Através de plataformas de transmissão de vídeos ao vivo, e com o desenvolvimento e popularização de jogos de vídeo game, foi criado a cultura de transmitir partidas de jogos de ao vivo para outras pessoas interagirem. As pessoas que transmitem são popularmente chamadas de streamers, e a popularização dessa transmissão ficou tão comum que hoje existem streamers que vivem apenas disso.
Existem diversas plataformas de transmissão, como a Nimo TV e a Twitch, está sendo a mais usada no Brasil, contendo mais de 140 milhões de usuários pelo país.
O streamer Amefuri, entrou oficialmente para esse mundo de transmissões no final de 2017, transmitindo jogos de GTA RV e Valorant. Ele conta que sua principal inspiração para entrar nesse mundo foi a vontade de criar conteúdo para internet, e que optou pela Twitch por se identificar com a plataforma por considera-la um bom espaço para transmitir jogos de vídeo games, e possibilitar com o contrato de afiliado a chance de passar propagandas durante os jogos, o que aumenta o dinheiro gerado por transmissão.
Para se organizar para as transmissões para criar conteúdo constante para seus inscritos, Amefuri criou uma rotina de transmissões de terça á domingo, com algumas folgas ocasionais durante a semana. Ele também não considera a área tão competitiva, mas para se destacar e ganhar um bom publico você deve ser você mesmo.
Com o conteúdo constante desde 2017, para Amefuri as transmissões já são consideradas sua principal fonte de renda. “Meu ponto inicial de quando eu estava “trabalhando” mesmo, foi em maio de 2019, quando recebi meu verificado.”
Com a vontade de crescer na área, o streamer teve que comprar um novo computador para melhorar as suas transmissões. Ele também relata a dificuldade em conquistar o publico. “Queremos abraçar o mundo, mas é um por dia que conseguimos trazer para nossa comunidade." Apesar de tudo, para Amefuri virar streamer lhe proporcionou trabalhar produzindo conteúdo, conhecer pessoas que admira e melhorar o lado pessoal, que é confiar mais em si mesmo e saber que consegue ir mais longe.
A streamer Mariane Ribeiro, popularmente conhecida como MarianeRib, começou a assistir transmissões de jogos pela Twitch em 2014, mas foi apenas em novembro de 2018 com 21 anos que ela virou streamer. “Eu sempre gostei de jogar e conhecer gente nova por meio de jogos online.”
O conteúdo da sua conta começou com jogos como League of Legends, Just Dance, Dead by Daylight e World of Warcraft. Em 2020 ela introduziu o GTA RP como conteúdo, e este se tornou o carro chefe da sua conta fazendo transmissões de 4 ou 5 dias do jogo.
Inicialmente, Ribeiro escolheu a Plataforma Twitch para fazer suas transmissões por ser a única que conhecia que estava há mais tempo ativa. Ao longo dos quase três anos como criadora de conteúdo no site, seus benefícios só aumentaram, e hoje consegue transmitir até propagandas durante suas transmissões, para aumentar o seu ganho.
Para ajudar o seu canal a crescer, Ribeiro costuma fazer transmissões seis dias por semana a partir das 20:00 até 02:00, mas costuma virar a noite jogando, e tira um dia de folga apenas quando está muito desgastada. “Eu particularmente reparo que, caso eu fique 2 dias ou mais sem fazer transmissão, as métricas são prejudicadas.”
Para Ribeiro, a sua principal competidora é ela mesma. Hoje em dia, ela evitar se comparar com streamers maiores, e vê muitas pessoas ultrapassando os próprios limites apenas para tentar chamar atenção e tentar conquistar um certo público para si. Por isso, hoje em dia ela foca apenas em melhorar o que já está produzindo, pois não existe uma fórmula para o crescimento na área.
Ela também percebe que consegue se destacar entre os streamer menores pela sua constante interação com o chat espectadores que conversam e comentam sobre a transmissão por texto). “Streamers maiores não conseguem responder todos do chat, e parte dos streamers menores não interagem muito/respondem várias pessoas, e isso acaba abrindo uma vantagem para quem gosta bastante de conversar com os espectadores.”
