Consumo consciente e busca por saúde impulsionam a produção nacional
por
Chloé Dana
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30/09/2025 - 12h

Por Chloé Dana

 

Em meados de 2025, pesquisas agronômicas da Embrapa e da Organis, apontam que a produção de orgânicos no País aumentaram em 12%, visando um consumo mais saudável e consciente. O crescimento aponta à prioridade por produtos sem agrotóxicos e ao fortalecimento de políticas públicas voltadas à agricultura ecológica. 

Porém, é preciso entender como esse aumento surge, en que se diferencia de outras nações por suas profundas raízes em movimentos sociais e agroecológicos, em vez de ser impulsionada exclusivamente por lógicas de mercado. Mais do que apenas um método de cultivo, a agricultura orgânica é definida por um sistema de produção agropecuária que utiliza técnicas particulares com a finalidade de aprimorar a utilização dos recursos naturais e socioeconômicos à disposição, preservando a integridade cultural das comunidades do campo. Seus fundamentos incluem a sustentabilidade econômica e ambiental, a maximização de vantagens sociais, a redução da dependência de fontes de energia não-renováveis e a adoção de métodos biológicos e mecânicos em lugar de organismos que foram geneticamente alterados.

O surgimento da agricultura orgânica no Brasil remonta a meados da década de 1970, impulsionado por uma reação ao avanço da Revolução Verde, que propunha uma modernização da agricultura em prol do melhoramento genético, uso de insumos e agrotóxicos. Nessa época, a comercialização de produtos ocorria de maneira direta, baseado em um simples sistema de confiança entre quem produzia e quem comprava. 

O mercado inicial consistia em um "segmento natural" oferecendo entregas semanais de cestas contendo frutas, verduras e legumes na casa dos clientes. A presença de lagartas e bichinhos no alimento, era percebida pelos primeiros clientes como uma sinalização de qualidade, indicando que os alimentos tinham sido cultivados sem o uso de produtos químicos. A valorização dos produtos orgânicos não se baseava em certificações formais, mas sim na confiança entre as partes e na evidência concreta da falta de químicos, o que destaca que as origens do movimento no Brasil são fundamentadas em princípios agroecológicos e filosóficos, e não apenas comerciais. 

O produtor de orgânicos e feirante na Vila Madalena Carlos Nascimento explica alguns motivos de porque optou pelo orgânico ao invés do convencional. Nascimento afirma que sua decisão surgiu de um desejo de produzir de maneira mais consciente pois ao observar a prática convencional, notou os efeitos negativos do uso incessante de pesticidas e fertilizantes químicos. O solo se tornava exaurido, a biodiversidade se perdia e a saúde das pessoas que lidavam frequentemente com esses produtos era comprometida. 

Outro fator que influenciou sua escolha foi a valorização crescente do mercado de produtos orgânicos. O agricultor percebe que esse segmento possui um grande potencial de crescimento, impulsionado por consumidores mais conscientes e prontos para apoiar práticas sustentáveis. Apesar do notável crescimento e das conquistas legislativas, o setor orgânico no Brasil enfrenta desafios estruturais que representam obstáculos significativos ao seu desenvolvimento pleno, e isso implica em tempo e políticas públicas para o setor.

Quando discute o amanhã, o produtor demonstra uma visão otimista, porém fundamentada na realidade. Ele enxerga um grande potencial para o crescimento da agricultura orgânica no Brasil, especialmente devido à mudança na conscientização dos consumidores. Cada vez mais, famílias estão em busca de alimentos que não contenham agrotóxicos, valorizando a origem dos produtos que adquirem e desejando apoiar práticas sustentáveis. Para ele, esse movimento representa não uma moda passageira, mas uma tendência crescente que deve se intensificar nos anos vindouros, alinhando-se à preocupação global com a saúde e o meio ambiente.

