Consumo consciente e busca por saúde impulsionam a produção nacional
por
Chloé Dana
|
30/09/2025 - 12h

Por Chloé Dana

 

Em meados de 2025, pesquisas agronômicas da Embrapa e da Organis, apontam que a produção de orgânicos no País aumentaram em 12%, visando um consumo mais saudável e consciente. O crescimento aponta à prioridade por produtos sem agrotóxicos e ao fortalecimento de políticas públicas voltadas à agricultura ecológica. 

Porém, é preciso entender como esse aumento surge, en que se diferencia de outras nações por suas profundas raízes em movimentos sociais e agroecológicos, em vez de ser impulsionada exclusivamente por lógicas de mercado. Mais do que apenas um método de cultivo, a agricultura orgânica é definida por um sistema de produção agropecuária que utiliza técnicas particulares com a finalidade de aprimorar a utilização dos recursos naturais e socioeconômicos à disposição, preservando a integridade cultural das comunidades do campo. Seus fundamentos incluem a sustentabilidade econômica e ambiental, a maximização de vantagens sociais, a redução da dependência de fontes de energia não-renováveis e a adoção de métodos biológicos e mecânicos em lugar de organismos que foram geneticamente alterados.

O surgimento da agricultura orgânica no Brasil remonta a meados da década de 1970, impulsionado por uma reação ao avanço da Revolução Verde, que propunha uma modernização da agricultura em prol do melhoramento genético, uso de insumos e agrotóxicos. Nessa época, a comercialização de produtos ocorria de maneira direta, baseado em um simples sistema de confiança entre quem produzia e quem comprava. 

O mercado inicial consistia em um "segmento natural" oferecendo entregas semanais de cestas contendo frutas, verduras e legumes na casa dos clientes. A presença de lagartas e bichinhos no alimento, era percebida pelos primeiros clientes como uma sinalização de qualidade, indicando que os alimentos tinham sido cultivados sem o uso de produtos químicos. A valorização dos produtos orgânicos não se baseava em certificações formais, mas sim na confiança entre as partes e na evidência concreta da falta de químicos, o que destaca que as origens do movimento no Brasil são fundamentadas em princípios agroecológicos e filosóficos, e não apenas comerciais. 

O produtor de orgânicos e feirante na Vila Madalena Carlos Nascimento explica alguns motivos de porque optou pelo orgânico ao invés do convencional. Nascimento afirma que sua decisão surgiu de um desejo de produzir de maneira mais consciente pois ao observar a prática convencional, notou os efeitos negativos do uso incessante de pesticidas e fertilizantes químicos. O solo se tornava exaurido, a biodiversidade se perdia e a saúde das pessoas que lidavam frequentemente com esses produtos era comprometida. 

Outro fator que influenciou sua escolha foi a valorização crescente do mercado de produtos orgânicos. O agricultor percebe que esse segmento possui um grande potencial de crescimento, impulsionado por consumidores mais conscientes e prontos para apoiar práticas sustentáveis. Apesar do notável crescimento e das conquistas legislativas, o setor orgânico no Brasil enfrenta desafios estruturais que representam obstáculos significativos ao seu desenvolvimento pleno, e isso implica em tempo e políticas públicas para o setor.

Quando discute o amanhã, o produtor demonstra uma visão otimista, porém fundamentada na realidade. Ele enxerga um grande potencial para o crescimento da agricultura orgânica no Brasil, especialmente devido à mudança na conscientização dos consumidores. Cada vez mais, famílias estão em busca de alimentos que não contenham agrotóxicos, valorizando a origem dos produtos que adquirem e desejando apoiar práticas sustentáveis. Para ele, esse movimento representa não uma moda passageira, mas uma tendência crescente que deve se intensificar nos anos vindouros, alinhando-se à preocupação global com a saúde e o meio ambiente.

Outro aspecto que ele enfatiza é a urgência de aumentar o acesso. Atualmente, os produtos orgânicos ainda alcançam uma fração reduzida da população, frequentemente restrita às grandes áreas urbanas e a consumidores com maior capacidade financeira. Para o futuro, ele aspirar por um cenário em que os orgânicos se tornem mais disponíveis, integrando-se a feiras comunitárias, merendas escolares e até programas de abastecimento público, garantindo que alimentos saudáveis deixem de ser um privilégio e se tornem um direito.

