Nos últimos meses, ganhou espaço na mídia o fato de um casal que teve sua entrada no estádio do Mangueirão para assistir a partida entre Remo e Corinthians barrada. O evento aconteceu na quarta-feira, dia 12/04 e, na ocasião, Luíza Flores e Amário Fernandes estavam com seu filho: Daniel, de 12 anos e autista.
Segundo Amaro, foram comprados três ingressos de visitantes no valor de R$200,00 cada, porém, devido à grande excitação dos torcedores em torno do jogo, uma confusão foi formada nos arredores do estádio e, por isso, a diretoria do Clube do Remo decidiu fechar os portões e impedir a entrada de mais torcedores, inclusive aqueles que apresentavam ingresso. Em nota, a diretoria do clube negou as acusações e afirma que registrou um boletim de ocorrência para apurar o caso e encontrar os responsáveis, que devem “responder dentro dos limites da lei”.
"Compramos três ingressos de visitantes, cada um por R$ 200,00, e não vamos poder assistir ao jogo porque o Clube do Remo fechou o estádio e ninguém entra mais. Meu filho, que tem Autismo, não vai poder ver o jogo do Corinthians, não vai poder ver o time dele. Ele passou a semana inteira falando que ia ver o Corinthians, mas não vai poder por determinação do Clube do Remo, é isso que está acontecendo hoje no Mangueirão", desabafou Amário.
O autismo:
Na ocasião relatada, mais pessoas tiveram suas entradas barradas no estádio, porém, os prejuízos e consequências que isso pode trazer para uma criança autista podem ser muito maiores devido à alguns fatores relacionados ao transtorno.
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição neurológica que afeta a comunicação, o comportamento social, a percepção dos sentidos e pode resultar em interesses restritos e repetitivos. Para crianças autistas, a rotina e a previsibilidade são fundamentais e desempenham um papel significativo em suas vidas, como se fossem uma fonte de conforto e estímulo.
Dentro dessa condição, existem diferentes níveis de suporte. Significa dizer que um autista nunca será igual ao outro e sempre terá habilidades, dificuldades e características únicas. Mesmo assim, é muito comum que eventos onde ocorra quebra de expectativas sejam muito estressantes.
É o caso de Daniel, que esperava ansiosamente para ver seu time de coração em campo e teve um profundo impacto ao ser barrado. Nesses casos, a carga emocional pode ser tão grande a ponto de gerar crises de agressividade e desligamento.
A sala sensorial:
O Mangueirão, palco da polêmica, possui em seu interior uma sala destinada ao uso exclusivo de pessoas que estão no espectro autista. O local, denominado “espaço TEA” e mantido pela Cepa (Coordenação Estadual de Políticas para o Autismo do Pará), tem como objetivo ser um lugar onde crianças, jovens e adultos possam se sentir confortáveis e se regular sensorial e emocionalmente, já que o ambiente da arquibancada e da torcida é muito estimulante e pessoas dentro do espectro podem ser mais sensíveis a esses estímulos.
Ao passo que algumas pessoas nas redes sociais começaram a apontar uma suposta incoerência no ocorrido e cobrar uma posição do órgão, Nay Barbalho, coordenadora de Políticas Públicas Para o Autismo, fez um posicionamento sugerindo que o governo não tem responsabilidade sobre o caso, uma vez que é responsável apenas pelo funcionamento do 'espaço TEA', do lado interno do Mangueirão.
"É importante que a gente coloque as responsabilidades de cada um nessa problemática. A Secretaria de Saúde, por meio da Coordenação Estadual de Políticas para o Autismo, é responsável pelo 'espaço TEA', tanto do lado A, quanto do lado B. Lá, vão ter acesso pessoas que já estão dentro do estádio. O ingresso que elas comprarem, onde elas comprarem, do time que elas comprarem - isso não nos cabe. Nos cabe receber as pessoas lá dentro e dar todo o atendimento, acolhimento, tecnologias assistivas para que pessoas autistas possam estar dentro daquele espaço".
