Consumo consciente e busca por saúde impulsionam a produção nacional
por
Chloé Dana
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30/09/2025 - 12h

Por Chloé Dana

 

Em meados de 2025, pesquisas agronômicas da Embrapa e da Organis, apontam que a produção de orgânicos no País aumentaram em 12%, visando um consumo mais saudável e consciente. O crescimento aponta à prioridade por produtos sem agrotóxicos e ao fortalecimento de políticas públicas voltadas à agricultura ecológica. 

Porém, é preciso entender como esse aumento surge, en que se diferencia de outras nações por suas profundas raízes em movimentos sociais e agroecológicos, em vez de ser impulsionada exclusivamente por lógicas de mercado. Mais do que apenas um método de cultivo, a agricultura orgânica é definida por um sistema de produção agropecuária que utiliza técnicas particulares com a finalidade de aprimorar a utilização dos recursos naturais e socioeconômicos à disposição, preservando a integridade cultural das comunidades do campo. Seus fundamentos incluem a sustentabilidade econômica e ambiental, a maximização de vantagens sociais, a redução da dependência de fontes de energia não-renováveis e a adoção de métodos biológicos e mecânicos em lugar de organismos que foram geneticamente alterados.

O surgimento da agricultura orgânica no Brasil remonta a meados da década de 1970, impulsionado por uma reação ao avanço da Revolução Verde, que propunha uma modernização da agricultura em prol do melhoramento genético, uso de insumos e agrotóxicos. Nessa época, a comercialização de produtos ocorria de maneira direta, baseado em um simples sistema de confiança entre quem produzia e quem comprava. 

O mercado inicial consistia em um "segmento natural" oferecendo entregas semanais de cestas contendo frutas, verduras e legumes na casa dos clientes. A presença de lagartas e bichinhos no alimento, era percebida pelos primeiros clientes como uma sinalização de qualidade, indicando que os alimentos tinham sido cultivados sem o uso de produtos químicos. A valorização dos produtos orgânicos não se baseava em certificações formais, mas sim na confiança entre as partes e na evidência concreta da falta de químicos, o que destaca que as origens do movimento no Brasil são fundamentadas em princípios agroecológicos e filosóficos, e não apenas comerciais. 

O produtor de orgânicos e feirante na Vila Madalena Carlos Nascimento explica alguns motivos de porque optou pelo orgânico ao invés do convencional. Nascimento afirma que sua decisão surgiu de um desejo de produzir de maneira mais consciente pois ao observar a prática convencional, notou os efeitos negativos do uso incessante de pesticidas e fertilizantes químicos. O solo se tornava exaurido, a biodiversidade se perdia e a saúde das pessoas que lidavam frequentemente com esses produtos era comprometida. 

Outro fator que influenciou sua escolha foi a valorização crescente do mercado de produtos orgânicos. O agricultor percebe que esse segmento possui um grande potencial de crescimento, impulsionado por consumidores mais conscientes e prontos para apoiar práticas sustentáveis. Apesar do notável crescimento e das conquistas legislativas, o setor orgânico no Brasil enfrenta desafios estruturais que representam obstáculos significativos ao seu desenvolvimento pleno, e isso implica em tempo e políticas públicas para o setor.

Quando discute o amanhã, o produtor demonstra uma visão otimista, porém fundamentada na realidade. Ele enxerga um grande potencial para o crescimento da agricultura orgânica no Brasil, especialmente devido à mudança na conscientização dos consumidores. Cada vez mais, famílias estão em busca de alimentos que não contenham agrotóxicos, valorizando a origem dos produtos que adquirem e desejando apoiar práticas sustentáveis. Para ele, esse movimento representa não uma moda passageira, mas uma tendência crescente que deve se intensificar nos anos vindouros, alinhando-se à preocupação global com a saúde e o meio ambiente.

Outro aspecto que ele enfatiza é a urgência de aumentar o acesso. Atualmente, os produtos orgânicos ainda alcançam uma fração reduzida da população, frequentemente restrita às grandes áreas urbanas e a consumidores com maior capacidade financeira. Para o futuro, ele aspirar por um cenário em que os orgânicos se tornem mais disponíveis, integrando-se a feiras comunitárias, merendas escolares e até programas de abastecimento público, garantindo que alimentos saudáveis deixem de ser um privilégio e se tornem um direito.

