Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

Doença que afeta cerca de 8 milhões de brasileiras ainda tem diagnóstico complicado e demorado
por
Giovanna Takamatsu
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12/11/2024 - 12h

Por Giovanna Takamatsu 

Eram 4h00min, talvez 5h00min, de algum dia da semana de 2017. Estava chovendo forte, uma daquelas tempestades com trovoadas, que deixa o céu totalmente escuro e tudo parece noite. Lara foi acordada por uma dor descomunal. Nunca tinha sentido algo assim antes em toda sua vida. Parecia que tinha sido atingida por uma faca ou um machado em sua perna direita. Ou então como se uma mão gigante estivesse apertando cada vez mais forte seus músculos da coxa. Ela não sabia o que fazer, pois não tinha nada aparentemente errado com seu membro; começou então a chorar e soluçar de tanta dor. Isso fez com que seus pais acordassem e checassem o que estava acontecendo. 

Sua mãe, que é farmacêutica, ao entender a situação, logo pensou em remédios disponíveis pela casa para tentar acabar com a dor, mas nenhum chegou nem perto de melhorar o sintoma de Lara – mesmo tomando remédios fortes, como codeína + paracetamol. O último recurso menos ‘drástico’ que sua mãe pensou foi uma massagem. A família tinha um massageador automático que esquentava enquanto agia. E por algum milagre, era exatamente isso que a adolescente precisava. Depois de uma longa hora - que pareceu uma sessão de tortura -, a dor de Lara finalmente diminuiu e ela conseguiu pegar no sono novamente. 

Um mês se passou sem que essa agonia voltasse, e Lara chegou a pensar que foi somente um episódio de dor de crescimento mais intensa– aqueles desconfortos que parecem uma mistura de câimbra e um apertão que acontecem com os pré-adolescentes – já que era muito comum disso acontecer com ela. Mas novamente, Lara acordou com aquele sofrimento, na mesma perna, no mesmo local. Não era possível. Dessa vez ela já sabia o que fazer, como proceder, mas precisa entender a causa dessa dor. 

Claro que a menina foi avisar sua mãe. E como se fosse uma epifania, a mãe percebeu sobre o que se tratava essas dores misteriosas. Ela já havia passado por algo parecido. Notou que ambas as vezes que essa dor na perna aconteceu, Lara estava menstruada. Esse era o ponto em comum entre as aflições. Só podia ser algo relacionado a isso. Fazia total sentido; ela sempre sofreu com sua menstruação: tinha dores e cólicas intensas nas costas, seu fluxo era intenso, já tinha o diagnóstico de Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e seu ciclo era extremamente desregulado. 

Talvez seja endometriose, disse a mãe que lembrou ter tido isso quando era mais nova. Endometriose. Lara perguntou o que sua mãe fezpara resolver. Sua mãe foi enfática ao dizer que a gravidez, em sua época, era o tratamento mais comum. Mas Lara ainda era uma adolescente, e nem sabia se queria ter filhos. E o tratamento para a pior dor da vida não poderia ser engravidar.  Ela se sentiu em uma distopia, em ‘O Conto de Aia’. Lara foi procurar sobre essa tal de endometriose e na Internet viu que demora entre 4 a 10 anos para conseguir fechar o diagnóstico. 10 anos!!! E que não há cura, somente manejo dos sintomas. 

            O próximo passo lógico era ir à uma ginecologista. Lara não estava muito animada com isso já que entendeu que talvez demoraria anos e anos para resolver aquela situação. Mas enfim, ela foi. A ginecologista não deu muita atenção à queixa de Lara. Na consulta foram feitos os exames de rotina, e no final foi receitado uma pílula de gestrinona, que deveria bloquear totalmente sua menstruação, assim não teria nenhum sintoma relacionado a ela. Mas ainda sim não recebeu a confirmação de endometriose. 

Após alguns anos de dúvidas em seu diagnóstico, Lara decidiu a passar em outra ginecologista especialista em endometriose. Essa nova médica pediu que ela fizesse um exame de ressonância magnética da pelve, para identificar se havia focos de tecido endometrial fora do útero. Somente após que o exame voltou positivo, foi fechado o diagnóstico, ou seja, após 4 ou 5 anos do primeiro episódio de dor. Hoje, ela maneja seus sintomas com a pílula. Por se tratar de uma doença crônica, sua médica se preocupa com a questão de sua fertilidade, mesmo que Lara seja nova ainda. Demorou alguns anos, mas hoje Lara sabe que possuí uma rede de apoio médico que a auxilia em qualquer momento e respeita suas escolhas.   

Mas se sabe que essa realidade não é de todas as mulheres brasileiras com endometriose. Segundo o Ministério de Saúde, 1 em cada 10 mulheres sofrem com a endometriose. Isso são 8 milhões de brasileiras no total com essa doença. O diagnóstico dessa moléstia não é fácil, devido a inespecificidade dos sintomas, que podem significar muitas doenças ginecológicas. Mas o preconceito por parte de profissionais de saúde, que constroem estigmas cerca às aflições da mulher, afeta muito no tempo do diagnóstico e ressalta como as mulheres ainda não são levadas a sério nos diversos âmbitos sociais

Eliane tem 26 anos e é moradora do Campo Limpo, periferia de São Paulo. Desde adolescente, ela sofre com os sintomas da endometriose, tendo um quadro parecido com o de Lara: dores e cólicas fortes em diversas regiões próximas ao útero, fluxo intenso, ciclo desregulado. A principal diferença entre as mulheres é que, enquanto Lara conseguiu atenção médica e diagnóstico preciso já no início de sua dor, Eliane precisou de quase 10 anos para finalmente fechar seu diagnóstico. 

Isso se deve muito a desvalorização médica em casos de dores e cólicas uterinas. Eliane já escutou de profissionais da saúde em UBSs e UPAs que isso era normal da menstruação – o que não fazia o menor sentido em sua cabeça; não é normal uma dor que parece que suas pernas, seu abdome, suas costas estão sendo esmagadas. Ela se sentia ignorada toda vez que tentava falar sobre o assunto, e, de certa forma, ela desistiu de procurar ajuda para aquelas dores terríveis que tinha todos os meses. 

Aos 22 anos, Eliane conheceu seu atual marido. O casal começou a tentar engravidar, mas isso nunca se concretizou. Após 1 ano de tentativa, Eliane decidiu que iria passar por uma ginecologista para entender o que estava acontecendo. Essa médica não deu muita importância para as queixas de dor intensa, e alegou que era normal. Mas, para desencargo de consciência, a ginecologista pediu que ela realizasse o ultrassom transvaginal com preparo intestinal – prática comum para o diagnóstico de endometriose, uma vez que, com as alças do intestino vazias, a visualização dos focos de tecido é mais fácil – tanto para a endometriose quanto para o problema de fertilidade. 

Finalmente, no retorno da consulta, Eliane recebeu seu diagnóstico: endometriose. Entretanto, pelos anos que ela passou sem tratar essa doença, ela desenvolveu problemas de fertilidade. Hoje, ela realiza tratamentos que auxiliam resgatar sua fertilidade, mas ainda não conseguiu carregar uma gestação a termo. 

     

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Para além de desafios científicos, programas de planejamento familiar frequentemente ignoram a necessidade de inclusão dos homens nas decisões reprodutivas
por
Laura Mariano
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23/10/2024 - 12h

Desde da década de 1960, esforços têm sido feitos para desenvolver um método contraceptivo masculino que seja reversível e possua uma eficácia comparável, ou até superior, à da pílula anticoncepcional. Contudo, até o presente momento, esse produto não chegou ao mercado. Ainda que a pesquisa sobre contraceptivos masculinos seja conduzida desde a introdução dos métodos contraceptivos femininos à população, os métodos convencionais de contracepção continuam predominantemente focados no controle da fertilidade das mulheres.

