Cientistas brasileiros deixam o País em busca de melhores oportunidades no mercado científico
por
Brenda Martins
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19/11/2024 - 12h

Por Brenda Costa Martins

 

Enquanto nossos melhores pesquisadores são acolhidos por laboratórios estrangeiros e embarcam em direção aos países que valorizam a academia e a ciência, ficamos à margem das grandes inovações e descobertas científicas, como espectadores de um progresso que poderíamos estar liderando. A formação de cientistas no Brasil enfrenta uma crise profunda, marcada não por apenas dificuldades estruturais como a escassez de equipamentos em Universidades e laboratórios, mas também pela falta de incentivo à estudantes para que sigam na área acadêmica de pesquisas, além das oportunidades limitadas desse marcado no país. Nos últimos anos, temos assistido a uma crescente “fuga de cérebros” — fenômeno em que profissionais qualificados, principalmente cientistas e pesquisadores, optam por desenvolver suas carreiras no exterior, sendo atraídos por melhores condições de trabalho e valorização profissional. Fuga que tem sido alimentada pela escassez de investimentos no campo da ciência e da tecnologia no país.

Desde 2015, cortes orçamentários intensos afetaram diretamente a manutenção de bolsas de estudo, o financiamento de projetos de pesquisa, bem como a continuidade de programas de pós-graduação em diversas áreas. Com menos verbas, muitos laboratórios foram fechados e projetos interrompidos, situação que acabou por criar um ambiente de insegurança e instabilidade para jovens pesquisadores que desejam contribuir com o avanço científico no país.

Nos centros de excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a Universidade Federal do ABC (UFABC) doutores e mestres formados com alto nível de competência se deparam com um mercado de trabalho retraído. Apesar de contar com instituições de ensino que formam profissionais altamente capacitados, os cortes e as limitações severas no mercado de trabalho continua a fazer com que esses cérebros embarquem para o exterior buscando oportunidades de maior rentabilidade e visibilidade pois para muitos desses cientistas, o ambiente brasileiro se mostra inviável para o desenvolvimento de suas carreiras.  Mesmo entre os profissionais que conseguem uma colocação, as condições de trabalho são frequentemente limitadas, com infraestrutura insuficiente e salários que não condizem com o nível de formação e as exigências da carreira científica.

Esse êxodo de cientistas gera impactos econômicos e sociais observados em longo prazo. Ao investir na formação desses profissionais e, em seguida, vê-los partir para outros países, o Brasil perde o retorno desse investimento, bem como a possibilidade de desenvolver inovações e avanços tecnológicos que poderiam impulsionar setores como saúde, agronegócio e tecnologia. Fato que evidencia outro problema: Não é preciso investir apenas na educação básica e incentivo aos jovens cientista se, no futuro, eles não terão um lugar nas grandes corporações, já que as poucas que existem no país continuam não oferecendo benefícios tão competitivos quantos os de vagas alocadas no exterior, sedes dessas empresas.

Para cientistas como Paula Rezende, doutora em Biomedicina, a decisão de deixar o Brasil é dolorosa, mas necessária. Após anos lidando com infraestrutura insuficiente e atrasos em recursos para pesquisa, ela aceitou uma proposta de trabalho na Alemanha, onde encontrou o ambiente ideal para continuar seu trabalho. Casos como o de Paula são cada vez mais comuns, o que ilustra como o cenário nacional tem se tornado um impeditivo para o progresso da ciência e da carreira dos profissionais brasileiros. A falta de oportunidades no Brasil também gera uma lacuna na academia e nas universidades, onde a quantidade de concursos e oportunidades para docentes e pesquisadores é insuficiente para absorver os doutores formados a cada ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que cerca de 25% dos doutores no Brasil ficam fora do mercado de trabalho adequado à sua formação, o que leva muitos a buscar alternativas no exterior, onde há mais estabilidade e reconhecimento.

Elisabeth Balbachevsky, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenadora científica do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP, tem outra visão. A professora tenta analisar um lado positivo desse fenômeno da "fuga de cérebros", as mentes que vão embora do Brasil buscando melhores oportunidades podem "se inserir em redes de pesquisa internacionais, o que poderá ter um impacto extremamente positivo, porque irão se tornar lideranças brasileiras e, uma vez de volta ao Brasil, trarão novas expertises e abordagens para o País", diz a pesquisadora. Uma vez que esses cientistas brasileiros conseguem cada vez mais se estabelecer nas gigantes da tecnologia, por exemplo, o país indiretamente está ganhando reconhecimento, o que pode fazer com que os olhos dessas grandes corporações se voltem ao Brasil. Ainda que a "fuga" desses pesquisadores seja prejudicial no início, com mais profissionais produzindo ciência de qualidade em um ambiente no exterior que comporta suas necessidades, podemos colher frutos no futuro. Afinal, para que grandes corporações se desenvolvam no país, é preciso ver que a população tem capacidade de produzir recursos que possibilite sua expansão.

Outro fator que importante ser destacado é a busca pelo incentivo ao empreendedorismo desses jovens cientistas. Grandes empresas como o Facebook e a Amazon surgiram de um pequeno projeto de seus fundadores enquanto ainda eram estudantes, desenvolvendo uma start-up na garagem de suas casas. É claro que, a qualidade de ensino de ciências nas Universidades americanas possibilitam que seus alunos desenvolvam o pensamento empreendedor, enquanto no Brasil, os alunos são incentivados a bucar emprego fora, em empresas já estabelecidas, fator resultado do cenário de instabilidade não apenas do mercado científico, mas também do empreendedorismo. Algumas escolas de redes particulares no país contam com matérias de empreendedorismo e educação financeira, por outro lado, escolas da rede pública e estaduais se encontram em um cenário totalmente diferente. Ainda há um grande caminho a trilhar para que o acesso à uma educação de qualidade seja uma realidade igualitária entre todos os estudantes do país.

Propostas como a criação de um fundo nacional para Ciência e Tecnologia, que garanta recursos contínuos para a pesquisa, são defendidas por entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outra alternativa é fortalecer as parcerias entre universidades e empresas, criando oportunidades de inovação e desenvolvimento em conjunto com o setor privado, o que poderia abrir novas frentes de trabalho para cientistas dentro do Brasil.

Enquanto não houver um comprometimento estrutural e financeiro com a ciência, o Brasil permanece vulnerável à saída de seus talentos. A fuga de cérebros se torna um símbolo das dificuldades enfrentadas pela ciência brasileira, limitando o potencial de avanço científico e tecnológico do país. A valorização da ciência e o investimento em condições de trabalho são essenciais para que o Brasil não apenas forme cientistas, mas também consiga retê-los e fortalecer sua base científica para o desenvolvimento nacional e reconhecimento internacional.

Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

A jornada dos entregadores não se limita ao trajeto, mas envolve obstáculos que vão da segurança no trânsito às incertezas de um dia de trabalho autônomo.
por |
12/11/2024 - 12h

Por Thais Oliveira 

 

Se antigamente era comum esperar dias ou semanas para que um pedido chegasse, hoje a demanda por rapidez e eficiência exige uma operação logística reforçada. O dia começa antes do sol nascer, com o medo e a ansiedade tomando conta de Joice Alves, mãe solteira de 50 anos que precisou se reinventar após um divórcio e o enfraquecimento das vendas em seu comércio de plantas. Seus cabelos longos e quase grisalhos carregam histórias de uma mulher forte que devido a gravidez, parou os estudos na quinta série. Tudo que aprendeu é resultado de suas vivências.

A tecnologia dominou o mundo e os seres humanos. Para Joice isso não passava de uma grande perda de tempo, até que tudo mudou em sua vida e a tecnologia virou sinônimo de estabilidade financeira e independência. Conseguir realizar uma entrega parece fácil aos olhos dos que recebem em casa. O suor do trabalho de prestadores de serviço das grandes empresas está presente em cada pacote entregue.

Os desafios começam à frente da seleção. Um aplicativo viabiliza para os entregadores os percursos disponíveis, juntamente ao valor a receber, e cada um seleciona o de sua preferência. Mas o número de prestadores é maior do que os de entregas e, às vezes é necessário passar horas olhando as atualizações no celular. Há dois meses o aparelho eletrônico, que não passava de uma ferramenta de comunicação com a família, amigos e clientes, se tornou o principal equipamento do trabalho de Joice. Foram semanas aprendendo a usar o mapa, abrir e fechar aplicativos, escrever mensagens mais rápidas e, principalmente, a contabilizar os resultados do seu novo emprego. No início de sua trajetória, Lucas, o filho mais velho, acompanhou a mãe em todos os percursos e assim, ela ganhou confiança para trabalhar sozinha. 

