A artista, que usa o Slam como plataforma, ganha notoriedade nas redes sociais ao abordar questões decoloniais
por
Pedro da Silva Menezes
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31/03/2025 - 12h

O Slam vai muito além de uma simples competição de poesia falada. É, na verdade, um movimento de resistência, um grito de expressão. No Brasil, esse movimento tem ganhado cada vez mais força em diversos cantos, e no ABC Paulista, Mileny Leme se tornou uma das principais vozes dessa nova geração de poetas. Ela conquistou as redes sociais e impactou escolas, tornando-se uma referência para crianças e adolescentes. Mileny conheceu o Slam em 2018, através da internet. "Na época, achava que era só um encontro de pessoas incríveis falando coisas incríveis. Depois, entendi que era uma competição com regras e circuitos, mas o mais importante sempre foi a expressão", diz Mileny.

Em 2021, ela participou do seu primeiro Slam presencial e, desde então, ampliou sua atuação na cena. Com o tempo, se tornou uma referência na sua região, especialmente ao criar o Slam ABC, um espaço de fortalecimento da poesia falada no ABC Paulista. "No começo, aqui era um lugar de frustração para mim. Eu achava que precisava ir para capital para ser alguém. Depois, percebi que meu território tem muito valor", reflete.

Mais de 100 pessoas, integrantes do Slam ABC, na Praça do Relógio, em Mauá, reunidas para recitar suas poesias.
Mais de 100 pessoas, integrantes do Slam ABC, na Praça do Relógio, em Mauá. Fonte: Divulgação/Felipe Castelani.

Sua poesia, focada em questões decoloniais, tem grande alcance nas redes sociais. Um dos poemas com grande destaque foi "Pindorama", que ultrapassou 28 milhões de visualizações no Instagram e TikTok. "Não tenho ideia de quantas pessoas viram e compartilharam esse poema. É surreal!", admite. A obra, que questiona a narrativa oficial sobre a origem do Brasil, virou material pedagógico e é utilizada em escolas, o que impacta muito positivamente o público infantil. O poema desmonta a visão tradicional da colonização com versos: "Na escola, eu aprendi que quem descobriu o Brasil foi um cara chamado Pedro Álvares Cabral [...] O Brasil não foi descoberto, foi invadido e explorado".

Além de questionar, o poema também fala sobre o apagamento das culturas indígenas e as injustiças sociais ao longo do tempo: "500 anos de Brasil, 300 de escravidão e só 125 de uma falsa abolição".

"A poesia destaca a diversidade cultural do país e critica a centralização da cultura no eixo Rio-São Paulo: o Brasil está muito longe de ser só São Paulo e Rio de Janeiro, é um país continental. Fura a bolha e olha em volta."

Milene Leme no Slam SP recitando poema
Mileny Leme recitando seu poema no Slam SP. Fonte: Divulgação/Sérgio Silva.

O impacto dessa poesia foi tão grande que a cantora infantil Alice, conhecida como "A Princesa dos Cachos", postou um vídeo recitando o poema, nada simples, palavra por palavra. "Fiquei arrepiada ao ver aquilo. Nunca imaginei que uma criança fosse se interessar e absorver dessa forma", conta Mileny. Isso gerou um grande engajamento nas redes sociais e trouxe à tona uma série de discussões sobre a arte que desmonta pensamentos tradicionais

Com sua crescente notoriedade, Mileny não só conquistou visibilidade, mas também prêmios importantes no Slam, como o título de campeã paulista. Outro título foi conquistado no festival realizado no Acre, em que recebeu o troféu das mãos de Marc Kelly Smith, o criador do movimento. "Ganhar não era meu foco principal, mas me mostrou que minha voz está sendo ouvida", diz Mileny, que agora almeja representar o Brasil internacionalmente. Para ela, é um espaço de transformação social e resgate histórico. A poeta leva sua mensagem, ao mesmo tempo em que se prepara para os desafios de uma carreira que está apenas começando.

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Lucas Mév e Jonas Tjon entrelaçam as histórias das revoluções latinoamericanas e de manifestações culturais populares
por
Amanda Tescari
Ingrid Lacerda
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27/03/2025 - 12h

Por Amanda Tescari e Ingrid Lacerda

Estreou na Matilha Cultural, na última sexta-feira (21), a exposição “Reticências", dos artistas Lucas Mév e Jonas Tjon, com produção de Jack Moraes. A mostra aborda a relação entre as revoluções da América Latina durante os séculos XVII e XX, e como elas se expressam em movimentos socioculturais como o Hip-Hop e o Punk, que funcionaram como ferramentas de enfrentamento coletivo e acolhimento diante das injustiças sociais. 


Painel “Revolução” (2024), de Lucas Mév, Jonas Tjon e Vitor Skimo/ Por: Ingrid Lacerda


Com homenagens a personalidades como Marighella, Carolina Maria de Jesus, Racionais MCs, RZO, Tina Punk e muitos outros, as paredes do centro cultural na República ilustram a “palavra” como elemento central dos movimentos políticos. 

A intersecção entre esses dois momentos na história é representada pelos artistas da zona leste de São Paulo. O legado político inspirou letristas, poetas e MC's, todos artistas da palavra, e que dela se utilizam para propor suas reflexões - assim como Mév e Tjon, que já vivenciam o hip hop e o punk e, sobretudo, o graffiti há muitos anos. 