O mercado de orgânicos no Brasil encontra-se em uma fase de crescimento explosivo, impulsionado por uma mudança no perfil do consumidor e políticas de fomento. No entanto, o setor enfrenta desafios estruturais significativos, como o desequilíbrio entre oferta e demanda, a fragmentação dos dados oficiais e as barreiras de entrada para os pequenos produtores. A superação desses gargalos, especialmente a questão da certificação e o fortalecimento da logística e da cadeia de valor, é crucial. Ao abordar essas questões de forma estratégica, o Brasil tem a oportunidade de não apenas manter sua liderança na América Latina, mas de se consolidar como um dos principais players globais, alinhando seu potencial de produção com o vigor de seu mercado consumidor.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
|
18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

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Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

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Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

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De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

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Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

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Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

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Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

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História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

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Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Como a Gupy, Cia de talentos e outras plataformas impactam a vida de quem procura emprego.
por
Ana Beatriz Assis
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29/11/2022 - 12h

Por Ana Beatriz de Souza Assis

 

“É complicado porque, a gente doa tanto tempo para eles com esses testes, e a maioria das empresas não faz o mesmo, não se dão ao trabalho nem de falar que não passamos” Caio da Silva de 21 anos, estudante de Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, viveu dois anos procurando um estágio. Relatou de modo cabisbaixo que passou por incontáveis processos seletivos, sendo a maioria por plataformas de recrutamento.

Ele passava a maior parte de seu dia na frente do computador, estudando e enviando currículos. Mesmo fazendo seu melhor dentro de sua realidade, se sentia improdutivo por não trazer renda para casa, sua autoconfiança não era mais a mesma, por conta das negativas injustificadas na hora da procura por emprego. Não era muito de sair, pois, não tinha dinheiro para bancar as saídas com os colegas.

 “No final, você nem sabe porque não passou” Caio diz que esse é o principal erro das plataformas de captação de perfis – Não dar um feedback apropriado. “Na minha área, não consigo entrar para o mercado de trabalho sem passar por um estágio. É angustiante saber que o tempo está passando e você não consegue nada”. Ele ainda acrescenta que sua autoestima foi afetada diretamente durante esses dois anos, já que, precisava se encaixar nos moldes que essas plataformas exigiam de forma, segundo ele, “discreta” para seguir no processo.

 

As plataformas

 Isabel Alves, analista de recrutamento e seleção, utilizava da plataforma GUPY para auxiliar na contratação em sua última empresa. “A Gupy trata de todo o processo de recrutamento e seleção da pessoa candidata, levando até a fase admissional. Ela nos auxilia a movimentar e a adicionar as pessoas candidatas à fases específicas do processo, bem como o envio de feedback”. A profissional cita que a plataforma agiliza todo o processo de contratar um novo funcionário, é de fácil manuseio e cadastro, sendo uma ótima ferramenta para visualizar todas as etapas do processo.

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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 
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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 

 Ao ser questionada sobre a queixa de falta de feedbacks e outras insatisfações, Isabel revela que todas as etapas são de reponsabilidade da recrutadora. “Todas as etapas são “manuais”, ou seja, estão sob controle da pessoa recrutadora ou gestora do processo. A fase de testes também é responsabilidade dela, a duração de testes é também é designada pela pessoa “dona”.  A escolha ou não de dar um retorno, vem do gestor do processo.

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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 
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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 

 

Isabel ainda adiciona que existem testes “padrões” feitos para alinhar o perfil dos candidatos ao da empresa, o que ela chama de “match”, são considerados variáveis como experiências, perfil, formação e resultados dos testes utilizados.

 

A procura pelo "match"

 Segundo investigação de Ianaira Neves, do Intercept Brasil, não são só esses parâmetros utilizados para promover um perfil dentro da plataforma. Ouvindo ex-funcionários de empresas que utilizam da ferramenta foi descoberto outros critérios que eram usados: “formação e localização, perfil e cultura e até interesses. Há também os critérios de idade (quanto mais novo o candidato, melhor a nota, segundo ex-funcionários), tempo de formação (quanto mais recente a formatura, maior a sua pontuação) e moradia (quanto mais próximo da sede, maior sua chance).”

