Por Maria Luiza Oliveira
No dia 4 de agosto de 2021, o garoto de 16 anos, Lucas Santos, se suicidou após um vídeo publicado na rede social TikTok. O fato acabou rendendo muitos comentários homofóbicos e maldosos. A mãe do garoto, Walkyria Santos, se pronunciou no Instagram afirmando que a Internet está doente. Após o acontecimento, o TikTok emitiu uma nota em sua conta oficial dizendo que lamentavam a tragédia e que a prioridade da empresa era ter um ambiente acolhedor e de bem-estar para todos os usuários. Mas como fazer isso se o uso das redes sociais é pautado como uma das principais causas de transtornos mentais?
A cantora Luisa Sonza, 22 anos, é atacada quase que diariamente por comentários machistas e misóginos em suas plataformas digitais de relacionamentos afirma que sua saúde mental está sendo afetada. Sonza chegou a adiar o lançamento do álbum “Doce 22” devido a isso, informando que se afastaria por um tempo daquele mundo. Em nota, a equipe de Luísa pede “(...) mais uma vez respeito e empatia pelo próximo”. A cantora até mesmo já foi xingada e acusada pelos juízes da Internet pela morte prematura do filho de seu ex marido, Whindersson Nunes.
Facebook, Instagram e outras plataformas são um enorme complexo de conexão, e ao mesmo tempo em que são postadas fotos de animais de estimação, há inúmeras pessoas recebendo “hate” gratuitamente. Os preconceitos ficaram evidentes e alarmantes, pois todos se expressam da forma que quiserem, “o fato de a pessoa não precisar se expor é muito mais fácil falar o que pensa (...) É como se de forma virtual a pessoa se sentisse mais protegida, mais imponente, mais forte, dentro do seu ambiente seguro” - explica a psicóloga Jacqueline Leite.
A influencer digital, Isabela Cantinelli (18) tem mais de 56 mil seguidores no Instagram e relata que já sofreu ataques virtuais. Em um episódio recente, expôs um caso de assédio que sofreu nos storys e recebeu muitos comentários maldosos e denúncias no seu perfil, que agora corre o risco de ter sua conta banida.
Em outro momento, Isabela relata que já teve sua autoestima afetada pelos comentários que recebeu. “Eu postei uma brincadeira em tom de ironia e o tanto de coisa que eu recebi e falaram, as pessoas destilam muito ódio na internet. Isso me marcou muito, porque afetou minha autoestima pelas coisas que eu recebi.”

Diferente de como muitos pensam, a vida virtual não é um espaço sem regras a serem seguidas, de acordo com a advogada Luiza Sato, atuante na área de proteção de dados, explica que a Internet não é um ambiente sem lei: “(...) isso é um total e absoluto desconhecimento da realidade, pois todas as normas que existem hoje, mesmo antes da internet, vigoram e valem para o ambiente digital.”
Mas diante de casos que acontecem como o da Luisa Sonza, Lucas Santos e tantos outros, é um questionamento comum o motivo pelo qual as plataformas digitais não tomam uma atitude de retirar esse tipo de conteúdo ofensivo do ar. Para isso, é importante compreender como essa relação funciona.
De acordo com o Marco Civil da Internet, os provedores (Instagram, Facebook, Twitter etc.), podem tirar um conteúdo do ar, mas só se tornam obrigados mediante ordem judicial, sendo exceção somente quando há a divulgação de imagens íntimas sexuais. “ (...) os provedores têm milhares de pedidos de retirada de conteúdo e na maior parte das vezes são coisas que não tem fundamento. Um concorrente querendo prejudicar o outro. Então eu acho interessante que haja um juiz que reflita sobre esse assunto.” - afirma Sato.
Além disso, a advogada afirma que caso a plataforma retire um conteúdo sem uma ordem judicial ela pode vir a sofrer uma ação por censura. Por isso, muitas preferem esperar uma decisão judiciária para estarem resguardadas na retirada de um conteúdo.
