A pandemia trouxe um novo olhar crítico para questões ambientais e sociais. 70% das doenças modernas têm origem animal, e com a Covid-19 não foi diferente. O vírus se espalha muito mais fácil onde existem animais em confinamento, sem higiene, doentes e mal cuidados - características de uma enorme parte do setor agropecuário atual.
Infelizmente, há um enorme motivo para que o consumo tenha caído tanto nesse último ano: o aumento do preço da carne e a junção ao baixíssimo auxílio emergencial. Mas também existe o lado da conscientização, onde o vegetarianismo alcançou racionalmente uma parte da população. Curiosa sobre o que motivou as pessoas a transitarem para o vegetarianismo (e suas variações), entrevistei mãe e filha que, juntas, tornaram-se veganas da noite para o dia. Claudia Chaves, de 40 anos, aos 24 havia tentado parar de comer carne animal. “Eu assisti o filme “A carne é fraca”, e caiu a ficha de que o animal que comemos, é o animal que tanto amamos. Fiquei super impactada e a partir daquele dia eu e meu marido paramos de comer carne. Ficamos assim durante 3 anos. Aí engravidei e voltei com a carne, não sei o porquê. É aquela coisa né, fechamos os olhos para uma realidade que já sabemos que existe”, refletiu a bióloga.
Foi sua filha Leticia, de 21 anos, que a fez retomar ao veganismo. “Há um ano estávamos aqui em um almoço em família e minha filha chegou com a proposta de não comermos mais carne. Rapidamente meu filho mais novo já aderiu e apoiou, meu marido também, e fomos todos juntos”, relembra Claudia.
A tecnologia é, com certeza, o recurso responsável pelo aumento de vegetarianos no Brasil. “Eu parei com a carne por conta da internet, por conta do conteúdo que eu comecei a consumir no Instagram, pelos documentários que eu comecei a assistir, podcast que comecei a ouvir. Os documentários foram essenciais para apertar o gatilho e pensar “preciso sair da minha zona de conforto”, relatou Sofia Vieira, estudante de 21 anos.
Com certeza não era fácil o acesso à informações que hoje temos a qualquer instante, principalmente por dois motivos: políticos e monetários. Nunca foi vantajoso falar sobre o consumo excessivo de carne e todos os problemas decorrentes. Mas o que fazer quando a tecnologia expõem fatos com cenas reais e chocantes? A resposta é uma só: aceitar a realidade. Monetizar o movimento, fazer com que os maiores frigoríficos do país lancem produtos vegetarianos, mesmo sem intenção alguma de parar com o sofrimento animal. O capitalismo ergueu um vegetarianismo elitizado e caro, polarizando o movimento ao invés de mostrar que ele é, na verdade, um só. “O veganismo só é caro industrializado, e o movimento é o oposto disso! Só conseguimos entender depois de receber tanta informação que não recebíamos antigamente. Até no nosso ciclo social, que amigos e conhecidos vão postando umas coisinhas, comentando, e assim nós conseguimos disseminar o movimento. E é muito legal consumir esse conteúdo”, conta Leticia Chaves.
Na disputa das redes sociais, no quesito vegetarianismo quem ganha é o Instagram. "Eu passei dias e dias testando receitas, sigo vários perfis incríveis que me ajudaram no que hoje em dia é completamente intuitivo. Tudo que na minha primeira transição foi difícil, nessa foi fácil por conta da internet. Com o tanto de filmes e documentários informativos que temos, é impossível não sensibilizar com a causa. Que seja pelo bem estar animal, questão ambiental ou de saúde, o número de veganos e vegetarianos está aumentando muito graças a isso!”, finaliza Claudia.
A tecnologia não se destaca somente com as redes sociais, mas com a indústria alimentícia também. Hoje em dia são inúmeras as marcas que produzem carnes vegetais idênticas à animal, e não só do setor agropecuário, mas também marcas originalmente veganas, como a Fazenda do Futuro. Infelizmente, são produtos caros que estetizam o movimento, mas com o avanço tecnológico não deve demorar para que todos tenham acesso a esses novos (e revolucionários) alimentos. Mas enquanto isso não acontece, quantos vegetarianos teremos até o planeta entrar em colapso?
