Neste domingo (30), o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, recebeu o último dia da edição 2025 do Lollapalooza Brasil. O festival, que reuniu uma diversidade de estilos, contou com apresentações de bandas indies nacionais, como Terno Rei, e gigantes do pop, como Justin Timberlake. Como destaque, tivemos a histórica estreia da banda Tool em solo brasileiro, a volta de Foster The People ao festival e o show emocionante de encerramento do Sepultura, que consagrou sua importância como uma das maiores referências do metal, tanto no Brasil quanto no mundo.
Diferente do primeiro dia, o domingo foi marcado por tempo firme e céu aberto, sem a interferência da chuva. Com condições climáticas favoráveis, o público pôde aproveitar muito seus artistas favoritos ao longo do dia.
As primeiras atrações do dia já davam o tom da despedida do festival: uma mistura de muito indie, rock n’ roll e nostalgia no ar. No palco Budweiser, a cantora pernambucana Sofia Freire abriu os trabalhos com uma estreia marcante, conquistando o público com talento e carisma. E no palco Mike´s Ice, a banda "Charlotte Matou um Cara" chamou atenção por ter a vocalista, Andrea Dip, vestida em uma camisa de força.
Além de cantora, Andrea é jornalista e faz parte da Agência Pública de Jornalismo Investigativo. Em 2013, recebeu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo pelo seu trabalho na história em quadrinhos “Meninas em Jogo” e foi premiada pelo Troféu Mulher Imprensa na categoria site de notícias em 2016.

Com músicas que tratam temas como machismo, ditadura militar e a luta contra a violação do corpo feminino, o grupo trouxe para o festival a agressividade e a energia para o "dia do rock".
Na sequência, o grupo Terno Rei assumiu o palco e transformou a plateia ainda tímida em um coro envolvido por seu setlist, que mesclou sucessos da carreira e novas apostas sonoras. A banda ainda aproveitou o momento para anunciar seu próximo álbum, “Nenhuma Estrela”, com lançamento marcado para 15 de abril.
Show do Terno Rei no Lollapalooza Brasil 2025!
— José Norberto Flesch (@jnflesch) March 30, 2025
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Depois de 8 anos longe do Brasil, Mark Foster e Isom Innis voltaram pela terceira vez ao Lollapalooza Brasil. As músicas foram de seus sucessos mais recentes às músicas mais queridas pelos fãs, como "Houdini" e "Call It What You Want". Com um público morno, mesmo com a presença dos fãs fiéis, eles não desanimaram e se mostraram contentes por estarem de volta. A música mais famosa, "Pumped Up Kicks", finalizou a apresentação do grupo.
A banda Tool se apresentou pela primeira vez no Brasil após 35 anos de carreira, mas quem compareceu esperando ver o grupo e uma apresentação tradicional teve uma surpresa. Tool fez um show cru, sem pausas e sem momentos emocionados. O visual sombrio e imersão feita pelos visuais espirituais do telão comandaram os espectadores a uma experiência única no festival, sendo o show mais enigmático da noite. A setlist foi variada, com alguns de seus sucessos e músicas de seu álbum mais recente "Fear Inoculum". Apesar da proposta diferenciada, o público pareceu embarcar na viagem sensorial proposta pelo grupo.

Sepultura está dando adeus aos palcos ao mesmo tempo que celebra seus 40 anos de carreira, assim como o nome de sua turnê, "Celebrating Life Through Death". Fechando a edição de 2025 do festival, a banda teve convidados curiosos para a setlist. Para acompanhar a música "Kaiowas", o cantor Júnior e o criador do Lollapalooza, Perry Farrell, subiram no palco para integrar o ritmo agressivo dessa despedida. Com uma setlist semelhante a do show feito em setembro do ano passado, também dessa turnê de adeus, o grupo não deixou o clima cair mesmo com os problemas técnicos que enfrentaram. O som estava abafado e baixo comparado ao de outros palcos, a banda Bush enfrentou o mesmo problema em sua apresentação.
A banda encerrou seu legado no festival com um de seus maiores sucessos internacionais, "Roots Bloody Roots", eternizando seu legado e deixando saudades em seus fãs que se mantiveram devotos até o fim.
No palco ao lado, o grande headliner da noite, Justin Timberlake, mostrou que seu status de popstar segue intacto. A apresentação, que não foi transmitida ao vivo pelos canais oficiais do evento, teve performances energéticas, muita dança e vocais entregues sem base pré-gravada.