O mercado de orgânicos no Brasil encontra-se em uma fase de crescimento explosivo, impulsionado por uma mudança no perfil do consumidor e políticas de fomento. No entanto, o setor enfrenta desafios estruturais significativos, como o desequilíbrio entre oferta e demanda, a fragmentação dos dados oficiais e as barreiras de entrada para os pequenos produtores. A superação desses gargalos, especialmente a questão da certificação e o fortalecimento da logística e da cadeia de valor, é crucial. Ao abordar essas questões de forma estratégica, o Brasil tem a oportunidade de não apenas manter sua liderança na América Latina, mas de se consolidar como um dos principais players globais, alinhando seu potencial de produção com o vigor de seu mercado consumidor.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

A post shared by IAA MOBILITY (@iaamobility)

 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

1
Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

2
Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

3
Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

4
"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

5
Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

6
Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

7
Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

8
Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
|
18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

1
Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

2
Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

3
De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

4
Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

5
Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

6
Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

6
História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

8
Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
|
09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
|
30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

1
Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

2
Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

3
“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

4
Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

5
ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Como que as redes sociais estão prejudicando a saúde mental das pessoas e qual é o limite de uma interação na Internet
por
Maria Luiza Oliveira
|
21/09/2021 - 12h

Por Maria Luiza Oliveira

 

No dia 4 de agosto de 2021, o garoto de 16 anos, Lucas Santos, se suicidou após um vídeo publicado na rede social TikTok. O fato acabou rendendo muitos comentários homofóbicos e maldosos. A mãe do garoto, Walkyria Santos, se pronunciou no Instagram afirmando que a Internet está doente. Após o acontecimento, o TikTok emitiu uma nota em sua conta oficial dizendo que lamentavam a tragédia e que a prioridade da empresa era ter um ambiente acolhedor e de bem-estar para todos os usuários. Mas como fazer isso se o uso das redes sociais é pautado como uma das principais causas de transtornos mentais?

A cantora Luisa Sonza, 22 anos, é atacada quase que diariamente por comentários machistas e misóginos em suas plataformas digitais de relacionamentos afirma que sua saúde mental está sendo afetada. Sonza chegou a adiar o lançamento do álbum “Doce 22” devido a isso, informando que se afastaria por um tempo daquele mundo. Em nota, a equipe de Luísa pede “(...) mais uma vez respeito e empatia pelo próximo”. A cantora até mesmo já foi xingada e acusada pelos juízes da Internet pela morte prematura do filho de seu ex marido, Whindersson Nunes.

Facebook, Instagram e outras plataformas são um enorme complexo de conexão, e ao mesmo tempo em que são postadas fotos de animais de estimação, há inúmeras pessoas recebendo “hate” gratuitamente. Os preconceitos ficaram evidentes e alarmantes, pois todos se expressam da forma que quiserem, “o fato de a pessoa não precisar se expor é muito mais fácil falar o que pensa (...) É como se de forma virtual a pessoa se sentisse mais protegida, mais imponente, mais forte, dentro do seu ambiente seguro” - explica a psicóloga Jacqueline Leite.

A influencer digital, Isabela Cantinelli (18) tem mais de 56 mil seguidores no Instagram e relata que já sofreu ataques virtuais. Em um episódio recente, expôs um caso de assédio que sofreu nos storys e recebeu muitos comentários maldosos e denúncias no seu perfil, que agora corre o risco de ter sua conta banida.

Em outro momento, Isabela relata que já teve sua autoestima afetada pelos comentários que recebeu. “Eu postei uma brincadeira em tom de ironia e o tanto de coisa que eu recebi e falaram, as pessoas destilam muito ódio na internet. Isso me marcou muito, porque afetou minha autoestima pelas coisas que eu recebi.”

Foto de Tracy Le Blanc no Pexels
Foto de Tracy Le Blanc no Pexels

Diferente de como muitos pensam, a vida virtual não é um espaço sem regras a serem seguidas, de acordo com a advogada Luiza Sato, atuante na área de proteção de dados, explica que a Internet não é um ambiente sem lei: “(...) isso é um total e absoluto desconhecimento da realidade, pois todas as normas que existem hoje, mesmo antes da internet, vigoram e valem para o ambiente digital.”

Mas diante de casos que acontecem como o da Luisa Sonza, Lucas Santos e tantos outros, é um questionamento comum o motivo pelo qual as plataformas digitais não tomam uma atitude de retirar esse tipo de conteúdo ofensivo do ar. Para isso, é importante compreender como essa relação funciona.

De acordo com o Marco Civil da Internet, os provedores (Instagram, Facebook, Twitter etc.), podem tirar um conteúdo do ar, mas só se tornam obrigados mediante ordem judicial, sendo exceção somente quando há a divulgação de imagens íntimas sexuais. “ (...) os provedores têm milhares de pedidos de retirada de conteúdo e na maior parte das vezes são coisas que não tem fundamento. Um concorrente querendo prejudicar o outro. Então eu acho interessante que haja um juiz que reflita sobre esse assunto.” - afirma Sato.

Além disso, a advogada afirma que caso a plataforma retire um conteúdo sem uma ordem judicial ela pode vir a sofrer uma ação por censura. Por isso, muitas preferem esperar uma decisão judiciária para estarem resguardadas na retirada de um conteúdo.