 Além disso, ainda foi descoberto que o algoritmo da Gupy rebaixa notas de mulheres em comparação a de homens quando candidatados para a mesma vaga. Alunos de universidade com maiores notas no MEC tem vantagens acima daqueles que frequentam universidades mais populares.

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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 
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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 

Ainda assim, essas plataformas são rentáveis para as grandes empresas. Segundo dados da Rocketmat, foi reduzido em 73% o tempo médio de triagem em processos seletivos e ainda, segundo eles, asseguram que as ferramentas entregam 75% de acerto no algoritmo de escolha do candidato, o chamado "match".

Thiago Cabral, 21 anos, sofre de ansiedade há cerca de um ano, acredita que foi fruto dos seus meses a procura de um emprego. “ Eu passava muito tempo fazendo testes e mais testes. Teve um que fiz na Cia (Cia de Talentos) que tinha um cronômetro em tempo real em cima da página. Me sentia no Enem de novo.”  Ele cita que em um momento, deixou de preencher seu perfil com sinceridade, mentindo para se encaixar nos “matchs” que as empresas procuravam. “Eu só queria que pelo menos vissem meu currículo, sem eu ter que responder mil perguntas sem sentido” O assistente administrativo, não conseguiu seu cargo atual via plataforma, e sim, pelo modo tradicional, diz não ser adepto ao novo modelo de contratação.

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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 
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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 

 

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Visão do recrutador dentro da Gupy (via: Isabel Alves) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Falta de humanização

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comentário retirado do Linkedln em publicação sobre a Gupy.

 

Mariana Rodrigues, consultora de projetos e pesquisas, possui mestrado e duas pós graduações, mas, ainda assim, sofreu com os cortes robóticos das plataformas. “Acho essas plataformas super desumanas. Eu sou una pessoa super preparada. Já tentei inúmeras vezes entrar em seleções para cargos de docência, que já atuo há anos nunca sou chamada, mesmo para dentro da minha área.” A consultora cita que essas plataformas usam de métricas e palavras chaves para continuar com um processo. “As empresas estão perdendo profissionais incríveis ao usar essas plataformas. Uma pena”, conta.

Isabel, diz que a falta de contato humano é algo que a plataformas deixam a desejar. Desabafou que se pelo menos tivesse uma ligação ou um bate papo entre as etapas, já ajudaria muito. “Depende da complexidade da vaga…. Por exemplo: vagas mais “fáceis” como assistente administrativo e consultor de vendas são finalizadas rapidamente. (cerca de 05 a 15 dias no máximo). Agora, vagas mais complexas (um grande exemplo é T.I) é um tanto mais demorado (20 a 40 dias).” Explica a profissional ao ser questionada sobre a duração dos testes.

 “Olha, eu prefiro nem falar o nome da empresa, mas, ano passado (2021), já fiquei cerca de 6 meses dentro de um processo seletivo, só esperando as devolutivas” declara Caio da silva. Com seu celular, ele me mostra o o histórico do processo seletivo, que já foi finalizado, porém com uma duração extensa de meio ano. “ Eu fiz todos aqueles testes chatos, e demorou mais de dois meses para ir para outras etapas. Mandei vídeo de apresentação, fiz redação, cheguei a fazer entrevista com três gestores." Caio disse que estava nutrindo esperanças pela vaga, que chegou até a escolher entre três áreas para trabalhar. “ Falaram que me dariam a resposta em setembro, foram só me responder em dezembro”

 Ferramenta de corte em massa

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comentário retirado do Linkedln em publicação sobre a Gupy.

 

Bruno Duarte, é consultor de serviços na área da Saúde, diz já ter passado por "perrengues" na procura de emprego via plataforma: “Eu cheguei a enviar mais de 200 currículos e não tive resposta de nenhum” Ele diz que é questão de sorte você chegar a falar com alguém, e que acaba se contentando com respostas automáticas enviadas para todos. “Elas dão a sensação que você está falando com um robô a todo momento e que ninguém na realidade está avaliando o seu currículo.”