As problemáticas:
Deixando de lado a responsabilidade pelo acontecido, temos um fato: Daniel, um menino autista de 12 anos, foi afetado e prejudicado pelo que ocorreu. Alegações dos pais e dos que saíram em defesa do menino afirmam que era de se esperar que os funcionários de um local que conta com um espaço destinado especificamente ao TEA tivessem o mínimo conhecimento sobre a condição e, dessa forma, proporcionassem um tratamento diferenciado a ele.
Quando se fala de inclusão, é necessário que os envolvidos conheçam as características daqueles que pretendem incluir.
As individualidades:
O autismo se manifesta de maneira singular em cada indivíduo!
Já para Douglas, pai de Dudu e frequentador assíduo das quadras de futsal com seu filho, a condição dele não afeta a ida aos jogos.

“O Dudu ama ir aos jogos comigo. Hoje em dia, ele até pede. Grita, vibra, comemora os gols e não liga para o barulho da torcida. Quando eu o levei pela primeira vez, estava apreensivo, mas a experiência foi ótima e o esporte se tornou um grande interesse para ele”.
A experiência de Daniel e seus pais no estádio do Mangueirão ressalta a importância da sociedade estudar e entender o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A negação de entrada ao garoto de 12 anos, mesmo diante da existência de um espaço dedicado ao TEA no estádio, evidencia lacunas na compreensão e implementação de práticas inclusivas.
É importante que a conscientização e o treinamento se estendam não apenas aos profissionais diretamente ligados ao "espaço TEA", mas também aos funcionários que operam nos diferentes setores do estádio. A singularidade do autismo requer uma abordagem sensível e personalizada, e a falta de entendimento sobre ele pode resultar em situações muito prejudiciais, como demonstrado no caso de Daniel.
Por Laís Romagnoli e Khadijah Calil
Apontado como um dos principais produtores mundiais de alimentos e colocado em décimo lugar no ranking de países que mais desperdiçam comida, o Brasil tem a fome como um de seus maiores desafios. Hoje, milhões de brasileiros sofrem algum grau de insegurança alimentar ou passam fome diariamente e, enquanto isso, 46 milhões de toneladas de alimentos são perdidas por ano no país. Isso significa que é desperdiçada 8 vezes a quantidade necessária de comida para alimentar 33 milhões de pessoas. Somado à desigualdade, pobreza, negligência e falta de políticas públicas, o descuido alimentício causa a fome avassaladora no Brasil e no mundo, agonizando famílias diariamente.
Na linha de frente dessa luta contra a fome, está José Luiz Santos, de 56 anos. É em toda feira livre de terça-feira, na rua Ministro de Godói, que encontra-se José. Esse homem, que tem mais rugas na pele do que anos de idade, vive com a preocupação de um pai que tem quatro filhos para criar. Desempregado, José conta que perdeu seu emprego na época da pandemia e, desde então, sobrevive de “bicos”, contentando-se com um dinheiro apertado para sustentar sua família. José adquiriu assim a tática de chegar perto do fim das feiras livres dos bairros próximos a sua casa, para conseguir um preço mais baixo. Ele fica até a chamada “xepa” da feira e salva as verduras e frutas que seriam jogadas fora. É com alívio que José conta os resultados de sua prática semanal, a qual ajuda na alimentação de sua família. Assim como ele, muitas pessoas são vistas pedindo para os feirantes os alimentos que seriam descartados, ou também, já vão logo recolhendo do chão aquilo que se perdeu, que não é pouco, visto que a problemática do desperdício acontece principalmente na fase de produção e colheita, e na indústria, ceasas e Ceagesp.