“A tecnologia não é culpada, é o uso que a gente faz dela. Então o problema sempre chega no ser humano, sempre foi feito mau uso da tecnologia pelos seres humanos” – conclui a advogada. O surgimento das redes sociais facilitou muitos processos, agora é possível mandar mensagens de uma forma mais rápida, diminuir distâncias em um ambiente conectado, compartilhar momentos. Mas o mau uso dela também pode ocasionar diversos transtornos na saúde mental, desde vício à tecnologia até mesmo para quem recebe diversos comentários maldosos.
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) demonstra que o uso excessivo desse tipo de realidade virtual está relacionado ao sentimento de se isolar do mundo real, o que contribui para doenças relacionadas à saúde mental, como depressão e ansiedade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística já mostrou que a população brasileira é a segunda que mais gasta seu tempo na Internet, estando conectada cerca de 9 horas e 29 minutos por dia, sendo 40% do tempo gasto em sites de relacionamento.
A psicóloga explica que na Internet é mais fácil falar suas opiniões e demonstrar os seus “achismos”, independente se isso irá ou não afetar o outro, uma vez que ela sente sua privacidade e identidade protegida por um perfil que muitas vezes não é dela. “O olho a olho não existe, o que torna mais difícil dizer o que se pensa, pois, pessoalmente inúmeras variáveis estão presentes e no virtual não) ” – reforça Leite.
Hoje é comum a prática do cancelamento (quando alguém recebe inúmeros ataques e ameaças por ter tido uma atitude que não agradou a opinião pública) algo que Cantinelli pode vivenciar a qualquer momento uma vez que trabalha e quer crescer ainda mais nesse meio: “É uma coisa ridícula, todo mundo erra, ninguém é perfeito! Eles julgam muito o próximo e não olham para o próprio umbigo.”
A Internet e as redes sociais facilitaram muitos processos, de contato com outras pessoas e de acesso a conteúdos de uma maneira mais rápida, contudo, é um ambiente totalmente tóxico. Pelas pessoas terem um contato maior e esconderem suas identidades, acreditam que podem expor seus preconceitos, disfarçados de opinião, para qualquer um.
Por Dayres Vitoria
Com os filhos crescidos, os netos na escola e a família eventualmente distante, para muitos idosos o tempo pode parecer não passar. A rotina para alguns considerada monótona, geralmente da casa para o hospital e vice-versa, pode se tornar entediante. Entretanto, uma grande parcela dessa população está desfrutando do tempo livre sobrando para testar e compreender e fazer uso das novas tecnologias digitais. Porém, muitos deles descobriram que não é tão simples quanto imaginavam.
No Estatuto do Idoso, criado pela Lei 10.741 em 1º de outubro de 2003, é previsto no primeiro parágrafo do Art. 21: “os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna”. Contudo, na prática não funciona bem assim. Por haver poucos cursos de inclusão digital para idosos (e os que já circulam normalmente não são muito divulgados) e com a falta de pessoas ou parentes para acompanhá-los durante esse processo de aprendizado, boa parte da população idosa acaba ficando de fora das novidades e facilidades conquistadas na contemporaneidade.
A era da TV
A televisão foi uma das primeiras tecnologias eletro-eletrônicas disponíveis. Inaugurada no Brasil em 1950, ela nunca deixou de ser inovada para que cada vez mais esteja no agrado dos telespectadores. Do “caixote” pesado com apenas imagens em preto e branco para televisores ultrafinos com imagens hipnotizantes (devido a tantas cores) e agora com um áudio com qualidade de cinema, esse é um dos itens tecnológicos mais amado pelos brasileiros sendo apenas 2,8% das casas no País que não possuem uma, segundo pesquisa do IBGE.
