Nos dias 14 e 15 de junho aconteceu em São Paulo, no Expo Center Norte, o Universo Totvs 2022 e contou com a participação do professor da PUC-SP, Claudir Segura para falar sobre o metaverso. O objetivo do evento foi trazer maiores informações para profissionais de TI, Administrativo/Financeiro, Startups, Operações, RH, Marketing e Vendas sobre tecnologias no mercado.
A participação do professor ocorreu no segundo dia e o tema da palestra foi no espaço “Beer for Devs: No Metaverso da Loucura”. Com apresentação André Noel e ao lado de Marcel Saraiva, Executivo de Contas da NVIDIA Entreprise e de Caio Jahara, Co-Founder e Growth Converge Metaverse, Claudir falou sobre as possibilidades de aplicação do metaverso em diferentes cenários, seja ele no mercado ou na academia.
“Esse tipo de evento é importante para criar a sinergia entre universidade e empresa para assuntos da vanguarda. E é muito importante ter um professor da universidade conversando e articulando com o mercado para avaliar e entender a consequência da tecnologia.” - relata Daniel Gatti, Diretor Adjunto da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia da PUC-SP.
O Metaverso tem o propósito de quebrar as barreiras do espaço virtual e do físico, onde pessoas irão interagir através de avatares tanto via Realidade Virtual, Aumentada ou ainda estendida e que funciona como reflexo do mundo no qual a sociedade está inserida. Como dito no encontro pelos palestrantes, o metaverso já é uma realidade vista nos vídeos games, lançamento de produtos, e que o desenvolvimento deste "além" universo abre espaços e oportunidades nos mais diversos campos, como moda, design, educação, programação, entretenimento, comunicação, entre outros.
Aplicação do metaverso nos dias atuais
O Second Life é um ambiente 3D criado em 2003 por Philip Rosedele e se constituía em uma vida virtual, e que levava os jogadores a desenvolver atividades lucrativas. O jogo tem a sua própria moeda, o Lidall Dollar (L$) e tem a possibilidade de ser convertido em dólar.
Os palestrantes explicam que um dos motivos para a Second Life não ter dado certo é devido a falta de tecnologia e profissionais capacitados da época. Contudo, esse cenário é diferente para os dias atuais, uma vez que ambos os fatores já estão disponíveis no mercado e cada vez mais a tecnologia está sendo atualizada para proporcionar uma melhor experiência no metaverso para seus usuários.
“Temos tecnologia disponível, profissionais e desenvolvedores altamente capacitados para acompanhar o metaverso” - diz Segura. Apesar disso, o professor faz uma ressalva da falta de valorização no âmbito nacional desses profissionais e da demora para implementar novas tecnologias no país, como o recurso 5G, que será fundamental para o funcionamento e ampliação desse conjunto de tecnologias.
Para aqueles que acreditam que o metaverso é uma realidade muito distante, e dificilmente fará parte dela, o professor afirma que hoje podemos considerar o metaverso como o início da Internet “Ninguém conseguia definir exatamente o que era, e como funcionava, mas quando percebemos, já estávamos lá dentro e fazíamos parte dela”. Não se trata do futuro. Falamos do presente. Bem vindo ao mundo dos universos incontáveis…
As invenções fazem parte da nossa história e sua importância passa pela evolução da sociedade, seja por sua praticidade, entretenimento ou prazer. No Brasil, inúmeros inventores brasileiros já produziram invenções que ajudaram a população e foram comercializadas no mercado nacional e internacional. Como por exemplo, o avião de Dumont e o rádio de Landell.
Porém, mesmo que isso aconteça, esses profissionais que não trabalham para empresas, sofrem com a falta de incentivo governamental e a burocracia para patentear suas ideias, pelos valores que precisam ser pagos aos advogados, para comprovação de sua originalidade. Além de alguns inventores sentirem dificuldades em vender os seus produtos, por não possuírem a desenvoltura de ser um vendedor.
A Associação Nacional dos Inventores (ANI), intermediadora entre os inventores e empresas, ajuda-os a vender os seus produtos e facilitar as burocracias de patentear um projeto. A diretora executiva da entidade, Daniela Mazzei, conta que a ideia da criação da associação surgiu há 30 anos, quando um casal de irmãos inventores com experiência no registro de marcas viajou a uma feira de inventores no exterior e descobriu que existiam diversas associações no mundo para reunir essas mentes criativas que tinham as mesmas necessidades. Mas no Brasil ainda não havia nada parecido.