As razões abrangem desde os desafios fisiológicos do sistema reprodutivo masculino, uma vez que isso implica na redução das taxas de testosterona, podendo levar a problemas de função erétil e incapacidade de conceber, até a insuficiente dedicação por parte da indústria farmacêutica e aos estigmas associados aos diversos métodos potenciais, sejam eles baseados em hormônios ou de natureza de bloqueio, como exemplificado pelo Risug — Inibição Reversível do Esperma sob Orientação: um conceito que atraiu interesse desde o início de suas pesquisas nos anos 1970.

Dessa ideia, surgiu o Risug que injeta um polímero — popularmente conhecido como gel, chamado SMA (anidrido maleico de estireno) — no canal do deferente que, próximo à bolsa escrotal, inibe a passagem do fluido espermático local. Como alternativa, o procedimento promete, de acordo com estudos em modelos animais, esterilidade em até 10 anos.

O Instituto Indiano de Tecnologia (IIT), que estuda o procedimento com SMA, divulgou que os testes estão em estágio avançado e o Risug estaria disponível para a população. Isto é, caso haja a liberação dos órgãos reguladores de cada país, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no Brasil. A injeção contraceptiva chegaria ao mercado valendo, em média, R$400,00, segundo o IIT.

O médico urologista do Centro de Medicina Sexual do Hospital Sírio Libanês, Celso Gromatsky, explicou que existe a possibilidade de reversibilidade do procedimento através de uma nova injeção no deferente, com uma mistura de bicarbonato de sódio e ácido dinitrosalicílico (DNS), um composto de moléculas redutoras.

“O gel atua na motilidade do esperma. Então, o indivíduo vai ejacular normalmente, só não vai conter espermatozoide. Há uma semelhança com a vasectomia, ou seja, o mecanismo é mais ou menos o mesmo, a diferença é que a reversibilidade do Risug é mais simples”, afirma Gromatsky.

Métodos contraceptivos espalhados com um fundo rosa
Nova método contraceptivo masculino foi eficaz em reduzir a fertilidade em testes do Instituto Indiano - Fonte: Freepik
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Mesmo assim, não parece a solução perfeita. Os espermatozoides ainda conseguem ultrapassar a barreira, e quando entram em contato com SMA, após uma transformação química, acabam sofrendo defeitos morfológicos, fragmentação do DNA e habilidade e fertilização prejudicada. Para além disso, os métodos propostos à população masculina ainda apresentam taxas de insucesso, além dos riscos de reversão, infertilidade e obstruções locais. 

A partir do momento em que os primeiros estudos sobre esse assunto foram divulgados, os pesquisadores enfrentam desafios para introduzir os medicamentos na indústria farmacêutica, dado que a taxa de eficácia se destaca como um fator de risco significativo. Ao analisar os resultados, a pílula anticoncepcional feminina, por exemplo, emerge como um dos métodos mais seguros quando utilizado de forma adequada, demonstrando uma eficácia de 99,9% dos casos.

“É muito caro produzir medicamentos, ainda mais quando falamos de uma situação na qual existem métodos muito mais efetivos. A pílula feminina, por exemplo, tem um perfil de segurança e um custo benefício maior, né? Tem que ser um produto que seja tão eficaz e tão seguro quanto, para ser lançado ao mercado”, afirma Erick José Ramo da Silva, doutor em Farmacologia e professor do Departamento de Biofísica e Farmacologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

A sociedade contemporânea está mais inclinada a deixar a responsabilidade de controle da reprodução para mulheres. Uma possível razão para essa situação é que, em sua grande maioria, a determinação da fertilidade é conduzida pelas mulheres, uma vez que são elas que enfrentam os riscos associados à gravidez e desempenham predominantemente o papel principal na criação dos filhos. Como resultado, a maioria dos métodos contraceptivos é voltada para o público feminino, deixando apenas três opções disponíveis para o público masculino: preservativo, vasectomia e o método de retirada.

“Estamos no século XXI, a vasectomia existe há mais de um século e existem homens que acreditam que o procedimento impactaria no desempenho sexual. Por isso, o advento do anticoncepcional masculino no mercado possibilita compartilhar a responsabilidade da gravidez de forma igualitária entre parceiro e parceira”, pondera Celso Gromatsky. 

No presente, em que se enfatiza tanto a necessidade de os homens assumirem suas responsabilidades reprodutivas, fica mais evidente essa lacuna de conhecimento e cada vez mais evidente a reivindicação da participação masculina no mérito da reprodução, bem como sua percepção acerca dos diferentes papéis de gênero em relação às decisões sobre quando ter relação sexual e uma gravidez.

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Segundo secretário de Polícia Civil do Rio, erro nos resultados dos testes tinha objetivo de obter lucro
por
Laura Mariano
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14/10/2024 - 12h

 

A Polícia Civil do Rio de Janeiro iniciou nesta segunda-feira (14) uma operação que investiga o laboratório PCS-Saleme. A empresa é apontada como responsável pelo erro que provocou a infecção por HIV em seis pacientes após o transplante de órgãos infectados.


Os agentes prenderam duas pessoas envolvidas na emissão de laudos falsos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV. As prisões de Walter Vieira, médico ginecologista e sócio do Laboratório PCS-Saleme; e Ivanilson Fernandes, técnico do laboratório, foram resultado da primeira fase da operação “Verum”, realizada pela Delegacia do Consumidor (DECON).

“As informações iniciais, colhidas até o momento, dão conta de que houve uma falha operacional de controle de qualidade nos testes aplicados ao diagnóstico de HIV. E tudo isso com o objetivo de obter lucro”, afirmou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, em coletiva nesta segunda-feira (14).

Segundo as investigações, a análise das amostras deixou de ser realizada diariamente para se tornar semanal para diminuir os custos. A questão contratual com o laboratório também está sendo investigada pela Polícia Civil.

O outro sócio do laboratório, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, filho de Walter, se apresentou à polícia para prestar depoimento. Ao todo, onze mandados de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça do Rio de Janeiro. Duas pessoas estão foragidas.


“Assim que tive conhecimento sobre os casos, determinei a apuração imediata dos fatos. Todos os envolvidos estão sendo investigados e os culpados serão punidos com o rigor da lei. Esse crime atenta contra todo o estado, e daremos uma resposta dura”, declarou o governador Cláudio Castro.

Em nota, o Laboratório PCS Saleme afirmou que Walter Vieira, em depoimento nesta segunda-feira (14), disse que a sindicância interna do laboratório apontou falha humana na transcrição dos resultados de dois testes de HIV. 

“A defesa dele e de Mateus Vieira repudia com veemência a insinuação de que existiria um esquema criminoso para forjar laudos no laboratório, que atua no mercado desde 1969. A defesa confia que, após os esclarecimentos prestados por Walter, a Justiça entenderá desnecessário mantê-lo preso”, diz o posicionamento da defesa.

“O laboratório reafirma que dará todo suporte necessário às vitimas assim que tiver acesso oficial à identidade delas; e que está à disposição das autoridades que investigam o caso”, finaliza a nota. 

autoridades da policia civil sentadas a mesa durante uma coletiva de imprensa
Coletiva de imprensa sobre a operação contra envolvidos em contaminação de transplantados por HIV - Fotos: Rafael Campos (Polícia Civil)

Entenda o caso


No dia 10 de setembro, um paciente que fez um transplante de coração foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo — ele afirmou que não tinha o vírus antes.