Com o propósito de combater esse descuido com os alimentos, a ONG Banco de Alimentos (OBA) nasceu. Fundada em 1998, pela economista Luciana Chinaglia Quintão, a ONG trabalha para distribuir alimentos que perderam o valor de prateleira, mas que ainda são adequados para o consumo e extremamente valiosos para todos aqueles que necessitam. O que é coletado em supermercados, indústrias e produtores rurais é enviado, cuidadosamente, às entidades cadastradas no projeto social. Por trás desses processos, Diana Jalonetsky, da área de sustentabilidade da ONG e atuante no Projeto Inteligência Social, afirma que todo o esforço do OBA possui um bom retorno, já que em 25 anos, a instituição distribuiu mais de 10 milhões de quilos de alimentos, alcançando mais de 1,45 milhão de pessoas em situação de vulnerabilidade. Apenas o processo de Colheita Urbana, fez com que a comida coletada chegasse ao prato de 25 mil pessoas, atendidas por 57 entidades mobilizadas. Com orgulho, Diana diz que vale a pena todo tempo dedicado a atrair colaboradores sociais, utilizando assim, a comunicação e o marketing digital para expandir o propósito da ONG.
Entretanto, a popularidade da causa mostra os verdadeiros inimigos da missão fundamental do OBA. Indagada sobre os obstáculos em seu trabalho, Diana destaca com ênfase a falta de senso sobre a sustentabilidade. Além da fome avassaladora, cada 1 kg de alimento jogado no lixo, 400 gramas de gás metano é gerado, mostra Diana, ao apontar o impacto ambiental do desperdício de alimento. Para o começo de uma consciência social sustentável, o aproveitamento integral dos alimentos é incentivado ao invés do descarte de partes nutritivas dos alimentos como talos, sementes e cascas, pois é possível transformá-las em receitas nutritivas, balanceadas e saborosas. Diana ainda enfatiza com seriedade o papel de restaurantes e serviços alimentícios, que devem garantir um planejamento eficaz das compras, para evitar perdas. No caso de sobra de alimentos em condições adequadas para o consumo, é importante que os estabelecimentos tenham um processo regular de doação. Por isso, a ONG Banco de Alimentos fornece também educação nutricional às entidades sociais assistidas, por meio de atividades de nutrição totalmente personalizadas, disseminando boas práticas de manipulação e armazenamento. A colaboradora da OBA comenta ainda sobre os convênios com faculdades de nutrição, em que mais de 500 estagiários já passaram pela ONG entregando resultados extremamente positivos.
Outro exemplo de ferramenta é o Food To Save, criado na luta contra o desperdício de alimentos no Brasil e na América Latina. O App funciona com estabelecimentos que selecionam itens excedentes para montagem da Sacola Surpresa, disponibilizando para resgate na plataforma, com até 70% de desconto. Os preços são variados e você escolhe salvar uma Sacola Surpresa Doce, Salgada ou Mista. Na retirada, tem a opção de receber seu pedido via delivery, ou retirar a sua Sacola Surpresa no próprio estabelecimento onde realizou a compra. O ideal do app gera uma reflexão da forma como consumimos alimentos hoje, já que esses estabelecimentos participam com produtos perto da validade e repensam hábitos que contribuam para um futuro mais sustentável e humano.
Com isso, é inegável que nos deparamos com um atraso socioambiental: a mudança climática, a perda da natureza, a poluição e principalmente, os milhões de pessoas em situação delicada com a fome. Essa realidade exige, desesperadamente, que empresas, governos e cidadãos de todo o mundo reduzam o desperdício de alimentos e desenvolvam uma cultura sustentável.
Júlia Viana de Sousa Silva. "Não fiquei com medo, estava animada!" disse ela com brilho nos olhos. O motivo de sua partida? A falta de emprego em Piripiri, cidade do interior do Piauí, há 34 anos atrás. Julia era o tipo de pessoa que não se deixava abater pelas dificuldades, e quando uma porta se fechava, ela estava sempre pronta para abrir outra. A piauiense saiu de sua cidade natal, aos 20 anos, com um filho, buscando novas oportunidades.