A diretora executiva afirma que, hoje, a ANI faz um trabalho bem completo, auxiliando e ajudando quem tem alguma ideia ou quem não sabe o que fazer com o projeto. “A empresa auxilia no processo de marketing, de patente, e na parte de negociação desses projetos”, comentou Daniela. Ela ainda reafirmou que o trabalho da associação é justamente esse: orientar e auxiliar empreendedores, inventores e até empresários em todos os ramos voltados a propriedade intelectual, ou, propriedade industrial, registro de marca, patente e direitos autorais, isso tanto no Brasil quanto no exterior.
Além disso, há muitos inventores que não sabem por onde começar para colocar suas ideias em prática, e a diretora cita que em alguns casos precisam de investidores. Para isso, a empresa procura gerar ao produto do inventor um impacto surreal no mercado, como exemplo, as invenções do “macarrão” para piscinas, de Adriano Sabino, que hoje é um fenômeno no mercado para quem tem piscina em casa, pela diversão e auxílio a um possível afogamento.
Daniela garante que tem boas expectativa quanto ao mercado de inventores: “acho que esse número tende a aumentar, porém, a grande questão hoje é que muitas vezes as pessoas não se enxergam como inventores, mas sim como empreendedores, mas que seus produtos não deixam de ser uma invenção”.
A diretora executiva nos traz um dado interessante, onde pesquisas mostram que mais de 60% do que foi inventado foi pensado por uma pessoa física e não uma empresa, alertando que isso deve ser valorizado e que aqui no Brasil, não temos um incentivo para que os inventores levem suas ideias adiante, diferentemente dos países mais desenvolvidos, onde cada pessoa tem um direito a fazer uma patente sem gastar muito.
Daniela crê que a partir do momento em que existirem incentivos e o próprio governo falar sobre isso, acaba por florescer um pouco mais o conhecimento. A falta de informação de muitos professores, tanto de escola quanto de faculdades, sem explicação de como funciona uma negociação de patente, empobrece a cultura da invenção. Então, a diretora da ANI afirma que este é um tema que precisa ser levado a sério.
De acordo com Paulo Gannam, um profissional autônomo dessa área de invenção, há outro possível problema, como do empresariado ser cauteloso ao risco, não querendo investir e, muitas vezes, apenas entrar em contato com o inventor aparentando ter interesse na invenção, pedindo detalhes, mas só para verificar como poderia copiar sua ideia sem ser legalmente punido.
Bem como, para o inventor, o auxílio governamental é essencial. “O governo precisa criar uma cultura de valorização à criatividade e à propriedade intelectual produzida por inventores brasileiros, que, embora anônimos, são responsáveis por mais de 50% de toda a produção de patentes no Brasil, sejam elas patentes de invenção ou patentes de modelo de utilidade.”, comentou Paulo.
“Necessita também criar programas e editais de fomento à inovação que atendam às demandas de inventores independentes, pessoas físicas, para que estes possam acelerar seus projetos, partindo-se do princípio de que inovação nasce em toda esquina, e não há motivo justo para que ela fique restrita a grandes centros de pesquisa de empresas e universidades.”, concluiu o inventor.
Desta forma, é necessário obrigar os órgãos responsáveis de Inovação a darem o real suporte a projetos de inventores independentes, para que eles atinjam um amadurecimento suficiente, ao ponto de conseguirem negociar seus projetos. Para assim, os inventores com o devido suporte, resultarem em mais empregos, mais concorrência entre empresas – de forma saudável, e mais arrecadação de impostos. Adquirindo uma melhora na economia e na sociedade, que passa a ter acesso a novos produtos e serviços que poderiam fazer toda a diferença em suas vidas.
Muitos tratam a invenção como um hobbie, como inventar um brinquedo com uma garrafa PET para seu filho ou então algo para facilitar em alguma tarefa doméstica. Também há aqueles em que o prazer por inventar pulsa, em uma busca insaciável para criar algo único, que revoluciona o mundo. Com isso, no dia 04/11, comemora-se o dia do inventor e a sua importância cultural e educacional é essencial para o crescimento da sociedade.
