O fato de a extrema direita estar em constante crescimento entre a geração mais jovem não é novidade para quem minimamente se interessa por política. Andrea Dip, repórter investigativa independente, conta suas experiências infiltrada em congressos da direita, compostos pela bancada evangélica, fundamentalistas cristãos e conservadores. A repórter menciona que essas figuras de poder se reúnem, em média, mensalmente, para debater sobre discursos nacionalistas, eugenistas, xenófobos e homofóbicos. O questionamento a se fazer é: o que atrai o público jovem e de que maneira esse discurso se infiltra nas raízes da nova geração?
A jornalista informa, sobre a aproximação dos jovens com o discurso radical, que “a extrema direita está sabendo capitalizar e instrumentalizar, sabe usar muito melhor as redes sociais, sabe dar respostas fáceis e utiliza uma visão idealizada do passado para propor o futuro”. Tendo em vista tal afirmação, faz-se necessário realizar uma reflexão sobre a atual situação social. Figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira e o ex-presidente da República, atualmente inelegível, Jair Messias Bolsonaro, utilizam suas redes sociais como ferramentas para conquistar cidadãos jovens que são amplamente engajados nas comunidades virtuais. No último domingo (30/04), Nikolas ridicularizou o deputado federal André Janones, apoiador da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de uma comparação física entre André e um personagem de desenho animado, gerando grande repercussão e viralizando entre adolescentes e jovens adultos.

As piadas aparentemente inocentes são intencionais para fisgar jovens pouco informados politicamente, que veem figuras políticas que, através de um estereótipo, tendem a apresentar alto nível de seriedade, transformando pautas sérias em diversão. Tal metodologia de abordagem ideológica tem dado resultados, visto o crescimento de discursos conservadores e repetitivos entre adolescentes, raramente embasados. Associar a extrema direita com a ideia de rebeldia vem se tornando uma realidade entre estudantes. Na década de 80/90, ser rebelde era sinônimo de oposição ao sistema, à direita e ao conservadorismo. Discursos neonazistas e neofascistas, também resultado da idealização de um passado distorcido e da ausência de manutenção da memória coletiva da sociedade, têm se tornado cada vez mais comuns. Jovens frustrados, com receio de rejeição e com vontade de se “oporem” a um sistema que é, na visão apresentada para eles em redes sociais como visto acima, de esquerda, têm uma tendência maior a adotar discursos semelhantes aos de regimes totalitários e nacionalistas. A repórter afirma que ser jovem deixou de ser um ato revolucionário; com a era moderna, a esquerda deixou de ler a direita, e a direita segue interpretando e se inserindo na sociedade mundialmente.
Nos Estados Unidos, o atual presidente, Donald Trump, apresenta respostas simples para problemas complexos, e seus discursos transfóbicos e eugenistas atraem a nova geração. Desde seu primeiro mandato, a higienização social resultante do descaso de povos marginalizados no país norte-americano é o pilar de seu discurso. Agora, com a renovação de seu cargo, a expulsão de brasileiros e o decreto que decide o banimento de mulheres transgênero de práticas esportivas foram amplamente apoiados pelo público estadunidense e majoritariamente pelos jovens.
A jornalista Andrea Dip veio até a PUC-SP no dia 27 de março para ministrar uma aula magna aos alunos, com o objetivo de falar de suas coberturas no âmbito da extrema direita. Ela apresentou suas experiencias e dicas de como é estar nesse meio sendo uma jornalista. No Brasil, o movimento de extrema direita vem ganhando força e suas narrativas são cada vez mais aceitas pelos jovens no Brasil e no mundo. Andrea tem se infiltrado em congressos da extrema direita desde 2022 e desfruta de diversos meio para isso, como alterar sua aparência e cobrir suas tatuagens. Ela conta como foi estar em um destes eventos, em Bruxelas, chamado NatCon, para o qual conseguiu acesso depois de passar a noite procurando e entrando em contato com palestrantes. Andrea conseguiu seu acesso como pesquisadora.
Andrea Dip exclamou “a gente tem que saber jogar”, referindo-se ao ego de pessoas que fazem parte destes congressos, ela considera crucial ter acesso a esse meio da extrema direita. A jornalista também pontuou práticas usadas na narrativa desse movimento político como a destruição da família tradicional e supostos perigos que são causados por imigrantes. No congresso citado por ela. O foco do assunto eram políticas nacionalistas, anti árabe e imigrantes e pró Israel. Ela sita a frase dita por um padre na palestra: "imigrantes enfeiam a Europa".