Cidade de Piripiri- Fonte: Tripadvisor
Casou com seu marido aos 16 anos. Em 1989, seu esposo saiu da cidade do interior do Piauí e foi para Piracicaba, no estado de São Paulo, buscando oportunidades de trabalho. Três meses se passaram, até que ele conseguiu um emprego, em seguida Júlia pega seu filho e vai para um novo estado, uma nova cidade, encontrar com ele e começar uma nova vida.
“Para mim a parte mais difícil foi o clima, fazia muito frio em Piracicaba, mas de resto a gente deu um jeito” afirmou ela, reclamando da diferença entre as estações e temperaturas das cidades. “Quando um problema ou desafio aparece, eu resolvo e dou um jeito neles, estando com minha família o resto a gente corre atrás” disse ela com a voz determinada, passando resiliência e força.
Conseguiu seu primeiro emprego em uma empresa de alumínio da cidade. “Foi o emprego que consegui, a parte mais difícil foi deixar meu filho, que na época tinha 9 meses”, relata Julia. A família começou morando em uma casa alugada, na Paulicéia, bairro antigo e grande de Piracicaba.
Depois de um tempo, a família Silva conquista o sonho de se mudar para a casa própria. Porém novos desafios vieram pela frente. O bairro onde a família começou a construir seu novo lar, era em um bairro afastado da cidade, onde não havia creches para seu filho, o que fez com que ela deixasse o emprego.
Três anos se passaram, e Júlia voltou a trabalhar, mas dessa vez como doméstica. “Trabalhei em duas casas, com famílias que eram muito especiais, vi os filhos de algumas delas crescendo” disse ela, relembrando com carinho das pessoas que conviveu.
A piauiense acorda todos os dias às cinco e meia da manhã, prepara o café e às sete e meia já pega o ônibus para ir trabalhar. Ela trabalha em três empregos, “Só volto para casa de noite, perto das nove e meia, e no outro dia começa tudo de novo. Mesmo a rotina sendo cansativa, gosto de todos os empregos que tenho, vou sempre trabalhar feliz porque faço algo que me deixa bem e que me deixa conviver com pessoas que gosto”.
Minha experiência mais difícil:
Aos vinte e seis anos, a piauiense teve seu segundo filho, Mateus. “Quando ele era mais novo, sofreu um acidente que mexeu muito comigo. Ele foi atropelado e quebrou várias partes do corpo, também machucou a cabeça. Ficou 21 dias na UTI, até pediram para que eu autorizasse que desligassem os aparelhos, pedi a Deus que devolvesse meu menino, mas só se ele pudesse fazer e ser quem era antes. No mesmo dia fui falar com ele, que reconheceu minha voz, perguntei: “Você sabe quem tá falando com você”, e ele murmurou. Depois disso nem os médicos acreditaram, consideraram ele um milagre, hoje ele está bem, estudando para dar aula.”
Hoje, os dois filhos trabalham, e Julia ainda ganhou uma neta, que considera uma de suas maiores bênçãos e hoje tem dez anos.
Meu maior sonho:
Julia e seu marido depois de um tempo que se mudaram, começaram a construir a tão sonhada casa própria. A moradia é um sobrado, que por dentro foi finalizado, porém por fora ainda não é rebocada. “Meu maior sonho agora é trabalhar bastante para que eu possa finalizar por completo minha casa, que por fora ainda não está pronta” afirma ela com tom perseverante e animado.
“Acredito que se a gente correr atrás, batalhar e ter fé, acreditando nos caminhos que aparecem pra gente, podemos dar conta de qualquer problema.” conta ela, dizendo que vir para Piracicaba foi um dos maiores presentes que teve em sua vida, lugar onde ela construiu sua família e realizou suas conquistas.