Mesmo estando a quase três anos nessa profissão, ainda não conseguir fazer disso uma renda fixa, e acaba tendo que optar por trabalhar a parte com freelas de consultoria, tradução e transcrição. “Meu sonho é fazer das transmissões o meu principal trabalho, transformando os freelas para complementação da renda.”
Ribeiro relata que inicialmente sua principal dificuldade foi a falta de um computador. Durante o primeiro ano como streamer fazia as transmissões com o computador do namorado, e foi apenas com ajuda do namorado e com o retorno financeiro das transmissões que conseguiu comprar o seu primeiro computador, e até hoje compra peças faltando e faz os upgrades necessários com a renda da Twitch.
Outra dificuldade que passou foi em aprender a mexer nos softwares para transmissão, pois era algo que quem não está na área nunca entrou em contato antes. Ela também relata a dificuldade de crescer e ser descoberta, já que a plataforma vem lentamente adicionando ferramentas novas para que os espectadores descubram transmissões específicas.
Apesar de todas as dificuldades, Ribeiro relata que o alcance de suas transmissões lhe proporcionou conhecer pessoas de todo o Brasil, além de expectadores dos EUA, Portugal e Noruega. “Já recebi inúmeras mensagens desse tipo e eu fico sem acreditar. Saber que eu estou ajudando UMA pessoa sequer, enquanto estou sendo eu mesma e fazendo o que eu gosto, é surreal.”
Com o mercado de streaming cada vez maior, a partir da consolidação da Netflix e do Amazon Prime Video e as adições do Disney + e HBO Max quem ainda compra DVDs e Blu-rays?
Celso Menezes, roteirista e colaborador do Blog do Jotacê, o principal site sobre colecionismo do Brasil, relata que sua paixão por colecionar vem dos quadrinhos, mas que compra filmes em mídia física desde os 17 anos, na época, em VHS. O roteirista conta que ganhou um aparelho de DVD em um concurso da Revista Herói, no ano 2000, e desde então nunca parou de adquirir a mídia. Para Celso, o amor pelo cinema vem antes do colecionismo:
‘‘Eu tenho esse lado (cinéfilo) muito por conta do meu pai, que quando eu era moleque me passava comédias italianas, por exemplo...eu e meus irmão crescemos com isso e acabou moldando o nosso gosto. Eu tenho uma parte muito forte de cultura pop que eu gosto bastante, mas também gosto muito dos filmes mais artísticos. Na minha coleção, eu tenho as coisas mais aleatórias possíveis, não tem um padrão, eu gosto de tudo.’’
Paulo Cesar Prado também é colaborador do Blog do Jotacê e é dono de um canal no Youtube sobre sua coleção de filmes, o PC GameMovieCollector.
‘Eu coleciono desde sempre. Me lembro de ter coleções desde muito cedo na vida, e das mais variadas coisas: pontas de lápis, chaveiros, gibis, borrachas, maços de cigarro e tatu-bola (sim, o bichinho). A paixão pelos filmes, que veio da minha mãe, só se abraçou à minha mania de coleção, começando na época do VHS e tomando forma definitiva logo que consegui comprar meu primeiro DVD’’, conta PC.
Para ambos, o motivo de continuarem comprando os filmes em tempos de facilidade do streaming se deve a questões como a qualidade da exibição, a embalagem mais bem produzida, o material extra e, principalmente, o lado afetivo.
‘‘A questão é de você ter uma memória tátil. De você pegar o filme e lembrar de quando você assistiu e porque te marcou. Isso acontecia muito com o vinil e depois com o CD, de você parar tudo, ouvir o álbum e segurar aquele encarte. Isso te traz uma memória afetiva muito grande que não tem no streaming. O streaming, na verdade, é uma coisa muito imediatista. Tá ali, você assiste e acabou, não tem um ritual. Esse ritual é muito importante. Todas essas questões são muito afetivas.’’, conta Celso.