Com um show marcado por coros emocionados em “Mirrors” e uma enxurrada de hits como, “Cry Me a River”, “SexyBack” e “What Goes Around... Comes Around”, ele reforçou sua presença como um dos grandes nomes da música pop.
Apesar de definitivamente não estar em sua melhor fase — após polêmicas envolvendo sua ex-namorada Britney Spears, que o acusou de um relacionamento abusivo, e uma prisão em 2024 por dirigir embriagado — Timberlake demonstrou um forte engajamento com o público, que saiu eletrizado do show.
Na última quarta-feira (2), a Nintendo (empresa japonesa do setor de jogos eletrônicos) fez um anúncio que chocou a internet. Em sua conferência própria, nomeada de Nintendo Direct, eles apresentaram as novidades sobre seu próximo console, o Nintendo Switch 2, que já havia sido revelado em 16 de janeiro deste ano.
Na transmissão ao vivo, que aconteceu no canal oficial do Youtube da empresa e foi considerada uma das melhores pelos internautas, a empresa não só revelou mais informações sobre o sistema, mas também confirmou o lançamento de jogos muito amados e esperados pelo público.
O console ainda vai funcionar de maneira híbrida, composto por uma grande tela que se conecta a dois controles menores, chamados de “joy-con” e que quando inserida no “dock”, um suporte ligado à televisão, transfere a imagem e pode ser jogado como um console de mesa.

No entanto, a Nintendo não economizou recursos em melhorias para o Switch. Jogadores podem esperar melhor desempenho devido à nova tela com maior tamanho, resolução de 1080 pixels e suporte para até 120 frames por segundo, possibilitando que jogos com gráficos mais pesados rodem tranquilamente no sistema.
Outras novidades vieram para o conforto do jogador, como os botões “SL” e “SR” nos “joycons”, que enquanto no Switch eram minúsculos e diminuíam agilidade, no Switch 2 serão bem maiores. O encaixe dos controles agora é magnético, o que acaba diminuindo sua fragilidade, uma vez que um dos problemas mais comuns no console anterior era o gancho que os prendia à tela quebrar facilmente, fazendo com que pudessem desencaixar durante as sessões de jogo.

Além disso, a base que sustenta o console de pé em mesas agora será maior e permitirá melhor ajuste do ângulo da tela, diferente da antiga, que além de pequena era frágil, o que frustrava muitos jogadores. André Yudi, estudante de engenharia no instituto politécnico da Universidade de São Paulo (POLI/USP) diz: “Precisei muitas vezes utilizar o apoio do console. Que no entanto, em grande parte das vezes, apresentava pouca resistência. O plástico utilizado é muito frágil e a lâmina tem uma espessura muito curta para sustentá-lo, assim, uma leve oscilação já derrubava o sistema.”

O console também terá uma entrada para carregamento na parte superior, facilitando o uso enquanto carrega a bateria, Yudi continua: “a nova entrada de carregamento tem muito potencial para melhorar a utilização do Switch 2. A entrada antiga impossibilitava o uso em modo portátil apoiado enquanto se carregava o console”.
Por fim, novidades inéditas, como um microfone interno; sistema de áudio 3D; e a possibilidade de usar os joycons como um mouse de computador em alguns jogos. O console também terá um botão novo, que permitirá ingressar em chamadas de voz enquanto joga, no entanto, o recurso está disponível apenas para assinantes do serviço de jogos online.

Quanto aos jogos novos, os fãs se emocionaram com as novidades. Além do grande suporte de empresas parceiras, que prometeram trazer títulos como Hitman, Cyberpunk 2077 e Split Fiction no lançamento do console, a Nintendo também surpreendeu com um novo jogo da franquia Donkey Kong e um novo Mario Kart, que trará um sistema de pilotagem em mundo aberto.
Mas a novidade que mais balançou as redes foi a aparição repentina do jogo Hollow Knight: Silksong, confirmando a data de lançamento ainda para esse ano. O título já tinha sido anunciado em 2019, mas passou 6 anos com pouquíssimas novidades na mídia, o que fez muitos fãs se empolgarem com eventos e conferências, ansiando por novas notícias que nunca chegavam, e fez outros até começarem a perder as esperanças. Juliana Bertini, estudante de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), brincou com a demora da Team Cherry, os desenvolvedores, para divulgar novas informações: “Achei até que era lenda urbana já!”
No entanto, a simples aparição por segundos do jogo na conferência da Nintendo foi o suficiente para reerguer as esperanças desses fãs, bastando agora apenas esperar o lançamento.

