A capital pode ser uma cidade hostil, mas tem solução
por
Rafael Luz Assis
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11/06/2024 - 12h

Os olhos já pesados do tempo estão cerrados enquanto verificam a entrada do portão da vila onde mora na zona sul de São Paulo. Maria José tem 84 anos e reside no mesmo local há 33 anos, a casa foi conquistada a duras penas através da Lei de Usucapião. O senhorio que recebia o aluguel ainda em 1990 faleceu e nenhum de seus filhos se interessou pelo imóvel, havia outros bens mais valiosos. A idosa que havia acabado de chegar à cidade vinda do Rio de Janeiro com seus então 7 filhos e uma neta ficou morando lá e nunca saiu.  

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Dona Maria é natural de Santa Rosa - Sergipe e mora em São Paulo a 33 anos. Foto arquivo pessoal/ Facebook

Hoje ela mora com apenas um filho nessa residência a muitos anos, 3 morreram, outros seis e sua neta já se casaram. Quando chegou em São Paulo foi só trabalho, eram muitas bocas e o emprego era escasso, mas conseguiu alimentar todos até que foram “cuidar de suas próprias vidas”.  

Dona Maria que era doméstica não registrada a vida inteira, conseguiu se aposentar em 2009 através da Lei Orgânica Da Assistência Social (LOAS), e como nunca chegou a contribuir para a previdência, recebe o equivalente a um salário-mínimo, hoje R$1.412,00. Não reclama do valor e se sente feliz por ter conseguido o benefício, “É pouco, só dá para o sustento e as vezes nem dá. Eu até pouco tempo tinha cartão de crédito e conseguia parcelar algumas coisas. Minha televisão nova foi comprada assim. Mas fui roubada no fim de 2022 e levaram meu cartão, aí tive que cancelar e os bancos não fazem outro para mim porque sou velha”, diz Maria quando perguntei se o valor era suficiente para viver. 

Os familiares escassearam as visitas com o tempo. Maria diz que antes até conseguia visitá-los e fazer passeios sozinha, mas agora tem muita dificuldade de andar de ônibus por causa da idade e pouco sai. Conta que quando aposentou, chegava a pegar dois ônibus até o Parque Estadual do Jaraguá (32km ou 3 horas de ônibus), sentava-se em um banco e conversava com alguém que se juntasse a ela, ficava umas duas horas lá e voltava, sempre sozinha. Agora só o médico que é sagrado, toda semana está cuidando da saúde. “Toda semana vou no posto. Como sou velha, toda semana tem um médico diferente. É do olho, do coração e da diabetes. Esses últimos tempos minha filha quando me visitou achou que eu estava triste e fez eu contar para o médico, agora tomo mais remédio que o psicólogo passa”. Ela fala que entende a distância dos filhos é compreensível, o difícil é olhá-la e perceber que essa é uma coisa em que Maria não está sendo sincera consigo mesmo. 

Do outro lado da cidade, na zona leste, visitei a Casa de Clara. Inaugurada em 1996 para contribuir com o processo de envelhecimento ativo e saudável de idosos, a instituição franciscana recebe idosos de toda a cidade para compartilhar os dias com diversas atividades. 

Encontrei Dona Ritinha, que é a frequentadora mais antiga do projeto. Ela tem 72 anos e a mais de 10 participa do projeto. Ritinha conta que mora sozinha e recebe também um salário-mínimo de aposentadoria, ela conta que aproveita algumas oficinas da Casa de Clara para aprender a fazer coisas que podem lhe render uma “grana extra”. Meus vizinhos me falam: Vai trabalhar. Eles nem sabem que aqui eu já aprendi tricô que faço para vender, sabão que faço para vender e até bijuteria que faço e eles compram. Eu me divirto e ainda ganho dinheiro.”

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Dona Ritinha que é a frequentadora mais antiga da Casa de Clara, diz que muita coisa melhorou, mas ainda tem muita coisa a fazer. Foto: Vitória da Silva

Segundo ela era mora com o filho, mas esse trabalha viajando e fica meses sem aparecer. Fica a maior parte do tempo sozinha: “eu moro com meu filho. Ele trabalha viajando lá para os lados de Minas. Bem dizer eu nem vejo ele. Mas tudo bem, ele tem a vida dele e me ajuda quando pode.”.  

Lá também conheci o Sr. Tadeu, mais conhecido entre os frequentadores como “o namorador”. O idoso que frequenta o local a aproximadamente um ano e conta como aquelas atividades mudaram sua forma de viver a velhice. “Eu trabalhei por muito tempo como dirigente do Corinthians, quando me aposentei, meus filhos já estavam tudo criado e tinha suas famílias. Então eu encontrava meus amigos no bar para jogar dominó. Era jogando dominó o dia todo. Quando recebi um convite e vim para cá, no primeiro dia conheci a Miriam, aí a gente se conheceu melhor e estamos namorando desde então. Aqui é legal, até aprendi teatro, nem sabia que podia fazer um teatro”. 

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Sr. Tadeu sentado ao centro e contando as aventuras de sua vida. Foto: Victória da Silva

Nossa terceira visita foi o Instituto Melhor Idade Estação Vida, no baile da terceira idade. Senhores e senhoras de toda a São Paulo vão aos sábados para a reunião regrada a muita dança e paqueração. Lá conversei com um casal que se conheceu 8 anos antes no próprio baile. Vou manter o sigilo dos nomes e a pedido deles que dizem ser donos de seus próprios narizes, mas que a família não gosta de saber que frequentam o local. 

