempre foram pacíficos. Cerca de 250 sobreviventes foram levados de caminhão e colocados no lado árabe de Jerusalém. Nada aconteceu com os grupos responsáveis pelo massacre. Em 1949, foi construído o bairro judeu Giayt Shaul Bet no que era o vilarejo de Deir Yassin. Hoje o bairro faz parte de Har Nof, uma região judaica ortodoxa.
 

Expansão israelense e diáspora palestina


O resultado do primeiro embate árabe-israelense, terminado em junho de 1949, foi a vitória do Estado de Israel, expansão territorial que correspondeu a 60% do que seria o território árabe estabelecido pela partilha da ONU. Apenas os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza permaneceram palestinos, com ocupação de forças militares egípcias e jordanianas. A cidade de Jerusalém foi dividida em duas partes, com a parte ocidental sob controle de Israel, e a parte oriental com a Jordânia.

A negociação para o fim do primeiro conflito teve início em fevereiro de 1949, com o acordo de armistício entre Egito e Israel, e depois, em julho do mesmo ano, com o acordo de armistício entre Israel e os países árabes vizinhos. No acordo com o Egito, ficou acertado que a linha de demarcação fosse traçada considerando a fronteira internacional de 1922 entre os egípcios e o Mandato da Palestina. A exceção a essa demarcação foi na região próxima ao Mar Mediterrâneo, que ficaria conhecida como Faixa de Gaza, cujo poder ficou sob controle egípcio. 

O pesquisador Arturo Hartmann analisa que a proposta de partilha feita pela ONU e a guerra árabe-israelense favoreceram um contexto de “limpeza étnica palestina”. “A limpeza étnica é o arcabouço ideológico que vai sendo construído desde o momento que começa a colonização, vai se consolidando uma visão de como a comunidade sionista/judaica deveria se encaixar na palestina, no sentido de criar essa exclusividade étnica, e o dilema e o debate interno era como a gente lida com a maioria da população palestina, árabe, que não é judaica, e que não era europeia sionista, também”, conta. “O projeto que acaba se tornando hegemônico e vai adiante de implementação, é o de exclusividade (étnica). É de você usar a força extrema, e aí nasce o conceito de muralha de ferro em 1920, que é a força militar para bater nos palestinos, para que só sobre os moderados”, diz o pesquisador.

Ao longo do conflito, segundo a ONU, cerca de 700 mil palestinos saíram do território e foram para países vizinhos. A diáspora palestina foi chamada de “Al Nakba” - em árabe, “a catástrofe”. “A Nakba foi esse processo de expulsão e transformação e renomeação do território. [...] Israel vai criar uma série de leis para não permitir que os refugiados voltem, e nessas leis também estão mecanismos para que o Estado possa se apossar das terras dos ausentes. [...] Palestinos que vão se tornar árabe-israelenses pela legislação de Israel [...] Toda a geografia vai ganhar um nome hebraico”, explica Hartmann.

Na próxima reportagem da série especial Palestina e Israel ​​​​​​você vai entender o processo de resistência dos palestinos e como foram estabelecidas as fronteiras de Israel nos limites que conhecemos hoje.

Os percalços de uma vida que virou do avesso
por
Giovanna Montanhan
|
15/06/2023 - 12h

A trajetória do jornalista paulistano Mateus Camillo, formado pela USP, iniciou-se na Folha de S.Paulo como editor de Interação e Redes Sociais. Mais adiante, tornou-se repórter de tecnologia e turismo. Enquanto exercia tal função, comandava os perfis do veículo de Instagram, Facebook, Twitter e TikTok, além de gerenciar uma equipe com mais de dez pessoas.

 

 

Foto Reprodução: Muck Rack
Foto Reprodução: Muck Rack

 

Possui mais de uma década de experiência em redações de grande relevância no Brasil, como por exemplo, a Abril (onde ficou por dois anos e quatro meses), e era o responsável pela manutenção da página inicial do portal de notícias e pela criação de conteúdos especiais. Além dessas funções, colaborava com as mídias sociais da revista. E com O Estado de S. Paulo (durante quatro meses), exercia a função de trainee em diferentes editorias, de esporte a economia. Também, fez parte da produção e edição de um caderno especial sobre as Olimpíadas do Rio, que aconteceram em 2016.

