Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Esclarecendo dúvidas sobre os riscos em uma conversa com Luiz Padulla
por
Clara Dell'Armelina
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05/05/2025 - 12h

O mundo está farto de plástico. Estão presentes em utensílios, móveis, roupas e, agora, também nos alimentos, mas não para por aí, estudos recentes, como o feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), comprovam a existência de plástico acumulado no corpo humano. Estamos falando de microplásticos, pequenas partículas de plástico com dimensões inferiores a 5 milímetros causadoras de danos tóxicos aos seres vivos. 

A presença de plástico nos oceanos foi detectada pela primeira vez na década de 70 e só em 2004, com o pesquisador Richard Thompson, que tivemos o conhecimento dos "microplásticos". Entre 2010 e 2020 foi quando  identificaram a presença de microplástico em toda a cadeia alimentar, mas só a partir de 2023 que as pesquisas se voltaram para mapear seus impactos na saúde humana. O professor, biólogo, doutor e autor do blog "Biólogo Socialista", Luiz Fernando Padulla, conversa sobre o assunto com a repórter da AGEMT. Confira!

Pressão do governo Trump sobre instituições de ensino provoca medo sobre fuga de cientistas
por
João Paulo Moura
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05/05/2025 - 12h

Instabilidade é um rótulo que nenhuma nação deseja carregar. Seja na economia ou na educação, viver em um lugar de incertezas gera apreensão a todos. E, embora Donald Trump tenha recém completado 100 dias no cargo de presidente, graças às medidas adotadas, os cientistas se encontram em um mar de insegurança nunca vivido nestas últimas décadas. Columbia, Princeton e a Universidade da Pensilvânia sofreram com os cortes e ameaças de Donald Trump. Columbia teve US$ 400 milhões em subsídios federais suspensos devido à casos de assédio a estudantes judeus. Harvard foi uma das universidades que negou as demandas da Casa Branca.

Em consequência, no dia 14 de março, o Departamento de Educação anunciou o congelamento de US$ 2,3 bilhões em subsídios para a instituição. "Uma das grandes vantagens comparativas que os EUA tinha era sua capacidade de atração e fixação de cérebros de pesquisadores de outros países, principalmente do Sul Geopolítico”, diz Cristina Pecequilo, doutora em ciência política pela USP e professora de relações internacionais da UNIFESP. Assim, se os EUA deixarem de ser atrativos, os pesquisadores se moverão a outras nações, e com isso haverá uma perda de conhecimento de ponta”, ressalta Pecequilo em entrevista à AGEMT.    

As ações tomadas pelo governo Trump provocaram um temor generalizado entre os cientistas com medo de uma possível fuga de cérebros. O termo se refere ao processo de migração de pesquisadores, cientistas e profissionais altamente qualificados. Em pesquisa realizada pela revista Nature, dos 2000 pesquisadores consultados no levantamento, 75% consideram sair do país nos próximos anos. Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro e, em seu primeiro dia de mandato, revogou 78 ordens executivas do governo anterior, retirou o país da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do acordo de Paris. Durante os três meses seguintes, as ações tomadas pelo governo se intensificaram, principalmente no setor econômico.  

Donald Trump segurando decreto no salão oval da casa branca
Donald Trump exibe decreto assinado no dia 20 de janeiro. Foto: Anna Moneymaker/Getty Images 

No dia 2 de abril, intitulado pelos republicanos como o “dia da libertação”, iniciou-se uma guerra comercial entre os EUA e o mundo. Com a meta de corrigir o déficit comercial internacional do país, o governo norte-americano impôs taxas a 185 países. As altas porcentagens geraram respostas das nações, principalmente por parte da China que revidou com um grande pacote de alíquotas sobre as commodities americanas. Mas as medidas não pararam somente no setor econômico. Dentro das universidades do país, o temor do corte de financiamento e da fiscalização do conteúdo dos cursos aumentou.

A tensão entre o governo Trump e as instituições de ensino superior se elevou a partir do mês de março. Investigações de programas de diversidade e inclusão foram abertas em 45 universidades, com exigências sobre a auditoria de conteúdos e as condutas de alunos em favor da Palestina. Em resposta a esse cenário, instituições e países ao redor do mundo começaram a se movimentar para atrair os cientistas que se encontram nos EUA. A Universidade de Aix-Marselha, localizada na França, lançou uma iniciativa chamada Safe Place for Science, que investirá 15 milhões de euros para apoiar 15 pesquisadores. A União Europeia lançou a campanha Choose Europe for Science, como um refúgio para a liberdade acadêmica. Bélgica, Holanda e países nórdicos vêm oferecendo bolsas e infraestrutura de ponta para pesquisadores norte-americanos. 

Além das universidades europeias, China e Índia se consolidam como potenciais concorrentes dos pesquisadores estadunidenses. “Eu destacaria a China como uma potencial concorrente, até porque basta lembrar que todos estes outros países, principalmente a França tem problemas com forças políticas conservadoras anticiência. Além dela, mencionaria igualmente a Índia, que tem investido pesadamente em ciência e tecnologia”, completa Pecequilo. 