Seguindo sendo a mídia soberana no "país do futebol", a TV representa um dos maiores marcos da tecnologia digital. Para Cicero Cardoso Vieira, 70 anos, o aparelho foi uma das melhores invenções já criadas pelo homem. Contudo, ele afirma que até hoje não sabe lidar direito com o engenhoso aparelho. Vieira conta que na época de sua juventude poucas casas tinham TVs, somente as famílias com melhores condições financeiras. Por isso, sempre considerou o rádio um equipamento de comunicação mais simples e fácil de usar, principalmente, para quem morava no interior.
Conforme o tempo passou, a população (se comparado a antes) melhorou financeiramente. Ainda que a maioria não tenha enriquecido, a mudança já foi significativa. Assim, um produto que antes era restrito apenas às classes economicamente mais favorecidas, hoje ocupa um espaço especial nas estantes e paredes dos lares brasileiros. Embora ainda haja uma pequena parcela da população que não tenha, o aparelho já deixou, há algum tempo, de ser símbolo da elite e passou a ser um símbolo da democratização da comunicação brasileira.
Cardoso completou recentemente seis meses com a sua primeira TV. Ele explica que como sempre ouviu o rádio não enxergava a necessidade de adquirir uma, contudo, isso mudou ao longo do tempo: “Eu comecei a perceber que muita gente tinha televisão em casa, eu olhava para a casa dos vizinhos e achava bonito então inventei de comprar uma televisão também”, alega Cardoso.
Questionado se não se arrepende de não ter comprado uma antes Cicero afirma que sim, pois poder assistir aos programas, segundo ele, que gosta - inclusive dos apresentados “ao vivo” - o ajuda a descontrair além de ter se tornado parte de sua rotina. Como um bom brasileiro uma de suas grandes emoções é poder assistir as partidas de futebol do sofá de casa: “Na televisão eu não perco um jogo de futebol, sou muito fã de esporte”, diz o aposentado.
Internet para os idosos
Além das TVs, um dos principais meios para os idosos de se informar ou se comunicar com o mundo atualmente é através da Internet. Nos últimos anos, o acesso à rede mundial de computadores pelas pessoas com mais de 60 anos no Brasil avançou significativamente. De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com a Offer Wise Pesquisas, o percentual de navegação entre eles cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021.
Ainda segundo a pesquisa, 61% utilizam a web para manter contato com outras pessoas. O WhatsApp é a rede social mais utilizada (92%), seguida do Facebook (85%) e Youtube (77%). Esse é o caso de Anario Soares da Cruz, 74 anos, que só tem notícias de sua família, espalhada pelo Brasil todo, por ter acesso à Internet e utilizar o WhatsApp: “Quando eu quero saber como é que um parente está eu já passo um “zap” ou se não eu ligo. Eu posso falar com a pessoa na hora, isso já dá uma tranquilidade não ter que esperar para saber”, assegura ele. De acordo com os dados, o smartphone é o principal aparelho de acesso, citado por 84% dos idosos que usam a Internet enquanto 37% usam notebook e 36% computador desktop.
Conforme a pesquisa, os aplicativos que os idosos mais usam nos celulares são as redes sociais (72%). O acesso às redes, como Facebook e WhatsApp, ajuda a combater o isolamento social e a se sentirem parte da comunidade, inclusive no meio digital. Para eles, é uma boa maneira de conhecer pessoas, socializar com amigos e familiares e não ficar para trás. Além disso, pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte apontam que o uso de celular pode gerar um ganho considerável ao bem-estar do idoso, além de ser um excelente aliado contra a solidão e a depressão por permitir a interação com outros indivíduos.
