Cientistas brasileiros deixam o País em busca de melhores oportunidades no mercado científico
por
Brenda Martins
|
19/11/2024 - 12h

Por Brenda Costa Martins

 

Enquanto nossos melhores pesquisadores são acolhidos por laboratórios estrangeiros e embarcam em direção aos países que valorizam a academia e a ciência, ficamos à margem das grandes inovações e descobertas científicas, como espectadores de um progresso que poderíamos estar liderando. A formação de cientistas no Brasil enfrenta uma crise profunda, marcada não por apenas dificuldades estruturais como a escassez de equipamentos em Universidades e laboratórios, mas também pela falta de incentivo à estudantes para que sigam na área acadêmica de pesquisas, além das oportunidades limitadas desse marcado no país. Nos últimos anos, temos assistido a uma crescente “fuga de cérebros” — fenômeno em que profissionais qualificados, principalmente cientistas e pesquisadores, optam por desenvolver suas carreiras no exterior, sendo atraídos por melhores condições de trabalho e valorização profissional. Fuga que tem sido alimentada pela escassez de investimentos no campo da ciência e da tecnologia no país.

Desde 2015, cortes orçamentários intensos afetaram diretamente a manutenção de bolsas de estudo, o financiamento de projetos de pesquisa, bem como a continuidade de programas de pós-graduação em diversas áreas. Com menos verbas, muitos laboratórios foram fechados e projetos interrompidos, situação que acabou por criar um ambiente de insegurança e instabilidade para jovens pesquisadores que desejam contribuir com o avanço científico no país.

Nos centros de excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a Universidade Federal do ABC (UFABC) doutores e mestres formados com alto nível de competência se deparam com um mercado de trabalho retraído. Apesar de contar com instituições de ensino que formam profissionais altamente capacitados, os cortes e as limitações severas no mercado de trabalho continua a fazer com que esses cérebros embarquem para o exterior buscando oportunidades de maior rentabilidade e visibilidade pois para muitos desses cientistas, o ambiente brasileiro se mostra inviável para o desenvolvimento de suas carreiras.  Mesmo entre os profissionais que conseguem uma colocação, as condições de trabalho são frequentemente limitadas, com infraestrutura insuficiente e salários que não condizem com o nível de formação e as exigências da carreira científica.

Esse êxodo de cientistas gera impactos econômicos e sociais observados em longo prazo. Ao investir na formação desses profissionais e, em seguida, vê-los partir para outros países, o Brasil perde o retorno desse investimento, bem como a possibilidade de desenvolver inovações e avanços tecnológicos que poderiam impulsionar setores como saúde, agronegócio e tecnologia. Fato que evidencia outro problema: Não é preciso investir apenas na educação básica e incentivo aos jovens cientista se, no futuro, eles não terão um lugar nas grandes corporações, já que as poucas que existem no país continuam não oferecendo benefícios tão competitivos quantos os de vagas alocadas no exterior, sedes dessas empresas.

Para cientistas como Paula Rezende, doutora em Biomedicina, a decisão de deixar o Brasil é dolorosa, mas necessária. Após anos lidando com infraestrutura insuficiente e atrasos em recursos para pesquisa, ela aceitou uma proposta de trabalho na Alemanha, onde encontrou o ambiente ideal para continuar seu trabalho. Casos como o de Paula são cada vez mais comuns, o que ilustra como o cenário nacional tem se tornado um impeditivo para o progresso da ciência e da carreira dos profissionais brasileiros. A falta de oportunidades no Brasil também gera uma lacuna na academia e nas universidades, onde a quantidade de concursos e oportunidades para docentes e pesquisadores é insuficiente para absorver os doutores formados a cada ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que cerca de 25% dos doutores no Brasil ficam fora do mercado de trabalho adequado à sua formação, o que leva muitos a buscar alternativas no exterior, onde há mais estabilidade e reconhecimento.

Elisabeth Balbachevsky, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenadora científica do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP, tem outra visão. A professora tenta analisar um lado positivo desse fenômeno da "fuga de cérebros", as mentes que vão embora do Brasil buscando melhores oportunidades podem "se inserir em redes de pesquisa internacionais, o que poderá ter um impacto extremamente positivo, porque irão se tornar lideranças brasileiras e, uma vez de volta ao Brasil, trarão novas expertises e abordagens para o País", diz a pesquisadora. Uma vez que esses cientistas brasileiros conseguem cada vez mais se estabelecer nas gigantes da tecnologia, por exemplo, o país indiretamente está ganhando reconhecimento, o que pode fazer com que os olhos dessas grandes corporações se voltem ao Brasil. Ainda que a "fuga" desses pesquisadores seja prejudicial no início, com mais profissionais produzindo ciência de qualidade em um ambiente no exterior que comporta suas necessidades, podemos colher frutos no futuro. Afinal, para que grandes corporações se desenvolvam no país, é preciso ver que a população tem capacidade de produzir recursos que possibilite sua expansão.

Outro fator que importante ser destacado é a busca pelo incentivo ao empreendedorismo desses jovens cientistas. Grandes empresas como o Facebook e a Amazon surgiram de um pequeno projeto de seus fundadores enquanto ainda eram estudantes, desenvolvendo uma start-up na garagem de suas casas. É claro que, a qualidade de ensino de ciências nas Universidades americanas possibilitam que seus alunos desenvolvam o pensamento empreendedor, enquanto no Brasil, os alunos são incentivados a bucar emprego fora, em empresas já estabelecidas, fator resultado do cenário de instabilidade não apenas do mercado científico, mas também do empreendedorismo. Algumas escolas de redes particulares no país contam com matérias de empreendedorismo e educação financeira, por outro lado, escolas da rede pública e estaduais se encontram em um cenário totalmente diferente. Ainda há um grande caminho a trilhar para que o acesso à uma educação de qualidade seja uma realidade igualitária entre todos os estudantes do país.

Propostas como a criação de um fundo nacional para Ciência e Tecnologia, que garanta recursos contínuos para a pesquisa, são defendidas por entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outra alternativa é fortalecer as parcerias entre universidades e empresas, criando oportunidades de inovação e desenvolvimento em conjunto com o setor privado, o que poderia abrir novas frentes de trabalho para cientistas dentro do Brasil.

Enquanto não houver um comprometimento estrutural e financeiro com a ciência, o Brasil permanece vulnerável à saída de seus talentos. A fuga de cérebros se torna um símbolo das dificuldades enfrentadas pela ciência brasileira, limitando o potencial de avanço científico e tecnológico do país. A valorização da ciência e o investimento em condições de trabalho são essenciais para que o Brasil não apenas forme cientistas, mas também consiga retê-los e fortalecer sua base científica para o desenvolvimento nacional e reconhecimento internacional.

Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
|
12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

A jornada dos entregadores não se limita ao trajeto, mas envolve obstáculos que vão da segurança no trânsito às incertezas de um dia de trabalho autônomo.
por |
12/11/2024 - 12h

Por Thais Oliveira 

 

Se antigamente era comum esperar dias ou semanas para que um pedido chegasse, hoje a demanda por rapidez e eficiência exige uma operação logística reforçada. O dia começa antes do sol nascer, com o medo e a ansiedade tomando conta de Joice Alves, mãe solteira de 50 anos que precisou se reinventar após um divórcio e o enfraquecimento das vendas em seu comércio de plantas. Seus cabelos longos e quase grisalhos carregam histórias de uma mulher forte que devido a gravidez, parou os estudos na quinta série. Tudo que aprendeu é resultado de suas vivências.

A tecnologia dominou o mundo e os seres humanos. Para Joice isso não passava de uma grande perda de tempo, até que tudo mudou em sua vida e a tecnologia virou sinônimo de estabilidade financeira e independência. Conseguir realizar uma entrega parece fácil aos olhos dos que recebem em casa. O suor do trabalho de prestadores de serviço das grandes empresas está presente em cada pacote entregue.