Por Isabela Mendes
Ser mulher é, por si só, ato de bravura. Ao longo da vida, a trajetória da figura feminina está quase sempre, inevitavelmente, atrelada ao rebaixamento. O esforço máximo de uma mulher equivale, por via de regra, ao mediano de um homem, nos mais diversos contextos. No meio acadêmico não teria como ser diferente: as raízes do patriarcado, sempre tão profundas, se mostram e dominam o conhecimento e a produção científica, apagando sistematicamente o olhar feminino do mundo, da natureza e da ciência.
Segundo relatório da Unesco divulgado em 2018, temos entre 45,1% a 55% de pesquisadoras no Brasil. No entanto, a Academia Brasileira de Ciência diz que apenas 14% das pessoas são mulheres, sendo que 8,9% atuam na área de engenharia, exatas e ciências da terra; 20,4% nas ciências da vida e 18,2% nas humanidades e ciências sociais aplicadas. Ainda, a distribuição de bolsas de fomento à produção científica também é desigual. Nas ciências da vida, as mulheres têm 41,3% das bolsas. Na área de exatas, engenharias e ciências da terra, em contrapartida, têm apenas 20,1%. Por fim, nas humanidades, as mulheres têm 49,7%.
Dados da Unesco complementam: estima-se que apenas 30% dos cientistas de todo o mundo sejam mulheres. Portanto, indubitavelmente, somos minoria. Não bastando a dificuldade em penetrar com efetividade o campo científico, as mulheres também passam por incontáveis processos de apagamento, descredibilização e desencorajamento ao longo de suas trilhas acadêmicas. Esses episódios não ocorrem, evidentemente, de forma isolada e nem como uma exceção. Na realidade, compõem a regra.
Um fenômeno muito comum praticado pelos acadêmicos e pesquisadores do meio é o chamado “gaslighting”, termo da psicologia para designar um comportamento abusivo que envolve distorção, manipulação e omissão de informações visando prejudicar a vítima e fazê-la duvidar de sua própria memória, sanidade e percepção dos fatos. A psicóloga Livia Sacramento viveu essa experiência na pele em 2018. Um homem, seu então parceiro amoroso, plagiou o projeto de um curso de pós-graduação que ela desenvolveu enquanto estavam juntos e, sem dar os devidos créditos a Livia, apresentou o projeto em uma universidade como sendo de sua autoria. De acordo com ela, foi descoberto porque uma colega que estava na reunião de apresentação do projeto a conhecia e imaginou que aquilo não fosse competência do indivíduo, e então decidiu procurá-la para comunicar o que havia acontecido.
Quanto à punição, Livia diz não ter sido levada a sério, e que o que a deixou muito chateada foi que na sindicância ele não foi recriminado nem foi punido por nada. Após um tempo, ele foi demitido, mas Lívia afirma que sua sindicância, em si, não gerou punição. O argumento usado pelo ex-companheiro da psicóloga foi de que ela estaria apaixonada e por isso teria tomado aquela atitude. Lívia rebateu, dizendo que o que estava sendo questionado ali era que ele tinha usado um projeto que era dela e, se eles tinham um relacionamento ou não, não interessaria ali, pois a questão era técnica.
Casos como o de Lívia são cada vez mais comumente divulgados através das redes sociais. No Instagram, a psicóloga e professora da UnB Valeska Zanello compartilhou um caso que ocorreu com ela no ano passado. O estudante de psicologia e influencer João Luiz Marques plagiou o conteúdo autoral que Valeska produzia deliberadamente sobre questões de gênero e masculinidade e, surfando na repercussão, conseguiu atrair engajamento para si sem muito esforço, conquistando mais de 200 mil seguidores na mesma rede social. Após Valeska ter levado a público, João admitiu o caso e disse ter bloqueado tanto a psicóloga quanto pessoas que o procuravam para tratar a respeito dos plágios constantes por suposto medo e vergonha de suas próprias atitudes. Na Internet, alguns seguidores do estudante se disseram decepcionados com as descobertas à época do ocorrido, enquanto outros demonstraram empatia com o rapaz, dizendo admirar o fato dele ter 'reconhecido seu erro'. Em seu perfil, João se descrevia como "academicista". Após o ocorrido, o termo foi alterado para "estudante". Procurada pela reportagem para contar seu relato, Valeska não retornou o contato.