Com a revolucionária proposta de conectar pessoas pela voz, os empresários da tecnologia, Paul Davidson e Rohan Seth lançaram, em abril de 2020, o Clubhouse – um aplicativo ousado e inovador repleto de salas de bato papo para os usuários debaterem temas diversos. Desde então uma aura de mistério e empolgação se formou em volta desta rede social, que hoje conta com mais de 1 milhão de participantes.
Seu modo de funcionamento é relativamente simples. Aquele que se cadastrar pode agir de duas maneiras: como listener, que são os ouvintes, ou como speakers, moderadores da sala – divididos entre comentaristas e apresentadores.
Contudo, existem ainda restrições para se ingressar no aplicativo. Replicando uma tradicional estratégia de Marketing digital, já usada pelo Instagram e pelo Pinterest, o Clubhouse está disponível para quem receber o convite de algum outro participante da rede. Usuários de Android e outros softwares de smartphones ficam de fora da “brincadeira” que, por enquanto, permite apenas a entrada de detentores de Iphone. Métodos como este servem para testar o funcionamento e a adaptabilidade dos novos participantes. Mas soam, aos olhos da população, como um entrave elitista, já que um aparelho da Apple – o mais recente – custa em torno de R$ 6.000.
Nos primeiros dias em que esteve “no ar” um grupo bastante heterogêneo discorria sobre os impactos da Covid-19 no sistema carcerário – reunindo MCs, comentaristas políticos e Empresários. Esse é um dos muitos atrativos desta rede social: juntar pessoas com pensamentos e opiniões distintas para travar debates numa era em que somos engolidos pela homogeneidade das bolhas.
Um desses eventos – e que ajudaria a impulsionar a popularidade do Clubhouse – foi a conversa entre o Bilionário da tecnologia, Elon Musk – dono da Tesla e da Space X – e o CEO da Robinhood, aplicativo de investimentos que, no ano passado, enfrentou diversas polêmicas envolvendo a empresa de distribuição de jogos eletrônicos GameStop. Após esse debate a companhia de análise de dados, Sensor Tower, detectou o interesse de 1 milhão e meio de usuários em ingressar no App. Sites e fóruns como o Reddit e o Craiglist passariam a vender convites privados. Até mesmo na China, onde o aplicativo não aparecia disponível na AppStore, as “entradas” foram oferecidas em sites de marketplace, onde o preço chegou a ser estimado em U$ 100.
Quando lançado, o Clubhouse obteve uma avaliação discreta na Bolsa. Algo em torno de U$100 milhões – e isso numa época em que a quantidade de usuários não passava de 1.500. Esse número foi crescendo com o tempo e em menos de dois meses estimou-se que sua cotação era de U$ 1 bi. Em abril deste ano, ele quadriplicou. Hoje, o aplicativo desenvolvido pela Alpha Exploration já custa em torno de U$ 4 bi, segundo reportagem da Forbes Brasil
Numa entrevista concedida ao portal Business Insider, Paul Davidson explicou melhor o que pensa da sua invenção. Segunda suas palavras, o Clubhouse pretendia resgatar o “lado humano” das redes sociais – com conversas ao vivo e sem o imperioso sistema de likes e follows. Mas, ao mesmo tempo em que concede essa liberdade, o App não encontrava um meio eficaz de evitar fakenews e discursos de ódio. Durante o Yom Kippur de 2019, por exemplo, o dia mais sagrado do judaísmo, usuários alegavam que algumas das salas haviam se tornado antros de antissemitismo.
De acordo com seus idealizadores, a melhor proposta para combater esse mal seria o treinamento de agentes moderadores para atuar em tempo real, impedindo speakers de transmitirem conteúdo de natureza discriminatória e guardando todas as conversas do Clubhouse num banco de dados. Porém, o usuário que se comprometer a respeitar os termos de uso da plataforma, não poderá ter acesso a estes áudios. E dessa maneira, o App esbarra em alguns artigos da constituição e do Marco Civil da internet.