Os desafios começam à frente da seleção. Um aplicativo viabiliza para os entregadores os percursos disponíveis, juntamente ao valor a receber, e cada um seleciona o de sua preferência. Mas o número de prestadores é maior do que os de entregas e, às vezes é necessário passar horas olhando as atualizações no celular. Há dois meses o aparelho eletrônico, que não passava de uma ferramenta de comunicação com a família, amigos e clientes, se tornou o principal equipamento do trabalho de Joice. Foram semanas aprendendo a usar o mapa, abrir e fechar aplicativos, escrever mensagens mais rápidas e, principalmente, a contabilizar os resultados do seu novo emprego. No início de sua trajetória, Lucas, o filho mais velho, acompanhou a mãe em todos os percursos e assim, ela ganhou confiança para trabalhar sozinha. 

Desde a adolescência, Joice foi diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e comenta que essa logística piora os sintomas diariamente. O seu conforto é o chá de camomila colhido diretamente dos vasos sobrepostos na janela do sexto andar e do calmante recomendado pela cardiologista. Ao conseguir uma corrida, agradece a Deus pela oportunidade e pula o café da manhã, colocando tudo que precisa dentro de uma bolsa térmica. De acordo com o aplicativo fornecido pela empresa, cada percurso tem a duração de 4h e 6h e os valores são correspondentes a estes horários. Explica que foi acordado entre a empresa e os prestadores de serviço que todas as entregas contariam com, no máximo, 45 pacotes e 40 paradas. 

Ao chegar no Centro de Distribuição, Joice recebe a rota com 52 paradas, 65 pacotes amarelos e o medo de não conseguir finalizar dentro do prazo estipulado. É necessário entregar todas as mercadorias para receber os valores completos, independente da chuva, dos ventos de 100km/h, dos postes desligados e das ruas escuras. Joice sai de Mauá com o seu destino traçado em um papel com nomes de pessoas desconhecidas diretamente para a cidade de São Paulo. Na travessa da Avenida Vila Ema e nas mãos Joice, o primeiro pacote foi entregue para a Renata, uma mulher simpática que desejou um bom dia para a entregadora.

Dentro do carro, o estômago de Joice espera por um alimento desde às 9h00min, porém os donos dos 50 pacotes pendentes têm prioridade na fila e as refeições ficam em segundo plano, sendo necessário seguir o caminho ingerindo apenas uma banana. A falta de hidratação e de nutrientes causa cansaço excessivo, perda de cabelo e, consequentemente, ausência de vitaminas importantes para o funcionamento do corpo. Relata, que praticava uma rotina saudável, alimentando-se bem e correndo na rua todos os dias de manhã com os seus filhos, porém precisou abrir mão do estilo de vida para arcar com os novos custos, como por exemplo o aluguel. A infraestrutura básica é uma questão: nas cidades grandes, com quilômetros percorridos entre um ponto e outro, muitas vezes não há onde parar para descansar ou usar o banheiro. A cidade se torna um palco de correria constante, onde não há tempo ou lugar para uma pausa, justifica Joice, ao informar que não consegue ingerir ao menos 200ml de água durante a jornada de trabalho. 

O futuro do setor aponta para uma integração cada vez maior entre tecnologia e logística, com inovações que prometem transformar ainda mais a experiência de compra e aproximar o e-commerce dos consumidores. Embora a constante evolução esteja dominando o cenário, não há direitos trabalhistas ou benefícios assegurados, como convênio médico ou seguro de saúde. Se houver algum acidente ou emergência, o entregador precisa arcar com os custos e lidar com as consequências sozinho. 

Dentro do aplicativo de entregas é possível saber que, dependendo do nível, o entregador terá acesso a mais pedidos, melhores comissões e suporte especializado. A grande corporação criou um sistema de níveis que funciona como uma espécie de escada, onde cada degrau alcançado representa mais oportunidades, e consequentemente, mais pressão. Estar em um nível mais alto pode significar, por exemplo, maior acesso a entregas em horários de pico ou de longa distância, que pagam melhor. Joice é prata, mas conta que demorou meses para alcançar a nomenclatura, afinal qualquer queda no desempenho pode significar uma descida de nível. Cancelamentos, avaliações ruins ou atrasos podem rebaixar o entregador, retirando seus, quase que invisíveis, benefícios. 

Joice conseguiu dois percursos no mesmo dia, isso significa que a corrida contra o tempo é primordial para finalizar o primeiro, voltar ao Centro de Distribuição e recolher as próximas encomendas. Ao sair, os clientes recebem notificações de que o produto está a caminho, causando ansiedade e desconfiança dos que aguardam em suas casas. Durante a noite as entregas são realizadas das 18h00 às 22h00 e Matheus, o filho mais novo, auxilia a mãe ligando para os clientes e entregando os pacotes enquanto ela separa os próximos. Em meio à movimentação, Matheus recebe uma mensagem de uma mulher que estava aguardando o produto há 30 minutos e precisava dormir. Era sexta-feira, 19h39min, quando os insultos começaram e mudaram a rota da família. Cada pacote recebe uma numeração de envio, o itinerário e os dados relevantes do consumidor, em consequência das mudanças Matheus e Joice aumentam a duração do percurso e os quilômetros rodados no carro. A quantidade de remessas no período da noite é majoritariamente maior, entretanto os consumidores não sentem confiança em recebê-las e, frequentemente, rejeitam a tão esperada aquisição. 

As embalagens amarelas recusadas devem atravessar a cidade e voltar à corporação até às 23h00min, horário de finalização dos serviços diários. Joice retorna com o peso da consciência de classe descendo em seus cabelos, refletindo sobre o comportamento interpessoal dos consumidores, do egoísmo e da falta de empatia. O mundo não é mais o mesmo e as pessoas estão preocupadas com as futilidades expostas nas prateleiras invisíveis dos comércios online. Não se importam se a voz que clama do lado de fora da residência está enfrentando a maior chuva do ano na cidade ou se está com um prazo apertado, o importante é aconchego e a novela das 21h00min. 

Após 15 horas, Joice finalmente chega em casa, sentindo-se cansada, fraca e estressada. O dia foi longo, repleto de entregas que exigiam rapidez, atenção e resistência. Cada pedido, cada quilômetro percorrido, parecia se arrastar em meio à chuva, ao trânsito caótico e à pressão por cumprir os prazos apertados. Como muitos entregadores, Joice não tem garantia de descanso ou segurança no trabalho, e mesmo ao chegar em casa, a sensação de que poderia ter feito mais, ou o medo de não atingir o número de entregas esperado, a acompanha. Mas para Joice, o trabalho nunca termina realmente. Ela reflete sobre o que poderia ter feito para ser mais rápida, ou se valeu a pena o esforço de correr contra o relógio. Em sua mente, os desafios que ela enfrentou ao longo do dia continuam vivos, a insegurança nas ruas, o risco de acidentes, a exaustão física e emocional. Mas amanhã, o caminho se repete, enfrentando as mesmas dificuldades em nome de um dia melhor, ou, quem sabe, uma coroa de ouro na guerra contra a logística desumana.

Os chamados cibercrimes são considerados um tipo de violência contra o idoso, e a campanha Junho Violeta busca conscientizar à população sobre a violência patrimonial
por
Alice Di Biase
|
11/11/2024 - 12h

Por Alice di Biase

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população acima de 60 anos no Brasil deve crescer em ritmo acelerado, quase triplicando até 2050. Dados como esse expõem o crescente aumento da população idosa, além de um novo perfil de envelhecimento que requer atenção especial em políticas públicas. Adriana Horvath, diretora voluntária de captação de recursos da Casa Ondina Lobo, relata que a principal queixa dos residentes da Casa é a invisibilidade, a visão estereotipada do “vovozinho” de cabelo branco e ingênuo, e adiciona que os idosos querem ser vistos como seres humanos que ainda tem muito a oferecer.