 Desde 2013, trabalha no estilo freelance e integra a equipe de colunistas da Folha com seu blog semanal intitulado #Hashtag, sobre redes sociais e tecnologia. Foi membro integrante da comissão dos cem anos do jornal com a função de organizar uma série de reportagens, conteúdos especiais e eventos que marcaram o centenário. Segundo ainda Camillo, quando iniciou esse modelo de trabalho, aceitava todas as oportunidades que estavam ao seu alcance, de modo a ampliar o conjunto de experiências e aventurar-se em várias áreas até encontrar uma específica que o fizesse se destacar por completo. 

Durante bate-papo com os alunos de jornalismo do primeiro semestre da PUC-SP, foram compartilhadas algumas dicas de como se destacar na profissão, dentre elas a de começar a estagiar o mais breve possível, a fim de obter experiência prática desde o início e para aqueles que possuem condições financeiras, considerar a opção de morar fora do país, mesmo que seja por um curto período. Essa vivência internacional poderá ampliar a bagagem cultural e proporcionar um diferencial na carreira.

Mateus já foi palestrante, ministrou cursos e workshops nas principais faculdades do estado de São Paulo sobre o uso das redes com enfoque no âmbito jornalístico. Durante a pandemia de COVID-19, migrou para o trabalho remoto e se encantou pela flexibilidade oferecida. A partir desse ponto, decidiu se tornar nômade digital - isso significa que mora em airbnb de cidades diferentes e trabalha onde quer que esteja. Quando questionado, se não sente falta do seu sofá, responde, com humor, que nos apartamentos alugados consegue móveis confortáveis que o façam sentir-se como se estivesse em casa.

 Em janeiro de 2023, lançou seu newsletter completamente em inglês, intitulado No Direction Home (http://nodirectionhome.substrack.com) sobre nomadismo digital e modelos de trabalhos flexíveis. No mês de abril, juntou-se a Eliane Brum, Jonathan Watts, Verônica Goyzueta e Talita Bedinelli para contribuir como editor das redes para o SUMAUMA - site de jornalismo do centro do mundo, cuja sede fica em Altamira, no Pará.

Com uma rotina diária cansativa e estressante catadores de rua contribuem com cerca de 90% da reciclagem no Brasil
por
Laura Boechat
Maria Clara Alcântara
|
15/06/2023 - 12h

Por Laura Boechat (texto) e Maria Clara Alcântara (audiovisual)

 

Em um sol tímido que começa a surgir perto das oito da manhã, a movimentação na avenida mais famosa da cidade de São Paulo, a "Paulista", já dá seus primeiros indícios de mais um dia corrido – como todos os outros na região. A longa rua, que ostenta bancos bilionários, museus famosos e lojas de roupas de três andares, faz circular pelas calçadas executivos engravatados, turistas curiosos, vendedores ambulantes e muitos outros tipos dentre os 1.500.000 transeuntes que por lá caminham diariamente. Mas não só esses. 

A Avenida Paulista é também o cenário do cotidiano de Joaquim. Aos 66 anos, ele é catador de materiais recicláveis. Morador da Zona Leste e cristão fiel, ele circula, como muitos outros, pela região da avenida de 9h00min às 21h00min, recolhendo o que encontra pelas calçadas, restaurantes e lixeiras. Com seu carrinho elétrico, Joaquim procura desde papelão a latinhas e revistas. "O papelão está meio defasado, tem épocas que sobe e desce, agora tá baixo. Mas nós estamos aí, na luta", comenta Joaquim, com a perseverança que ele diz ser entregue por Deus.

A história de Joaquim como catador de recicláveis começou cedo. Já aos 14 anos, ele separava latinhas para vender. "Naquele tempo, se você pedia dinheiro pros pais, eles não davam", diz bem-humorado enquanto protege os olhos do sol das 3 da tarde na Avenida Paulista, em frente ao Juizado Especial Federal. "Fui trabalhar de varredor de rua e não deu certo. Eu acho que já tô com sangue na veia de reciclagem", conta Joaquim em meio a risadas, marcado pelo tempo de seus 50 anos como catador.

Hoje, Joaquim não precisa mais separar latinhas pela falta de dinheiro dos pais, mas são elas que ainda mantêm sua casa: "O meu carrinho dá sustento para minha família. Eu e minha esposa compramos os meus remédios, porque com o tempo vêm as coisas. Eu tenho uma hérnia, varizes, tudo por conta do meu trabalho". 