Da ideia inicial até a inauguração foram mais de 8 meses de muito trabalho conjunto, encontros, estudos e correria, principalmente por se tratarem de artistas totalmente independentes. Sobre o processo de construção do trabalho, Mév destaca a dificuldade de conciliar o tempo e o lado financeiro, já que as horas que poderiam ser dedicadas ao sustento próprio e de suas famílias foram substituídas pelo processo criativo e as incertezas do trabalho. Tjon também aponta os desafios de ser um artista autodidata: “Ninguém fez curso nem nada, aprendeu tudo na rua, como pintar e tal, e se jogou mesmo. E pintar essas ‘paradas’, vai aprendendo mesmo no processo, né?”

Jack Moraes também descreve um pouco dos desafios do mercado da arte, “O mercado é um nicho muito fechado, e a proposta dos meninos sai de um padrão estético, acadêmico e galerista”. Ela conta que a dificuldade está em adentrar neste ramo apresentando uma proposta de projeto voltado para a cultura de rua , já que são poucas pessoas que apoiam. Apesar disso, a produtora fala também sobre a escolha de abraçar esse desafio e fazer acontecer. 

A PALAVRA COMO MUNIÇÃO 

A importância da palavra no contexto das revoluções é o cerne da exposição. A palavra opera, então, como ferramenta de conscientização e de denúncia nas sociedades, de modo que é indispensável para se pensar o contexto das revoluções. Para os artistas, são as palavras que fazem o caminho de levarem as ideias adiante, e, por esta razão, têm a capacidade de juntar pessoas em prol de um movimento social - seja no hip hop, nos grupos de resistência contra a ditadura ou ainda nas manifestações indígenas. 

Tjon  e Mév destacam ainda a particularidade de se viver numa São Paulo quando o assunto é a caligrafia urbana. A cidade apresenta uma cena diversa e cheia de referências no pixo e no graffiti, capaz de conectar a sociedade de diversas maneiras, criar novas referências para símbolos já existentes e construir a cultura underground. 

 


Abertura da exposição Reticências na Matilha Cultural/ Por: Ingrid Lacerda

 

O PROCESSO CRIATIVO 


As primeiras obras surgiram em 2023, mas a exposição foi produzida quase dois anos depois. A produção aconteceu de forma independente, na qual muitas vezes precisavam equilibrar a criação das obras com outros trabalhos para garantir o sustento dos escritores de graffiti. O quintal de Mév se transformou em ateliê, onde criatividade e determinação se uniam com o cotidiano dos artistas. 


Apesar das dificuldades, a coletividade se tornou um laço diário crucial para a construção das obras, com cada um contribuindo com sua visão e inspirações. “Entre os trampos temos que fazer da vida, o tempo que sobrava a gente tava se encontrando, pintando ou idealizando algumas coisas, falando sobre, discutindo. Estamos sempre trocando um papo.”, expõe Lucas sobre as perspectivas diárias dos artistas independentes.


Além disso, os contextos históricos e sociais foram essenciais. Após um intercâmbio no Chile, Mév e Tjon  cruzaram o caminho do outro letrista Dfes, assimilaram elementos das lutas sociais dos países do terceiro-mundo, expressando-os em suas artes. O dark lettering (inspirado pela  caligrafia gótica) e a pixação paulistana também representam formas de resistência, combinando registros que refletem a cultura de rua e as revoluções populares.


A exposição Reticências fica aberta para visitação até o dia 18 de abril, e conta com um calendário de atividades aberto para o público. 


Endereço: Rua Rêgo Freitas, 542 - República.
 

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Nova temporada chega no dia 13 de abril com novos personagens e dose extra de tensão
por
Natália Matvyenko
Manuela Amaral
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25/03/2025 - 12h

Com o fenômeno televisivo da primeira temporada, conquistando tanto fãs dos jogos, quanto pessoas que nunca ouviram falar da franquia, a segunda parte propõe elevar ainda mais a narrativa pós-apocalíptica e explorar novos aspectos dos personagens. A AGEMT fez um apanhado de tudo que se sabe até agora para aumentar a ansiedade de quem aguarda a estreia.
 

protagonistas da série em foto promocional de perfil
(Reprodução/Instagram: @thelastofus)

Bastidores, produção e impacto emocional

As gravações da segunda temporada aconteceram em diversas locações no Canadá para recriar o cenário devastado de Seattle. O elenco e a equipe já adiantaram que essa fase será ainda mais intensa e emocionalmente pesada. Bella Ramsey revelou à revista Variety que algumas cenas foram "difíceis de filmar", enquanto Craig Mazin disse que os episódios vão ter momentos "perturbadores e inesquecíveis".

Outro destaque é a trilha sonora. O premiado compositor Gustavo Santaolalla, responsável pela música dos jogos e da primeira temporada, está de volta para garantir o tom melancólico e marcante da narrativa.

Fidelidade ao jogo e novos rumos para a adaptação

Baseada em The Last of Us Part II, jogo lançado em 2020, a  história se passa cinco anos após os eventos da primeira parte e acompanha as jornadas de Ellie e Abby, explorando temas como vingança, trauma e conflitos morais.

Diferente da primeira parte, que adaptou todo o primeiro jogo em um único ano, a trama do segundo game será contada ao longo de mais de uma temporada. Com um elenco reforçado, novos desafios e um aprofundamento nas relações entre os personagens, a série promete entregar momentos intensos e emocionantes.