A Casa de Repouso Ondina Lobo é uma instituição de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social, o projeto é sustentado por doações filantrópicas. A missão da organização é promover o bem-estar e a integração do idoso na sociedade, por meio de atividades plurais. Ela relata que muitos dos idosos residentes da Casa já passaram por alguma violência ou situação de preconceito e atribui isso a forma como a sociedade olha os idosos, relacionando-o com a finitude da vida. E adiciona que é preciso entender que a velhice é apenas mais uma fase. Além disso, ela também cita a importância de campanhas de conscientização contra a violência ao idoso, como o Junho Violeta.

Existem vários tipos de violências direcionadas aos idosos, uma delas é a violência patrimonial. Com o avanço tecnológico, os mais velhos se tornaram mais vulneráveis para a violência patrimonial, por meio dos chamados golpes. O Disque 100, do governo federal, registrou, nos cinco primeiros meses de 2023 mais de 15 mil denúncias de violações financeiras ou materiais contra idosos; 73% a mais do que no mesmo período de 2022. Cada vez mais conectada, a terceira idade tem sido um dos principais alvos de quadrilhas especializadas em crimes cibernéticos que comprometem o patrimônio da vítima.

Ondina Lobo e Image Magica

“Mãe, mudei de número, salva esse contato aqui”, assim começa uma das formas mais comuns de fraudes financeiras contra os idosos, a foto de perfil é a mesma que o filho utiliza no seu número próprio e logo em seguida são solicitadas as transferências. Cláudia, aposentada de 66 anos relata como caiu no phishing - tipo de golpe realizado por e-mails, redes sociais e sites que utilizam uma “isca” para fazer a vítima fornecer informações pessoais. Uma loja conhecida com descontos extravagantes, a propaganda era feita por celebridades como Gisele Bündchen e a apresentadora Angélica que recomendavam a promoção. Tudo feito com inteligência artificial. O valor perdido não foi alto, como conta Claúdia, com alívio, no entanto, a sensação de ter sido enganado com facilidade pelos golpistas causa constrangimento.

O constrangimento também é um dos motivos que leva os idosos a se tornarem um alvo fácil dos golpistas. Envergonhados de demonstrar a fragilidade e, de certo modo, alimentar os estereótipos de ingenuidade que a sociedade cria em relação a faixa etária, muitos idosos não contam aos familiares a situação e deixam o ciclo de golpes se estender. Em 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já recebeu mais de 21 mil denúncias de violações deste tipo contra idosos, destes 80% dos casos são denunciados por terceiros, e não pela própria vítima.

A psicóloga e psicanalista Moema Sarmento compartilha suas perspectivas sobre a saúde mental na terceira idade, ela argumenta que a falta de respeito e os maus tratos podem levar ao isolamento e depressão, o que faz que muitos idosos que sofrem esses abusos patrimoniais não procurem ajuda, assim os casos só chegam aos familiares e autoridades quando já estão em estágios alarmantes.

Com o intuito de alterar esse cenário, a Casa Ondina Lobo em pareceria com a ONG Image Mágica, levou o Circuito Cultura e Inclusão para as mulheres da Casa. As aulas de inclusão digital e fotografia buscam conscientizar os moradores a respeito dos golpes digitais, resgate da autoestima e criar intimidade com o meio tecnológico.
 

Ondina Lobo e Image MagicaOndina Lobo e Image Magica

Como comenta Horvath, a velhice é só mais uma fase da vida que envolve atenção e deve ser aproveitada com qualidade de vida e isso envolve a liberdade de consumir a Internet com segurança.

Entre ícones do passado, referências do presente e caminhos para o futuro, veja como foi a edição deste ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/10/2024 - 12h

Ocorrido entre os dias 14 e 20 de outubro na capital francesa, o Mondial de l'Auto contou com mais de 500 mil visitantes, além de recados importantes para a indústria automobilística. As donas da casa — Alpine, Peugeot, Renault e Citroen — estiveram presentes, mas, mesmo assim, a presença chinesa continuou e chamou a atenção do público, das autoridades e das rivais. A DS, da Stellantis, foi a única francesa que não compareceu ao evento. 

Temas como sustentabilidade, acessibilidade e segurança no trânsito foram amplamente abordados nas coletivas de imprensa, e traduzidos em parte nos lançamentos. Ao todo, 41 fabricantes de automóveis participaram do evento, o qual trouxe o brilho de volta à Bienal, tal qual como no Salão de Munique, em 2023.

Eletrificação em diferentes níveis

Antenado às ânsias do público e da indústria, houveram lançamentos de vários modelos eletrificados, em diferentes níveis e formatos. Nos últimos meses, as vendas de elétricos oscilaram negativamente na Europa, por conta de uma série de fatores, como altos custos de aquisição e o fim de incentivos governamentais. 

Com isso, marcas como Volkswagen, Ford e mesmo Volvo, reviram seus planos de eletrificação total — apesar da meta da União Europeia de banir os modelos movidos a combustão, já em 2035. O conglomerado Stellantis, por exemplo, investe em plataformas multi-energéticas, capazes de produzirem tanto híbridos, quanto elétricos, e apresentou seus últimos modelos em Paris. 

Construído sobre a e-CMP, — mesma base dos recém lançados no Brasil, Peugeot 2008 e 208 — o Alfa Romeo Junior Ibrida fez sua estreia ao público. Com a mesma motorização dos irmãos, motor 1.2 PureTech em conjunto a uma bateria de 48V, gerando 136 cavalos, o modelo complementa a linha do SUV urbano, disponível como 100% elétrico desde o começo do ano. 

Na Peugeot, as novidades foram maiores, apesar de nenhum modelo totalmente novo, diferente das compatriotas Alpine, Citroen e Renault. Em Paris, foi lançado o novo E-408, versão 100% elétrica do crossover baseado no 308. Sob a plataforma EMP2, compartilha o conjunto mecânico com o hatch, tanto nas versões a combustão quanto na novidade elétrica, e não muda visualmente. Além disso, foram apresentadas as versões Long Range dos E-3008 e E-5008. As autonomias passam de cerca de 500 km para 700 km, segundo o ciclo WLTP.

Em uma abordagem diferente, focada em modelos elétricos separados dos seus semelhantes a combustão, a Volkswagen apresentou o novo Tayron. Com expectativa de ser vendido no Brasil, é a versão Allspace do novo Tiguan, mas agora com nome próprio. O SUV de sete lugares estará disponível em duas versões diesel, gasolina, e híbridas plug-in, além de uma híbrida leve.

Volkswagen Tyron de frente branco ao lado de um Tayron de trás roxo
O Tayron é o sexto SUV a combustão da Volkswagen na Europa, entre Tiguan e Touareg. Foto: Divulgação/Volkswagen

As motorizações são as mesmas do Tiguan de nova geração, construído sobre a MQB evo. Isso se reflete em uma autonomia combinada de até 850 km nas versões plug-in, além de uma autonomia em modo 100% elétrico de cerca de 100 km, graças a uma bateria de 19.7 kWh.

Em uma abordagem semelhante em alguns aspectos a Volks, a britânica de coração, mas de propriedade alemã, a Mini, apresentou os seus novos JCW elétricos. Os primeiros modelos da divisão de desempenho da marca serão o Cooper, um hatch de três portas, e o crossover Aceman. Ambos são construídos sobre a plataforma desenvolvida em conjunto com a chinesa GWM, e prometem a emoção de um esportivo com seus mais de 250 cavalos, mas sem emissão de CO2.  

Mais uma ofensiva chinesa 

Sobre as construtoras chinesas, o Paris Expo Porte de Versailles foi novamente o palco para a estreia de modelos do país asiático, e até marcas inteiras. A GWM não compareceu desta vez, como era de se esperar após o anúncio de reestruturação europeia e fechamento do escritório na Alemanha em agosto deste ano. 

