Passado quase um ano, liderança indígena Yanomami fala sobre atual momento de seu povo, após Ministério da Saúde declarar Estado de Emergência de Saúde Pública na região
por
Artur Maciel
Bianca Abreu
|
23/11/2023 - 12h

 

Em 20 de janeiro deste ano, o território Yanomami foi declarado em Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pelo Ministério da Saúde brasileiro. Concentrados em uma região Amazônica entre o Brasil e a Venezuela, com cerca de 30,4 mil habitantes, Yanomamis sofrem com a intensa atividade de garimpos ilegais no local. Epidemias - como gripe e malária - insegurança alimentar, morte sistemática de crianças indígenas e destruição do meio ambiente são provenientes das ações dos extrativistas na região.

Em entrevista por telefone ao repórter Artur Maciel, da Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi) e representante do Conselho de Saúde Indigena (SESAI), Júnior Hekurari Yanomami, fala sobre a importância da atuação do poder público no combate ao genocídio provocado pela extração ilegal de minérios.

 

Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental
Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental

 

“A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”. Júnior Hekurari Yanomami

A fim de combater a desassistência sanitária no território Yanomami, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami) - cuja gestão está sob a responsabilidade da SESAI. Segundo a pasta, ao chegar na terra Yanomami, o órgão “se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”.

“Durante 6 meses, muita gente voluntária. Médicos. Enfermeiros. Farmacêuticos. De São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba”, explica Júnior Hekurari, quando questionado sobre o suporte atual na região após declarada crise sanitária. “A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”.

Segundo ele, “antes não tínhamos uma visão, apenas medo. O garimpeiro poluindo nossas terras. Nossas águas. Interrompendo nossos rituais. Culpa do governo ladrão de jóias. As crianças voltaram a brincar e andar depois das ações”. “Eu tinha medo do povo morrer. Sem o Lula, o povo Yanomami ia morrer. Em 2020, 2021, 20 mil garimpeiros destruíram nossas vida” desabafa, citando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a atuação do Estado na crise humanitária. Mas pontua com veemência que “ainda tem muita coisa a melhorar”.

Quando perguntado sobre como era tratado o impacto ambiental na região, em relação ao lixo gerado pela atividade garimpeira, o presidente do Condisi declara que “os garimpeiros não respeitam. Desmatam e tiram a terra de nossa vida”. “Durante 4 anos, fomos abandonados pelo governo brasileiro. Por um governo ladrão de jóias. Agora o governo voltou e os profissionais de saúde estão apagando o fogo das emergências pensando em uma restauração”, completa. Ele se refere ao governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que não raras vezes, ao longo de sua vida pública, legitimou publicamente as atividades ilegais dos garimpos.

 

Doença, fome e violência: genocídio em prática

As doenças, a insegurança alimentar, a violência e a morte passaram a fazer parte do cotidiano dos Yanomami diante da negligência do Estado em frear a extração indevida de minérios na região. De acordo com levantamento do Malária Journal, o aumento do número de casos de malária - causa recorrente de mortes de crianças indígenas - na região Yanomami saltou de 2.559, em 2010, para 18.765, em 2020. Sobre a presença da doença na região, o representante da Sesai afirma que a doença contamina até mesmo quem vai em seu combate. “Muitos dos médicos 'adoeceu'. Pegou malária e voltaram (para casa)”, conta. “Mas o importante é que a maioria 'desse' profissionais viram Roraima. Viram o Brasil!”, completa, demonstrando, em sua voz, um misto de preocupação pela saúde dos profissionais e esperança diante da visibilidade à situação de seu povo.

Outro aspecto da presença dos garimpeiros na região é o acúmulo de lixo nas proximidades das comunidades. Por conta disso, os indígenas locais entram em contato com elementos provenientes de fontes aquém da natureza - produzidos com materiais que não se reintegram àquele território. Pelo contrário, o desequilibram e o prejudicam. “Hoje tem lama em todo lugar, os garimpeiros deixaram lixo em todo lugar. Máquinas, latas e lixo”.

O que nos leva a outro problema que compõe esse efeito dominó no descaso com a saúde Yanomami: a fome. A alimentação indígena é, primordialmente, garantida pela natureza por meio da caça, pesca e consumo de frutas. Diretamente afetada pelo uso de mercúrio no garimpo, a água foi contaminada. Com isso, peixes mortos, impróprios para consumo, perdem-se nos rios onde a atividade garimpeira está. “O garimpo destruiu nossos rios. Nossas vidas. As mulheres não iam pescar. Não tinha peixe nem camarão para comer. Mataram tudo, não tinha alimento”, aponta Junior. E questiona, em seguida: “que dia vamos voltar a comer peixe? Voltar a comer camarão? O povo não tem”.