Outro aspecto que ele enfatiza é a urgência de aumentar o acesso. Atualmente, os produtos orgânicos ainda alcançam uma fração reduzida da população, frequentemente restrita às grandes áreas urbanas e a consumidores com maior capacidade financeira. Para o futuro, ele aspirar por um cenário em que os orgânicos se tornem mais disponíveis, integrando-se a feiras comunitárias, merendas escolares e até programas de abastecimento público, garantindo que alimentos saudáveis deixem de ser um privilégio e se tornem um direito.

O mercado de orgânicos no Brasil encontra-se em uma fase de crescimento explosivo, impulsionado por uma mudança no perfil do consumidor e políticas de fomento. No entanto, o setor enfrenta desafios estruturais significativos, como o desequilíbrio entre oferta e demanda, a fragmentação dos dados oficiais e as barreiras de entrada para os pequenos produtores. A superação desses gargalos, especialmente a questão da certificação e o fortalecimento da logística e da cadeia de valor, é crucial. Ao abordar essas questões de forma estratégica, o Brasil tem a oportunidade de não apenas manter sua liderança na América Latina, mas de se consolidar como um dos principais players globais, alinhando seu potencial de produção com o vigor de seu mercado consumidor.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
|
18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

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Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

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Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

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De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

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Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

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Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

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Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

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História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

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Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Apesar de promissora, a Internet das Coisas deve gerar mais controle do Estado, desemprego e afetar a dinâmica social.
por
Carlos Gonçalves
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26/10/2021 - 12h

Por Carlos Gonçalves

     

    De forma sutil, novas tecnologias surgem como algo ingênuo. Criadas como um atalho, as novas tecnologias sempre nos parecem convidativas. Além de acelerarem o fator tempo, possuem baixa margem de erro e alta efetividade em resolução de problemas. Seja na coleta de dados ou no monitoramento de informações, absorvemos em nossa rotina como algo comum, não percebendo a potencialidade por trás desta estrutura.

    A Internet das coisas (IoT - Internet of Things) é o novo tentáculo criado pelo mercado das tecnologias. Quase como um estágio evolutivo, essa nova prática cria um elo com a comunicação digital autônoma; formando uma ponte de diálogo entre máquinas que até então não sabiam da existência uma da outra (papel que antes era exercido pelo homem, que intermediava a coleta de dados e a conclusão de como agir). Agora, com as transferências de dados via rede, a informação será emitida por um sensor e recebida por outra máquina que faz o monitoramento em tempo real; interpretando os dados e tomando a iniciativa de como agir. Essa “rede inteligente” terá a capacidade e autonomia para operar, prever falhas no processo e adaptar a produção à demanda automaticamente. Com essa nova autonomia, mais um elo homem-máquina é rompido.

     Um exemplo de interação entre máquinas pode ser visto na agricultura. Com a instalação de sensores no solo de uma plantação, é possível saber a hora exata em que é necessário fazer a irrigação de cada área. O sensor emitirá sinais periódicos para uma antena, que emitirá os dados para um servidor, chegando a uma central que monitora os dados coletados, e a partir deles irá tomar a ação se é necessário irrigar a plantação ou não. Todo este processo é feito de forma autônoma, sem intervenção humana.

     A relação máquina-máquina é algo que já estava ocorrendo, porém com a implementação do 5G, este processo está sendo acelerado. Graças ao tempo de resposta mais efetivo (latência) entre emissor-receptor e uma maior largura de banda nas redes de comunicação, vamos alcançar uma nova fase na revolução industrial 4.0. A estabilidade de transmissão e a velocidade do recebimento dos dados, facilitará que sistemas autônomos se tornem mais presentes no dia-a-dia. A tendência é que essa tecnologia domine as grandes cidades com carros autônomos, mercados sem atendentes, cirurgias por acesso remoto, além de sensores de monitoramento em postes, lixeiras, esgotos e rios. Tudo em tempo real.