‘‘Sempre irão existir pessoas que querem ter as coisas que elas gostam na sua prateleira para poder pegar, olhar, cheirar e sei lá mais o que as pessoas gostem de fazer com seus itens. Fotografar e postar é meu caso’’, explica PC.
Sobre o material extra, Celso diz: ‘‘Às vezes o extra é melhor que o filme. E existem extras que estão no DVD, mas que não estão no Blu-ray do filme, ou seja: alguns extras se perdem. Pra mim, para ter a experiência completa daquela obra, tem que ter os extras.’’
Para ele, as distribuidoras brasileiras falharam em apresentar e tornar apelativo para o grande público a revolução que o Blu-ray apresentava: ‘‘Com o DVD, começou a sair muita coisa bacana. Os estúdios estavam ganhando muito dinheiro e as tiragens eram muito grandes. O primeiro DVD de Os Incríveis teve uma tiragem de 1 milhão, foi muito absurdo. As pessoas compravam DVD para dar de presente de aniversário, presente de natal, ficou muito popular, todo mundo tinha um aparelho de DVD em casa. E aí entrou o Blu-ray em 2009, que teve dois erros gigantescos para mim: os preços absurdos e a falta de divulgação. Ou pelo menos a divulgação de forma errada. As pessoas pensavam ‘é um disco normal, igual o do DVD, porque que eu vou ter?’. Não teve um trabalho de convencimento... eu nunca vou esquecer do Wall-e, da Pixar, com o preço de 119 reais. Se tudo fosse melhor trabalhado, talvez o Blu-ray tivesse substituído o DVD... Para os executivos, foi uma coisa transitória. Eles não pensam no valor afetivo que um filme pode ter. Isso acabou matando o mercado de CD também. O case era uma coisa ridícula de ruim, boa parte dos CDs que eu comprei já chegavam quebrados. Aquele formato já estava errado. E aí você comprava e não tinha um encarte, que é uma coisa que custa centavos pra eles, mas que para o fã de uma banda significava muito. Então sempre existiu uma falta de cuidado.’’
A surpresa, durante a pandemia, foi uma retomada mais aguda na produção de itens em mídia física feita quase que de forma exclusiva para atender as demandas do colecionador. Produtoras como a Versátil Home Video e a Obras-Primas do Cinema se empenharam em lançar filmes clássicos, coleções de diretores consagrados e box temáticos no mercado durante 2020. Alguns títulos, como O Lobisomem Americano em Londres, foram esgotados durante a pré-venda e tiveram as suas tiragens multiplicadas. Além disso, lojas online com o único intuito de vender filmes, como a famdvd, a The Originals e a Colecione Clássicos, se firmaram durante o período. O elevado número de produtos em mídia física durante o ano terminou por sobrecarregar a Rimo, única empresa de replicação de CDs, DVDs e Blu-ray que restou no Brasil, e, como resultado, diversos produtos anunciados e vendidos na pré-venda por empresas menores tiveram as suas entregas atrasadas, como o Blu-ray do clássico Paris, Texas e o box da coleção Essencial, da Versátil, que conta com quatro filmes do diretor David Lynch em alta definição.
‘Hoje, com o streaming, o mercado de mídia física são os colecionadores. Por isso que esse ano foi tão bom. As distribuidoras menores começaram a fazer Blu-rays e conseguiram chamar a atenção de quem colecionava. As majors (distribuidoras grandes) foram provocadas por isso e começaram a lançar mais coisas também. O Fábio, dono da famdvd, cutucava muito essas majors, ele falava ‘vocês não vão lançar nada? Vocês não estão vendo o que está acontecendo? Tá vendendo muito!’. A impressão geral no ano passado é de que ia acabar a mídia física por conta da crise da Cultura e da Saraiva...no momento em que as duas maiores lojas entram em colapso, acabou, né? Mas aí, por uma grande sorte, a Amazon também entrou e começou a vender filmes’’, explica Celso Menezes.
Mesmo com as plataformas digitais retirando o espaço da mídia física, não há um ressentimento por parte dos dois colecionadores em relação ao streaming.