O homem do casal diz que é viúvo e que os filhos não moram em São Paulo, recorreu ao baile pois desde sempre gostou de dançar e logo nas primeiras paqueras conheceu a moça. A mulher disse que é “casada”, mas que não tem nada com o marido a muito tempo e descobriu no baile que não estava morta: “Estou viva querido, e só comecei a perceber isso depois que envelheci e comecei a vir aqui”.

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Desde 1995 o Instituto Melhor Idade Estação Vida, reúne pessoas na melhor idade para um dia muita dança e socialização. Foto: Matheus Assis

 

O Brasil está crescendo, e sua população de idosos cresce ainda mais rápido. Diante de todos esses relatos, o que fica bastante evidente é que precisamos pensar e falar sobre qualidade de vida na terceira idade. Porque assim como disse nossa entrevistada, eles estão  vivos e tem necessidades próprias de público. A solidão na terceira idade também é preocupante, aqui o interesse não é dar uma solução e sim propor um diálogo: Será que estamos pensando uma cidade para a nossa população mais longeva? 

 

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP. 

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Lucca Cantarim dos Santos
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06/06/2024 - 12h

Influenciados por conhecidos, buscando uma fuga da monotonia diária ou simplesmente curiosos, cada vez mais pessoas são agarradas pelos tentáculos do mundo das drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, foi o caso de Antônio Almeida, que no seu aniversário de 14 anos limpo, conta sua experiência com as substâncias.

Assim como muitas pessoas, as influências externas foram o principal fator para que ele começasse a usar drogas: “eu comecei a usar no embalo, pra fazer parte de uma galera [...] eu via os meninos da rua e parecia que era mais legal aquele estilo de vida, mas não tinha nada de errado na minha vida, eram coisas que eu colocava na cabeça”

Além disso, uma quebra de expectativa fez com que Antônio acreditasse que poderia se controlar e que não entraria em apuros: “Sempre ouvi em casa que droga mata, que quem usa droga é criminalizado. Mas da primeira vez que eu usei droga (álcool e maconha) nada disso aconteceu comigo, inclusive foi muito legal, dei risada, me socializei, consegui trabalhar no dia seguinte...” mas o que ele não esperava, é que a situação progredia: “Eu achava que podia usar só de vez em quando, em alguns eventos. Eu sempre falava na época que a droga não pode te controlar, você quem deve controlar a droga.”

No entanto, as coisas começaram a piorar quando ele percebeu que apesar de só fazer uso nos finais de semana, Antônio já passava seus dias na expectativa da sexta-feira, para poder usar as substâncias.

Teve sua primeira experiência com cocaína aos 19 anos, e se assustou após fazer uso excessivo em uma festa e misturar com bebidas destiladas, e inclusive conseguiu ficar até os 26 anos sem fazer uso dessa droga em específico, apesar de continuar fazendo uso da maconha e do álcool: “Aquela ilusão de que a droga não ia me controlar era só da boca pra fora, pra poder justificar meu uso, já que eu pagava minhas contas e trabalhava.”

Os tentáculos das drogas se estreitaram em volta de Antônio por volta dos 27 anos de idade: “Foi quando eu comecei a misturar a maconha com outras drogas... Isso dava uma sensação de alívio pra uma vida que por falta de responsabilidade minha já não era mais confortável, meus amigos que não usavam droga focaram em estudar fora, se especializar, e eu fiquei usando drogas.”

“Quando eu comecei a misturar a maconha assim, o fundo de poço veio primeiro.”, ele chegou ao ponto de se envolver com o crack e passar a noite fora de casa usando a droga, Antônio conta que só não chegou a morar na rua pois sua mãe o deixava usar dentro de casa. Além disso, confessa dolorosamente que chegou ao ponto de cometer pequenos furtos, como roubar diesel de caminhões para vender e comprar a droga. “Eu me tornei alguém que eu nunca imaginei ser, eu sou uma pessoa de boa índole! E ainda assim, no final do meu uso eu cometia pequenos furtos, são coisas que eu me envergonho de falar sobre, são coisas que eu jamais pensei que faria.”

A situação se tornou ainda mais triste, quando mesmo com filha pequena em casa, ele ainda estava, com suas próprias palavras, isolado em sua laje, saindo apenas para pegar mais drogas: “Eu tentava ser pai, e lembro que mamadeira dava sono, e como estava ansioso para que ela dormisse, tinham dias que eu dava 5 mamadeiras de leite quente pra ela, sem me preocupar se aquilo faria mal para a criança, minha preocupação era fazê-la dormir logo para poder me drogar em paz.”

Mas uma pergunta fatídica fez Antônio começar a repensar sua situação e refletir sobre uma possibilidade de mudança: “Me perguntaram qual era a coisa que eu mais amava no mundo, e sem pensar duas vezes eu disse que era minha filha, e o terapeuta virou pra mim e disse: resposta errada, a coisa que você mais ama na vida é a droga, lembro até de ter ficado indignado, de tentar debater com ele.” Foi essa sessão que o fez perceber que ficava mais ansioso pra sua filha dormir e ele poder se drogar, do que para a droga acabar e ele ficar com a filha. “Eu não era esse cara, a droga que me fez assim, eu faço o possível pra ser o melhor pai do mundo.”

É aí que começa a jornada para uma vida melhor, aos seus 30 anos, Antônio é cercado por seus melhores amigos, seus primos e sua mãe, e recebe uma escolha: “A gente pesquisou uma clínica pra você, juntamos 15 pessoas pra pagar sua internação, e seu contrato está aqui, mas você só vai se você quiser. [...] Lembro vividamente desse dia, a primeira coisa que eu pensei foi na minha filha... Eu nunca vi droga na minha casa e ainda assim me tornei nóia, se ela crescer com um pai assim, imagina o que vai ser dela? Eu não posso deixar isso acontecer.” Ele escolheu ir para a clínica, e chegou no ambiente no dia 18 de maio de 2010, o último dia em que fez uso de drogas.