Pai de família, hoje, ele trabalha com uma associação chamada Nova Glicério, na qual operam catadores e triadores, e que viabilizou a conquista do tão querido carrinho elétrico através da organização Pimp My Carroça. "Pra mim, foi uma benção. Esse carrinho tem buzina, tem luz noturna, seta, carregador de celular…. Pega até 400kgs. Pra mim é uma maravilha, eu não pego mais peso. Facilita muito", explica, exibindo a buzina posicionada no guidão do carrinho, além dos adesivos na traseira para sinalizá-lo nos túneis que compõem o cenário do seu dia a dia.

"Essa aí é a logo deles!", mostra Joaquim enquanto aponta para o adesivo colado em seu carrinho com o nome Pimp My Carroça. Segundo o site, a ONG se descreve como "um movimento que atua desde 2012 para tirar os catadores de materiais recicláveis da invisibilidade – e aumentar sua renda – por meio da arte, sensibilização, tecnologia e participação coletiva". Uma das ações para alcançar esse objetivo é o projeto Carroça do Futuro – que foi por onde Joaquim conquistou sua carroça elétrica. 

As carroças elétricas possuem velocidade máxima de 6 km/h, motores elétricos com funções de ré e itens de segurança como os descritos por Joaquim. O primeiro projeto de carroça elétrica surgiu em 2021. Atualmente, a meta é expandir o projeto através de um fundo coletivo com parceiros e aliados.

  

 

Se a carrocinha elétrica que suporta 400 quilos ajuda o trabalho de Joaquim, o mesmo não se aplica à maior parte dos catadores, que não têm a facilidade impulsionada pela tecnologia. Márcio, de 44 anos, também é catador. Morador de Bom Retiro, Márcio circula pela região de Perdizes todos os dias. Com um carrinho manual e bem menor que o de Joaquim, Márcio nos explica que, por não ter uma carroça maior, fica difícil juntar muito volume de material. "Eu vou juntando lá perto do terminal até umas nove da noite. Guardo por uns dez dias em casa. Quando tem uma quantidade maior, o pessoal do ferro-velho lá de Bom Retiro, onde eu moro, vem com o caminhãozinho buscar", conta, dando um gole de água que acabou de pedir em uma mecânica localizada na rua Bartira.

Mesmo com a dificuldade por conta do tamanho do carrinho, Márcio aponta que, para a região em que ele circula, é mais prático: "Ele é pequeno, mas é melhor para andar pela região aqui, que tem muito morro".

Diferente de Joaquim, que trabalha por doze horas, Márcio costuma chegar às 17h30min em Perdizes, deixando a região por volta das 21h00min. "É que é a hora que o pessoal está colocando o lixo dos prédios para fora, né. É o horário que a gente começa a trabalhar, e tem que ir antes do caminhão do lixo chegar. Daqui a pouco ele passa", explica Márcio.

Catou. E depois?

Da latinha de refrigerante até o papelão do vídeo-game novo, colhido por um trabalhador filiado à associação, como Joaquim, ou de maneira autônoma, como Márcio, o material coletado precisa de um destino final.

O primeiro passo é a triagem – como ocorre na associação Nova Glicério, onde participa Joaquim. Todo o material é separado em categorias e analisado para definir se está apto à reciclagem. É também na triagem que ocorre a pesagem, o enfardamento e a estocagem do material. Após a seleção, os materiais são vendidos para a indústria como matéria-prima para a confecção de novos artigos. "Tudo o que a gente cata vira outras coisas. Um pedaço de ferro pode ajudar na composição de uma geladeira, por exemplo", explica Joaquim.

Apesar de Joaquim e Márcio venderem os materiais para a reciclagem, esse, infelizmente, não é o único destino dos materiais descartados no Brasil. Chamados de Resíduos Sólidos Urbanos, grande parte dos RSU ainda são encaminhados para destinação inadequada em todas as regiões do País. Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil de 2022, da Abrelpe, 39% dos resíduos coletados ainda vão parar em lixões e aterros controlados. Isso representa um total de 29,7 milhões de toneladas com destinação inadequada.

 

 

 

Segundo o doutor em saneamento Luis Hamilton Garbossa em seu livro "Gestão de resíduos: sólidos, líquidos e atmosféricos", o aterro sanitário é considerado atualmente – dentre as três opções tratadas – a melhor maneira de tratar os resíduos sólidos. Os lixões consistem em jogar todo o resíduo coletado em um local a céu aberto, o que acaba por atrair ratos e urubus, além de prejudicar o solo. Já os aterros controlados, apesar de menos tóxicos que a primeira opção, também não se mostram como a melhor opção, uma vez que não ocorre a impermeabilização do solo.