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     Para Henrique Gomes, engenheiro em telecomunicações, o IoT será uma ferramenta definitiva, sendo mais uma transformação no comportamento social assim como ocorreu com a criação dos smartphones somado ao 4G. A rotina profissional e pessoal mudará. Novas profissões focadas em tecnologia de informação surgirão e novas formas de interação no trabalho. Porém nem tudo é positivo, aumentará a vigilância do Estado na sociedade e o possível crescimento do desemprego a médio-longo prazo; especialmente em países subdesenvolvidos como no caso do Brasil, onde mais de 60% do setor do mercado de trabalho é formado por profissões de baixa complexidade ou repetitiva. Setor que o IoT pretende abocanhar.

     Com o enxugamento do mercado de trabalho que tende a ser substituída por máquinas, a interação humana se tornará fragilizada e mecanicista. O efeito a longo prazo, de uma relação mais intima com dispositivos IoT, substituirá cada vez mais a interação humana em ambientes de trabalho; ocorrendo efeitos colaterais. Solidão, crise de ansiedade e depressão são alguns sintomas que o excesso de tecnologia estrutural já está causando em cidades que teimam em “isolar-se”. Somado ao aumento do desemprego, o efeito da violência em grandes cidades se tornará comum.

     “É inevitável, o mercado de automação está crescendo e existe uma alta demanda no setor, é atrativo para o empresário modernizar toda sua logística visando o longo prazo. Um dos principais interesses para eles é diminuição do quadro de empregados, onde uma grande fatia dos funcionários da base serão desligados.” Diz Henrique. Essa realidade já é presente em países como Holanda e Japão. Esse nível de automação industrial deu origem às chamadas “fábricas escuras”, plantas industriais que operam no escuro, com robôs e alguns poucos profissionais humanos para comandar as máquinas. Nela, a convergência entre as formas de operação e a tecnologia da informação resultará em um novo modo de produção, que deve transformar a produção de bens de consumo e o uso dos recursos naturais nos próximos anos.

Com vídeos curtos e interativos, cada vez mais crianças adentram ao aplicativo mais baixado no mundo em 2020 e 2021.
por
Dayres Vitoria
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08/10/2021 - 12h

Por Dayres Vitoria

 

O app de origem chinesa lançado em 2016  que possibilita gravar vídeos curtos rodeados de dinamismo, é atualmente uma das plataformas mais desejadas pela criançada. Com temáticas que vão desde danças, imitações de falas até conteúdos explicativos, hoje dificilmente não há uma criança, ao menos no Brasil, que não conheça ou não tenha acesso a essa ferramenta divertida.  

Criado para ser um produto de consumo rápido, inclusive o seu próprio nome  “TikTok” é inspirado no tique-taque feito pelos ponteiros de um relógio como sinônimo de pressa e rapidez, alcançou recentemente a marca de 1 bilhão de usuários ativos por mês ao redor do mundo.  Uma parte significativa desses novos usuários são as crianças que encontraram no aplicativo uma espécie de aventura digital já que podem ao menos brincarem e se entreterem de suas residências visto que com a pandemia boa parte delas também ficaram isoladas dentro de casa, em alguns casos, sem contato ao menos com outras crianças.  

Além desse fator, boa parte dessa garotada enxerga no aplicativo, além da diversão, uma oportunidade para quem sabe ficar famoso. Por isso, muitos deles se dedicam a aprenderem coreografias e imitações buscando ganhar cada vez mais seguidores. Embora seja contagiante ver a alegria deles ao conseguirem gravar um clipe e o desempenho que colocam nisso, existem fatores que devem ser levados em conta para que a segurança das crianças seja prioridade em todos os aspectos.  

TIKTOK PARA CRIANÇAS 

De acordo com os termos e condições de uso do TikTok, 13 anos é a idade mínima para se ter uma conta como usuário no aplicativo. Porém, crianças menores que essa faixa etária possuem acesso a plataforma. De acordo com a pesquisa “Crianças Digitais”, 49% das crianças brasileiras usaram um dispositivo eletrônico pela primeira vez antes dos seis anos de idade e 72% delas ganharam o próprio smartphone ou tablet antes de completar 10 anos, logo é comum elas estarem conectadas às redes como o Tiktok desde cedo. 

