Em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19, Ana Oliveira, de 23 anos, trabalhava em quatro escolas infantis. Com o fechamento de todas, perdeu seus empregos e buscou alternativas para manter sua renda. A única opção que surgiu foi praticamente se mudar para casa de uma prima - com medo de pegar o transporte público e se infectar - e cuidar de seus filhos de 5 meses e 7 anos. Essa reviravolta na sua vida gerou um avanço de exaustão e falta de tempo durante o isolamento. "Quando aceitei ser babá estava tudo indo bem, mas no decorrer dos meses, duas escolas pediram para eu retornar. Como precisava de dinheiro extra, aceitei. De segunda a sexta fico na casa das crianças, me restando apenas o fim de semana para preparar e gravar as quatro aulas de inglês. Com tanta coisa acontecendo deixei de ter um tempo só meu e quando tenho pausas acabo limpando meu quarto", afirma.
Relatos como o da professora de artes ficaram comuns durante a pandemia. O aumento de jornadas exaustivas, imposição de metas abusivas e medo de ficar desempregado, agravaram os transtornos mentais e são eles uma das principais causas de afastamento do trabalho no Brasil. Segundo a Previdência Social de 2017, os transtornos ansiosos estão na 15º posição de doenças que mais geram afastamento do trabalho no país, e resultam em 28,9 mil casos. Em 2018, o INSS concedeu 8.015 licenças para o tratamento de transtornos mentais adquiridos no ambiente de trabalho. No ano seguinte, uma empresa de recrutamento relatou que 44% dos colaboradores brasileiros já sofreram de Burnout (transtorno depressivo, gerado pelo esgotamento físico e mental).
Com a chegada da pandemia, a incerteza do que irá acontecer no dia seguinte preocupou a todos. O medo do contágio da Covid-19 pelos familiares, a angústia dos cortes nas empresas, em razão da crise econômica atual e o estresse para aqueles que o trabalho triplicou, são algumas das razões para o avanço dos transtornos mentais no último ano. As doenças mais comuns são: crise de ansiedade, ataques de pânico, síndrome de Burnout e depressão. Cerca de 54% das pessoas entrevistadas pela Área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, estão extremamente preocupadas com a situação atual, 47% sentem dificuldade para descansar e 23% não estão mais conseguindo dormir direito.
A engenheira mecânica Thayna Zattar, de 24 anos, foi uma entre milhares trabalhadores demitidos durante a pandemia. No início do isolamento, recebeu a notícia de que não poderia mais trabalhar na empresa, já que muitos clientes haviam cancelado projetos de sua área, resultando na impossibilidade de manter os funcionários. "Com a perda do emprego, eu percebi que tive um aumento na minha ansiedade, principalmente por conta do atual cenário onde várias pessoas também perderam seus empregos. Não está sendo fácil dormir e relaxar", afirma. Já Thayna acredita, que a consequência disso é uma concorrência maior no mercado de trabalho, gerando uma disputa acirrada.
As empresas estão cada vez mais exigentes para contratar, mesmo que seja para uma vaga no nível Júnior. A jovem comenta sobre os pré-requisitos da vaga que exigem atuação na área de 2 a 3 anos e conhecimentos específicos avançados. Não sendo em vão que a cada ano, surgem 160 milhões de novos casos de doenças relacionadas ao trabalho, conforme a Previdência Social de 2017. Outro dado da pesquisa do Grupo Abril mostra que 76% das pessoas se preocupam com a superlotação dos hospitais. É o caso de Natália Barbosa, advogada de 25 anos, que continuou trabalhando presencial, já que sua empresa não aderiu ao isolamento social. Ela pegou Covid-19 e transmitiu para os pais, já em idade avançada.
"Nesse período, senti novos sintomas, como síndrome do pânico, junto com as crises de ansiedade e episódios depressivos que eu já tinha anteriormente", afirma. Hoje, já curada do vírus e com os pais bem, continua trabalhando presencial e se cuidando com um psicólogo.