Além da malária e da fome, os indígenas ainda precisavam se proteger de outro perigo. Júnior Hekurari Yanomami denuncia que os crimes cometidos pelos garimpeiros também se estendem à violência sexual. Deixando, ainda mais evidente, o risco que a presença desse grupo não-indígena e extrativista provoca na população local. “O que aconteceu aqui foi muito traumático. Meninas de 12 anos grávidas. Estupradas por garimpeiros. Estamos agregando trauma de mães com luta dos filhos. Deram tiros nas crianças”, expõe a liderança. “Destruíram meu povo. Tem cicatrizes grandes até hoje e vai demorar para curar. Talvez em 50 anos. Quem sabe se cura”, conclui, reflexivo.

 

*Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
|
20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

Os centros acadêmicos mobilizaram um ato de paralisação do corpo estudantil, com apoio da bateria Psicolata e de professores, para reclamar os direitos de formação na Reitoria e em frente à Fundasp
por
Artur dos Santos
Giuliana Zanin
João Curi
|
20/10/2023 - 12h

Na última quarta-feira, 18, estudantes e professores dos cursos de Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Engenharia Biomédica da PUC-SP se mobilizaram contra o bloqueio dos estágios nos equipamentos de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) para o próximo ano. Em nota informativa, formalizada pela Comissão Aberta sobre os Estágios no SUS, estudantes independentes lideram a reivindicação de acesso, com apoio do corpo docente - com direito a aula pública - e a presença de figuras políticas no ato. 

 

É nosso dever reivindicarmos nossos direitos de formação, que é o estágio no SUS, [...] é nosso dever garantir, através da luta política, investimentos pesados em saúde, seguridade social e um ensino popular, pensado pela e para a classe trabalhadora”, declara a Comissão Aberta, em nota.

 

foto 1
Alunos dos cursos de saúde da PUC-SP se reuniram na prainha. Foto: Giuliana Zanin

 

Enquanto ecoavam “A nossa luta é todo dia, o nosso estágio não é mercadoria”, os manifestantes estenderam faixas e cartazes em frente ao prédio da Fundasp e também ocuparam a Reitoria da universidade. 

foto 2
Os universitários protestam contra a precarização da educação e do sistema de saúde. Foto: Giuliana Zanin

O problema foi gerado a partir de um impasse entre a PUC-SP e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quanto às contrapartidas oferecidas por instituições de ensino ao órgão. Apesar da entrega de R$176.162,23, a Secretaria determinou que a PUC-SP, por ser uma universidade privada,  deveria pagar R$306.000,00 em materiais e equipamentos hospitalares. A medida vai contra o que normalmente é requisitado de instituições filantrópicas, como é o caso da Pontifícia. 

 

foto 3
Estudantes se concentram em frente à Fundação São Paulo (Fundasp). Foto: Giuliana Zanin

Numa tentativa de negociação, a Universidade promoveu a ampliação dos serviços acadêmicos, incluindo disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos de educação continuada, além de eventos e projetos educacionais. O objetivo é atender aos requisitos da Escola Municipal de Saúde/SMS, responsável pela promoção dos estágios dos cursos focados no segmento.

Segundo  o atual presidente do Centro Acadêmico de Psicologia (CAPSI), André Sanches, o bloqueio de estágios no SUS é parte de um projeto maior de precarização da saúde pública, que visa colocar o ensino em uma lógica mercantilizada. Para ele, isso “vai contra tudo que nós defendemos aqui na PUC”. O estudante também afirmou à Agemt que a mobilização estudantil no ato representa a urgência do assunto e o descontentamento com o atual ritmo das negociações por parte da Reitoria e da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP.

foto 3
Os estudantes percorreram as ruas de Perdizes com cartazes e cantos de união. Foto: Giuliana Zanin

A presença de preceptores nos estágios de psicologia também é uma problemática reivindicada pelos estudantes. No início deste ano, os estágios do curso passaram a ser obrigatoriamente acompanhados por preceptores - que atuam na supervisão das sessões realizadas por estagiários -, sob ameaça de processo aos administradores que não os incluíssem em seus turnos. Além disso, os estudantes reclamam da perda de autonomia e da interferência nos métodos utilizados no acompanhamento de pacientes na e condução de casos.

A assessoria de comunicação da PUC encaminhou a reportagem para a Direção da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde (FCHS) da universidade, que declarou em nota ter retomado as negociações com a Secretaria Municipal da Saúde.

"Informamos que reestabelecemos, com bom entendimento, o contato com a Prefeitura Municipal de São Paulo e Secretaria Municipal de Saúde e, ao longo da próxima semana, teremos reuniões para solucionar a questão dos estágios nos campos da SMS".

Procurada, a pasta municipal não respondeu até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para a SMS. 

O estigma social dos medicamentos antidepressivos
por
Cristiane Santos Gabriel
|
18/09/2023 - 12h

Por Cristiane Gabriel (texto)

 

Quando se examina a trajetória histórica, desde tempos antigos até o presente, torna-se evidente a existência de analogias entre o que era denominado "melancolia" e a atual definição de depressão. Antes, a melancolia era conceituada por Hipócrates como "melankholia," que se originava de "mêlas," significando negro, e "kholê," referindo-se à bile. Ela era vista como um dos humores presentes no corpo humano, ao lado da bile amarela, do sangue e da fleuma. Qualquer desequilíbrio entre esses elementos corporais poderia potencialmente resultar em "distúrbios."