A partir daí, as autoridades refizeram todo o processo e chegaram aos exames feitos pelo PCS-Saleme com resultado falso negativo. O doador infectado morreu em 23 de janeiro, aos 28 anos, no Hospital Municipal Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias.

Foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea. Todos foram testados, de acordo com o laboratório PCS, e não reagentes para HIV. Sempre que um órgão é doado, uma amostra é guardada. A SES-RJ, então, fez uma contraprova do material e identificou o HIV.

Em paralelo, a pasta rastreou os demais receptores e confirmou que dois doadores tiveram exames com falsos negativos no laboratório. Ao todo, foram duas pessoas que receberam os rins testaram positivo para o HIV; a paciente que recebeu o fígado morreu pouco depois do transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV. Um paciente recebeu a córnea, que não é tão vascularizada, e testou negativo.

No dia 3 de outubro, outro transplantado apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Essa pessoa também não tinha o vírus antes da cirurgia.

Na última sexta-feira (11), a Polícia Civil informou que investigava o caso. O Ministério Público do Rio de Janeiro também instaurou um inquérito para apurar as infecções. O objetivo é identificar os responsáveis pela emissão de laudos falsos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV. A investigação ainda suspeita que o laboratório tenha falsificado laudos em outros casos.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) contratou o laboratório PCS-Saleme para realizar os exames dos doadores de órgãos a partir de dezembro de 2023. Ao todo, até agora, seis pessoas foram infectadas por HIV após passarem por transplantes de órgãos na rede pública de saúde do Rio de Janeiro.

De acordo com a secretaria, todos os exames de sorologia dos doadores deste laboratório foram transferidos para o HemoRio, uma unidade de saúde estadual, que vai retestar o material armazenado de 286 doadores.

A polícia investiga ainda se o PCS-Saleme falsificou laudos em outros casos além dos transplantes. A unidade atendia outras 10 unidades de saúde estadual.

As autoridades também chegaram a outro exame errado, o de uma doadora no dia 25 de maio deste ano. Uma mulher de 40 anos morreu no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, e teve os rins e fígado doados. Os exames na PCS haviam dado negativo, mas a contraprova constatou que os três receptores dos órgãos dela haviam sido infectados.


O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme) tem como sócios dois parentes do ex-secretário estadual de Saúde do estado, Doutor Luizinho, atualmente deputado federal e líder do Partido Progressistas (PP) na Câmara. Na época, os parentes de Luizinho chegaram a fazer campanha para a candidatura dele para o Legislativo — são eles Walter Vieira, casado com a tia do deputado; Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo de Luizinho.


Em nota, o deputado disse que jamais participou da contratação de qualquer laboratório e lamentou o ocorrido — Luizinho deixou a secretaria três meses antes de o laboratório ser contratado.

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A saúde mental dos universitários tem sido um tema cada vez mais urgente nos debates atuais
por
Victória Toral
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26/09/2024 - 12h

 

A transição para a vida adulta, marcada pela entrada na universidade e a busca por independência financeira, é um período que desencadeia em muitos jovens uma crise psicológica. A pressão pela excelência e o não entendimento de que errar é humano estão criando jovens com transtornos mentais que se não diagnosticados e tratados de forma correta, geram adultos ansiosos, estressados e depressivos. 


O advogado João Victor de Oliveira Silva, atualmente especialista em Direito à Saúde e Direito dos Autistas e PCDs, compartilhou sua história contra a depressão, em entrevista à Agemt. 
Em 2017, após alcançar todas as metas que havia traçado para a faculdade, incluindo estágios, pesquisas e prêmios, o jovem se deparou com uma realidade inesperada: a infelicidade diante das conquistas. 


Após o diagnóstico do transtorno mental, João contou que interrompeu seus estudos e buscou tratamento psicológico e psiquiátrico.“Tive, além de apoio familiar e de amigos próximos, o apoio dos meus superiores no trabalho.”
Após um ano de tratamento, ele percebeu que seu maior desafio era o perfeccionismo em suas conquistas. “Mesmo quando eu atingia meus objetivos, se eu não tivesse feito como planejei, não comemorava, mas sim me criticava. Como quando passei na OAB, eu não tinha o material que queria para estudar, e passei mesmo assim, mas não fiquei satisfeito.” 


Essa busca incessante pela excelência, comum entre muitos jovens, pode levar a altos níveis de estresse e ansiedade.
No período de transição para a vida adulta, ocorrem grandes mudanças na vida: a entrada na universidade e a busca por independência, com a criação e o desenvolvimento profissional, entre outros fatores que influenciam a incidência de transtornos mentais.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde mental como um estado de bem-estar que permite ao indivíduo usar suas habilidades, recuperar-se do estresse, ser produtivo e contribuir com a comunidade. 
Um estudo realizado pela organização, conhecido como World Mental Health Survey, revelou que 35% dos universitários de diversos países apresentam sintomas de ansiedade ou depressão.


O estudo conduzido pela psicóloga Giovanna Belei Miyazaki, especialista em análise comportamental de Rio Preto, mestre e doutora em Psicologia pela FAMERP, revela dados sobre a prevalência de transtornos como ansiedade e depressão entre os jovens universitários.


A pesquisa de Miyazaki embasa o estudo da OMS e analisa universitários desde o primeiro ano, de faculdades públicas e privadas de São José do Rio Preto. Segundo a especialista, por mais que estudantes de universidades privadas apresentassem níveis mais altos de ansiedade em comparação com os de instituições públicas, todos tinham ou estavam desenvolvendo algum tipo de transtorno mental, como estresse ou depressão.


No entanto, ela ressalta que a intervenção precoce pode fazer toda a diferença. "Nosso estudo mostrou que um programa de intervenção no início do curso pode melhorar significativamente o bem-estar mental dos estudantes e até mesmo prevenir o agravamento de problemas", afirma à Agemt.

 

um a cada três universitários tem problemas de saúde mental, segundo a OMS. Foto: Beatriz Toral.
Um a cada três universitários tem problemas de saúde mental, segundo a OMS. Foto: Beatriz Toral.


Como identificar os sinais de alerta?


João Victor contou ainda que durante o período pré tratamento, seu comportamento social mudou. O consumo de bebidas alcoólicas durante eventos sociais tornou-se mais frequente. Além também de utilizar o período de descanso para que pudesse trabalhar mais. 
A identificação precoce dos transtornos mentais é fundamental para um tratamento eficaz. Segundo a especialista Miyazaki, é importante estar atento para mudanças de comportamento, como perda de interesse em atividades antes prazerosas, isolamento social, alterações no sono e no apetite, e aumento do consumo de álcool ou outras drogas.


"Ansiedade, depressão e estresse são rótulos que damos para mudanças de comportamento", explica a psicóloga. 
Ela completa: "A ansiedade, por exemplo, se caracteriza por uma preocupação excessiva e sintomas físicos como taquicardia e sudorese. Já a depressão se manifesta pela perda de prazer nas atividades, tristeza profunda e falta de energia. E o estresse, é um transtorno complexo, porque ele envolve um estado de alerta, mas para coisas específicas".  


A importância do diagnóstico e tratamento


Durante o período de tratamento, João buscou escrever. Ele produziu o livro “Amarelo: Diálogo com a depressão”, que surgiu por meio destes textos, “Amarelo não é um livro sobre depressão e suicídio, mas um livro feito em depressão e pela ideia de suicídio. 
O advogado contou que seu foco não foi que o livro ficasse famoso, mas apenas expressar o que estava sentindo e se conhecer ainda mais.