De acordo com o Jornal do Campus, na semana de 29 de março a 4 de abril de 2020, as pesquisas no Google por atendimento psicológico chegaram a 88% e para o serviço online avançou para 41%. Segundo uma apuração da Isma-BR e da consultoria Betânia Tanure Associados, no Brasil, 75% da população tem alguma sequela de estresse e 30% destes sofrem de burnout. Esse desgaste físico e psíquico afeta diretamente a lucratividade das empresas. Quem sofre de burnout trabalha, em média, 5 horas a menos. 2020 e 2021 certamente serão lembrados como os anos mais estressantes, cansativos e tristes da história.
Esse cenário trouxe uma nova realidade para a área de recursos humanos, mudando a maneira como as equipes interagem e trabalham. Esgotado física e mentalmente, a produtividade de um profissional diminui consideravelmente. A situação se torna um lembrete para as empresas, pois antes de qualquer meta de trabalho, existem seres humanos que precisam de cuidados, compreensão e atenção.
Para evitar ao máximo o avanço dos transtornos mentais durante a pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia chamado "Cuidados para saúde mental durante a pandemia", indicando para fazer pausas e descansar entre os turnos de trabalho ou até mesmo tirar um momento para relaxar dentro do expediente. Também não esquecer de prestar atenção na alimentação, já que passamos mais tempo em casa e não recusamos algumas bolachinhas, bolos ou pão.
Continuar se exercitando foi outra sugestão da OMS e manter sempre o contato com a família e amigos, da maneira que for possível. E é claro, evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas. Segundo o órgão, isso é uma ilusão passageira e a longo prazo, piora o bem-estar físico e mental. Para alcançar uma boa qualidade de vida e conseguir aproveitar os momentos felizes, a saúde mental é essencial. Porém, mantê-la exige atenção, esforço e cuidado diário. Apenas o fim da pandemia não será suficiente para melhorar o estado de ânimo daqueles que vêm sofrendo crises de pânico e ansiedade durante o isolamento.
Pensando nisso, ainda em 2020, a Pfizer, uma das empresas responsáveis pela realização de uma das vacinas em circulação, liberou um guia sobre saúde mental pós pandemia. Construído de forma colaborativa por 21 especialistas renomados no Brasil, o guia oferece um olhar sensível e sistêmico sobre o cuidado mútuo. Ele foi feito para servir como auxílio a profissionais da saúde que trabalham no atendimento diário de pessoas que tiveram suas vidas afetadas pela Covid-19. De tudo isso, é possível analisar uma coisa boa: as consequências da pandemia fez com que as pessoas começassem a valorizar mais com sua saúde mental. De acordo com uma pesquisa feita pela Mastercard, 62% dos brasileiros passaram a se preocupar mais com sua saúde mental, enquanto 58% acreditam que cuidar da saúde se tornou essencial.
A demanda de psicólogos e psiquiátricos nos serviços da Prefeitura de São Paulo aumentou consideravelmente durante o isolamento social. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria a procura aumentou 82% em consultórios particulares no Brasil. Com isso, o número de atendimentos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de SP passou de 24 mil em setembro de 2019 para 52 mil em outubro de 2020. Independente da forma, todos devem buscar meios de cuidar de sua saúde mental e psíquica para evitar danos cada vez mais graves. Procurando respeitar seus limites e dominar os pensamentos, as pessoas podem usar esse momento caótico como forma de fortalecer sua saúde e o autoconhecimento.
Por Beatriz Aguiar, Gabriella Lopes e Sara de Oliveira
O que é a voz? Segundo o Google é o “som ou conjunto dos sons produzidos pelas vibrações das pregas vocais sob pressão do ar que percorre a laringe”. Para nós, humanos, a voz se mistura com outro conceito: a de sentimento, definido como a capacidade de se comover. É exatamente assim que pessoas que usam a voz como instrumento de trabalho se sentem. Ao mesmo tempo que precisam pensar nelas como cordas vocais a serem cuidadas, também vêem nela um meio de trabalhar com aquilo que amam. Por outro lado, nem todos têm esta consciência e negligenciam os cuidados que deveriam ter para não se prejudicarem.