Por: Nina Januzzi da Gloria

Na esquina da Avenida Mário Andrade com a Praça Doutor Osmar de Oliveira, debaixo de uma grande, ou do lado do ponto que passa o ônibus 175P-10 sentido Ana Rosa. Com sua mesinha, vendendo café, lanches e bolos, Gabriel passa suas manhãs conquistando sua renda mensal pelo trabalho informal há mais de 11 anos. Mas nem sempre foi assim.
Antes de começar a trabalhar nesse ramo, Gabriel trabalhava em uma gráfica, recebendo apenas doze reais por dia. Pelo trabalho que exercia, o salário era muito baixo. Incomodado, já estava pensando em deixar o emprego, por isso, foi conversar com seu chefe. Ele conseguiu um aumento, porém foi de apenas dez reais. Com isso, pediu demissão.
A entrada para esse mundo das vendas veio de um homem que vendia bolo perto de sua casa, região de Casa Verde. Ele ensinou tudo para o Gabriel, postura, como vender, estoque, até as receitas dos bolos. Mas o principal de todos, como tratar um cliente. Já sua mãe deu a ele aulas de despesas, economia e gastos.
Sempre com um sorriso no rosto, tratando os clientes como amigos. Quando alguém se aproxima ele fala “Bom dia”, “Bom dia meu anjo” e “Bom dia, patrão”. Ele também tem outra forma de ganhar o cliente “Se o cliente fala que o bolo tá sem açúcar eu não vou falar que ele está errado, eu deixo ele pegar outro e que na próxima vai estar certo”. Gabriel também teve ajuda do homem dos bolos para auto promovê-lo, sempre dizendo que passaria o ponto para ele, assim os clientes teriam a confiabilidade de continuar comprando no local.
O começo não foi fácil, além de ser um negócio que não dá uma certa estabilidade, tem a parte da timidez, da vergonha “Parecia que eu estava pedindo esmola”. Uma parede importante de se quebrar, porém difícil.
Perguntei a ele se já vivenciou alguma situação de desigualdade, e me contou a única que vinha a cabeça no momento.
Sua mãe havia guardado dinheiro para Gabriel e sua irmã para pagar a faculdade e coisas de seus interesses. Com uma boa quantia em mãos ele logo pensou em comprar um carro. Foi em uma primeira concessionária, mas a recepção não foi uma das melhores. O vendedor foi seco na explicação dos componentes do carro e para tirar dúvidas, ele não o via como comprador.
Ainda na tentativa de ter um carro, foi a uma segunda concessionária. Dessa vez, porém, o tratamento foi totalmente diferente. O vendedor foi muito atencioso, quase convencendo o Gabriel a comprar uma Mercedes, mas acabou ficando com um carro mais popular. Porém o veículo começou a apresentar problemas, assim, tendo que voltar à concessionária. Chegando lá, falou todos os defeitos que o carro tinha, o vendedor começou a falar os custos que ele teria, porém ele já tinha gastado todo o dinheiro com o carro. Com isso, mais uma vez, a abordagem mudou. No fim Gabriel conseguiu que o carro fosse pra revisão, por conta da rapidez que o automóvel apresentou problemas. Dessa experiência Gabriel ganhou maturidade e começou a se atentar sobre a responsabilidade financeira.
Essa decisão de comprar ou não a Mercedes poderia ter mudado completamente rumo da vida de Gabriel. Sua esposa, Bianca, e sua irmã tiveram uma briga que acabou em tapas, enquanto ele lavava a louça. Seus pais saíram de Minas para São Paulo após essa briga, azedando o pé do frango para o seu lado. Toda essa situação resultou na expulsão de Bianca da casa, e Gabriel foi junto, pois não podia abandoná-la. Eles foram expulsos da casa que haviam construído, na parte de cima da antiga casa dos pais, e sua irmã vivia em baixo.