‘‘Eu assino alguns serviços de streaming. Tenho Netflix, Amazon Prime, Disney+ e ainda tenho Telecine junto ao meu plano de TV à cabo. Nem deveria poder existir um sentimento de ressentimento com esse tipo de serviço. Ele é o presente e o futuro da distribuição de filmes. Eu considero o streaming essencial para os dias de hoje. O que o pessoal mais nervoso da comunidade confunde é achar que as coisas se anulam. A mídia física e o streaming, apesar de terem o mesmo produto final, são coisas bem diferentes, com propostas diferentes e para públicos diferentes. Eles tem que, na verdade, dar as mãos e andar juntos! Ninguém bate a qualidade da mídia física, assim como ninguém bate o poder de distribuição do streaming, e por aí vão as semelhanças e diferenças numa longa lista…’’, explica PC.
Ele ainda revela que, mesmo possuindo uma coleção enorme, assiste mais filmes em formato digital do que físico: ‘‘A preguiça do ser humano é que move o progresso. Tudo que aparece de nova tecnologia por aí é pra facilitar sua vida, fazendo você precisar fazer menos esforço. Dito isso, em quantidade, eu vejo mais filmes em streaming. Agora, quando eu realmente tiro um tempo pra assistir um filme que quero muito, que vou assistir sentado (sim, o streaming é feito pra você assistir o filme todo largado no sofá ou cama), eu vou de mídia física. Sei que terei uma melhor imagem e som em um caso desse.’’
Celso Menezes diz considerar o streaming ‘‘muito útil’’ e dono de uma aleatoriedade que te permite descobrir ‘‘coisas fantásticas’’, comparada à experiência de ir a uma locadora. ‘‘Não tem porque brigar com o streaming, ele é muito útil, está viabilizando vários filmes de grandes diretores e essa praticidade, de ver onde quiser, na hora que quiser, é muito boa. Só gostaria que fosse mais amplo: gostaria muito que tivessem filmes clássicos, filmes europeus. Seria fantástico ter curtas no streaming… na maioria das vezes, eu decido o filme que vou assistir olhando para a prateleira. Se eu quiser ver um filme clássico noir, eu vou pra essa seção específica. Filme noir é uma coisa que você não acha no streaming’’.
Ele ainda completa: ‘‘O ideal é ter os dois, a mídia física e o streaming existindo juntos. Por isso, pra mim não faz o menor sentido a decisão da Disney de parar de produzir mídia física no Brasil’’.
Em Agosto deste ano, foi ao ar no Blog do Jotacê uma matéria que revelava com exclusividade a informação de que a Disney havia abandonado a produção de mídia física para seus filmes e séries em toda a América Latina, em contraste com a resposta positiva que a comunidade estava tendo em relação aos anúncios de filmes em Blu-ray e DVD no Brasil. O furo coincidiu com a chegada do maior serviço de streaming da produtora no continente, o Disney +. Dessa forma, os colecionadores do país se viram órfãos dos produtos de franquias como Marvel, Star Wars e Pixar. A informação chacoalhou os rumos da comunidade, que também enxerga com incerteza o futuro de distribuidoras como Paramount, Sony e Universal, que não tiveram seus contratos com a Cinecolor renovados e não anunciaram se pretendem continuar com a distribuição de seus filmes em mídia física por meio de outra empresa.
Para os colecionadores, paira a dúvida se 2020 foi um ponto fora da curva e uma oportunidade de mercado que as produtoras detectaram com o intuito de lucrar em meio a um cenário de cinemas fechados, ou se a mídia física veio para ficar como um produto direcionado para cinéfilos e colecionadores.