São os pais que geralmente criam uma conta em seus nomes e autorizam os filhos a terem acesso ao app. Com a precocidade da juventude, o interesse da criança por essas tecnologias digitais pode parecer surgir antes do tempo, contudo, proibi-la de ter contato com essas ferramentas não é a melhor escolha a ser tomada. Acompanhá-los em suas atividades online e acima de tudo explicar com clareza os perigos a que estão expostas certamente surtirá mais efeitos positivos na criança do que a proibição. Se não acessam em casa, provavelmente acessarão no celular do amiguinho da escola e isso poderá ocasionar em resultados mais embaraçosos caso não haja a supervisão de um adulto. Por isso, impossibilitar que se conectem na expectativa de estar os protegendo, já não é mais uma alternativa tão válida. 

Sabendo disto e querendo acompanhar sempre a filha durante os minutos conectada, Elaine Cristina Pereira de Carvalho, 29, criou uma conta em seu nome na plataforma para que sua primogênita possa se divertir desde que seja supervisionado tudo o que é gravado e assistido. A mãe conta que no início Maria Eduarda Pereira de Carvalho de apenas 7 anos era muito viciada no aplicativo chegando a passar o dia inteiro assistindo os vídeos. Quando Cristina Pereira percebeu o excesso começou a limitar o tempo de uso e a impor condições: 

“Os dias que ela não tem escola eu falo a ela que é meio como sua folga da semana, porém, ela deve acordar cedo e fazer suas obrigações como secar a louça, cuidar de sua cachorrinha e arrumar a cama dela, isso tudo durante o dia. Quando é de noite ela assiste, mas só depois que ela faz todas as obrigações. (...) Aqui em casa tem dia e hora para tudo”, conta.

Duda, como carinhosamente é chamada por familiares e amigos, é simplesmente apaixonada pelo aplicativo. A brasileirinha é tão fã da plataforma que como tema de aniversário de 7 anos escolheu justamente o TikTok.  

 

Maria Eduarda Pereira de Carvalho,  7 anos. 

 

Ela conta que o que mais gosta é de gravar vídeos dançando pois adora dançar. Além disto, ela afirma que também gosta muito de vídeos explicativos que frequentemente assiste e em que aprende desde a fazer “continhas” de matemática até a produzir roupas de bonecas. No entanto, sabe que só pode brincar no aplicativo após ter cumprido suas obrigações e sabendo que há um determinado período de tempo para mergulhar no TikTok conforme sua mãe Elaine Cristina impõe.  

SUPERVISÃO DOS PAIS 

Para a psicóloga e pesquisadora Andrea Jotta, do Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é importante auxiliar a criança no uso e procurar saber o que ela faz na rede e com quem interage. Comunicação com estranhos, conteúdos inapropriados e desafios perigosos que alguns usuários propõem aos demais, são alguns dos fatores nos quais os responsáveis devem ficar em alerta. Por serem crianças e não terem conhecimento dos perigos que os cercam, elas facilmente podem se deixar levar pelo momento e a supervisão dos pais acompanhando cada passo que dão - durante o tempo que passam no aplicativo - é um fator determinante para que a meninada não caia nas armadilhas que as redes oferecem.  

Para tanto, a plataforma TikTok oferece aos pais a ferramenta de “Controle Parental” que permite que os responsáveis tenham acesso aos tipos de conteúdo que a criança consome enquanto utiliza o aplicativo. Além disso, também há a opção da “Sincronização Familiar” que oferece a possibilidade de sincronizarem a conta dos filhos com a sua e assim também acompanhar o que é assistido por eles. Com esses recursos, os pais podem desde gerenciar o tempo de tela que os pequenos gastam expostos na plataforma, até utilizarem o “Modo restrito” para censurar conteúdos que considerem inadequados para a faixa etária da criança. 