Se antes era considerada apenas uma alteração de humor, hoje, a depressão é reconhecida como uma questão de saúde pública e denominada a “Doença do Século”, se manifesta por meio de sintomas como perda de interesse e falta de energia, afetando diretamente o bem-estar do paciente e podendo gerar obstáculos no ambiente de trabalho, nos estudos e nos relacionamentos interpessoais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um mínimo de 121 milhões de indivíduos sofrem com essa condição.

Os antidepressivos surgiram como uma abordagem terapêutica para a depressão, porém, não representam a única solução para essa situação. Esses medicamentos agem nos neurotransmissores, uma vez que há evidências de que desequilíbrios nesses compostos estejam associados à depressão.

São muitos os sintomas de quem tem depressão. Alguns podem ter vários, outros podem sentir apenas alguns. Mas, talvez o mais comum seja a indiferença repentina. “Eu me sentia constantemente triste e desmotivado, e até mesmo as atividades que costumavam me trazer alegria não pareciam mais ter significado”, diz um paciente que relutou a usar antidepressivos.

Além do estigma que as doenças mentais carregam, com o medicamento acontece o mesmo. Pacientes têm medo de usar pela disseminação de informações erradas, acreditando que um medicamento diário e que atinja seus neurotransmissores pode mudar sua personalidade: “No início, tomar antidepressivos foi um desafio. Lembro-me de sentir preocupação sobre os efeitos colaterais possíveis e sobre como isso poderia afetar minha identidade”. Não há comprovação científica de que os efeitos colaterais da medicação podem alterar a personalidade de um ser humano.

Outro ponto levantado por pacientes que necessitam dos antidepressivos, é o medo de parecer “fraco” perante a sociedade, como se eles tivessem perdido uma batalha para a própria mente: “É como se fosse um exagero o uso de medicamento, algo psicologicamente ruim, que fosse tirar a realidade do paciente, tirar a limpeza. Usar medicamentos parece fraqueza”, relata a psicóloga Cinthia Souza.

Além do preconceito social para com o uso de medicamentos contínuos, há também quem use os antidepressivos na esperança de que ele, sozinho, vá resolver todos os problemas do paciente: “A medicação destina-se a modular as sensações, mas se a causa do problema segue ativa, o efeito será sempre passageiro. Isso sem falar nos efeitos colaterais. É como você tomar um analgésico, e porque a febre fica controlada, achar que a infecção vai desaparecer. A psicoterapia apoia e provoca mudanças, estas sim, capazes de curar definitivamente os sintomas”, completa a Dra Ana Luiza Ferreira, psiquiatra residente em São Paulo.

Em conversa informal com outra paciente em estado depressivo, ela conta que por acreditar que o antidepressivo por si só resolveria seus problemas, quase desacreditou do tratamento psicológico: “Eu estava convencida de que os antidepressivos eram a solução mágica para todos os obstáculos que enfrentei, no entanto, à medida que os meses passaram, percebi que minha vida não estava se transformando da maneira que eu esperava”, disse ela.

Bloquear canais de recaptação dos neurotransmissores para que eles não voltem ao neurônio que os secretou para a fenda sináptica, que é como agem os antidepressivos, apenas proporcionam a remissão completa dos sintomas, isto é, mantêm a depressão controlada.“Foi nesse momento que minha terapeuta me fez perceber que os antidepressivos eram apenas uma parte do tratamento. Eles eram uma ferramenta valiosa para estabilizar meu humor, mas eu precisava abordar os aspectos fundamentais da minha vida que estavam contribuindo para minha depressão”, seguiu relatando a paciente.

“Com o apoio da terapia, comecei a trabalhar nas áreas problemáticas da minha vida, buscando soluções práticas para meus problemas financeiros e aprendendo habilidades de enfrentamento para lidar com o estresse no trabalho. Gradualmente, percebi que a combinação de tratamento medicamentoso e terapia era o caminho certo para minha recuperação”, finalizou ela.

Podemos dizer que a psiquiatria se iniciou no final do século 18, quando o médico francês Philippe Pinel começou a classificar os doentes separando o que seria um desvio social de uma enfermidade mental. Ele passou a criar uma linguagem que configuraria a nova especialidade da Medicina. Mesmo com centenas de anos de  desenvolvimento e pesquisas, ainda há muita desinformação e discriminação social com as doenças psicológicas, o que atrasa o diagnóstico e tratamento de muitos, perpetuando um sofrimento desnecessário.  A educação e a compreensão são fundamentais para romper esse ciclo prejudicial e proporcionar às pessoas que sofrem com a depressão o apoio necessário para uma recuperação completa e sustentável.