Para Paulo Cesar, a segunda opção é a mais provável: ‘‘Eu não acredito num mundo sem mídia física, e também não acho que a estratégia seja tentar convencer a galera que assiste Netflix de que ela precisaria, ou mesmo poderia, assistir um DVD, Blu-ray ou 4K. Acredito que o nicho vai se tornar cada vez mais nicho, e que os responsáveis por isso terão que olhar cada vez com mais carinho para essas pessoas... E mesmo que eu esteja errado no meu prognóstico, eu ainda acredito que a indústria de games consiga salvar a mídia física, ou pelo menos postergar sua morte. Enquanto existir um console que possa receber uma mídia física, dando a possibilidade dos jogadores poderem trocar, emprestar e vender um game, ela estará abundante por aí.’’
‘‘Eu acho que é algo que vai ser reconquistado. Eu acredito que a experiência das pessoas pararem, verem o filme e verem os extras, vai ser redescoberta. Do mesmo jeito que a experiência de ouvir um vinil está sendo redescoberta, eu acho que isso também vai acontecer com os filmes. Porque não se trata só de ouvir a música, mas a forma de ouvir, esse ritual. Eu acho que a mídia física não vai acabar.’’, opina o roteirista.
A pandemia trouxe um novo olhar crítico para questões ambientais e sociais. 70% das doenças modernas têm origem animal, e com a Covid-19 não foi diferente. O vírus se espalha muito mais fácil onde existem animais em confinamento, sem higiene, doentes e mal cuidados - características de uma enorme parte do setor agropecuário atual.
Infelizmente, há um enorme motivo para que o consumo tenha caído tanto nesse último ano: o aumento do preço da carne e a junção ao baixíssimo auxílio emergencial. Mas também existe o lado da conscientização, onde o vegetarianismo alcançou racionalmente uma parte da população. Curiosa sobre o que motivou as pessoas a transitarem para o vegetarianismo (e suas variações), entrevistei mãe e filha que, juntas, tornaram-se veganas da noite para o dia. Claudia Chaves, de 40 anos, aos 24 havia tentado parar de comer carne animal. “Eu assisti o filme “A carne é fraca”, e caiu a ficha de que o animal que comemos, é o animal que tanto amamos. Fiquei super impactada e a partir daquele dia eu e meu marido paramos de comer carne. Ficamos assim durante 3 anos. Aí engravidei e voltei com a carne, não sei o porquê. É aquela coisa né, fechamos os olhos para uma realidade que já sabemos que existe”, refletiu a bióloga.
Foi sua filha Leticia, de 21 anos, que a fez retomar ao veganismo. “Há um ano estávamos aqui em um almoço em família e minha filha chegou com a proposta de não comermos mais carne. Rapidamente meu filho mais novo já aderiu e apoiou, meu marido também, e fomos todos juntos”, relembra Claudia.
A tecnologia é, com certeza, o recurso responsável pelo aumento de vegetarianos no Brasil. “Eu parei com a carne por conta da internet, por conta do conteúdo que eu comecei a consumir no Instagram, pelos documentários que eu comecei a assistir, podcast que comecei a ouvir. Os documentários foram essenciais para apertar o gatilho e pensar “preciso sair da minha zona de conforto”, relatou Sofia Vieira, estudante de 21 anos.
Com certeza não era fácil o acesso à informações que hoje temos a qualquer instante, principalmente por dois motivos: políticos e monetários. Nunca foi vantajoso falar sobre o consumo excessivo de carne e todos os problemas decorrentes. Mas o que fazer quando a tecnologia expõem fatos com cenas reais e chocantes? A resposta é uma só: aceitar a realidade. Monetizar o movimento, fazer com que os maiores frigoríficos do país lancem produtos vegetarianos, mesmo sem intenção alguma de parar com o sofrimento animal. O capitalismo ergueu um vegetarianismo elitizado e caro, polarizando o movimento ao invés de mostrar que ele é, na verdade, um só. “O veganismo só é caro industrializado, e o movimento é o oposto disso! Só conseguimos entender depois de receber tanta informação que não recebíamos antigamente. Até no nosso ciclo social, que amigos e conhecidos vão postando umas coisinhas, comentando, e assim nós conseguimos disseminar o movimento. E é muito legal consumir esse conteúdo”, conta Leticia Chaves.