“Eu passei seis meses internado, mas no momento que entrei, eu já tomei a decisão de nunca mais voltar a usar drogas. Eu sabia que tinha alguém cuidando da minha filha, alguém pagando minhas contas e muita gente se dedicando pra me dar esse tratamento, então eu não ia desperdiçar.” Apesar da experiência desanimadora de viver no ambiente, cercado de pessoas que iam e vinham da clínica, devido à discrepância entre pessoas que se mantinham em recuperação, e pessoas que recaíam, Antônio diz que já viu muita gente sair e voltar semanas depois, mas ainda assim se manteve motivado, e conseguiu receber sua alta.

As estatísticas no Brasil são tristes, segundo pesquisas da Organização Mundial da Saúde, cerca de 6% da população brasileira faz uso de drogas, contabilizando aproximadamente mais de 12 milhões de pessoas.

A situação fica ainda mais deprimente ao se analisarem os dados de recuperação e recaídas, segundo um artigo publicado no site Clínica Bella, cerca de 95% dos dependentes químicos internados em clínicas sofrem recaídas após sua liberação. É necessário amparo e muita força de vontade por parte da pessoa dependente para sair por completo das drogas.

E Antônio é um exemplo perfeito de força de vontade. Após sair da clínica, uma frase ressoava em sua mente, ele não podia dar férias pro vício, seu tratamento nunca acabaria, e foi com isso na cabeça que ele buscou uma reunião de uma irmandade anônima de 12 passos, frequentando as reuniões até hoje: “Eu acredito que é frequentando o maior número de reuniões possível que eu consigo me manter limpo só por hoje, como costumamos dizer lá, há 14 anos. Hoje é um dia muito especial pra mim, é meu aniversário de 14 anos limpo, costumo comemorar esse dia mais do que meu aniversário, pois o dia que eu nasci eu não escolhi, mas hoje eu escolhi.”

Atualmente, Antônio continua frequentando as reuniões anônimas e se mantendo completamente afastado de qualquer droga, trabalha em dois empregos, faz trabalhos sociais, está casado há 10 anos e procura sempre ser o melhor pai possível para sua filha. “Eu sei que pra esse sucesso continuar, é preciso continuar a fazer minha parte, pra mim é uma alegria falar que apesar das estatísticas não serem animadoras, é possível viver sem drogas e se recuperar.”

 

*Os nomes nessa reportagem foram alterados para preservar a identidade e anonimato do entrevistado.

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP. 

 

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Passado quase um ano, liderança indígena Yanomami fala sobre atual momento de seu povo, após Ministério da Saúde declarar Estado de Emergência de Saúde Pública na região
por
Artur Maciel
Bianca Abreu
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23/11/2023 - 12h

 

Em 20 de janeiro deste ano, o território Yanomami foi declarado em Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pelo Ministério da Saúde brasileiro. Concentrados em uma região Amazônica entre o Brasil e a Venezuela, com cerca de 30,4 mil habitantes, Yanomamis sofrem com a intensa atividade de garimpos ilegais no local. Epidemias - como gripe e malária - insegurança alimentar, morte sistemática de crianças indígenas e destruição do meio ambiente são provenientes das ações dos extrativistas na região.

Em entrevista por telefone ao repórter Artur Maciel, da Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi) e representante do Conselho de Saúde Indigena (SESAI), Júnior Hekurari Yanomami, fala sobre a importância da atuação do poder público no combate ao genocídio provocado pela extração ilegal de minérios.

 

Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental
Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental

 

“A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”. Júnior Hekurari Yanomami

A fim de combater a desassistência sanitária no território Yanomami, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami) - cuja gestão está sob a responsabilidade da SESAI. Segundo a pasta, ao chegar na terra Yanomami, o órgão “se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”.

“Durante 6 meses, muita gente voluntária. Médicos. Enfermeiros. Farmacêuticos. De São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba”, explica Júnior Hekurari, quando questionado sobre o suporte atual na região após declarada crise sanitária. “A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”.

Segundo ele, “antes não tínhamos uma visão, apenas medo. O garimpeiro poluindo nossas terras. Nossas águas. Interrompendo nossos rituais. Culpa do governo ladrão de jóias. As crianças voltaram a brincar e andar depois das ações”. “Eu tinha medo do povo morrer. Sem o Lula, o povo Yanomami ia morrer. Em 2020, 2021, 20 mil garimpeiros destruíram nossas vida” desabafa, citando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a atuação do Estado na crise humanitária. Mas pontua com veemência que “ainda tem muita coisa a melhorar”.

Quando perguntado sobre como era tratado o impacto ambiental na região, em relação ao lixo gerado pela atividade garimpeira, o presidente do Condisi declara que “os garimpeiros não respeitam. Desmatam e tiram a terra de nossa vida”. “Durante 4 anos, fomos abandonados pelo governo brasileiro. Por um governo ladrão de jóias. Agora o governo voltou e os profissionais de saúde estão apagando o fogo das emergências pensando em uma restauração”, completa. Ele se refere ao governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que não raras vezes, ao longo de sua vida pública, legitimou publicamente as atividades ilegais dos garimpos.