Diferente disso, o aterro sanitário segue uma série de condutas para que o descarte não seja prejudicial à saúde da população do entorno, nem dos envolvidos na cadeia do mercado do lixo. Essas regras envolvem tratamento de chorume, a coleta de biogás e a impermeabilização do solo. Dessa forma, a melhor maneira de descarte dos RSU são os aterros sanitários.

A necessidade da função de catador

Para Joaquim, sem a função de catador, São Paulo se tornaria um caos. "É muito importante ter um lugar para descartar os recicláveis, que não são lixo. Eu lembro que em 1970 a turma não ligava para coleta de materiais recicláveis, mas aí começou os efeitos do aquecimento global e o povo começou a se preocupar né", diz ele.

E ele tem razão: segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2017, os catadores já eram responsáveis por quase 90% do lixo reciclado no Brasil. Mesmo com o número surpreendente, os catadores ainda enfrentam diariamente preconceitos, além de um processo de invisibilização e exclusão.

Márcio acredita que falta respeito por boa parte da população. "Você está andando com carrinho na rua ou carroça e o pessoal passa de carro e buzina, te xinga. Eles acham que você tá atrapalhando o trânsito", lamenta. "Mas isso é falta de entender a realidade. É que nem uma garrafa pet, tá aí na chuva e desce pro bueiro, causando um monte de problema. Se não fosse por nós, isso aconteceria ainda mais", explica ele.

Apesar do preconceito direcionado aos catadores e da má remuneração, a outra ponta da pirâmide parece se dar bem. Segundo dados do Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, da Abrelpe, o mercado de limpeza urbana movimentou, em 2021, R$ 29,9 bilhões, 3,0% a mais do que o montante verificado em 2020. A região Sudeste apresentou variação acima da média nacional, com 3,2%.

Como suporte para dignificar a função dos catadores, Joaquim propõe que o assunto seja vociferado: "essa é uma forma de valorizar o trabalho do catador, mostrando pros outros a importância dele. Acabar com a visão de que o catador é um coitado – o catador é um profissional que gera empregos, gera reciclagem". 

Em comemoração à liberdade da imprensa, seis jornalistas foram homenageados na quarta edição do prêmio
por
Kawan Novais
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14/06/2023 - 12h

Na terça-feira (6), aconteceu a quarta edição do Troféu Audálio Dantas – Indignação, Coragem, Esperança, no auditório Prestes Maia, sediado na Câmara Municipal de São Paulo. Em conjunto com a curadoria da família Kunc Dantas e da Oboré Projeto Especiais, 97 associações contribuíram para a realização do prêmio incluindo a participação dos Centros Acadêmicos Benevides Paixão (PUC-SP), Lupe Cotrim (ECA-USP), Vladimir Herzog (Cásper Líbero) e de estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog. Além de mais uma vez celebrar o dia do Jornalista e o dia Nacional de Liberdade de Imprensa, comemorados em 07 de abril e 07 de junho, respectivamente, o evento regido pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB) e com o apoio dos jornalistas Sérgio Gomes, um dos fundadores da Oboré e Vanira Kunc, viúva de Audálio Dantas homenageou seis jornalistas nesta edição.

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Da esquerda para direita: Sérgio Gomes, Vanira Kunc, Ivo Herzog, Toni Pires, Cristina Zahar, José Eduardo, Eliseu Gabriel, Guto Camargo, Leda Beck, Isabela Koch, Tulio Gonzaga e Samir Salman. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Com o início às 19h, o vereador começou a cerimônia relembrando a carreira do jornalista Audálio Dantas, nome o qual a premiação carrega desde a data de seu falecimento (30 de maio de 2018) para preservar sua memória e o legado. Em seguida, representantes de algumas entidades participantes do evento promoveram uma reflexão sobre o atual cenário jornalístico no Brasil. “Nós suportamos tempos duros, mas resistimos e seguiremos resistindo na defesa de um direito que não é só dos jornalistas, e sim de toda a sociedade”, declarou Cristina Zahar, representante da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), somando em sua fala um dado levantado por sua própria entidade de que os números de ataques à imprensa quase quadruplicaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Audálio Dantas não teve tempo de ter medo”, afirmou José Eduardo, representante do Sindicato dos Jornalistas, ele reafirmou a importância da ética na profissão independente das condições de trabalho. “Infelizmente, estamos vivendo um tempo de profundo desrespeito ao diferente, provocado pelo fascismo que cresce nesse país”, refletiu Eduardo. Ademais, recém-formados e estudantes de jornalismo, uniram-se para a leitura de uma carta propondo o compromisso para a continuação do Troféu Audálio Dantas a fim de contemplarem jornalistas experientes na profissão em uma possível próxima edição.