No entanto, a sua principal rival, a Build Your Dreams, brilhou, repetindo a estratégia de 2022. Seu estande contava, desta vez, com modelos já conhecidos do público, como Dolphin e Seal, mas também com o totalmente novo, Sealion 7, apresentado ao mercado europeu, e com um vislumbre da versão que será vendida no Brasil em breve.

Segundo a vice-presidente da marca, Stella Li, o novo SUV cupê do segmento D, reflete em como a BYD reage e escuta às demandas dos seus consumidores europeus, prometendo design, performance e autonomia de ponta.

E com uma estratégia ousada, que busca rapidamente conquistar o mundo, a Leapmotor debutou em Versailles. Com o amparo da Stellantis, — com quem fechou uma parceria bilionária pela administração global da marca — apresentou quatro elétricos. Carlos Tavares, CEO do conglomerado até 2026, esteve no evento e comentou que as montadoras têm mais a ganhar com a estratégia de se aliar às chinesas, ao invés de brigar com elas. Antes disso, ele visitou o estande da BYD, chamando a atenção da imprensa.  

O primeiro deles é um hatch subcompacto vendido por menos de 20 mil euros, o T03, o segundo é o C10, um SUV médio, por cerca de 36 mil euros. Ambos modelos com condução semi autônoma de nível 2 e confirmados para o Brasil. A versão de sete lugares, C16 também esteve no evento, ao lado do inédito B10, revelado no evento. O SUV do segmento C tem como rivais BYD Atto 3 (Yuan Plus no Brasil) e Volvo EX40, e estará disponível já no próximo ano na Europa.

Estande da Leapmotor rodeado de pessoas
Os modelos C16 (roxo), B10 (azul), C10 (verde) e T03 (turquesa) prometem agitar o mercado. Foto: Divulgação/LeapMotor

Para além das duas marcas, a Seres (com operações paralisadas no Brasil até então), a Xpeng, o grupo GAC e a Hongqi ocuparam o complexo de exposições francês. A última chamou a atenção com a estreia do sedã de luxo Guoya, rival dos alemães Classe S, Série 7 e A8. Enquanto isso, a GAC optou por uma abordagem mais demonstrativa de suas tecnologias, sem pretensões diretas de venda no continente. 

A história não se compra

Frente à concorrência cada vez maior das chinesas, eis o contra-ataque europeu, baseado amplamente no legado das marcas, algo com o qual as novatas não podem competir. No último Salão de Munique, o CEO do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, destacou que o histórico estilístico das marcas é algo que não pode ser adquirido nem comprado, e será a principal chave para o público comprar os modelos europeus. 

Dito isso, nomes como BMW e Renault também vêm investindo em uma abordagem retrô futurista. Em relação à alemã premium, os conceitos Neue Klasse sedã e SUV foram apresentados pela primeira vez juntos. Com designs que remetem aos modelos dos anos 80, preveem a nova geração de elétricos da marca, esperados para 2025 e 2026.

Porém, foi no estande da Renault que a vibe passado e futuro, misturado com o charme e a funcionalidade, atraiu mais os olhares. Após o lançamento do aguardado R5, um hatch elétrico inspirado no icônico R5 dos anos 90, foi a vez do novo R4 voltar à vida.

Novo Renault 4 E-Tech azul em um fundo colorido
O novo Renault 4 E-Tech continua investido no passado da marca como diferencial. Foto: Divulgação/Renault

Construído sob a plataforma AmpR Small, é a versão SUV do R5, com quem compartilha a motorização e equipamentos. Com 4.14 metros de comprimento, funcionará como a versão 100% elétrica do Captur, contando com uma autonomia de mais de 400km no ciclo WLTP, carregamento rápido, todos os assistentes à condução modernos e muitas referências ao R4 dos anos 70. 

Construído na França, atraiu até mesmo os olhares do presidente francês, Emmanuel Macron. O político esteve no evento no dia de abertura ao público (15), e causou um leve tumulto ao fechar o estande em que visitava. Ele cumprimentou os executivos da marca e entrou no novo modelo, esse com expectativas de custar na casa dos 30 mil euros. 

Na ideia da ofensiva irreverente e estilosa, bem ao estilo francês, o protótipo do novo Renault Twingo esteve no evento. Agendado para ser lançado em 2026 (possivelmente no próximo Salão de Paris), promete tornar a mobilidade elétrica realmente acessível, com um preço na casa dos 20 mil euros no formato de um subcompacto, uma espécie em extinção.

Uma mobilidade de fato acessível?

Mas, ao se tratar de acessibilidade e democratização da eletricidade, outras marcas têm mais a dizer e entregar. Dentro do Grupo Renault, é a romena Dacia a representante de baixo custo. Se o nome da empresa não é conhecido aos brasileiros, com certeza seus modelos são. A fabricante de Sandero, Logan e Duster, vendidos sob o nome da Renault na América Latina e Turquia, apresentou em Paris o mais novo Bigster.  

O SUV é a aposta da marca para conquistar o segmento C, com 4.57 metros de comprimento e preços menores de 30 mil euros, cifra que hatches do segmento B atualmente custam. Baseado na mesma plataforma de Clio e Duster, a CMF-B, contará com opções a micro-híbridas de 48V, híbridas convencionais com baterias de 1.4 kWh, e versões movidas a GPL, populares em países como Espanha e Itália. 

Do outro lado do muro, a resposta da Stellantis ao sucesso da Dacia, — dona do modelo mais vendido da Europa em Julho deste ano na Europa, o Sandero — é a Citroën. A marca que já passou por muitas fases, desde o luxo e conforto do DS original, até a originalidade do Xsara e C4 Cactus, por exemplo, agora investirá no mercado de acesso. 

Estiveram no evento os novos C3 e C3 Aircross, bem diferentes das versões vendidas no Brasil, mas ainda na casa dos 20 mil euros. A reestilização do quadriciclo Ami foi apresentada, uma opção de locomoção elétrica por menos de 8 mil euros. E fechando os facelifts, os remodelados C4 e C4X (versão sedã do hatch compacto) foram lançados em Paris, agora com a nova identidade visual da marca.

Estande da Citroën rodeado de pessoas
A Citroën se reinventou com novos C3, C3 Aircross, C4, C4X e o protótipo verde do C5 Aircross 2026. Foto: Divulgação/Citroën

Além disso, o protótipo da nova geração do Citroën C5 Aircross foi revelado. Segundo a empresa, o modelo de produção será 95% igual ao conceito. No quesito motorização, será construído sobre a nova plataforma STLA Medium, que estreou com o novo 3008, e servirá de base para o novo Compass também. Suas principais vantagens incluem a possibilidade de versões híbridas e elétricas, com maior eficiência e autonomia de até 700 km, além de menores custos de produção pela sua modularidade.

Atendendo às demandas do mercado

Uma das principais ânsias da indústria é a diminuição dos custos na fabricação de elétricos, principalmente após a chegada das chinesas. No entanto, nem só de  grandes grupos é formado o setor, e parcerias são mais bem vindas que nunca. A Ford, por exemplo, se uniu à Volkswagen para produzir seus elétricos para a Europa, se prevenindo da taxação que Tesla, Volvo e Mini tentam evitar  com a fabricação dos seus modelos na China.

A americana/britânica apresentou ao público pela primeira vez o novo Capri, um SUV coupe construído sobre a plataforma MEB dos Volkswagen ID.3 e ID.4. O modelo continua o resgate de nomenclaturas clássicas da marca, como Puma e Mustang Mach-E, além da transmutação desses em SUVs, o que agrada ao mercado em geral, mas não tem a mesma reação aos mais saudosistas.

Do outro lado do globo, a sul-coreana Kia também busca conquistar o mercado europeu dos elétricos, sem dividir os custos com várias marcas. O mais novo lançamento do grupo Hyundai-Kia é o SUV urbano EV3, rival do Jeep Avenger, Peugeot e-2008 e Renault 4. 