Amelie Strasburg, responsável pela hospitalidade do Aiô Restaurante e grande fã da franquia desde o primeiro jogo, em entrevista para a AGEMT, comemora a confirmação do lançamento e pondera sobre sua data: “Além de felicidade por saber que um jogo que anseio tanto vai lançar, sinto uma ansiedade extrema para saber quando! Sabemos que vai ser esse ano, mas quando? Amanhã? Outubro? Dezembro?...”
A Nintendo conseguiu angariar ainda mais fãs e pessoas dispostas a investir no novo lançamento, no entanto, nem todas as notícias são prazerosas para a empresa, uma vez que os preços elevados são o fator principal para desestimular boa parte das pessoas que se animaram com o Direct. Os jogadores precisarão se preparar para desembolsar os valores de USD 499,99 no console e o valor base de USD 79,99 para os jogos. Ainda sem preço oficial no Brasil, o Nintendo Switch 2 será lançado em 5 de junho de 2025.
No último sábado (29) aconteceu no Autódromo de Interlagos, zona sul da cidade de São Paulo, o segundo dia do festival Internacional de música Lollapalooza. Dessa vez sem chuva, mas com um pouco de barro do dia anterior, se apresentaram artistas como Benson Boone, Marina Lima, Zedd, Tate McRae, Alanis Morissette, e Shawn Mendes.
Os portões abriram mais cedo que o anunciado, por volta das 10:40, e não houve filas ou confusões. Contratados pelo evento indicavam com megafone o caminho até o portão A ao longo da avenida Interlagos, ajudando quem chegava de carro ou a pé. No portão G, para quem vinha de transporte público, havia grades desde a saída da estação Autódromo da linha 9 turquesa, a mais próxima do local.
Ao meio-dia a música começou a tocar com atrações sulistas nos palcos Samsung Galaxy e Perry by Fiat. No primeiro deles, o palco secundário do evento, a banda de Porto Alegre, Picanha de Chernobil, entregou o seu rock alternativo que frequentemente pode ser encontrado aos finais de semana na Avenida Paulista. Já no destinado aos DJs, o curitibano Fatsync, deu um gosto da música eletrônica que estava por vir.

Com sol forte e temperaturas na casa dos 30 graus, a tarde seguiu com a apresentação efusiva da banda paulista Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Formada em 2019 com uma sonoridade que mistura rock, indie e pop, chamou a atenção pelas manifestações políticas no telão ao longo do show. Frases como “Palestina Livre” e “Bolsonaro Réu” foram entoadas pela plateia ainda pequena no palco Mike’s Ice, de música alternativa.
Em seguida foi a vez de Marina Lima contagiar o público com seus hits dos anos 80 e 90 acompanhados da irreverência da artista carioca. Às 15:50 o show começou com “À Francesa” de 1988 e o sucesso “Fullgás” de 1984. Durante a apresentação alguns problemas técnicos ocorreram com o volume da guitarra usada por Marina, que reclamou: “Mais alto, mais alto, isso é um festival!”
Mesmo assim a energia não caiu e apesar do horário ruim para um festival, as principais atrações e artistas internacionais se apresentam à noite, diante de milhares de pessoas. Conhecida por seu ativismo em defesa das mulheres e pessoas LGBTQIAPN+, o trecho da escritora Fernanda Young “Nada mais indigesto para o mundo dominador que a liberdade de uma mulher” foi exibido no telão antes de cantar “Árvores alheias”.