Clubhouse rastreia dados sem especificar o motivo pelo qual é feito o processo – o que é vedado tanto pelo Marco Civil como pela LGPD. E assim, argumenta estar garantindo a proteção do próprio usuário. Mas caso ele necessite de um registro para usar como prova em eventual litígio, sairá de mãos abanando, pois só quem tem acesso às gravações são os moderadores do aplicativo
Os problemas relativos à segurança de dados não param por aqui. No início de abril, após uma série de vazamentos, uma lista contendo nome, foto e data de criação do perfil– além do nome do usuário que fez o convite para o Clubhouse – surgiu num popular fórum de hackers. Ainda que os dados tenham sido obtidos de modo ilegal, ficava no leitor aquele pulga atrás da orelha na hora de se cadastrar por não saber qual o rigor de proteção oferecido pelo site.
O Clubhouse viveu uma febre em seu lançamento pois era verdadeiramente inovador; mas hoje está com seu lugar de exclusividade ameaçado por outras empresas que copiaram seu modelo. O instagram, o Facebook, o Spotify [9], o Telegram e o Whattzap – todas já desenvolveram um mecanismo análogo ao do Clubhouse para agradar seus usuários. Como uma tentativa desesperada de manter o foco do mercado no aplicativo, novamente o CEO da Tesla deu as caras numa sala de bate-bapo. Desta vez convidando o presidente da Rússia, Vladimir Putin para uma conversa informal.
Mas as críticas do usuários tocam num ponto sensível que não tem relação com o formato inovador da plataforma – é a falta de conteúdo e a dificuldade em encontrar na miríade de salas inúteis um bate-papo de qualidade. Isso parece que só fica mais complicado de acordo com o crescimento de usuários, pois o montante de conteúdo ruim absorve e massifica os projetos interessantes de comunicação como acontece hoje em todas as plataformas.
Num futuro próximo, iremos saber se o Clubhouse consolidará sua hegemonia nesse tipo de rede social, ou se ele é apenas a “porta de entrada” para adaptar usuários a esse tipo de mídia. Mas enquanto os CEOs não flexibilizarem a entrada daqueles que não detém o sistema IOS – retratados por um tweet espirituoso como “a invasão dos androides – nunca saberemos. Assim, este ato (o de manter por tanto tempo a restrição) poderá significar simplesmente o desterro de um projeto oportuno de rede rocial, mas que deverá sobreviver – ainda que não pelas mãos de seus criadores.
Desde os anos 1990, se desenvolve o fenômeno das criptomoedas, moedas digitais que proporcionam maior liberdade e privacidade aos usuários, através do uso da criptografia. Hoje, a mais famosa criptomoeda é a Bitcoin, avaliada em mais de 300 mil reais. Por serem 100% digitais, as transações utilizando esse tipo de moeda não passam por uma autoridade central. Isso as difere da grande maioria das moedas como o real, controlado pelo governo brasileiro, e o dólar, controlado pelo governo americano. Toda transação feita com criptomoedas deve ser registrada em seu respectivo blockchain.
As transferências precisam ser registradas e validadas por computadores, fornecidos por pessoas físicas. Esse processo é chamado de mineração e pode ser feito por qualquer pessoa que esteja disposta a ceder a capacidade operacional de seu computador, sendo remunerada por isso.
Por exigir muito poder computacional, a mineração de criptomoedas gasta muita energia. Esse gasto tem sido alvo de muitas críticas por parte da imprensa, às vezes de forma equivocada. Segundo a BBC, o uso energético voltado para a rede Bitcoin durante um ano é maior que o necessário para sustentar um país como a Argentina pelo mesmo período. O número assusta, mas engana. Qualquer tipo de tecnologia de ponta utilizada no mundo todo possui valores nesse nível. O Youtube e a indústria gamer, por exemplo, emitem quase o dobro de gás carbônico que o Bitcoin.