Novo Kia EV3 verde de frente em um fundo branco
O EV3 é a aposta elétrica da Kia para o segmento B, o maior em vendas na Europa. Foto: Reprodução/InsideEVs

Os preços devem começar na casa dos 30 mil euros, o que não é barato para um carro do segmento B, mas é compatível aos rivais citados. O chamariz da marca, para além dos sete anos de garantia, é a tecnologia, refinamento e comodidade do modelo, quase como uma versão menor do SUV grande EV9, indicado ao prêmio Carro do Ano Europeu em 2024.

E em um segmento acima, mas em uma faixa de preço parecida, a checa Skoda, — essa sim de um grande conglomerado, a Volkswagen — apresentou o novo Elroq. Rival de modelos como BMW iX1 e Ford Explorer, começara na casa dos 33 mil euros, com uma autonomia de 560 km no ciclo WLTP.

Tentativas e erros

Paris ainda foi o palco para marcas menores, ou com menor relevância na Europa. No primeiro caso, a francesa Alpine que tomou os holofotes com o concept car A390 Beta, que antecipa o segundo modelo independente da Renault. 

Com um design agressivo, inspirado nos alpes, e com referências aos modelos de competição da empresa, será um crossover 100% elétrico construído sobre a plataforma do Nissan Aryia. Mesmo assim, a dinamicidade e performance única da marca, que hoje vende apenas o cupê A110, será mantida no carro de produção, anunciado para o ano que vem. 

Em meio aos europeus e chineses, ainda houve espaço para as estadunidenses Tesla e Cadillac. A empresa de Elon Musk deixou a desejar, sem um estande propriamente dito, ou sequer um tapete e divisórias entre seus modelos. Já no quesito novidade, nada de concreto. A picape Cybertruck foi apresentada oficialmente em solo europeu, mas nenhuma conformação de sua comercialização, ou lançamento do esperado Model Y remodelado e do táxi autônomo Cybercab, revelado três dias antes.

Já em relação a Cadillac, que tentou engatar nas vendas na União Europeia algumas vezes, as coisas foram diferentes. Desta vez focada na eletrificação, a empresa do Grupo General Motors trouxe o SUV de luxo Lyriq, além de lançar o Optiq, um pouco menor e com design menos extravagante na traseira. 

Novo Cadillac Optiq vermelho de frente no estamde da marca
Cadillac mira o Tesla Model Y com o novo Optiq, um SUV do segmento D com 4.82 metros. Foto: Reprodução/GM Authority

O Paris Motor Show 2024 certamente ficará para a história centenária do evento como um recálculo necessário e exitoso de rota. Marcas voltaram à mostra, lançamentos importantes ocorreram e o público compareceu. Além disso, mais uma vez o rumo que a indústria se encaminha foi destacado, um cenário crítico de reinvenção e reajustes.

O modelo clássico do sistema de educação vem se tornando cada vez mais obsoleto e desinteressante para os alunos, mas a tecnologia tem tudo para mudar isso.
por
Henrique Baptista Martin
|
21/11/2022 - 12h

Por Henrique Baptista Martin

A educação é um dos pilares mais importantes na construção de uma sociedade.Além de ser um direito imprescindível, é uma chave para criar cidadãos mais críticos, conscientes e participativos em relação aos seus direitos e deveres. No Brasil, a taxa de abandono escolar vinha apresentando queda desde 2010. Em 2020, cerca de 2,6% dos alunos matriculados no ensino médio das redes estaduais de ensino abandonaram a escola. Em 2021, esse número mais que dobra: chegando a 5,8%, um pouco acima da taxa de abandono de 2019 (5,5%).  

 

 

Sim, após a pandemia e “obrigatoriedade” instantânea de adaptação tecnológica, esses números vem subindo, mas não deveria ser ao contrário? Bem, isso simplesmente não aconteceu e os alunos ficaram sem aulas como no caso de muitas escolas da rede pública, e mesmo quando feito foi realizado de uma forma muito negativa, simplesmente transmitir uma aula sem qualquer tipo de interação como foi feito não tem nada de adaptação tecnológica. 

Para esclarecer alguns pontos e contar também um pouco o lado do educador convidamos o professor Edson Ciotti, que já exerce sua profissão há mais de 15 anos e é um apoiador do uso tecnológico nas salas de aula. Quando perguntado sobre o período pândemico e a relação professor-aluno na classe, Edson ressalta que: “O professor precisou se reinventar para fazer aulas 100% virtuais. Muitas escolas acabaram investindo em estruturas tecnológicas digitais, mesmo as que possuem menos recursos (...) As aulas eram transmitidas, pois não havia interação dos alunos com o professor, câmeras fechadas, microfones fechados, alunos desconectados.” 

Ciotti também projeta o que vê como ideal para o futuro da educação digital, “Espaços cada vez mais interativos, onde os alunos sejam protagonistas, participem mais de tudo para melhor conexão com o conhecimento.” e complementa dizendo que gostaria que esses espaços fossem sem fronteiras tanto para instituições públicas quanto privadas. 

Em suma, a educação no Brasil parece não estar nem perto desse ideal de integração tecnológica, e ainda encontra problemas básicos de infraestrutura, o que dificulta muito um pensamento nesse sentido no momento, porém é muito importante que esses temas sejam discutidos e tenham um investimento desde já nessa área para que no futuro o terreno já esteja preparado para uma inevitável revolução tecnológica no sistema educacional.  
 

Após o assassinato da jovem iraniana a Internet se uniu na busca por justiça dela e de muitas outras mulheres que morreram nessa luta
por
Beatriz Vasconcelos
|
22/11/2022 - 12h

Por Beatriz Camargo Vasconcelos

 

No dia 13 de setembro, a jovem de 22 anos, Mahsa Amini foi detida pela polícia acusada de usar o hijab de maneira imprópria deixando o cabelo aparecer, assim desrespeitando o código de vestimenta feminina implementado pelo governo iraniano. Três dias depois, 16 de setembro, Amini foi espancada até a morte sob custódia da polícia. O governo iraniano insistiu que a  morte foi causada por um ataque cardíaco, mas relatos indicam que ela sofreu uma fratura no crânio devido a fortes pancadas na cabeça. Após a morte da jovem, protestos de rua se espalharam por todo o Irã e o caso se transformou em um símbolo de revolta no país. Com o slogan “mulheres, vida, liberdade”, mulheres de todo o país estão lutando pelos direitos humanos. Como forma de conter os protestos o governo vem agindo com muita violência e rigidez. De acordo com a ONG Iran Human Rights, até a última segunda-feira (7), haviam morrido 304 pessoas, sendo elas pelo menos 41 crianças e 24 mulheres.

Mulheres cortam o próprio cabelo em protestoOs protestos se propagaram pela Internet através de vídeos das manifestações de rua no Irã que viralizaram. Mulheres de todos os países começaram a cortar o próprio cabelo em suas redes sociais como forma de apoio. A hashtag #mahsaamini, atualmente tem 1,5 bilhões de visualizações no Tik Tok e 1,2 milhões de publicações no Instagram. As publicações variam de vídeos de apoio aos protestos a vídeos informativos contando o caso da jovem e mostrando imagens dos protestos para aqueles que estão alheios à situação.

Em um mundo movido pela tecnologia e pelas redes sociais, essa forma de apoio é cada vez mais recorrente, porém em um país tão rígido e conservador como o Irã, esse tipo de amparo realmente ajuda? “Não penso que atrapalhe. Esse movimento é uma revolução das mulheres contra um regime de apartheid de gênero. Se os protestos tomaram essas proporções, é porque estamos diante de algo que fere a humanidade como um todo. É a dignidade sendo tirada de milhares de filhas, mães e avós. Infelizmente é algo que não é recente, e sim enraizado. A agressão e rigidez do governo foi desde o começo dos protestos explicitamente violenta. O que contribui para que essa brutalidade continue por anos e mais anos é o abafamento.” conta a estudante de direito e criminologia Helena Grani.