Apesar do grande acesso à Internet por parte dos idosos partir do uso de aparelhos como smartphones, eles ainda enfrentam barreiras de acessibilidade desde o uso de aplicativos quanto de equipamentos tecnológicos. Muitas vezes esses obstáculos derivam de características do próprio equipamento como letras pequenas e idiomas estrangeiros. Para Anario, por exemplo, isso também é um problema, o que inclusive dificulta o seu aprendizado em manusear totalmente tanto o produto eletrônico quanto seus programas: “Até hoje eu tenho dificuldades, principalmente para escrever. O que pra mim foi bom é que eu posso mandar um “zap” (referindo-se à opção de áudio) ou telefonar para alguém. Mas se for pra fazer transferência de uma conta de banco, essas coisas toda eu já não sei mexer ainda, estou tentando aprender. Mas comparado a antes as coisas melhoraram. Antes eu comunicava pelo telefone fixo, o celular facilitou porque você pode carregar ele para qualquer lugar e o telefone fixo não, para mim facilitou por esse motivo”, afirma o aposentado.

Embora alguns estejam contentes com o pouco que sabem e utilizam desses avanços tecnológicos, ainda há aqueles que não confiam totalmente nessas inusitadas formas de tecnologia. Taiuani Marquine Raymundo, terapeuta ocupacional de formação, realizou sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP com 100 indivíduos com mais de 65 anos escolhidos ao acaso. Ela analisou o nível de aceitação da tecnologia por parte dos entrevistados e conforme suas pesquisas 24% relataram ter medo de utilizar as novas tecnologias, e 40% relataram ter receio de danificar o aparelho celular.
O sentimento de medo, para aqueles que responderam ter, cresce principalmente quando usam a Internet. Além disso, o medo de vírus e das redes sociais também é comum. Os resultados da pesquisa mostraram que, apesar das dificuldades encontradas, os membros do grupo avaliado relataram que superaram o medo após frequentarem cursos de inclusão digital. Vontade de aprender é o que não os falta.
Um aspecto de extrema importância e que de certa forma é responsável por essa conexão dos idosos com esse tipo de tecnologia (apesar do misto de sentimentos que eles sentem frente a esse avanço) é a influência da família para que adentrem cada vez mais a esse mundo virtual. Com a correria do dia a dia e por na maior parte do tempo familiares não conseguirem estar 100% presente acompanhando eles pedem para que esses idosos tenham ao menos um celular (na maioria das vezes dado de presente) para se comunicarem. Ter informações dos pais ou avós, sabendo que eles estão em segurança, gera um sentimento de tranquilidade.
Assim, frente ao que foi visto e entre tantos aspectos que rondam essa relação do idoso com a tecnologia digital, seria um absurdo afirmar que ela não tenha melhorado ou facilitado a vida e formas de convivência desse grupo. Embora essa relação não seja similar para todos, há uma construção, ainda que lenta, para que ela se torne mais acessível. Projetos de inclusão para idosos na nova era, inclusive voltadas para a tecnologia, já existem, porém, como já ressaltado anteriormente, não são muito divulgados e ainda são poucos.
Por Daniel Dias
A tecnologia continua a evoluir a passos que a humanidade ainda se surpreende. Anos atrás os emails substituíram as cartas e após isso aplicativos como o Whatsapp, encontrados nos smartphones, deixaram tudo ainda mais prático.
Por muito tempo saber mexer nesses aplicativos era algo somente para o público adulto ou para pessoas que estudaram sobre o assunto, por conta da complexidade apresentada. Porém, hoje em dia são os jovens que comandam a utilização da tecnologia.
A geração atual praticamente nasce sabendo utilizar um celular ou um computador, sendo agora eles a ensinar os adultos. Tudo se tornou mais prático. Os livros físicos vêm sendo substituídos por digitais, as perguntas que necessariamente teriam que ser feitas para professores podem ser encontradas no Google, entre outras questões.
Por conta dessa evolução, tanto dos jovens quanto da própria tecnologia, o mundo e suas mais diversas áreas tiveram que se modernizar para não se tornar algo retrógrado em relação a esta geração. Recentemente, a área que sofreu com tal alteração foi a educação, as apostilas vem deixando de serem utilizadas e sendo substituídas em escolas que possuem condição, por tablets. Os livros que são indicados para leitura podem ser baixados em celulares, e provas podem ser feitas de modo digital.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) decidiu realizar em 2020, criando o ENEM digital para diminuir o gasto de folhas impressas, facilitar a correção da prova e também a velocidade da liberação dos resultados. Em relação a tecnologia, a ideia é interessante, pois ajuda em diversas questões ambientais e praticidade, no entanto por ser eletrônico ainda pode apresentar problemas como panes elétricas, falta de energia e outras questões.