Depois de dois anos, Caio enfim conseguiu seu emprego, ironicamente ou não, via plataforma de recrutamento. “Não acredito que a Cia de Talentos facilitou meu lado, pelo contrário, só deixou tudo mais pesado” Caio, foi diagnosticado com ansiedade e assim como Thiago, acredita que um dos gatilhos principais foi a procura por emprego. “Eles utilizam de perímetros inalcançáveis como corte, e tenho certeza que as pessoas mentem dentro do processo, por isso não acredito que seja de todo eficaz”

O agora emprego, diz ter passado por testes de inglês, lógica, português, jogos e teste de Excel para depois ser chamado para entrevista, “ Eu basicamente me condicionei aos padrões da plataforma” Ele ainda conclui que, no dia-a-dia da empresa, não exigem nem metade do que lhe exigiram para passar no processo. “Fico muito feliz de ter conseguido meu emprego, mas, o que esse processo me fez passar, não desejo para ninguém. Só espero que no futuro, o contato humano não seja visto com tanta desfeita como hoje”.

                                                  

Como novos estudos que surgem na comunidade científica ressaltam os efeitos positivos de viagens controladas com LSD
por
Laura Melo de Carvalho
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27/11/2022 - 12h

Por Laura Melo de Carvalho

 

“Na primeira hora de efeito meu coração já estava acelerado, as luzes ganharam tonalidades diferentes e um brilho forte, todo o espaço à nossa volta de repente parecia muito maior do que antes, senti a energia fluindo entre minha pele e o som., os galhos no topo das árvores pareciam criar novos ramos, se multiplicando sem nenhuma explicação, as raízes no chão se multiplicavam em novas ramificações, os desenhos psicodélicos agora se mexiam e alteraram sua forma e tamanho. Senti uma sensação de compaixão, êxtase e alegria que nunca havia sentido antes, podia ver as árvores respirarem, sentia como se estivessem conectadas à nós de alguma forma, na verdade podia sentir como se todos estivéssemos conectados”, detalha Vinícius Morgado sobre sua primeira viagem bem sucedida de LSD.

A palavra psicodélico trata de um neologismo, resultante da junção de psique, mente, e delos, digamos que visão. O termo psicodelia sintetiza a ideia de manifestação da “revelação do espírito”, e psicodélico é o que torna visível a alma, sintetizando tudo que  Vinícius vivenciou na sua experiência com alucinógenos.

Apesar de ser um assunto delicado e que envolve muito preconceito e processos burocráticos, nos últimos tempos, estudos que comprovam a eficácia do uso de drogas alucinógenas, em sua maioria ilícitas, no tratamento de doenças neurológicas e distúrbios mentais, têm movimentado a comunidade científica, que vem recebendo investimentos de até 17 milhões de dólares para as pesquisas na área.

Como explica Torsten Passie, pesquisador da farmacologia do LSD, a farmacologia do semi sintético ainda é complicada e um pouco desconhecida, mas garante que não deixa efeitos duradouros no cérebro ou em outras partes do corpo, sendo muito raro casos de overdose, sem casos relatados de morte com overdose do ácido até hoje, além de ser uma droga que não causa dependência. Após mínimos casos de overdose com a droga, pesquisadores e terapeutas identificaram efeitos positivos do alucinógeno nos pacientes, que até então sofriam de transtornos psicológicos, mas que tiveram seus quadros amenizados após a trip.

De acordo com um relato de Lily, trabalhadora do Vale do Silício que teve seu nome ocultado, “se o LSD for consumido em pequenas doses, cerca de um décimo do que seria uma dose “normal”, seus efeitos são bem diferentes do que se espera dessa substância: pessoas que experimentaram essas micro doses garantem que a droga aumenta a concentração e a capacidade, além de reduzir a ansiedade. Além dessas vantagens, o LSD melhora a comunicação interpessoal, aumentando a empatia de quem usa.” Diante disso, no Vale do Silício as experiências com o alucinógeno tem se tornado uma forma de alcançar o maior rendimento no trabalho, virando uma nova tendência entre seus colegas de trabalho.