Por Sophia Razel
Foto: Getty Images
24 de dezembro de 2021, véspera de natal. O dia marcado por celebrações tornou-se uma data atravessada pela frustração e preconceito vividos por Diego Benjamin. Alvo do racismo algorítmico, Benjamin relata sua experiência em um pequeno vídeo na plataforma TikTok, que ganhou grande repercussão. Ao receber uma notificação para cadastrar sua biometria facial no aplicativo de seu banco, C6, o usuário não conseguia obter sucesso na solicitação. Com o rosto sem qualquer tipo de adereços e com uma boa iluminação, o sistema de reconhecimento facial do aplicativo não era capaz de identificá-lo.
Após algumas tentativas, sem sucesso, o rapaz resolveu testar o sistema com uma foto da internet, mostrando um homem branco. Quase instantaneamente, sua câmera o reconheceu. Sendo um homem negro, Diego compartilha através de sua experiência mais uma prova da estrutura racista do país, assim como dito por ele.
@sociedadepretadospoetas Nao consegui passar da foto. Muita melanina pra um banco só 😂. #c6bank #thor😂 #preto #preta #acoisatapreta ♬ som original - Benjamin
Em uma sociedade cada vez mais imersa no mundo digital, o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas de alta habilidade torna-se constante. Entretanto, o funcionamento desses mecanismos não é conhecido a fundo pela maioria da população, mesmo estando inseridos em diversos espaços do cotidiano.
Com o desenvolvimento tecnocientífico, foram desenvolvidas inúmeras ferramentas que auxiliam na execução de tarefas. É o caso da Inteligência Artificial e, consequentemente, dos Algoritmos. Por definição, esse último pode ser entendido como um conjunto de instruções feitas para solucionar um problema. Contudo, as falhas destes mecanismos artificiais - que tomam decisões de visibilidade, acesso, classificação e processamento de materiais digitais - são frequentes, e muitas vezes estão ligadas a vieses de raça, gênero e classe.
Algoritmos e Inteligência artificial ganham cada vez mais destaque no debate sobre comunicação e sociedade, já que administram cada vez mais esferas da vida. Atividades corriqueiras como solicitar uma corrida de aplicativo, verificações faciais de segurança nas redes e bancos já utilizam os mecanismos da IA há muito tempo. Raissa Tonon, mestranda e pesquisadora em Tecnologia da Inteligencia e Design Digital, reflete sobre quais as problemáticas acerca de empresas deterem tantas informações dos usuários, segurança e também sobre os benefícios inegáveis dessas tecnologias.
Por mais adaptadas que estejam no cotidiano, muitas vezes não sendo sequer percebida pela maioria dos indivíduos, essas tecnologias traçam intensamente os perfis das pessoas ao absorver dados para estimular o consumo, e coletar informações de sistemas de segurança pública.
O racismo sistêmico adentra a tecnologia cotidiana e, através das mais diversas formas, seja em filtros de selfie ou pelo policiamento preditivo (que afirma antecipadamente), evidenciam um sistema de práticas contra grupos racializados.
A realidade de muitos pode ser afetada por tais mecanismos, que se tornam réus do preconceito automatizado. Segundo pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança, em 2019, cerca de 90,5% dos presos por monitoramento facial no Brasil foram negros. Em muitos casos, as prisões arbitrárias alcançam os alvos errados, causando constrangimento aos acusados.
Cada vez mais, o reconhecimento facial tem sido implementado nos estados e cidades do Brasil, não como uma ferramenta de segurança em prol dos interesses da sociedade, mas sim como um meio de manutenção de controle, justificando sua rápida ascensão.
O grande público da folia carnavalesca da Bahia, em 2019, ficou marcado pela tecnologia de câmeras implantada na cidade. Sendo noticiada e exaltada, a ação – que visava combater o crime ao localizar criminosos – coletou, indiretamente, dados de mais de novecentas pessoas identificadas como possíveis criminosos com mandados de prisão abertos. Porém, somente 18 mandados foram cumpridos e 15 pessoas foram presas, assim representando mais de 96% de falsos positivos (casos em que pessoas são identificadas de forma errada, confundidas umas com as outras pela inteligência artificial.
Esses resultados demonstram como as tecnologias podem ter vieses discriminatórios muito marcantes, que afetam diretamente pessoas de certos grupos demográficos. Dessa forma, o reconhecimento facial, quando aplicado em massa por um órgão público, escancara a inserção dos sujeitos em uma sociedade de vigilância.