Novo tipo de infectados

Se você achou que já tinha visto o pior dos infectados, prepare-se: o showrunner, Craig Mazin, e o criador do jogo, Neil Druckmann, afirmam que os novos episódios trarão os “perseguidores” (stalkers, em inglês) um tipo de infectado mais inteligente e estratégico. Segundo Neil, parte do cérebro dessas criaturas ainda está ativa, possibilitando que, diferente dos outros infectados, eles consigam traçar estratégias como se esconder para atacar, sendo mais aterrorizantes e letais.

Personagens icônicos e aguardados pelos fãs 

Uma das grandes novidades da série é a chegada de Abby, uma paramilitar de um grupo de Seattle e figura central do jogo The Last of Us Part II, que será interpretada por Kaitlyn Dever (Vinagre de Maçã, série que estreou esse ano na Netflix) a personagem é uma paramilitar de um grupo de Seattle, a história se intensifica quando a vida dela se cruza com Ellie (Bella Ramsey), trazendo conflitos intensos e um enredo repleto de reviravoltas.
 

atriz que interpretará abby com olhar distante em foto promocional
(Reprodução/Instagram: @thelastofus)

Além de Abby, a nova temporada apresentará Dina (Isabela Merced), o interesse amoroso de Ellie, e Jesse (Young Mazino), seu ex-namorado. Outros personagens importantes também foram escalados: Danny Ramirez interpretará Manny, Tati Gabrielle será Nora, Ariela Barer viverá Mel e Spencer Lord assumirá o papel de Owen. Além disso, Jeffrey Wright retornará como Isaac, líder da milícia dos Lobos, papel que já dublou no jogo.

Abaixo confira o teaser oficial no canal oficial da HBO Max:
 

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Grandes nomes do teatro musical brasileiro se apresentam na primeira passagem do espetáculo pelo país
por
Ana Clara Farias
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17/03/2025 - 12h

 

Na última quinta-feira (13) uma versão inédita de ‘Meninas Malvadas’ estreou na capital paulista, sob direção de Mariano Detry (Priscilla, a Rainha do Deserto – O Musical). É a primeira vez que a obra vem ao Brasil, sendo essa versão uma não-réplica da original, ou seja, diversos elementos foram modificados e adaptados para se encaixar em referências brasileiras. 

O aclamado roteiro de ‘Meninas Malvadas’, escrito por Tina Fey  do filme de 2004 foi promovido a libreto em 2017, quando a comediante concordou em co-escrever a adaptação para o teatro. A peça estreou na Broadway em 2018, com as músicas de Jeff Richmond (30 Rock) e as letras de Nell Benjamin (Legalmente Loira). A produção foi um sucesso de bilheteria e arrecadou mais de US$ 124 milhões nos Estados Unidos. O espetáculo fechou em março de 2020, mas ainda segue em cartaz em Londres.

A trama segue a adolescente Cady Heron, que estudou em casa durante a sua infância, mas passa a frequentar a escola no ensino médio e enfrenta as pressões sociais da adolescência. A história satiriza os elementos que formam a hierarquia de uma “high school” americana de uma forma cômica, com a personagem Regina George, considerada a “abelha-rainha”.

No elenco, temos a atriz e dubladora Laura Castro interpretando a protagonista Cady, Aline Serra no papel de Karen Smith, Gigi Debei como Gretchen Wieners e Anna Akisue, a primeira asiática no mundo a interpretar Regina George. Danielle Winnits, que já fez outras peças musicais, além de ser reconhecida pelo trabalho no cinema e na televisão, interpreta a Srta. Norbury, as mães de Regina e Cady. Lara Suleiman e Arthur Berges se destacam como os narradores Janis Ian e Damian Leigh.

Cinco mulheres vestidas de rosa
Danielle Winits retorna aos palcos e interpretará três personagens. Foto: Tomzé Fonseca

No ano passado, uma versão cinematográfica do musical foi lançada e arrecadou mais de US$ 100 milhões em bilheteria ao redor do mundo, vinte anos após o lançamento do original. A atriz e cantora Renée Rapp, que interpretou Regina no teatro, reprisou seu papel no cinema. 

O musical ‘Meninas Malvadas’ difere em diversos aspectos do longa original ao mesmo tempo em que o homenageia. O filme é considerado por muitos um clássico dos anos 2000 e interpretações como as de Lindsay Lohan e Rachel McAdams ficaram marcadas e criaram comparações com as versões de palco e da refilmagem de 2024. Além disso, deixou frases memoráveis como “às quartas, usamos rosa” e é referenciado até os dias de hoje, como no clipe “thank u, next” da cantora Ariana Grande. 

Quatro meninas no corredor da escola
Filme de 2004. Foto: Reprodução/Paramount Pictures

A obra está em cartaz até 20 de abril no Teatro Santander, em São Paulo. Os horários são quinta e sexta às 20h, sábado às 16h e 20h e domingo às 15h e 19h. Ingressos disponíveis no site Sympla (bileto.sympla.com.br) e na bilheteria física.