O show ainda contou com um cover de “Lunch” da estadunidense Billie Eilish e a participação especial de Pabllo Vittar na faixa de 1984, “Mesmo que Seja Eu”. As duas cantaram em seguida “K.O” de Vittar, que enalteceu a artista: “Quero falar quanto você é inspiradora para mim e para a música. Viva Marina Lima”, entoou Vittar, ao final da aparição surpresa.
A música eletrônica também esteve presente em Interlagos ao longo do dia. O DJ paulista Bruno Martini se apresentou no palco do gênero às 16:30, logo antes do também brasileiro Zerb. Enquanto isso, após Marina Lima, o cantor, compositor e produtor grego, Artemas, trouxe sua sonoridade alternativa durante o fim da tarde, com destaque para o hit do tik tok ‘I like the way you kiss me’ de 2024.
O início da noite foi com Benson Boone, artista estadunidense conhecido pelas suas performances acrobáticas e pelo hit viral no Tik Tok, “Beautiful Things”. Com um figurino todo brilhante e inspirado na bandeira do Brasil, começou com seu último single “Sorry I’m Here For Someone Else”, lançado em 27 de fevereiro. A performance seguiu com algumas faixas dos EPs “Pulse” de 2023 e “Walk Me Home…” de 2022, como “Death Wish Love” e “What Was”, mas foi o seu álbum de estreia, “Fireworks & Rollerblades”, que dominou a apresentação.

Com seus vocais característicos e pouco uso de playback animou a plateia no palco secundário, e durante a faixa “In The Stars”, em homenagem a sua avó, se emocionou ao explicar a origem da composição e pedir que o público cantasse sem os seus celulares. “Essa música não é minha, é nossa”.
Boone ainda interagiu bastante com a plateia entoando um “Ayoo” ao estilo Freddie Mercury antes de finalizar seu primeiro show no Brasil, e tocou a inédita “Young American Heart”. Para fechar com chave de ouro, a faixa mais ouvida do mundo em 2024 nas plataformas digitais segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica ecoou por Interlagos, “Beautiful Things”. O jovem finalizou tirando o seu colete verde e amarelo e se jogando na plateia.
Sem nem mesmo o clima esfriar, muitas pessoas já corriam para o palco Budweiser, principal do evento, para a apresentação de Tate McRae, também estreante e com hits virais entre os jovens nas redes sociais. O posicionamento dos dois palcos exigia que o público percorresse um longo percurso e sem muita sinalização, que exigia seguir um fluxo intenso de pessoas e bem mais que cinco minutos de caminhada, tempo de intervalo entre os shows.
A canadense começou seus 60 minutos de palco com o hit “Sports Car”, em seguida foi a vez de “2 Hands”, além de uma pausa para interagir com o público. “Meu nome é Tate McRae e eu estive esperando a minha vida toda para vir ao Brasil [...] este é o último show da minha turnê pela América do Sul, vocês prometem fazer deste o mais alto?” A resposta foi um grito bem alto da plateia, que mesmo com pessoas já à espera de Shawn Mendes cantou os sucessos da cantora pop de apenas 21 anos.
O show seguiu com faixas do seu último álbum, “So Close To What”, lançado em fevereiro deste ano e número um na parada norte-americana Billboard Hot 100, além do uso do disco de 2023, “Think Later”, demonstrando o seu vasto repertório de sucessos. Na hora de “you broke me first”, canção com que Tate atingiu o mainstream em 2020, a cantora se emocionou ao lembrar que o seu primeiro fã clube foi brasileiro.
Um ponto marcante de suas performances são as coreografias, muito bem trabalhadas e energéticas, com destaque para o combo “It’s ok I’m ok” e “exes”, lembrando que antes de se lançar como cantora, a jovem era dançarina. Durante “Revolving Door”, seu último single e sucesso nas redes, mais uma vez a dança foi o ponto alto e a potência vocal da artista ficou em segundo plano, com o pré e pós refrão da faixa cantados um tom abaixo da gravação e com playback alto.