Desde a adolescência, Joice foi diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e comenta que essa logística piora os sintomas diariamente. O seu conforto é o chá de camomila colhido diretamente dos vasos sobrepostos na janela do sexto andar e do calmante recomendado pela cardiologista. Ao conseguir uma corrida, agradece a Deus pela oportunidade e pula o café da manhã, colocando tudo que precisa dentro de uma bolsa térmica. De acordo com o aplicativo fornecido pela empresa, cada percurso tem a duração de 4h e 6h e os valores são correspondentes a estes horários. Explica que foi acordado entre a empresa e os prestadores de serviço que todas as entregas contariam com, no máximo, 45 pacotes e 40 paradas. 

Ao chegar no Centro de Distribuição, Joice recebe a rota com 52 paradas, 65 pacotes amarelos e o medo de não conseguir finalizar dentro do prazo estipulado. É necessário entregar todas as mercadorias para receber os valores completos, independente da chuva, dos ventos de 100km/h, dos postes desligados e das ruas escuras. Joice sai de Mauá com o seu destino traçado em um papel com nomes de pessoas desconhecidas diretamente para a cidade de São Paulo. Na travessa da Avenida Vila Ema e nas mãos Joice, o primeiro pacote foi entregue para a Renata, uma mulher simpática que desejou um bom dia para a entregadora.

Dentro do carro, o estômago de Joice espera por um alimento desde às 9h00min, porém os donos dos 50 pacotes pendentes têm prioridade na fila e as refeições ficam em segundo plano, sendo necessário seguir o caminho ingerindo apenas uma banana. A falta de hidratação e de nutrientes causa cansaço excessivo, perda de cabelo e, consequentemente, ausência de vitaminas importantes para o funcionamento do corpo. Relata, que praticava uma rotina saudável, alimentando-se bem e correndo na rua todos os dias de manhã com os seus filhos, porém precisou abrir mão do estilo de vida para arcar com os novos custos, como por exemplo o aluguel. A infraestrutura básica é uma questão: nas cidades grandes, com quilômetros percorridos entre um ponto e outro, muitas vezes não há onde parar para descansar ou usar o banheiro. A cidade se torna um palco de correria constante, onde não há tempo ou lugar para uma pausa, justifica Joice, ao informar que não consegue ingerir ao menos 200ml de água durante a jornada de trabalho. 

O futuro do setor aponta para uma integração cada vez maior entre tecnologia e logística, com inovações que prometem transformar ainda mais a experiência de compra e aproximar o e-commerce dos consumidores. Embora a constante evolução esteja dominando o cenário, não há direitos trabalhistas ou benefícios assegurados, como convênio médico ou seguro de saúde. Se houver algum acidente ou emergência, o entregador precisa arcar com os custos e lidar com as consequências sozinho. 

Dentro do aplicativo de entregas é possível saber que, dependendo do nível, o entregador terá acesso a mais pedidos, melhores comissões e suporte especializado. A grande corporação criou um sistema de níveis que funciona como uma espécie de escada, onde cada degrau alcançado representa mais oportunidades, e consequentemente, mais pressão. Estar em um nível mais alto pode significar, por exemplo, maior acesso a entregas em horários de pico ou de longa distância, que pagam melhor. Joice é prata, mas conta que demorou meses para alcançar a nomenclatura, afinal qualquer queda no desempenho pode significar uma descida de nível. Cancelamentos, avaliações ruins ou atrasos podem rebaixar o entregador, retirando seus, quase que invisíveis, benefícios. 

Joice conseguiu dois percursos no mesmo dia, isso significa que a corrida contra o tempo é primordial para finalizar o primeiro, voltar ao Centro de Distribuição e recolher as próximas encomendas. Ao sair, os clientes recebem notificações de que o produto está a caminho, causando ansiedade e desconfiança dos que aguardam em suas casas. Durante a noite as entregas são realizadas das 18h00 às 22h00 e Matheus, o filho mais novo, auxilia a mãe ligando para os clientes e entregando os pacotes enquanto ela separa os próximos. Em meio à movimentação, Matheus recebe uma mensagem de uma mulher que estava aguardando o produto há 30 minutos e precisava dormir. Era sexta-feira, 19h39min, quando os insultos começaram e mudaram a rota da família. Cada pacote recebe uma numeração de envio, o itinerário e os dados relevantes do consumidor, em consequência das mudanças Matheus e Joice aumentam a duração do percurso e os quilômetros rodados no carro. A quantidade de remessas no período da noite é majoritariamente maior, entretanto os consumidores não sentem confiança em recebê-las e, frequentemente, rejeitam a tão esperada aquisição. 

As embalagens amarelas recusadas devem atravessar a cidade e voltar à corporação até às 23h00min, horário de finalização dos serviços diários. Joice retorna com o peso da consciência de classe descendo em seus cabelos, refletindo sobre o comportamento interpessoal dos consumidores, do egoísmo e da falta de empatia. O mundo não é mais o mesmo e as pessoas estão preocupadas com as futilidades expostas nas prateleiras invisíveis dos comércios online. Não se importam se a voz que clama do lado de fora da residência está enfrentando a maior chuva do ano na cidade ou se está com um prazo apertado, o importante é aconchego e a novela das 21h00min. 

Após 15 horas, Joice finalmente chega em casa, sentindo-se cansada, fraca e estressada. O dia foi longo, repleto de entregas que exigiam rapidez, atenção e resistência. Cada pedido, cada quilômetro percorrido, parecia se arrastar em meio à chuva, ao trânsito caótico e à pressão por cumprir os prazos apertados. Como muitos entregadores, Joice não tem garantia de descanso ou segurança no trabalho, e mesmo ao chegar em casa, a sensação de que poderia ter feito mais, ou o medo de não atingir o número de entregas esperado, a acompanha. Mas para Joice, o trabalho nunca termina realmente. Ela reflete sobre o que poderia ter feito para ser mais rápida, ou se valeu a pena o esforço de correr contra o relógio. Em sua mente, os desafios que ela enfrentou ao longo do dia continuam vivos, a insegurança nas ruas, o risco de acidentes, a exaustão física e emocional. Mas amanhã, o caminho se repete, enfrentando as mesmas dificuldades em nome de um dia melhor, ou, quem sabe, uma coroa de ouro na guerra contra a logística desumana.

Os chamados cibercrimes são considerados um tipo de violência contra o idoso, e a campanha Junho Violeta busca conscientizar à população sobre a violência patrimonial
por
Alice Di Biase
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11/11/2024 - 12h

Por Alice di Biase

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população acima de 60 anos no Brasil deve crescer em ritmo acelerado, quase triplicando até 2050. Dados como esse expõem o crescente aumento da população idosa, além de um novo perfil de envelhecimento que requer atenção especial em políticas públicas. Adriana Horvath, diretora voluntária de captação de recursos da Casa Ondina Lobo, relata que a principal queixa dos residentes da Casa é a invisibilidade, a visão estereotipada do “vovozinho” de cabelo branco e ingênuo, e adiciona que os idosos querem ser vistos como seres humanos que ainda tem muito a oferecer.

A Casa de Repouso Ondina Lobo é uma instituição de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social, o projeto é sustentado por doações filantrópicas. A missão da organização é promover o bem-estar e a integração do idoso na sociedade, por meio de atividades plurais. Ela relata que muitos dos idosos residentes da Casa já passaram por alguma violência ou situação de preconceito e atribui isso a forma como a sociedade olha os idosos, relacionando-o com a finitude da vida. E adiciona que é preciso entender que a velhice é apenas mais uma fase. Além disso, ela também cita a importância de campanhas de conscientização contra a violência ao idoso, como o Junho Violeta.

Existem vários tipos de violências direcionadas aos idosos, uma delas é a violência patrimonial. Com o avanço tecnológico, os mais velhos se tornaram mais vulneráveis para a violência patrimonial, por meio dos chamados golpes. O Disque 100, do governo federal, registrou, nos cinco primeiros meses de 2023 mais de 15 mil denúncias de violações financeiras ou materiais contra idosos; 73% a mais do que no mesmo período de 2022. Cada vez mais conectada, a terceira idade tem sido um dos principais alvos de quadrilhas especializadas em crimes cibernéticos que comprometem o patrimônio da vítima.