“A tecnologia não é culpada, é o uso que a gente faz dela. Então o problema sempre chega no ser humano, sempre foi feito mau uso da tecnologia pelos seres humanos” – conclui a advogada. O surgimento das redes sociais facilitou muitos processos, agora é possível mandar mensagens de uma forma mais rápida, diminuir distâncias em um ambiente conectado, compartilhar momentos. Mas o mau uso dela também pode ocasionar diversos transtornos na saúde mental, desde vício à tecnologia até mesmo para quem recebe diversos comentários maldosos.

 

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) demonstra que o uso excessivo desse tipo de realidade virtual está relacionado ao sentimento de se isolar do mundo real, o que contribui para doenças relacionadas à saúde mental, como depressão e ansiedade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística já mostrou que a população brasileira é a segunda que mais gasta seu tempo na Internet, estando conectada cerca de 9 horas e 29 minutos por dia, sendo 40% do tempo gasto em sites de relacionamento.

A psicóloga explica que na Internet é mais fácil falar suas opiniões e demonstrar os seus “achismos”, independente se isso irá ou não afetar o outro, uma vez que ela sente sua privacidade e identidade protegida por um perfil que muitas vezes não é dela. “O olho a olho não existe, o que torna mais difícil dizer o que se pensa, pois, pessoalmente inúmeras variáveis estão presentes e no virtual não) ” – reforça Leite.

Hoje é comum a prática do cancelamento (quando alguém recebe inúmeros ataques e ameaças por ter tido uma atitude que não agradou a opinião pública) algo que Cantinelli pode vivenciar a qualquer momento uma vez que trabalha e quer crescer ainda mais nesse meio: “É uma coisa ridícula, todo mundo erra, ninguém é perfeito! Eles julgam muito o próximo e não olham para o próprio umbigo.”

A Internet e as redes sociais facilitaram muitos processos, de contato com outras pessoas e de acesso a conteúdos de uma maneira mais rápida, contudo, é um ambiente totalmente tóxico. Pelas pessoas terem um contato maior e esconderem suas identidades, acreditam que podem expor seus preconceitos, disfarçados de opinião, para qualquer um.   

População idosa inova e aproveita o tempo livre proporcionado pela aposentadoria para experimentar e principalmente aprender novas tecnologias digitais. 
por
Dayres Vitoria
|
24/09/2021 - 12h

Por Dayres Vitoria

Com os filhos crescidos, os netos na escola e a família eventualmente distante, para muitos idosos o tempo pode parecer não passar. A rotina para alguns considerada monótona, geralmente da casa para o hospital e vice-versa, pode se tornar entediante. Entretanto, uma grande parcela dessa população está desfrutando do tempo livre sobrando para testar e compreender e fazer uso das novas tecnologias digitais. Porém, muitos deles descobriram que não é tão simples quanto imaginavam.

No Estatuto do Idoso, criado pela Lei 10.741 em 1º de outubro de 2003, é previsto no primeiro parágrafo do Art. 21: “os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna”. Contudo, na prática não funciona bem assim. Por haver poucos cursos de inclusão digital para idosos (e os que já circulam normalmente não são muito divulgados) e com a falta de pessoas ou parentes para acompanhá-los durante esse processo de aprendizado, boa parte da população idosa acaba ficando de fora das novidades e facilidades conquistadas na contemporaneidade.  

A era da TV 

A televisão foi uma das primeiras tecnologias eletro-eletrônicas disponíveis.  Inaugurada no Brasil em 1950, ela nunca deixou de ser inovada para que cada vez mais esteja no agrado dos telespectadores. Do “caixote” pesado com apenas imagens em preto e branco para televisores ultrafinos com imagens hipnotizantes (devido a tantas cores) e agora com um áudio com qualidade de cinema, esse é um dos itens tecnológicos mais amado pelos brasileiros sendo apenas 2,8% das casas no País que não possuem uma, segundo pesquisa do IBGE.  

 Seguindo sendo a mídia soberana no "país do futebol", a TV representa um dos maiores marcos da tecnologia digital. Para Cicero Cardoso Vieira, 70 anos, o aparelho foi uma das melhores invenções já criadas pelo homem. Contudo, ele afirma que até hoje não sabe lidar direito com o engenhoso aparelho. Vieira conta que na época de sua juventude poucas casas tinham TVs, somente as famílias com melhores condições financeiras. Por isso, sempre considerou o rádio um equipamento de comunicação mais simples e fácil de usar, principalmente, para quem morava no interior.   

Conforme o tempo passou, a população (se comparado a antes) melhorou financeiramente. Ainda que a maioria não tenha enriquecido, a mudança já foi significativa. Assim, um produto que antes era restrito apenas às classes economicamente mais favorecidas, hoje ocupa um espaço especial nas estantes e paredes dos lares brasileiros. Embora ainda haja uma pequena parcela da população que não tenha, o aparelho já deixou, há algum tempo, de ser símbolo da elite e passou a ser um símbolo da democratização da comunicação brasileira.  