Tags:
Os jogos de azar se tornaram um vício recorrente entre os que utilizam esse meio
por
Cristian Buono
Matheus Pogiolli
|
02/10/2023 - 12h

Por Matheus Pogiolli (texto) e Cristian Buono (audiovisual)

 

Frequentador do “bar do Pica-Pau”, em São Paulo, Moisés, um homem de 57 anos costuma apostar nas máquinas enquanto joga partidas de sinuca. Ele diz que não pensa em parar de jogar, já que costuma apostar pouco dinheiro e fica satisfeito com o lucro recebido, ainda que pequeno. “Sorte” essa que os amigos do mesmo não possuem, já que muitos apostam o salário nos jogos de azar presentes no bar. Para Moisés, o vício começa na curiosidade.

Segundo o dicionário Aurélio, a definição de vício é "tornar mau, pior, corrompido ou estragado; alterar para enganar; corromper-se, perverter-se, depravar-se". A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o vício como uma doença de impactos físicos e psicoemocionais. Para muitas pessoas, não é algo que possa ser definido ou explicado, mas sim uma necessidade, algo sobre o qual não se tem controle. É sempre uma forma de compensação ou até mesmo a busca de um falso prazer imediato.


.

 

 


Foto: Reprodução / Internet

 


Como funcionam os caça-níqueis,,,


As apostas acontecem todos os dias...


Como pensar em parar...


Para Patrícia Pilan, 29 anos, psicóloga, esse comportamento diz muito sobre a necessidade da busca de prazeres, pois, segundo explica, nosso cérebro sempre buscará ter algum tipo de compensação mediante a esforços realizados e, quando isso não acontece de forma equilibrada, natural e saudável, o indivíduo passa a buscar isso em atividades que estimularão esse prazer, seja de forma induzida, através do uso de drogas lícitas ou ilícitas, ou através de atividades que ativam no cérebro o circuito de recompensa e liberam dopamina, gerando sensação de bem estar e prazer.

Uma rotina desequilibrada, a ausência de gestão emocional e a falsa promessa de um ganho rápido financeiro, no geral, são os grandes estimulantes para que uma pessoa entre no vício e permaneça nele. Assim, o que era de vez em quando apenas, acaba se tornando uma necessidade e a atividade causadora do vício vira o tema central da vida do indivíduo. Sobretudo quando se trata de apostas em tempo real.

Com o avanço tecnológico e as incertezas financeiras que tomaram conta de muitas famílias durante e pós-pandemia, os jogos de azar chegaram com mais força nas plataformas online

 

Foto: Reprodução / Internet

Mesmo com a grande frequência de pessoas em bares ou locais de apostas, a Internet também fez com que muitas pessoas se viciassem nesse âmbito sem ter que sair de casa: Um dos tópicos mais presentes no momento, são as apostas esportivas. Para Santa Fé, Beatriz e Arthur, assim como Moisés, o problema foi a curiosidade. Ela fez com que todos eles ficassem viciados em apostar, não importa qual fosse o esporte/tópico.

Com Santa Fé, de apenas 22 anos, o ponto inicial do vício foi apostar em equipes desconhecidas no futebol, puramente com o intuito de lucrar, não importa se com uma análise ou não. Segundo o mesmo, o vício foi aflorado por observar outros amigos ganhando muito dinheiro com apostas. Ele fala, inclusive, que se “emocionou” com os pequenos ganhos, fazendo que o "sarrafo aumentasse" e, consequentemente, ele perdesse dinheiro com tentativas mais ousadas. 


Como tudo começou...


Quanto tudo se aflorou...

 
Foto: Reprodução / Internet

Indo em direção do que disse Santa Fé, Arthur, de 23 anos, confirmou que a emoção por ganhar no começo, fez com que a vontade de apostar mais, aumentasse. Facilidade. Essa foi a palavra definida por ele. Isso porque com a evolução tecnológica, a facilidade em apostar aumentou. Arthur diz que, além de futebol, apostas em basquete, tênis e até mesmo corrida de cavalos se tornou recorrente, aumentando seu vício compulsivo em jogar esses tipos de jogos. 


Facilidade em apostar...


Para Beatriz, de 23 anos, a facilidade também definiu o vício. Sem tanto tempo para análises, a mesma se viu em "grupos de sinais", feitos por diversas pessoas que vendem seu trabalho de mentoria nas apostas esportivas, a fim de trazer diversas pessoas para seus grupos. Por conta desse caminho, aumentou seu tempo de apostas, sem sequer saber no que estava injetando seu dinheiro. O ponto de certeza no vício foi a falta de atenção com outras situações do cotidiano, como trabalhar, estudar ou dormir, por exemplo. 


Quando percebeu que estava viciada...


Facilidade em apostar...


Patrícia explica que a vivência do período pandêmico, o agravamento das incertezas financeiras, juntamente com o aumento do uso da Internet e da divulgação de tais jogos de atividades, aliados com o fácil acesso às formas de jogos que prometem um ganho após a sua utilização, aumentou a busca das pessoas por tais atividades. Hoje vê-se o uso sendo estimulado até mesmo em propagandas de TV aberta, induzindo o indivíduo, mesmo que seja por mera curiosidade, a buscar por esses aplicativos e, o que era para ser apenas uma diversão momentânea, torna-se um problema. 