Clara Rocha
Aos 11 anos, Clara descobriu um cisto de prega vocal - região da laringe que nos permite emitir sons, ou seja, a voz. Estes cistos podem ser congênitos ou causados pelo abuso vocal. No caso de Clara, que ainda era novinha, foi um infortúnio passar por isso tão cedo. Logo as complicações viriam.
Na adolescência decidiu se juntar ao coral da igreja e consequentemente, passou a usar a voz com frequência. Dessa vez, o assunto era mais sério e a “roquidãozinha”, considerada fofa pelos amigos e familiares, causada pelo cisto, se tornou um problema. A saída era ir para a mesa de cirurgia e resolver de uma vez por todas a questão. Por mais assustadora que fosse, o resultado foi positivo. “Dava conta da demanda”, explica Clara.
E a “demanda” era alta. Clara cresceu e se tornou dubladora, fonoaudióloga e professora - uma das três profissões que mais utilizam a voz no dia a dia. Sua experiência com o cisto lhe trouxe consciência da importância em cuidar do seu instrumento de trabalho.
Sua rotina como profissional que canta, dubla, narra e atua, além de coach vocal e fonoaudióloga, envolve uma série de exercícios ao longo da semana. O resultado é uma voz, segundo ela, bem condicionada e pronta para o que der e vier. Narrações para comerciais de um minuto? Ela tira de letra sem precisar de aquecimento. Agora, para o uso da voz durante horas, como quando vai dar uma aula ou cantar, os aquecimentos lhe dão conforto e preparação.
Clara, é o verdadeiro exemplo da necessidade de cuidar da voz. Para alguém que saiu de cordas vocais prejudicadas por um cisto e para se tornar multi-funções, é uma grande vitória e exemplo para quem quer começar no ramo.
Um panorama geral
Clara ainda aproveita sua visão como profissional e conta o panorama geral da história de profissionais da voz no Brasil. Para ela, o erro mais comum cometido por profissionais da voz é procurar ajuda apenas quando adoecem. O cuidado da voz, explica, deve ser acima de tudo, preventivo. Entretanto, observa esperança nas novas gerações.
A profissional conta ter muitos alunos que buscam tratamento médico preventivo. A nova geração, segundo sua percepção, prefere prevenir a remediar. É comum ver alunos de teatro e dublagem consultarem otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos com frequência, ao contrário de uma geração mais antiga que tinha o costume de procurar o médico somente quando necessário.
Flávia Alves
Flávia ainda quando criança quebrou o estereótipo de que videogames eram só para os meninos. Apaixonada pelo mundo dos games, em 2011 decidiu empreender um blog para reunir informações de um dos maiores RPG’s online da história, “World Of Warcraft” (WoW). A princípio a ideia era criar um diário pessoal no qual pudesse acessar facilmente todas as informações que encontrasse de WoW, mas com o tempo, atraiu uma galera interessada no assunto. Graças ao sucesso em falar do game, - e com o tempo, de vários outros - percebeu que sua vocação era explicar para o mundo sobre aquilo que mais gostava: jogos eletrônicos.
Foi assim que Flávia se tornou comentarista de campeonatos de e-Sports. Assim como existe o Brasileirão, a Copa do Mundo e o Super Bowl, existem as competições de jogos digitais dos mais variados tipos. Ela trabalha há mais de dez anos na área e atualmente, está comentando o campeonato de “Fortnite”, da empresa Epic Games.
O antes e depois
Flávia conta que sua carreira cresceu junto com o setor. O e-Sports se popularizou no Brasil com o estouro do jogo “League of Legends” que atraiu para o campeonato em 2015, mais de 10.000 espectadores ao Allianz Park. Na mesma época, nasceu a necessidade de ter pessoas especializadas que pudessem narrar e comentar o que estivesse rolando na partida.
Nessa época, a comentarista explica que tudo ainda era muito novo. Antes da pandemia, as narrações aconteciam ao vivo em um estúdio parecido com de jornais televisivos. O investimento era intenso na estética, mas quase nada no conforto. Ela conta que não existia cuidados com a saúde dos narradores e comentaristas. “Quando narrei “”, fiquei doze horas ao vivo”, comenta. A voz, obviamente, ficava desgastada e como o contrato, normalmente, é por temporada e não-fixo, não havia investimento das empresas nos cuidados dos profissionais.