Sobre o funcionamento do LSD no sistema nervoso, o neurocientista Júlio Santos explica, “O LSD, é uma droga que age diretamente no sistema nervoso central, quando ingerida pelo indivíduo, mimetiza o neurotransmissor serotonina - molécula responsável pela comunicação *entre os neurônios relacionada ao nosso humor e bem-estar - com quem compete ativamente pelo mesmo receptor - 5-HT2A, promove inibição desses receptores e, dessa forma, altera a forma como o cérebro interpreta a realidade, causando alucinações, delírios e ilusões da realidade.”

Portanto, o uso do LSD e outras drogas mais fortes, que são diferentes da Cannabis, em tratamentos de transtornos e doenças psicológicas ainda é muito desconhecido e pouco frequente, muito pelas poucas informações sobre a droga e seus efeitos, e o preconceito que envolve o uso do LSD dentro da sociedade e da comunidade científica, apesar de parecer ter um grande potencial medicinal, ainda não conhecido. 


 

Como as tecnologias influenciam a geração z na militãncia
por
Isadora Verardo Taveira
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24/11/2022 - 12h

Por Isadora Verardo

Dia 11 de agosto de 2022. Largo São Francisco, centro de São Paulo. Manifestação em defesa do Estado Democrático de Direito, após diversos ataques do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre o sistema eleitoral e as instituições legítimas do país. Lotado. Ver as ruas estreitas do centro da capital tomadas por pessoas, que se uniram e se mobilizaram em prol daquilo que demoramos anos para conquistar: a democracia. Um ponto me chamou a atenção: a quantidade de pessoas mais velhas, que provavelmente viveram a ditadura e a redemocratização do Brasil era muito grande. Onde estavam os jovens?  

“É delicado olhar o presente com os olhos do passado no sentido comparativo” - afirma Maria Luiza Nogueira, estudante de Relações Públicas da ECA-USP e militante do coletivo Afronte, quando questionada sobre as diferenças do ativismo no passado e no presente. Retomando um pouco historicamente, durante os anos de chumbo, a conjuntura política e social do Brasil era completamente distinta dos dias atuais. O contexto era de Guerra Fria, ditadura militar, repressão, além de um país extremamente polarizado, e a militância era condizente com o momento político. O historiador Alcyr, ativista do movimento estudantil durante o período militar enfatiza que “Quando a gente entrava para a luta, a gente tinha a consciência de que a coisa poderia pegar e você poderia morrer, porque eles matavam mesmo. Então quando a gente ia para a militância, nós também não éramos santos, partíamos para a pancada, para a agressão.” 

“Às vezes, tenho a impressão de que, quando estou perto de jovens, existe a noção de que a maneira de promover a mudança é julgar as outras pessoas o máximo possível e que isso é suficiente. Isso não é ativismo, isso não está gerando mudanças. Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe.” declarou o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em coletiva de imprensa. É interessante ver como tudo é inerente aos caminhos e a suposta “evolução” da humanidade. Por mais que atualmente exista uma enorme capacidade e rapidez para veicular notícias - muito maior do que durante o período militar - as capas dos jornais contra-hegemônicos foram substituídas por rasos depoimentos no Twitter, escancarando um enganoso ativismo político da juventude. É injusto afirmar que no passado as lutas eram realmente combativas e nos tempos atuais deixaram de ser, entretanto é inegável a comodidade que a sociedade encontrou atrás das telas dos celulares e da crença de que fazer oposição é uma tarefa simples, assim como postar uma foto nos stories do Instagram.

Quando perguntado sobre as diferenças entre a militância do passado e do presente, Alcyr afirma que atualmente o ativismo está muito devagar “Existe uma indústria de desinformação, hoje as fontes vem das redes sociais, e com ela vem tudo que é bom e tudo que é ruim também. As fake news prejudicaram esse acesso à informação, então hoje a militância está muito comprometida, e feita de uma forma muito precária.” O historiador complementa que, quando era militante pelo movimento estudantil em 1977, a oposição era mais sólida e combativa: “A gente lutava e partia para o corpo a corpo, muitos queriam fazer uma reforma agrária, ir para o campo, imitar os movimentos de Fidel Castro, a guerrilha urbana.”

