Combater a pobreza menstrual é um dos desafios da gestão de políticas públicas globais. No Brasil, uma em cada quatro mulheres não têm acesso a absorventes, de acordo com relatório divulgado pelo movimento Girl Up - uma iniciativa parceira das Nações Unidas (ONU).
Entretanto, em países como a Nova Zelândia e Escócia, a questão vem sendo endereçada com mais vigor. Em fevereiro de 2021, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que as escolas do país vão distribuir gratuitamente o item de higiene. Já o parlamento escocês, no ano passado, determinou que a distribuição de absorventes e tampões seja feita para “quem precisar deles”.
Nos últimos anos, surgiu uma onda de conscientização no que diz respeito à obtenção de absorventes descartáveis. Contudo, colocar este produto como o único meio possível de solucionar a problemática, pode se tornar um transtorno ainda maior no futuro. Visto que os itens de higiene menstrual estão ligados à degradação do meio ambiente, explorar alternativas e possibilidades é essencial para encaminhar resoluções de impacto positivo a longo prazo.
Para começar, é preciso entender os componentes que estão envolvidos na fabricação deste produto: árvores e petróleo são as duas matérias-primas principais. De forma que a primeira é a origem da celulose e a segunda, é processada e vira diversos tipos de plásticos, por exemplo poli etileno e propileno. Todos estes são elementos usados na composição do absorvente.
Entretanto, existem três problemas que decorrem da utilização desses dois itens. São eles: geração de resíduos, gasto elevado de energia e fiscalização da origem da matéria-prima, nesse caso a madeira. A National Geographic, em novembro de 2020, publicou uma matéria abordando esse tema. Na reportagem é afirmado que os absorventes descartáveis possuem três tipos de plástico diferentes na constituição. Ainda falando desse material, vale lembrar que os absorventes são envoltos em uma espécie de capa protetora e posteriormente, colocados em outra embalagem. Tanto a capa quanto o pacote são feitos de plástico.
Em São Paulo, na Escola Politécnica da USP, foi realizada uma pesquisa sobre o ciclo de vida dos absorventes externos. Foi avaliada toda a cadeia produtiva, desde a produção, passando por logística e transporte, até o descarte. Os pesquisadores concluíram que a pegada de gás carbônico deixada por um absorvente durante seu ciclo de vida é equivalente a 9,6 kg/ano. Prosseguindo com os dados do estudo, os pesquisadores ressaltaram que o algodão é um componente importante desse produto, isto leva ao problema do consumo de água na produção. Estima-se que cada quilo de algodão precise de 20.000 litros de água para ser utilizado como matéria prima.
O Instituto Akatu, que trabalha na área do consumo consciente, fez uma estimativa e afirmou que uma pessoa pode, durante a sua vida, produzir cerca de 200 kg de lixo somente consumindo absorventes descartáveis. Em um raciocínio simples, pensando que a maioria dos componentes do absorvente são plásticos e estes demoram mais de 400 anos para se decompor, cada pessoa pode ser co-responsável pela degradação do ambiente por 4 séculos.
Outro fator importante na etapa do descarte é o destino dos absorventes. A maioria deles é destinada a lixões e aterros sanitários. Nos dois lugares, os produtos passam anos até se decompor e podem acabar contaminando o solo, uma vez que estes contém elementos químicos na composição. Além disso, esses aditivos são prejudiciais para a saúde daqueles que lidam com esse lixo descartado. Vale lembrar que existe um grande número de absorventes que são descartados no vaso sanitário, atitude que contribui para a degradação dos oceanos e ecossistemas.
Como tentativa de resolução, algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas e até mesmo a reciclagem desses materiais já começou a ser desenvolvida. No Reino Unido, a empresa “Knowaste” criou uma espécie de usina para reciclar esse lixo higiênico, transformando-o em madeiras ou telhas plásticas. A corporação calcula que nesse processo, 36 mil toneladas de carbono já deixaram de ser emitidas no meio ambiente.
Aqui no Brasil, são duas as opções mais comuns. O coletor menstrual e a calcinha absorvente. O primeiro, é mais antigo e comum, já que é prático e possui um interessante custo-benefício. Ele é lavável e pode ser usado por cerca de 10 horas. Uma das empresas que comercializa coletores, em território nacional, é a Fleurity e em seu site, eles garantem que quando bem cuidado, o produto dura 3 anos. Sobre valores, um coletor custa em média R$60 reais, o preço pode variar entre as marcas e modelos.