Conforme o mercado evoluiu, esses problemas também foram sendo discutidos. Hoje, ela conta que não pode narrar mais que quatro horas seguidas e que durante esse tempo tem direito a pausas, intercalando com outro comentarista. Mesmo assim, as empresas ainda dão pouco suporte a eles.
Flávia explica que esse cuidado está começando agora e bem devagar. A Epic Games está oferecendo um mês de tratamento com a fonoaudióloga para os narradores e comentaristas que estão trabalhando em seu campeonato. Ela vê isso de forma bastante positiva, pois não tem o hábito de fazer tratamento contínuo para cuidar da voz. “Não é algo que eu faço sempre, mas deveria. A voz é um instrumento de trabalho e é preciso fazer manutenção”.
(Profes)“Sora Fátima”
Fátima Nietto tem 58 anos e mais de 35 anos de magistério. Formada em Educação Artística e Desenho Geométrico, Fátima é professora de arte e música e por isso, leciona em três instituições diferentes, com alunos de diferentes idades: do fundamental, com crianças do segundo ano até o nono, até alunos do ensino médio.
A "sora Fátima”, como os alunos a chamam, ganha por aula e a sua semana são 49 aulas no total, mas já chegou a ter 63 aulas semanais. Fátima disse que mesmo aposentada numa instituição, ela nunca gostou de ficar em casa e das “tarefas de casa”, sempre gostou muito de trabalhar e prefere, por isso, ter tantas aulas e continuar trabalhando nesta idade, não a incomoda.
O instrumento de trabalho de um professor é a voz. A partir dela o professor consegue se comunicar e ensinar o aluno. Portanto obviamente precisa de cuidado, porque sem a voz não tem aula. Fátima acabou desenvolvendo um problema nas cordas vocais. Chegou a ficar sem voz alguma. Isto foi há dez anos atrás. Ela foi ao médico que passou remédios, mas foi necessário repouso total por alguns dias. Sem falar nada e nem forçar a voz.
Fátima vs água
Preocupada com a saúde da sua voz, Fátima foi até uma fonoaudiológica para entender melhor o que aconteceu e avaliar a saúde de suas cordas vocais. Este acompanhamento durou oito meses e o aprendizado vai para sempre. Mas, o maior problema da professora é que ela não tomava água. Essa foi a causa de todo o problema que ela tem até hoje. Fátima falava muito e não tomava água suficiente. Por conta disso, aprendeu a sempre andar com uma garrafinha com água.
"Aprendi alguns exercícios, alguns eu já sabia por conta do coral, então eu comecei a fazer assim, exercício de manhã antes de começar a trabalhar, entendeu? E também me ajudou bastante. Mas hoje, quem me ajuda muito, aqui, ó [mostra a garrafinha]. É uma terapia. Precisa da garrafinha, entendeu?”, disse rindo.
A paulista sempre gostou de cantar. Já cantou nos corais do bairro da Colônia, o italiano, coral livre estes em Jundiaí, cidade do interior de São Paulo na qual ela mora há mais de 23 anos, e outro na capital paulista. Mas há quatro anos parou e não foi por conta dos problemas na voz, mas por causa da falta de tempo daquelas 49 aulas que acabaram deixando-a sem tempo. Mas ela disse que sente falta, porque era algo que ela gostava muito.
Tanto os corais como a fono a ajudaram muito. Até os dias de hoje a professora precisa fazer aquecimento vocal: “quando a escola é mais longe é melhor porque dá mais tempo de aquecer quando estou no carro” e também acabou ficando com a voz rouca por conta do esforço e da falta da água.
Fonoaudióloga
Conversando com a fonoaudióloga e atriz Danyelle Sardinha, formada em audiologia no Centro Universitário de Várzea Grande/MT (UNIVAG), frisou que a água junto com os exercícios de aquecimento e desaquecimento de voz são fatores fundamentais para o bom cuidado com a voz. Em todos os casos citados, todos os personagens utilizam a voz como instrumento, e por isso, é muito importante cuidar.