Nos últimos anos, a China despontou como a líder mundial em número de artigos científicos publicados. Segundo Ministério de Ciência e Tecnologia da China, em 2024, o país destinou mais de US$ 496 bilhões para pesquisa e desenvolvimento. Esse valor corresponde a 2,68% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, sendo o segundo maior investidor mundial em pesquisas, atrás apenas dos Estados Unidos. 

A Índia também tem se destacado como uma potência emergente em ciência e tecnologia, apesar de ainda apresentar desafios estruturais. O país investe 0,64% de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, esse investimento tem crescido de forma constante, dobrando na última década. O governo indiano é o principal financiador, respondendo por mais da metade do total, com destaque para agências como o DRDO (Defesa), o Departamento de Espaço e o Departamento de Energia Atômica. 

Apesar das incertezas internas e das ameaças que pairam sobre o sistema científico dos Estados Unidos, a ciência mundial está encontrando novos centros. Essa reconfiguração global do conhecimento pode redefinir o papel dos EUA como epicentro da inovação e da produção científica.

Documentário I’m Not a Robot instiga o telespectador a refletir sobre a evolução das máquinas
por
Vítor Nhoatto
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08/04/2025 - 12h

Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.

Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra,  pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.

A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.

Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Robô Sophia
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda. 

Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.

Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.

Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano. 

O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.

Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Lara e Daniel em um Volkswagen Fusca azul
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.

I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.

Como é a rotina de um Streamer de jogos para alcançar novos públicos
por
Paula Moraes
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09/06/2021 - 12h

Através de plataformas de transmissão de vídeos ao vivo, e com o desenvolvimento e popularização de jogos de vídeo game, foi criado a cultura de transmitir partidas de jogos de ao vivo para outras pessoas interagirem. As pessoas que transmitem são popularmente chamadas de streamers, e a popularização dessa transmissão ficou tão comum que hoje existem streamers que vivem apenas disso.

Streamer Amefuri.
Streamer Amefuri.

           Existem diversas plataformas de transmissão, como a Nimo TV e a Twitch, está sendo a mais usada no Brasil, contendo mais de 140 milhões de usuários pelo país.

            O streamer Amefuri, entrou oficialmente para esse mundo de transmissões no final de 2017, transmitindo jogos de GTA RV e Valorant. Ele conta que sua principal inspiração para entrar nesse mundo foi a vontade de criar conteúdo para internet, e que optou pela Twitch por se identificar com a plataforma por considera-la um bom espaço para transmitir jogos de vídeo gamese possibilitar com o contrato de afiliado a chance de passar propagandas durante os jogos, o que aumenta o dinheiro gerado por transmissão.

            Para se organizar para as transmissões para criar conteúdo constante para seus inscritos, Amefuri criou uma rotina de transmissões de terça á domingo, com algumas folgas ocasionais durante a semana. Ele também não considera a área tão competitiva, mas para se destacar e ganhar um bom publico você deve ser você mesmo.

Com o conteúdo constante desde 2017, para Amefuri as transmissões já são consideradas sua principal fonte de renda. “Meu ponto inicial de quando eu estava “trabalhando” mesmo, foi em maio de 2019, quando recebi meu verificado.”

Com a vontade de crescer na área, o streamer teve que comprar um novo computador para melhorar as suas transmissões. Ele também relata a dificuldade em conquistar o publico. “Queremos abraçar o mundo, mas é um por dia que conseguimos trazer para nossa comunidade." Apesar de tudo, para Amefuri virar streamer lhe proporcionou trabalhar produzindo conteúdo, conhecer pessoas que admira e melhorar o lado pessoal, que é confiar mais em si mesmo e saber que consegue ir mais longe.

Streamer MarianeRib.
Streamer MarianeRib.

A streamer Mariane Ribeiro, popularmente conhecida como MarianeRibcomeçou a assistir transmissões de jogos pela Twitch em 2014, mas foi apenas em novembro de 2018 com 21 anos que ela virou streamer. “Eu sempre gostei de jogar e conhecer gente nova por meio de jogos online.”

O conteúdo da sua conta começou com jogos como League of Legends, Just Dance, Dead by Daylight e World of Warcraft. Em 2020 ela introduziu o GTA RP como conteúdo, e este se tornou o carro chefe da sua conta fazendo transmissões de 4 ou 5 dias do jogo.

Inicialmente, Ribeiro escolheu a Plataforma Twitch para fazer suas transmissões por ser a única que conhecia que estava há mais tempo ativa. Ao longo dos quase três anos como criadora de conteúdo no site, seus benefícios só aumentaram, e hoje consegue transmitir até propagandas durante suas transmissões, para aumentar o seu ganho. 

            Para ajudar o seu canal a crescer, Ribeiro costuma fazer transmissões seis dias por semana a partir das 20:00 até 02:00, mas costuma virar a noite jogando, e tira um dia de folga apenas quando está muito desgastada. “Eu particularmente reparo que, caso eu fique 2 dias ou mais sem fazer transmissão, as métricas são prejudicadas.”

Para Ribeiro, a sua principal competidora é ela mesma. Hoje em dia, ela evitar se comparar com streamers maiores, e vê muitas pessoas ultrapassando os próprios limites apenas para tentar chamar atenção e tentar conquistar um certo público para si. Por isso, hoje em dia ela foca apenas em melhorar o que já está produzindo, pois não existe uma fórmula para o crescimento na área. 

          Ela também percebe que consegue se destacar entre os streamer menores pela sua constante interação com o chat espectadores que conversam e comentam sobre a transmissão por texto). “Streamers maiores não conseguem responder todos do chat, e parte dos streamers menores não interagem muito/respondem várias pessoas, e isso acaba abrindo uma vantagem para quem gosta bastante de conversar com os espectadores.”

          Mesmo estando a quase três anos nessa profissão, ainda não conseguir fazer disso uma renda fixa, e acaba tendo que optar por trabalhar a parte com freelas de consultoria, tradução e transcrição. “Meu sonho é fazer das transmissões o meu principal trabalho, transformando os freelas para complementação da renda.”

        Ribeiro relata que inicialmente sua principal dificuldade foi a falta de um computador. Durante o primeiro ano como streamer fazia as transmissões com o computador do namorado, e foi apenas com ajuda do namorado e com o retorno financeiro das transmissões que conseguiu comprar o seu primeiro computador, e até hoje compra peças faltando e faz os upgrades necessários com a renda da Twitch.

            Outra dificuldade que passou foi em aprender a mexer nos softwares para transmissão, pois era algo que quem não está na área nunca entrou em contato antes. Ela também relata a dificuldade de crescer e ser descoberta, já que a plataforma vem lentamente adicionando ferramentas novas para que os espectadores descubram transmissões específicas.

            Apesar de todas as dificuldades, Ribeiro relata que o alcance de suas transmissões lhe proporcionou conhecer pessoas de todo o Brasil, além de expectadores dos EUA, Portugal e Noruega. “Já recebi inúmeras mensagens desse tipo e eu fico sem acreditar. Saber que eu estou ajudando UMA pessoa sequer, enquanto estou sendo eu mesma e fazendo o que eu gosto, é surreal.”

Em meio a chegada e consolidação de novos serviços de streaming, o mercado de mídia física no Brasil se aquece e sobrevive através de uma comunidade cada vez mais nichada.
por
Pedro Kono e Pedro Alcântara
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04/06/2021 - 12h

Com o mercado de streaming cada vez maior, a partir da consolidação da Netflix e do Amazon Prime Video e as adições do Disney + e HBO Max quem ainda compra DVDs e Blu-rays?

 

Celso Menezes, roteirista e colaborador do Blog do Jotacê, o principal site sobre colecionismo do Brasil, relata que sua paixão por colecionar vem dos quadrinhos, mas que compra filmes em mídia física desde os 17 anos, na época, em VHS. O roteirista conta que ganhou um aparelho de DVD em um concurso da Revista Herói, no ano 2000, e desde então nunca parou de adquirir a mídia. Para Celso, o amor pelo cinema vem antes do colecionismo:

 

‘‘Eu tenho esse lado (cinéfilo) muito por conta do meu pai, que quando eu era moleque me passava comédias italianas, por exemplo...eu e meus irmão crescemos com isso e acabou moldando o nosso gosto. Eu tenho uma parte muito forte de cultura pop que eu gosto bastante, mas também gosto muito dos filmes mais artísticos. Na minha coleção, eu tenho as coisas mais aleatórias possíveis, não tem um padrão, eu gosto de tudo.’’

 

Paulo Cesar Prado também é colaborador do Blog do Jotacê e é dono de um canal no Youtube sobre sua coleção de filmes, o PC GameMovieCollector.

 

‘Eu coleciono desde sempre. Me lembro de ter coleções desde muito cedo na vida, e das mais variadas coisas: pontas de lápis, chaveiros, gibis, borrachas, maços de cigarro e tatu-bola (sim, o bichinho). A paixão pelos filmes, que veio da minha mãe, só se abraçou à minha mania de coleção, começando na época do VHS e tomando forma definitiva logo que consegui comprar meu primeiro DVD’’, conta PC.

 

Para ambos, o motivo de continuarem comprando os filmes em tempos de facilidade do streaming se deve a questões como a qualidade da exibição, a embalagem mais bem produzida, o material extra e, principalmente, o lado afetivo.

 

‘‘A questão é de você ter uma memória tátil. De você pegar o filme e lembrar de quando você assistiu e porque te marcou. Isso acontecia muito com o vinil e depois com  o CD, de você parar tudo, ouvir o álbum e segurar aquele encarte. Isso te traz uma memória afetiva muito grande que não tem no streaming. O streaming, na verdade, é uma coisa muito imediatista. Tá ali, você assiste e acabou, não tem um ritual. Esse ritual é muito importante. Todas essas questões são muito afetivas.’’, conta Celso.

 

‘‘Sempre irão existir pessoas que querem ter as coisas que elas gostam na sua prateleira para poder pegar, olhar, cheirar e sei lá mais o que as pessoas gostem de fazer com seus itens. Fotografar e postar é meu caso’’, explica PC.

 

Sobre o material extra, Celso diz: ‘‘Às vezes o extra é melhor que o filme. E existem extras que estão no DVD, mas que não estão no Blu-ray do filme, ou seja: alguns extras se perdem. Pra mim, para ter a experiência completa daquela obra, tem que ter os extras.’’ 

 

Para ele, as distribuidoras brasileiras falharam em apresentar e tornar apelativo para o grande público a revolução que o Blu-ray apresentava: ‘‘Com o DVD, começou a sair muita coisa bacana. Os estúdios estavam ganhando muito dinheiro e as tiragens eram muito grandes. O primeiro DVD de Os Incríveis teve uma tiragem de 1 milhão, foi muito absurdo. As pessoas compravam DVD para dar de presente de aniversário, presente de natal, ficou muito popular, todo mundo tinha um aparelho de DVD em casa. E aí entrou o Blu-ray em 2009, que teve dois erros gigantescos para mim: os preços absurdos e a falta de divulgação. Ou pelo menos a divulgação de forma errada. As pessoas pensavam ‘é um disco normal, igual o do DVD, porque que eu vou ter?’. Não teve um trabalho de convencimento... eu nunca vou esquecer do Wall-e, da Pixar, com o preço de 119 reais. Se tudo fosse melhor trabalhado, talvez o Blu-ray tivesse substituído o DVD... Para os executivos, foi uma coisa transitória. Eles não pensam no valor afetivo que um filme pode ter. Isso acabou matando o mercado de CD também. O case era uma coisa ridícula de ruim, boa parte dos CDs que eu comprei já chegavam quebrados. Aquele formato já estava errado. E aí você comprava e não tinha um encarte, que é uma coisa que custa centavos pra eles, mas que para o fã de uma banda significava muito. Então sempre existiu uma falta de cuidado.’’

 

A surpresa, durante a pandemia, foi uma retomada mais aguda na produção de itens em mídia física feita quase que de forma exclusiva para atender as demandas do colecionador. Produtoras como a Versátil Home Video e a Obras-Primas do Cinema se empenharam em lançar filmes clássicos, coleções de diretores consagrados e box temáticos no mercado durante 2020. Alguns títulos, como O Lobisomem Americano em Londres, foram esgotados durante a pré-venda e tiveram as suas tiragens multiplicadas. Além disso, lojas online com o único intuito de vender filmes, como a famdvd, a The Originals e a Colecione Clássicos, se firmaram durante o período. O elevado número de produtos em mídia física durante o ano terminou por sobrecarregar a Rimo, única empresa de replicação de CDs, DVDs e Blu-ray que restou no Brasil, e, como resultado, diversos produtos anunciados e vendidos na pré-venda por empresas menores tiveram as suas entregas atrasadas, como o Blu-ray do clássico Paris, Texas e o box da coleção Essencial, da Versátil, que conta com quatro filmes do diretor David Lynch em alta definição.

‘Hoje, com o streaming, o mercado de mídia física são os colecionadores. Por isso que esse ano foi tão bom. As distribuidoras menores começaram a fazer Blu-rays e conseguiram chamar a atenção de quem colecionava. As majors (distribuidoras grandes) foram provocadas por isso e começaram a lançar mais coisas também. O Fábio, dono da famdvd, cutucava muito essas majors, ele falava ‘vocês não vão lançar nada? Vocês não estão vendo o que está acontecendo? Tá vendendo muito!’. A impressão geral no ano passado é de que ia acabar a mídia física por conta da crise da Cultura e da Saraiva...no momento em que as duas maiores lojas entram em colapso, acabou, né? Mas aí, por uma grande sorte, a Amazon também entrou e começou a vender filmes’’, explica Celso Menezes.

 

Mesmo com as plataformas digitais retirando o espaço da mídia física, não há um ressentimento por parte dos dois colecionadores em relação ao streaming.

 

‘‘Eu assino alguns serviços de streaming. Tenho Netflix, Amazon Prime, Disney+ e ainda tenho Telecine junto ao meu plano de TV à cabo. Nem deveria poder existir um sentimento de ressentimento com esse tipo de serviço. Ele é o presente e o futuro da distribuição de filmes. Eu considero o streaming essencial para os dias de hoje. O que o pessoal mais nervoso da comunidade confunde é achar que as coisas se anulam. A mídia física e o streaming, apesar de terem o mesmo produto final, são coisas bem diferentes, com propostas diferentes e para públicos diferentes. Eles tem que, na verdade, dar as mãos e andar juntos! Ninguém bate a qualidade da mídia física, assim como ninguém bate o poder de distribuição do streaming, e por aí vão as semelhanças e diferenças numa longa lista…’’, explica PC.

 

Ele ainda revela que, mesmo possuindo uma coleção enorme, assiste mais filmes em formato digital do que físico: ‘‘A preguiça do ser humano é que move o progresso. Tudo que aparece de nova tecnologia por aí é pra facilitar sua vida, fazendo você precisar fazer menos esforço. Dito isso, em quantidade, eu vejo mais filmes em streaming. Agora, quando eu realmente tiro um tempo pra assistir um filme que quero muito, que vou assistir sentado (sim, o streaming é feito pra você assistir o filme todo largado no sofá ou cama), eu vou de mídia física. Sei que terei uma melhor imagem e som em um caso desse.’’

 

Celso Menezes diz considerar o streaming ‘muito útil’’ e dono de uma aleatoriedade que te permite descobrir ‘‘coisas fantásticas’’, comparada à experiência de ir a uma locadora. ‘‘Não tem porque brigar com o streaming, ele é muito útil, está viabilizando vários filmes de grandes diretores e essa praticidade, de ver onde quiser, na hora que quiser, é muito boa. Só gostaria que fosse mais amplo: gostaria muito que tivessem filmes clássicos, filmes europeus. Seria fantástico ter curtas no streaming… na maioria das vezes, eu decido o filme que vou assistir olhando para a prateleira. Se eu quiser ver um filme clássico noir, eu vou pra essa seção específica. Filme noir é uma coisa que você não acha no streaming’’.

 

Ele ainda completa: ‘‘O ideal é ter os dois, a mídia física e o streaming existindo juntos. Por isso, pra mim não faz o menor sentido a decisão da Disney de parar de produzir mídia física no Brasil’’.

 

Em Agosto deste ano, foi ao ar no Blog do Jotacê uma matéria que revelava com exclusividade a informação de que a Disney havia abandonado a produção de mídia física para seus filmes e séries em toda a América Latina, em contraste com a resposta positiva que a comunidade estava tendo em relação aos anúncios de filmes em Blu-ray e DVD no Brasil. O furo coincidiu com a chegada do maior serviço de streaming da produtora no continente, o Disney +. Dessa forma, os colecionadores do país se viram órfãos dos produtos de franquias como Marvel, Star Wars e Pixar. A informação chacoalhou os rumos da comunidade, que também enxerga com incerteza o futuro de distribuidoras como Paramount, Sony e Universal, que não tiveram seus contratos com a Cinecolor renovados e não anunciaram se pretendem continuar com a distribuição de seus filmes em mídia física por meio de outra empresa.

 

Para os colecionadores, paira a dúvida se 2020 foi um ponto fora da curva e uma oportunidade de mercado que as produtoras detectaram com o intuito de lucrar em meio a um cenário de cinemas fechados, ou se a mídia física veio para ficar como um produto direcionado para cinéfilos e colecionadores.

 

Para Paulo Cesar, a segunda opção é a mais provável: ‘‘Eu não acredito num mundo sem mídia física, e também não acho que a estratégia seja tentar convencer a galera que assiste Netflix de que ela precisaria, ou mesmo poderia, assistir um DVD, Blu-ray ou 4K. Acredito que o nicho vai se tornar cada vez mais nicho, e que os responsáveis por isso terão que olhar cada vez com mais carinho para essas pessoas... E mesmo que eu esteja errado no meu prognóstico, eu ainda acredito que a indústria de games consiga salvar a mídia física, ou pelo menos postergar sua morte. Enquanto existir um console que possa receber uma mídia física, dando a possibilidade dos jogadores poderem trocar, emprestar e vender um game, ela estará abundante por aí.’’

 

‘‘Eu acho que é algo que vai ser reconquistado. Eu acredito que a experiência das pessoas pararem, verem o filme e verem os extras, vai ser redescoberta. Do mesmo jeito que a experiência de ouvir um vinil está sendo redescoberta, eu acho que isso também vai acontecer com os filmes. Porque não se trata só de ouvir a música, mas a forma de ouvir, esse ritual. Eu acho que a mídia física não vai acabar.’’, opina o roteirista.

 

 

De acordo com o IBOPE, quase metade da população brasileira reduziu o consumo de carne e derivados em 2020, mas, infelizmente, grande parte pelo aumento do preço.
por
Tainah Frangulis Pires
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17/05/2021 - 12h

A pandemia trouxe um novo olhar crítico para questões ambientais e sociais. 70% das doenças modernas têm origem animal, e com a Covid-19 não foi diferente. O vírus se espalha muito mais fácil onde existem animais em confinamento, sem higiene, doentes e mal cuidados - características de uma enorme parte do setor agropecuário atual.

Infelizmente, há um enorme motivo para que o consumo tenha caído tanto nesse último ano: o aumento do preço da carne e a junção ao baixíssimo auxílio emergencial. Mas também existe o lado da conscientização, onde o vegetarianismo alcançou racionalmente uma parte da população. Curiosa sobre o que motivou as pessoas a transitarem para o vegetarianismo (e suas variações), entrevistei mãe e filha que, juntas, tornaram-se veganas da noite para o dia. Claudia Chaves, de 40 anos, aos 24 havia tentado parar de comer carne animal. “Eu assisti o filme “A carne é fraca”, e caiu a ficha de que o animal que comemos, é o animal que tanto amamos. Fiquei super impactada e a partir daquele dia eu e meu marido paramos de comer carne. Ficamos assim durante 3 anos. Aí engravidei e voltei com a carne, não sei o porquê. É aquela coisa né, fechamos os olhos para uma realidade que já sabemos que existe”, refletiu a bióloga.

Foi sua filha Leticia, de 21 anos, que a fez retomar ao veganismo. “Há um ano estávamos aqui em um almoço em família e minha filha chegou com a proposta de não comermos mais carne. Rapidamente meu filho mais novo já aderiu e apoiou, meu marido também, e fomos todos juntos”, relembra Claudia. 

A tecnologia é, com certeza, o recurso responsável pelo aumento de vegetarianos no Brasil. “Eu parei com a carne por conta da internet, por conta do conteúdo que eu comecei a consumir no Instagram, pelos documentários que eu comecei a assistir, podcast que comecei a ouvir. Os documentários foram essenciais para apertar o gatilho e pensar “preciso sair da minha zona de conforto”, relatou Sofia Vieira, estudante de 21 anos.

 Com certeza não era fácil o acesso à informações que hoje temos a qualquer instante, principalmente por dois motivos: políticos e monetários. Nunca foi vantajoso falar sobre o consumo excessivo de carne e todos os problemas decorrentes. Mas o que fazer quando a tecnologia expõem fatos com cenas reais e chocantes? A resposta é uma só: aceitar a realidade. Monetizar o movimento, fazer com que os maiores frigoríficos do país lancem produtos vegetarianos, mesmo sem intenção alguma de parar com o sofrimento animal. O capitalismo ergueu um vegetarianismo elitizado e caro, polarizando o movimento ao invés de mostrar que ele é, na verdade, um só. “O veganismo só é caro industrializado, e o movimento é o oposto disso! Só conseguimos entender depois de receber tanta informação que não recebíamos antigamente. Até no nosso ciclo social, que amigos e conhecidos vão postando umas coisinhas, comentando, e assim nós conseguimos disseminar o movimento. E é muito legal consumir esse conteúdo”, conta Leticia Chaves. 

Na disputa das redes sociais, no quesito vegetarianismo quem ganha é o Instagram. "Eu passei dias e dias testando receitas, sigo vários perfis incríveis que me ajudaram no que hoje em dia é completamente intuitivo. Tudo que na minha primeira transição foi difícil, nessa foi fácil por conta da internet. Com o tanto de filmes e documentários informativos que temos, é impossível não sensibilizar com a causa. Que seja pelo bem estar animal, questão ambiental ou de saúde, o número de veganos e vegetarianos está aumentando muito graças a isso!”, finaliza Claudia.

A tecnologia não se destaca somente com as redes sociais, mas com a indústria alimentícia também. Hoje em dia são inúmeras as marcas que produzem carnes vegetais idênticas à animal, e não só do setor agropecuário, mas também marcas originalmente veganas, como a Fazenda do Futuro. Infelizmente, são produtos caros que estetizam o movimento, mas com o avanço tecnológico não deve demorar para que todos tenham acesso a esses novos (e revolucionários) alimentos. Mas enquanto isso não acontece, quantos vegetarianos teremos até o planeta entrar em colapso?

por
João Tognonato
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10/05/2021 - 12h

Com a revolucionária proposta de conectar pessoas pela voz, os empresários da tecnologia, Paul Davidson e Rohan Seth lançaram, em abril de 2020, o Clubhouse – um aplicativo ousado e inovador repleto de salas de bato papo para os usuários debaterem temas diversos. Desde então uma aura de mistério e empolgação se formou em volta desta rede social, que hoje conta com mais de 1 milhão de participantes.

Seu modo de funcionamento é relativamente simples. Aquele que se cadastrar pode agir de duas maneiras: como listener, que são os ouvintes, ou como speakers, moderadores da sala – divididos entre comentaristas e apresentadores.

Contudo, existem ainda restrições para se ingressar no aplicativo. Replicando uma tradicional estratégia de Marketing digital, já usada pelo Instagram e pelo Pinterest, o Clubhouse está disponível para quem receber o convite de algum outro participante da rede. Usuários de Android e outros softwares de smartphones ficam de fora da “brincadeira” que, por enquanto, permite apenas a entrada de detentores de Iphone. Métodos como este servem para testar o funcionamento e a adaptabilidade dos novos participantes. Mas soam, aos olhos da população, como um entrave elitista, já que um aparelho da Apple – o mais recente – custa em torno de R$ 6.000.

Nos primeiros dias em que esteve “no ar” um grupo bastante heterogêneo discorria sobre os impactos da Covid-19 no sistema carcerário – reunindo MCs, comentaristas políticos e Empresários. Esse é um dos muitos atrativos desta rede social: juntar pessoas com pensamentos e opiniões distintas para travar debates numa era em que somos engolidos pela homogeneidade das bolhas.

Um desses eventos – e que ajudaria a impulsionar a popularidade do Clubhouse – foi a conversa entre o Bilionário da tecnologia, Elon Musk – dono da Tesla e da Space X – e o CEO da Robinhood, aplicativo de investimentos que, no ano passado, enfrentou diversas polêmicas envolvendo a empresa de distribuição de jogos eletrônicos GameStop.  Após esse debate a companhia de análise de dados, Sensor Tower, detectou o interesse de 1 milhão e meio de usuários em ingressar no App. Sites e fóruns como o Reddit e o Craiglist passariam a vender convites privados. Até mesmo na China, onde o aplicativo não aparecia disponível na AppStore, as “entradas” foram oferecidas em sites de marketplace, onde o preço chegou a ser estimado em U$ 100.

Quando lançado, o Clubhouse obteve uma avaliação discreta na Bolsa. Algo em torno de U$100 milhões – e isso numa época em que a quantidade de usuários não passava de 1.500. Esse número foi crescendo com o tempo e em menos de dois meses estimou-se que sua cotação era de U$ 1 bi. Em abril deste ano, ele quadriplicou. Hoje, o aplicativo desenvolvido pela Alpha Exploration já custa em torno de U$ 4 bi, segundo reportagem da Forbes Brasil

" "Numa entrevista concedida ao portal Business Insider, Paul Davidson explicou melhor o que pensa da sua invenção. Segunda suas palavras, o Clubhouse pretendia resgatar o “lado humano” das redes sociais – com conversas ao vivo e sem o imperioso sistema de likes e follows. Mas, ao mesmo tempo em que concede essa liberdade, o App não encontrava um meio eficaz de evitar fakenews e discursos de ódio. Durante o Yom Kippur de 2019, por exemplo, o dia mais sagrado do judaísmo, usuários alegavam que algumas das salas haviam se tornado antros de antissemitismo.

De acordo com seus idealizadores, a melhor proposta para combater esse mal seria o treinamento de agentes moderadores para atuar em tempo real, impedindo speakers de transmitirem conteúdo de natureza discriminatória e guardando todas as conversas do Clubhouse num banco de dados. Porém, o usuário que se comprometer a respeitar os termos de uso da plataforma, não poderá ter acesso a estes áudios. E dessa maneira, o App esbarra em alguns artigos da constituição e do Marco Civil da internet.

Clubhouse rastreia dados sem especificar o motivo pelo qual é feito o processo – o que é vedado tanto pelo Marco Civil como pela LGPD. E assim, argumenta estar garantindo a proteção do próprio usuário. Mas caso ele necessite de um registro para usar como prova em eventual litígio, sairá de mãos abanando, pois só quem tem acesso às gravações são os moderadores do aplicativo

Os problemas relativos à segurança de dados não param por aqui. No início de abril, após uma série de vazamentos, uma lista contendo nome, foto e data de criação do perfil– além do nome do usuário que fez o convite para o Clubhouse – surgiu num popular fórum de hackers. Ainda que os dados tenham sido obtidos de modo ilegal, ficava no leitor aquele pulga atrás da orelha na hora de se cadastrar por não saber qual o rigor de proteção oferecido pelo site.

O Clubhouse viveu uma febre em seu lançamento pois era verdadeiramente inovador; mas hoje está com seu lugar de exclusividade ameaçado por outras empresas que copiaram seu modelo. O instagram, o Facebook,  o Spotify [9], o Telegram e o Whattzap – todas já desenvolveram um mecanismo análogo ao do Clubhouse para agradar seus usuários. Como uma tentativa desesperada de manter o foco do mercado no aplicativo, novamente o CEO da Tesla deu as caras numa sala de bate-bapo. Desta vez convidando o presidente da Rússia, Vladimir Putin para uma conversa informal.

Mas as críticas do usuários tocam num ponto sensível que não tem relação com o formato inovador da plataforma – é a falta de conteúdo e a dificuldade em encontrar na miríade de salas inúteis um bate-papo de qualidade. Isso parece que só fica mais complicado de acordo com o crescimento de usuários, pois o montante de conteúdo ruim absorve e massifica os projetos interessantes de comunicação como acontece hoje em todas as plataformas.

Num futuro próximo, iremos saber se o Clubhouse consolidará sua hegemonia nesse tipo de rede social, ou se ele é apenas a “porta de entrada” para adaptar usuários a esse tipo de mídia. Mas enquanto os CEOs não flexibilizarem a entrada daqueles que não detém o sistema IOS – retratados por um tweet espirituoso como “a invasão dos androides – nunca saberemos. Assim, este ato (o de manter por tanto tempo a restrição) poderá significar simplesmente o desterro de um projeto oportuno de rede rocial, mas que deverá sobreviver – ainda que não pelas mãos de seus criadores.

A mineração do Bitcoin consome mais energia do que a Argentina inteira. Precisamos de mudanças, inclusive nas fontes de energia que usamos
por
Fernando Bocardo, João Kerr e Pedro Duarte
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07/05/2021 - 12h

Desde os anos 1990, se desenvolve o fenômeno das criptomoedas, moedas digitais que proporcionam maior liberdade e privacidade aos usuários, através do uso da criptografia. Hoje, a mais famosa criptomoeda é a Bitcoin, avaliada em mais de 300 mil reais. Por serem 100% digitais, as transações utilizando esse tipo de moeda não passam por uma autoridade central. Isso as difere da grande maioria das moedas como o real, controlado pelo governo brasileiro, e o dólar, controlado pelo governo americano. Toda transação feita com criptomoedas deve ser registrada em seu respectivo blockchain. 

Fonte: Infográfico da Fintech explica o que é o blockchain

As transferências precisam ser registradas e validadas por computadores, fornecidos por pessoas físicas. Esse processo é chamado de mineração e pode ser feito por qualquer pessoa que esteja disposta a ceder a capacidade operacional de seu computador, sendo remunerada por isso.

Por exigir muito poder computacional, a mineração de criptomoedas gasta muita energia. Esse gasto tem sido alvo de muitas críticas por parte da imprensa, às vezes de forma equivocada. Segundo a BBC, o uso energético voltado para a rede Bitcoin durante um ano é maior que o necessário para sustentar um país como a Argentina pelo mesmo período. O número assusta, mas engana. Qualquer tipo de tecnologia de ponta utilizada no mundo todo possui valores nesse nível. O Youtube e a indústria gamer, por exemplo, emitem quase o dobro de gás carbônico que o Bitcoin.

 

Gráfico mostra o valor da pegada de carbono do Bitcoin comparado ao de outras tecnologias

Críticas ao sistema de criptomoedas muitas vezes se baseiam em comparações com sistemas de pagamento como o cartão de crédito e o dinheiro impresso. Segundo Nic Carter, especialista em finanças, essa não é uma comparação justa

“Como o Bitcoin propõe um sistema monetário próprio e um sistema de pagamento próprio, o certo seria comparar seu gasto ao de todo o sistema do dólar e todos os pilares que o sustentam”

— Nic Carter, em entrevista à Bloomberg.

 

Nic é um economista e filósofo, especializado em “tecnologia anti-autoritária”

A mineração exige muita energia, mas o maior problema não é o gasto por si só, e sim o uso de energias não renováveis. Esse tipo de energia impacta o meio ambiente ao fazer uso de recursos que podem se esgotar em um futuro próximo.

Como os mineradores sempre buscam as melhores condições para obter maior lucro, acabam optando pelos locais que oferecem o melhor preço. A China, por exemplo, possui um dos melhores preços de energia elétrica do mundo, e por isso responde por quase 75% das operações do Bitcoin. Mas porque isso ocorre? Porque a China faz uso de uma das formas mais baratas de produção de energia: a queima de carvão mineral. Essa forma é, no entanto, uma das mais poluentes no mundo.

 

Usina de carvão em pleno funcionamento (Foto: SkyNewsBiz)

Nesse caso, uma mudança no sistema de energia chinês seria muito mais benéfica do que no sistema de mineração em si, e segundo Oderval Duarte, economista formado na UFMG, elas são cada vez mais acessíveis:

“A geração de energia através de fontes renováveis produz energia limpa sem agressão ao meio ambiente. (…) Em termos de custo, elas têm se tornado cada vez mais competitivas, se situando hoje em um custo muito menor do que algumas fontes que usam combustíveis fósseis para a geração”

— Oderval Duarte

No entanto, reformar enormes sistemas de produção de energia não é algo que pode ocorrer de um dia para o outro, e uma mudança rápida nos níveis de poluição é necessária. Caso contrário, cientistas estimam que teremos um aquecimento global de 2ºC até 2033, colocando em risco diversas espécies de animais e plantas.

As empresas de criptomoedas têm, portanto, o dever de promover ações que diminuam seu gasto energético. Tara Shirvani, especialista em sustentabilidade, sugere o sistema Proof of Stake.

Esse sistema atribui a responsabilidade da mineração aos maiores participantes na cripto, ou seja, quem tem mais dessa moeda. Dessa forma, não há uma gigantesca competição pela mineração e os mineradores não são obrigados a usar supercomputadores que gastam quantidades alarmantes de energia. A Ethereum, uma das maiores redes de criptomoedas do mundo, já aderiu ao sistema.

 

Platafroma de mineração de Bitcoin (Foto free: Shutterstock)

As criptomoedas vieram para facilitar transações fora dos bancos, sendo uma opção alternativa segura e eficiente. Seu gasto energético não é tão alto quando comparado a outras formas de tecnologia, mas pode trazer sérios problemas ao meio ambiente à medida que seu uso cresce.

Dessa forma, as empresas e governos nacionais precisam criar projetos eficientes para cortar os gastos dessa tecnologia, pois ela veio para ficar. As mudanças não passam por sanções à essa tecnologia, e sim pela utilização de fontes de energia renováveis e do sistema Proof of Stake.