Na disputa das redes sociais, no quesito vegetarianismo quem ganha é o Instagram. "Eu passei dias e dias testando receitas, sigo vários perfis incríveis que me ajudaram no que hoje em dia é completamente intuitivo. Tudo que na minha primeira transição foi difícil, nessa foi fácil por conta da internet. Com o tanto de filmes e documentários informativos que temos, é impossível não sensibilizar com a causa. Que seja pelo bem estar animal, questão ambiental ou de saúde, o número de veganos e vegetarianos está aumentando muito graças a isso!”, finaliza Claudia.
A tecnologia não se destaca somente com as redes sociais, mas com a indústria alimentícia também. Hoje em dia são inúmeras as marcas que produzem carnes vegetais idênticas à animal, e não só do setor agropecuário, mas também marcas originalmente veganas, como a Fazenda do Futuro. Infelizmente, são produtos caros que estetizam o movimento, mas com o avanço tecnológico não deve demorar para que todos tenham acesso a esses novos (e revolucionários) alimentos. Mas enquanto isso não acontece, quantos vegetarianos teremos até o planeta entrar em colapso?
Com a revolucionária proposta de conectar pessoas pela voz, os empresários da tecnologia, Paul Davidson e Rohan Seth lançaram, em abril de 2020, o Clubhouse – um aplicativo ousado e inovador repleto de salas de bato papo para os usuários debaterem temas diversos. Desde então uma aura de mistério e empolgação se formou em volta desta rede social, que hoje conta com mais de 1 milhão de participantes.
Seu modo de funcionamento é relativamente simples. Aquele que se cadastrar pode agir de duas maneiras: como listener, que são os ouvintes, ou como speakers, moderadores da sala – divididos entre comentaristas e apresentadores.
Contudo, existem ainda restrições para se ingressar no aplicativo. Replicando uma tradicional estratégia de Marketing digital, já usada pelo Instagram e pelo Pinterest, o Clubhouse está disponível para quem receber o convite de algum outro participante da rede. Usuários de Android e outros softwares de smartphones ficam de fora da “brincadeira” que, por enquanto, permite apenas a entrada de detentores de Iphone. Métodos como este servem para testar o funcionamento e a adaptabilidade dos novos participantes. Mas soam, aos olhos da população, como um entrave elitista, já que um aparelho da Apple – o mais recente – custa em torno de R$ 6.000.
Nos primeiros dias em que esteve “no ar” um grupo bastante heterogêneo discorria sobre os impactos da Covid-19 no sistema carcerário – reunindo MCs, comentaristas políticos e Empresários. Esse é um dos muitos atrativos desta rede social: juntar pessoas com pensamentos e opiniões distintas para travar debates numa era em que somos engolidos pela homogeneidade das bolhas.
Um desses eventos – e que ajudaria a impulsionar a popularidade do Clubhouse – foi a conversa entre o Bilionário da tecnologia, Elon Musk – dono da Tesla e da Space X – e o CEO da Robinhood, aplicativo de investimentos que, no ano passado, enfrentou diversas polêmicas envolvendo a empresa de distribuição de jogos eletrônicos GameStop. Após esse debate a companhia de análise de dados, Sensor Tower, detectou o interesse de 1 milhão e meio de usuários em ingressar no App. Sites e fóruns como o Reddit e o Craiglist passariam a vender convites privados. Até mesmo na China, onde o aplicativo não aparecia disponível na AppStore, as “entradas” foram oferecidas em sites de marketplace, onde o preço chegou a ser estimado em U$ 100.