Dnnyelle afirma que existem pessoas que têm mais acesso à informação e conseguem cuidar da voz, um dos principais clientes são professores. Enquanto isso, feirantes, por exemplo, são os que menos procuram. Além disso, ela pontuou que cada profissional faz o uso da voz de maneira diferente, seja na quantidade de horas que ele trabalha, o tom da voz e a dinâmica. Logo, o trabalho desenvolvido pela fonoaudióloga também é diferente, mas existem cuidados básicos como a hidratação e o aquecimento.
O aquecimento é um passo fundamental para qualquer indivíduo que vá falar, para os profissionais que usam a voz como objeto de trabalho é essencial. Logo, o aquecimento varia também, em média ela recomenda 15 minutos. Mas, a pessoa deve ir até ao fonoaudiólogo para saber que tipo de aquecimento e desaquecimento de voz é mais indicado para a pessoa e evitar lesões nas cordas vocais por fazer o processo errado.
No Brasil, o acesso ao sanemamento básico é decisivo para o período menstrual. Estudantes podem perder até 45 dias de aula por não terem acesso a nenhum item de higiene básica para esta fase, o que leva a improvisar com os métodos, utilizando: pedaço de pano, papelão, papel e até miolo de pão. Neste podcast vamos tratar sobre essa realidade que milhares de pessoas ainda sofrem:

No contexto da pandemia, mas abordando temas atemporais, Pedro Catta-Preta Martins e Luise Goulart buscam compreender a situação atual da área de saúde mental e seus desafios em meio ao isolamento social. Para tal, foram entrevistadas a psicóloga Any Carolina Ribeiro e a estudante Luana*, que lidou com quadros de síndrome do pânico e ansiedade durante o surto de Covid. As perspectivas das convidadas não se limitam a apenas explicar o presente momento, mas também discorrem sobre temas essenciais ao combate aos transtornos psicológicos em geral. Clique aqui para ouvir o podcast.
*Preservamos o sobrenome da entrevistada por questões de privacidade.
**Imagem: vectorjuice (freepik.com)
Combater a pobreza menstrual é um dos desafios da gestão de políticas públicas globais. No Brasil, uma em cada quatro mulheres não têm acesso a absorventes, de acordo com relatório divulgado pelo movimento Girl Up - uma iniciativa parceira das Nações Unidas (ONU).
Entretanto, em países como a Nova Zelândia e Escócia, a questão vem sendo endereçada com mais vigor. Em fevereiro de 2021, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que as escolas do país vão distribuir gratuitamente o item de higiene. Já o parlamento escocês, no ano passado, determinou que a distribuição de absorventes e tampões seja feita para “quem precisar deles”.
Nos últimos anos, surgiu uma onda de conscientização no que diz respeito à obtenção de absorventes descartáveis. Contudo, colocar este produto como o único meio possível de solucionar a problemática, pode se tornar um transtorno ainda maior no futuro. Visto que os itens de higiene menstrual estão ligados à degradação do meio ambiente, explorar alternativas e possibilidades é essencial para encaminhar resoluções de impacto positivo a longo prazo.
Para começar, é preciso entender os componentes que estão envolvidos na fabricação deste produto: árvores e petróleo são as duas matérias-primas principais. De forma que a primeira é a origem da celulose e a segunda, é processada e vira diversos tipos de plásticos, por exemplo poli etileno e propileno. Todos estes são elementos usados na composição do absorvente.

Entretanto, existem três problemas que decorrem da utilização desses dois itens. São eles: geração de resíduos, gasto elevado de energia e fiscalização da origem da matéria-prima, nesse caso a madeira. A National Geographic, em novembro de 2020, publicou uma matéria abordando esse tema. Na reportagem é afirmado que os absorventes descartáveis possuem três tipos de plástico diferentes na constituição. Ainda falando desse material, vale lembrar que os absorventes são envoltos em uma espécie de capa protetora e posteriormente, colocados em outra embalagem. Tanto a capa quanto o pacote são feitos de plástico.