É fundamental buscar ajuda profissional para um diagnóstico preciso e tratamento adequado. A psicóloga ressalta a importância de desmistificar os transtornos mentais e incentivar as pessoas a procurarem ajuda.
A saúde mental é tão importante quanto a saúde física e com o tratamento adequado, é possível superar os desafios e viver uma vida mais plena e feliz. 


Se você ou alguém próximo estiver precisando de ajuda é importante buscar por uma psicoterapia. O atendimento também pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde, pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que encaminhará um psicólogo gratuito. Em momentos de crise, é possível também entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV)  pelo telefone 188, disponível 24 horas por dia. 

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Entenda porque um item rotineiro pode ser tão prejudicial para esfera ecológica e quais são as possíveis alternativas para frear os impactos negativos, sem que a higiene menstrual seja negligenciada
por
Ana Luiza Pêgo e Sofia Luppi
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15/06/2021 - 12h

Combater a pobreza menstrual é um dos desafios da gestão de políticas públicas globais. No Brasil, uma em cada quatro mulheres não têm acesso a absorventes, de acordo com relatório divulgado pelo movimento Girl Up - uma iniciativa parceira das Nações Unidas (ONU). 

Entretanto, em países como a Nova Zelândia e Escócia, a questão vem sendo endereçada com mais vigor. Em fevereiro de 2021, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que as escolas do país vão distribuir gratuitamente o item de higiene. Já o parlamento escocês, no ano passado, determinou que a distribuição de absorventes e tampões seja feita para “quem precisar deles”.

Nos últimos anos, surgiu uma onda de conscientização no que diz respeito à obtenção de absorventes descartáveis. Contudo, colocar este produto como o único meio possível de solucionar a problemática, pode se tornar um transtorno ainda maior no futuro. Visto que os itens de higiene menstrual estão ligados à degradação do meio ambiente, explorar alternativas e possibilidades é essencial para encaminhar resoluções de impacto positivo a longo prazo. 

Para começar, é preciso entender os componentes que estão envolvidos na fabricação deste produto: árvores e petróleo são as duas matérias-primas principais. De forma que a primeira é a origem da celulose e a segunda, é processada e vira diversos tipos de plásticos, por exemplo poli etileno e propileno. Todos estes são elementos usados na composição do absorvente. 

Mãos segurando dois tipos de absorvente.
Dois tipos mais comuns de absorventes. À direita, absorvente interno e à esquerda, externo/Reprodução
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Entretanto, existem três problemas que decorrem da utilização desses dois itens. São eles: geração de resíduos, gasto elevado de energia e fiscalização da origem da matéria-prima, nesse caso a madeira. A National Geographic, em novembro de 2020, publicou uma matéria abordando esse tema. Na reportagem é afirmado que os absorventes descartáveis possuem três tipos de plástico diferentes na constituição. Ainda falando desse material, vale lembrar que os absorventes são envoltos em uma espécie de capa protetora e posteriormente, colocados em outra embalagem. Tanto a capa quanto o pacote são feitos de plástico. 

Em São Paulo, na Escola Politécnica da USP, foi realizada uma pesquisa sobre o ciclo de vida dos absorventes externos. Foi avaliada toda a cadeia produtiva, desde a produção, passando por logística e transporte, até o descarte. Os pesquisadores  concluíram que a pegada de gás carbônico deixada por um absorvente durante seu ciclo de vida é equivalente a 9,6 kg/ano. Prosseguindo com os dados do estudo, os pesquisadores ressaltaram que o algodão é um componente importante desse produto, isto leva ao problema do consumo de água na produção. Estima-se que cada quilo de algodão precise de 20.000 litros de água para ser utilizado como matéria prima.

O Instituto Akatu, que trabalha na área do consumo consciente, fez uma estimativa e afirmou que uma pessoa pode, durante a sua vida, produzir cerca de 200 kg de lixo somente consumindo absorventes descartáveis. Em um raciocínio simples, pensando que a maioria dos componentes do absorvente são plásticos e estes demoram mais de 400 anos para se decompor, cada pessoa pode ser co-responsável pela degradação do ambiente por 4 séculos.

Outro fator importante na etapa do descarte é o destino dos absorventes. A maioria deles é destinada a lixões e aterros sanitários. Nos dois lugares, os produtos passam anos até se decompor e podem acabar contaminando o solo, uma vez que estes contém elementos químicos na composição. Além disso, esses aditivos são prejudiciais para a saúde daqueles que lidam com esse lixo descartado. Vale lembrar que existe um grande número de absorventes que são descartados no vaso sanitário, atitude que contribui para a degradação dos oceanos e ecossistemas.

Como tentativa de resolução, algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas e até mesmo a reciclagem desses materiais já começou a ser desenvolvida. No Reino Unido, a empresa “Knowaste” criou uma espécie de usina para reciclar esse lixo higiênico, transformando-o em madeiras ou telhas plásticas. A corporação calcula que nesse processo, 36 mil toneladas de carbono já deixaram de ser emitidas no meio ambiente. 

  Aqui no Brasil, são duas as opções mais comuns. O coletor menstrual e a calcinha absorvente. O primeiro, é mais antigo e comum, já que é prático e possui um interessante custo-benefício. Ele é lavável e pode ser usado por cerca de 10 horas. Uma das empresas que comercializa coletores, em território nacional, é a Fleurity e em seu site, eles garantem que quando bem cuidado, o produto dura 3 anos. Sobre valores, um coletor custa em média R$60 reais, o preço pode variar entre as marcas e modelos. 

A estudante de publicidade, Amanda Ardigó, 20 anos, relatou a sua experiência como utilizadora do produto. “[Minha experiência] foi ótima, sem falar no conforto. É muito melhor do que o absorvente, mais higiênico e você pode ficar mais tempo sem se preocupar com odor.” Quando questionada sobre a motivação da mudança de hábitos, a publicitária afirmou que “Com certeza foi o meio ambiente. Na realidade, foi a melhor opção tanto a longo prazo, na questão sustentável, quanto para o meu bolso.”

Amanda Ardigó. Imagem: Acervo Pessoal.
Amanda Ardigó. Imagem: Acervo Pessoal.

A Fleurity também vende calcinhas absorventes, contudo a empresa que lidera esse cenário é a Pantys. Marca brasileira e fundada por mulheres, a empresa trabalha com diversos modelos da peça íntima. Com opções para todos os gostos (e fluxos), a popularidade das calcinhas absorventes da pantys vêm crescendo. “O problema de acúmulo de lixo é um dos maiores que enfrentamos hoje e Pantys nasceu pensando na raiz desse problema, em reduzir o lixo dos absorventes descartáveis [...] e agora nos preocupamos também com o “depois”, afinal, não existe jogar nada fora, tudo se transforma em alguma coisa.” 

As peças são laváveis, reutilizáveis e prometem ciclos tranquilos e sem vazamentos. Em questão de valores, cada uma custa em média 80 reais. Vale lembrar que os dois produtos são testados, certificados e se utilizados da maneira correta, não apresentam risco nenhum à saúde.

Modelos da marca Pantys. Imagem: Divulgação
Modelos vestindo a marca Pantys. Imagem: Divulgação. 

 

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No Dia Mundial da Voz ouvimos alguns profissionais que utilizam a voz como instrumento principal de trabalho
por
Adriano Madruga, Giovanna Morais de Almeida, Victor Henrique Santos
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10/06/2021 - 12h

Microfones vermelhos pendurados em estrutura de ferro No dia 16 de abril comemoramos o “Dia Mundial da Voz”, dia destacado para reforçar e conscientizar a população sobre a importância da voz, e divulgar informações sobre doenças que possam impactar a fala, auxiliando assim as pessoas a identificarem possíveis sintomas e obterem um diagnóstico precoce.

Diversas profissões têm a voz como ferramenta principal de trabalho, entre elas temos cantores, radialistas, jornalistas, vendedores, fonoaudiólogos, professores, e tantos outros. Apesar de vital, muitas vezes a voz não é cuidada da forma correta, sendo levada ao desgaste o que prejudica as cordas vocais. A professora, Tânia Neves, 55, conta que durante as aulas presenciais os desgastes na voz eram frequentes. “Antes da pandemia trabalhava em período integral numa escola infantil, então o expediente se estendia das 7 horas da manhã até as 5 horas da tarde. Fazia algumas pausas no dia, mas na maioria do tempo estava falando o que gerava muito cansaço vocal. Houve semanas que mesmo com gargarejo, pastilhas e chá de gengibre acabei passando todos os dias rouca” diz Neves.

A professora fala também sobre como tem sido a rotina na pandemia, “Estou dando aulas remotas agora, e para não gerar desgaste nem nas crianças e nem nos pais que acompanham seus filhos nas aulas, reduzimos o tempo de aulas para 3 horas diárias. Em questão da voz isso ajudou muito, já que não passo mais o dia inteiro falando”, conta a professora. É recomendado que professores realizem aquecimentos vocais antes de longos períodos falando, mantenham-se hidratados bebendo cerca de 2 litros de água por dia e não façam refeições pesadas antes das aulas

O Consenso Nacional sobre Voz Profissional informa que cerca de 2% dos professores em atividade já foram afastados por licença médica ou restrição de função por problemas atribuídos a voz. Tânia conta como ‘driblou’ as consequências de horas falando e conseguiu amenizar o dano nas cordas vocais quando dava aulas presenciais, “Depois de alguns dias com dores de garganta passei no médico que me indicou repouso absoluto da voz e aconselhou que adquirisse um autofalante portátil para dar as aulas. Ao retornar as aulas com o autofalante foi um alívio, não precisava mais falar tão alto porque a caixinha de som tinha regulagem de volume e foi uma ‘sensação’ com as crianças, todas ficaram curiosas com o fato da professora dar aulas de microfone agora”.

Em entrevista com a fonoaudióloga Laura Leite, são apresentamos pontos fundamentais de sua profissão e a importância para diversos setores da sociedade, principalmente na comunicação "O Fonoaudiólogo é um profissional da área da comunicação e da saúde, nós nos preocupamos em como melhorar e tratar a voz de nossos pacientes, sem deixar de lado a importância de como ela deve soar! Trabalhamos em diversas áreas e setores da sociedade, e temos um trabalho crucial na hora de ajudar grandes comunicadores no país a transmitir de maneira limpa e clara a mensagem que o maior número de pessoas compreenda".

"Esse tipo de terapia consiste em construir uma nova identidade para a voz da pessoa, através de exercícios vocais e de respiração principalmente, podemos melhorar não apenas a voz em si da pessoa, mas outros problemas como a língua presa, que é extremamente comum no mundo todo, além da respiração em si, que é obviamente crucial a todos nós", conta a Laura sobre a terapia fonoaudiológica.

A fonoaudióloga informa também como é tratar problemas vocais, tal como a gagueira, "Em alguns casos, a cura completa principalmente da gagueira não ocorre, a pessoa pode infelizmente continuar com alguns pequenos "deslizes", mas através de um tratamento que pode levar um bom tempo, o resultado pode sair melhor que o esperado e melhorar muito a comunicação.
O "fanho" e o "gago" ambos passam por um problema latente no mundo todo que é a questão do bullying, principalmente na infância, isso pode causar marcas e problemas psicológicos e sociais que vão muito além da questão da voz, por isso temos uma grande responsabilidade, quando recebemos um paciente que sofre de algum distúrbio, em não apenas melhorar sua comunicação da melhor forma possível, mas integra-lo de uma maneira bem melhor na sociedade."

 No universo artístico, o uso da voz, principalmente entre atores e cantores, é uma ferramenta crucial para o trabalho.

O uso intensivo da voz pode fazer o ator perder uma peça importante e o cantor perder um grande show por exemplo, portanto, os cuidados que ambos devem ter com sua principalmente com suas cordas vocais.

Entrevistamos Tania Maria Barbosa, 50 anos, Tania durante grande parte de sua adolescência e infância cantou tanto em corais da escola quanto em corais de igreja, chegando até a fazer parte de competições de canto com seu colégio na época.

Tania disse que sempre tentou cuidar o máximo possível da voz, evitando de tomar e comer alimentos com temperaturas muito frias ou muito quentes, como sorvete e café respectivamente. Ela relatou ainda que devemos entender a voz como um músculo, e o canto se baseia nas várias formas que esse músculo se movimenta dentro da sua garganta, aliado as cordas vocais, que são a parte mais importante quando se trata da voz e do som que você quer emanar.

O quanto você ouve segundo ela, também é uma parte crucial para não desgastar suas cordas vocais.

“Estar em lugares com muito barulho, faz você desgastar sua voz ainda mais, pois aumentamos o volume da nossa fala, portanto ao aumentar esse tom, aumenta a força com que as cordas vocais tem de se mover e o choque entre elas, assim elas (as cordas vocais) ficam inchadas, gerando a rouquidão”.

Tania acredita que exercícios vocais deveriam ser incentivados para todos, não apenas para aqueles que trabalham com a voz diuturnamente: “Todas as pessoas deveriam saber preservar suas cordas vocais o melhor possível, pois é algo que vai te acompanhar por toda a vida”.

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Operadores de Telemarketing relatam o estresse e os problemas que adquiriram ou pioraram com o trabalho
por
Silvana Luz e Suzana Rufino
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07/07/2021 - 12h

Por Silvana Luz e Suzana Rufino 

Nessa pandemia, muitas empresas demitiram seus funcionários por não terem condições de pagá- los e arcar com as despesas. Porém, há aquelas que não só aumentaram a demanda de serviço como contrataram mais colaboradores, isto é, estão lucrando em meio a pandemia da covid-19, e são eles, os chamados calls centers. Segundo a Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing) as empresas de prestações de serviços empregam mais de 1,5 milhões de jovens e adultos com idade entre  18 e 29 anos. Nota-se que essa forma de trabalho é uma das mais rentáveis no momento,  porém quem ganha  não são os operadores, mas sim as empresas terceirizadas.

A média salarial é sempre de um salário mínimo com alguns benefícios, o horário de trabalho são de 6:20, 6x1 e as áreas são variadas como: ativo, receptivo/sac, híbrida, cobrança, retenção, chat e email. E agora, com essa nova fase da sociedade, essas empresas adaptaram seus serviços de uma forma remota, isto é, migraram seus operadores para trabalharem em casa, disponibilizando máquinas com o sistema já instalado, suporte via  Whatsapp, tudo para o colaborador atender  de uma maneira mais cômoda e eficaz possível. Vendo acima, até parece um emprego tranquilo e com várias atuações,   mas não, pois todos os dias os colaboradores sofrem as pressões absurdas, por que há metas a serem cumpridas em determinado tempo, e muitas vezes, além das cobranças, o assédio moral e até sexual surgem para piorar o contexto. A forma tranquila de se trabalhar com esse ramo nunca haverá, e mesmo com a continuidade de contratações, os operadores continuarão com as mesmas pressões e aumento de serviços.

Essa área é comum entre jovens e adultos na maioria universitários ou já formados, que ao não conseguirem um estágio  ou emprego,  optam por serem Agentes de atendimento, pois é o que tem naquele momento e a única forma de pagarem as contas e sustentar a família. Parece que não há escapatória, e o mais engraçado são que muitos, mesmo depois de formados, continuam os estudos para terem mais chances de conseguir um emprego melhor, mas percebe-se que a crise só piora, o emprego ideal não aparece e o telemarketing é a única opção de sobrevivência. Outra questão pertinente é ao perguntar aos colaboradores quanto tempo de call center, a resposta as vezes assusta, isto é, a maioria responde que já tem anos como operador, passando por várias empresas e sem chance de subir de cargo.

O dia a dia deles são sempre a mesma coisa, afirma a jornalista Renata Mendonça da BBC News Brasil do outro lado da linha, estão clientes irritados pelos problemas causados por uma empresa da qual muitas vezes você não é funcionário e sobre a qual não tem qualquer responsabilidade. No entanto, naquela ligação, é você quem personifica todos os erros   e os defeitos dela e, por causa disso, acaba sendo o alvo da ira de todos aqueles consumidores insatisfeitos. Os xingamentos vão desde "burro", "incompetente" e "ignorante" a até "você não presta para nada, por isso nunca      vai deixar de ser operador de telemarketing". Desligar o telefone não é uma opção, então a única alternativa é                          escutar os insultos calados.  E não dá tempo de respirar. Enquanto você tenta esquecer as ofensas que acabou de ouvir, o telefone toca de novo, e é preciso disfarçar rapidamente e dizer com a voz simpática: "Bom dia, senhor, em que posso ajudar?”.

Dito acima, esse é o cotidiano de vários trabalhadores que atuam nessa área, recebendo todas as reclamações dos consumidores das empresas filiadas, e também ligando para possíveis clientes para oferecerem serviços impertinentes. Segundo Mendonça “O profissional dessa área é frequentemente tachado de "chato" e "odiado" pelas pessoas. Mas, se a realidade é difícil para quem precisa de seus serviços, pode ser ainda pior para quem vive na pele essa rotina. A média de ligações diárias costuma ultrapassar as centenas (cerca de 300 nas 6 horas que trabalham conectados) – enquanto a média salarial dificilmente ultrapassa um salário mínimo, com algumas remunerações variáveis a depender das  metas a serem batidas”.  Apesar do trabalho agora ser em home office, a rotina repetitiva continua  a mesma ou até pior com a alta  demanda de serviço.  E claro, com isso vem o estresse, as dores por todo corpo,  a ansiedade e a depressão. Geralmente, a saúde mental pior  de uma tal forma que levam muitos atendentes a não se fixarem no emprego e terem que se consultar todo mês com o psiquiatra e psicólogo. E também, há aqueles que antes, já possuíam algum distúrbio, e no decorrer da pressão do call center, pioraram e tiveram que se afastar.

Diante desse cenário, o número de doenças diagnosticadas em pessoas que exercem essa função é crescente.  Somente na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing  (Sintratel),  existem aproximadamente 100 mil profissionais nesse segmento. Dados do sindicato relacionados a doenças do trabalho apontam que 36% sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30% de transtornos psíquicos e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz”, relata a Mendonça.

De acordo com psicólogos sociais, depressão, transtorno de ansiedade e síndrome do pânico são algumas doenças/distúrbios   psíquicos desenvolvidos ou piorados por operadores de telemarketing.

É como afirma Letícia Costa de 25 anos, que tinha o dia a dia estressante quando trabalhava na área.“Para mim era uma tortura, só de pensar já fico agoniada. Infelizmente a maioria de meus empregos foram em telemarketing, e pior, por voz. Em meu penúltimo, que também foi em call center, era uma escravidão, fazia várias funções ao mesmo tempo como: cobrança, ativo/vendas, receptivo/sac, suporte técnico, chat e email, enfim, sofria com crises de ansiedade direto. Fiquei por 2 anos, difícil de acreditar, mas não conseguia outro emprego. Na verdade esse foi o meu limite, mas lamentavelmente durou pouco, pois por não conseguir nada em minha área que é em Letras, resolvi me sujeitar ao telemarketing novamente. Já sabia como seria, então não criei expectativas de mudanças nesse ramo, porém como só faria uma função, pensei que seria menos pior, mas não, foi muito ruim. Levantava todos os dias com um aperto no peito, boca seca, ansiosa e desanimada. Segurei por quatro meses, depois disso comecei a ter várias crises em seguida, desmaiava nos transportes públicos, quando tentava ir não conseguia entrar na operação, por que já lembrava dos xingamentos dos clientes, cobranças da supervisora, gritaria no ambiente, falta de ajuda, tudo me apavorava. Sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada há três anos, desde lá tomei diversos remédios, me consultei com psiquiatras, só não pude fazer psicoterapia por falta de tempo e dinheiro. Pedi muitas vezes para minha supervisora me mandar embora, mas era em vão. Empresas como esta não mandam, não se preocupa com o operador, só quer lucrar. Em março, comecei a trabalhar em home office, pensei que diminuiria a cobrança e as ligações, mas não, piorou. 

"As ligações era todo momento, cobrança a toda hora, metas dobradas, por que na concepção deles, estar em casa é cômodo e dá para produzir mais. Me senti um gado, todos os dias levantava com vontade de desistir, porém as contas não perdoavam, tinha que continuar. Chorava todos os dias, rezava para acabar logo, e mesmo em casa, minhas crises não pararam. Por entregar vários atestados em menos de 60 dias, o RH em julho me afastou pelo INSS, ficando 30 dias sem trabalhar. Estava mal, não era só o psicológico, mas meu corpo começava a doer, tudo doía. Em agosto tentei voltar, mas não consegui e me afastaram novamente, dessa vez foi definitivo. Nesse meio tempo, me consultei com um psiquiatra e ele constatou que eu estava com depressão e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, pois mal conseguia dormir e me concentrar nas atividades. De outubro do ano passado a fevereiro desse ano, o médico mudou meus remédio três vezes e com dosagem máxima. O trabalho, desde agosto estava afastada, recebendo praticamente nada do INSS, me virando de todo jeito para não faltar o sustento de casa, e em maio, pedi as contas. Hoje, o único trabalho que não enfrento é de telemarketing, por que a humilhação, a pressão, a cobrança, os xingamentos que sofri, não desejo para ninguém. Não estou 100%, ainda não consegui fazer psicoterapia, mas só de não estar atendendo, já é um alívio”.

Karen do Carmo, 23 anos, estudante de Fisioterapia, conta como foram suas experiências torturantes em call centers. “Trabalhei em cinco empresas de telemarketing, com salários baixos e humilhações. Todos os dias eu ensaiava para pedir as contas, porém por ter aluguel para pagar, sustentar a casa, pagar a faculdade e me manter, tive que suportar o assédio moral. Por não dar um basta, desenvolvi ansiedade e consequentemente sofri várias crises. Então, tudo virou uma bola de neve, com dívidas acumuladas, assédio dos supervisores, clientes raivosos, meus problemas se juntaram com os dos clientes e supervisores, imagine como estava a minha mente? Um caos!. Houve uma situação, que o supervisor bateu em minha P.A e gritou comigo na frente da operação inteira. Tentei fazer processo para subir de cargo, mas ele não me deixou mudar de setor, pois muitos supervisores tem a sua “panelinha” e essa era uma chance única para eu ganhar um pouco a mais, porém não fui ajudada, o supervisor me odiava. Daí, minhas crises de ansiedade foram aumentando e nessas cinco empresas de call center tive que pedir as contas. De tanta crises comecei a passar em psiquiatras, o primeiro me diagnosticou com Síndrome do Pânico. No decorrer dessas companhias, houve momentos que eu não aguentava com tanta ansiedade e pedia para ir embora. Quando eu entrava no transporte público, não conseguia descer no ponto ou na estação, pois eu ficava paralisada, me dava crises de pânico só de pensar que estava chegando na empresa. E o mais frustrante é que a maioria das saídas ocorreram em 2019. No ano de 2020, fiquei desemprega por várias meses para me tratar, mesmo assim enviava currículo para as empresas, mas o salário sempre era o mínimo, e hoje em São Paulo, é impossível sobreviver com um salário quando se tem família para sustentar. Enfim, desejo que as empresas de telemarketing um dia sejam humanizadas, pois se seguirem assim, coitados dos operadores”.

Stéphanie Freitas, 21 anos, formada em radiologia, fala sobre sua rotina estressante em call center e o dilema em lhe dar com a ansiedade. “Já trabalhei de tudo um pouco, menos em call center, mas em outubro de 2019, apareceu uma vaga para trabalhar com SAC 6x1. As pessoas me falavam como era ruim trabalhar em empresas de prestações de serviços,  pois os funcionários, além de não serem valorizados, não ganhavam muito bem. Hoje, percebo que o call center  serve como um quebra galho, por que fazer carreira ali, é quase impossível. Pensava que sairia logo, mas ainda continuo. Já faz um tempo que não atendo, pois me colocaram  para auxiliar os atendentes, enfim, está mais tranquilo para mim, porém para os operadores aumentaram a demanda de  atendimento e serviços, notei isso pelo número de pedidos de auxílio. Referente a distúrbio, sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada, mas hoje me controlo mais que antigamente, pois  no começo, cheguei a passar mal e ser afastada por quase duas semanas”. Sofrer disso é ruim demais, por que atrapalha a sua vida, não dá para se concentrar nas tarefas e no trabalho. Infelizmente conheço vários que sofrem disso, inclusive no trabalho, sendo que algumas dessas pessoas se afastaram devido a piora no quadro. Agora com a pandemia, creio que as crises de ansiedades nas  pessoas aumentaram, inclusive aqueles que trabalham  em call center pois a demanda de trabalho cresceu e  muitas as vezes não temo suporte adequado para ajudá-los. Para quem precisa de uma renda urgente e não encontra emprego em sua área,  as prestadoras de serviços são as únicas portas imediatas, foi para mim e é para vários formados ou cursando faculdade. Nesse ramo é impossível não contrair algum distúrbio/doença ou piorá-lo, há raridades que conseguem não adquirir, porém é um parte muito pequena. Seria ótimo se todos formados e os que estão cursando arrumassem um emprego em sua área, assim o mercado seria configurado pela paixão ao trabalho, não apenas por obrigação”.

O doutor em Psicologia Social e professor associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social (PSO) e na graduação do curso de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Odair Furtado diz  que nesse ramo não há uma forma de manter o equilíbrio mental. “Para falar a verdade, não existe saída, os trabalhadores sofrem. Alguns conseguem aguentar a pressão da empresa, sem afetar muito o psicológico, outras não conseguem e pedem para sair. Muitas pessoas não conseguem arrumar um emprego em sua especialidade, por conta da crise, optam trabalhar em uma empresa que foge de sua profissão, são alternativas para pagarem as contas e sobreviver. Esses indivíduos criam certa resistência e por mais tenso que seja, conseguem driblar as pressões diárias do trabalho. Infelizmente, hoje  uma epidemia    de pessoas com depressão, principalmente as que  prestam serviços, como o telemarketing.  Essa epidemia foi constada quando os indivíduos pedem afastamento do trabalho para se tratarem. A LER (Lesão por esforço  repetitivo), se sobressaí, pois os traumas não são só psicológicos, mas também físicos como: perda da audição,  tendinite por digitar demais, dores por todo o corpo etcTempos atrás saiu uma matéria referente às pessoas graduadas que não  conseguiram arrumar emprego em sua especialidade, por isso opta por empregos alternativos, um deles é o telemarketing. Esse ramo é um destruidor de saúde mental e as histórias são horrorosas. Outro aspecto, é o assedio moral, fator que prejudica ainda mais o psicológico do individuo. Infelizmente o assedio moral e sexual é uma política comum em muitos ambientes de trabalho, geralmente as pessoas que sofrem com isso estão em uma situação vulnerável, isto é, se reclamarem vão para o olho da rua, e por ter família para sustentar, suportam”.

“Com o país em crise, o medo de perder o emprego é tão grande que a pessoa se submete a situações conflituosas no trabalho. Por já haver ficado sem trabalho há algum tempo, e por ter sido complicado arrumar o atual, o trabalhar assediado não tem escolha, suportar os insultos calado, pois tem receio de ser dispensado. Esse ato é um “crime” sistemático em algumas empresas. Há uma síndrome que se chama burnout e que é típico dessa situação. Por conta do cotidiano desgastante e assedio moral/sexual no trabalho, individuo começa a ficar deprimido, desmotivado, não crer mais em si, não tem força para combater o abuso,  enfim, seu psicofísico reage retroativamente. Quando chegam ao estado acima, muitos ou descontam nas pessoas ou ficam paralisados, afetando todos os sentidos da vida, e quando acha que não tem jeito de sair dessa situação, se suicidam. Esse tipo de trabalho é total desgastante, tudo é controlado e a produção não pode parar, esse é um dos piores empregos que existem, só perdem para os trabalhos escravos. Uns se apropriam e consegue subir de cargo, outros  ficam por que não há   alternativa,então, aguentam até não puderem mais, pois já estão destruídos fisicamente e psicologicamente. Quando se entra nesse ramo, não há tratamento psicológico que ajude. Não adianta se consultar com psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras   que não vai adianta. O único jeito é sair o mais rápido possível trabalho. O Brasil em telemarketing só perde para a Índia e EUA, no quesito de acumulação de doenças mentais e físicas nos operadores. Infelizmente não  escapatória”.

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"Eu acredito que isso tem que ser falado, ensinado, porque é só com discussão que podemos pensar em organizações comunitárias", afirma Victoria, diretora de mídias sociais do Absorvidas
por
Beatriz Loss, Fernanda Fernandes e Giovana Yamaki
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04/06/2021 - 12h

 

Projeto Absorvidas RJ
Projeto criado por jovens mulheres para exterminar a pobreza menstrual nos presídios do RJ

 

Fizemos uma entrevista com integrantes do projeto Absorvidas, do Rio de Janeiro, que é uma organização sem fins lucrativos que visa erradicar a pobreza menstrual nos presídios do Rio de Janeiro, levando educação menstrual e absorventes de pano. No ano passado, o projeto Absorvidas fez uma campanha de arrecadação na internet para doar dois mil absorventes de pano e educação menstrual para uma penitenciária no Rio. Elas conseguiram arrecadar 30 mil reais em 17 dias. As respostas são da Victoria Escalcon, diretora de mídias sociais do projeto.

AGEMT -  Como surgiu o projeto Absorvidas?