A finalização ficou com o maior hit da cantora, “greedy”, que conta com mais de 1,5 bilhão de streams na plataforma de música Spotify. Enquanto Tate dançava a plateia lotada ecoava o refrão a plenos pulmões, e após o fim da canção, ela agradeceu o público com acenos e beijos e seus dançarinos ergueram uma bandeira do Brasil no meio do palco.
No mesmo horário do show de Tate, a banda sul coreana Wave to Earth fez uma apresentação incrível para um pequeno público, carisma e talento não faltaram no palco, músicas como “love”, “Bad” e “reasons” foram cantadas e agitaram o público do K-indie.
Do outro lado do autódromo, a dupla musical Kasablanca fez uma performance intensa para os fãs de música eletrônica, apesar do público também ser pequeno, a energia cativou o público principalmente com remixes das músicas de Tame Impala e Daft Punk presentes no setlist.
A primeira headliner do segundo dia do Lollapalooza foi Alanis Morissette, que entregou vocais poderosos e a presença de palco que só uma carreira de décadas pode proporcionar. Nascida em Ottawa, Canadá, é um dos maiores nomes do rock segundo a Billboard e desde os anos 90 emplaca sucessos como “All I Really Want” e “Right Through You”, presentes na setlist de sua apresentação.
Com direito a uma hora e meia de show, Alanis iniciou com o sucesso de 1995, “Hand In My Pocket”, composto em pouco mais de uma hora por ela e que de cara levantou a plateia. Características da cantora sempre foram a sua voz, que continua idêntica mesmo depois de 30 anos, uma naturalidade e energia no canto que encheram o palco mesmo sem um corpo de baile, além do uso da guitarra e gaita por ela durante as faixas.
Sim, eu admito!!!!! “Ironic” mexe com meu coração lembrando de Bruno e Fatinha ❤️😭❤️😭#GloboplayPremium #AlanisMorissetteNoMultishow #LollaBrNoMultishow pic.twitter.com/AbqAVUiHg5
— globoplay (@globoplay) March 30, 2025
O show seguiu com hits do álbum “Jagged Little Pill”, responsável por colocar Alanis no mainstream nos anos 90. A última vez que esteve no Brasil foi em novembro de 2023 com a turnê de comemoração de 25 anos do álbum inclusive, que deu a ela 5 Grammys. A plateia formada por adultos e jovens cantou incessantemente do início ao fim, com destaque para a faixa “Ironic”.
Nos telões passaram mensagens em defesa de causas abordadas pela artista em sua carreira como feminismo, apoio à comunidade LGBTQIAPN+ e igualdade social. Mas continuando a atmosfera nostálgica proposta pelos seus shows, trechos de videoclipes da cantora e fotos pessoais também foram exibidos, destacando a atemporalidade de Alanis, que tem 10 álbuns de estúdio e mais de 85 milhões de discos vendidos pelo mundo.
Em contraposição aos artistas mais jovens que performaram anteriormente, a banda recriou com perfeição os instrumentais vibrantes e crus do rock dos anos 90, e a postura de Alanis continua confiante e livre de acrobacias ou coreografias de redes sociais. Se destacaram sucessos do álbum “Supposed Former Infatuation Junkie”, de 1998 também, como “Are You Still Mad” e “Sympathetic Character”.
Mesmo assim algumas faixas mais recentes estiveram presentes, como “Lens” de 2012 e “Reasons I Drink” de 2020, essa do último álbum da artista, “Such Pretty Forks in the Road”. A finalização se deu com “Thank U”, sucesso de 1998. Como o nome sugere, a apresentação foi acompanhada de mensagens de agradecimento de fãs da cantora ao redor do mundo ao longo dos anos, e visivelmente emocionada, agradeceu ao público brasileiro.
E para fechar o sábado, Shawn Mendes subiu ao palco principal às 21:45, apenas 5 minutos depois do fim do show de Alanis Morissette. Apesar da já citada distância dos palcos, o tumulto do intervalo foi bem menor que o visto entre os shows de Benson Boone e Tate McRae. Além disso, apesar do público estimado em 80 mil pessoas, a apresentação do canadense pôde ser assistida com tranquilidade na plateia, sem intercorrências ou empurra empurra.
Diferente dos artistas que o antecederam, um terceiro telão completava o palco melhorando a visão do público, mas o tempo de show foi também de uma hora e meia. Após um atraso de pouco mais de 10 minutos, a setlist começou com “There's Nothing holding Me Back”, sucesso do álbum “Illuminate” de 2017, com mais de 2 bilhões de reproduções apenas na plataforma Spotify.
Seguiram as faixas “Wonder”, “Treat You Better”, “Monster” e “Lost In Japan”, a mesma ordem da última apresentação do cantor no Brasil, em setembro do ano passado no Rock In Rio. Nesse sentido, pôde-se perceber uma semelhança grande ao longo de todo o show, sem nenhuma faixa inédita do último álbum autointitulado de novembro de 2024.
Além de cantar mais hits como “Señorita”, “Mercy” e “Stitches”, entoados pelo público com força do início ao fim, foi a interação com a plateia e o abraço de Shawn pela cultura brasileira que marcou a apresentação. Ainda no meio do show, ele desceu do palco e correu pelo espaço que dá acesso a plateia, pegando um chapéu e uma bandeira do Brasil dos fãs.
UM AMOR! Shawn Mendes desceu para a plateia durante seu no Lollapalooza Brasil. #LollaBR
— Shawn Mendes Brasil (@ShawnMendesBRA) March 30, 2025
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Mais tarde, durante a performance de “Youth”, que fala sobre a necessidade de se manter jovem e lutar, músicos brasileiros subiram ao palco. Joabe Reis, Sylvanni Sivuca, Ricardo Braga e Mama Soares foram os convidados a levar o Brasil para o palco, dando um toque de samba à canção em inglês. Mas Shawn foi além, e em seguida a canção de 1962 de Jorge Ben Jor, “Mas que Nada” foi performada por ele. Com violão na mão, ainda soltou a conhecida frase da atriz Fernanda Torres, “a vida presta”.
Incrementando o setlist do Rock In Rio, cantou “If I Can’t Have You” de 2019, levantando o astral da apresentação. Mas o final não mudou de lá para cá e ficou de novo com “In My Blood”. Os vocais de Shawn se destacaram mais uma vez, com as notas agudas do refrão mantidas e executadas com emoção. E encerrando o sábado de um jeito carismático, voltou para a plateia antes de se despedir com um “eu te amo” e “obrigado”.