Ideias como estas que a jornalista denuncia, ganham mais força a cada ano entre os jovens brasileiros. Isso reflete os perigos dessas atitudes que narrativas como essas apresentam. Ela diz que a nova rebeldia da sociedade, que agora é marcada por movimentos como esse usam o medo de rejeições, o passado idealizado e a promessa individualista para vencer o sentido coletivo na sociedade.
Outro atrativo para os jovens é ainda a religião que é muito forte e molda a cabeça de boa parte da sociedade. Quando ainda trabalhava na revista Caros Amigos, onde fazia o chamado por ela “jornalismo de direitos humanos”, ela fez trabalhos sobre a bancada evangélica que, segundo ela, é quem está à frente de violências de gênero no congresso. Andrea diz abertamente que é parcial, mas que é importante ouvir os dois lados para se valer da honestidade e fatos para comprovar suas ideias, esta é a forma que ela mante a sua ética jornalística, e valida suas ideias. Ao final de sua aula magna a jornalista respondeu perguntas de alunos e professores.
A extrema direita, nos últimos anos, vem se consolidando mais e mais, de maneira que seus apoiadores estão se tornando cada vez mais presentes no mundo todo. Segundo o site de notícias da rede Globo, G1, houve um aumento de 20% de votos a favor da extrema direita na Alemanha, em comparação com o ano de 2021. Este aumento, é o responsável por causar preocupação naqueles que não concordam com os ideais conservadores ultra protegidos pela mídia burguesa. Deste modo, o trabalho de jornalistas independentes, como o da Andrea Dip, se tornam de extrema importância no combate contra a proliferação de ideais totalitários. Sabendo disso, a PUC-SP, se propôs a promover uma aula magna, nesta última quinta-feira (27), com a própria Andrea, a fim de elaborar e transparecer os desafios, e os meios de realizar a cobertura dessa ascensão.
Andrea Dip trabalha na Agência Pública cobrindo temas relacionados aos direitos humanos e em oposição a extrema-direita. Seu trabalho ganha destaque, pois ela se coloca pessoalmente em reuniões conservadoras ao redor do mundo e consequentemente, se torna uma fonte rica de informações sobre como agem e o que idealizam esses direitistas.

Atualmente, mora na Alemanha e mantém seu trabalho a fim de expor para o mundo todo os perigos desta evolução. Ao ser questionada sobre quais as maiores dificuldades que encontra como mulher queer, ativista e jornalista neste meio, a própria respondeu que se enxerga como a encarnação de tudo aquilo que eles odeiam e querem destruir, justificando o uso de disfarces e da sua maneira discreta de se portar nessas reuniões. Ainda enquanto respondia a este questionamento, Dip afirmou que a extrema direita tem uma certa desconfiança com a imprensa, de modo que seus trabalhos se tornam meios de driblar esta descrença e conseguir maior proximidade com os valores e planos dos apoiadores.
Já no final da aula, Dip pontuou: “Não acredito na imparcialidade do jornalismo”, e afirmou que o mais honesto a se fazer com o público é buscar fontes e investigar a fundo, sempre buscando a objetividade e veracidade das informações levantadas. Disse também, que não tem como se manter imparcial quando a extrema-direita fere, constantemente, os direitos humanos.
Andrea finalizou sua aula motivando os futuros jornalistas a não desistirem de se impor e de lutarem pelo que acreditam, “o ódio é deles, a gente está só numa defesa absurda.” Afinal, o direito à informação é de todos.
A jornalista investigativa, Andrea Dip, foi a convidada de uma aula magna da PUC-SP realizada na última quinta-feira (27), na qual o assunto abordado foi o crescimento da extrema-direita. Ela relatou, principalmente, experiências vividas quando infiltrada em congressos desse espectro político, além de dar dicas de comportamento nessas ocasiões e para o jornalismo em geral.
Andrea Dip é formada e trabalha como jornalista há mais de 20 anos, e durante esse tempo ganhou 13 prêmios na área do jornalismo. Publicou seu primeiro livro em 2018, com o título “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder”. Atualmente, Andrea tem uma coluna semanal no UOL e reside em Berlim, na Alemanha.
No início da palestra, a jornalista trouxe alguns detalhes para introduzir os ouvintes no assunto. Classificou os fundamentalistas cristãos conservadores, principalmente os evangélicos, como uma bancada preconceituosa. Também citou os encontros de políticos de direita e os discursos de ódio que ocorrem nessas reuniões, tais como xenofobia e homofobia.