Ondina Lobo e Image Magica

“Mãe, mudei de número, salva esse contato aqui”, assim começa uma das formas mais comuns de fraudes financeiras contra os idosos, a foto de perfil é a mesma que o filho utiliza no seu número próprio e logo em seguida são solicitadas as transferências. Cláudia, aposentada de 66 anos relata como caiu no phishing - tipo de golpe realizado por e-mails, redes sociais e sites que utilizam uma “isca” para fazer a vítima fornecer informações pessoais. Uma loja conhecida com descontos extravagantes, a propaganda era feita por celebridades como Gisele Bündchen e a apresentadora Angélica que recomendavam a promoção. Tudo feito com inteligência artificial. O valor perdido não foi alto, como conta Claúdia, com alívio, no entanto, a sensação de ter sido enganado com facilidade pelos golpistas causa constrangimento.

O constrangimento também é um dos motivos que leva os idosos a se tornarem um alvo fácil dos golpistas. Envergonhados de demonstrar a fragilidade e, de certo modo, alimentar os estereótipos de ingenuidade que a sociedade cria em relação a faixa etária, muitos idosos não contam aos familiares a situação e deixam o ciclo de golpes se estender. Em 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já recebeu mais de 21 mil denúncias de violações deste tipo contra idosos, destes 80% dos casos são denunciados por terceiros, e não pela própria vítima.

A psicóloga e psicanalista Moema Sarmento compartilha suas perspectivas sobre a saúde mental na terceira idade, ela argumenta que a falta de respeito e os maus tratos podem levar ao isolamento e depressão, o que faz que muitos idosos que sofrem esses abusos patrimoniais não procurem ajuda, assim os casos só chegam aos familiares e autoridades quando já estão em estágios alarmantes.

Com o intuito de alterar esse cenário, a Casa Ondina Lobo em pareceria com a ONG Image Mágica, levou o Circuito Cultura e Inclusão para as mulheres da Casa. As aulas de inclusão digital e fotografia buscam conscientizar os moradores a respeito dos golpes digitais, resgate da autoestima e criar intimidade com o meio tecnológico.
 

Ondina Lobo e Image MagicaOndina Lobo e Image Magica

Como comenta Horvath, a velhice é só mais uma fase da vida que envolve atenção e deve ser aproveitada com qualidade de vida e isso envolve a liberdade de consumir a Internet com segurança.

Entre ícones do passado, referências do presente e caminhos para o futuro, veja como foi a edição deste ano
por
Vítor Nhoatto
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22/10/2024 - 12h

Ocorrido entre os dias 14 e 20 de outubro na capital francesa, o Mondial de l'Auto contou com mais de 500 mil visitantes, além de recados importantes para a indústria automobilística. As donas da casa — Alpine, Peugeot, Renault e Citroen — estiveram presentes, mas, mesmo assim, a presença chinesa continuou e chamou a atenção do público, das autoridades e das rivais. A DS, da Stellantis, foi a única francesa que não compareceu ao evento. 

Temas como sustentabilidade, acessibilidade e segurança no trânsito foram amplamente abordados nas coletivas de imprensa, e traduzidos em parte nos lançamentos. Ao todo, 41 fabricantes de automóveis participaram do evento, o qual trouxe o brilho de volta à Bienal, tal qual como no Salão de Munique, em 2023.

Eletrificação em diferentes níveis

Antenado às ânsias do público e da indústria, houveram lançamentos de vários modelos eletrificados, em diferentes níveis e formatos. Nos últimos meses, as vendas de elétricos oscilaram negativamente na Europa, por conta de uma série de fatores, como altos custos de aquisição e o fim de incentivos governamentais. 

Com isso, marcas como Volkswagen, Ford e mesmo Volvo, reviram seus planos de eletrificação total — apesar da meta da União Europeia de banir os modelos movidos a combustão, já em 2035. O conglomerado Stellantis, por exemplo, investe em plataformas multi-energéticas, capazes de produzirem tanto híbridos, quanto elétricos, e apresentou seus últimos modelos em Paris. 

Construído sobre a e-CMP, — mesma base dos recém lançados no Brasil, Peugeot 2008 e 208 — o Alfa Romeo Junior Ibrida fez sua estreia ao público. Com a mesma motorização dos irmãos, motor 1.2 PureTech em conjunto a uma bateria de 48V, gerando 136 cavalos, o modelo complementa a linha do SUV urbano, disponível como 100% elétrico desde o começo do ano. 

Na Peugeot, as novidades foram maiores, apesar de nenhum modelo totalmente novo, diferente das compatriotas Alpine, Citroen e Renault. Em Paris, foi lançado o novo E-408, versão 100% elétrica do crossover baseado no 308. Sob a plataforma EMP2, compartilha o conjunto mecânico com o hatch, tanto nas versões a combustão quanto na novidade elétrica, e não muda visualmente. Além disso, foram apresentadas as versões Long Range dos E-3008 e E-5008. As autonomias passam de cerca de 500 km para 700 km, segundo o ciclo WLTP.

Em uma abordagem diferente, focada em modelos elétricos separados dos seus semelhantes a combustão, a Volkswagen apresentou o novo Tayron. Com expectativa de ser vendido no Brasil, é a versão Allspace do novo Tiguan, mas agora com nome próprio. O SUV de sete lugares estará disponível em duas versões diesel, gasolina, e híbridas plug-in, além de uma híbrida leve.

Volkswagen Tyron de frente branco ao lado de um Tayron de trás roxo
O Tayron é o sexto SUV a combustão da Volkswagen na Europa, entre Tiguan e Touareg. Foto: Divulgação/Volkswagen

As motorizações são as mesmas do Tiguan de nova geração, construído sobre a MQB evo. Isso se reflete em uma autonomia combinada de até 850 km nas versões plug-in, além de uma autonomia em modo 100% elétrico de cerca de 100 km, graças a uma bateria de 19.7 kWh.

Em uma abordagem semelhante em alguns aspectos a Volks, a britânica de coração, mas de propriedade alemã, a Mini, apresentou os seus novos JCW elétricos. Os primeiros modelos da divisão de desempenho da marca serão o Cooper, um hatch de três portas, e o crossover Aceman. Ambos são construídos sobre a plataforma desenvolvida em conjunto com a chinesa GWM, e prometem a emoção de um esportivo com seus mais de 250 cavalos, mas sem emissão de CO2.  

Mais uma ofensiva chinesa 

Sobre as construtoras chinesas, o Paris Expo Porte de Versailles foi novamente o palco para a estreia de modelos do país asiático, e até marcas inteiras. A GWM não compareceu desta vez, como era de se esperar após o anúncio de reestruturação europeia e fechamento do escritório na Alemanha em agosto deste ano. 

No entanto, a sua principal rival, a Build Your Dreams, brilhou, repetindo a estratégia de 2022. Seu estande contava, desta vez, com modelos já conhecidos do público, como Dolphin e Seal, mas também com o totalmente novo, Sealion 7, apresentado ao mercado europeu, e com um vislumbre da versão que será vendida no Brasil em breve.

Segundo a vice-presidente da marca, Stella Li, o novo SUV cupê do segmento D, reflete em como a BYD reage e escuta às demandas dos seus consumidores europeus, prometendo design, performance e autonomia de ponta.

E com uma estratégia ousada, que busca rapidamente conquistar o mundo, a Leapmotor debutou em Versailles. Com o amparo da Stellantis, — com quem fechou uma parceria bilionária pela administração global da marca — apresentou quatro elétricos. Carlos Tavares, CEO do conglomerado até 2026, esteve no evento e comentou que as montadoras têm mais a ganhar com a estratégia de se aliar às chinesas, ao invés de brigar com elas. Antes disso, ele visitou o estande da BYD, chamando a atenção da imprensa.  

O primeiro deles é um hatch subcompacto vendido por menos de 20 mil euros, o T03, o segundo é o C10, um SUV médio, por cerca de 36 mil euros. Ambos modelos com condução semi autônoma de nível 2 e confirmados para o Brasil. A versão de sete lugares, C16 também esteve no evento, ao lado do inédito B10, revelado no evento. O SUV do segmento C tem como rivais BYD Atto 3 (Yuan Plus no Brasil) e Volvo EX40, e estará disponível já no próximo ano na Europa.