Teve que viver de favor por um ano na casa da sogra, enquanto pagava a construção da casa, na qual demorou três meses para levantar. Na tentativa de ter algum lucro e de quitar uma dívida, Gabriel colocou a sua casa para alugar, e conseguiu! Porém a pessoa que alugou só trouxe prejuízo, não pagando o aluguel e quebrando os móveis da casa.
Pensando em sair das vendas, sua esposa ficou grávida, então decidiu continuar. Vendo como contornar a situação, procurou outro ponto de vendas, e encontrou, próximo a saída C do terminal Barra Funda, tendo sua virada de chave a partir desse momento, as coisas começaram a se estabilizar. Conseguiu voltar pra casa, deixando o orgulho de lado. “Imagina essa situação se eu tivesse comprado a Mercedes”
Hoje, Gabriel vive com Bianca e suas duas filhas e não pensa ficar apenas nas vendas “Minha mulher está fazendo faculdade, também penso em fazer, mas ainda não decidi qual curso”. E mesmo sem nenhuma graduação ele diz não ficar atrás na inteligência “Ela pode estar na faculdade, mas eu não fico atrás na inteligência não”, brinca Gabriel com seus 11 anos de experiência no mundo das vendas.
Um passo à frente
Fazer essa reportagem foi um grande desafio para mim, pois eu tinha que entrevistar uma pessoa que eu não conheço e cara a cara. Todas as outras entrevistas que eu tinha feito foram por e-mail, então eu nunca tinha vivido essa experiência.
Um dos principais motivos para querer fazer esse texto foi por conta do título, que eu achei sensacional. Modéstia à parte, me acho muito bom fazendo títulos. Minha ideia inicial era conversar com crianças que vendem doces na rua, mas seria muito trabalhoso e complicado. Então tentei encontrar algo relacionado a essa área.
Como sou do Tatuapé, sempre pego a linha vermelha para ir até a Barra Funda e, desde que entrei na PUC, eu via alguém vendendo café da manhã no terminal. Às vezes era um homem, às vezes era uma mulher. Então, a partir dessa ideia, eu tinha uma pauta.
Eu teria conseguido a entrevista antes? Talvez. Mas estava me faltando coragem para conversar sobre o trabalho. Passou segunda e terça, e eu não movi um pé pra conversar. Como eu teria mais tempo na quinta, quarta feira era meu deadline.
Então fui conversar com a moça, só que eu não sabia como abordar, tanto é que eu fiquei a rodear a mesa, na espera de que ela me notasse. No fim, uma senhora que estava comendo deu um toque para ela, indicando que eu queria falar. Creio que falei muito atrapalhado, pois estava muito nervoso e com vergonha. Bom, ela também. Ela disse: “Você não quer conversar com meu irmão, eu sou muito tímida e ele com certeza tem mais histórias interessantes”. Concordei, agradeci, e fui esperar o ônibus chegar. Ainda sinto que eu não abordei a situação direito, talvez eu pudesse insistir um pouco mais, mas só queria alguém para entrevistar para fazer o trabalho.
Então, no dia seguinte, com pouca vontade de ir. Fui. Com o pensamento de que valeria a pena. E a mesma cena se repetiu. Sentei-me no murinho, rodeei a mesa, e alguém deu um toque para o vendedor. Comprei um lanche, a única forma que encontrei de falar com ele, também porque eu esqueci de fazer meu lanche em casa.
Foi uma conversa muito boa, porque enquanto conversava com o Gabriel, eu via um pouco do seu dia a dia. Sempre muito simpático, de olho para ver se aparecia algum cliente. Parava a conversa para atender, tirava dúvida de locação. Até eu ajudei uma moça que perguntou onde passava o ônibus 175P. No fim das perguntas padrões a conversa fluiu melhor, algumas histórias que não cabiam nessa reportagem, mostrou foto de suas filhas. Me tratou como um amigo, assim como ele faz com todos os seus clientes
Um ponto importante é que, da próxima vez, é melhor gravar a conversa do que ficar anotando em um caderninho, porque não dá para pegar toda a essência da conversa, e provavelmente eu deixei escapar muita coisa. Por isso que eu acho que eu não contei a história direito, talvez esteja muito superficial, talvez falte um detalhe importante, mas tudo serve como aprendizado.