Cardoso completou recentemente seis meses com a sua primeira TV. Ele explica que como sempre ouviu o rádio não enxergava a necessidade de adquirir uma, contudo, isso mudou ao longo do tempo:  “Eu comecei a perceber que muita gente tinha televisão em casa, eu olhava para a casa dos vizinhos e achava bonito então inventei de comprar uma televisão também”, alega Cardoso. 

Questionado se não se arrepende de não ter comprado uma antes Cicero afirma que sim, pois poder assistir aos programas, segundo ele, que gosta - inclusive dos apresentados “ao vivo” - o ajuda a descontrair além de ter se tornado parte de sua rotina. Como um bom brasileiro uma de suas grandes emoções é poder assistir as partidas de futebol do sofá de casa: “Na televisão eu não perco um jogo de futebol, sou muito fã de esporte”, diz o aposentado. 

Internet para os idosos 

Além das TVs, um dos principais meios para os idosos de se informar ou se comunicar com o mundo atualmente é através da Internet. Nos últimos anos, o acesso à rede mundial de computadores pelas pessoas com mais de 60 anos no Brasil avançou significativamente. De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com a Offer Wise Pesquisas, o percentual de navegação entre eles cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021. 

Ainda segundo a pesquisa, 61% utilizam a web para manter contato com outras pessoas. O WhatsApp é a rede social mais utilizada (92%), seguida do Facebook (85%) e Youtube (77%). Esse é o caso de Anario Soares da Cruz, 74 anos, que só tem notícias de sua família, espalhada pelo Brasil todo, por ter acesso à Internet e utilizar o WhatsApp:  “Quando eu quero saber como é que um parente está eu já passo um “zap” ou se não eu ligo. Eu posso falar com a pessoa na hora, isso já dá uma tranquilidade não ter que esperar para saber”, assegura ele. De acordo com os dados, o smartphone é o principal aparelho de acesso, citado por 84% dos idosos que usam a Internet enquanto 37% usam notebook e 36% computador desktop

Conforme a pesquisa, os aplicativos que os idosos mais usam nos celulares são as redes sociais (72%). O acesso às redes, como Facebook e WhatsApp, ajuda a combater o isolamento social e a se sentirem parte da comunidade, inclusive no meio digital. Para eles, é uma boa maneira de conhecer pessoas, socializar com amigos e familiares e não ficar para trás. Além disso, pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte apontam que o uso de celular pode gerar um ganho considerável ao bem-estar do idoso, além de ser um excelente aliado contra a solidão e a depressão por permitir a interação com outros indivíduos.  

Apesar do grande acesso à Internet por parte dos idosos partir do uso de aparelhos como smartphones, eles ainda enfrentam barreiras de acessibilidade desde o uso de aplicativos quanto de equipamentos tecnológicos.  Muitas vezes esses obstáculos derivam de características do próprio equipamento como letras pequenas e idiomas estrangeiros. Para Anario, por exemplo, isso também é um problema, o que inclusive dificulta o seu aprendizado em manusear totalmente tanto o produto eletrônico quanto seus programas: “Até hoje eu tenho dificuldades, principalmente para escrever. O que pra mim foi bom é que eu posso mandar um “zap” (referindo-se à opção de áudio) ou telefonar para alguém. Mas se for pra fazer transferência de uma conta de banco, essas coisas toda eu já não sei mexer ainda, estou tentando aprender. Mas comparado a antes as coisas melhoraram. Antes eu comunicava pelo telefone fixo, o celular facilitou porque você pode carregar ele para qualquer lugar e o telefone fixo não, para mim facilitou por esse motivo”, afirma o aposentado.  

 

Anario Soares da Cruz, 74 anos.

 

Embora alguns estejam contentes com o pouco que sabem e utilizam desses avanços tecnológicos, ainda há aqueles que não confiam totalmente nessas inusitadas formas de tecnologia. Taiuani Marquine Raymundo, terapeuta ocupacional de formação, realizou sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP com 100 indivíduos com mais de 65 anos escolhidos ao acaso. Ela analisou o nível de aceitação da tecnologia por parte dos entrevistados e conforme suas pesquisas 24% relataram ter medo de utilizar as novas tecnologias, e 40% relataram ter receio de danificar o aparelho celular. 

O sentimento de medo, para aqueles que responderam ter, cresce principalmente quando usam a Internet.  Além disso, o medo de vírus e das redes sociais também é comum.  Os resultados da pesquisa mostraram que, apesar das dificuldades encontradas, os membros do grupo avaliado relataram que superaram o medo após frequentarem cursos de inclusão digital. Vontade de aprender é o que não os falta.  