Bruno Paes Manso, Gregório Duvivier, Juliana Dal Piva, Leonardo Sakamoto, Rene Silva e Valmir Salaro foram os seis jornalistas homenageados nesta edição, a qual buscou profissionais que produzem um "jornalismo ético e plural que a gente quer e que o país precisa", segundo Leda Beck, atual presidente da Associação Profissão Jornalista (APjor).

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Laerte Coutinho e Roger Matua, desenhista e escultor do Troféu Audálio Dantas, respectivamente. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Ao receber o troféu, Salaro, experiente repórter policial da Rede Globo e o primeiro a ser gratificado levantou uma reflexão sobre o erro jornalístico que qualquer profissional da área está sujeito a cometer ao exercício da profissão.

Sakamoto, um dos fundadores da Repórter Brasil, organização focada em investigações sobre direitos humanos, ressaltou a dificuldade dos comunicadores durante o governo bolsonarista. “Se a gente que é jornalista e moramos no Sul-Sudeste, em grandes cidades, sofremos muito nos últimos 4 anos de Jair Bolsonaro, tenho certeza de que jornalistas do interior do Brasil sofrem muito mais desde sempre", afirmou Sakamoto. Por fim, o jornalista avaliou que a crise democrática no país não possui 4 anos, e sim 523 anos.

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O jornalista Leonardo Sakamoto recebeu o troféu de Eliseu Gabriel, vereador de São Paulo pelo PSB. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

O terceiro prestigiado, Bruno Paes Manso, escritor do livro “República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” e repórter especializado na área de segurança pública, exaltou sua relação com os colegas homenageados e a importância de cada um para o funcionamento de um bom jornalismo no Brasil.

A jornalista Juliana Dal Piva, que fez trabalhos investigativos relacionados à família Bolsonaro, ao ser agraciada, fez uma crítica sobre o cenário feminino no jornalismo brasileiro diante do fato dela ser a única mulher homenageada nesta edição. “Não posso parar e não olhar para mim e saber quem eu sou. Sou uma mulher jornalista e para que eu pudesse ter feito o trabalho que fiz e recebesse essa homenagem linda hoje, muitas [mulheres] vieram antes de mim”, declarou Dal Piva.

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A jornalista Juliana Dal Piva recebeu o troféu de Vanira Kunc, jornalista e viúva de Audálio Dantas. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

O humorista, escritor e apresentador do “Greg News”, programa de jornalismo satírico disponível na plataforma de streaming HBO Max, Gregório Duvivier não pôde comparecer ao evento. Entretanto, Denis Russo, um dos editores-chefes do programa, compareceu à premiação representando o humorista. Russo destacou o caráter não jornalístico do Greg News, mas demonstrou a importância do viés humorístico em torno de uma narração factual produzida pela equipe de Duvivier.

Por fim, o último jornalista a receber o troféu Audálio Dantas foi Rene Silva, criador do jornal “Voz das Comunidades”, originário no Morro do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro. Silva recebeu o prêmio através da reunião entre os integrantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog no palco. “Nossos estudantes vieram aqui porque sabiam da possibilidade de conhecer o futuro. Homenagear o jornalista Rene Silva nesta noite, é conhecer o futuro de um jovem da periferia do Rio de Janeiro com características de vida escolar muito parecidas com a dos estudantes de nossa escola”, declarou Keila Girotto, diretora da escola. 

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O jornalista Rene Silva, fundador da "Voz das Comunidades", jornal comunitário das periferias do Rio de Janeiro. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

“O que a gente não quer mais, é ver a favela sendo retratada a partir de um olhar de violência, tráfico de drogas e mortes. Queremos que a favela seja mostrada como um lugar de esperança e coragem”, refletiu o jornalista, acrescentando a ideia de democratização da informação diante da pouca comunicação existente nas comunidades brasileiras por meio do jornalismo comunitário enquanto um trabalho de resistência.

A solenidade foi transmitida pela Câmara Municipal de São Paulo e pode ser assistida através do link.

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Jornalistas homenageados e organizadores do evento. Da esquerda para direita: Leonardo Sakamoto, Sérgio Gomes, Denis Russo (representando Gregório Duvivier), Juliana Dal Piva, Vanira Kunc, Eliseu Gabriel, Rene Silva, Bruno Paes Manso e Valmir Salaro. Foto: Maria Ferreira dos Santos.