Estande da Leapmotor rodeado de pessoas
Os modelos C16 (roxo), B10 (azul), C10 (verde) e T03 (turquesa) prometem agitar o mercado. Foto: Divulgação/LeapMotor

Para além das duas marcas, a Seres (com operações paralisadas no Brasil até então), a Xpeng, o grupo GAC e a Hongqi ocuparam o complexo de exposições francês. A última chamou a atenção com a estreia do sedã de luxo Guoya, rival dos alemães Classe S, Série 7 e A8. Enquanto isso, a GAC optou por uma abordagem mais demonstrativa de suas tecnologias, sem pretensões diretas de venda no continente. 

A história não se compra

Frente à concorrência cada vez maior das chinesas, eis o contra-ataque europeu, baseado amplamente no legado das marcas, algo com o qual as novatas não podem competir. No último Salão de Munique, o CEO do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, destacou que o histórico estilístico das marcas é algo que não pode ser adquirido nem comprado, e será a principal chave para o público comprar os modelos europeus. 

Dito isso, nomes como BMW e Renault também vêm investindo em uma abordagem retrô futurista. Em relação à alemã premium, os conceitos Neue Klasse sedã e SUV foram apresentados pela primeira vez juntos. Com designs que remetem aos modelos dos anos 80, preveem a nova geração de elétricos da marca, esperados para 2025 e 2026.

Porém, foi no estande da Renault que a vibe passado e futuro, misturado com o charme e a funcionalidade, atraiu mais os olhares. Após o lançamento do aguardado R5, um hatch elétrico inspirado no icônico R5 dos anos 90, foi a vez do novo R4 voltar à vida.

Novo Renault 4 E-Tech azul em um fundo colorido
O novo Renault 4 E-Tech continua investido no passado da marca como diferencial. Foto: Divulgação/Renault

Construído sob a plataforma AmpR Small, é a versão SUV do R5, com quem compartilha a motorização e equipamentos. Com 4.14 metros de comprimento, funcionará como a versão 100% elétrica do Captur, contando com uma autonomia de mais de 400km no ciclo WLTP, carregamento rápido, todos os assistentes à condução modernos e muitas referências ao R4 dos anos 70. 

Construído na França, atraiu até mesmo os olhares do presidente francês, Emmanuel Macron. O político esteve no evento no dia de abertura ao público (15), e causou um leve tumulto ao fechar o estande em que visitava. Ele cumprimentou os executivos da marca e entrou no novo modelo, esse com expectativas de custar na casa dos 30 mil euros. 

Na ideia da ofensiva irreverente e estilosa, bem ao estilo francês, o protótipo do novo Renault Twingo esteve no evento. Agendado para ser lançado em 2026 (possivelmente no próximo Salão de Paris), promete tornar a mobilidade elétrica realmente acessível, com um preço na casa dos 20 mil euros no formato de um subcompacto, uma espécie em extinção.

Uma mobilidade de fato acessível?

Mas, ao se tratar de acessibilidade e democratização da eletricidade, outras marcas têm mais a dizer e entregar. Dentro do Grupo Renault, é a romena Dacia a representante de baixo custo. Se o nome da empresa não é conhecido aos brasileiros, com certeza seus modelos são. A fabricante de Sandero, Logan e Duster, vendidos sob o nome da Renault na América Latina e Turquia, apresentou em Paris o mais novo Bigster.  

O SUV é a aposta da marca para conquistar o segmento C, com 4.57 metros de comprimento e preços menores de 30 mil euros, cifra que hatches do segmento B atualmente custam. Baseado na mesma plataforma de Clio e Duster, a CMF-B, contará com opções a micro-híbridas de 48V, híbridas convencionais com baterias de 1.4 kWh, e versões movidas a GPL, populares em países como Espanha e Itália. 

Do outro lado do muro, a resposta da Stellantis ao sucesso da Dacia, — dona do modelo mais vendido da Europa em Julho deste ano na Europa, o Sandero — é a Citroën. A marca que já passou por muitas fases, desde o luxo e conforto do DS original, até a originalidade do Xsara e C4 Cactus, por exemplo, agora investirá no mercado de acesso. 

Estiveram no evento os novos C3 e C3 Aircross, bem diferentes das versões vendidas no Brasil, mas ainda na casa dos 20 mil euros. A reestilização do quadriciclo Ami foi apresentada, uma opção de locomoção elétrica por menos de 8 mil euros. E fechando os facelifts, os remodelados C4 e C4X (versão sedã do hatch compacto) foram lançados em Paris, agora com a nova identidade visual da marca.

Estande da Citroën rodeado de pessoas
A Citroën se reinventou com novos C3, C3 Aircross, C4, C4X e o protótipo verde do C5 Aircross 2026. Foto: Divulgação/Citroën

Além disso, o protótipo da nova geração do Citroën C5 Aircross foi revelado. Segundo a empresa, o modelo de produção será 95% igual ao conceito. No quesito motorização, será construído sobre a nova plataforma STLA Medium, que estreou com o novo 3008, e servirá de base para o novo Compass também. Suas principais vantagens incluem a possibilidade de versões híbridas e elétricas, com maior eficiência e autonomia de até 700 km, além de menores custos de produção pela sua modularidade.

Atendendo às demandas do mercado

Uma das principais ânsias da indústria é a diminuição dos custos na fabricação de elétricos, principalmente após a chegada das chinesas. No entanto, nem só de  grandes grupos é formado o setor, e parcerias são mais bem vindas que nunca. A Ford, por exemplo, se uniu à Volkswagen para produzir seus elétricos para a Europa, se prevenindo da taxação que Tesla, Volvo e Mini tentam evitar  com a fabricação dos seus modelos na China.

A americana/britânica apresentou ao público pela primeira vez o novo Capri, um SUV coupe construído sobre a plataforma MEB dos Volkswagen ID.3 e ID.4. O modelo continua o resgate de nomenclaturas clássicas da marca, como Puma e Mustang Mach-E, além da transmutação desses em SUVs, o que agrada ao mercado em geral, mas não tem a mesma reação aos mais saudosistas.

Do outro lado do globo, a sul-coreana Kia também busca conquistar o mercado europeu dos elétricos, sem dividir os custos com várias marcas. O mais novo lançamento do grupo Hyundai-Kia é o SUV urbano EV3, rival do Jeep Avenger, Peugeot e-2008 e Renault 4. 

Novo Kia EV3 verde de frente em um fundo branco
O EV3 é a aposta elétrica da Kia para o segmento B, o maior em vendas na Europa. Foto: Reprodução/InsideEVs

Os preços devem começar na casa dos 30 mil euros, o que não é barato para um carro do segmento B, mas é compatível aos rivais citados. O chamariz da marca, para além dos sete anos de garantia, é a tecnologia, refinamento e comodidade do modelo, quase como uma versão menor do SUV grande EV9, indicado ao prêmio Carro do Ano Europeu em 2024.

E em um segmento acima, mas em uma faixa de preço parecida, a checa Skoda, — essa sim de um grande conglomerado, a Volkswagen — apresentou o novo Elroq. Rival de modelos como BMW iX1 e Ford Explorer, começara na casa dos 33 mil euros, com uma autonomia de 560 km no ciclo WLTP.

Tentativas e erros

Paris ainda foi o palco para marcas menores, ou com menor relevância na Europa. No primeiro caso, a francesa Alpine que tomou os holofotes com o concept car A390 Beta, que antecipa o segundo modelo independente da Renault. 

Com um design agressivo, inspirado nos alpes, e com referências aos modelos de competição da empresa, será um crossover 100% elétrico construído sobre a plataforma do Nissan Aryia. Mesmo assim, a dinamicidade e performance única da marca, que hoje vende apenas o cupê A110, será mantida no carro de produção, anunciado para o ano que vem. 

Em meio aos europeus e chineses, ainda houve espaço para as estadunidenses Tesla e Cadillac. A empresa de Elon Musk deixou a desejar, sem um estande propriamente dito, ou sequer um tapete e divisórias entre seus modelos. Já no quesito novidade, nada de concreto. A picape Cybertruck foi apresentada oficialmente em solo europeu, mas nenhuma conformação de sua comercialização, ou lançamento do esperado Model Y remodelado e do táxi autônomo Cybercab, revelado três dias antes.

Já em relação a Cadillac, que tentou engatar nas vendas na União Europeia algumas vezes, as coisas foram diferentes. Desta vez focada na eletrificação, a empresa do Grupo General Motors trouxe o SUV de luxo Lyriq, além de lançar o Optiq, um pouco menor e com design menos extravagante na traseira. 