 

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Liberado no dia 13 de março, o projeto retoma a tradição do rapper, além de trazer inúmeras referências culturais
por
Guilbert Inácio
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24/03/2025 - 12h
O ambiente da imagem é uma casa antiga. Djonga aparece em pé do lado direito com boné, jaqueta e correntes de ouro. A parede atrás do artista está quebrada e os tijolos que faltam aparecem empilhados ao lado direito do rapper. Em cima dos tijolos, há pepitas e correntes de ouro, além de um galo. Há uma janela desgastada em cima da pilha do lado esquerdo.
Djonga no material promocional do álbum / Foto: Reprodução - @djongador

Djonga lançou seu novo álbum intitulado "Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!". A produção marca o retorno de uma data significativa para o rap nacional e conta com as participações de Milton Nascimento, Samuel Rosa, RT Mallone, Dora Morelenbaum, além dos já conhecidos DJ Coyote Beatz e Rapaz do Dread.

Até então seu último álbum era "Inocente 'Demotape'", lançado no dia 13 de outubro de 2023, com uma pegada diferente do resto da discografia do artista, pois Djonga focou em temas como amor, sexo e o cotidiano. Em 2024, o rapper mineiro participou apenas de projetos de outros artistas, quebrando o ciclo de lançamentos anuais desde seu primeiro álbum, em 2017.

Agora, Djonga retomou os lançamentos, ao dar vida ao seu novo álbum que contém 12 faixas, traduzindo o conceito que o artista trouxe no título da obra. A fome que antes era um impulso de sobrevivência do rapper mineiro, hoje representa uma inquietação, uma busca por evolução e superação, além de afirmar quem ele é.

Nas faixas ele passa por temas marcantes de sua obra como o racismo, a justiça social e a violência na sociedade, mas também, há uma análise antropológica ao falar sobre angústias, dúvidas, frustrações, conquistas do ser humano e ainda, sobre o reconhecimento que obteve de seus ídolos e de pessoas periféricas. Características que marcam a nova fase de experimentação do artista. Não é mais seu corpo que sente fome, mas sim sua alma, faminta de autoconhecimento.

Referências culturais

Djonga sempre trouxe sua religião, Umbanda, para suas músicas. No novo projeto não foi diferente. Dentre as referências citadas, a mais marcante é o paralelo do nome da obra com a história de Exu, um dos Orixás primordiais, presente em religiões de matrizes africanas. Segundo a crença, Exu come primeiro por causa de sua fome insaciável. A história do Orixá aparece, parcialmente, encerrando as músicas "Fome" e "Ponto de Vista".

Já a participação de Milton Nascimento no álbum é um encontro entre Gustavo Pereira Marques, nome real de Djonga, com uma de suas referências na música. O primeiro álbum de Djonga, Heresia, tem como capa uma releitura do LP "Clube da Esquina", lançado em 1972, por Milton Nascimento e Lô Borges.

Do lado esquerdo, há a capa do álbum Heresia, composto por uma edição fotográfica que colou Djonga sentado do lado dele mesmo. Ambos estão sentados em uma estrada de terra e ao fundo há uma floresta. Do lado direito está a capa do LP Clube da Esquina que mostra duas crianças sentadas em uma estrada de terra. Ao fundo, há uma cerca de arame e uma floresta.
Capa de “Heresia”, à esquerda, e “Clube da Esquina”, à direita / Fotos: Reprodução - Spotify

O célebre artista da MPB está presente na faixa "Demoro a Dormir" que, assim como “Heresia”, une o passado e o presente. Por meio de citação do Melhor Filme Internacional do Oscar 2025, "Ainda Estou Aqui" - obra que retrata a história de Eunice Paiva, a qual lutou por justiça na Ditadura Cívico-Militar - a música nos lembra que a violência e o autoritarismo permanecem presentes na sociedade atual.

Na faixa "Te Espero Lá", Djonga fala da passagem de sua antiga fome para a nova, com destaque para um trecho em que ele diz que as marcas mais importantes não são as que ele pode comprar, mas sim, as que estão na alma e que tenta curar com o que compra. A música também traz um refrão que flerta com o Pop, cantado por Samuel Rosa, outro ícone da música brasileira.

A música "Ponto de Vista", traz o artista RT Mallone, atual campeão do reality musical "Nova Cena" da Netflix, que conta um pouco das dificuldades que passou em Juiz de Fora (MG) e a ascensão social que adquiriu por meio do rap. Djonga canta sobre as críticas superficiais que os haters fazem a respeito dele, enfatizando que tudo é só um ponto de vista.

A faixa que encerra o álbum, "Ainda", tem a voz marcante de Dora Morelenbaum que acompanha a voz de Djonga, cantando sobre os caminhos escolhidos pelo artista durante sua vida.

Além de tantas outras referências, todo o álbum tem beats e arranjos feitos por Coyote Beatz e Rapaz do Dread, velhos conhecidos pelos fãs do artista. O destaque da produção musical fica para a música "Melhor que Ontem" que traz um sample de "Último Romance", canção da banda "Los Hermanos".

Por que dia 13 de março?

"Lanço todo dia 13 pra provar pra tu / Que um raio cai de novo no ‘memo’ lugar" verso da música "Oto Patamá", lançada por Djonga em 2020, que sintetiza o que a data significa para o artista. O rapper explicou em 2021, ao Marcelo Tas, no programa Provoca da TV Cultura, que lançou o seu primeiro álbum na data, um ano depois, seu novo projeto ficou pronto antes de março, então ele decidiu lançar no mesmo dia. 