Entretanto, e pedagogicamente falando? Como isso afeta os estudantes, escolas e cursinhos preparatórios? Tal mudança é realmente uma melhoria para a educação e será que é mesmo algo justo? Todos estarão prontos para realizar a prova digital até 2026 como está previsto?
A coordenadora Yanka Xavier do Cursinho Comunitário A-SOL, em Guarulhos, acredita que no momento a tecnologia possa escancarar a desigualdade social no sentido de auxiliar jovens da periferia a entrarem no ensino superior.

Agemt: Como você vê essa mudança de alguns vestibulares, principalmente, do Enem para o digital?
Yanka Xavier: Como coordenadora do cursinho A-Sol, percebi que, pelo menos nas periferias onde atuamos, não houve antes da implementação das provas digitais, o letramento e treinamento necessário para manter a qualidade na avaliação dos estudantes. Acredito que a tecnologia deve sim servir a melhorias, principalmente na questão do gasto de papel em relação ao meio ambiente, mas ainda assim percebemos que instituições como o INEP, por exemplo, atropelaram essa questão sem o fundamental preparo prévio dos estudantes, o que pode salientar ainda mais a desigualdade no acesso às provas, e não o contrário como impele a proposta. Muitos, por exemplo, mal tem contato com computador em casa e só acessam a rede de internet pelo celular que muitas vezes não tem a mesma qualidade de processamento e ferramentas.
Agemt: Você acredita que pedagogicamente falando, essa mudança facilita ou complica a vida dos estudantes e instituições de ensino a se prepararem para o vestibular?
Yanka Xavier: Acredito que se houver o investimento no preparo, ou seja, no letramento digital e o investimento em maquinário principalmente com os estudantes que não tem condição alguma de ter um computador em casa, pode ser que comecemos a implementar a ideia de forma que atenda as demandas sem precisar atropelá-las. Como essa ideia foi imposta numa situação precária onde muitos estão mais preocupados em manter empregos e não passar fome do que conseguindo priorizar os estudos, acredito que surge aí o aumento da insegurança e não a melhoria no preparo do estudante para determinada prova.

Agemt: Neste momento, o cursinho tem condições de auxiliar os alunos a prestar o Enem digital? Com computadores que já os habituem a tal prova
Yanka Xavier: Como somos um movimento social e militantes voluntários, sem exceção, dependemos muito um do outro para fazer as coisas acontecerem, visto que, na cidade o poder público tão pouco se preocupa com a existência de cursinhos comunitários ou vimos o Estado com essa preocupação com o ensino médio, por exemplo, pelo menos nessa atual gestão. Por outro lado, mesmo sem qualquer apoio, sempre disponibilizamos questionários para saber como anda cada um deles e fazemos levantamentos per capita de quantos de nossos estudantes possuem ou não computador e internet em casa, ou se trabalham, tem o que comer, etc. Assim, podemos buscar soluções no nosso alcance para resolver um problema que não está na nossa alçada, visto que essas obrigações fundamentais teria de vir dos órgãos responsáveis já que o cursinho só existe porque o Estado ainda não tem cumprido seu papel de eficiência nas escolas, por outro lado, vem sucateando e privatizando as instituições de ensino. O resultado disso é menos acessos e menos soluções para problemas estruturais. Basta observar que este ano batemos recorde de baixa nas inscrições para o Enem em qualquer formato.
Agemt: Acredita que esse novo formato seja justo para todos os alunos? Desde os que possuíam uma qualidade financeira melhor até os de periferia?