Novo Cadillac Optiq vermelho de frente no estamde da marca
Cadillac mira o Tesla Model Y com o novo Optiq, um SUV do segmento D com 4.82 metros. Foto: Reprodução/GM Authority

O Paris Motor Show 2024 certamente ficará para a história centenária do evento como um recálculo necessário e exitoso de rota. Marcas voltaram à mostra, lançamentos importantes ocorreram e o público compareceu. Além disso, mais uma vez o rumo que a indústria se encaminha foi destacado, um cenário crítico de reinvenção e reajustes.

Como é a rotina de um Streamer de jogos para alcançar novos públicos
por
Paula Moraes
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09/06/2021 - 12h

Através de plataformas de transmissão de vídeos ao vivo, e com o desenvolvimento e popularização de jogos de vídeo game, foi criado a cultura de transmitir partidas de jogos de ao vivo para outras pessoas interagirem. As pessoas que transmitem são popularmente chamadas de streamers, e a popularização dessa transmissão ficou tão comum que hoje existem streamers que vivem apenas disso.

Streamer Amefuri.
Streamer Amefuri.

           Existem diversas plataformas de transmissão, como a Nimo TV e a Twitch, está sendo a mais usada no Brasil, contendo mais de 140 milhões de usuários pelo país.

            O streamer Amefuri, entrou oficialmente para esse mundo de transmissões no final de 2017, transmitindo jogos de GTA RV e Valorant. Ele conta que sua principal inspiração para entrar nesse mundo foi a vontade de criar conteúdo para internet, e que optou pela Twitch por se identificar com a plataforma por considera-la um bom espaço para transmitir jogos de vídeo gamese possibilitar com o contrato de afiliado a chance de passar propagandas durante os jogos, o que aumenta o dinheiro gerado por transmissão.

            Para se organizar para as transmissões para criar conteúdo constante para seus inscritos, Amefuri criou uma rotina de transmissões de terça á domingo, com algumas folgas ocasionais durante a semana. Ele também não considera a área tão competitiva, mas para se destacar e ganhar um bom publico você deve ser você mesmo.

Com o conteúdo constante desde 2017, para Amefuri as transmissões já são consideradas sua principal fonte de renda. “Meu ponto inicial de quando eu estava “trabalhando” mesmo, foi em maio de 2019, quando recebi meu verificado.”

Com a vontade de crescer na área, o streamer teve que comprar um novo computador para melhorar as suas transmissões. Ele também relata a dificuldade em conquistar o publico. “Queremos abraçar o mundo, mas é um por dia que conseguimos trazer para nossa comunidade." Apesar de tudo, para Amefuri virar streamer lhe proporcionou trabalhar produzindo conteúdo, conhecer pessoas que admira e melhorar o lado pessoal, que é confiar mais em si mesmo e saber que consegue ir mais longe.

Streamer MarianeRib.
Streamer MarianeRib.

A streamer Mariane Ribeiro, popularmente conhecida como MarianeRibcomeçou a assistir transmissões de jogos pela Twitch em 2014, mas foi apenas em novembro de 2018 com 21 anos que ela virou streamer. “Eu sempre gostei de jogar e conhecer gente nova por meio de jogos online.”

O conteúdo da sua conta começou com jogos como League of Legends, Just Dance, Dead by Daylight e World of Warcraft. Em 2020 ela introduziu o GTA RP como conteúdo, e este se tornou o carro chefe da sua conta fazendo transmissões de 4 ou 5 dias do jogo.

Inicialmente, Ribeiro escolheu a Plataforma Twitch para fazer suas transmissões por ser a única que conhecia que estava há mais tempo ativa. Ao longo dos quase três anos como criadora de conteúdo no site, seus benefícios só aumentaram, e hoje consegue transmitir até propagandas durante suas transmissões, para aumentar o seu ganho. 

            Para ajudar o seu canal a crescer, Ribeiro costuma fazer transmissões seis dias por semana a partir das 20:00 até 02:00, mas costuma virar a noite jogando, e tira um dia de folga apenas quando está muito desgastada. “Eu particularmente reparo que, caso eu fique 2 dias ou mais sem fazer transmissão, as métricas são prejudicadas.”

Para Ribeiro, a sua principal competidora é ela mesma. Hoje em dia, ela evitar se comparar com streamers maiores, e vê muitas pessoas ultrapassando os próprios limites apenas para tentar chamar atenção e tentar conquistar um certo público para si. Por isso, hoje em dia ela foca apenas em melhorar o que já está produzindo, pois não existe uma fórmula para o crescimento na área. 

          Ela também percebe que consegue se destacar entre os streamer menores pela sua constante interação com o chat espectadores que conversam e comentam sobre a transmissão por texto). “Streamers maiores não conseguem responder todos do chat, e parte dos streamers menores não interagem muito/respondem várias pessoas, e isso acaba abrindo uma vantagem para quem gosta bastante de conversar com os espectadores.”

          Mesmo estando a quase três anos nessa profissão, ainda não conseguir fazer disso uma renda fixa, e acaba tendo que optar por trabalhar a parte com freelas de consultoria, tradução e transcrição. “Meu sonho é fazer das transmissões o meu principal trabalho, transformando os freelas para complementação da renda.”

        Ribeiro relata que inicialmente sua principal dificuldade foi a falta de um computador. Durante o primeiro ano como streamer fazia as transmissões com o computador do namorado, e foi apenas com ajuda do namorado e com o retorno financeiro das transmissões que conseguiu comprar o seu primeiro computador, e até hoje compra peças faltando e faz os upgrades necessários com a renda da Twitch.

            Outra dificuldade que passou foi em aprender a mexer nos softwares para transmissão, pois era algo que quem não está na área nunca entrou em contato antes. Ela também relata a dificuldade de crescer e ser descoberta, já que a plataforma vem lentamente adicionando ferramentas novas para que os espectadores descubram transmissões específicas.

            Apesar de todas as dificuldades, Ribeiro relata que o alcance de suas transmissões lhe proporcionou conhecer pessoas de todo o Brasil, além de expectadores dos EUA, Portugal e Noruega. “Já recebi inúmeras mensagens desse tipo e eu fico sem acreditar. Saber que eu estou ajudando UMA pessoa sequer, enquanto estou sendo eu mesma e fazendo o que eu gosto, é surreal.”

Em meio a chegada e consolidação de novos serviços de streaming, o mercado de mídia física no Brasil se aquece e sobrevive através de uma comunidade cada vez mais nichada.
por
Pedro Kono e Pedro Alcântara
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04/06/2021 - 12h

Com o mercado de streaming cada vez maior, a partir da consolidação da Netflix e do Amazon Prime Video e as adições do Disney + e HBO Max quem ainda compra DVDs e Blu-rays?

 

Celso Menezes, roteirista e colaborador do Blog do Jotacê, o principal site sobre colecionismo do Brasil, relata que sua paixão por colecionar vem dos quadrinhos, mas que compra filmes em mídia física desde os 17 anos, na época, em VHS. O roteirista conta que ganhou um aparelho de DVD em um concurso da Revista Herói, no ano 2000, e desde então nunca parou de adquirir a mídia. Para Celso, o amor pelo cinema vem antes do colecionismo:

 

‘‘Eu tenho esse lado (cinéfilo) muito por conta do meu pai, que quando eu era moleque me passava comédias italianas, por exemplo...eu e meus irmão crescemos com isso e acabou moldando o nosso gosto. Eu tenho uma parte muito forte de cultura pop que eu gosto bastante, mas também gosto muito dos filmes mais artísticos. Na minha coleção, eu tenho as coisas mais aleatórias possíveis, não tem um padrão, eu gosto de tudo.’’

 

Paulo Cesar Prado também é colaborador do Blog do Jotacê e é dono de um canal no Youtube sobre sua coleção de filmes, o PC GameMovieCollector.

 

‘Eu coleciono desde sempre. Me lembro de ter coleções desde muito cedo na vida, e das mais variadas coisas: pontas de lápis, chaveiros, gibis, borrachas, maços de cigarro e tatu-bola (sim, o bichinho). A paixão pelos filmes, que veio da minha mãe, só se abraçou à minha mania de coleção, começando na época do VHS e tomando forma definitiva logo que consegui comprar meu primeiro DVD’’, conta PC.

 

Para ambos, o motivo de continuarem comprando os filmes em tempos de facilidade do streaming se deve a questões como a qualidade da exibição, a embalagem mais bem produzida, o material extra e, principalmente, o lado afetivo.