Absorvidas - O projeto surgiu a partir da Giullia Jaques, que é diretora executiva e uma das oito integrantes do projeto. Ela conta que teve essa ideia do Absorvidas por causa de uma palestra de uma ONG chamada X-runner, que fornece vasos sanitários, e ela falou que ficou muito mexida com uma fala deles. “O que você faz quando abre os olhos de manhã?”, eles perguntaram, e aí vieram as respostas como “vou ao banheiro”, “mexo no celular”, “me espreguiço” etc. E então eles perguntam “o que você faria se não tivesse um banheiro?” e foi aí que ela ficou comovida. A partir daí, a Giullia começou a refletir e então surgiu o questionamento: quem não tem acesso ao absorvente e como é que essas pessoas vivem?

Depois disso, houve bastante pesquisa, também através de livros como Prisioneiras, do Dráuzio Varella e Presos que Menstruam, da Nana Queiroz. E então o projeto surgiu em 2019. O Absorvidas é mais que um projeto para levar absorventes, primeiro porque nós temos uma pauta mais voltada a absorventes biodegradáveis, pensando nessa questão da ecologia e segundo porque a nossa meta a longo prazo é a ressocialização das presas, porque muitas delas, quando saem da cadeia, não conseguem empregos e ficam muito vulneráveis, e acabam voltando para a cadeia. Então, o Absorvidas faz com que as próprias presas aprendam a fazer os bioabsorventes, de pano, para vender. É muito mais do que oferecer auxílio, é oferecer também perspectiva dentro de um sistema em que as mulheres são marginalizadas e esquecidas.

AGEMT - Por que vocês decidiram estabelecer a meta de 30.000 reais na arrecadação?

A - Os 30 mil reais foi um valor pensado pelo custo da logística como, por exemplo, o frete, os bioabsorventes, embalagens etc. Foi tudo pensado direcionado para um presídio específico, para mulheres específicas.

AGEMT -  Você acha importante que a questão da pobreza menstrual seja ensinada para crianças (pré-adolescentes no início da vida menstrual)?

A - Sim, com certeza. Eu acredito que a pobreza menstrual tem que ser falada, ensinada, porque é só com discussão que podemos pensar em projetos. Sejam projetos governamentais ou um projeto como o nosso, que são apenas jovens tentando fazer a sua parte. Então eu acho muito importante e, quando penso nessa questão do ensino, acredito que não só falar sobre pobreza menstrual, mas também sobre educação menstrual. E não só isso, falar também de educação sexual. É chocante como não falamos com naturalidade sobre a nossa menstruação e estamos sempre coagidas com tudo. Isso é muito triste, porque é só a partir do diálogo que realmente haverá alguma mudança e não só o diálogo entre quem menstrua, mas entre os que não menstruam também.

 AGEMT -   Como a pobreza menstrual pode afetar também a questão econômica? (porque, por exemplo, muitas mulheres, quando estão menstruadas, não vão ao trabalho/aula por falta de absorvente)

A - Como vocês falaram, muitas mulheres que estão menstruadas muitas vezes não conseguem ir para o trabalho ou para a escola e também tem a questão da dor, da cólica, da TPM, que muitas vezes é desprezada. Lembro que eu gastava mais de 50 reais para comprar dois pacotes grandes [de absorventes descartáveis] e que às vezes não duravam nem dois ciclos inteiros porque meu fluxo é muito grande. E o que são 50 reais para uma família com várias pessoas que menstruam? A gente vive em um país que tem um monte de gente passando fome, como vamos pensar em métodos de menstruação com gente passando fome? Isso é bizarro, porque as pessoas ainda acham que higiene menstrual é um luxo, mas na verdade é só higiene básica. É muito triste.

AGEMT - Qual a importância do projeto de lei da 428/2020, da Tabata Amaral?

A - Eu acho bizarro como só em 2020 essa pauta foi levantada com mais força. Isso chega a ser ridículo, porque nós não começamos a menstruar agora. Preservativos sempre tiveram né [sempre foram disponibilizados pelo governo], e é muito importante continuar tendo mesmo, mas não ter sido implementado nada sobre absorventes antes é bizarro. Isso mostra a vulnerabilidade que mulheres e pessoas que menstruam, de modo geral, sofrem.

 AGEMT - Além do projeto de lei da 428/2020, da Tabata Amaral, existe algum outro movimento do governo para combater a falta de acesso a absorventes higiênicos?

A - Existiu um outro projeto da Luciana Genro, do PSOL, no Rio Grande do Sul, para que absorventes fossem colocados em cesta básica, e acho que no Rio e no Mato Grosso também. Mas, no Congresso, essa discussão nunca teve tanta força, acredito que esteja começando a ter nesse momento com a internet e os debates que são levantados lá.

 

Leia mais sobre pobreza menstrual aqui.

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Estado norte-americano, que já aplicou mais de 37 milhões de vacinas, segue orientação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Brasileiros que moram no país estão na expectativa para a nova fase
por
Marcelo Moreira
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04/06/2021 - 12h

O Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, anunciou que planeja suspender a obrigatoriedade do uso de máscara, conforme recomendação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Um informativo oficial afirma que a expectativa é de que isso aconteça no dia 15 de junho. A medida vale só para as pessoas que já tomaram as duas doses da vacina contra a Covid-19.

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covid19.ca.gov

Com quase 40 milhões de habitantes, segundo o Departamento do Senso dos Estados Unidos, 37.826.298 doses de imunizantes contra a Covid-19 já foram aplicadas no estado, de acordo com o governo, ou seja, mais da metade da população já está vacinada. Enquanto isso, cresce a esperança para o fim das restrições e a volta à vida normal.

Maria Holtz
(Foto: arquivo pessoal)

Para a jovem brasileira Maria Holtz, de 22 anos, que trabalha como au par (programa de intercâmbio de inglês onde se trabalha como babá de crianças na casa que reside), no Vale do Silício, na Califórnia, o novo momento é sinal do cumprimento de medidas de prevenção seguidas pelos moradores da região. “Eu fiquei bem feliz ao saber que o uso da máscara não será mais obrigatório. Aqui, as pessoas seguem, desde março de 2020, com o uso de máscara, de álcool em gel, e distanciamento social. Lembro de um dia que eu estava no supermercado e eu cheguei mais perto de uma pessoa e ela ficou brava comigo.

Os restaurantes ficaram fechados todo esse tempo e voltaram a abrir no final de dezembro do ano passado”, afirma Holtz.  Mesmo com a pouca idade, Maria já conseguiu tomar as duas doses da vacina contra a Covid-19, o que não seria possível no Brasil por conta do atraso da imunização no país. Ela conta que a situação brasileira em relação à pandemia repercute negativamente sempre que há pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. “Quando o Bolsonaro fala alguma coisa, as pessoas não gostam, até porque a Califórnia é muito focada no Joe Biden, que é totalmente oposto ao presidente brasileiro”, ressalta.

De acordo com dados do Governo da Califórnia, 62.092 pessoas já morreram em decorrência da Covid-19 no estado, desde o início da pandemia. Investindo em ciência, os Estados Unidos vacinam com os imunizantes da Pfizer/BioNTech, Moderna e Janssen (Johnson & Johnson). Para a jovem Maria Holtz, uma única certeza: “a vacina salva”. “É preciso um pouco de estudo sobre o cenário atual, um pouco de respeito, porque aqui também não foi fácil. O comércio também fechou. O recado é: tome vacina, porque ela, realmente, protege do vírus”, finaliza Holtz. 

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