Em entrevista, o professor, jornalista e escritor José Arbex Jr. opina sobre o tema: "Se por exemplo elas (manifestações nas redes sociais) estimularem um processo de manifestação de rua, combinado com a pressão internacional de outros governos sobre o regime iraniano, talvez resulte em alguma coisa, mas não me parece o caso. O Irã tem um regime muito forte que é capaz de aguentar pressões muito grandes, e eu não acho que nós estejamos em um ponto que o regime vai ser obrigado a alterar alguma coisa em função desses atos que estão acontecendo agora. Nós já tivemos manifestações bem mais fortes no Irã em outras circunstâncias que não resultaram em grande mudança.”

professor e jornalista José Arbex Jr.O jornalista também explica que o Irã se encontra em uma situação de crise que não diz respeito apenas a esse evento em si, mas a uma crise social e financeira, que é provocada por pressões dos Estados Unidos e é resultado de uma situação muito mais complicada que diz respeito ao equilíbrio geopolítico do Oriente Médio. “Então é óbvio que uma  manifestação de rua provocada pelo assassinato da moça pode sim ser como acender um palito de fósforo num depósito de pólvora.”

Além de ser estudante, Grani também cria conteúdo nas redes sociais e participou do movimento de apoio aos protestos. “Quando posto esse tipo de conteúdo, procuro aos poucos trazer a atenção para problemas maiores, geralmente estruturais. A desinformação mata, nós vemos isso no dia a dia. Pessoas protestando sem fundamentos, a polarização política, e até mesmo o desconhecimento da lei. Prefiro gastar alguns minutos informando, e se conseguir fazer com que pelo menos uma pessoa pare o que está fazendo e fique a par de uma situação de violência estrutural que afeta não só as mulheres iranianas, mas o mundo como um todo, já vou estar feliz. Imagino que num mundo onde as pessoas esquecem as coisas rápido, quanto mais interação elas tiverem com a informação maior será a chance de lembrarem daquilo depois.” disse.

Por conta das proporções que os protestos tomaram, o governo iraniano desligou a Internet em partes do Teerã e do Curdistão e chegou a bloquear plataformas de redes sociais. “Considero essa estratégia eficaz se estivermos falando de um retrocesso dos direitos humanos. Como cidadã de um país democrático, acredito que nenhum silenciamento é eficaz para combater conflitos.” comentou a estudante.

Levando em consideração outro ponto de vista, Arbex concorda parcialmente. “Nós sabemos que as tentativas de abafar a circulação de informações pelas redes sociais são eficazes até certo ponto. Sempre é possível driblar a censura porque os provedores das redes sociais estão situados em várias partes do mundo e é impossível o país bloquear completamente as redes, até porque grande parte dos serviços da burocracia estatal, das comunicações, hoje são feitas via internet. Então é impossível manter completamente bloqueado. Eu acho que numa certa medida eles são eficazes, mas não 100%.”

Os protestos se espalharam pelas universidades, mesmo com o movimento estudantil paralisado nos últimos anos, por conta da forte repressão governamental. Após todos esses anos os campi voltam a ser um ambiente primordial para os protestos. De acordo com o Iran Human Rights, o governo tem entrado nas universidades para prender os estudantes de forma violenta. Também existem evidências de que, além das forças armadas, forças à paisana, que também estavam armadas, se passaram por estudantes e atacaram e sequestraram estudantes da universidade. Condenando todas essas ações, no dia 30 de outubro, a ONG utilizou da Internet, por meio de seu site, para publicar uma nota pedindo que outras universidades e instituições acadêmicas do mundo repudiem o ocorrido como forma de apoio.

“A internet evolui um pouco a cada dia. Não há muito tempo, sua única função era fazer e receber ligações, enviar e-mails. Eu sinto que a nternet é um lugar perigoso. Na medida que os aplicativos nos possibilitaram expor nossas opiniões e circular conteúdos, de forma democrática e muitas vezes anônima, os usuários puderam usufruir dela de acordo com suas intenções. Não é à toa que mais da metade dos crimes ocorrem por trás das telas. A tecnologia inova, as possibilidades de infração também. Entretanto, existe um lado da Internet muito bonito. É o lado digital do direito, que se utiliza da rede mundial como ferramenta de justiça. Como sabemos, o sistema penal é falho. Uns casos têm mais atenção que outros, devido a desigualdades e preconceitos sociais, de raça, gênero... O uso da internet para a veiculação, conhecimento e conscientização da criminalidade e onde ela ocorre é um grande passo para uma sociedade mais atenta, empática e justa.” adiciona Grani.

Na luta conjunta pela justiça, todos querem ajudar de alguma forma, mesmo que seja do outro lado do mundo. “Compartilhar, comentar, e ajudar o conteúdo a engajar nas redes sociais. Pesquisar de que outras formas você pode ajudar mesmo remotamente. Mas antes disso, tomar muito cuidado com a fonte e a veracidade das informações. Quem não questiona apenas contribui para a propagação do ódio e das fake news.” conclui Helena.

 

 

A Startup Onkos reinventa os exames oncológicos trazendo resultados mais precisos e um tratamento menos agressivo para pacientes
por
Beatriz Vasconcelos
|
17/11/2022 - 12h

Por Beatriz Camargo Vasconcelos

Todo ano no Brasil cerca de 700 mil pessoas recebem o diagnóstico de câncer e 225 mil morrem por conta da doença, conforme aponta um levantamento feito pelo Instituto Oncoguia, em 2020. Um dos principais procedimentos para o diagnóstico do câncer, as biópsias, tiveram uma redução de 39,11%, quando comparados os meses de março a dezembro de 2019 e 2020. Esses números em situações comuns no Brasil já são baixos, considerando que o país tem uma alta taxa de diagnósticos tardios, porém com a condição atípica mundial, a pandemia da COVID-19, esses números tendem a diminuir. 

A startup Onkos, criada em 2015 em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, torna este processo de diagnósticos mais simples e eficiente. “O laboratório foi criado com o intuito de minimizar ou evitar terapias, procedimentos e cirurgias desnecessárias. ” diz Mirela Prates, Analista Pleno de Laboratório.  Em parceria com o Hospital de Câncer de Barretos, diversos laboratórios e universidades como UNICAMP, USP, UNESP, a Onkos utiliza de uma plataforma tecnológica para evitar que pacientes com neoplasias passem por tratamentos agressivos. 

Os exames realizados são feitos por sistemas de computador que aprendem à medida que recebem novas informações e criam escalas de risco baseadas no material genético das células que sofreram as mutações. “Todos os exames são desenvolvidos a partir de uma plataforma tecnológica proprietária chamada de Gene Expression Profiling, unindo o conhecimento de técnicas de Biologia Molecular com sofisticadas análises de Inteligência Artificial. Esta plataforma visa identificar assinaturas genéticas específicas e personalizadas que respondam com maior acurácia e precisão dúvidas diagnósticas não solucionadas por completo pelas técnicas atuais. ” explica Prates.

infográfico sobre gene expression profile
Infográfico explicativo por: onkos

 

O objetivo desses testes é eliminar qualquer incerteza da classificação dos riscos que o paciente corre e evitar tratamentos agressivos desnecessários. Para isso, os pesquisadores investigam a atividade de moléculas chamadas microRNAs. Elas são como pequenos RNAs que não traduzem a informação do DNA em proteína com função específica, mas com capacidade de controlar a atividade do próprio RNA. Em alguns processos patológicos, como o câncer, essas moléculas reprimem ou desregulam uma expressão gênica para ter atividade oncogênica ou mesmo suprimi-la.