 

‘‘A questão é de você ter uma memória tátil. De você pegar o filme e lembrar de quando você assistiu e porque te marcou. Isso acontecia muito com o vinil e depois com  o CD, de você parar tudo, ouvir o álbum e segurar aquele encarte. Isso te traz uma memória afetiva muito grande que não tem no streaming. O streaming, na verdade, é uma coisa muito imediatista. Tá ali, você assiste e acabou, não tem um ritual. Esse ritual é muito importante. Todas essas questões são muito afetivas.’’, conta Celso.

 

‘‘Sempre irão existir pessoas que querem ter as coisas que elas gostam na sua prateleira para poder pegar, olhar, cheirar e sei lá mais o que as pessoas gostem de fazer com seus itens. Fotografar e postar é meu caso’’, explica PC.

 

Sobre o material extra, Celso diz: ‘‘Às vezes o extra é melhor que o filme. E existem extras que estão no DVD, mas que não estão no Blu-ray do filme, ou seja: alguns extras se perdem. Pra mim, para ter a experiência completa daquela obra, tem que ter os extras.’’ 

 

Para ele, as distribuidoras brasileiras falharam em apresentar e tornar apelativo para o grande público a revolução que o Blu-ray apresentava: ‘‘Com o DVD, começou a sair muita coisa bacana. Os estúdios estavam ganhando muito dinheiro e as tiragens eram muito grandes. O primeiro DVD de Os Incríveis teve uma tiragem de 1 milhão, foi muito absurdo. As pessoas compravam DVD para dar de presente de aniversário, presente de natal, ficou muito popular, todo mundo tinha um aparelho de DVD em casa. E aí entrou o Blu-ray em 2009, que teve dois erros gigantescos para mim: os preços absurdos e a falta de divulgação. Ou pelo menos a divulgação de forma errada. As pessoas pensavam ‘é um disco normal, igual o do DVD, porque que eu vou ter?’. Não teve um trabalho de convencimento... eu nunca vou esquecer do Wall-e, da Pixar, com o preço de 119 reais. Se tudo fosse melhor trabalhado, talvez o Blu-ray tivesse substituído o DVD... Para os executivos, foi uma coisa transitória. Eles não pensam no valor afetivo que um filme pode ter. Isso acabou matando o mercado de CD também. O case era uma coisa ridícula de ruim, boa parte dos CDs que eu comprei já chegavam quebrados. Aquele formato já estava errado. E aí você comprava e não tinha um encarte, que é uma coisa que custa centavos pra eles, mas que para o fã de uma banda significava muito. Então sempre existiu uma falta de cuidado.’’

 

A surpresa, durante a pandemia, foi uma retomada mais aguda na produção de itens em mídia física feita quase que de forma exclusiva para atender as demandas do colecionador. Produtoras como a Versátil Home Video e a Obras-Primas do Cinema se empenharam em lançar filmes clássicos, coleções de diretores consagrados e box temáticos no mercado durante 2020. Alguns títulos, como O Lobisomem Americano em Londres, foram esgotados durante a pré-venda e tiveram as suas tiragens multiplicadas. Além disso, lojas online com o único intuito de vender filmes, como a famdvd, a The Originals e a Colecione Clássicos, se firmaram durante o período. O elevado número de produtos em mídia física durante o ano terminou por sobrecarregar a Rimo, única empresa de replicação de CDs, DVDs e Blu-ray que restou no Brasil, e, como resultado, diversos produtos anunciados e vendidos na pré-venda por empresas menores tiveram as suas entregas atrasadas, como o Blu-ray do clássico Paris, Texas e o box da coleção Essencial, da Versátil, que conta com quatro filmes do diretor David Lynch em alta definição.

‘Hoje, com o streaming, o mercado de mídia física são os colecionadores. Por isso que esse ano foi tão bom. As distribuidoras menores começaram a fazer Blu-rays e conseguiram chamar a atenção de quem colecionava. As majors (distribuidoras grandes) foram provocadas por isso e começaram a lançar mais coisas também. O Fábio, dono da famdvd, cutucava muito essas majors, ele falava ‘vocês não vão lançar nada? Vocês não estão vendo o que está acontecendo? Tá vendendo muito!’. A impressão geral no ano passado é de que ia acabar a mídia física por conta da crise da Cultura e da Saraiva...no momento em que as duas maiores lojas entram em colapso, acabou, né? Mas aí, por uma grande sorte, a Amazon também entrou e começou a vender filmes’’, explica Celso Menezes.

 

Mesmo com as plataformas digitais retirando o espaço da mídia física, não há um ressentimento por parte dos dois colecionadores em relação ao streaming.

 

‘‘Eu assino alguns serviços de streaming. Tenho Netflix, Amazon Prime, Disney+ e ainda tenho Telecine junto ao meu plano de TV à cabo. Nem deveria poder existir um sentimento de ressentimento com esse tipo de serviço. Ele é o presente e o futuro da distribuição de filmes. Eu considero o streaming essencial para os dias de hoje. O que o pessoal mais nervoso da comunidade confunde é achar que as coisas se anulam. A mídia física e o streaming, apesar de terem o mesmo produto final, são coisas bem diferentes, com propostas diferentes e para públicos diferentes. Eles tem que, na verdade, dar as mãos e andar juntos! Ninguém bate a qualidade da mídia física, assim como ninguém bate o poder de distribuição do streaming, e por aí vão as semelhanças e diferenças numa longa lista…’’, explica PC.

 

Ele ainda revela que, mesmo possuindo uma coleção enorme, assiste mais filmes em formato digital do que físico: ‘‘A preguiça do ser humano é que move o progresso. Tudo que aparece de nova tecnologia por aí é pra facilitar sua vida, fazendo você precisar fazer menos esforço. Dito isso, em quantidade, eu vejo mais filmes em streaming. Agora, quando eu realmente tiro um tempo pra assistir um filme que quero muito, que vou assistir sentado (sim, o streaming é feito pra você assistir o filme todo largado no sofá ou cama), eu vou de mídia física. Sei que terei uma melhor imagem e som em um caso desse.’’

 

Celso Menezes diz considerar o streaming ‘muito útil’’ e dono de uma aleatoriedade que te permite descobrir ‘‘coisas fantásticas’’, comparada à experiência de ir a uma locadora. ‘‘Não tem porque brigar com o streaming, ele é muito útil, está viabilizando vários filmes de grandes diretores e essa praticidade, de ver onde quiser, na hora que quiser, é muito boa. Só gostaria que fosse mais amplo: gostaria muito que tivessem filmes clássicos, filmes europeus. Seria fantástico ter curtas no streaming… na maioria das vezes, eu decido o filme que vou assistir olhando para a prateleira. Se eu quiser ver um filme clássico noir, eu vou pra essa seção específica. Filme noir é uma coisa que você não acha no streaming’’.

 

Ele ainda completa: ‘‘O ideal é ter os dois, a mídia física e o streaming existindo juntos. Por isso, pra mim não faz o menor sentido a decisão da Disney de parar de produzir mídia física no Brasil’’.

 

Em Agosto deste ano, foi ao ar no Blog do Jotacê uma matéria que revelava com exclusividade a informação de que a Disney havia abandonado a produção de mídia física para seus filmes e séries em toda a América Latina, em contraste com a resposta positiva que a comunidade estava tendo em relação aos anúncios de filmes em Blu-ray e DVD no Brasil. O furo coincidiu com a chegada do maior serviço de streaming da produtora no continente, o Disney +. Dessa forma, os colecionadores do país se viram órfãos dos produtos de franquias como Marvel, Star Wars e Pixar. A informação chacoalhou os rumos da comunidade, que também enxerga com incerteza o futuro de distribuidoras como Paramount, Sony e Universal, que não tiveram seus contratos com a Cinecolor renovados e não anunciaram se pretendem continuar com a distribuição de seus filmes em mídia física por meio de outra empresa.

 

Para os colecionadores, paira a dúvida se 2020 foi um ponto fora da curva e uma oportunidade de mercado que as produtoras detectaram com o intuito de lucrar em meio a um cenário de cinemas fechados, ou se a mídia física veio para ficar como um produto direcionado para cinéfilos e colecionadores.