Sobre o software (conjunto de componentes lógicos de um computador ou sistema de processamento de dados) de reconhecimento facial, Jefferson de Oliveira, Doutor em Ciências da Computação, diz que o mesmo funciona criando uma espécie de assinatura do nosso rosto e salva a distância entre os nossos olhos, nariz e a boca, das bochechas ao nariz, etc. Para ele, quando bem feita, a ferramenta pode funcionar de uma forma eficaz, mas confessa que existem dois problemas principais: o primeiro deles, os falsos positivos. O professor não acredita que é possível confiar no resultado gerado do mesmo modo como confiamos na identificação de uma digital, por exemplo.
O outro ponto é que seu uso pelo Estado pode dar muito poder, sem termos os freios contra os abusos produzidos. Oliveira aponta que o Estado pode usar essas informações para coibir manifestações contrárias, suprimir opositores, coagir cidadãos, e que ainda não existem boas formas de frear esse tipo de movimento por parte do Estado.
Um futuro onde esses mecanismos serão capazes de escolhas livres de julgamentos e preconceitos não é algo previsto, como afirma o Doutor em Ciências da Computação. Para ele, o que podemos ter é um desenvolvimento responsável, que permita que os ofendidos possam protestar e ter suas reclamações ouvidas. Complementa ainda que isso só será possível com o envolvimento de muitas partes, incluindo filósofos, advogados, engenheiros de software, cientistas de dados, anotadores etc., mas isso não significa que a tecnologia terá menos valor. Só será preciso usá-la com responsabilidade e equidade, considerando que todos devem ser igualmente beneficiados por ela.
A reprodução de padrões traçados como negativos são embutidos nas orientações de algoritmos, e assim, a estigmatização social racial que o viés algorítmico desenvolve ajuda a propagar implicita e explicitamente estereótipos e exclusão social.
Por direito, há - assim como tem de ser com todas as atividades públicas - a necessidade de se ter transparência e respeito aos direitos e dados dos cidadãos gerados por inteligência artificial. No ambiente legal, certas medidas vêm sendo tomadas e discutidas a fim de tentar minimizar tais impactos e regularizar essas tecnologias, como é o caso da Lei Geral de Proteção de Dados.
A LGPD (13.709/2018) tem como principal objetivo proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. Também tem como foco a criação de um cenário de segurança jurídica, com a padronização de regulamentos e práticas para promover a proteção aos dados pessoais de todo. Sérgio Amadeu, pesquisador e professor da UFABC comenta.
Além de leis como essa, outras medidas também podem ser tomadas, buscando evitar a propagação de preconceitos por parte dos aparatos tecnológicos, como ter equipes de desenvolvimento diversas e um grande critério no treinamento das IA’s. Para a pesquisadora Raíssa Tanon, essas regulamentações precisam ser amplamente discutidas, uma vez que quem as decide são advogados, políticos e jurístas que não entendem de tecnologia.
(Reprodução: SERPRO - Serviço Federal de Processamento de Dados)
A ciência da informação trouxe inúmeros avanços, de modo a estabelecer uma conexão muito próxima entre o funcionamento das máquinas com o pensamento humano. A similaridade entre ambos é reforçada quando se observa tais aparatos reproduzindo julgamentos e outras ações do ser humano. Embora determinados serviços sejam otimizados, a implantação de sistemas algorítmicos, programados por instruções humanas, pode representar riscos significativos para grupos marginalizados na sociedade. As semelhanças com o mundo real são consideráveis, mas a maneira como as mesmas estão sendo reproduzidas e afetando a vida dos indivíduos também precisa avançar.
Por Esther Ursulino
Durante a pandemia da covid-19 diversos estabelecimentos adotaram a medição de temperatura como uma das principais formas de tentar controlar a disseminação do vírus. Entretanto, especialistas apontam que esse protocolo de segurança é falho, visto que quando os termômetros são utilizados de forma incorreta apresentam resultados imprecisos. Além disso, alguns contaminados podem passar pela triagem, pois nem todos os infectados têm febre.
Os termômetros infravermelhos, também conhecidos como pirômetros ganharam popularidade durante a crise sanitária ocasionada pelo novo coronavírus. Isso se deve, em parte, pela vantagem que esses aparelhos têm sobre outros métodos de medição de temperatura: não precisam ter contato direto com o corpo da pessoa aferida – característica importante em um contexto de distanciamento social.