 

Nódulos da tireoide

O diagnóstico dos nódulos de tireoide é o principal trabalho realizado pela Onkos. A Analista, responsável técnica na realização e análise de todos os exames realizados pelo laboratório (mir-THYpe  full e mir-THYpe pre-op), conta como funciona o processo da realização dos exames por meio dessa plataforma tecnológica. “O exame de classificação molecular de nódulo de tireoide indeterminado é indicado para pacientes com nódulos de tireoide indeterminados, ou seja, que na análise citológica da(s) lâmina(s) de PAAF (Punção Aspirativa por Agulha Fina) tiveram classificação no Sistema de Bethesda categorias III ou IV e, em casos selecionados, V. [...] O exame analisa também um perfil de expressão de microRNAs e, através de um algoritmo, auxilia de forma acurada na classificação de nódulos de tireoide indeterminados avaliando o comportamento molecular da amostra para malignidade em “positivo” ou “negativo”. A performance do exame foi calculada com base em um estudo de validação que comparou os resultados obtidos pelo mir-THYpe utilizando o material genético extraído de amostras de lâminas de citologia de PAAF de pacientes com nódulos de tireoide indeterminados, com os resultados do exame histológico pós-cirúrgico dos mesmos nódulos. O exame também faz a análise isolada da expressão dos microRNAs miR-146b (biomarcador preditor de comportamento potencialmente mais agressivo em carcinoma papilífero) e miR-375 (biomarcador de carcinoma medular de tireoide). O teste possui 94% de sensibilidade e 81% de especificidade”.

infográfico sobre o funcionamento do teste molecular para nódulos de tireóide
Infográfico explicativo por: onkos

Antes da iniciativa da startup, os exames de diagnóstico para os nódulos de tireoide tinham uma significativa parte dos laudos com resultado indeterminado. “A classificação Bethesda III e Bethesda IV, são denominadas indeterminadas, isso significa que ela não conseguiu identificar se aquele nódulo é benigno ou maligno (câncer), uma prática geral é a de realizar cirurgia em casos de nódulos indeterminados, e é aí que nosso exame mir-THYpe® full é indicado. Utilizando a PAAF já coletada o teste molecular “reclassifica” o nódulo “benigno” ou “maligno” com uma alta precisão. Quando nosso teste reclassifica um nódulo, que era indeterminado em “benigno”, pode-se evitar uma cirurgia diagnóstica e manter a tireoide do paciente intacta!” explica a assessoria da empresa.

Todo esse processo da realização dos exames para diagnósticos mais precisos são muito importantes na tomada de decisões do médico. Quando se trata de pacientes com tumores, essas escolhas feitas, seja por uma clínica ou pelo próprio médico são cruciais para a vida dessa pessoa. Por isso, para que o profissional possa deliberar com certeza e precisão, é preciso que os exames tenham muita acurácia e precisão. Nesse quesito a tecnologia é uma ajuda muito bem-vinda. “O exame pode ajudar a prevenir cirurgias desnecessárias através da reclassificação do nódulo indeterminados na tireoide em potencialmente negativo (benigno) ou positivo (maligno) para malignidade, facilitando a tomada de decisão do médico. ” conclui Prates.

            Os benefícios do teste não acabam por aí, a assessoria da Onkos conta mais alguns pontos positivos do exame. “[...]geralmente quando um nódulo é classificado como indeterminado isso causa muitas dúvidas, incertezas e medo para ao paciente e seus familiares e, ao usar o teste molecular para “reclassificar” o nódulo, o médico consegue diminuir esse sentimento de angústia e dúvida e proporcionar um diagnóstico mais preciso ao paciente. Para nódulos com indicação cirúrgica, a personalização da cirurgia que os teste moleculares proporcionam é muito vantajosa ao médico, pois economiza tempo, recursos, proporciona uma assertividade melhor na cirurgia além de trazer mais segurança ao paciente, pois indica se aquela cirurgia precisará ser urgente ou não. ”

            Atualmente a empresa está desenvolvendo um novo tipo de exame, ainda não disponível no mercado, “Nossa equipe de pesquisa e desenvolvimento em parceria com a FAPESP estão desenvolvendo um novo teste para identificação de origem tumoral para cânceres metastáticos de origem primária desconhecida será lançado em breve.[...] Nosso exame visa a partir de biomarcadores realizar a identificação do sítio primário do câncer para um tratamento mais adequado.” conta a assessoria.

            Testes moleculares como os disponibilizados pela Onkos trazem muitos benefícios tanto para os pacientes quanto para os médicos. “Além de serem pioneiros no país, nossos exames são validados com pacientes brasileiros e proporcionam inovação na área médica brasileira. A medicina de precisão é o futuro da área médica, pois consegue analisar paciente por paciente, diminuindo tratamentos generalistas e proporcionando mais acurácia nos diagnósticos.” conclui.

Com o crescimento de casos de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista, muitos cientistas e pesquisadores passaram a estudar os benefícios da alimentação no tratamento
por
Nathalia Teixeira
|
16/11/2022 - 12h

Por Nathalia Cristina Teixeira Bezerra

Nos últimos anos, os casos de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA) aumentaram significativamente. Dados do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que, em 1970 a proporção de crianças autistas era de uma a cada dez mil. Já em 1995 aumentou para uma a cada mil. Em 2018 os números começaram a ficar preocupantes: uma a cada 59 crianças eram portadoras desse transtorno de neurodesevolvimento. Em 2020 foi registrado um para cada 54 e agora, em 2022, uma a cada 44 crianças é autista.

Com a ascensão nos números de crianças neuroatípicas, cientistas do mundo inteiro passaram a estudar o que pode ter ocasionado esse boom do TEA. Apesar das pesquisas ainda estarem em um estágio inicial, profissionais da área se dividem em sugestões do que pode ser a explicação para o fenômeno. Uma das principais hipóteses envolve a alimentação e a quantidade de substâncias pesadas que os seres humanos passaram a ingerir nos últimos anos, como por exemplo os metais. No Brasil, a ingestão de metais pesados como mercúrio, chumbo, cádmio e outros, pode ter sido decorrente do acidente da Vale, que aconteceu em 2014. Outro ponto é a contaminação dos peixes, principalmente nas regiões ribeirinhas do Espírito Santo, que pode estar promovendo problemas de saúde diversos na população brasileira.

Ao relacionar autismo e nutrição há um outro aspecto que também é importante ressaltar. Após o diagnóstico, a alimentação passa a ser um fator determinante no tratamento. Isso porque portadores do TEA, principalmente crianças, possuem intolerância à glúten, lactose e outras restrições alimentares a depender de cada caso. Viviane de Oliveira, estudante de medicina e mãe de Luiz Filipe, um menino autista de cinco anos de idade, fala um pouco melhor sobre como descobriu que a alimentação de seu filho poderia influenciar no TEA: “após quatro meses de vida ele já começou a apresentar reações alergênicas. [...] Ele tomou muitos corticoides, antibióticos e outros remédios, pois sempre estava com rinite alérgica, sempre com problemas pulmonares que liberavam muito muco. Isso já foi um alerta para eu ter uma atenção especial à saúde dele”, relembrou a estudante. “Quando ele teve o diagnóstico de autismo, comecei a pesquisar sobre e descobri uma médica cujo filho é autista e que começou um tratamento de disbiose intestinal, que seria a desinflamação do intestino. Achei super interessante e vi que a primeira coisa que se fazia nesse tratamento era a retirada do glúten, que é um agente inflamatório pro intestino e o leite, que provocava toda essa mucosidade nele”, disse. A partir daí, ela contou que assim que retirou o leite percebeu que seu filho nunca mais teve problemas com mucosidade. Depois, ao retirar o glúten, as crises de dermatite acabaram e inicialmente a ideia era essa de que a retirada desses alimentos iria curar apenas as alergias.