Em contrapartida, Maria Luiza assegura que hoje a juventude, principalmente com o advento das redes sociais, com mobilizações, tendências mundiais, vêm se organizando e protagonizando lutas em várias esferas. “Eu acredito que esse setor segue protagonizando uma série de ações sociais no Brasil e no mundo inteiro, mas de formas diferentes. Acho que durante a ditadura militar foi construído o que é uma herança, inclusive para a juventude brasileira que é o próprio movimento estudantil, que também cumpriu um papel muito importante nesses últimos tempos.” As tecnologias trouxeram uma mobilidade muito grande, uma capacidade de alcance invejável. Com um clique é possível engajar um milhão de pessoas, jovens que estão constantemente conectados. Mesmo com as diferenças, principalmente na conjuntura política e social do Brasil nos dois períodos, é necessário abordar a comodidade que as redes sociais trouxe para a militância. 

Basta ligar a TV para ver o grande engajamento da juventude em movimentos, principalmente pelo clima. O ativismo climático tornou-se pauta da geração atual, e é inegável o protagonismo dos jovens. Ativistas como Greta Thunberg – a adolescente sueca que criou o movimento Fridays for Future e se tornou o maior símbolo do ativismo de sua geração – usam suas vozes para protestar e exigir das lideranças globais ações para combater a crise climática e garantir o futuro do planeta. “O tema que é mais atual que nunca, das mudanças climáticas ao racismo ambiental, do combate ao colapso ambiental, também tem uma cara muito jovem no Brasil e no mundo inteiro”, acrescenta Malu. 

Fica claro o abismo que existe entre opiniões, dados, tempo e espaço. Falar sobre a geração que cresceu em meio a tecnologia, e relacionar as consequências dessa (re)volução com os anos de chumbo é uma tarefa, no mínimo, delicada. A estudante afirma que “As redes sociais não são o suficiente, não substituem o corpo a corpo, o dia a dia e o cotidiano que é necessário para qualquer tipo de construção de ativismo.” O que as tecnologias trouxeram é impressionante, fascinante. Mas nada é capaz de substituir o olho no olho, a troca, as conexões. E isso se aplica em todos os âmbitos da sociedade, desde relações pessoais até as relações com o mundo, com a militância, a luta por direitos. Alcyr finaliza com a pergunta “O que é ativismo com a tecnologia? Hoje eu enxergo uma terra de ninguém” - responde o historiador. 

O modelo clássico do sistema de educação vem se tornando cada vez mais obsoleto e desinteressante para os alunos, mas a tecnologia tem tudo para mudar isso.
por
Henrique Baptista Martin
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21/11/2022 - 12h

Por Henrique Baptista Martin

A educação é um dos pilares mais importantes na construção de uma sociedade.Além de ser um direito imprescindível, é uma chave para criar cidadãos mais críticos, conscientes e participativos em relação aos seus direitos e deveres. No Brasil, a taxa de abandono escolar vinha apresentando queda desde 2010. Em 2020, cerca de 2,6% dos alunos matriculados no ensino médio das redes estaduais de ensino abandonaram a escola. Em 2021, esse número mais que dobra: chegando a 5,8%, um pouco acima da taxa de abandono de 2019 (5,5%).  

 

 

Sim, após a pandemia e “obrigatoriedade” instantânea de adaptação tecnológica, esses números vem subindo, mas não deveria ser ao contrário? Bem, isso simplesmente não aconteceu e os alunos ficaram sem aulas como no caso de muitas escolas da rede pública, e mesmo quando feito foi realizado de uma forma muito negativa, simplesmente transmitir uma aula sem qualquer tipo de interação como foi feito não tem nada de adaptação tecnológica. 

Para esclarecer alguns pontos e contar também um pouco o lado do educador convidamos o professor Edson Ciotti, que já exerce sua profissão há mais de 15 anos e é um apoiador do uso tecnológico nas salas de aula. Quando perguntado sobre o período pândemico e a relação professor-aluno na classe, Edson ressalta que: “O professor precisou se reinventar para fazer aulas 100% virtuais. Muitas escolas acabaram investindo em estruturas tecnológicas digitais, mesmo as que possuem menos recursos (...) As aulas eram transmitidas, pois não havia interação dos alunos com o professor, câmeras fechadas, microfones fechados, alunos desconectados.” 