A estudante de publicidade, Amanda Ardigó, 20 anos, relatou a sua experiência como utilizadora do produto. “[Minha experiência] foi ótima, sem falar no conforto. É muito melhor do que o absorvente, mais higiênico e você pode ficar mais tempo sem se preocupar com odor.” Quando questionada sobre a motivação da mudança de hábitos, a publicitária afirmou que “Com certeza foi o meio ambiente. Na realidade, foi a melhor opção tanto a longo prazo, na questão sustentável, quanto para o meu bolso.”
A Fleurity também vende calcinhas absorventes, contudo a empresa que lidera esse cenário é a Pantys. Marca brasileira e fundada por mulheres, a empresa trabalha com diversos modelos da peça íntima. Com opções para todos os gostos (e fluxos), a popularidade das calcinhas absorventes da pantys vêm crescendo. “O problema de acúmulo de lixo é um dos maiores que enfrentamos hoje e Pantys nasceu pensando na raiz desse problema, em reduzir o lixo dos absorventes descartáveis [...] e agora nos preocupamos também com o “depois”, afinal, não existe jogar nada fora, tudo se transforma em alguma coisa.”
As peças são laváveis, reutilizáveis e prometem ciclos tranquilos e sem vazamentos. Em questão de valores, cada uma custa em média 80 reais. Vale lembrar que os dois produtos são testados, certificados e se utilizados da maneira correta, não apresentam risco nenhum à saúde.
No dia 16 de abril comemoramos o “Dia Mundial da Voz”, dia destacado para reforçar e conscientizar a população sobre a importância da voz, e divulgar informações sobre doenças que possam impactar a fala, auxiliando assim as pessoas a identificarem possíveis sintomas e obterem um diagnóstico precoce.
Diversas profissões têm a voz como ferramenta principal de trabalho, entre elas temos cantores, radialistas, jornalistas, vendedores, fonoaudiólogos, professores, e tantos outros. Apesar de vital, muitas vezes a voz não é cuidada da forma correta, sendo levada ao desgaste o que prejudica as cordas vocais. A professora, Tânia Neves, 55, conta que durante as aulas presenciais os desgastes na voz eram frequentes. “Antes da pandemia trabalhava em período integral numa escola infantil, então o expediente se estendia das 7 horas da manhã até as 5 horas da tarde. Fazia algumas pausas no dia, mas na maioria do tempo estava falando o que gerava muito cansaço vocal. Houve semanas que mesmo com gargarejo, pastilhas e chá de gengibre acabei passando todos os dias rouca” diz Neves.
A professora fala também sobre como tem sido a rotina na pandemia, “Estou dando aulas remotas agora, e para não gerar desgaste nem nas crianças e nem nos pais que acompanham seus filhos nas aulas, reduzimos o tempo de aulas para 3 horas diárias. Em questão da voz isso ajudou muito, já que não passo mais o dia inteiro falando”, conta a professora. É recomendado que professores realizem aquecimentos vocais antes de longos períodos falando, mantenham-se hidratados bebendo cerca de 2 litros de água por dia e não façam refeições pesadas antes das aulas
O Consenso Nacional sobre Voz Profissional informa que cerca de 2% dos professores em atividade já foram afastados por licença médica ou restrição de função por problemas atribuídos a voz. Tânia conta como ‘driblou’ as consequências de horas falando e conseguiu amenizar o dano nas cordas vocais quando dava aulas presenciais, “Depois de alguns dias com dores de garganta passei no médico que me indicou repouso absoluto da voz e aconselhou que adquirisse um autofalante portátil para dar as aulas. Ao retornar as aulas com o autofalante foi um alívio, não precisava mais falar tão alto porque a caixinha de som tinha regulagem de volume e foi uma ‘sensação’ com as crianças, todas ficaram curiosas com o fato da professora dar aulas de microfone agora”.
Em entrevista com a fonoaudióloga Laura Leite, são apresentamos pontos fundamentais de sua profissão e a importância para diversos setores da sociedade, principalmente na comunicação "O Fonoaudiólogo é um profissional da área da comunicação e da saúde, nós nos preocupamos em como melhorar e tratar a voz de nossos pacientes, sem deixar de lado a importância de como ela deve soar! Trabalhamos em diversas áreas e setores da sociedade, e temos um trabalho crucial na hora de ajudar grandes comunicadores no país a transmitir de maneira limpa e clara a mensagem que o maior número de pessoas compreenda".