 

Para Paulo Cesar, a segunda opção é a mais provável: ‘‘Eu não acredito num mundo sem mídia física, e também não acho que a estratégia seja tentar convencer a galera que assiste Netflix de que ela precisaria, ou mesmo poderia, assistir um DVD, Blu-ray ou 4K. Acredito que o nicho vai se tornar cada vez mais nicho, e que os responsáveis por isso terão que olhar cada vez com mais carinho para essas pessoas... E mesmo que eu esteja errado no meu prognóstico, eu ainda acredito que a indústria de games consiga salvar a mídia física, ou pelo menos postergar sua morte. Enquanto existir um console que possa receber uma mídia física, dando a possibilidade dos jogadores poderem trocar, emprestar e vender um game, ela estará abundante por aí.’’

 

‘‘Eu acho que é algo que vai ser reconquistado. Eu acredito que a experiência das pessoas pararem, verem o filme e verem os extras, vai ser redescoberta. Do mesmo jeito que a experiência de ouvir um vinil está sendo redescoberta, eu acho que isso também vai acontecer com os filmes. Porque não se trata só de ouvir a música, mas a forma de ouvir, esse ritual. Eu acho que a mídia física não vai acabar.’’, opina o roteirista.

 

 

De acordo com o IBOPE, quase metade da população brasileira reduziu o consumo de carne e derivados em 2020, mas, infelizmente, grande parte pelo aumento do preço.
por
Tainah Frangulis Pires
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17/05/2021 - 12h

A pandemia trouxe um novo olhar crítico para questões ambientais e sociais. 70% das doenças modernas têm origem animal, e com a Covid-19 não foi diferente. O vírus se espalha muito mais fácil onde existem animais em confinamento, sem higiene, doentes e mal cuidados - características de uma enorme parte do setor agropecuário atual.

Infelizmente, há um enorme motivo para que o consumo tenha caído tanto nesse último ano: o aumento do preço da carne e a junção ao baixíssimo auxílio emergencial. Mas também existe o lado da conscientização, onde o vegetarianismo alcançou racionalmente uma parte da população. Curiosa sobre o que motivou as pessoas a transitarem para o vegetarianismo (e suas variações), entrevistei mãe e filha que, juntas, tornaram-se veganas da noite para o dia. Claudia Chaves, de 40 anos, aos 24 havia tentado parar de comer carne animal. “Eu assisti o filme “A carne é fraca”, e caiu a ficha de que o animal que comemos, é o animal que tanto amamos. Fiquei super impactada e a partir daquele dia eu e meu marido paramos de comer carne. Ficamos assim durante 3 anos. Aí engravidei e voltei com a carne, não sei o porquê. É aquela coisa né, fechamos os olhos para uma realidade que já sabemos que existe”, refletiu a bióloga.

Foi sua filha Leticia, de 21 anos, que a fez retomar ao veganismo. “Há um ano estávamos aqui em um almoço em família e minha filha chegou com a proposta de não comermos mais carne. Rapidamente meu filho mais novo já aderiu e apoiou, meu marido também, e fomos todos juntos”, relembra Claudia. 

A tecnologia é, com certeza, o recurso responsável pelo aumento de vegetarianos no Brasil. “Eu parei com a carne por conta da internet, por conta do conteúdo que eu comecei a consumir no Instagram, pelos documentários que eu comecei a assistir, podcast que comecei a ouvir. Os documentários foram essenciais para apertar o gatilho e pensar “preciso sair da minha zona de conforto”, relatou Sofia Vieira, estudante de 21 anos.

 Com certeza não era fácil o acesso à informações que hoje temos a qualquer instante, principalmente por dois motivos: políticos e monetários. Nunca foi vantajoso falar sobre o consumo excessivo de carne e todos os problemas decorrentes. Mas o que fazer quando a tecnologia expõem fatos com cenas reais e chocantes? A resposta é uma só: aceitar a realidade. Monetizar o movimento, fazer com que os maiores frigoríficos do país lancem produtos vegetarianos, mesmo sem intenção alguma de parar com o sofrimento animal. O capitalismo ergueu um vegetarianismo elitizado e caro, polarizando o movimento ao invés de mostrar que ele é, na verdade, um só. “O veganismo só é caro industrializado, e o movimento é o oposto disso! Só conseguimos entender depois de receber tanta informação que não recebíamos antigamente. Até no nosso ciclo social, que amigos e conhecidos vão postando umas coisinhas, comentando, e assim nós conseguimos disseminar o movimento. E é muito legal consumir esse conteúdo”, conta Leticia Chaves. 

Na disputa das redes sociais, no quesito vegetarianismo quem ganha é o Instagram. "Eu passei dias e dias testando receitas, sigo vários perfis incríveis que me ajudaram no que hoje em dia é completamente intuitivo. Tudo que na minha primeira transição foi difícil, nessa foi fácil por conta da internet. Com o tanto de filmes e documentários informativos que temos, é impossível não sensibilizar com a causa. Que seja pelo bem estar animal, questão ambiental ou de saúde, o número de veganos e vegetarianos está aumentando muito graças a isso!”, finaliza Claudia.

A tecnologia não se destaca somente com as redes sociais, mas com a indústria alimentícia também. Hoje em dia são inúmeras as marcas que produzem carnes vegetais idênticas à animal, e não só do setor agropecuário, mas também marcas originalmente veganas, como a Fazenda do Futuro. Infelizmente, são produtos caros que estetizam o movimento, mas com o avanço tecnológico não deve demorar para que todos tenham acesso a esses novos (e revolucionários) alimentos. Mas enquanto isso não acontece, quantos vegetarianos teremos até o planeta entrar em colapso?

por
João Tognonato
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10/05/2021 - 12h

Com a revolucionária proposta de conectar pessoas pela voz, os empresários da tecnologia, Paul Davidson e Rohan Seth lançaram, em abril de 2020, o Clubhouse – um aplicativo ousado e inovador repleto de salas de bato papo para os usuários debaterem temas diversos. Desde então uma aura de mistério e empolgação se formou em volta desta rede social, que hoje conta com mais de 1 milhão de participantes.

Seu modo de funcionamento é relativamente simples. Aquele que se cadastrar pode agir de duas maneiras: como listener, que são os ouvintes, ou como speakers, moderadores da sala – divididos entre comentaristas e apresentadores.

Contudo, existem ainda restrições para se ingressar no aplicativo. Replicando uma tradicional estratégia de Marketing digital, já usada pelo Instagram e pelo Pinterest, o Clubhouse está disponível para quem receber o convite de algum outro participante da rede. Usuários de Android e outros softwares de smartphones ficam de fora da “brincadeira” que, por enquanto, permite apenas a entrada de detentores de Iphone. Métodos como este servem para testar o funcionamento e a adaptabilidade dos novos participantes. Mas soam, aos olhos da população, como um entrave elitista, já que um aparelho da Apple – o mais recente – custa em torno de R$ 6.000.

Nos primeiros dias em que esteve “no ar” um grupo bastante heterogêneo discorria sobre os impactos da Covid-19 no sistema carcerário – reunindo MCs, comentaristas políticos e Empresários. Esse é um dos muitos atrativos desta rede social: juntar pessoas com pensamentos e opiniões distintas para travar debates numa era em que somos engolidos pela homogeneidade das bolhas.

Um desses eventos – e que ajudaria a impulsionar a popularidade do Clubhouse – foi a conversa entre o Bilionário da tecnologia, Elon Musk – dono da Tesla e da Space X – e o CEO da Robinhood, aplicativo de investimentos que, no ano passado, enfrentou diversas polêmicas envolvendo a empresa de distribuição de jogos eletrônicos GameStop.  Após esse debate a companhia de análise de dados, Sensor Tower, detectou o interesse de 1 milhão e meio de usuários em ingressar no App. Sites e fóruns como o Reddit e o Craiglist passariam a vender convites privados. Até mesmo na China, onde o aplicativo não aparecia disponível na AppStore, as “entradas” foram oferecidas em sites de marketplace, onde o preço chegou a ser estimado em U$ 100.

Quando lançado, o Clubhouse obteve uma avaliação discreta na Bolsa. Algo em torno de U$100 milhões – e isso numa época em que a quantidade de usuários não passava de 1.500. Esse número foi crescendo com o tempo e em menos de dois meses estimou-se que sua cotação era de U$ 1 bi. Em abril deste ano, ele quadriplicou. Hoje, o aplicativo desenvolvido pela Alpha Exploration já custa em torno de U$ 4 bi, segundo reportagem da Forbes Brasil

" "Numa entrevista concedida ao portal Business Insider, Paul Davidson explicou melhor o que pensa da sua invenção. Segunda suas palavras, o Clubhouse pretendia resgatar o “lado humano” das redes sociais – com conversas ao vivo e sem o imperioso sistema de likes e follows. Mas, ao mesmo tempo em que concede essa liberdade, o App não encontrava um meio eficaz de evitar fakenews e discursos de ódio. Durante o Yom Kippur de 2019, por exemplo, o dia mais sagrado do judaísmo, usuários alegavam que algumas das salas haviam se tornado antros de antissemitismo.