Críticas ao sistema de criptomoedas muitas vezes se baseiam em comparações com sistemas de pagamento como o cartão de crédito e o dinheiro impresso. Segundo Nic Carter, especialista em finanças, essa não é uma comparação justa:
“Como o Bitcoin propõe um sistema monetário próprio e um sistema de pagamento próprio, o certo seria comparar seu gasto ao de todo o sistema do dólar e todos os pilares que o sustentam”
— Nic Carter, em entrevista à Bloomberg.

A mineração exige muita energia, mas o maior problema não é o gasto por si só, e sim o uso de energias não renováveis. Esse tipo de energia impacta o meio ambiente ao fazer uso de recursos que podem se esgotar em um futuro próximo.
Como os mineradores sempre buscam as melhores condições para obter maior lucro, acabam optando pelos locais que oferecem o melhor preço. A China, por exemplo, possui um dos melhores preços de energia elétrica do mundo, e por isso responde por quase 75% das operações do Bitcoin. Mas porque isso ocorre? Porque a China faz uso de uma das formas mais baratas de produção de energia: a queima de carvão mineral. Essa forma é, no entanto, uma das mais poluentes no mundo.

Nesse caso, uma mudança no sistema de energia chinês seria muito mais benéfica do que no sistema de mineração em si, e segundo Oderval Duarte, economista formado na UFMG, elas são cada vez mais acessíveis:
“A geração de energia através de fontes renováveis produz energia limpa sem agressão ao meio ambiente. (…) Em termos de custo, elas têm se tornado cada vez mais competitivas, se situando hoje em um custo muito menor do que algumas fontes que usam combustíveis fósseis para a geração”
— Oderval Duarte
No entanto, reformar enormes sistemas de produção de energia não é algo que pode ocorrer de um dia para o outro, e uma mudança rápida nos níveis de poluição é necessária. Caso contrário, cientistas estimam que teremos um aquecimento global de 2ºC até 2033, colocando em risco diversas espécies de animais e plantas.
As empresas de criptomoedas têm, portanto, o dever de promover ações que diminuam seu gasto energético. Tara Shirvani, especialista em sustentabilidade, sugere o sistema Proof of Stake.
Esse sistema atribui a responsabilidade da mineração aos maiores participantes na cripto, ou seja, quem tem mais dessa moeda. Dessa forma, não há uma gigantesca competição pela mineração e os mineradores não são obrigados a usar supercomputadores que gastam quantidades alarmantes de energia. A Ethereum, uma das maiores redes de criptomoedas do mundo, já aderiu ao sistema.

As criptomoedas vieram para facilitar transações fora dos bancos, sendo uma opção alternativa segura e eficiente. Seu gasto energético não é tão alto quando comparado a outras formas de tecnologia, mas pode trazer sérios problemas ao meio ambiente à medida que seu uso cresce.
Dessa forma, as empresas e governos nacionais precisam criar projetos eficientes para cortar os gastos dessa tecnologia, pois ela veio para ficar. As mudanças não passam por sanções à essa tecnologia, e sim pela utilização de fontes de energia renováveis e do sistema Proof of Stake.
O processo de desurbanização de grandes cidades do mundo, como Nova York, Chicago e Londres deve-se ao extraordinário avanço tecnológico que permite conectar os trabalhadores onde quer que eles estejam. Nas grandes cidades americanas, cerca de 25% dos profissionais já trabalham remotamente e muitos estão se mudando para outras regiões do país, conforme dados da empresa de videochamadas GotToMeeting, a qual analisa a origem das ligações.
O fenômeno do home office, previsto para acontecer gradualmente, foi acelerado pela pandemia da covid-19 em diferentes lugares do mundo. No Brasil, segundo o IBGE, 7,8 milhões de trabalhadores atuam remotamente, podendo chegar a 20,8 milhões de postos de trabalho que facilmente podem ser convertidos para a forma remota.