Mesmo fazendo a leitura à distância, esses aparelhos viraram alvo de notícias falsas. Uma delas dizia que o laser emitido por eles seria capaz de atingir a glândula pineal e trazer prejuízos à saúde. Por isso, os pirômetros não deveriam ser apontados para a testa, e sim para o pulso. Fernando Lang, que é professor de física da UFRGS, desmente a peça de desinformação. Segundo o docente, o laser dos termômetros infravermelhos não tem poder de penetrar nos objetos. Ele funciona apenas como uma mira para indicar a área que se deseja medir a temperatura, podendo ser desligado sem afetar o resultado da aferição. Portanto, não prejudica a saúde.
Lang também explica que os pirômetros nada emitem, pelo contrário, são receptores. Quando apontados na direção de uma superfície, apenas fazem uma análise da radiação infravermelha que é emitida pelo corpo humano – e por qualquer objeto do cotidiano, sem exceção – resultando em uma medida de temperatura. Ou seja, o laser não é o responsável por fazer a leitura, e sim o sensor desse tipo de aparelho.
A circulação de fake news relacionadas ao funcionamento dos pirômetros fez com que muitas pessoas passassem a apontá-los para o pulso em vez da testa, o que de acordo com o físico da UFRGS provoca uma leitura imprecisa: “A testa é um dos lugares corretos (o interior da boca, o reto, embaixo das axilas são outros) para se detectar o estado febril, pois ali a temperatura é mais elevada que em outras partes expostas do corpo. (...) O pulso apresenta temperatura cerca de 2°C inferior à temperatura de outras partes do corpo utilizadas para estabelecer se uma pessoa está em estado febril. Portanto, é completamente sem sentido apontar o termômetro para o pulso.”
Além disso, os manuais desses aparelhos indicam explicitamente que a medição deve ser feita pela testa, como pode ser lido na página 7 do Termômetro Incoterm: https://www.incoterm.com.br/media/2013/10/manual-tci1000.pdf. Na mesma página há um alerta: “Tentar realizar uma medição em qualquer outro local no corpo poderá resultar em uma leitura imprecisa”.
Outros fatores devem ser observados para que não haja interferências no resultado da aferição:
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A triagem deve ser feita em um local livre de correntes de ar, em que a temperatura ambiente não seja inferior a 25°C.
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O pirômetro utilizado deve ser de uso clínico, projetado para medir a temperatura do corpo humano. Os termômetros infravermelhos utilizados pela indústria não servem para este fim.
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O pirômetro deve estar posicionado a uma distância de 4 a 6 centímetros em relação a testa da pessoa que terá a temperatura aferida.
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A pele da testa deve estar seca e sem obstáculos
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A lente frontal do termômetro deve estar seca e limpa
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Se o termômetro for híbrido, ou seja, que mede a temperatura de objetos e pessoas, é preciso configurá-lo para o modo “body” (corpo)
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As medidas de temperatura devem ser feitas em no mínimo três minutos após a prática de exercícios físicos
Tendo em vista a quantidade de cuidados necessários para que o resultado mostrado pelo pirômetro seja preciso, o médico infectologista Marcelo Otsuka diz que, comparado aos termômetros clássicos, os termômetros infravermelhos não tem uma acurácia tão boa.
Otsuka salienta que, mesmo se tivessem uma boa capacidade de aferição, ainda seria questionável adotar a medição de temperatura como único protocolo de segurança. "Muitas pessoas podem ter o vírus, podem estar transmitindo, e não ter sintomas, inclusive não ter febre. (...) Ter a temperatura como parâmetro é uma possibilidade, mas isso nunca deve ser considerado como parâmetro único.” Por isso, para o médico infectologista, é importante que esta medida seja somada a outros protocolos de segurança, como os inquéritos epidemiológicos, a testagem, a higiene das mãos e o uso de máscaras – em especial por pessoas com comorbidades.
Segundo Rosana Richtmann, infectologista do instituto Emílio Ribas, o vírus está circulando menos, mas ainda circula. Por isso, é importante que a população esteja com a vacinação contra a covid-19 em dia. A médica ainda ressalta que pessoas vacinadas também podem transmitir o vírus. Portanto, é importante que a imunização seja adotada junto a outras medidas de segurança.