Um aspecto de extrema importância e que de certa forma é responsável por essa conexão dos idosos com esse tipo de tecnologia (apesar do misto de sentimentos que eles sentem frente a esse avanço) é a influência da família para que adentrem cada vez mais a esse mundo virtual. Com a correria do dia a dia e por na maior parte do tempo familiares não conseguirem estar 100% presente acompanhando eles pedem para que esses idosos tenham ao menos um celular (na maioria das vezes dado de presente) para se comunicarem. Ter informações dos pais ou avós, sabendo que eles estão em segurança, gera um sentimento de tranquilidade.  

Assim, frente ao que foi visto e entre tantos aspectos que rondam essa relação do idoso com a tecnologia digital, seria um absurdo afirmar que ela não tenha melhorado ou facilitado a vida e formas de convivência desse grupo. Embora essa relação não seja similar para todos, há uma construção, ainda que lenta, para que ela se torne mais acessível. Projetos de inclusão para idosos na nova era, inclusive voltadas para a tecnologia, já existem, porém, como já ressaltado anteriormente, não são muito divulgados e ainda são poucos. 

Se tecnologicamente o vestibular pode ser considerado um acerto, pedagogicamente ainda é algo a ser discutido
por
Daniel Dias
|
17/09/2021 - 12h

Por Daniel Dias

 

A tecnologia continua a evoluir a passos que a humanidade ainda se surpreende. Anos atrás os emails substituíram as cartas e após isso aplicativos como o Whatsapp, encontrados nos smartphones, deixaram tudo ainda mais prático.

Por muito tempo saber mexer nesses aplicativos era algo somente para o público adulto ou para pessoas que estudaram sobre o assunto, por conta da complexidade apresentada. Porém, hoje em dia são os jovens que comandam a utilização da tecnologia.

A geração atual praticamente nasce sabendo utilizar um celular ou um computador, sendo agora eles a ensinar os adultos. Tudo se tornou mais prático. Os livros físicos vêm sendo substituídos por digitais, as perguntas que necessariamente teriam que ser feitas para professores podem ser encontradas no Google, entre outras questões.

Por conta dessa evolução, tanto dos jovens quanto da própria tecnologia, o mundo e suas mais diversas áreas tiveram que se modernizar para não se tornar algo retrógrado em relação a esta geração. Recentemente, a área que sofreu com tal alteração foi a educação, as apostilas vem deixando de serem utilizadas e sendo substituídas em escolas que possuem condição, por tablets. Os livros que são indicados para leitura podem ser baixados em celulares, e provas podem ser feitas de modo digital.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) decidiu realizar em 2020, criando o ENEM digital para diminuir o gasto de folhas impressas, facilitar a correção da prova e também a velocidade da liberação dos resultados. Em relação a tecnologia, a ideia é interessante, pois ajuda em diversas questões ambientais e praticidade, no entanto por ser eletrônico ainda pode apresentar problemas como panes elétricas, falta de energia e outras questões.

Entretanto, e pedagogicamente falando? Como isso afeta os estudantes, escolas e cursinhos preparatórios? Tal mudança é realmente uma melhoria para a educação e será que é mesmo algo justo? Todos estarão prontos para realizar a prova digital até 2026 como está previsto?

A coordenadora Yanka Xavier do Cursinho Comunitário A-SOL, em Guarulhos, acredita que no momento a tecnologia possa escancarar a desigualdade social no sentido de auxiliar jovens da periferia a entrarem no ensino superior.

Mulher branca de cabelos pretos um pouco abaixo da linha do ombro . Está usando uma blusa preta, óculos pretos, um brinco de argola na orelha esquerda, e um piercing na região do nariz. Possui uma tatuagem de flor na região do peito, outra no braço direito
Yanka Xavier, coordenadora do cursinho A-Sol (Foto: Revista A-Sol)


Agemt: Como você vê essa mudança de alguns vestibulares, principalmente, do Enem para o digital? 

Yanka Xavier: Como coordenadora do cursinho A-Sol, percebi que, pelo menos nas periferias onde atuamos, não houve antes da implementação das provas digitais, o letramento e treinamento necessário para manter a qualidade na avaliação dos estudantes. Acredito que a tecnologia deve sim servir a melhorias, principalmente na questão do gasto de papel em relação ao meio ambiente, mas ainda assim percebemos que instituições como o INEP, por exemplo, atropelaram essa questão sem o fundamental preparo prévio dos estudantes, o que pode salientar ainda mais a desigualdade no acesso às provas, e não o contrário como impele a proposta. Muitos, por exemplo, mal tem contato com computador em casa e só acessam a rede de internet pelo celular que muitas vezes não tem a mesma qualidade de processamento e ferramentas.


Agemt: Você acredita que pedagogicamente falando, essa mudança facilita ou complica a vida dos estudantes e instituições de ensino a se prepararem para o vestibular? 