A mãe da Maria Eduarda sabe usufruir bem dessas ferramentas que o aplicativo disponibiliza aos pais e especialmente entende a importância que tem a sua supervisão como responsável: “Eu vejo tudo, não é toda música que eu a deixo dançar, quando eu vejo uma música que tem muito palavrão eu denuncio e tem muita coisa que ela segue então no outro dia, antes de trabalhar, eu reviso tudo. (...) Às vezes aparecem vídeos de crianças malcriadas ensinando a fazer birras, ensinando o que não deve... eu corto, eu denuncio, eu bloqueio”, afirma a mãe.  

CUIDADO NUNCA É DEMAIS 

O Tik­Tok,  não diferente das outras redes sociais, também pode mexer com a auto-estima de qualquer usuário, inclusive com o da criança. Uma das principais expectativas que a plataforma induz é de ganhar constantemente mais seguidores. Quando isso não acontece, a criança pode imaginar que não consegue atingir tal meta por acreditar não ser tão bonita ou desinibida quanto outra criança. Devido a isso, é de extrema importância que os pais acompanhem as atividades dos filhos nesses espaços virtuais e reforcem que a intenção de gravar vídeos e interagir é apenas para se divertirem e que comparações não precisam ser feitas. 

Em razão do que foi visto, é provado, e novamente reforçado, que a proibição não é o caminho mais indicado. Acompanhar os filhos durante o tempo logado na web, orientá-los buscando proteger (e ao mesmo tempo ensinar) e principalmente saber impor limites a eles, são bons recursos para serem colocados em prática de início. Saber criar um verdadeiro laço de confiança com a criança através de uma boa comunicação, fará com que ela, além de crescer ciente dos perigos que a rodeia, saiba como lidar com situações incômodas e principalmente a quem deve recorrer em casos assim. Compreender desde cedo que pode contar com seus pais e principalmente confiar neles, para uma criança que ainda está em desenvolvimento, já é um progresso e tanto. 

Com o avanço da Covid-19 escolas foram fechadas e foi preciso refletir sobre questões importantes como utilização das tecnologias.
por
Laura Mariano
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05/10/2021 - 12h

Por Laura Mariano


Com a “desmaterialização” da escola, decorrente do isolamento social devido à pandemia, alunos e professores passaram a conviver num novo espaço de aprendizagem, mediado por telas. Para eles, o novo repertório passou a ser as lives, Zoom, Teams, Google Meet, Moodle, aulas remotas, síncronas e assíncronas, estudo em casa e portais na Internet. A Covid-19 levou escolas públicas e privadas a tentarem solucionar, hoje, questões que estavam sendo debatidas há anos, como a utilização de tecnologias da informação poderia auxiliar no aprendizado.

Prof. Dr. Édison Trombeta
Prof. Dr. Édison Trombeta
(Foto: Divulgação)

As tecnologias digitais tornaram-se imprescindíveis, tanto na gestão escolar, quanto no processo de aprendizagem e de avaliação. Para Édison Trombeta de Oliveira, doutor em Educação pela USP, a tecnologia certamente tem potencial para democratização da educação. “Com o uso da tecnologia, uma pessoa de um local afastado consegue ter acesso aos mesmos conhecimentos - e eventualmente à mesma formação, mesmo diploma - de uma pessoa que está localizada nos grandes centros. [...] As videoaulas produzidas por uma rede estadual de ensino básico podem ser acessadas por pessoas de outros estados etc. Mas, como eu disse, a tecnologia tem potencial para democratizar a educação, e não a democratiza automaticamente. A principal questão é: a tecnologia está democratizada?”, questiona.

No Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, embora 80% dos estudantes tenham acesso fácil à rede, o governo estadual doou “chips” de celulares a todos os alunos e professores visando ampliar a possibilidade de acesso à Internet. Além disso, firmou parceria com uma TV aberta para a transmissão de duas horas diárias de aulas.

Assim como no RJ, o Governo de São Paulo lançou o Centro de Mídias da Educação de SP, uma plataforma que permite que os estudantes da rede estadual tenham acesso gratuitamente a aulas ao vivo, videoaulas e outros conteúdos pedagógicos durante o período do isolamento social. A plataforma tem capacidade para atender os 3,5 milhões de alunos da rede pública. Além da ferramenta, a TV Cultura transmite as aulas por meio do Canal digital 2.3.