"Esse tipo de terapia consiste em construir uma nova identidade para a voz da pessoa, através de exercícios vocais e de respiração principalmente, podemos melhorar não apenas a voz em si da pessoa, mas outros problemas como a língua presa, que é extremamente comum no mundo todo, além da respiração em si, que é obviamente crucial a todos nós", conta a Laura sobre a terapia fonoaudiológica.
A fonoaudióloga informa também como é tratar problemas vocais, tal como a gagueira, "Em alguns casos, a cura completa principalmente da gagueira não ocorre, a pessoa pode infelizmente continuar com alguns pequenos "deslizes", mas através de um tratamento que pode levar um bom tempo, o resultado pode sair melhor que o esperado e melhorar muito a comunicação.
O "fanho" e o "gago" ambos passam por um problema latente no mundo todo que é a questão do bullying, principalmente na infância, isso pode causar marcas e problemas psicológicos e sociais que vão muito além da questão da voz, por isso temos uma grande responsabilidade, quando recebemos um paciente que sofre de algum distúrbio, em não apenas melhorar sua comunicação da melhor forma possível, mas integra-lo de uma maneira bem melhor na sociedade."
No universo artístico, o uso da voz, principalmente entre atores e cantores, é uma ferramenta crucial para o trabalho.
O uso intensivo da voz pode fazer o ator perder uma peça importante e o cantor perder um grande show por exemplo, portanto, os cuidados que ambos devem ter com sua principalmente com suas cordas vocais.
Entrevistamos Tania Maria Barbosa, 50 anos, Tania durante grande parte de sua adolescência e infância cantou tanto em corais da escola quanto em corais de igreja, chegando até a fazer parte de competições de canto com seu colégio na época.
Tania disse que sempre tentou cuidar o máximo possível da voz, evitando de tomar e comer alimentos com temperaturas muito frias ou muito quentes, como sorvete e café respectivamente. Ela relatou ainda que devemos entender a voz como um músculo, e o canto se baseia nas várias formas que esse músculo se movimenta dentro da sua garganta, aliado as cordas vocais, que são a parte mais importante quando se trata da voz e do som que você quer emanar.
O quanto você ouve segundo ela, também é uma parte crucial para não desgastar suas cordas vocais.
“Estar em lugares com muito barulho, faz você desgastar sua voz ainda mais, pois aumentamos o volume da nossa fala, portanto ao aumentar esse tom, aumenta a força com que as cordas vocais tem de se mover e o choque entre elas, assim elas (as cordas vocais) ficam inchadas, gerando a rouquidão”.
Tania acredita que exercícios vocais deveriam ser incentivados para todos, não apenas para aqueles que trabalham com a voz diuturnamente: “Todas as pessoas deveriam saber preservar suas cordas vocais o melhor possível, pois é algo que vai te acompanhar por toda a vida”.
Por Silvana Luz e Suzana Rufino
Nessa pandemia, muitas empresas demitiram seus funcionários por não terem condições de pagá- los e arcar com as despesas. Porém, há aquelas que não só aumentaram a demanda de serviço como contrataram mais colaboradores, isto é, estão lucrando em meio a pandemia da covid-19, e são eles, os chamados calls centers. Segundo a Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing) as empresas de prestações de serviços empregam mais de 1,5 milhões de jovens e adultos com idade entre 18 e 29 anos. Nota-se que essa forma de trabalho é uma das mais rentáveis no momento, porém quem ganha não são os operadores, mas sim as empresas terceirizadas.
A média salarial é sempre de um salário mínimo com alguns benefícios, o horário de trabalho são de 6:20, 6x1 e as áreas são variadas como: ativo, receptivo/sac, híbrida, cobrança, retenção, chat e email. E agora, com essa nova fase da sociedade, essas empresas adaptaram seus serviços de uma forma remota, isto é, migraram seus operadores para trabalharem em casa, disponibilizando máquinas com o sistema já instalado, suporte via Whatsapp, tudo para o colaborador atender de uma maneira mais cômoda e eficaz possível. Vendo acima, até parece um emprego tranquilo e com várias atuações, mas não, pois todos os dias os colaboradores sofrem as pressões absurdas, por que há metas a serem cumpridas em determinado tempo, e muitas vezes, além das cobranças, o assédio moral e até sexual surgem para piorar o contexto. A forma tranquila de se trabalhar com esse ramo nunca haverá, e mesmo com a continuidade de contratações, os operadores continuarão com as mesmas pressões e aumento de serviços.
Essa área é comum entre jovens e adultos na maioria universitários ou já formados, que ao não conseguirem um estágio ou emprego, optam por serem Agentes de atendimento, pois é o que tem naquele momento e a única forma de pagarem as contas e sustentar a família. Parece que não há escapatória, e o mais engraçado são que muitos, mesmo depois de formados, continuam os estudos para terem mais chances de conseguir um emprego melhor, mas percebe-se que a crise só piora, o emprego ideal não aparece e o telemarketing é a única opção de sobrevivência. Outra questão pertinente é ao perguntar aos colaboradores quanto tempo de call center, a resposta as vezes assusta, isto é, a maioria responde que já tem anos como operador, passando por várias empresas e sem chance de subir de cargo.
O dia a dia deles são sempre a mesma coisa, afirma a jornalista Renata Mendonça da BBC News Brasil “do outro lado da linha, estão clientes irritados pelos problemas causados por uma empresa da qual muitas vezes você não é funcionário e sobre a qual não tem qualquer responsabilidade. No entanto, naquela ligação, é você quem personifica todos os erros e os defeitos dela e, por causa disso, acaba sendo o alvo da ira de todos aqueles consumidores insatisfeitos. Os xingamentos vão desde "burro", "incompetente" e "ignorante" a até "você não presta para nada, por isso nunca vai deixar de ser operador de telemarketing". Desligar o telefone não é uma opção, então a única alternativa é escutar os insultos calados. E não dá tempo de respirar. Enquanto você tenta esquecer as ofensas que acabou de ouvir, o telefone toca de novo, e é preciso disfarçar rapidamente e dizer com a voz simpática: "Bom dia, senhor, em que posso ajudar?”.
Dito acima, esse é o cotidiano de vários trabalhadores que atuam nessa área, recebendo todas as reclamações dos consumidores das empresas filiadas, e também ligando para possíveis clientes para oferecerem serviços impertinentes. Segundo Mendonça “O profissional dessa área é frequentemente tachado de "chato" e "odiado" pelas pessoas. Mas, se a realidade é difícil para quem precisa de seus serviços, pode ser ainda pior para quem vive na pele essa rotina. A média de ligações diárias costuma ultrapassar as centenas (cerca de 300 nas 6 horas que trabalham conectados) – enquanto a média salarial dificilmente ultrapassa um salário mínimo, com algumas remunerações variáveis a depender das metas a serem batidas”. Apesar do trabalho agora ser em home office, a rotina repetitiva continua a mesma ou até pior com a alta demanda de serviço. E claro, com isso vem o estresse, as dores por todo corpo, a ansiedade e a depressão. Geralmente, a saúde mental pior de uma tal forma que levam muitos atendentes a não se fixarem no emprego e terem que se consultar todo mês com o psiquiatra e psicólogo. E também, há aqueles que antes, já possuíam algum distúrbio, e no decorrer da pressão do call center, pioraram e tiveram que se afastar.
Diante desse cenário, o número de doenças diagnosticadas em pessoas que exercem essa função é crescente. “Somente na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel), existem aproximadamente 100 mil profissionais nesse segmento. Dados do sindicato relacionados a doenças do trabalho apontam que 36% sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30% de transtornos psíquicos e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz”, relata a Mendonça.
De acordo com psicólogos sociais, depressão, transtorno de ansiedade e síndrome do pânico são algumas doenças/distúrbios psíquicos desenvolvidos ou piorados por operadores de telemarketing.
É como afirma Letícia Costa de 25 anos, que tinha o dia a dia estressante quando trabalhava na área.“Para mim era uma tortura, só de pensar já fico agoniada. Infelizmente a maioria de meus empregos foram em telemarketing, e pior, por voz. Em meu penúltimo, que também foi em call center, era uma escravidão, fazia várias funções ao mesmo tempo como: cobrança, ativo/vendas, receptivo/sac, suporte técnico, chat e email, enfim, sofria com crises de ansiedade direto. Fiquei por 2 anos, difícil de acreditar, mas não conseguia outro emprego. Na verdade esse foi o meu limite, mas lamentavelmente durou pouco, pois por não conseguir nada em minha área que é em Letras, resolvi me sujeitar ao telemarketing novamente. Já sabia como seria, então não criei expectativas de mudanças nesse ramo, porém como só faria uma função, pensei que seria menos pior, mas não, foi muito ruim. Levantava todos os dias com um aperto no peito, boca seca, ansiosa e desanimada. Segurei por quatro meses, depois disso comecei a ter várias crises em seguida, desmaiava nos transportes públicos, quando tentava ir não conseguia entrar na operação, por que já lembrava dos xingamentos dos clientes, cobranças da supervisora, gritaria no ambiente, falta de ajuda, tudo me apavorava. Sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada há três anos, desde lá tomei diversos remédios, me consultei com psiquiatras, só não pude fazer psicoterapia por falta de tempo e dinheiro. Pedi muitas vezes para minha supervisora me mandar embora, mas era em vão. Empresas como esta não mandam, não se preocupa com o operador, só quer lucrar. Em março, comecei a trabalhar em home office, pensei que diminuiria a cobrança e as ligações, mas não, piorou.
"As ligações era todo momento, cobrança a toda hora, metas dobradas, por que na concepção deles, estar em casa é cômodo e dá para produzir mais. Me senti um gado, todos os dias levantava com vontade de desistir, porém as contas não perdoavam, tinha que continuar. Chorava todos os dias, rezava para acabar logo, e mesmo em casa, minhas crises não pararam. Por entregar vários atestados em menos de 60 dias, o RH em julho me afastou pelo INSS, ficando 30 dias sem trabalhar. Estava mal, não era só o psicológico, mas meu corpo começava a doer, tudo doía. Em agosto tentei voltar, mas não consegui e me afastaram novamente, dessa vez foi definitivo. Nesse meio tempo, me consultei com um psiquiatra e ele constatou que eu estava com depressão e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, pois mal conseguia dormir e me concentrar nas atividades. De outubro do ano passado a fevereiro desse ano, o médico mudou meus remédio três vezes e com dosagem máxima. O trabalho, desde agosto estava afastada, recebendo praticamente nada do INSS, me virando de todo jeito para não faltar o sustento de casa, e em maio, pedi as contas. Hoje, o único trabalho que não enfrento é de telemarketing, por que a humilhação, a pressão, a cobrança, os xingamentos que sofri, não desejo para ninguém. Não estou 100%, ainda não consegui fazer psicoterapia, mas só de não estar atendendo, já é um alívio”.
Karen do Carmo, 23 anos, estudante de Fisioterapia, conta como foram suas experiências torturantes em call centers. “Trabalhei em cinco empresas de telemarketing, com salários baixos e humilhações. Todos os dias eu ensaiava para pedir as contas, porém por ter aluguel para pagar, sustentar a casa, pagar a faculdade e me manter, tive que suportar o assédio moral. Por não dar um basta, desenvolvi ansiedade e consequentemente sofri várias crises. Então, tudo virou uma bola de neve, com dívidas acumuladas, assédio dos supervisores, clientes raivosos, meus problemas se juntaram com os dos clientes e supervisores, imagine como estava a minha mente? Um caos!. Houve uma situação, que o supervisor bateu em minha P.A e gritou comigo na frente da operação inteira. Tentei fazer processo para subir de cargo, mas ele não me deixou mudar de setor, pois muitos supervisores tem a sua “panelinha” e essa era uma chance única para eu ganhar um pouco a mais, porém não fui ajudada, o supervisor me odiava. Daí, minhas crises de ansiedade foram aumentando e nessas cinco empresas de call center tive que pedir as contas. De tanta crises comecei a passar em psiquiatras, o primeiro me diagnosticou com Síndrome do Pânico. No decorrer dessas companhias, houve momentos que eu não aguentava com tanta ansiedade e pedia para ir embora. Quando eu entrava no transporte público, não conseguia descer no ponto ou na estação, pois eu ficava paralisada, me dava crises de pânico só de pensar que estava chegando na empresa. E o mais frustrante é que a maioria das saídas ocorreram em 2019. No ano de 2020, fiquei desemprega por várias meses para me tratar, mesmo assim enviava currículo para as empresas, mas o salário sempre era o mínimo, e hoje em São Paulo, é impossível sobreviver com um salário quando se tem família para sustentar. Enfim, desejo que as empresas de telemarketing um dia sejam humanizadas, pois se seguirem assim, coitados dos operadores”.
Stéphanie Freitas, 21 anos, formada em radiologia, fala sobre sua rotina estressante em call center e o dilema em lhe dar com a ansiedade. “Já trabalhei de tudo um pouco, menos em call center, mas em outubro de 2019, apareceu uma vaga para trabalhar com SAC 6x1. As pessoas me falavam como era ruim trabalhar em empresas de prestações de serviços, pois os funcionários, além de não serem valorizados, não ganhavam muito bem. Hoje, percebo que o call center só serve como um quebra galho, por que fazer carreira ali, é quase impossível. Pensava que sairia logo, mas ainda continuo. Já faz um tempo que não atendo, pois me colocaram para auxiliar os atendentes, enfim, está mais tranquilo para mim, porém para os operadores aumentaram a demanda de atendimento e serviços, notei isso pelo número de pedidos de auxílio. Referente a distúrbio, sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada, mas hoje me controlo mais que antigamente, pois no começo, cheguei a passar mal e ser afastada por quase duas semanas”. Sofrer disso é ruim demais, por que atrapalha a sua vida, não dá para se concentrar nas tarefas e no trabalho. Infelizmente conheço vários que sofrem disso, inclusive no trabalho, sendo que algumas dessas pessoas se afastaram devido a piora no quadro. Agora com a pandemia, creio que as crises de ansiedades nas pessoas aumentaram, inclusive aqueles que trabalham em call center pois a demanda de trabalho cresceu e muitas as vezes não temo suporte adequado para ajudá-los. Para quem precisa de uma renda urgente e não encontra emprego em sua área, as prestadoras de serviços são as únicas portas imediatas, foi para mim e é para vários formados ou cursando faculdade. Nesse ramo é impossível não contrair algum distúrbio/doença ou piorá-lo, há raridades que conseguem não adquirir, porém é um parte muito pequena. Seria ótimo se todos formados e os que estão cursando arrumassem um emprego em sua área, assim o mercado seria configurado pela paixão ao trabalho, não apenas por obrigação”.
O doutor em Psicologia Social e professor associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social (PSO) e na graduação do curso de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Odair Furtado diz que nesse ramo não há uma forma de manter o equilíbrio mental. “Para falar a verdade, não existe saída, os trabalhadores sofrem. Alguns conseguem aguentar a pressão da empresa, sem afetar muito o psicológico, outras não conseguem e pedem para sair. Muitas pessoas não conseguem arrumar um emprego em sua especialidade, por conta da crise, optam trabalhar em uma empresa que foge de sua profissão, são alternativas para pagarem as contas e sobreviver. Esses indivíduos criam certa resistência e por mais tenso que seja, conseguem driblar as pressões diárias do trabalho. Infelizmente, hoje há uma epidemia de pessoas com depressão, principalmente as que prestam serviços, como o telemarketing. Essa epidemia foi constada quando os indivíduos pedem afastamento do trabalho para se tratarem. A LER (Lesão por esforço repetitivo), se sobressaí, pois os traumas não são só psicológicos, mas também físicos como: perda da audição, tendinite por digitar demais, dores por todo o corpo etc. Tempos atrás saiu uma matéria referente às pessoas graduadas que não conseguiram arrumar emprego em sua especialidade, por isso opta por empregos alternativos, um deles é o telemarketing. Esse ramo é um destruidor de saúde mental e as histórias são horrorosas. Outro aspecto, é o assedio moral, fator que prejudica ainda mais o psicológico do individuo. Infelizmente o assedio moral e sexual é uma política comum em muitos ambientes de trabalho, geralmente as pessoas que sofrem com isso estão em uma situação vulnerável, isto é, se reclamarem vão para o olho da rua, e por ter família para sustentar, suportam”.
“Com o país em crise, o medo de perder o emprego é tão grande que a pessoa se submete a situações conflituosas no trabalho. Por já haver ficado sem trabalho há algum tempo, e por ter sido complicado arrumar o atual, o trabalhar assediado não tem escolha, suportar os insultos calado, pois tem receio de ser dispensado. Esse ato é um “crime” sistemático em algumas empresas. Há uma síndrome que se chama burnout e que é típico dessa situação. Por conta do cotidiano desgastante e assedio moral/sexual no trabalho, individuo começa a ficar deprimido, desmotivado, não crer mais em si, não tem força para combater o abuso, enfim, seu psicofísico reage retroativamente. Quando chegam ao estado acima, muitos ou descontam nas pessoas ou ficam paralisados, afetando todos os sentidos da vida, e quando acha que não tem jeito de sair dessa situação, se suicidam. Esse tipo de trabalho é total desgastante, tudo é controlado e a produção não pode parar, esse é um dos piores empregos que existem, só perdem para os trabalhos escravos. Uns se apropriam e consegue subir de cargo, outros só ficam por que não há alternativa,então, aguentam até não puderem mais, pois já estão destruídos fisicamente e psicologicamente. Quando se entra nesse ramo, não há tratamento psicológico que ajude. Não adianta se consultar com psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras que não vai adianta. O único jeito é sair o mais rápido possível trabalho. O Brasil em telemarketing só perde para a Índia e EUA, no quesito de acumulação de doenças mentais e físicas nos operadores. Infelizmente não há escapatória”.
Fizemos uma entrevista com integrantes do projeto Absorvidas, do Rio de Janeiro, que é uma organização sem fins lucrativos que visa erradicar a pobreza menstrual nos presídios do Rio de Janeiro, levando educação menstrual e absorventes de pano. No ano passado, o projeto Absorvidas fez uma campanha de arrecadação na internet para doar dois mil absorventes de pano e educação menstrual para uma penitenciária no Rio. Elas conseguiram arrecadar 30 mil reais em 17 dias. As respostas são da Victoria Escalcon, diretora de mídias sociais do projeto.
AGEMT - Como surgiu o projeto Absorvidas?
Absorvidas - O projeto surgiu a partir da Giullia Jaques, que é diretora executiva e uma das oito integrantes do projeto. Ela conta que teve essa ideia do Absorvidas por causa de uma palestra de uma ONG chamada X-runner, que fornece vasos sanitários, e ela falou que ficou muito mexida com uma fala deles. “O que você faz quando abre os olhos de manhã?”, eles perguntaram, e aí vieram as respostas como “vou ao banheiro”, “mexo no celular”, “me espreguiço” etc. E então eles perguntam “o que você faria se não tivesse um banheiro?” e foi aí que ela ficou comovida. A partir daí, a Giullia começou a refletir e então surgiu o questionamento: quem não tem acesso ao absorvente e como é que essas pessoas vivem?
Depois disso, houve bastante pesquisa, também através de livros como Prisioneiras, do Dráuzio Varella e Presos que Menstruam, da Nana Queiroz. E então o projeto surgiu em 2019. O Absorvidas é mais que um projeto para levar absorventes, primeiro porque nós temos uma pauta mais voltada a absorventes biodegradáveis, pensando nessa questão da ecologia e segundo porque a nossa meta a longo prazo é a ressocialização das presas, porque muitas delas, quando saem da cadeia, não conseguem empregos e ficam muito vulneráveis, e acabam voltando para a cadeia. Então, o Absorvidas faz com que as próprias presas aprendam a fazer os bioabsorventes, de pano, para vender. É muito mais do que oferecer auxílio, é oferecer também perspectiva dentro de um sistema em que as mulheres são marginalizadas e esquecidas.
AGEMT - Por que vocês decidiram estabelecer a meta de 30.000 reais na arrecadação?
A - Os 30 mil reais foi um valor pensado pelo custo da logística como, por exemplo, o frete, os bioabsorventes, embalagens etc. Foi tudo pensado direcionado para um presídio específico, para mulheres específicas.
AGEMT - Você acha importante que a questão da pobreza menstrual seja ensinada para crianças (pré-adolescentes no início da vida menstrual)?
A - Sim, com certeza. Eu acredito que a pobreza menstrual tem que ser falada, ensinada, porque é só com discussão que podemos pensar em projetos. Sejam projetos governamentais ou um projeto como o nosso, que são apenas jovens tentando fazer a sua parte. Então eu acho muito importante e, quando penso nessa questão do ensino, acredito que não só falar sobre pobreza menstrual, mas também sobre educação menstrual. E não só isso, falar também de educação sexual. É chocante como não falamos com naturalidade sobre a nossa menstruação e estamos sempre coagidas com tudo. Isso é muito triste, porque é só a partir do diálogo que realmente haverá alguma mudança e não só o diálogo entre quem menstrua, mas entre os que não menstruam também.