 

Doença, fome e violência: genocídio em prática

As doenças, a insegurança alimentar, a violência e a morte passaram a fazer parte do cotidiano dos Yanomami diante da negligência do Estado em frear a extração indevida de minérios na região. De acordo com levantamento do Malária Journal, o aumento do número de casos de malária - causa recorrente de mortes de crianças indígenas - na região Yanomami saltou de 2.559, em 2010, para 18.765, em 2020. Sobre a presença da doença na região, o representante da Sesai afirma que a doença contamina até mesmo quem vai em seu combate. “Muitos dos médicos 'adoeceu'. Pegou malária e voltaram (para casa)”, conta. “Mas o importante é que a maioria 'desse' profissionais viram Roraima. Viram o Brasil!”, completa, demonstrando, em sua voz, um misto de preocupação pela saúde dos profissionais e esperança diante da visibilidade à situação de seu povo.

Outro aspecto da presença dos garimpeiros na região é o acúmulo de lixo nas proximidades das comunidades. Por conta disso, os indígenas locais entram em contato com elementos provenientes de fontes aquém da natureza - produzidos com materiais que não se reintegram àquele território. Pelo contrário, o desequilibram e o prejudicam. “Hoje tem lama em todo lugar, os garimpeiros deixaram lixo em todo lugar. Máquinas, latas e lixo”.

O que nos leva a outro problema que compõe esse efeito dominó no descaso com a saúde Yanomami: a fome. A alimentação indígena é, primordialmente, garantida pela natureza por meio da caça, pesca e consumo de frutas. Diretamente afetada pelo uso de mercúrio no garimpo, a água foi contaminada. Com isso, peixes mortos, impróprios para consumo, perdem-se nos rios onde a atividade garimpeira está. “O garimpo destruiu nossos rios. Nossas vidas. As mulheres não iam pescar. Não tinha peixe nem camarão para comer. Mataram tudo, não tinha alimento”, aponta Junior. E questiona, em seguida: “que dia vamos voltar a comer peixe? Voltar a comer camarão? O povo não tem”.

Além da malária e da fome, os indígenas ainda precisavam se proteger de outro perigo. Júnior Hekurari Yanomami denuncia que os crimes cometidos pelos garimpeiros também se estendem à violência sexual. Deixando, ainda mais evidente, o risco que a presença desse grupo não-indígena e extrativista provoca na população local. “O que aconteceu aqui foi muito traumático. Meninas de 12 anos grávidas. Estupradas por garimpeiros. Estamos agregando trauma de mães com luta dos filhos. Deram tiros nas crianças”, expõe a liderança. “Destruíram meu povo. Tem cicatrizes grandes até hoje e vai demorar para curar. Talvez em 50 anos. Quem sabe se cura”, conclui, reflexivo.

 

*Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

Os centros acadêmicos mobilizaram um ato de paralisação do corpo estudantil, com apoio da bateria Psicolata e de professores, para reclamar os direitos de formação na Reitoria e em frente à Fundasp
por
Artur dos Santos
Giuliana Zanin
João Curi
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20/10/2023 - 12h

Na última quarta-feira, 18, estudantes e professores dos cursos de Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Engenharia Biomédica da PUC-SP se mobilizaram contra o bloqueio dos estágios nos equipamentos de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) para o próximo ano. Em nota informativa, formalizada pela Comissão Aberta sobre os Estágios no SUS, estudantes independentes lideram a reivindicação de acesso, com apoio do corpo docente - com direito a aula pública - e a presença de figuras políticas no ato. 

 

É nosso dever reivindicarmos nossos direitos de formação, que é o estágio no SUS, [...] é nosso dever garantir, através da luta política, investimentos pesados em saúde, seguridade social e um ensino popular, pensado pela e para a classe trabalhadora”, declara a Comissão Aberta, em nota.

 

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Alunos dos cursos de saúde da PUC-SP se reuniram na prainha. Foto: Giuliana Zanin

 

Enquanto ecoavam “A nossa luta é todo dia, o nosso estágio não é mercadoria”, os manifestantes estenderam faixas e cartazes em frente ao prédio da Fundasp e também ocuparam a Reitoria da universidade. 

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Os universitários protestam contra a precarização da educação e do sistema de saúde. Foto: Giuliana Zanin

O problema foi gerado a partir de um impasse entre a PUC-SP e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quanto às contrapartidas oferecidas por instituições de ensino ao órgão. Apesar da entrega de R$176.162,23, a Secretaria determinou que a PUC-SP, por ser uma universidade privada,  deveria pagar R$306.000,00 em materiais e equipamentos hospitalares. A medida vai contra o que normalmente é requisitado de instituições filantrópicas, como é o caso da Pontifícia. 

 

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Estudantes se concentram em frente à Fundação São Paulo (Fundasp). Foto: Giuliana Zanin

Numa tentativa de negociação, a Universidade promoveu a ampliação dos serviços acadêmicos, incluindo disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos de educação continuada, além de eventos e projetos educacionais. O objetivo é atender aos requisitos da Escola Municipal de Saúde/SMS, responsável pela promoção dos estágios dos cursos focados no segmento.

Segundo  o atual presidente do Centro Acadêmico de Psicologia (CAPSI), André Sanches, o bloqueio de estágios no SUS é parte de um projeto maior de precarização da saúde pública, que visa colocar o ensino em uma lógica mercantilizada. Para ele, isso “vai contra tudo que nós defendemos aqui na PUC”. O estudante também afirmou à Agemt que a mobilização estudantil no ato representa a urgência do assunto e o descontentamento com o atual ritmo das negociações por parte da Reitoria e da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP.