A partir daí virou um compromisso com ele mesmo, de se desafiar, ao lançar um álbum novo com o prazo de um ano. Embora o ciclo tenha sido quebrado em 2022, o dia 13 permaneceu. O número é simbólico para o Atlético-MG, time de coração de Djonga.

Confira a discografia do rapper:

  • Heresia (13 de março de 2017);
  • O Menino que Queria Ser Deus (13 de março de 2018);
  • Ladrão (13 de março de 2019);
  • Histórias da Minha Área (13 de março de 2020);
  • Nu (13 de março de 2021);
  • O Dono do Lugar (13 de outubro de 2022);
  • Inocente "Demotape" (13 de outubro de 2023).

Criado pelo rapper mineiro, a data é uma espécie de "feriado" no rap nacional. O artista também criou a icônica frase utilizada pelo movimento negro: "Fogo nos Racista", refrão de seu perfil "Olho de Tigre" na PineappleStormTV. A frase evoca a resistência antirracista e a luta por justiça social, tornando Djonga, um dos mais importantes artistas do gênero no país, além de ser uma inspiração para as próximas gerações.

 

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Com um resgate das próprias raízes, a artista prova que é impossível se esconder, mesmo coberta de referências musicais no novo álbum
por
Pedro da Silva Menezes
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14/03/2025 - 12h

Depois de muito apelo dos Little Monsters (fandom da cantora) e de Michael Polansky, seu noivo, Lady Gaga lançou na sexta-feira (7) seu sétimo álbum de estúdio, “Mayhem”. Com um nome que significa “caos”, o disco é uma mistura de gêneros com a originalidade da ‘Mother Monster’.

O primeiro single, “Disease”, criou no público uma impressão de como seria a era. Com versos como “Eu posso sentir o cheiro da sua doença, posso te curar” e uma sonoridade pop pesada que lembra trabalhos anteriores, como “The Fame Monster”, a esperança era de que o som a ser seguido fosse o do dark pop, estilo que a cantora domina, caracterizado por elementos densos na produção e na composição. 

A segunda música de trabalho, “Abracadabra”, e as fotos de divulgação reforçaram a expectativa de que uma Gaga que não ouvíamos desde 2012 estaria de volta.

Apesar de as duas músicas serem pops completos, com refrãos marcantes, pontes poderosas e videoclipes completamente esquisitos, no melhor estilo Gaga, elas são apenas uma das muitas experimentações que o público encontrará no álbum.

Processo de edição manual com cacos de vidro e sobreposição de fotos no ensaio fotográfico do álbum.
Processo de edição manual com cacos de vidro e sobreposição de fotos no ensaio fotográfico do álbum. Fonte: Reprodução/MTLA Studio.

A faixa “Garden of Eden” evoca uma atmosfera dos anos 2000, com sintetizadores semelhantes aos de “Do Somethin’”, de Britney Spears. A repetição silábica no refrão se tornou uma marca da cantora, e ela usa esse recurso com maestria desde “Poker Face”, repetindo a estratégia aqui e em “Abracadabra”. 

Trechos como “Abracadabra, amor, ooh-na-na / Abracadabra, morta, ooh-ga-ga / Abracadabra, abra, ooh-na-na” e “I'll t-t-take you to the Garden of Eden” mostram como a combinação entre letra e interpretação resulta em uma teatralidade musical característica da nova-iorquina.

Ao contar sobre as inspirações para as canções, Lady disse à revista Elle: “Alternativo dos anos 90, electro-grunge, melodias de Prince e Bowie, guitarra e atitude, linhas de baixo funky, dance eletrônico francês e sintetizadores analógicos”. Isso pode ser ouvido com clareza em “Killah”, que conta com um sample de “Fame”, de David Bowie. A parceria com Gesaffelstein é extremamente divertida e brinca com os instrumentos e a voz da cantora.

Tudo isso foi levado à máxima potência na apresentação que fez no sábado (8) no programa SNL. Entre gritos, trocas de looks e coreografia no chão, a música ganhou vida.

O rock também aparece em “Perfect Celebrity”, na qual fala sobre um tema recorrente em sua carreira: a fama. Contudo, diferente de “Killah”, nessa faixa tudo é mais sombrio. Em “Engasgue com a fama e torça para ficar chapado / Sente na primeira fila, veja a princesa morrer”, ela menciona a não lançada “Princess Die”, uma música muito querida pelos fãs da era “Born This Way”. A Mother Monster confirmou a referência em entrevista para a Billboard.

A primeira música escrita para o álbum foi “Vanish Into You”, candidata ao próximo single. A faixa aparece com destaque nos materiais de divulgação e aborda o amor de uma perspectiva menos esperançosa  que “Die with a Smile”. Nessa e em várias outras canções, o vocal da artista surpreende pela potência e versatilidade. No podcast Las Culturistas, ela revelou que chegava a gravar mais de 50 takes cantando de diferentes formas até encontrar a versão perfeita.

Foto do encarte do álbum com Lady Gaga deitada no chão.
Foto do encarte do álbum. Fonte: Divulgação/Frank Lebon

“Zombieboy” já viralizou no TikTok com uma dança. A música, que havia sido apresentada no clipe de “Disease”, cativa pelo som oitentista, mas com o toque inconfundível da cantora. Afinal, quem mais poderia falar sobre flerte usando uma metáfora com zumbis?