De acordo com seus idealizadores, a melhor proposta para combater esse mal seria o treinamento de agentes moderadores para atuar em tempo real, impedindo speakers de transmitirem conteúdo de natureza discriminatória e guardando todas as conversas do Clubhouse num banco de dados. Porém, o usuário que se comprometer a respeitar os termos de uso da plataforma, não poderá ter acesso a estes áudios. E dessa maneira, o App esbarra em alguns artigos da constituição e do Marco Civil da internet.

Clubhouse rastreia dados sem especificar o motivo pelo qual é feito o processo – o que é vedado tanto pelo Marco Civil como pela LGPD. E assim, argumenta estar garantindo a proteção do próprio usuário. Mas caso ele necessite de um registro para usar como prova em eventual litígio, sairá de mãos abanando, pois só quem tem acesso às gravações são os moderadores do aplicativo

Os problemas relativos à segurança de dados não param por aqui. No início de abril, após uma série de vazamentos, uma lista contendo nome, foto e data de criação do perfil– além do nome do usuário que fez o convite para o Clubhouse – surgiu num popular fórum de hackers. Ainda que os dados tenham sido obtidos de modo ilegal, ficava no leitor aquele pulga atrás da orelha na hora de se cadastrar por não saber qual o rigor de proteção oferecido pelo site.

O Clubhouse viveu uma febre em seu lançamento pois era verdadeiramente inovador; mas hoje está com seu lugar de exclusividade ameaçado por outras empresas que copiaram seu modelo. O instagram, o Facebook,  o Spotify [9], o Telegram e o Whattzap – todas já desenvolveram um mecanismo análogo ao do Clubhouse para agradar seus usuários. Como uma tentativa desesperada de manter o foco do mercado no aplicativo, novamente o CEO da Tesla deu as caras numa sala de bate-bapo. Desta vez convidando o presidente da Rússia, Vladimir Putin para uma conversa informal.

Mas as críticas do usuários tocam num ponto sensível que não tem relação com o formato inovador da plataforma – é a falta de conteúdo e a dificuldade em encontrar na miríade de salas inúteis um bate-papo de qualidade. Isso parece que só fica mais complicado de acordo com o crescimento de usuários, pois o montante de conteúdo ruim absorve e massifica os projetos interessantes de comunicação como acontece hoje em todas as plataformas.

Num futuro próximo, iremos saber se o Clubhouse consolidará sua hegemonia nesse tipo de rede social, ou se ele é apenas a “porta de entrada” para adaptar usuários a esse tipo de mídia. Mas enquanto os CEOs não flexibilizarem a entrada daqueles que não detém o sistema IOS – retratados por um tweet espirituoso como “a invasão dos androides – nunca saberemos. Assim, este ato (o de manter por tanto tempo a restrição) poderá significar simplesmente o desterro de um projeto oportuno de rede rocial, mas que deverá sobreviver – ainda que não pelas mãos de seus criadores.

A mineração do Bitcoin consome mais energia do que a Argentina inteira. Precisamos de mudanças, inclusive nas fontes de energia que usamos
por
Fernando Bocardo, João Kerr e Pedro Duarte
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07/05/2021 - 12h

Desde os anos 1990, se desenvolve o fenômeno das criptomoedas, moedas digitais que proporcionam maior liberdade e privacidade aos usuários, através do uso da criptografia. Hoje, a mais famosa criptomoeda é a Bitcoin, avaliada em mais de 300 mil reais. Por serem 100% digitais, as transações utilizando esse tipo de moeda não passam por uma autoridade central. Isso as difere da grande maioria das moedas como o real, controlado pelo governo brasileiro, e o dólar, controlado pelo governo americano. Toda transação feita com criptomoedas deve ser registrada em seu respectivo blockchain. 

Fonte: Infográfico da Fintech explica o que é o blockchain

As transferências precisam ser registradas e validadas por computadores, fornecidos por pessoas físicas. Esse processo é chamado de mineração e pode ser feito por qualquer pessoa que esteja disposta a ceder a capacidade operacional de seu computador, sendo remunerada por isso.

Por exigir muito poder computacional, a mineração de criptomoedas gasta muita energia. Esse gasto tem sido alvo de muitas críticas por parte da imprensa, às vezes de forma equivocada. Segundo a BBC, o uso energético voltado para a rede Bitcoin durante um ano é maior que o necessário para sustentar um país como a Argentina pelo mesmo período. O número assusta, mas engana. Qualquer tipo de tecnologia de ponta utilizada no mundo todo possui valores nesse nível. O Youtube e a indústria gamer, por exemplo, emitem quase o dobro de gás carbônico que o Bitcoin.

 

Gráfico mostra o valor da pegada de carbono do Bitcoin comparado ao de outras tecnologias

Críticas ao sistema de criptomoedas muitas vezes se baseiam em comparações com sistemas de pagamento como o cartão de crédito e o dinheiro impresso. Segundo Nic Carter, especialista em finanças, essa não é uma comparação justa

“Como o Bitcoin propõe um sistema monetário próprio e um sistema de pagamento próprio, o certo seria comparar seu gasto ao de todo o sistema do dólar e todos os pilares que o sustentam”

— Nic Carter, em entrevista à Bloomberg.

 

Nic é um economista e filósofo, especializado em “tecnologia anti-autoritária”

A mineração exige muita energia, mas o maior problema não é o gasto por si só, e sim o uso de energias não renováveis. Esse tipo de energia impacta o meio ambiente ao fazer uso de recursos que podem se esgotar em um futuro próximo.

Como os mineradores sempre buscam as melhores condições para obter maior lucro, acabam optando pelos locais que oferecem o melhor preço. A China, por exemplo, possui um dos melhores preços de energia elétrica do mundo, e por isso responde por quase 75% das operações do Bitcoin. Mas porque isso ocorre? Porque a China faz uso de uma das formas mais baratas de produção de energia: a queima de carvão mineral. Essa forma é, no entanto, uma das mais poluentes no mundo.

 

Usina de carvão em pleno funcionamento (Foto: SkyNewsBiz)

Nesse caso, uma mudança no sistema de energia chinês seria muito mais benéfica do que no sistema de mineração em si, e segundo Oderval Duarte, economista formado na UFMG, elas são cada vez mais acessíveis:

“A geração de energia através de fontes renováveis produz energia limpa sem agressão ao meio ambiente. (…) Em termos de custo, elas têm se tornado cada vez mais competitivas, se situando hoje em um custo muito menor do que algumas fontes que usam combustíveis fósseis para a geração”

— Oderval Duarte

No entanto, reformar enormes sistemas de produção de energia não é algo que pode ocorrer de um dia para o outro, e uma mudança rápida nos níveis de poluição é necessária. Caso contrário, cientistas estimam que teremos um aquecimento global de 2ºC até 2033, colocando em risco diversas espécies de animais e plantas.

As empresas de criptomoedas têm, portanto, o dever de promover ações que diminuam seu gasto energético. Tara Shirvani, especialista em sustentabilidade, sugere o sistema Proof of Stake.

Esse sistema atribui a responsabilidade da mineração aos maiores participantes na cripto, ou seja, quem tem mais dessa moeda. Dessa forma, não há uma gigantesca competição pela mineração e os mineradores não são obrigados a usar supercomputadores que gastam quantidades alarmantes de energia. A Ethereum, uma das maiores redes de criptomoedas do mundo, já aderiu ao sistema.

 

Platafroma de mineração de Bitcoin (Foto free: Shutterstock)

As criptomoedas vieram para facilitar transações fora dos bancos, sendo uma opção alternativa segura e eficiente. Seu gasto energético não é tão alto quando comparado a outras formas de tecnologia, mas pode trazer sérios problemas ao meio ambiente à medida que seu uso cresce.

Dessa forma, as empresas e governos nacionais precisam criar projetos eficientes para cortar os gastos dessa tecnologia, pois ela veio para ficar. As mudanças não passam por sanções à essa tecnologia, e sim pela utilização de fontes de energia renováveis e do sistema Proof of Stake.