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Os estudantes percorreram as ruas de Perdizes com cartazes e cantos de união. Foto: Giuliana Zanin

A presença de preceptores nos estágios de psicologia também é uma problemática reivindicada pelos estudantes. No início deste ano, os estágios do curso passaram a ser obrigatoriamente acompanhados por preceptores - que atuam na supervisão das sessões realizadas por estagiários -, sob ameaça de processo aos administradores que não os incluíssem em seus turnos. Além disso, os estudantes reclamam da perda de autonomia e da interferência nos métodos utilizados no acompanhamento de pacientes na e condução de casos.

A assessoria de comunicação da PUC encaminhou a reportagem para a Direção da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde (FCHS) da universidade, que declarou em nota ter retomado as negociações com a Secretaria Municipal da Saúde.

"Informamos que reestabelecemos, com bom entendimento, o contato com a Prefeitura Municipal de São Paulo e Secretaria Municipal de Saúde e, ao longo da próxima semana, teremos reuniões para solucionar a questão dos estágios nos campos da SMS".

Procurada, a pasta municipal não respondeu até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para a SMS. 

Conheça a síndrome que abrange 1% da população e ainda é vista sob olhares preconceituosos e capacitistas.
por
Luísa Ayres
Manuela Dias
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24/05/2023 - 12h

A Síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsiquiátrico que foi descoberto em 1825 pelo médico francês Jean Marie Itard, depois do acompanhamento de uma jovem que manifestava tiques vocais e físicos desde a infância.

Dentre os sinais que sugerem o diagnóstico da síndrome estão piscar de olhos com frequência, caretas, encolher os ombros e até mesmo xingamentos compulsivos e atitudes mais violentas, como bater no próprio peito, rosto ou quebrar coisas em sua volta. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a síndrome de Tourette é considerada rara e atinge cerca de 1% da população.

O mestre em neurologia pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e neurologista infantil do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, Lucas Alves, comenta sobre as causas que levam a síndrome. As causas da Tourette não são 100% conhecidas, mas pesquisas recentes sugerem a existência de componentes genéticos, doenças psiquiátricas, transtorno do espectro autista (TEA) e anomalias em neurotransmissores cerebrais como os principais fatores para o desenvolvimento da Tourette”, explica Alves.

De acordo com o neurologista, os primeiros sintomas são perceptíveis antes da fase adulta, tipicamente entre os 4 e 6 anos, com picos maiores na adolescência. Para que a síndrome seja diagnosticada, os médicos consideram a escala de tiques dividida em 3 categorias pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th edition (DSM-5).

“Os pacientes apresentam tiques motores e orais, não é obrigatório ter os dois ao mesmo tempo, mas para receber o diagnóstico é preciso que os movimentos involuntários estejam se manifestando em um período acima de um ano”, diz o especialista. Após o diagnóstico clínico, os pacientes são encaminhados para o acompanhamento psicológico, onde possíveis fatores emocionais que estejam influenciando na aparição das crises serão identificados e compreendidos.

Outra maneira de tratamento é o uso de medicamentos controlados que regulam a serotonina e a dopamina, dois neurotransmissores que desempenham diversas funções no corpo, colaborando para que todo o organismo funcione adequadamente.

É importante ressaltar que a manifestação desses tiques é involuntária, fugindo do controle de quem convive com a síndrome em seu dia a dia. Segundo o Manual para Profissionais de Saúde, os tiques podem diminuir quando os pacientes estão envolvidos em tarefas, o que leva muitas pessoas com a síndrome a buscar atividades que gostem muito como forma de escape e alívio.

No Brasil, o dia 7 de junho é marcado no calendário como uma forma de conscientizar a população acerca da existência da síndrome.

"É tudo muito difícil"

Para Juliana Portugal, influencer digital com mais de 68 mil seguidores no Instagram e mais de 300 mil no Tik Tok, esse refúgio é a dança. Diagnosticada com a síndrome de Tourette aos 15 anos de idade, ela conta que pela falta de contato com neurologista, recebeu o diagnóstico através de seu psiquiatra, de maneira rápida, já que seus sintomas são bastante perceptíveis. “A minha vida mudou em um nível absurdo. Eu era jogadora de vôlei, era jogadora de futebol e tudo mudou. Eu não consigo segurar um copo de vidro direito, um garfo, uma faca”, relata a influencer. 

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Juliana reúne milhares de fãs em suas redes, retratando o dia a dia da síndrome sem romantização, mas com sorrisos e acolhimento / Reprodução: envio via WhatsApp.

Ainda assim, Portugal afirma que ter acesso a um convênio de saúde com atendimentos particulares foi um grande facilitador, sobretudo pela falta de assistência do sistema público de saúde. “Para síndromes como essa você não pode procurar qualquer profissional. Você tem que procurar um profissional especialista naquilo ou que já trabalhou com aquilo”, comenta a jovem.

A mãe de Juliana explica que a influencer chegou a tomar medicamentos para controle dos tiques. E apesar da medicação, outros problemas passaram a se manifestar. Isso porque, além da Síndrome de Tourette, Juliana também convive com os desafios do Distúrbio Neurológico Funcional (DNF), que pode provocar desmaios e até convulsões.

Capacitismo, exclusão e violência

Bullying na escola, ser expulsa de lojas e de banheiros públicos são alguns exemplos das situações preconceituosas e capacitistas as quais Juliana Portugal foi submetida desde as primeiras manifestações da síndrome. “Já aconteceu de gente me xingar, mostrar o dedo do meio pra mim", relata com indignação. Além disso, ela também conta que na escola, os outros alunos colocavam o pé em sua frente e a empurravam para que caísse. Depois, pediam perdão de maneira irônica e diziam que também tinham tique.