AGEMT - Como a pobreza menstrual pode afetar também a questão econômica? (porque, por exemplo, muitas mulheres, quando estão menstruadas, não vão ao trabalho/aula por falta de absorvente)
A - Como vocês falaram, muitas mulheres que estão menstruadas muitas vezes não conseguem ir para o trabalho ou para a escola e também tem a questão da dor, da cólica, da TPM, que muitas vezes é desprezada. Lembro que eu gastava mais de 50 reais para comprar dois pacotes grandes [de absorventes descartáveis] e que às vezes não duravam nem dois ciclos inteiros porque meu fluxo é muito grande. E o que são 50 reais para uma família com várias pessoas que menstruam? A gente vive em um país que tem um monte de gente passando fome, como vamos pensar em métodos de menstruação com gente passando fome? Isso é bizarro, porque as pessoas ainda acham que higiene menstrual é um luxo, mas na verdade é só higiene básica. É muito triste.
AGEMT - Qual a importância do projeto de lei da 428/2020, da Tabata Amaral?
A - Eu acho bizarro como só em 2020 essa pauta foi levantada com mais força. Isso chega a ser ridículo, porque nós não começamos a menstruar agora. Preservativos sempre tiveram né [sempre foram disponibilizados pelo governo], e é muito importante continuar tendo mesmo, mas não ter sido implementado nada sobre absorventes antes é bizarro. Isso mostra a vulnerabilidade que mulheres e pessoas que menstruam, de modo geral, sofrem.
AGEMT - Além do projeto de lei da 428/2020, da Tabata Amaral, existe algum outro movimento do governo para combater a falta de acesso a absorventes higiênicos?
A - Existiu um outro projeto da Luciana Genro, do PSOL, no Rio Grande do Sul, para que absorventes fossem colocados em cesta básica, e acho que no Rio e no Mato Grosso também. Mas, no Congresso, essa discussão nunca teve tanta força, acredito que esteja começando a ter nesse momento com a internet e os debates que são levantados lá.
Leia mais sobre pobreza menstrual aqui.
O Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, anunciou que planeja suspender a obrigatoriedade do uso de máscara, conforme recomendação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Um informativo oficial afirma que a expectativa é de que isso aconteça no dia 15 de junho. A medida vale só para as pessoas que já tomaram as duas doses da vacina contra a Covid-19.
Com quase 40 milhões de habitantes, segundo o Departamento do Senso dos Estados Unidos, 37.826.298 doses de imunizantes contra a Covid-19 já foram aplicadas no estado, de acordo com o governo, ou seja, mais da metade da população já está vacinada. Enquanto isso, cresce a esperança para o fim das restrições e a volta à vida normal.
Para a jovem brasileira Maria Holtz, de 22 anos, que trabalha como au par (programa de intercâmbio de inglês onde se trabalha como babá de crianças na casa que reside), no Vale do Silício, na Califórnia, o novo momento é sinal do cumprimento de medidas de prevenção seguidas pelos moradores da região. “Eu fiquei bem feliz ao saber que o uso da máscara não será mais obrigatório. Aqui, as pessoas seguem, desde março de 2020, com o uso de máscara, de álcool em gel, e distanciamento social. Lembro de um dia que eu estava no supermercado e eu cheguei mais perto de uma pessoa e ela ficou brava comigo.
Os restaurantes ficaram fechados todo esse tempo e voltaram a abrir no final de dezembro do ano passado”, afirma Holtz. Mesmo com a pouca idade, Maria já conseguiu tomar as duas doses da vacina contra a Covid-19, o que não seria possível no Brasil por conta do atraso da imunização no país. Ela conta que a situação brasileira em relação à pandemia repercute negativamente sempre que há pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. “Quando o Bolsonaro fala alguma coisa, as pessoas não gostam, até porque a Califórnia é muito focada no Joe Biden, que é totalmente oposto ao presidente brasileiro”, ressalta.
De acordo com dados do Governo da Califórnia, 62.092 pessoas já morreram em decorrência da Covid-19 no estado, desde o início da pandemia. Investindo em ciência, os Estados Unidos vacinam com os imunizantes da Pfizer/BioNTech, Moderna e Janssen (Johnson & Johnson). Para a jovem Maria Holtz, uma única certeza: “a vacina salva”. “É preciso um pouco de estudo sobre o cenário atual, um pouco de respeito, porque aqui também não foi fácil. O comércio também fechou. O recado é: tome vacina, porque ela, realmente, protege do vírus”, finaliza Holtz.