Quando lançado, o Clubhouse obteve uma avaliação discreta na Bolsa. Algo em torno de U$100 milhões – e isso numa época em que a quantidade de usuários não passava de 1.500. Esse número foi crescendo com o tempo e em menos de dois meses estimou-se que sua cotação era de U$ 1 bi. Em abril deste ano, ele quadriplicou. Hoje, o aplicativo desenvolvido pela Alpha Exploration já custa em torno de U$ 4 bi, segundo reportagem da Forbes Brasil
Numa entrevista concedida ao portal Business Insider, Paul Davidson explicou melhor o que pensa da sua invenção. Segunda suas palavras, o Clubhouse pretendia resgatar o “lado humano” das redes sociais – com conversas ao vivo e sem o imperioso sistema de likes e follows. Mas, ao mesmo tempo em que concede essa liberdade, o App não encontrava um meio eficaz de evitar fakenews e discursos de ódio. Durante o Yom Kippur de 2019, por exemplo, o dia mais sagrado do judaísmo, usuários alegavam que algumas das salas haviam se tornado antros de antissemitismo.
De acordo com seus idealizadores, a melhor proposta para combater esse mal seria o treinamento de agentes moderadores para atuar em tempo real, impedindo speakers de transmitirem conteúdo de natureza discriminatória e guardando todas as conversas do Clubhouse num banco de dados. Porém, o usuário que se comprometer a respeitar os termos de uso da plataforma, não poderá ter acesso a estes áudios. E dessa maneira, o App esbarra em alguns artigos da constituição e do Marco Civil da internet.
Clubhouse rastreia dados sem especificar o motivo pelo qual é feito o processo – o que é vedado tanto pelo Marco Civil como pela LGPD. E assim, argumenta estar garantindo a proteção do próprio usuário. Mas caso ele necessite de um registro para usar como prova em eventual litígio, sairá de mãos abanando, pois só quem tem acesso às gravações são os moderadores do aplicativo
Os problemas relativos à segurança de dados não param por aqui. No início de abril, após uma série de vazamentos, uma lista contendo nome, foto e data de criação do perfil– além do nome do usuário que fez o convite para o Clubhouse – surgiu num popular fórum de hackers. Ainda que os dados tenham sido obtidos de modo ilegal, ficava no leitor aquele pulga atrás da orelha na hora de se cadastrar por não saber qual o rigor de proteção oferecido pelo site.
O Clubhouse viveu uma febre em seu lançamento pois era verdadeiramente inovador; mas hoje está com seu lugar de exclusividade ameaçado por outras empresas que copiaram seu modelo. O instagram, o Facebook, o Spotify [9], o Telegram e o Whattzap – todas já desenvolveram um mecanismo análogo ao do Clubhouse para agradar seus usuários. Como uma tentativa desesperada de manter o foco do mercado no aplicativo, novamente o CEO da Tesla deu as caras numa sala de bate-bapo. Desta vez convidando o presidente da Rússia, Vladimir Putin para uma conversa informal.
Mas as críticas do usuários tocam num ponto sensível que não tem relação com o formato inovador da plataforma – é a falta de conteúdo e a dificuldade em encontrar na miríade de salas inúteis um bate-papo de qualidade. Isso parece que só fica mais complicado de acordo com o crescimento de usuários, pois o montante de conteúdo ruim absorve e massifica os projetos interessantes de comunicação como acontece hoje em todas as plataformas.
Num futuro próximo, iremos saber se o Clubhouse consolidará sua hegemonia nesse tipo de rede social, ou se ele é apenas a “porta de entrada” para adaptar usuários a esse tipo de mídia. Mas enquanto os CEOs não flexibilizarem a entrada daqueles que não detém o sistema IOS – retratados por um tweet espirituoso como “a invasão dos androides – nunca saberemos. Assim, este ato (o de manter por tanto tempo a restrição) poderá significar simplesmente o desterro de um projeto oportuno de rede rocial, mas que deverá sobreviver – ainda que não pelas mãos de seus criadores.
Desde os anos 1990, se desenvolve o fenômeno das criptomoedas, moedas digitais que proporcionam maior liberdade e privacidade aos usuários, através do uso da criptografia. Hoje, a mais famosa criptomoeda é a Bitcoin, avaliada em mais de 300 mil reais. Por serem 100% digitais, as transações utilizando esse tipo de moeda não passam por uma autoridade central. Isso as difere da grande maioria das moedas como o real, controlado pelo governo brasileiro, e o dólar, controlado pelo governo americano. Toda transação feita com criptomoedas deve ser registrada em seu respectivo blockchain.