Um ponto comum a ser ressaltado entre todos é a busca de um ganho financeiro fácil em um curto espaço de tempo, ademais, o indivíduo com a falsa ideia de perpetuar seus primeiros ganhos, os que muitas vezes são permitidos e estimulados por esses sistemas de apostas, e a busca por mais, acaba por convencer-se com a ideia errada de que, se prolongar sua permanência em tais aplicativos ou locais que possuem instrumentos de apostas, conseguirão mais ou, pelo menos, recuperar o dinheiro perdido.

Foto: Reprodução / Internet

Isso também pode ser explicado de forma neurológica, visto que, em sua maioria, seja em ambientes físicos e virtuais, esses sistemas de apostas utilizam de estímulos cerebrais como músicas, atividades, imagens, entre outros, que manterão a pessoa cada vez mais fixada naquela atividade, fazendo com que a mesma perca não só o dinheiro, mas parte de seu tempo ali. Assim sendo, outras atividades da vida desses indivíduos começam a serem afetadas e é assim que o impacto do vício começa a ser sentido por quem o vive. É importante ressaltar que o vício, em sua maioria, é gerado por algum desequilíbrio vivido pela pessoa e não identificado, muito menos, tratado por ela, seja ele emocional ou financeiro, o que acarreta e contribui para que essa falsa compensação financeira e ideia de realização, prenda cada vez mais o indivíduo nisso.  No geral, esses aplicativos e ambientes de apostas, colocam essa atividade como uma “mera” tentativa, ou algo banal, mascarando o grande problema que eles têm gerado na vida de muitos indivíduos e famílias. 


Afim de buscar se desprender do vício, Moisés, Santa Fé, Arthur e Beatriz definem sua fase final no “mundo dos jogos”, como em uma palavra. 


Moisés, diz que continua, tendo em vista o baixo risco financeiro que impõe nos caça-níqueis. Perseverança.


Santa Fé diz que saiu dos jogos de azar por observar que mais perdia do que ganhava. Consciência.


Arthur relata que não conseguia, por muitas vezes, pagar contas. As apostas estavam complicando sua vida financeira. Complicações. 


Beatriz descreve que perdeu tempo com família e amigos, além de citar a perda de dinheiro.


Patrícia Pilan ressalta o fato de os indivíduos não conseguiram reconhecer que tais atividades são danosas até que elas comecem a gerar impactos nocivos que, em sua maioria, são no âmbito financeiro. É necessário alertar que o primeiro passo para o tratamento do vício é que o indivíduo reconheça que há um problema e que o discurso “eu paro quando quiser”, não é a realidade vivida pelo mesmo, visto que a intensidade do acesso aos aplicativos e ambientes de apostas aumenta de forma gradativa e rápida. Ademais, quando os assuntos são apostas online, os aplicativos seja através de aumento das promessas de ganhos e, alertas enviados aos usuários com falsos créditos para as apostas. 

Uma vez que esse problema passa a ser enfrentado pela pessoa, cabe ressaltar que ele jamais será vencido de forma solitária e não passará de um dia para o outro, discurso esse muito utilizado pelos que vivenciam tais problemas. Se não buscar a ajuda de um profissional competente, a chance dele voltar para o vício é significativa. 

O vício entra como uma forma de compensação e, na primeira dificuldade vivida pelo indivíduo, qualquer que seja ela, a tendência do mesmo a buscar aquela fonte de “prazer” novamente é altíssima, fazendo com que ele volte para os mesmos problemas vividos anteriormente. Com o auxílio de um profissional, a pessoa será devidamente instruída e capacitada lidar com todos os gatilhos que a fizeram e fazem buscar por esses programas de apostas e, assim, possa eliminar os mesmos e a pessoa volte a ter uma vida saudável e equilibrada. 

Tags:
O avanço de estudos sobre o uso de substâncias psicodélicas em tratamentos médicos e psiquiátricos
por
Rodrigo Marques e Guilherme Carvalho
|
02/05/2023 - 12h
Tags:
Para 2023 as metas estão mais altas e profissionais da saúde já alertam sobre as doenças desta época do ano.
por
Maria Fernanda Müller
Leonardo de Sá
|
25/04/2023 - 12h

Na segunda-feira (10), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) iniciou a campanha de imunização contra o vírus Influenza em todos os 645 municípios do Estado de São Paulo. Segundo as informações liberadas pelo site da Secretaria, este ano é diferente dos anteriores, pois não haverá escalonamento do público prioritário. Sendo assim, cerca de 18,4 milhões de paulistas estão aptos a serem imunizados desde o primeiro dia da campanha. 

Por enquanto, o Ministério da Saúde enviou mais de 5 milhões de doses para o início da campanha. Essas doses foram distribuídas pelo Estado e já é possível aplicá-las na população prioritária.