Yanka Xavier: Acredito que este novo formato sem investimento e resoluções para problemas concretos e estruturais, pode na verdade salientar a desigualdade entre os estudantes no momento da prova com as justificativas que expliquei anteriormente.
Agemt: Por enquanto esses vestibulares são somente opcionais, porém é estipulado que até 2026 o Enem será somente digital. Até lá, em relação a estrutura, a método de ensino e até mesmo pedagogicamente no geral, vocês já se vêm prontos para tal feito?
Yanka Xavier: Sobre o corpo docente e a equipe diretiva e pedagógica do A-Sol, temos voluntários especialistas em ciência da computação e contamos com projetos voltados ao letramento digital a partir do ano que vem (2022). Nossa luta agora será conseguir equipamentos para que esse feito seja concretizado. Mas com certeza todo o estudante que entrar no A-Sol poderá contar com a força da nossa militância para que tenha um bom alcance em suas provas e consiga enfim alcançar seus sonhos e uma vida melhor. A gente acredita muito no potencial dos estudantes das periferias, mesmo que seja a classe mais prejudicada com toda a realidade material imposta a elas e a eles.
Por Mário Gandini
No começo da pandemia, no ano de 2020,o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) recebeu robôs que permitiram aos médicos da unidade fazer atendimento aos pacientes com COVID-19, remotamente, usando recursos de telepresença. Os equipamentos foram doados pela empresa de tecnologia Pixeon e estão em cinco áreas do HC sendo usados para visitas virtuais de familiares aos pacientes internados e até mesmo na triagem, tudo isso com a finalidade de manter esse distanciamento social.
A doação reforça a estratégia da Pixeon de oferecer a hospitais e clínicas tecnologias que permitam aos pacientes uma jornada de saúde cada vez mais digital, sem deixar de lado o aspecto humano, tão importante em qualquer tratamento. O uso de robôs na medicina não é nenhuma novidade, principalmente na área da cirurgia. Com a chegada da pandemia muitos avanços foram agilizados e era de se esperar que essas inovações seriam realizadas de forma orgânica, fora desse cenário caótico que estamos vivendo com milhares de mortes decorrentes do Covid-19. Uma das grandes inovações foram os robôs usados no Hospital das Clínicas para realizar a triagem dos pacientes com suspeita de Covid-19
Na etapa de triagem, logo quando uma nova pessoa chega no ambulatório, o enfermeiro é quem controla o robô, se mantendo afastado de quem está com suspeita de contaminação. O robô se aproxima e realiza as primeiras perguntas, como, por exemplo, se a pessoa já apresenta problemas respiratórios etc. Em alguns casos, até mesmo os pacientes internados na UTI, quando precisarem de ajuda dos profissionais de saúde, são atendidos via robô. Thiago Maciel, formado em Ciência da Computação e funcionário do Hospital das Clínicas na área de tecnologia explica que durante a pandemia muitas empresas com projetos de utilização de robôs. "Ajudamos principalmente na parte da aplicação do desenvolvimento" como foi o caso da televisita. "O robô vai até o leito, se posiciona da melhor forma e faz a chamada com a família, com o pessoal que está de fora, e então podem usar vários softwares, como o do próprio aparelho ou o zoom, ou o WhatsApp”, afirma.

crédito: Divulgação O Globo
Maciel conta ainda que a pandemia trouxe necessidade de soluções tecnológicas que estavam em segundo plano. Projetos engavetados e ideias inovadoras tornaram-se prioridade numa sociedade pulsante por inovações. Além da aceleração de projetos antigos, muitos profissionais estão trabalhando para inovações tecnológicas. “Nós ficamos com um protótipo de um carrinho autônomo que não chegou a ser usado com o mesmo volume que o da televisita". Ele planeja integrar esse carrinho em projeto um pouco maior na UTI. "A nossa ideia é que todos os dispositivos de uma UTI se conectem em uma mesma rede e transmitam dados de forma uniforme para nós conseguirmos enxergar tudo sobre o paciente em um mesmo local", planeja. Mais: "hoje em dia não é assim, nós pensamos em um paciente um pouco mais complexo, ele tem um ventilador mecânico ligado a ele, uma bomba de infusão para aplicação de medicação, um monitor multiparamétrico e eventualmente mais um aparelho que ajuda na respiração. Então, você olha o posto de enfermagem tem várias telas, cada uma para você enxergar uma coisa, a ideia é justamente unificar esses dados que alimentarão a inteligência artificial do robô para ele tomar as decisões necessárias”, prevê.