Em São Paulo, na Escola Politécnica da USP, foi realizada uma pesquisa sobre o ciclo de vida dos absorventes externos. Foi avaliada toda a cadeia produtiva, desde a produção, passando por logística e transporte, até o descarte. Os pesquisadores concluíram que a pegada de gás carbônico deixada por um absorvente durante seu ciclo de vida é equivalente a 9,6 kg/ano. Prosseguindo com os dados do estudo, os pesquisadores ressaltaram que o algodão é um componente importante desse produto, isto leva ao problema do consumo de água na produção. Estima-se que cada quilo de algodão precise de 20.000 litros de água para ser utilizado como matéria prima.
O Instituto Akatu, que trabalha na área do consumo consciente, fez uma estimativa e afirmou que uma pessoa pode, durante a sua vida, produzir cerca de 200 kg de lixo somente consumindo absorventes descartáveis. Em um raciocínio simples, pensando que a maioria dos componentes do absorvente são plásticos e estes demoram mais de 400 anos para se decompor, cada pessoa pode ser co-responsável pela degradação do ambiente por 4 séculos.
Outro fator importante na etapa do descarte é o destino dos absorventes. A maioria deles é destinada a lixões e aterros sanitários. Nos dois lugares, os produtos passam anos até se decompor e podem acabar contaminando o solo, uma vez que estes contém elementos químicos na composição. Além disso, esses aditivos são prejudiciais para a saúde daqueles que lidam com esse lixo descartado. Vale lembrar que existe um grande número de absorventes que são descartados no vaso sanitário, atitude que contribui para a degradação dos oceanos e ecossistemas.
Como tentativa de resolução, algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas e até mesmo a reciclagem desses materiais já começou a ser desenvolvida. No Reino Unido, a empresa “Knowaste” criou uma espécie de usina para reciclar esse lixo higiênico, transformando-o em madeiras ou telhas plásticas. A corporação calcula que nesse processo, 36 mil toneladas de carbono já deixaram de ser emitidas no meio ambiente.
Aqui no Brasil, são duas as opções mais comuns. O coletor menstrual e a calcinha absorvente. O primeiro, é mais antigo e comum, já que é prático e possui um interessante custo-benefício. Ele é lavável e pode ser usado por cerca de 10 horas. Uma das empresas que comercializa coletores, em território nacional, é a Fleurity e em seu site, eles garantem que quando bem cuidado, o produto dura 3 anos. Sobre valores, um coletor custa em média R$60 reais, o preço pode variar entre as marcas e modelos.
A estudante de publicidade, Amanda Ardigó, 20 anos, relatou a sua experiência como utilizadora do produto. “[Minha experiência] foi ótima, sem falar no conforto. É muito melhor do que o absorvente, mais higiênico e você pode ficar mais tempo sem se preocupar com odor.” Quando questionada sobre a motivação da mudança de hábitos, a publicitária afirmou que “Com certeza foi o meio ambiente. Na realidade, foi a melhor opção tanto a longo prazo, na questão sustentável, quanto para o meu bolso.”

A Fleurity também vende calcinhas absorventes, contudo a empresa que lidera esse cenário é a Pantys. Marca brasileira e fundada por mulheres, a empresa trabalha com diversos modelos da peça íntima. Com opções para todos os gostos (e fluxos), a popularidade das calcinhas absorventes da pantys vêm crescendo. “O problema de acúmulo de lixo é um dos maiores que enfrentamos hoje e Pantys nasceu pensando na raiz desse problema, em reduzir o lixo dos absorventes descartáveis [...] e agora nos preocupamos também com o “depois”, afinal, não existe jogar nada fora, tudo se transforma em alguma coisa.”
As peças são laváveis, reutilizáveis e prometem ciclos tranquilos e sem vazamentos. Em questão de valores, cada uma custa em média 80 reais. Vale lembrar que os dois produtos são testados, certificados e se utilizados da maneira correta, não apresentam risco nenhum à saúde.