O grupo prioritário é composto por idosos com 60 anos ou mais, crianças entre 6 meses e 5 anos, gestantes, pessoas em período do puerpério (até 45 dias após o parto), pessoas com imunossupressão e povos indígenas.

Desde do dia 17 deste mês, a aplicação foi liberada para as outras pessoas que compõem os grupos prioritários, profissionais da saúde e da educação, pessoas com deficiência permanente e comorbidades, profissionais de transporte coletivo, portuários, forças de segurança e salvamento, forças armadas, profissionais do sistema prisional, população privada de liberdade e adolescentes em medidas socioeducativas. 

Em entrevista, o médico infectologista do Hospital das Clínicas (HC), Evaldo Stanislau, afirma que o Influenza é um vírus agressivo que pode levar à pneumonia viral grave, sobretudo em pacientes mais vulneráveis como idosos e portadores de doença crônicas. Segundo o infectologista, “Além disso abre as portas para complicações bacterianas igualmente severas, como as pneumonias. Causa ainda um absenteísmo importante. A vacina reduz efetivamente essas situações e, dessa forma, é essencial!”

O ano em que a campanha contra Influenza teve maior adesão foi em 2020, quando atingiu uma cobertura vacinal de 92,5%, e desde então ainda é a maior porcentagem. Em 2023, o plano é alcançar o número de três anos atrás. Assim, a meta é de 90%, uma expectativa alta apesar das baixas coberturas que ocorreram em 2021 (55,5%) e em 2022 (69%). 

Além disso, profissionais de saúde já alertam que o outono traz variações de temperaturas, tempo seco e aumento da poluição, ou seja, é uma época propícia à contração de doenças respiratórias típicas da estação.

“Nesta temporada temos maior incidência de doenças respiratórias, como é o caso da gripe, causada pelo vírus Influenza, que pode apresentar sintomas como febre alta, tosse, coriza amarelada, dor no corpo e perda de apetite", conta o supervisor da UTI Pediátrica do Hospital Infantil Cândido Fontoura, Dr. Marcos Alvo. “Há também o resfriado, causado pelo Rinovírus, Boca vírus, entre outros, e que causa espirros, coriza clara e febre baixa”, finaliza. Os mais frequentes são gripes, resfriados, sinusites, bronquites, bronquiolite, crises de asma e pneumonias. 

Para isso, as unidades de Pronto Atendimento, os hospitais e outras redes de saúde já estão preparados para receber pacientes que tiverem febre persistente, dificuldades respiratórias graves, entre outros sintomas. Qualquer um que apresente algum sintoma insistente deve procurar um especialista. Além disso, há casos em que o quadro evolui para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causando principalmente insuficiência respiratória passíveis de internação. Consequentemente o paciente fica dependente do suporte de oxigênio.

A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológico (CVE), Tatiana Lang D’Agostini, destaca a importância de se conscientizar sobre a vacinação contra a gripe também, pois essa é uma época do ano em que há inúmeros fatores que contribuem para o contágio por Influenza.

“É de suma importância que a população compareça aos postos para se imunizar contra a gripe, principalmente crianças e idosos, que são os grupos mais sensíveis à síndrome gripal e que pode evoluir para casos graves.”, enfatiza a diretora.

O dr. Evaldo Stanislau reforça algumas medidas para aumentar o índice de vacinação. Segundo ele, o mais importante é o desempenho do canal comunicativo entre cientistas e médicos com o público. “Precisamos nos comunicar de forma clara, com linguagem simples e sem o tom professoral da academia. Como cantou Milton Nascimento, todo artista tem de ir aonde o povo está", cita o médico. “Ou seja, adaptando, toda informação científica deve ser veiculada pelos profissionais de saúde, muitos com o dom da comunicação, por todas as maneiras possíveis.” finaliza ele.

Evaldo também fala brevemente sobre a luta contra as fake news. “Se ficarmos presos ao puritanismo da comunicação acadêmica, perderemos essa guerra para as fake news. Porém as consequências dão-se no mundo real e impactam os indicadores da saúde.”

Além disso, o médico diz ser importante haver acessibilidade. É necessário que os postos fiquem abertos em terceiro turno para atender quem trabalha, levando em consideração que idosos dependem do apoio de alguém. Essas medidas facilitariam a adesão. 

Os imunizantes estão disponíveis em Unidades Básicas de Saúde (UBS), esses postos de vacinação funcionam de segunda à sexta das 7 horas até as 19 horas. 



 

 

Tags:
Cerveja pode ser uma aliada da saúde
por
Vitor Simas
|
25/11/2022 - 12h

Por Vitor Simas Ribeiro Costa

Uma pesquisa realizada pela na Universidade Milano-Bicocca na Itália revela que beber cerveja pode reduzir o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas, como demência e Alzheimer ao longo da vida.  Segundo o estudo publicado na revista ACS Chemical Neuroscience no final de outubro, um componente por trás do amargor dessas bebidas impede a aglutinação de proteínas ligadas ao Alzheimer. A doença começa quando o acúmulo de proteínas anormais causa a morte de células nervosas no cérebro humano.