As barreiras não vinham apenas dos colegas de sala, mas também do próprio método de ensino e da pouca experiência dos professores com alunos com a síndrome. Portugal conta que os educadores a ajudavam com as provas, mas que não tinham preparação para lidar com os seus tiques. “Eles chamavam muita a minha atenção porque eles achavam que eu quem queria chamar a atenção dos outros alunos pra conseguir amigo”, diz a influenciar. Os professores também não deixavam que ela saísse de sala para se acalmar ou aliviar a ansiedade e o estresse que poderiam piorar as suas crises.

Além das dores e preconceitos, a exclusão também foi um desafio durante muito tempo na vida de Juliana, o que começou a mudar após conhecer pessoas que a compreendessem verdadeiramente. “Amigos na escola eu não tinha, até o momento que eu fui internada. Quando eu fui internada, eu consegui fazer amigos que me entendiam por que eu os entendia também”, conta a jovem, que já foi internada 8 vezes em um período de 3 anos.

“Quando eu tentava fazer amizade, as pessoas achavam que eu estava zuando com a cara delas, fazendo brincadeira. Mesmo que eu falasse que tenho a síndrome de tourette, diziam que eu estava inventando para arrumar alguma desculpa”, completa.

A influencer também falou sobre o impacto da síndrome em seus relacionamentos. “Sempre foi muito difícil porque eu tinha desmaio, tinha conversão (reação física ao estresse) e era muito tique. Atrapalha mesmo, mas eu nunca me deixei abalar, nunca pensei que não fosse arranjar ninguém na vida porque tenho Tourette. Eu vou arranjar a pessoa certa no momento certo”, garante. “É importante para pessoas que querem ter uma relação amorosa e tem certas síndromes que aceitem a si mesmo primeiro. Eu só consegui lidar com esse negócio de amor e amizade quando eu me aceitei”, afirmou.

"Ninguém vai me parar"

Juliana Portugal - 2
Juliana aparece na foto usando o cordão que caracteriza pessoas com alguma deficiência não identificável fisicamente / Reprodução: envio via WhatsApp

Estudiosa, inteligente e esforçada, Juliana conta que aprendeu línguas nórdicas da Escandinávia sozinha. “Quando eu quero alguma coisa, eu sou capaz de fazer tudo. Nem a Tourette, nem a DNF, nem ninguém vai me parar”, ressalta.

A mãe de Juliana conta que após a mudança de escola, muitas coisas melhoraram, já que agora em sua escola atual os professores têm procedimento para atender alunos com Tourette. Ainda assim, para ela, estudar sozinha com videoaulas ou leituras individuais é muito mais confortável. No entanto, Juliana precisou trancar a matrícula para passar por mais uma internação.

Tourette e a mídia

Artistas como a cantora Billie Eilish, o ex participante do Big Brother Brasil e lutador Cara de Sapato e o cantor Lewis Capaldi também têm a síndrome - e não fazem mais questão de a esconder da mídia ou do resto do mundo. Para Juliana, isso é muito importante.

“A pessoa não se expõe, ela simplesmente se abre. Quando você fala de uma deficiência que você tem, você não está se expondo, você está se abrindo e é muito bom isso pra você (...) Isso alivia a gente”, conta a influencer.

“A Billie Elish fala em uma entrevista que ela tinha vergonha e que as pessoas riam do Tourette dela e você vê hoje ela no show rindo dos tiques. Ela mudou muito por causa da internet, então sim a internet é importante para quem tem Tourette e outras doenças”, comenta. A jovem destaca, no entanto, o lado negativo das redes sociais, relembrando que  excluiu diversos vídeos pela quantidade de ataques que recebia. Hoje, ela garante que não se deixa abalar pelos comentários ruins – que não são mais a maioria.

Nas suas redes, Juliana Portugal compartilha vídeos de danças, maquiagens e relatos das situações que passa em seu dia a dia, sem romantizar seu cotidiano, mas sempre de maneira muito aberta, sincera e humanizada. 

Para acompanhar e conhecer mais sobre Juliana Portugal, siga sua conta no Instagram (@julianaportugaall) e no Tik Tok (juliana portugal) / Reprodução: Instagram.
Para acompanhar e conhecer mais sobre Juliana Portugal, siga sua conta no Instagram (@julianaportugaall) e no Tik Tok (juliana portugal) / Reprodução: Instagram.

 

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Decisão do órgão considerou a redução no número de casos e de mortes pela doença.
por
Mohara Ogando Cherubin
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05/05/2023 - 12h

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (PHEIC) para a Covid-19, encerrando o mais alto nível de alerta da OMS para uma doença, mantido para a pandemia de Covid-19 desde 2020.

A decisão foi anunciada após a 15ª reunião do Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional (RSI), que revisou o quadro e concluiu que no momento atual, o mundo vive um problema de saúde estabelecido e contínuo. A prova disso é a queda de casos e hospitalizações pela Covid-19. O alto índice de população vacinada contra a doença foi um dos fatores considerados para a decisão.

De acordo com a OMS, já foram aplicadas mais de 12 bilhões de doses das vacinas disponíveis contra a doença, e 89% dos profissionais de saúde, além de 82% dos adultos com mais de 60 anos completaram o esquema inicial com duas doses. Desde o início da pandemia, foram registrados 765 milhões de casos e 6,9 milhões de mortes.

No início da reunião sobre o status da emergência, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, destacou a importância de que os cuidados em relação ao vírus não sejam abandonados. “Estamos todos cansados ​​desta pandemia e queremos deixá-la para trás. Mas esse vírus veio para ficar e todos os países precisarão aprender a gerenciá-lo junto com outras doenças infecciosas", disse.

O diretor-geral ressaltou o cenário que permitiu o fim da emergência. “Por mais de um ano, a pandemia está em tendência de queda, com aumento da imunidade da população por vacinação e infecção, diminuição da mortalidade e diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde. Essa tendência permitiu que a maioria dos países voltasse à vida como a conhecíamos antes da Covid-19”, afirmou.

No anúncio, Adhanom ressaltou que a pandemia da Covid-19 ainda não está encerrada de fato. “No entanto, isso não significa que a Covid-19 acabou como uma ameaça à saúde global. Na semana passada, a doença tirou uma vida a cada três minutos – e essas são apenas as mortes que conhecemos. Enquanto falamos, milhares de pessoas em todo o mundo estão lutando por suas vidas em unidades de terapia intensiva. E outros milhões continuam a viver com os efeitos debilitantes da condição pós-Covid-19”, completou o diretor-geral.

A OMS destaca que existem evidências de redução dos riscos à saúde impulsionados pela alta imunidade da população devido à infecção natural e à vacinação. Juntos, esses fatores contribuíram para um declínio global significativo no número semanal de mortes, hospitalizações e admissões em unidades de terapia intensiva relacionadas à doença desde o início da pandemia.

Conforme a OMS "Embora o SARS-CoV-2 continue a evoluir, as variantes atualmente circulantes não parecem estar associadas ao aumento da gravidade".

Tedros Adhanom convocará um Comitê de Revisão do Regulamento Sanitário Internacional para aconselhar sobre as recomendações permanentes para o gerenciamento de longo prazo da pandemia, levando em consideração o Plano Estratégico de Preparação e Resposta à Covid-19 2023-2025.

O que se modifica com a mudança de status da pandemia ?

Com o fim da emergência internacional, a OMS divulgou recomendações para que os países mantenham a vigilância e fortaleçam seus sistemas de saúde, inclusive para ter o devido preparo para futuras pandemias.

Entre as recomendações, estão:

- Incluir a vacinação contra a Covid-19 nos programas de imunização ao longo da vida.

- Estabelecer planos de preparação contra pandemias de doenças respiratórias.

- Restaurar programas de saúde impactados pela pandemia de Covid.

O que seria a classificação de emergência global ?

Em 30 de janeiro de 2020, seguindo as recomendações do Comitê de Emergência, o diretor-geral da OMS declarou que a Covid-19 constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (PHEIC). A OMS declarou que a emergência causada pelo coronavírus atingiu o patamar de uma pandemia no dia 11 de março de 2020.

De acordo com o Regulamento Sanitário Internacional, de 2005, a classificação é definida como “um evento extraordinário determinado a constituir um risco de saúde pública para outros Estados através da disseminação internacional de doenças e que potencialmente requer uma resposta internacional coordenada”.

De acordo com Tedros Adhanom, a declaração de fim da emergência global destaca que o mundo entra em um momento de transição sobre os cuidados em relação ao coronavírus. “A pior coisa que qualquer país pode fazer agora é usar esta notícia como um motivo para baixar a guarda, desmantelar os sistemas construídos ou enviar a mensagem à população de que a Covid-19 não é motivo de preocupação", alerta Adhanom.

O diretor-geral ainda afirma que, se necessário, o Comitê de Emergência poderá ser convocado novamente caso a doença represente um risco global. “Decidi usar uma disposição do Regulamento Sanitário Internacional que nunca foi usada, para estabelecer um Comitê de Revisão para desenvolver recomendações permanentes de longo prazo para os países sobre como gerenciar a Covid-19 de forma contínua”, detalhou.

Mundialmente, mais de 2,5 milhões de novos casos e quase 17.000 mortes foram relatados nos últimos 28 dias avaliados pela OMS, que engloba o período de 3 a 30 de abril. Os índices representam uma queda de 17% e 30%, respectivamente, em comparação com os 28 dias anteriores (6 de março a 2 de abril).

No Brasil, os dados semanais mais recentes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) apontam que entre os dias 23 e 29 de abril foram registrados 38.553 casos e 339 óbitos pela doença no país.

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O avanço de estudos sobre o uso de substâncias psicodélicas em tratamentos médicos e psiquiátricos
por
Rodrigo Marques e Guilherme Carvalho
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02/05/2023 - 12h
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Para 2023 as metas estão mais altas e profissionais da saúde já alertam sobre as doenças desta época do ano.
por
Maria Fernanda Müller
Leonardo de Sá
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25/04/2023 - 12h

Na segunda-feira (10), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) iniciou a campanha de imunização contra o vírus Influenza em todos os 645 municípios do Estado de São Paulo. Segundo as informações liberadas pelo site da Secretaria, este ano é diferente dos anteriores, pois não haverá escalonamento do público prioritário. Sendo assim, cerca de 18,4 milhões de paulistas estão aptos a serem imunizados desde o primeiro dia da campanha. 

Por enquanto, o Ministério da Saúde enviou mais de 5 milhões de doses para o início da campanha. Essas doses foram distribuídas pelo Estado e já é possível aplicá-las na população prioritária.

O grupo prioritário é composto por idosos com 60 anos ou mais, crianças entre 6 meses e 5 anos, gestantes, pessoas em período do puerpério (até 45 dias após o parto), pessoas com imunossupressão e povos indígenas.

Desde do dia 17 deste mês, a aplicação foi liberada para as outras pessoas que compõem os grupos prioritários, profissionais da saúde e da educação, pessoas com deficiência permanente e comorbidades, profissionais de transporte coletivo, portuários, forças de segurança e salvamento, forças armadas, profissionais do sistema prisional, população privada de liberdade e adolescentes em medidas socioeducativas. 