Yanka Xavier: Acredito que se houver o investimento no preparo, ou seja, no letramento digital e o investimento em maquinário principalmente com os estudantes que não tem condição alguma de ter um computador em casa, pode ser que comecemos a implementar a ideia de forma que atenda as demandas sem precisar atropelá-las. Como essa ideia foi imposta numa situação precária onde muitos estão mais preocupados em manter empregos e não passar fome do que conseguindo priorizar os estudos, acredito que surge aí o aumento da insegurança e não a melhoria no preparo do estudante para determinada prova. 

 

Cursinho Comunitário Arrastão da Solidariedade (símbolo do A-SOL)

Agemt: Neste momento, o cursinho tem condições de auxiliar os alunos a prestar o Enem digital? Com computadores que já os habituem a tal prova

Yanka Xavier: Como somos um movimento social e militantes voluntários, sem exceção, dependemos muito um do outro para fazer as coisas acontecerem, visto que, na cidade o poder público tão pouco se preocupa com a existência de cursinhos comunitários ou vimos o Estado com essa preocupação com o ensino médio, por exemplo, pelo menos nessa atual gestão. Por outro lado, mesmo sem qualquer apoio, sempre disponibilizamos questionários para saber como anda cada um deles e fazemos levantamentos per capita de quantos de nossos estudantes possuem ou não computador e internet em casa, ou se trabalham, tem o que comer, etc. Assim, podemos buscar soluções no nosso alcance para resolver um problema que não está na nossa alçada, visto que essas obrigações fundamentais teria de vir dos órgãos responsáveis já que o cursinho só existe porque o Estado ainda não tem cumprido seu papel de eficiência nas escolas, por outro lado, vem sucateando e privatizando as instituições de ensino. O resultado disso é menos acessos e menos soluções para problemas estruturais. Basta observar que este ano batemos recorde de baixa nas inscrições para o Enem em qualquer formato.


Agemt: Acredita que esse novo formato seja justo para todos os alunos? Desde os que possuíam uma qualidade financeira melhor até os de periferia?

Yanka Xavier: Acredito que este novo formato sem investimento e resoluções para problemas concretos e estruturais, pode na verdade salientar a desigualdade entre os estudantes no momento da prova com as justificativas que expliquei anteriormente. 

Agemt: Por enquanto esses vestibulares são somente opcionais, porém é estipulado que até 2026 o Enem será somente digital. Até lá, em relação a estrutura, a método de ensino e até mesmo pedagogicamente no geral, vocês já se vêm prontos para tal feito? 

Yanka Xavier: Sobre o corpo docente e a equipe diretiva e pedagógica do A-Sol, temos voluntários especialistas em ciência da computação e contamos com projetos voltados ao letramento digital a partir do ano que vem (2022). Nossa luta agora será conseguir equipamentos para que esse feito seja concretizado. Mas com certeza todo o estudante que entrar no A-Sol poderá contar com a força da nossa militância para que tenha um bom alcance em suas provas e consiga enfim alcançar seus sonhos e uma vida melhor. A gente acredita muito no potencial dos estudantes das periferias, mesmo que seja a classe mais prejudicada com toda a realidade material imposta a elas e a eles.

 

 

 

O HCFMUSP recebeu robôs que ajudam no atendimento, diminuindo o contágio
por
Mário Gandini
|
01/10/2021 - 12h

Por Mário Gandini 

No começo da pandemia, no ano de 2020,o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) recebeu robôs que permitiram aos médicos da unidade fazer atendimento aos pacientes com COVID-19, remotamente, usando recursos de telepresença. Os equipamentos foram doados pela empresa de tecnologia Pixeon e estão em cinco áreas do HC sendo usados para visitas virtuais de familiares aos pacientes internados e até mesmo na triagem, tudo isso com a finalidade de manter esse distanciamento social.

A doação reforça a estratégia da Pixeon de oferecer a hospitais e clínicas tecnologias que permitam aos pacientes uma jornada de saúde cada vez mais digital, sem deixar de lado o aspecto humano, tão importante em qualquer tratamento. O uso de robôs na medicina não é nenhuma novidade, principalmente na área da cirurgia. Com a chegada da pandemia muitos avanços foram agilizados e era de se esperar que essas inovações seriam realizadas de forma orgânica, fora desse cenário caótico que estamos vivendo com milhares de mortes decorrentes do Covid-19. Uma das grandes inovações foram os robôs usados no Hospital das Clínicas para realizar a triagem dos pacientes com suspeita de Covid-19

 