Ciotti também projeta o que vê como ideal para o futuro da educação digital, “Espaços cada vez mais interativos, onde os alunos sejam protagonistas, participem mais de tudo para melhor conexão com o conhecimento.” e complementa dizendo que gostaria que esses espaços fossem sem fronteiras tanto para instituições públicas quanto privadas. 

Em suma, a educação no Brasil parece não estar nem perto desse ideal de integração tecnológica, e ainda encontra problemas básicos de infraestrutura, o que dificulta muito um pensamento nesse sentido no momento, porém é muito importante que esses temas sejam discutidos e tenham um investimento desde já nessa área para que no futuro o terreno já esteja preparado para uma inevitável revolução tecnológica no sistema educacional.  
 

Após o assassinato da jovem iraniana a Internet se uniu na busca por justiça dela e de muitas outras mulheres que morreram nessa luta
por
Beatriz Vasconcelos
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22/11/2022 - 12h

Por Beatriz Camargo Vasconcelos

 

No dia 13 de setembro, a jovem de 22 anos, Mahsa Amini foi detida pela polícia acusada de usar o hijab de maneira imprópria deixando o cabelo aparecer, assim desrespeitando o código de vestimenta feminina implementado pelo governo iraniano. Três dias depois, 16 de setembro, Amini foi espancada até a morte sob custódia da polícia. O governo iraniano insistiu que a  morte foi causada por um ataque cardíaco, mas relatos indicam que ela sofreu uma fratura no crânio devido a fortes pancadas na cabeça. Após a morte da jovem, protestos de rua se espalharam por todo o Irã e o caso se transformou em um símbolo de revolta no país. Com o slogan “mulheres, vida, liberdade”, mulheres de todo o país estão lutando pelos direitos humanos. Como forma de conter os protestos o governo vem agindo com muita violência e rigidez. De acordo com a ONG Iran Human Rights, até a última segunda-feira (7), haviam morrido 304 pessoas, sendo elas pelo menos 41 crianças e 24 mulheres.

Mulheres cortam o próprio cabelo em protestoOs protestos se propagaram pela Internet através de vídeos das manifestações de rua no Irã que viralizaram. Mulheres de todos os países começaram a cortar o próprio cabelo em suas redes sociais como forma de apoio. A hashtag #mahsaamini, atualmente tem 1,5 bilhões de visualizações no Tik Tok e 1,2 milhões de publicações no Instagram. As publicações variam de vídeos de apoio aos protestos a vídeos informativos contando o caso da jovem e mostrando imagens dos protestos para aqueles que estão alheios à situação.

Em um mundo movido pela tecnologia e pelas redes sociais, essa forma de apoio é cada vez mais recorrente, porém em um país tão rígido e conservador como o Irã, esse tipo de amparo realmente ajuda? “Não penso que atrapalhe. Esse movimento é uma revolução das mulheres contra um regime de apartheid de gênero. Se os protestos tomaram essas proporções, é porque estamos diante de algo que fere a humanidade como um todo. É a dignidade sendo tirada de milhares de filhas, mães e avós. Infelizmente é algo que não é recente, e sim enraizado. A agressão e rigidez do governo foi desde o começo dos protestos explicitamente violenta. O que contribui para que essa brutalidade continue por anos e mais anos é o abafamento.” conta a estudante de direito e criminologia Helena Grani.

Em entrevista, o professor, jornalista e escritor José Arbex Jr. opina sobre o tema: "Se por exemplo elas (manifestações nas redes sociais) estimularem um processo de manifestação de rua, combinado com a pressão internacional de outros governos sobre o regime iraniano, talvez resulte em alguma coisa, mas não me parece o caso. O Irã tem um regime muito forte que é capaz de aguentar pressões muito grandes, e eu não acho que nós estejamos em um ponto que o regime vai ser obrigado a alterar alguma coisa em função desses atos que estão acontecendo agora. Nós já tivemos manifestações bem mais fortes no Irã em outras circunstâncias que não resultaram em grande mudança.”

professor e jornalista José Arbex Jr.O jornalista também explica que o Irã se encontra em uma situação de crise que não diz respeito apenas a esse evento em si, mas a uma crise social e financeira, que é provocada por pressões dos Estados Unidos e é resultado de uma situação muito mais complicada que diz respeito ao equilíbrio geopolítico do Oriente Médio. “Então é óbvio que uma  manifestação de rua provocada pelo assassinato da moça pode sim ser como acender um palito de fósforo num depósito de pólvora.”