Por Rafael Monteiro
No final do segundo trimestre de 2021 um antigo alerta, que não era aceso desde 2001, está em evidência. Trata-se de uma nova crise energética, que obriga o País economizar energia mais uma vez. Por conta da crise hídrica, que leva ao problema em relação a energia, a conta de luz aumentou seu valor em 5%, além da aplicação de sucessivos aumentos nas bandeiras tarifárias, fato que tem pesado no orçamento das famílias ao redor do Brasil.
Nesse cenário atual, a saída mais viável seria a adoção de novas maneiras de se conseguir energia. Entre elas os painéis solares ou fotovoltaicos, que devem evoluir bastante, tanto no Brasil quanto em outros países, nos próximos anos. Mas primeiro, o que é energia solar? Se trata de toda a energia proveniente do sol, sendo essa térmica ou luminosa, fornecida em forma de radiação solar. É considerada por estudiosos como uma fonte energética inesgotável e superior a outras fontes de energia renováveis, como por exemplo, eólica, hídrica e geotérmica.
E para se obter essa energia solar é preciso dos painéis solares cujos preços para instalação podem variar bastante, podendo ser de R$ 4mil até R$ 10mil para uso residencial, e o preço apenas do painel pode ser de R$750 até R$900 por unidade.

Além do próprio painel, também tem que ser comprado e instalado um inversor, que transforma e habilita a energia acumulada pelos painéis para que se possa utilizar em casa, onde os preços são de R$1.500 à R$40mil. Outro dispositivo importante seria as baterias solares, pois elas armazenam a energia restante, possuindo quatro tipos: Baterias AGM (para instalações pequenas), Baterias Monobloco e Estacionárias (para instalações de uso contínuo) e as Baterias de Lithium (funcionais, porém com preços elevados).
Também é preciso contar com alguns outros elementos, como uma estrutura de suporte para os painéis, um contador bidirecional, cabeamento, um regulador de carga, e claro, o mais importante uma mão de obra especializada para instalar os aparelhos. Para Gustavo Sá, Engenheiro ambiental, MSc em Engenharia de Energia e professor de Pós-graduação do Senac Jabaquara, a utilização de painéis solares em residências é possível, porém não de imediato:
“Com um payback de aproximadamente 3,5 anos, para um tempo mínimo de geração estimado em 25 anos, tem-se um ganho médio de 21,5 anos sem pagar pela tarifa de energia – TE, cabendo somente o pagamento da tarifa mínima da concessionária, caso a unidade consumidora seja conectada à rede (on grid). O problema, creio eu, é o acesso ao recurso, pois prover um montante médio de R$ 13 mil para adquirir um sistema fotovoltaico e suprir o consumo de uma residência com 4 pessoas, muitas vezes não é fácil. Mesmo assim, observa-se que as pessoas preferem trocar seu veículo por um mais novo com esse recurso, mesmo que obtido em financiamentos (pagando juros não tão suaves), mas têm resistência em adquirir um ativo (isso mesmo, um ativo, gera lucro, já o carro só deprecia) e facilidade para financiar um veículo.”