A experiência inicial de trabalhar a partir de qualquer lugar parece ter sido bem aceita pelos trabalhadores, principalmente pelo fato de não precisarem mais perder horas no trânsito das grandes cidades. Alguns gastavam duas horas para ir e duas horas para voltar do trabalho, o que, para eles, era considerado uma grande perda de tempo.
Com a consolidação do trabalho remoto, muitos trabalhadores passaram a considerar a possibilidade de mudança para fora das cidades grandes., Conforme pesquisa realizada pela empresa Ticket com 1000 trabalhadores brasileiros, eles querem mais contato com a natureza e mais tempo para outras atividades de seu interesse e, por estes motivos, consideram a mudança definitiva de cidade caso o trabalho remoto seja permanente. Como fator positivo do trabalho remoto, indicam principalmente a melhoria da qualidade de vida, devido a diminuição de deslocamentos e aos horários mais flexíveis, que permitem outras atividades na rotina. Além disso, o meio ambiente também é beneficiado com a diminuição de veículos na rua,
André Ferreira Endres, analista de negócios, trabalha remotamente para a empresa “Consultoria Transnacional de Tecnologia” desde o início da pandemia da covid-19 e diz que o ganho de três horas desperdiçadas no trânsito todos os dias são sentidos de forma imediata. Endres tem utilizado essas horas para cozinhar, passando um bom tempo com a família em volta da mesa e do fogão, abolindo assim o fast food de sua rotina, o que para ele foi mais uma vantagem. O analista afirma que sua vida melhorou muito com estes momentos de relaxamento em volta das panelas.
Porém, mesmo assim, ainda cumpre à risca sua rotina de trabalho: dedica à empresa quatro horas pela manhã e depois, no meio da tarde, trabalha outras quatro horas. Dessa forma, consegue equilibrar o trabalho, a vida pessoal e seus hobbies. Endres acredita que a empresa onde trabalha manterá grande parte de seus funcionários em trabalho 100% remoto. Se isso se confirmar, pretende se mudar para uma cidade média do interior de São Paulo, pois quer morar em uma casa mais espaçosa e com mais proximidade da natureza.
Rodrigo Guimarães, especialista em educação profissional, antes trabalhava em São Paulo, mas atualmente trabalha da cidade de Franca, onde nasceu. Para ele, o fato de morar em uma cidade menor, lhe dá mais tempo para se exercitar fisicamente e se alimentar de forma mais saudável. Nos últimos doze meses conseguiu perder 10 Kg com a mudança de estilo de vida. Guimarães afirma estar adorando o trabalho remoto e que se a empresa mantiver este formato, pretende voltar definitivamente para sua cidade natal, e apenas voltará à São Paulo a turismo nas férias ou finais de semana prolongados.
Essa mudança não tem acontecido apenas para cidades do interior, mas tem sido bastante frequente no litoral de São Paulo. O casal Tinay e Daniel Mondini, publicitária e engenheiro respectivamente, mudaram para Ubatuba após a decisão de suas empresas, localizadas na cidade de São Paulo, de adotar o trabalho remoto para seus colaboradores. Ambos afirmaram a melhora na qualidade de vida por morar em meio a natureza e a diminuição do stress. Um dos principais hobbies de Daniel é o surfe, e morando a poucos metros da praia de Itamambuca, consegue surfar antes do trabalho, o que deixa sua rotina mais leve.
O sonho dos dois é morar definitivamente em Ubatuba, porém a oferta de trabalhos em suas áreas é muito pequena na cidade, além da média salarial ser bem mais baixa do que em São Paulo. Com a possibilidade do trabalho remoto, podem continuar em suas respectivas empresas e realizar o sonho de morar perto da praia.
Muitas empresas brasileiras, inclusive a de Mondini, já decretaram fechamento de suas unidades físicas e seus funcionários passarão a trabalhar apenas remotamente.
O monitoramento da COVID-19 nos esgotos tem sido uma arma bem utilizada para ajudar as autoridades na hora de adotar políticas públicas. Em países como Estados Unidos, Holanda, Austrália e até no Brasil seu uso é frequente, podendo inclusive se somar à detecção pelo teste de RT-PCR (Reação em cadeia de polimerase)
A prática não é nova. Em 1854, o médico inglês, John Snow,– conhecido como o pai da epidemiologia moderna – conteve um surto de cólera no bairro do Soho ao identificar uma bomba de água contaminada, que era verdadeira causa da epidemia. Ele não apenas salvou inúmeras vidas naquela ocasião, como também derrubou uma velha teoria científica que atribuía à causa das doenças, o ar contaminado pelos corpos em decomposição.
O conhecimento também foi usado no combate à poliomielite na década de 1950 e na identificação de usuários de drogas. Mas a técnica, na atual circunstância, só pôde ser aplicada após informações terem sido divulgadas; a principal delas, descoberta pela Dra. Michelle Holshue, da universidade de New England, foi saber que o vírus (ou pelo menos parte de seu material genético) sobrevivia nas fezes.
Após a publicação desse artigo, outros pesquisadores aprofundaram a pesquisa; até perceberem que existia nos esgotos uma taxa suficientemente alta de Sars-CoV-2 para ser extraída e analisada. Porém, foi o Dr. Gertjan Medema, na Holanda quem liderou o próximo passo; quando desenvolveu um método eficaz em conjunto com outros cientistas do instituto de águas KTW com aplicação direta na pandemia de COVID-19.
No dia 6 de fevereiro de 2020, antes do vírus chegar na Holanda, ele fez uma espécie de teste, recolhendo amostras dos esgotos para experimentar a potência do seu equipamento. Mas foi só no dia 27 que detectou traços do coronavírus circulando nos subterrâneos das cidades de Amsterdan e Utretch. Como prova final, o Dr. Medema se dirigiu à pequenas cidades onde vírus ainda não fora encontrado, e fez outra bateria de coletas; a partir disso, descobriu lá o Sars-CoV-2 muito antes das fontes oficiais.
Em entrevista dada para o portal SmartWaterMagazine o Dr. Medema falou que “uma amostra de esgotos, quando colhida de forma apropriada, pode refletir os dejetos de 1.000 a 100.000 pessoas – e isto é particularmente importante quando vemos os índices de contaminação caírem, mas não sabemos ainda se o vírus está sob controle ou “escondido” em algum lugar, pronto para ressurgir dias depois”.
Dr. Medema foi enfático quando perguntado sobre as dificuldades de implementar este sistema, e disse que o empecilho não estaria propriamente na execução do projeto – pois ele é cientificamente muito simples –, mas num gap institucional entre os departamentos de meio-ambiente e de saúde que, segundo ele, dificulta a troca de informações. “É uma coisa que vem sendo construída na prática” – diz animadamente – repetindo sempre seu slogan: “nem todas as pessoas se testam, mas todas precisam ir ao banheiro.”
No Brasil, o projeto é liderado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em parceria com diversas instituições: a ANA (Agência Nacional de Águas) se responsabiliza pela articulação política e pelo investimento, o IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) envia membro aos comitê gestor que cuida dos contratos e da burocracia, a COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) apoia o setor de projetos e fornece os dados do sistema sanitário, e, por fim, a Secretaria de Saúde do estado de MG, que auxilia com dados do seu sistema – fazendo também uma ponte entre as instituições.
A equipe do “Monitora Covid” Iniciou seus trabalhos no dia 13/4, e já coletou as primeiras amostras em menos de 20 dias. O grupo promove “webinares”, com um detalhamento preciso de suas ações e divulga no site uma “nota técnica especificando cada parte do projeto.
Num país onde poucos testes são feitos, o monitoramento dos esgotos é imprescindível. Ele pode auxiliar as autoridades na hora de fechar ou abrir determinada região e ainda prever surtos no futuro. Contudo, não se trata de uma medida que, isoladamente tem poder de ação. É preciso sempre unir esses dados com as testagens individuais para obter uma documentação mais precisa acerca dos infectados.