O mais importante de tudo isso foi o passo que eu dei para quebrar essa minha timidez, e quando eu comentei com o Gabriel, ele também me contou sua experiência, que nunca é fácil, mas sempre tem um começo para a mudança.
Para quem pegar a linha vermelha, a mesa de café da manhã vai estar ou com o Gabriel ou com sua irmã, creio que eles revezam. Deem uma passada lá, jogar uma conversa fora, comprar um lanchinho, um bolo, um cafezinho.
Obrigado pelo lanche Gabriel, estava muito gostoso.
Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP
A chapa “CACS é pra brilhar” venceu as eleições do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS) após tumulto na apuração dos votos e pressão de estudantes sobre a Comissão Eleitoral. A chapa recebeu 63 votos, do total de 156, e se reelegeu para um novo mandato, com duração de um ano.
Nesta terça (26), a chapa comemorou a reeleição nas redes sociais com uma foto de integrantes da gestão, acompanhada de breve discurso sob o púlpito virtual. "Esta vitória não é apenas da chapa, mas de todos nós que acreditamos na importância das Ciências Sociais, da História e das Ciências Socioambientais", celebram. "Juntos, temos a oportunidade de fazer a diferença em nossa comunidade acadêmica, promovendo o diálogo, a inclusão e a busca pelo conhecimento".
"Acredito que termos ganhado demonstrou que a gente conseguiu fazer um bom trabalho", afirma o presidente da nova gestão do CACS, Felix Rodrigues. "E, sendo a segunda vez, a cobrança é muito maior".
A gestão composta por militantes do PT (Partido dos Trabalhadores) e estudantes autônomos foi declarada vencedora após um desentendimento na apuração dos votos. Em comunicado, a Comissão Eleitoral anunciou que nenhuma das chapas havia atingido o marco de 50% + 1 de votos válidos - porcentagem mínima necessária para a vitória em eleições com mais de uma chapa, com exceção de alguns pleitos, como o presidencial na Argentina - e decidiu por não anunciar o vencedor até que uma assembleia de curso fosse marcada para decidir se haveria ou não um segundo turno. Segundo a entidade, entretanto, o regulamento das eleições estava ambíguo quanto à necessidade ou não de uma eleição de dois turnos.
"Eu não acho que a Comissão Eleitoral errou em não ter dois sumos, ela errou quando propôs isso [segundo turno], sendo que já tinha acontecido uma assembleia para definir que não aconteceria o segundo turno", aponta Rodrigues. "Quando a gente tem três chapas, 50% mais um é quase impossível". O presidente eleito agradeceu aos votos, mais de uma vez, e espera que as próximas eleições não sofram os mesmos transtornos.
Em conversa com a Agemt, o coordenador do curso de Ciências Sociais e professor do departamento de antropologia da PUC-SP, José Paulo Florenzano, definiu como positiva a mobilização em torno do processo eleitoral, desde a maneira como as chapas se organizaram até o engajamento do movimento estudantil. “O processo é muito rico, e isso era algo que estava se perdendo dentro da eleição do centro acadêmico”, destaca. “A retomada da discussão, da contraposição de ideias, de chapas que forçam debate e o esclarecimento a respeito das questões que interessam ao estudante é de fundamental importância. Eu vejo como muito promissor o resultado do processo eleitoral, mais do que propriamente a definição da chapa que foi vencedora”.
As eleições do CACS envolvem os cursos de História e Ciências Socioambientais, que passam por precarização nos últimos semestres com fechamento de turmas de licenciatura em História e falta de estrutura.