Outra iniciativa da Secretaria da Educação de SP foi distribuir kits com materiais impressos contendo fascículos de Matemática e Língua Portuguesa, quadrinhos da Turma da Mônica, livros paradidáticos e manual de orientações às famílias com informações sobre como estudar em casa no período de suspensão das aulas presenciais.

Na Paraíba, em que apenas 27% dos alunos possuem computadores em casa e 63% têm acesso ao celular, foi preciso criar mais soluções para garantir o ensino: plataforma educacional, templates, aulas via TV aberta e até o tradicional uso de material impresso e roteiros de estudo para estudantes e professores.

Apesar das iniciativas públicas, ainda existe uma grande dificuldade acerca do assunto: o isolamento dos docentes e estudantes. As ações mais evidentes seriam as que envolvem o uso de vídeo e atividades síncronas. Sempre que possível, fazer reuniões ou aulas com câmera aberta aproxima mais do que deixar apenas a foto estática. 

"Agora, como fazer com que essa aproximação ocorra onde não há essa conexão com a internet de qualidade? Mais uma vez, a desigualdade bate à porta... Me lembro de ter visto, nas redes sociais, uma tarefa de uma aluno dizendo que não havia feito direito porque nenhum familiar pôde fazer com ela; e a professora respondeu, com todo carinho, que elas fariam juntas quando voltassem presencialmente. Essa professora, com certeza, fez seu melhor nas condições dadas para diminuir o isolamento dessa aluna. Mas a questão estrutural não ajuda”, afirma Édison.

Regina Nunes é professora da rede municipal de educação infantil na cidade de Votorantim, interior de São Paulo, e segue as normas da Base Nacional Comum Curricular que prioriza o “brincar e interagir” na fase preambular da educação, sendo assim, ensinar por meio de telas não foi tão benéfico quanto a vivência presencial e foi preciso adaptar-se ao “novo normal”.

"Nós oferecíamos contato indireto, através do Google Meet. Eu tive que aprender a mexer na plataforma para dar as minhas aulas, e assim eles passaram a me conhecer, ver como eu sou, como eu falo, mas não houve a interação direta, por isso não houve tanto benefícios para educação infantil, porque o eixo norteador da educação infantil é o ‘brincar e o interagir’”, conta a professora.

A estruturação da rotina dentro da sala de aula é muito importante nos anos iniciais da escola. A falta dessa interação social abre uma lacuna na alfabetização das crianças que, por conta da crise sanitária, foram impossibilitadas de frequentar esse ambiente. “A gente propunha nas aulas atividades de brincadeiras, de jogos, mas o contato na sala de aula, onde eles se vêem, riem, trocam ideias, não foi possível, isso foi muito negativo [...], queimou uma fase, as crianças ficaram com um ‘buraco’, porque eles não tiveram acesso ao parque, à Educação Física, momento do lanche e de ouvir a história”, argumenta Regina.

A desigualdade social existente no ensino presencial permaneceu no ensino remoto, por isso até mesmo o conceito de meritocracia precisa ser revisitado. Os estudantes com condições financeiras melhores, continuaram a ter mais oportunidades, inclusive melhor Internet para estudar, enquanto os demais seguem sendo prejudicados, principalmente pela falta de infraestrutura. “Não é uma questão de ter ou não ter tecnologia no ensino, é uma questão de desigualdade educacional”, afirma Trombeta.

Todos os modelos de ensino possuem desafios, o que não seria diferente com a utilização do Ensino à Distância. Apesar de haver um crescimento exponencial de alunos que procuram cursos de graduação do EaD, segundo dados do INEP 2018, nos anos de 2008 e 2018, tiveram um aumento de 182,5%, enquanto os cursos de graduação presencial obtiveram apenas um aumento de 25,9% nesse mesmo período. O que determina um crescimento na participação em torno de 24,3% do total de matrículas.