Além de ser estudante, Grani também cria conteúdo nas redes sociais e participou do movimento de apoio aos protestos. “Quando posto esse tipo de conteúdo, procuro aos poucos trazer a atenção para problemas maiores, geralmente estruturais. A desinformação mata, nós vemos isso no dia a dia. Pessoas protestando sem fundamentos, a polarização política, e até mesmo o desconhecimento da lei. Prefiro gastar alguns minutos informando, e se conseguir fazer com que pelo menos uma pessoa pare o que está fazendo e fique a par de uma situação de violência estrutural que afeta não só as mulheres iranianas, mas o mundo como um todo, já vou estar feliz. Imagino que num mundo onde as pessoas esquecem as coisas rápido, quanto mais interação elas tiverem com a informação maior será a chance de lembrarem daquilo depois.” disse.

Por conta das proporções que os protestos tomaram, o governo iraniano desligou a Internet em partes do Teerã e do Curdistão e chegou a bloquear plataformas de redes sociais. “Considero essa estratégia eficaz se estivermos falando de um retrocesso dos direitos humanos. Como cidadã de um país democrático, acredito que nenhum silenciamento é eficaz para combater conflitos.” comentou a estudante.

Levando em consideração outro ponto de vista, Arbex concorda parcialmente. “Nós sabemos que as tentativas de abafar a circulação de informações pelas redes sociais são eficazes até certo ponto. Sempre é possível driblar a censura porque os provedores das redes sociais estão situados em várias partes do mundo e é impossível o país bloquear completamente as redes, até porque grande parte dos serviços da burocracia estatal, das comunicações, hoje são feitas via internet. Então é impossível manter completamente bloqueado. Eu acho que numa certa medida eles são eficazes, mas não 100%.”

Os protestos se espalharam pelas universidades, mesmo com o movimento estudantil paralisado nos últimos anos, por conta da forte repressão governamental. Após todos esses anos os campi voltam a ser um ambiente primordial para os protestos. De acordo com o Iran Human Rights, o governo tem entrado nas universidades para prender os estudantes de forma violenta. Também existem evidências de que, além das forças armadas, forças à paisana, que também estavam armadas, se passaram por estudantes e atacaram e sequestraram estudantes da universidade. Condenando todas essas ações, no dia 30 de outubro, a ONG utilizou da Internet, por meio de seu site, para publicar uma nota pedindo que outras universidades e instituições acadêmicas do mundo repudiem o ocorrido como forma de apoio.

“A internet evolui um pouco a cada dia. Não há muito tempo, sua única função era fazer e receber ligações, enviar e-mails. Eu sinto que a nternet é um lugar perigoso. Na medida que os aplicativos nos possibilitaram expor nossas opiniões e circular conteúdos, de forma democrática e muitas vezes anônima, os usuários puderam usufruir dela de acordo com suas intenções. Não é à toa que mais da metade dos crimes ocorrem por trás das telas. A tecnologia inova, as possibilidades de infração também. Entretanto, existe um lado da Internet muito bonito. É o lado digital do direito, que se utiliza da rede mundial como ferramenta de justiça. Como sabemos, o sistema penal é falho. Uns casos têm mais atenção que outros, devido a desigualdades e preconceitos sociais, de raça, gênero... O uso da internet para a veiculação, conhecimento e conscientização da criminalidade e onde ela ocorre é um grande passo para uma sociedade mais atenta, empática e justa.” adiciona Grani.

Na luta conjunta pela justiça, todos querem ajudar de alguma forma, mesmo que seja do outro lado do mundo. “Compartilhar, comentar, e ajudar o conteúdo a engajar nas redes sociais. Pesquisar de que outras formas você pode ajudar mesmo remotamente. Mas antes disso, tomar muito cuidado com a fonte e a veracidade das informações. Quem não questiona apenas contribui para a propagação do ódio e das fake news.” conclui Helena.