As transferências precisam ser registradas e validadas por computadores, fornecidos por pessoas físicas. Esse processo é chamado de mineração e pode ser feito por qualquer pessoa que esteja disposta a ceder a capacidade operacional de seu computador, sendo remunerada por isso.
Por exigir muito poder computacional, a mineração de criptomoedas gasta muita energia. Esse gasto tem sido alvo de muitas críticas por parte da imprensa, às vezes de forma equivocada. Segundo a BBC, o uso energético voltado para a rede Bitcoin durante um ano é maior que o necessário para sustentar um país como a Argentina pelo mesmo período. O número assusta, mas engana. Qualquer tipo de tecnologia de ponta utilizada no mundo todo possui valores nesse nível. O Youtube e a indústria gamer, por exemplo, emitem quase o dobro de gás carbônico que o Bitcoin.
Críticas ao sistema de criptomoedas muitas vezes se baseiam em comparações com sistemas de pagamento como o cartão de crédito e o dinheiro impresso. Segundo Nic Carter, especialista em finanças, essa não é uma comparação justa:
“Como o Bitcoin propõe um sistema monetário próprio e um sistema de pagamento próprio, o certo seria comparar seu gasto ao de todo o sistema do dólar e todos os pilares que o sustentam”
— Nic Carter, em entrevista à Bloomberg.
A mineração exige muita energia, mas o maior problema não é o gasto por si só, e sim o uso de energias não renováveis. Esse tipo de energia impacta o meio ambiente ao fazer uso de recursos que podem se esgotar em um futuro próximo.
Como os mineradores sempre buscam as melhores condições para obter maior lucro, acabam optando pelos locais que oferecem o melhor preço. A China, por exemplo, possui um dos melhores preços de energia elétrica do mundo, e por isso responde por quase 75% das operações do Bitcoin. Mas porque isso ocorre? Porque a China faz uso de uma das formas mais baratas de produção de energia: a queima de carvão mineral. Essa forma é, no entanto, uma das mais poluentes no mundo.
Nesse caso, uma mudança no sistema de energia chinês seria muito mais benéfica do que no sistema de mineração em si, e segundo Oderval Duarte, economista formado na UFMG, elas são cada vez mais acessíveis:
“A geração de energia através de fontes renováveis produz energia limpa sem agressão ao meio ambiente. (…) Em termos de custo, elas têm se tornado cada vez mais competitivas, se situando hoje em um custo muito menor do que algumas fontes que usam combustíveis fósseis para a geração”
— Oderval Duarte
No entanto, reformar enormes sistemas de produção de energia não é algo que pode ocorrer de um dia para o outro, e uma mudança rápida nos níveis de poluição é necessária. Caso contrário, cientistas estimam que teremos um aquecimento global de 2ºC até 2033, colocando em risco diversas espécies de animais e plantas.
As empresas de criptomoedas têm, portanto, o dever de promover ações que diminuam seu gasto energético. Tara Shirvani, especialista em sustentabilidade, sugere o sistema Proof of Stake.
Esse sistema atribui a responsabilidade da mineração aos maiores participantes na cripto, ou seja, quem tem mais dessa moeda. Dessa forma, não há uma gigantesca competição pela mineração e os mineradores não são obrigados a usar supercomputadores que gastam quantidades alarmantes de energia. A Ethereum, uma das maiores redes de criptomoedas do mundo, já aderiu ao sistema.
As criptomoedas vieram para facilitar transações fora dos bancos, sendo uma opção alternativa segura e eficiente. Seu gasto energético não é tão alto quando comparado a outras formas de tecnologia, mas pode trazer sérios problemas ao meio ambiente à medida que seu uso cresce.
Dessa forma, as empresas e governos nacionais precisam criar projetos eficientes para cortar os gastos dessa tecnologia, pois ela veio para ficar. As mudanças não passam por sanções à essa tecnologia, e sim pela utilização de fontes de energia renováveis e do sistema Proof of Stake.