O disfarce é sua principal carta na manga para entrar em eventos de extrema-direita, e não foi diferente na Conferência Nacional do Conservadorismo, também conhecida por NatCon, realizada em Bruxelas, na Bélgica. Andrea contou que é fundamental esconder sua franja curta e tatuagens para se encaixar nos padrões estabelecidos nesses congressos e passar despercebida ao manter esse personagem. Além disso, ela usa seu outro sobrenome para conseguir as credenciais e não entra como jornalista, visto que há desconfiança da extrema-direita em relação à imprensa.
Na própria NatCon, a jornalista presenciou discursos absolutamente nacionalistas e xenófobos, mesmo após revelar à plateia que o dono do local onde estava acontecendo o evento tinha descendência árabe, ou seja, uma situação bem contraditória.
Durante esses anos de cobertura do assunto, Andrea Dip adquiriu uma vasta experiência e compartilhou seu pensamento sobre o crescimento global da extrema-direita. Quando perguntada sobre a relação entre a extrema-direita e os jovens, opinou que esse espectro político cria uma ideia do passado que nunca existiu para propor um futuro utópico, e com isso, traz as pessoas dessa faixa etária junto a ele a partir do uso da imagem própria, sucesso e rebeldia.
Ao ser questionada sobre a direita ao redor do mundo, a jornalista refletiu sobre as diferenças de cada região, como a forte conexão da América Latina com a religião, diferente de outros lugares. Relacionou a Alemanha - onde mora - com o ultranacionalismo e movimentos contra imigrações, além de citar outros países que são contra LGBTs e outras minorias. “Se entendem no geral”, completou.
No decorrer do tempo, Andrea passou algumas dicas sobre jornalismo aos participantes. Disse ficar sempre atenta para não violar os direitos e não acredita na imparcialidade no jornalismo, embora ache a parcialidade inicial perigosa em uma entrevista. Destacou a importância do jornalista guardar consigo o material da reportagem feita, seja gravado ou anotado, pois muito provavelmente será utilizado em outros fins para benefício próprio.
A aula magna teve duração de aproximadamente 2 horas e contou com diversas perguntas, além de um amplo ganho de conhecimento. Ao final, Andrea Dip foi aplaudida, e sem hesitação agradeceu a todos.
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Em meio à sucessiva onda de ascensão da extrema direita na política global, as mulheres consolidam-se como as protagonistas na resistência aos avanços da direita ultraconservadora. Movimentos realizados por elas ganham força ao redor do mundo. Enfrentando, assim, retrocessos em direitos e o avanço de pautas autoritárias.
No Brasil, um exemplos desta luta ocorreu a partir das eleições presidenciais de 2018. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, uma forte reação popular, capitaneada por mulheres, emergiu pelo país. O movimento “Ele Não” tomou as redes, mobilizou milhares nas ruas de todo o país e tornou-se um dos maiores protestos liderados por mulheres da história recente. A partir dali, uma nova geração de lideranças femininas se consolidou e passou a atuar com ainda mais força no cenário político brasileiro.
Em aula magna realizada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), em março deste ano, a convidada Andreia Dib, jornalista da Agência Pública, contou como busca combater o avanço da extrema direita por meio de sua profissão. Ela infiltra-se em encontros mundiais que visam propagar ideais extremistas por todos os continentes e contam com figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira e a política alemã Alice Weidel. Depois disso, Andreia escreve reportagens sobre o que foi falado para que seja de conhecimento público. Seu trabalho faz com que a população em geral possa ter acesso aos próximos passos da direita extrema direita. Além disso, nesse mesmo evento, a especialista também apresentou aos alunos um cenário atual e realista sobre os avanços globais de tais ideais e todas as consequências negativas decorrentes.

A rejeição por parte das mulheres ao conservadorismo de direita pode ser percebida no Brasil e no cenário mundial. Por exemplo, segundo dados levantados pelo grupo Gallup, no ano de 2001, jovens estadunidenses, de ambos os sexos, eram, em geral, progressistas e possuíam opiniões políticas similares. Entretanto, a partir do ano de 2016, com a primeira candidatura de Trump, mulheres de 19 a 29 anos se tornaram cada vez mais progressistas, enquanto os homens, começaram a ser progressivamente mais conservadores. No Brasil, a própria Andreia Dib é um exemplo. A jornalista é abertamente ativista da luta contra o conservadorismo e durante sua fala para os alunos da PUCSP, declarou: “Sabemos quem são estas pessoas e o quão nocivas são as coisas que eles dizem”, referindo-se aos extremistas de direita.