Na etapa de triagem, logo quando uma nova pessoa chega no ambulatório, o enfermeiro é quem controla o robô, se mantendo afastado de quem está com suspeita de contaminação. O robô se aproxima e realiza as primeiras perguntas, como, por exemplo, se a pessoa já apresenta problemas respiratórios etc. Em alguns casos, até mesmo os pacientes internados na UTI, quando precisarem de ajuda dos profissionais de saúde, são atendidos via robô. Thiago Maciel, formado em Ciência da Computação e funcionário do Hospital das Clínicas na área de tecnologia explica que durante a pandemia muitas empresas com projetos de utilização de robôs. "Ajudamos principalmente na parte da aplicação do desenvolvimento" como foi o caso da televisita. "O robô vai até o leito, se posiciona da melhor forma e faz a chamada com a família, com o pessoal que está de fora, e então podem usar vários softwares, como o do próprio aparelho ou o zoom, ou o WhatsApp”, afirma.

robôs usados na pandemia no HCFMUSP
Robôs usados na pandemia  no HCFMUSP
crédito: Divulgação O Globo

Maciel conta ainda que a pandemia trouxe necessidade de soluções tecnológicas que estavam em segundo plano. Projetos engavetados e ideias inovadoras tornaram-se prioridade numa sociedade pulsante por inovações. Além da aceleração de projetos antigos, muitos profissionais estão trabalhando para inovações tecnológicas. “Nós ficamos com um protótipo de um carrinho autônomo que não chegou a ser usado com o mesmo volume que o da televisita". Ele planeja integrar esse carrinho em projeto um pouco maior na UTI. "A nossa ideia é que todos os dispositivos de uma UTI se conectem em uma mesma rede e transmitam dados de forma uniforme para nós conseguirmos enxergar tudo sobre o paciente em um mesmo local", planeja. Mais: "hoje em dia não é assim, nós pensamos em um paciente um pouco mais complexo, ele tem um ventilador mecânico ligado a ele, uma bomba de infusão para aplicação de medicação, um monitor multiparamétrico e eventualmente mais um aparelho que ajuda na respiração. Então, você olha o posto de enfermagem tem várias telas, cada uma para você enxergar uma coisa, a ideia é justamente unificar esses dados que alimentarão a inteligência artificial do robô para ele tomar as decisões necessárias”, prevê.

 

 

Com a crise energética de 2021, a energia solar é uma alternativa para minimizar danos econômicos
por
Rafael Monteiro Teixeira
|
01/10/2021 - 12h

Por Rafael Monteiro

No final do segundo trimestre de 2021 um antigo alerta, que não era aceso desde 2001, está em evidência. Trata-se de uma nova crise energética, que obriga o País economizar energia mais uma vez. Por conta da crise hídrica, que leva ao problema em relação a energia, a conta de luz aumentou seu valor em 5%, além da aplicação de sucessivos aumentos nas bandeiras tarifárias, fato que tem pesado no orçamento das famílias ao redor do Brasil.

Nesse cenário atual, a saída mais viável seria a adoção de novas maneiras de se conseguir energia. Entre elas os painéis solares ou fotovoltaicos, que devem evoluir bastante, tanto no Brasil quanto em outros países, nos próximos anos. Mas primeiro, o que é energia solar? Se trata de toda a energia proveniente do sol, sendo essa térmica ou luminosa, fornecida em forma de radiação solar. É considerada por estudiosos como uma fonte energética inesgotável e superior a outras fontes de energia renováveis, como por exemplo, eólica, hídrica e geotérmica.

E para se obter essa energia solar é preciso dos painéis solares cujos preços para instalação podem variar bastante, podendo ser de R$ 4mil até R$ 10mil para uso residencial, e o preço apenas do painel pode ser de R$750 até R$900 por unidade.

painéis solares 1
Painéis solares (Imagem- Google imagens)

Além do próprio painel, também tem que ser comprado e instalado um inversor, que transforma e habilita a energia acumulada pelos painéis para que se possa utilizar em casa, onde os preços são de R$1.500 à R$40mil. Outro dispositivo importante seria as baterias solares, pois elas armazenam a energia restante, possuindo quatro tipos:  Baterias AGM (para instalações pequenas), Baterias Monobloco e Estacionárias (para instalações de uso contínuo) e as Baterias de Lithium (funcionais, porém com preços elevados).

Também é preciso contar com alguns outros elementos, como uma estrutura de suporte para os painéis, um contador bidirecional, cabeamento, um regulador de carga, e claro, o mais importante uma mão de obra especializada para instalar os aparelhos. Para Gustavo Sá, Engenheiro ambiental, MSc em Engenharia de Energia e professor de Pós-graduação do Senac Jabaquara, a utilização de painéis solares em residências é possível, porém não de imediato:

“Com um payback de aproximadamente 3,5 anos, para um tempo mínimo de geração estimado em 25 anos, tem-se um ganho médio de 21,5 anos sem pagar pela tarifa de energia – TE, cabendo somente o pagamento da tarifa mínima da concessionária, caso a unidade consumidora seja conectada à rede (on grid). O problema, creio eu, é o acesso ao recurso, pois prover um montante médio de R$ 13 mil para adquirir um sistema fotovoltaico e suprir o consumo de uma residência com 4 pessoas, muitas vezes não é fácil. Mesmo assim, observa-se que as pessoas preferem trocar seu veículo por um mais novo com esse recurso, mesmo que obtido em financiamentos (pagando juros não tão suaves), mas têm resistência em adquirir um ativo (isso mesmo, um ativo, gera lucro, já o carro só deprecia) e facilidade para financiar um veículo.”