Ainda assim, aula remoao não é algo tão eficiente nos anos escolares. Para Regina, o ensino dessa forma deixou muito a desejar. Era preciso se reinventar a todo momento, para poder atender ao mínimo que os docentes conseguiam oferecer aos alunos. Educar via telas é uma iniciativa muito difícil, especialmente no início do ciclo escolar.

"Acredito que um grande legado seja ‘quebrar a resistência’ daqueles que, mesmo desconhecendo o assunto, eram contrários [ao ensino à distância]. Mais do que isso: mais importante de tudo é perceber a importância do docente, da escola, da comunidade. Não existe uma tecnologia que resolva um problema da educação. Há tecnologias que podem ser adotadas pelos docentes ou pela comunidade escolar para, com determinada intencionalidade educacional, apoiar a ação didática. Mas o centro disso tudo é a relação professor - aluno, e jamais a tecnologia em si”, finaliza Édison Trombeta.

O brasileiro voltou a encarar o tema do racionamento como necessidade para o bolso e para a economia
por
Gabriel Porphirio
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05/10/2021 - 12h

Com usinas hidrelétricas sendo possivelmente desativadas por conta da seca, o Brasil passa atualmente por uma das maiores crises hídricas dos últimos tempos, podendo acarretar apagões de energia no País. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as duas maiores usinas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, a Ilha Solteira, a maior do estado de São Paulo, e a Três Irmãos, têm apenas 1,45% e 5% de água respectivamente. O que preocupa, uma vez que a ONS diz que é preciso ter atenção a uma operação funcionando abaixo dos 10%.

Um dos principais fatores para isso são os largos períodos de seca recentes que deixam os registros de chuvas para a geração de energia no País como o pior em 91 anos. E de acordo com a relação divulgada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão de chuvas para a primavera não é animadora.

Conforme ilustra o Prognóstico Climático da Primavera 2021, a região Sul irá provavelmente continuar com chuvas abaixo da média histórica no período, quando deveria começar a estação chuvosa para recuperar os reservatórios. Com tudo isso as contas a pagar do brasileiro tendem a aumentar, principalmente por conta da dependência do Brasil em relação às hidroelétricas, uma vez que o País tem 63% de sua matriz elétrica originada dessa fonte de energia. Sendo assim, com a falta de uso das bacias e seus rios é preciso usar mais da energia proveniente das usinas termelétricas que são muito mais caras e poluentes.

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Reservatório da hidrelétrica de Ilha Solteira, no rio Paraná  Imagem: CESP/Divulgação

Clarice Ferraz professora de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora associada do grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ não acha que o problema é ter um grande percentual de hidrelétricas, mas sim não prestar atenção no que está acontecendo com os rios, padrões de chuvas e continuar colocando fontes que sejam mais poluentes e que não colaborem com a transição energética.

“Dado que se há muitas hidroelétricas com reservatórios, para remediar essa crise deveriam [o governo] pensar em como reduzir o consumo promovendo programas de eficiência energética, com estímulos verdadeiros à indústria, com trocas de equipamentos e sabendo consumir o recurso com o máximo de aproveitamento", avalia.

O governo, por exemplo, estabeleceu no início de setembro o valor da bandeira tarifária de conta de luz vermelha, patamar 2, em mais de 50% com a criação de uma nova bandeira chamada de bandeira de escassez hídrica - O sistema de bandeiras indica quanto será cobrado pela luz (na bandeira verde, em cenários favoráveis, não há acréscimo). Se houver dificuldades, o País entra nas modalidades amarela e vermelha. Portanto, na bandeira vermelha, patamar 2, o valor que era de R$ 9,49 por 100 kilowatt-hora (KWh) agora passa a ser de R$ 14,20 para cada 100 KWh.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, garantiu durante coletiva de anúncio das novas medidas que elas são suficientes para garantir a oferta. "Nós trabalhamos para ter a oferta suficiente para a demanda de todas as unidades consumidoras no País. Estamos presenciando a maior seca que o país, o Brasil, já passou. E isso com reflexos na capacidade dos nossos reservatórios das usinas hidroelétricas", argumentou.