A terapia alimentar é bastante eficiente para o tratamento de autistas. Estudos recentes apontam que, além de reduzir as alergias típicas do TEA, a restrição de certos alimentos para crianças autistas faz com que elas se desenvolvam mais rápido do que outros indivíduos com a mesma condição. No caso de Luiz Filipe de Oliveira, a terapia alimentar fez com que ele desenvolvesse a fala. Como contou Viviane, “com a retirada do glúten e do leite percebi uma grande melhora nele na questão da saúde mesmo. Só que aí eu e os médicos começamos a perceber que o Luiz passou a ter um avanço cognitivo. As terapeutas começaram a elogiar ele, alegando que estava mais atento, fazendo as atividades corretamente e com maior tempo de concentração. Foi aí que me deu mais força de continuar a seguir nesse padrão, juntamente com uma médica ortomolecular que ajudou a fazer uma suplementação específica para ele e com isso eu só tenho visto melhoras”, sendo uma dessas melhorias a questão da fala. Ela contou que, conversando com outras mães, elas afirmaram que ao aderir o tratamento, tiveram ganhos e avanços no tratamento dos filhos. “Não só sobre autismo, conheço mães com filhos com TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) e com TOD (Transtorno opositor desafiador), que ajuda muito também a criança a se acalmar, tranquilizar e prestar mais atenção nas atividades”, pontuou.

 

Seletividade alimentar

A nutricionista Patrícia Ferraz explicou que a terapia alimentar auxilia também na questão da seletividade alimentar. A seletividade é uma característica típica de crianças autistas, que vale ressaltar, também possuem transtorno comportamental. Basicamente, ela consiste na rejeição de certos alimentos, como por exemplo legumes e verduras, que pode prejudicar diretamente as vitaminas e os nutrientes necessários para a alimentação da criança.

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Medicina de Massachusetts apontou que que crianças com TEA expuseram mais recusa alimentar do que as crianças com desenvolvimento típico, sendo representado cerca de 41%. Além disso, o repertório alimentar dos que participaram do estudo é bastante limitado: apenas 19% dos alimentos apresentados foram aceitos pelo grupo.

Segundo a profissional, “as crianças que não se alimentam corretamente, chegam com queixa de dores e irritações que são decorrentes da má alimentação [...]. Cada caso é único e é preciso analisar o contexto em que o pequeno está inserido, para estudar qual o melhor tipo de alimentação e como superar a seletividade alimentar”, isso porque, como disse a nutricionista, não existe um tipo de alimento específico que seja benéfico para o autista. Cabe ao profissional estudar e entender o que funciona para aquele indivíduo e proporcionar um plano alimentar adequado ao paciente.

 

A eficácia da nutrição é comprovada pela ciência?

Atualmente o tratamento com maior índice de estudos dentro da questão do autismo está baseado em intervenções dietéticas e nutricionais, O objetivo é minimizar qualquer tipo de efeitos deletérios causados pela má metabolização de substâncias alimentares agravadoras do espectro, como por exemplo o glúten.

O que ocorre é que os estudos, por estarem em fase inicial, ainda são bastante controversos e contraditórios. Ainda não há uma ciência que comprove a efetiva  melhora ou não no quadro clínico da criança, por isso a necessidade da avaliação de casos individuais. Tudo que se sabe relacionado à autismo e nutrição é baseado em casos específicos e relatos de pessoas que vivem na pele as melhorias. Apesar de profissionais da saúde acompanharem - e até mesmo indicarem - esse tipo de tratamento, a grande problemática é que os cientistas não conseguiram comprovar a efetividade através das pesquisas.

Em suma, a nutrição dentro do autismo é um tema que vai demandar muito a ciência nos próximos anos. Tanto pelo aumento do número de casos, quanto pela complexidade do assunto, são diversos os fatores que ligam a nutrição e o Transtorno do Espectro Autista, sendo os principais a ingestão de substâncias maléficas para o corpo humano, que é o fator mais provável - de acordo com as pesquisas que saíram até o momento - que causou o aumento repentino de crianças autistas, a prevenção de alergias e mal estar à autistas e a luta contra a seletividade alimentar, aspecto comportamental que é potencializado neste grupo. 

 

O mercado de programação segue crescendo e cada vez mais abrindo portas no Brasil
por
João Pedro dos Santos Lindolfo
|
15/11/2022 - 12h

Por João Pedro dos Santos Lindolfo

É quase impossível pensar em uma sociedade sem as tecnologias digitais hoje em dia, principalmente levando em conta de que praticamente tudo que fazemos e usamos no nosso dia a dia, é preciso uma plataforma, seja para pagar contas, jogar jogos eletrônicos e até fazer compras online. O que poucos pensam sobre o caso é de que todas essas tecnologias possuem alguém por trás, um alguém para criá-las e aperfeiçoá-las. Esses são chamados de programadores e eles fazem parte de uma profissão em constante crescente no mercado de trabalho atual.

     É até autoexplicativo o porquê desse crescimento em massa da procura de emprego no mercado de programação. Devido à alta procura por empregados, são mais ofertas de trabalho do que profissionais qualificados. Além disso, a boa remuneração é o que chama muitos a procurarem seguir carreira na programação, isso se deve a quantidade de empresas estrangeiras procurando jovens aqui no Brasil, o que causa na remuneração em moeda estrangeira e assim ganharem um bom dinheiro mesmo não possuindo um cargo tão alto. Outro caso é da facilidade de trabalhar em qualquer lugar em que esteja, com a presença de um notebook ou um smartphone, você trabalha onde bem entender.

      Alguns especialistas resumem a profissão de programador como democrática, visto que não importa questões como raça, gênero, cor, idade ou localização, apenas sua eficiência e produtividade vão te definir no mercado de trabalho de programação. Além disso, vários profissionais da área afirmam sua profissão como sendo nada monótona e com isso, aprendem muito enquanto trabalham, seja em áreas como design, cálculos, você em algum momento usará ferramentas que não possui nada de conhecimento e assim será forçado a aprender, podendo até agregar em algum trabalho no futuro.

     Algo que impulsionou o mercado de programação nos últimos anos foi a pandemia do COVID-19. Visto que a quarentena tomou conta do mundo, diversas pessoas não tinham escolha a não ser se adaptar ao estilo do home office e isso não foi diferente para os programadores, na verdade a pandemia não atrapalhou seu estilo de vida e trabalho e sim impulsionou, pois foi nesse período que começou a maior parte da procura pelo cargo de programação, seja de adolescentes que estavam sem nada o que fazer em casa até adultos que queriam de alguma forma ampliar seu conhecimento e acabaram levando a carreira adiante.

     Lucas Ribeiro, programador júnior explica que sua rotina em casa pós ensino médio e na pandemia era basicamente assistir vídeos e jogar videogame, porém para ele, essa vida estava monótona e sem frutos algum na sua vida depois do fim da escola. Começou a ter interesse em programação após ver alguns vídeos sobre o assunto e antes de começar a faculdade já começou a aprender sozinho como começar nessa área. Como uma forma de passar o tempo, Lucas achou sua profissão no meio desses vídeos. Ele explica que conforme foi conhecendo a área, percebeu que a profissão de programador de nada era monótona e que sim era muito ampla, visto que o mercado de trabalho hoje procura além de apenas programadores que ficam sentados na cadeira digitando e digitando. A grande procura veio também nas áreas mais mecânicas como a criação de softwares, computadores e diversos outros aparelhos. Lucas diz que nessa área, aprendeu que você, independente de quantos anos possui ou de sua experiência, você sempre será um aprendiz, porque é uma área que os conhecimentos são infinitos, a ponto de o tempo todo você estar aprendendo algo que nunca viu antes.

    O nosso mundo de hoje é impossível de ser visto sem essas tecnologias. Tudo que usamos, todos que contactamos é por meio da tecnologia e isso tende a apenas aumentar para o futuro. A carreira no mercado de programação tende a crescer junto.