“LoveDrug” e “Don’t Call Tonight” são mais tímidas em relação às outras faixas do disco, sem traços marcantes. Elas lembram o estilo explorado em “Summerboy” e “Disco Heaven”, do “The Fame”, seu primeiro álbum. 

Gaga revelou, na coletiva de imprensa realizada com fãs e o Spotify, que revisitou muitas demos antigas durante o desenvolvimento do projeto. Talvez por isso o álbum soe como um resgate às suas raízes nova-iorquinas, explorando sons do alternativo do começo do século — uma cena da qual a artista fazia parte. “How Bad Do You Want Me” segue a mesma linha, mas com um pouco menos de identidade, chegando até a ser comparada com músicas de Taylor Swift nas redes sociais.

No filme “Gaga Chromatica Ball”, sobre sua última turnê, a compositora divulgou uma prévia de “Shadow of a Man”. O que parecia ser um pop convencional revelou-se, na verdade, uma viagem ao universo de Michael Jackson. Em uma homenagem, ela se entrega à performance ao cantar frases como: “(Eu não quero desaparecer na escuridão esta noite) mostre-me a luz / (Eu não quero ser aquela que se sacrifica) para ganhar vida / (Estou chegando lá, estou chegando lá) me veja, eu juro que vou / Dançar na sombra de um homem” no estilo do Rei do Pop. 

Tudo isso, envolto em uma mensagem sobre mulheres na indústria que estão à sombra de uma figura masculina tomando seu lugar de respeito, torna a música apoteótica.

A lenta “The Beast”, na reta final do álbum, serve como um respiro antes da balada que vem a seguir: “Blade of Grass”. A faixa é uma carta de amor da artista ao noivo, Michael Polansky, e faz referência ao anel de compromisso do casal. 

Ao ser perguntada sobre como gostaria de ser pedida em casamento, Lady Gaga disse a Polansky que ele poderia simplesmente pegar um pedaço de grama e enrolá-lo em torno de seu dedo — e assim ele fez. No entanto, além desse gesto simbólico, a estrela também recebeu um anel de diamante avaliado em mais de 6 milhões de reais.

O noivo participou ativamente da construção do álbum e tem sido citado por Gaga em várias decisões. Ele está creditado em sete das letras do disco e, em “Blade of Grass”, ajudou a escrever o verso: “Eu vou te dar algo/ É, não é um anel de diamante/ O ar que eu respiro”. Além de ser um dos maiores incentivadores da popstar nesse lançamento, Michael vem ganhando popularidade entre os fãs, que o agradecem por apoiar a cantora. 

O encerramento acontece com “Die With a Smile”, definida pela V Magazine como um “clássico instantâneo”. O hit se tornou um dos maiores sucessos da década. Inicialmente, parecia não se encaixar muito nesta fase, por ser bastante diferente dos outros singles. No entanto, dentro da tracklist, é provado o contrário, sendo um desfecho digno para um trabalho coeso da diva. 

Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

Filme independente da Letônia desbanca megaproduções estadunidenses na maior noite do cinema
por
Anna Cândida Xavier
Isabelle Rodrigues
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10/03/2025 - 12h

 

No domingo, dia 2, na 97° edição do Oscar, “Flow” recebeu o prêmio de “Melhor Animação” de 2025. Pela primeira vez um filme produzido na Letônia leva a estatueta para casa, após superar grandes produções como “Robô Selvagem” da DreamWorks e “Divertidamente 2” da Disney. 

O longa-metragem independente acompanha um gato preto que perde seu lar em uma inundação e encontra refúgio junto a outros animais em um barco abandonado. Para sobreviver, o felino solitário precisa aprender a nadar, a caçar e a colaborar com outras espécies. Gints Zilbalodis, o diretor da animação, em seu discurso no Oscar destaca que “Estamos todos no mesmo barco, temos de ultrapassar as nossas diferenças e encontrar formas de trabalhar juntos”.

Representação do grupo principal do filme “Flow, a deriva” . FOTO: Janus Films/Reprodução
Representação do grupo principal do filme “Flow, a deriva” . FOTO: Janus Films/Reprodução

 

A animação não tem diálogos e os seres humanos não interferem na narrativa para além de construções destruídas pela água. O filme chamou atenção do grande público, principalmente por seus cenários inundados, paisagens sendo retomadas pela natureza, e a atenção aos detalhes da movimentação e dos animais. A ênfase na cooperação, na resiliência da natureza e na diversidade, em construir uma nova vida após um desastre, também marcam o filme.

Desde a vitória no Globo de Ouro em janeiro, a Letônia comemora, murais foram pintados e estátuas foram erguidas em homenagem ao gatinho preto, personagem principal do filme. O prêmio foi exposto no Museu Nacional de Arte da Letônia e atraiu mais de 15 mil visitantes. “Flow” se tornou o filme mais assistido da história do país, com mais de 300 mil espectadores e seu sucesso instigou o governo a investir mais no cinema nacional. 

Gato de 'Flow' ganha estátua no letreiro da cidade de Riga, capital da Letônia. Foto: Reprodução/@GZilbalodis
Gato de 'Flow' ganha estátua no letreiro da cidade de Riga, capital da Letônia. Foto: Reprodução/@GZilbalodis

 

O governo da Letônia financiou parte do filme, que custou US$3,8 milhões. Em comparação, os concorrentes na categoria tiveram orçamentos de US$78 milhões como “Robô Selvagem” e de US$200 milhões para “Divertidamente 2”. Zilbalodis, acumulou funções durante dos cinco anos de produção: foi diretor, co-roteirista, co-produtor, designer de produção e está creditado na trilha sonora.