 

Com o mundo entrando em seu segundo ano de pandemia, nota-se preocupações já existentes sobre a alimentação do fast food
por
Tomás Furtado dos Santos
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28/09/2021 - 12h

Por Tomás Furtado dos Santos

A indústria da alimentação no Brasil sempre seguiu um padrão preocupante, similar ao de outros países desenvolvidos e em desenvolvimento, com empresas de "fast food" se tornando um dos principais focos de nutrição para a população, tanto pela questão de preço como acessibilidade. No entanto, mesmo com o seu consumo em larga escala, muitos desses alimentos podem ser prejudiciais à saúde, seja a curto ou longo prazo.

Desde 2020, os gastos em aplicativos aumentaram em 149%, chegando a 187% quando comparado com março, no começo da pandemia. As tendências da indústria devem crescer, com um percentual maior da clientela acostumados ao novo estilo de vida.

A obesidade no Brasil esteve acima da média mundial faz mais de uma década e  a pandemia contribuiu para o processo, agravando os riscos dessas pessoas para doenças cardiovasculares, diabetes, tumores cancerígenos e o próprio coronavírus junto com as sequelas sofridas por seus pacientes. Também não cria polêmica lembrar que os aditivos, químicos gordura trans geralmente presentes nessas embalagens tendem a ser muito maiores do que se você produzir o mesmo alimento com os ingredientes comprados em supermercado.

Muitas pessoas não sabem, mas é mais comum do que parece ter diferentes franquias de restaurantes ter os seus alimentos preparados no mesmo lugar. As "Dark kitchens​"​​​​​​ são uma nova tendencia no serviço de entregas no Brasil, onde grandes cozinhas são construídas e alugadas por diferentes donos de restaurantes. O objetivo é ter células espalhadas ao redor da cidade ao qual motoristas podem entregar o pedido mais rapidamente. Embora o mercado tenha crescido mais de 53% apenas no Brasil, ela apresenta algumas inconveniências indesejadas, como o risco de contágio entre diferentes equipes ou do manuseio incorreto de alimentos quando lidando com alergias de clientes.

Em uma pesquisa realizada em mídias sociais revelou que a maioria dos entrevistados que pede "take out" geralmente leva em consideração três principais informações quando pedindo uma refeição, o custo, o tempo de entrega e os tamanhos das porções, com menos de 10% levando em considerando tópicos como carga calórica .Em respostas mais aprofundadas, era comum encontrar variantes de "A gente só quer chegar em casa e ter um prato pronto para comer." 

Geralmente a maioria das preferências pelos pedidos são massas e salgados, comidas de bar, esfirras, coxinhas, pratos de pizza, conteúdos altamente carregados de sódio e de calorias, geralmente acompanhados por refrigerantes e energéticos. "É muito difícil conseguir se livrar desses vícios, especialmente durante os períodos formativos da infância e adolescência."

Serviços alternativos mais saudáveis como "Hellofresh" que entregam porções de ingredientes frescos junto com a receita para produzir o prato e são considerados produtos mais saudáveis e de maior qualidade estão em operação mas vem com uma série de desvantagens para florescerem no mercado brasileiro. Os principais problemas sendo a inacessibilidade desses produtos, com lojas presentes apenas em algumas cidade no país, os custos desses pedidos e o tempo necessário para o preparo, que para muitos remove a parte de "rapidez" e "praticidade" do serviço delivery.

Com esses dados obtidos, surge a preocupação de uma tendência que vem se tornando cada vez mais recente, do tratamento da saúde, nesse caso a saúde alimentícia, como uma comodidade ao invés de um direito. Apresentando um potencial risco para a saúde de jovens e adultos que podem ter um aumento de sequelas e doenças cardíaca até mesmo após o término da pandemia.