Ele explica que existem dois tipos de energia solar mais comuns, a solar fotovoltaica (geração de energia elétrica) e solar térmica (aquecedores para água), ambas com contribuições positivas para o setor energético. “Para a geração solar fotovoltaica, cabe ressaltar que a geração pode ser feita em pequena escala (Geração Distribuída – GD: residências, comércios e indústrias, onde a unidade consumidora pode gerar sua própria energia e injetar o excedente na rede local) e grande escala (Geração Centralizada – GC: projetos de geração de energia elétrica de grande porte, voltados ao abastecimento público por leilões públicos de energia ou por venda no mercado livre de energia).” Diz Sá, ressaltando como funciona a energia solar fotovoltaica.
Ele fala também da geração de energia de grande e pequeno porte: “Para a geração de grande porte, existe uma regulação diferenciada, cujos incentivos são inerentes às fontes renováveis, aplicando-se ao atendimento público da oferta de energia ou pelos produtores do mercado livre de energia, o ML”, explica. Mais: “Para a geração de pequeno porte, em GD, que têm sido alvo de muitas discussões e polêmicas, a política energética praticada no país não prevê incentivos diretos, na forma de tarifas prêmio, por exemplo (buscar por feed in tariff). O que existe são convênios do Confaz que reduzem ou zeram alguma carga tributária (a depender da adesão por estados), o que na prática, reduz o preço dos kits de equipamentos”, informa.
É possível afirmar que a política energética atual do País não relaciona incentivos financeiros à importância da GD, que incluí a energia solar fotovoltaica, para o sistema interligado nacional (SIN). “Primeiramente é necessário dizer que a geração de energia solar fotovoltaica requer do sistema local uma capacidade de suporte, pois se todas as unidades consumidoras passarem a injetar energia na rede, certamente haveria a necessidade de uma atualização dessa rede local, entenda-se investimentos em ampliação”, prevê.

Nesse contexto, a injeção de energia gerada por fonte fotovoltaica distribuída, dentro dos limites que o sistema suporta na atualidade, certamente é benéfica, pois evita-se que a energia gerada remotamente em usinas de fontes diversas tenha a necessidade de ser transmitida (pelas linhas de transmissão de energia, essenciais para este fim). Mas, ainda no ponto positivo, se por exemplo, uma residência produz exatamente a média de energia que necessita consumir, através de um sistema fotovoltaico de pequeno porte, não necessitando dessa forma injetar excedentes na rede, tem-se um cenário essencialmente positivo, pois supre a necessidade daquela unidade consumidora e ao mesmo tempo não exige da rede local um suporte, justamente por não estar injetando energia e sim consumindo somente o que necessita.” Comenta o engenheiro ambiental, sobre como alguns pontos positivos da energia solar para uso residencial e com ela pode reduzir os impactos da crise energética.
Vai na contramão da sustentabilidade energética-econômica e ambiental, já que a diversificação da matriz energética se constitui no melhor cenário, principalmente quando pensado em termos da "avaliação do ciclo de vida – LCA” sobre a implementação dos painéis. Ele ainda complementa que é preciso ser avaliada a possibilidade de uma matriz cada vez mais limpa, com fontes renováveis em geral, eliminando os combustíveis fósseis. Se durante a noite o sistema solar não gera energia, e então se a necessidade por energia é maior, a única forma seria armazenar durante o dia e distribuir a noite, fato que implicaria em uso de baterias (em grande escala e com proporções físicas gigantescas), tornando nos padrões de mercado de hoje, inviável. É necessário saber que, por exemplo, a utilização do hidrogênio vem se mostrando muito importante no contexto da sustentabilidade ampla, ou seja, econômico-energética e ambiental.

Sá garante que o que se percebe pelo ponto de vista da avaliação de ciclo de vida, é que um sistema de geração fotovoltaica tem tantos problemas quanto os demais, contudo, ao utilizar a energia do sol para conversão em energia elétrica, há diversos pontos de economia, principalmente porque dezenas de milhares de km de linhas de transmissão podem deixar de ser implantadas, conhecido como “do berço ao túmulo” na LCA. Assim, a possibilidade de gerar energia no local onde irá consumi-la é outra característica positiva importante no uso de painéis solares.