Gato preto, apelidado de Flow, no filme FOTO: Janus Films/Reprodução
Gato preto, apelidado de Flow, no filme FOTO: Janus Films/Reprodução

 

Após a vitória, Gints Zilbalodis declarou em entrevista à CNN, “acredito que ‘Flow’ abriu portas para pessoas ao redor do mundo pensarem em fazer animação com software livres”. A fala do diretor faz referência à plataforma Blender, na qual o filme foi desenvolvido, um programa de código aberto que permite que desenvolvedores possam contribuir e aprimorar a ferramenta.

É possível ver a vitória do filme como um novo ponto de partida para futuras produções ao Oscar, tendo em vista o recente apreço da academia por novos nomes na indústria. Já que a alguns anos o monopólio criado no mundo das animações estagnou a liberdade criativa do mercado, repleto de sequências e filmes considerados “mais do mesmo” pelo grande público. 

Cena do filme “Flow”, vencedor no Oscar de 2025 FOTO: Janus Films/Reprodução
Cena do filme “Flow”, vencedor no Oscar de 2025 FOTO: Janus Films/Reprodução

O prêmio de “Melhor Animação” é relativamente recente no Oscar; somente em 2002 a categoria foi incluída oficialmente. Antes da inclusão a academia apenas homenageou algumas produções ao longo dos anos, como “Branca de Neve e os Setes Anões” em 1938, “Uma Cilada Para Roger Rabit” em 1989 e “Toy Story” em 1996. Durante esse período o Oscar valorizou primordialmente produções americanas de grandes estúdios como a Disney, Pixar e DreamWorks. 

Entre 2008 e 2023, apenas três filmes vencedores da categoria não faziam parte dos estúdios Disney, sendo eles “Rango” em 2012, “Homem aranha no aranha verso” em 2019 e “Pinóquio por Guillermo del Toro” em 2023. Além disso, o estúdio possui um histórico ainda maior, com 26 premiações e tendo sido indicado 59 vezes em diversas categorias, sendo até hoje o maior detentor de vitórias no Oscar.

As produções independentes, contudo, continuam a trabalhar na periferia da indústria cinematográfica. Após a vitória, o diretor do filme indicou que o estúdio responsável pelo gatinho preto já está trabalhando em novos projetos.  Em breve o público pode acabar se deparando com uma nova estatueta para a proeminente equipe da Letônia, no meio tempo, o filme “Flow - À deriva” está em cartaz até 28 de março nos cinemas brasileiros.

 

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Diretor vence em sua primeira participação do Oscar e leva 5 estatuetas
por
Maria Eduarda Cepeda
Clara Dell’Armelina
|
07/03/2025 - 12h

 

Neste domingo (02), durante o Oscar 2025, em Los Angeles, Sean Baker levou a estatueta de “Melhor Direção” por seu novo longa-metragem “Anora”. O grande vencedor da noite leva mais outras 4 estatuetas, incluindo de melhor atriz, melhor roteiro original, melhor montagem e melhor filme. 

Sean S. Baker, cineasta estadunidense e formado pela Universidade de Nova Iorque (NYU), tem seu nome marcado pelo cinema independente contemporâneo dos Estados Unidos em filmes como Tangerine (2015) e Projeto Flórida (2017).

Na foto temos Anora sentada no colo do seu interesse amoroso no filme.
A atriz Mikey Madison, que interpreta a protagonista Anora, levou a estatueta de “Melhor Atriz” pela sua atuação no longa-metragem. Foto: Divulgação/Universal Pictures Brasil

O filme premiado por melhor direção nesta 97° edição do Oscar conta a história da stripper Ani, (Mikey Madison) que se envolve com Ivan (Mark Eydelshteyn), um filho da aristocracia russa. Depois de casados, Anora passa a aproveitar uma vida repleta de riquezas e luxúria. Mas, a oportunidade da fuga de sua vida na margem da sociedade escorre por seus dedos a partir da desaprovação por parte dos pais de seu marido.

Em 2021, o cineasta produziu o filme “Red Rocket”, estrelado pelo ator e ex-modelo Simon Rex, conhecido pelos seus trabalhos na franquia “Todo Mundo em Pânico” e estrela do videoclipe “Tik Tok” da cantora Kesha. Na época, o filme recebeu prestígio e acumulou prêmios de festivais, e era uma das apostas para o Oscar de 2022, principalmente pela atuação de Simon, mas o filme não obteve nenhuma indicação.

O longa aborda, em grande parte, o cotidiano de personagens que levam suas vidas de maneira árdua, à margem da sociedade, retrato também abordado em “Anora”. 

Mikey e Strawberry estão se encarando frente a frente na loja em que a garota trabalha.
“Red Rocket” teve sua estreia no Festival de Cannes em julho de 2021. Foto: Divulgação/A24

 

Após receber o prêmio, Baker enfatizou a importância dos cinemas, a experiência de frequentá-los é uma resistência à existência desses espaços.  “Assistir a um filme no cinema com uma plateia é uma experiência [..] É uma experiência comunitária que você simplesmente não tem em casa. E agora, a experiência de ir ao cinema está ameaçada. Os cinemas, especialmente os independentes, estão lutando, e cabe a nós apoiá-los [..] Este é o meu grito de guerra. Cineastas, continuem fazendo filmes para a tela grande. Eu sei que eu vou”. No fim, dedicou sua vitória a sua mãe que o levava ao cinema desde pequeno.