O componente responsável por impedir que isso aconteça está nos extratos de flores de lúpulo, presente na grande maioria das cervejas. Essas plantas têm antioxidantes naturais que podem proteger as células do corpo, ajudando na redução de aglomerados tóxicos que poderiam ser marcadores do desenvolvimento de Alzheimer 

Isso quer dizer que devemos promover o consumo de cerveja?

Deve forma alguma. O estudo não afirmou que o consumo de cerveja ajuda na prevenção do Alzheimer, o estudou testou o efeito do lúpulo – que é um componente da cerveja, porém in vitro, usando uma espécie de verme chamado C. Elegans. Aponta a cientista Gabriela Bailas em análise feita em seu próprio Instagram. Ou seja, a cerveja não está diretamente ligada na prevenção de nenhuma doença neurodegenerativa, aliás o teor alcoólico presente na bebida faz com tenham mais malefícios do que benefícios à saúde. O consumo excessivo leva a reduções significativas no rendimento cerebral.  As descobertas não sugerem que o consumo de cerveja deve aumentar, mas que extratos da planta podem entrar em outros alimentos para reduzir o risco de doenças neurodegenerativas. 

 

 

 

Tags:
A jornada do abuso de substâncias até a dependência química e o tratamento de reabilitação voluntário
por
Bruna Quirino Alves
Maria Eduarda Camargo
|
28/10/2022 - 12h

 

Ela vinha em pequenos frascos, de metal ou vidro, com imagens ilustrativas e crianças sorridentes — comercializada para fins anestésicos e tratamento do vício em morfina ou álcool. Assim nasceu a cocaína, droga originada das folhas da coca e que teve — há mais de 100 anos  — seus anos dourados de legalidade. Mas a realidade do vício é muito diferente do glamour dos ternos dos empresários e das festas dos fins de semana.

De acordo com o novo Relatório Mundial sobre Drogas divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em 2021, cerca de 5,5% da população entre 15 e 64 anos usou drogas pelo menos uma vez em 2020, enquanto 36,3 milhões de pessoas, ou 13% do número total de pessoas que usam drogas, sofrem de transtornos associados ao uso de drogas. A psicóloga Lúcia Silva explica que: "A dependência química não se trata de uma vontade de consumir determinada substância e sim da incapacidade de não consumi-la".

No Brasil, segundo pesquisas da OMS, cerca que 6% da população brasileira atual possui dependência química, totalizando 12,4 milhões de pessoas. Os hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram um aumento de 54% em 2020 no atendimento de dependentes químicos em relação a 2019, de acordo com os dados do Ministério da Saúde.  

A lei de n°13840 — sancionada pelo atual presidente Jair Bolsonaro no ano de 2019 — prevê a alteração da lei n°11343, possibilitando a internação involuntária de pacientes com dependência química. A internação involuntária ou compulsória é toda aquela que ocorre sem o consentimento do paciente. Para que ocorra, é necessário um pedido de internação vindo do médico psiquiatra — mesmo sem o consentimento ou pedido de internação da família.

Em entrevista à Revista Veja, o ator global Fábio Assunção conta as dificuldades que enfrentou na sua luta contra a dependência química e os danos gerados pela exposição sofrida por ele durante o seu processo de reabilitação. 

"Fui pela primeira vez aos Alcoólicos Anônimos há cerca de quinze anos. Na saída fui fotografado por um paparazzo e saiu uma nota no jornal. Aquilo me prejudicou muito e demorei anos para voltar.’’ 

Fábio faz parte da nova série da Globoplay ‘’Onde está meu coração’’ na qual ele interpreta o pai de uma jovem médica que se torna usuária de crack, a série retrata como o vício atravessa uma família e os conflitos que são gerados a partir disso, escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de Luísa Lima.  

No painel realizado pela Globoplay na Comic-Con Experience (CCXP), o ator ressalta como fazer parte da produção foi importante na sua jornada com a dependência química. "Pra mim, tudo foi emocionante. Cada coisa que eu falava pra minha filha [na série] por causa da dependência, é como se eu estivesse me ouvindo também. É uma série em que eu estava presente de todas as formas, como ator, como pessoa.’’

Lúcia ainda comenta que: "O ideal é que a intervenção terapêutica combinada seja feita em instituições especializadas e que disponibilizem uma equipe multidisciplinar composta por médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros. Além do uso de remédios, o trabalho de aconselhamento auxilia na importância de evitar comportamentos que colocam a saúde em risco. Por meio de uma intervenção multiprofissional é possível alcançar resultados mais satisfatórios na reabilitação do paciente. Quando se trabalha em equipe, o compartilhamento de ideias ajuda a perceber, com mais clareza, a necessidade de eventuais ajustes para tornar as terapias ainda mais eficientes". 