Em entrevista, o médico infectologista do Hospital das Clínicas (HC), Evaldo Stanislau, afirma que o Influenza é um vírus agressivo que pode levar à pneumonia viral grave, sobretudo em pacientes mais vulneráveis como idosos e portadores de doença crônicas. Segundo o infectologista, “Além disso abre as portas para complicações bacterianas igualmente severas, como as pneumonias. Causa ainda um absenteísmo importante. A vacina reduz efetivamente essas situações e, dessa forma, é essencial!”

O ano em que a campanha contra Influenza teve maior adesão foi em 2020, quando atingiu uma cobertura vacinal de 92,5%, e desde então ainda é a maior porcentagem. Em 2023, o plano é alcançar o número de três anos atrás. Assim, a meta é de 90%, uma expectativa alta apesar das baixas coberturas que ocorreram em 2021 (55,5%) e em 2022 (69%). 

Além disso, profissionais de saúde já alertam que o outono traz variações de temperaturas, tempo seco e aumento da poluição, ou seja, é uma época propícia à contração de doenças respiratórias típicas da estação.

“Nesta temporada temos maior incidência de doenças respiratórias, como é o caso da gripe, causada pelo vírus Influenza, que pode apresentar sintomas como febre alta, tosse, coriza amarelada, dor no corpo e perda de apetite", conta o supervisor da UTI Pediátrica do Hospital Infantil Cândido Fontoura, Dr. Marcos Alvo. “Há também o resfriado, causado pelo Rinovírus, Boca vírus, entre outros, e que causa espirros, coriza clara e febre baixa”, finaliza. Os mais frequentes são gripes, resfriados, sinusites, bronquites, bronquiolite, crises de asma e pneumonias. 

Para isso, as unidades de Pronto Atendimento, os hospitais e outras redes de saúde já estão preparados para receber pacientes que tiverem febre persistente, dificuldades respiratórias graves, entre outros sintomas. Qualquer um que apresente algum sintoma insistente deve procurar um especialista. Além disso, há casos em que o quadro evolui para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causando principalmente insuficiência respiratória passíveis de internação. Consequentemente o paciente fica dependente do suporte de oxigênio.

A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológico (CVE), Tatiana Lang D’Agostini, destaca a importância de se conscientizar sobre a vacinação contra a gripe também, pois essa é uma época do ano em que há inúmeros fatores que contribuem para o contágio por Influenza.

“É de suma importância que a população compareça aos postos para se imunizar contra a gripe, principalmente crianças e idosos, que são os grupos mais sensíveis à síndrome gripal e que pode evoluir para casos graves.”, enfatiza a diretora.

O dr. Evaldo Stanislau reforça algumas medidas para aumentar o índice de vacinação. Segundo ele, o mais importante é o desempenho do canal comunicativo entre cientistas e médicos com o público. “Precisamos nos comunicar de forma clara, com linguagem simples e sem o tom professoral da academia. Como cantou Milton Nascimento, todo artista tem de ir aonde o povo está", cita o médico. “Ou seja, adaptando, toda informação científica deve ser veiculada pelos profissionais de saúde, muitos com o dom da comunicação, por todas as maneiras possíveis.” finaliza ele.

Evaldo também fala brevemente sobre a luta contra as fake news. “Se ficarmos presos ao puritanismo da comunicação acadêmica, perderemos essa guerra para as fake news. Porém as consequências dão-se no mundo real e impactam os indicadores da saúde.”

Além disso, o médico diz ser importante haver acessibilidade. É necessário que os postos fiquem abertos em terceiro turno para atender quem trabalha, levando em consideração que idosos dependem do apoio de alguém. Essas medidas facilitariam a adesão. 

Os imunizantes estão disponíveis em Unidades Básicas de Saúde (UBS), esses postos de vacinação funcionam de segunda à sexta das 7 horas até as 19 horas. 



 

 

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Cerveja pode ser uma aliada da saúde
por
Vitor Simas
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25/11/2022 - 12h

Por Vitor Simas Ribeiro Costa

Uma pesquisa realizada pela na Universidade Milano-Bicocca na Itália revela que beber cerveja pode reduzir o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas, como demência e Alzheimer ao longo da vida.  Segundo o estudo publicado na revista ACS Chemical Neuroscience no final de outubro, um componente por trás do amargor dessas bebidas impede a aglutinação de proteínas ligadas ao Alzheimer. A doença começa quando o acúmulo de proteínas anormais causa a morte de células nervosas no cérebro humano.

O componente responsável por impedir que isso aconteça está nos extratos de flores de lúpulo, presente na grande maioria das cervejas. Essas plantas têm antioxidantes naturais que podem proteger as células do corpo, ajudando na redução de aglomerados tóxicos que poderiam ser marcadores do desenvolvimento de Alzheimer 

Isso quer dizer que devemos promover o consumo de cerveja?

Deve forma alguma. O estudo não afirmou que o consumo de cerveja ajuda na prevenção do Alzheimer, o estudou testou o efeito do lúpulo – que é um componente da cerveja, porém in vitro, usando uma espécie de verme chamado C. Elegans. Aponta a cientista Gabriela Bailas em análise feita em seu próprio Instagram. Ou seja, a cerveja não está diretamente ligada na prevenção de nenhuma doença neurodegenerativa, aliás o teor alcoólico presente na bebida faz com tenham mais malefícios do que benefícios à saúde. O consumo excessivo leva a reduções significativas no rendimento cerebral.  As descobertas não sugerem que o consumo de cerveja deve aumentar, mas que extratos da planta podem entrar em outros alimentos para reduzir o risco de doenças neurodegenerativas. 

 

 

 

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