Cibele Amaral, diretora de “Por Que Você Chora” (2021), caracteriza “Anora” como um “filme perigoso” e criticou a premiação do longa, argumentando que o filme dirigido por Sean Baker reforça estereótipos femininos e representa um retrocesso para as conquistas das mulheres na indústria cinematográfica. “As personagens femininas se resumem a estereótipos: as ingênuas prostitutas em busca do príncipe encantado, a ‘recalcada’ que disputa o macho da protagonista e a velha bruxa que tenta impedir sua felicidade”, diz a cineasta em duas redes sociais.

No texto para a editora Boi Tempo, Alysson Oliveira e Patrícia de Aquino criticam o estigma criado dentro da realidade da prostituição, “cujo objetivo único na vida seria deixar o trabalho e ser salva, de preferência por um homem branco e rico.”. No mesmo texto, apontam que, se por um lado, Sean Baker mostra-se como um diretor interessado na temática da prostituição, tabu para muitos, por outro, suas obras trazem à tona é uma inesperada visão de mundo conservadora e estereotipada.

“O filme é, além disso, todo marcado pela representação caricata de estrangeiros — especialmente do leste europeu, como Ivan, sua família e seus capangas.”, complementam Alysson e Patricia. 

 

 

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No discurso, a atriz afirmou ser uma “aliada das profissionais do sexo”, abrindo debates nas redes sociais
por
Ana Julia Bertolaccini
Giovanna Brito
|
07/03/2025 - 12h

A atriz estadunidense de 25 anos, Mikey Madison, venceu o Oscar de melhor atriz por sua personagem no filme “Anora”. A premiação aconteceu no domingo (2) e a decisão gerou polêmicas e discussões nas redes, reforçando o histórico do evento, que mais uma vez contrariou as expectativas do público. 

No discurso, a atriz, que interpreta uma trabalhadora do sexo no filme, abriu um debate sobre respeito a essas mulheres. “Sempre vou tentar dar espaço para essa comunidade, advogar para que elas possam viver as vidas que merecem e contar suas próprias histórias", afirmou a estadunidense.

Mikey concorria à categoria de melhor atriz ao lado de Cynthia Erivo por seu papel em “Wicked”, Karla Sófia por “Emília Perez”, Demi Moore por “A Substância” e  Fernanda Torres por “Ainda Estou Aqui”. 

Fernanda Torres e Demi Moore foram às plataformas digitais elogiar a jovem pela conquista. Cynthia Erivo e Karla Sófia não se pronunciaram.

Fernanda era a favorita para o público brasileiro, que sonhava com a conquista inédita na maior premiação do cinema. Apesar disso, era esperado que Demi Moore levasse a estatueta. A atriz já havia vencido como Melhor Atriz no SAG (Sindicato dos Atores) e Melhor Atriz em Filme de Comédia no Globo de Ouro. 

A derrota de Demi, que tem 62 anos, para uma atriz de 25, aumentou o debate sobre etarismo nas redes sociais, que já acontecia por conta de “A Substância”. No filme, Demi interpreta Elisabeth, uma atriz que, aos 50 anos, é apresentadora de um programa de ginástica, mas recebe a notícia de que será trocada por uma garota mais jovem.

Na foto, a atriz Mikey Madison aparece abraçada com o ator Mark Eydelshteyn em uma das cenas do filme "Anora".
Mikey Madison em Anora ao lado de Mark Eydelshteyn, que interpreta Ivan, personagem pelo qual ela se apaixona. Imagem: Divulgação/Universal Pictures.

O papel de Mikey Madison em “Anora” 

Em “Anora” Mikey interpreta Ani, uma jovem stripper de Nova Iorque que em uma de suas noites de trabalho conhece Ivan, o herdeiro de um oligarca russo, interpretado por Mark Eidelshtein. Ani acredita ter encontrado o amor da sua vida, se casando impulsivamente com o rapaz. Contudo, a notícia do casório chega na Rússia e os pais de Ivan ficam sabendo, o que coloca o relacionamento em risco.

O filme é uma montanha russa de sentimentos, e Mikey consegue retratar isso em sua atuação. Entre momentos cômicos, românticos, tristes e de tensão, o telespectador entende, não somente por palavras, o que os personagens estão passando. Além dela, o ator russo, Yura Borisov, também foi elogiado pelo desempenho ao interpretar um capanga que busca auxiliar na solução do caso de Ani e Ivan.

Apesar das críticas do público, “Anora” se destacou positivamente entre as diversas premiações cinematográficas. Só no Oscar o filme ganhou cinco vezes: Melhor Atriz, Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. Além disso, também tiveram prêmios no BAFTA, no Festival de Cinema de Cannes - incluindo a famosa Palma de Ouro e no Critics’ Choice Awards.

Cena do Oscar. Na esquerda, Emma Stone acaba de anunciar a vencedora da categoria de melhor atriz, na direita várias câmeras capturam as atrizes que participavam da categoria: Cynthia, Karla, Mikey, Demi e Fernanda.
Momento em que Mikey Madison leva prêmio de ‘Melhor Atriz’. Imagem: Reprodução/TV Globo.

 

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