O Lollapalooza Brasil 2025 continua e contará em seu último dia com nomes do rock como a banda brasileira Sepultura e a norte-americana Tool, headliner ao lado de Justin Timberlake, principal atração do domingo (30), prometendo mais música boa e emoção.
Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.
Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra, pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.
A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.
Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda.
Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.
Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.
Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano.
O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.
Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.
I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.
“As redes sociais são fundamentais para determinar o sucesso de certas músicas”, destaca o doutor em Musicologia pela Universidade de São Paulo, Thiago Souza, conhecido popularmente por Thiagson, ressaltando a mudança que o mundo digital provocou na maneira de fazer e consumir música. "As redes sociais devolveram o lado social e imagético da música, algo que foi um tanto esquecido no século XX”, e acrescenta, com "o surgimento do Spotify, a imaterialidade finalmente dominou a indústria musical, dando adeus para os discos e CDs, “com a era do streaming tudo está nas nuvens”, diz o musicólogo .
O nascimento do digital popularizou o consumo e produção de músicas mundialmente. No século XX, o que parecia impossível, agora torna-se mais viável: antes, eram poucas as pessoas capazes de lançar-se no mercado musical, o processo era longo e exigia até mesmo sorte. Envolvendo participação em festivais, produção de disco, etc.. Isto é, o jeito de produzir música era caro e complexo. Mas o de consumir também, dependendo da compra de discos e CDs, que rodavam em aparelhos específicos, como vitrolas e rádios.
Atualmente, a situação se reconstruiu. Com as redes sociais, todos podem lançar uma música. O YouTube, por exemplo, tornou o processo mais fácil e popular. Assim como também a própria maneira de ouvir música tornou-se mais simples, é preciso um toque para abrir um aplicativo. Porém, o controle por algoritmos também fez parte desta reconstrução do meio musical.
“Muito se fala sobre como os algoritmos funcionam. Mas, o grande problema é que não existe uma transparência. As empresas não compartilham dados reais de como a coisa funciona. Podemos aprender a observar como o algoritmo se comporta, mas não há certeza. No fundo tá todo mundo dando um tiro no escuro”, expõe Thiagson Souza. “Antes a música era uma experiência muito mais social, isso tornava a música uma experiência mais rara".
"Com o surgimento das gravações e reproduções, a música foi se separando cada vez mais do ser humano e foi virando um produto comercializado em discos, fitas e depois MP3 e streaming”, comenta Thiago a respeito de um indústria musical que busca a venda e a massificação do objeto musical em detrimento de sua aura e originalidade. "A música ainda parece ser uma espécie de aposta que permite uma considerável ascensão social. Mas, há muitos artistas que se preocupam mais com o produto do que com os lucros”, diz.
A rede social apresenta um papel de relevância na indústria da música moderna, pois tornou-se a principal vitrine dos cantores. Se uma música viraliza no Tik Tok, os produtores atingem, então, sua principal meta, fazer dinheiro. Todos os artistas se veem cada vez mais entregues ao mercado, porque as redes e os algoritmos são quem define a popularidade “merecida” para aquela música.