Ele explica que existem dois tipos de energia solar mais comuns, a solar fotovoltaica (geração de energia elétrica) e solar térmica (aquecedores para água), ambas com contribuições positivas para o setor energético. “Para a geração solar fotovoltaica, cabe ressaltar que a geração pode ser feita em pequena escala (Geração Distribuída – GD: residências, comércios e indústrias, onde a unidade consumidora pode gerar sua própria energia e injetar o excedente na rede local) e grande escala (Geração Centralizada – GC: projetos de geração de energia elétrica de grande porte, voltados ao abastecimento público por leilões públicos de energia ou por venda no mercado livre de energia).” Diz Sá, ressaltando como funciona a energia solar fotovoltaica.

Ele fala também da geração de energia de grande e pequeno porte: “Para a geração de grande porte, existe uma regulação diferenciada, cujos incentivos são inerentes às fontes renováveis, aplicando-se ao atendimento público da oferta de energia ou pelos produtores do mercado livre de energia, o ML”, explica. Mais: “Para a geração de pequeno porte, em GD, que têm sido alvo de muitas discussões e polêmicas, a política energética praticada no país não prevê incentivos diretos, na forma de tarifas prêmio, por exemplo (buscar por feed in tariff). O que existe são convênios do Confaz que reduzem ou zeram alguma carga tributária (a depender da adesão por estados), o que na prática, reduz o preço dos kits de equipamentos”, informa.

É possível afirmar que a política energética atual do País não relaciona incentivos financeiros à importância da GD, que incluí a energia solar fotovoltaica, para o sistema interligado nacional (SIN). “Primeiramente é necessário dizer que a geração de energia solar fotovoltaica requer do sistema local uma capacidade de suporte, pois se todas as unidades consumidoras passarem a injetar energia na rede, certamente haveria a necessidade de uma atualização dessa rede local, entenda-se investimentos em ampliação”, prevê.

painéis solares
painéis solares com uma estrutura de suporte (Imagem- Google imagens)

Nesse contexto, a injeção de energia gerada por fonte fotovoltaica distribuída, dentro dos limites que o sistema suporta na atualidade, certamente é benéfica, pois evita-se que a energia gerada remotamente em usinas de fontes diversas tenha a necessidade de ser transmitida (pelas linhas de transmissão de energia, essenciais para este fim). Mas, ainda no ponto positivo, se por exemplo, uma residência produz exatamente a média de energia que necessita consumir, através de um sistema fotovoltaico de pequeno porte, não necessitando dessa forma injetar excedentes na rede, tem-se um cenário essencialmente positivo, pois supre a necessidade daquela unidade consumidora e ao mesmo tempo não exige da rede local um suporte, justamente por não estar injetando energia e sim consumindo somente o que necessita.” Comenta o engenheiro ambiental, sobre como alguns pontos positivos da energia solar para uso residencial e com ela pode reduzir os impactos da crise energética.

Vai na contramão da sustentabilidade energética-econômica e ambiental, já que a diversificação da matriz energética se constitui no melhor cenário, principalmente quando pensado em termos da "avaliação do ciclo de vida – LCA” sobre a implementação dos painéis. Ele ainda complementa que é preciso ser avaliada a possibilidade de uma matriz cada vez mais limpa, com fontes renováveis em geral, eliminando os combustíveis fósseis. Se durante a noite o sistema solar não gera energia, e então se a necessidade por energia é maior, a única forma seria armazenar durante o dia e distribuir a noite, fato que implicaria em uso de baterias (em grande escala e com proporções físicas gigantescas), tornando nos padrões de mercado de hoje, inviável. É necessário saber que, por exemplo, a utilização do hidrogênio vem se mostrando muito importante no contexto da sustentabilidade ampla, ou seja, econômico-energética e ambiental.

painéis solares 2
Painéis solares (Imagem- Google imagens)

 Sá garante que o que se percebe pelo ponto de vista da avaliação de ciclo de vida, é que um sistema de geração fotovoltaica tem tantos problemas quanto os demais, contudo, ao utilizar a energia do sol para conversão em energia elétrica, há diversos pontos de economia, principalmente porque dezenas de milhares de km de linhas de transmissão podem deixar de ser implantadas, conhecido como “do berço ao túmulo” na LCA. Assim, a possibilidade de gerar energia no local onde irá consumi-la é outra característica positiva importante no uso de painéis solares.