Existe uma importância significativa no tratamento combinado e que é ainda mais alavancado pelo apoio individual e familiar. Assim, o paciente é incluído no próprio tratamento e pode, ativamente, contribuir com sua melhora. E a internação voluntária é a chave para que haja a colaboração e a humanização do paciente e para que o tratamento possa evoluir positivamente.

Tags:
Entenda como abandonar seu parceiro prejudica também a vida dos seres humanos.
por
Luísa Ayres Dias de Oliveira
|
28/10/2022 - 12h

Pelas ruas, a cena se repete. Quem nunca viu um animal desabrigado, revirando lixo ou se escondendo da chuva?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), sobrevivem cerca de 30 milhões de animais abandonados no país. Desses, aproximadamente 20 milhões são cães e, 10 milhões, gatos.

Apesar de corriqueiro, o cotidiano do abandono revela um problema grave de responsabilidade, empatia e, principalmente, conhecimento da lei. Abandonar animais de estimação é crime. Além do pagamento de multa e proibição da guarda, a reclusão do indivíduo pode chegar a 5 anos – tratando-se de cães e gatos. Caso o animal venha a falecer, a pena aumenta de um sexto a um terço (Conforme a Constituição Federal e a Lei de Crimes Ambientais de nº 9.605/98).  

Priscila Gaieta, voluntária da ONG Canto da Terr, pontua que as causas para o abandono são uma somatória de 3 fatores: Falta de recursos e planejamento, pouco acesso à informação e irresponsabilidade.

“Eu resgato muito animal que ninguém quer. Agora terça feira (18), resgatei uma (cadela Vivi) que foi jogada de um carro a 80 km/h. Está cheia de ponto na cabeça”, conta Priscila, que também cuida de vários bichinhos portadores de alguma deficiência ou dificuldade motora, sobretudo cães cadeirantes que também foram abandonados. “O Banzé foi abandonado na ONG, muito machucado, muito idoso. Hoje está comigo, é o amor da minha vida”, conta emocionada sobre um dos seus cachorros resgatados.

Através de seus relatos, percebem-se os diversos tipos de abandono. Desde aqueles animais que são deixados nas ruas ou nas portas dos abrigos, até os cenários mais desumanos possíveis, como aconteceu com Paçoca, um cãozinho atropelado e abandonado em um dia de chuva ainda dependendo do uso de acesso venoso.

Na pandemia, o índice de abandono cresceu cerca de 61%, conforme aponta a Associação das Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados (Ampara Animal). Como agravante, houve menores índices de adoção em 2022 se comparado ao ano passado, causando superlotações em muitos abrigos.

O que pode ser feito?

Apesar de tentar convencer os donos a ficar com os bichos, Priscila conta que as desculpas são sempre as mesmas: “Ai, já tentei de tudo”, “Meu marido não quer”, “Eu não tenho como cuidar”. Isso quando muitos não mentem, chegando à ONG com um bicho supostamente achado na rua.

Por isso, ela conta que exige uma adoção responsável, em que é feito todo um processo de acompanhamento com os novos tutores, que devem enviar fotos e vídeos do animal pelo tempo que for necessário, além de assegurar a aplicação das vacinas no prazo. Caso contrário, o bicho é retirado através de meios legais.

Além disso, os animais são entregues castrados e os novos donos são informados com antecedência sobre as necessidades e personalidade do animal.

“A gente não tira da rua pra voltar pra rua”, afirma.

Legenda: Rafaela, Carlos Eduardo e a gatinha Flora, respectivamente, durante evento de adoção realizado no pet shop Pata Natural.
Legenda: Rafaela, Carlos Eduardo e a gatinha Flora, respectivamente, durante evento de adoção realizado no pet shop Pata Natural. Créditos: Luísa Ayres.

 

Pensando na causa, o Dezembro Verde, uma campanha realizada em diversos lugares do país, inclusive na ONG e nos projetos de Priscila, tenta conscientizar a população acerca do tema - apesar do mês ser um dos que apresenta maior índice de rejeição animal, sobretudo em meio às festas de fim de ano e viagens de férias.

Cuidar dos animais é cuidar das pessoas

Além de ameaçar a vida dos próprios animais, o abandono também prejudica a vida da população, sobretudo, devido à maior disseminação de doenças. Dentre elas, a raiva, leptospirose, micose, infestação de lombrigas, sarna, giardíase e toxoplasmose. Todas apresentam risco letal, podendo ser transmitidas através de mordidas, arranhões e contato com ferimentos dos bichos.

A ONG internacional World Animal Protection orienta para a denúncia de casos de abandono ou maus tratos: Há a possibilidade de lavrar um Boletim de Ocorrência (BO) ou então de comparecimento à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. É possível denunciar também ao órgão público do município, utilizando-se inclusive da Lei Estadual ou Federal. Já pelo telefone, pode-se discar 190 (polícia), 181(disque denúncia) ou 0800 61 8080 (IBAMA – em caso de animais silvestres). Pela internet, é possível acessar os portais do Ministério Público Federal ou do Safer Net. Para informações mais específicas de como denunciar em cada região e estado do país, acesse a página da ONG.

Tags: