A extrema direita, nos últimos anos, vem se consolidando mais e mais, de maneira que seus apoiadores estão se tornando cada vez mais presentes no mundo todo. Segundo o site de notícias da rede Globo, G1, houve um aumento de 20% de votos a favor da extrema direita na Alemanha, em comparação com o ano de 2021. Este aumento, é o responsável por causar preocupação naqueles que não concordam com os ideais conservadores ultra protegidos pela mídia burguesa. Deste modo, o trabalho de jornalistas independentes, como o da Andrea Dip, se tornam de extrema importância no combate contra a proliferação de ideais totalitários. Sabendo disso, a PUC-SP, se propôs a promover uma aula magna, nesta última quinta-feira (27), com a própria Andrea, a fim de elaborar e transparecer os desafios, e os meios de realizar a cobertura dessa ascensão.
Andrea Dip trabalha na Agência Pública cobrindo temas relacionados aos direitos humanos e em oposição a extrema-direita. Seu trabalho ganha destaque, pois ela se coloca pessoalmente em reuniões conservadoras ao redor do mundo e consequentemente, se torna uma fonte rica de informações sobre como agem e o que idealizam esses direitistas.

Atualmente, mora na Alemanha e mantém seu trabalho a fim de expor para o mundo todo os perigos desta evolução. Ao ser questionada sobre quais as maiores dificuldades que encontra como mulher queer, ativista e jornalista neste meio, a própria respondeu que se enxerga como a encarnação de tudo aquilo que eles odeiam e querem destruir, justificando o uso de disfarces e da sua maneira discreta de se portar nessas reuniões. Ainda enquanto respondia a este questionamento, Dip afirmou que a extrema direita tem uma certa desconfiança com a imprensa, de modo que seus trabalhos se tornam meios de driblar esta descrença e conseguir maior proximidade com os valores e planos dos apoiadores.
Já no final da aula, Dip pontuou: “Não acredito na imparcialidade do jornalismo”, e afirmou que o mais honesto a se fazer com o público é buscar fontes e investigar a fundo, sempre buscando a objetividade e veracidade das informações levantadas. Disse também, que não tem como se manter imparcial quando a extrema-direita fere, constantemente, os direitos humanos.
Andrea finalizou sua aula motivando os futuros jornalistas a não desistirem de se impor e de lutarem pelo que acreditam, “o ódio é deles, a gente está só numa defesa absurda.” Afinal, o direito à informação é de todos.
A jornalista investigativa, Andrea Dip, foi a convidada de uma aula magna da PUC-SP realizada na última quinta-feira (27), na qual o assunto abordado foi o crescimento da extrema-direita. Ela relatou, principalmente, experiências vividas quando infiltrada em congressos desse espectro político, além de dar dicas de comportamento nessas ocasiões e para o jornalismo em geral.
Andrea Dip é formada e trabalha como jornalista há mais de 20 anos, e durante esse tempo ganhou 13 prêmios na área do jornalismo. Publicou seu primeiro livro em 2018, com o título “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder”. Atualmente, Andrea tem uma coluna semanal no UOL e reside em Berlim, na Alemanha.
No início da palestra, a jornalista trouxe alguns detalhes para introduzir os ouvintes no assunto. Classificou os fundamentalistas cristãos conservadores, principalmente os evangélicos, como uma bancada preconceituosa. Também citou os encontros de políticos de direita e os discursos de ódio que ocorrem nessas reuniões, tais como xenofobia e homofobia.
O disfarce é sua principal carta na manga para entrar em eventos de extrema-direita, e não foi diferente na Conferência Nacional do Conservadorismo, também conhecida por NatCon, realizada em Bruxelas, na Bélgica. Andrea contou que é fundamental esconder sua franja curta e tatuagens para se encaixar nos padrões estabelecidos nesses congressos e passar despercebida ao manter esse personagem. Além disso, ela usa seu outro sobrenome para conseguir as credenciais e não entra como jornalista, visto que há desconfiança da extrema-direita em relação à imprensa.
Na própria NatCon, a jornalista presenciou discursos absolutamente nacionalistas e xenófobos, mesmo após revelar à plateia que o dono do local onde estava acontecendo o evento tinha descendência árabe, ou seja, uma situação bem contraditória.
Durante esses anos de cobertura do assunto, Andrea Dip adquiriu uma vasta experiência e compartilhou seu pensamento sobre o crescimento global da extrema-direita. Quando perguntada sobre a relação entre a extrema-direita e os jovens, opinou que esse espectro político cria uma ideia do passado que nunca existiu para propor um futuro utópico, e com isso, traz as pessoas dessa faixa etária junto a ele a partir do uso da imagem própria, sucesso e rebeldia.
Ao ser questionada sobre a direita ao redor do mundo, a jornalista refletiu sobre as diferenças de cada região, como a forte conexão da América Latina com a religião, diferente de outros lugares. Relacionou a Alemanha - onde mora - com o ultranacionalismo e movimentos contra imigrações, além de citar outros países que são contra LGBTs e outras minorias. “Se entendem no geral”, completou.
No decorrer do tempo, Andrea passou algumas dicas sobre jornalismo aos participantes. Disse ficar sempre atenta para não violar os direitos e não acredita na imparcialidade no jornalismo, embora ache a parcialidade inicial perigosa em uma entrevista. Destacou a importância do jornalista guardar consigo o material da reportagem feita, seja gravado ou anotado, pois muito provavelmente será utilizado em outros fins para benefício próprio.
A aula magna teve duração de aproximadamente 2 horas e contou com diversas perguntas, além de um amplo ganho de conhecimento. Ao final, Andrea Dip foi aplaudida, e sem hesitação agradeceu a todos.
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Em meio à sucessiva onda de ascensão da extrema direita na política global, as mulheres consolidam-se como as protagonistas na resistência aos avanços da direita ultraconservadora. Movimentos realizados por elas ganham força ao redor do mundo. Enfrentando, assim, retrocessos em direitos e o avanço de pautas autoritárias.
No Brasil, um exemplos desta luta ocorreu a partir das eleições presidenciais de 2018. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, uma forte reação popular, capitaneada por mulheres, emergiu pelo país. O movimento “Ele Não” tomou as redes, mobilizou milhares nas ruas de todo o país e tornou-se um dos maiores protestos liderados por mulheres da história recente. A partir dali, uma nova geração de lideranças femininas se consolidou e passou a atuar com ainda mais força no cenário político brasileiro.
Em aula magna realizada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), em março deste ano, a convidada Andreia Dib, jornalista da Agência Pública, contou como busca combater o avanço da extrema direita por meio de sua profissão. Ela infiltra-se em encontros mundiais que visam propagar ideais extremistas por todos os continentes e contam com figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira e a política alemã Alice Weidel. Depois disso, Andreia escreve reportagens sobre o que foi falado para que seja de conhecimento público. Seu trabalho faz com que a população em geral possa ter acesso aos próximos passos da direita extrema direita. Além disso, nesse mesmo evento, a especialista também apresentou aos alunos um cenário atual e realista sobre os avanços globais de tais ideais e todas as consequências negativas decorrentes.

A rejeição por parte das mulheres ao conservadorismo de direita pode ser percebida no Brasil e no cenário mundial. Por exemplo, segundo dados levantados pelo grupo Gallup, no ano de 2001, jovens estadunidenses, de ambos os sexos, eram, em geral, progressistas e possuíam opiniões políticas similares. Entretanto, a partir do ano de 2016, com a primeira candidatura de Trump, mulheres de 19 a 29 anos se tornaram cada vez mais progressistas, enquanto os homens, começaram a ser progressivamente mais conservadores. No Brasil, a própria Andreia Dib é um exemplo. A jornalista é abertamente ativista da luta contra o conservadorismo e durante sua fala para os alunos da PUCSP, declarou: “Sabemos quem são estas pessoas e o quão nocivas são as coisas que eles dizem”, referindo-se aos extremistas de direita.
Na quinta-feira (27/03), a jornalista investigativa Andrea Dip foi recebida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para compartilhar com os alunos sobre o enfrentamento da extrema direita na atualidade. Com mais de 20 anos no ramo, iniciou sua trajetória pela revista “Caros Amigos”, onde exercia o jornalismo de direitos humanos sempre olhando mais para violência de gênero. A partir disso, começou a investigar a bancada evangélica no Congresso já que são os principais representantes contra os direitos de gênero.
Ao se aprofundar na investigação de como funcionava a articulação da extrema direita no Brasil, Dip começa a ver que, na verdade, há uma junção de evangélicos e católicos seguidores da Opus Dei que comparecem juntos com ministros, senadores e presidentes a congressos mundiais para articular políticas públicas e narrativas para a ideologia de gênero que são firmadas nesses encontros. Para entender melhor como funcionam as discussões desses grupos, a redatora decide então participar dessas reuniões e ressalta, “eu, como jornalista, sentia falta de alguém que pudesse se infiltrar ali”. Para entrar nesses congressos, ela se disfarça cobrindo as tatuagens, mudando o cabelo e as vestimentas.

O principal congresso que a marcou foi o NATICON que aconteceu em Bruxelas, no ano passado. Para conseguir entrar, Andrea conta que tentou se passar por pesquisadora pois existe uma desconfiança de toda a extrema direita com a imprensa. Após muitos e-mails para palestrantes, ela conseguiu o convite e notou que durante a reunião era muito evidente que a principal pauta eram os imigrantes. A entrevistada cita: “teve um padre católico alemão que falou que os imigrantes estavam enfeando a Europa”, além fazer grande defesa de Israel.
Durante todo o tempo nesses eventos, a jornalista busca ficar quieta para que possa colher o máximo de informação possível e procura inflar o ego dos extremistas em entrevistas para que falem seus planos e ideias com mais facilidade, como fez com Silas Malafaia e Marcos Feliciano.
Dip também observa que em meio aos congressos internacionais da ultra direita, o deputado Nickolas Ferreira vem em uma crescente como representante da juventude ultra conservadora mundial, o que pode trazer certa preocupação ao Brasil, já que existe um aumento de adolescentes defendendo a extrema direita, que sabe muito bem utilizar da internet em benefício próprio, trazendo ideias que parecem fáceis sem influenciar as pessoas a refletirem mais a fundo sobre o que é abordado.
O apoio dos jovens aos partidos de extrema-direita deixou de ser um segredo. Os grupos ultraconservadores trazem uma sensação de comunidade e pertencimento entre eles. Para a jornalista, um dos motivos para esse crescente apoio é a expectativa de futuro que transmite uma promoção de individualismo, oferecendo uma solução e um futuro utópico para essa geração.
A rebeldia e o medo da rejeição são fatores que impulsionam muitos jovens a se identificarem com a extrema-direita. A pandemia desempenhou um papel significativo na disseminação dessas ideias. Devido a ociosidade e o aumento do uso das redes sociais grupos de adolescentes do sexo masculino foram atraídos para a comunidade Incel, palavra que é associada a comunidades online em que membros expressam ressentimento, misoginia e ideologias extremistas, culpando principalmente as mulheres por suas frustrações. Além de acolher esses jovens, eles moldam suas opiniões políticas, como destaca a jornalista, “a extrema-direita sabe como utilizar as redes sociais de forma eficaz”.

Foto: Caio Moreira
“A esquerda virou conservadora”, Andrea Dip compara os grupos extremistas com a esquerda atual, para ela crises atuais empurram as pessoas para a extrema-direita, pois eles trazem uma solução fantasiada, mas com atitude, vendem um discurso imaginário, uma alienação em massa totalmente abraçada pela nova geração.
Figuras que representam as ideias defendidas pela extrema-direita são fundamentais para a atração do público jovem. Nikolas Ferreira é um exemplo. Hoje com 27 anos, ele foi o deputado federal mais votado do país. Ganhou notoriedade através das redes sociais, popularizou-se por suas críticas às medidas de combate à pandemia nos últimos anos.
Segundo a jornalista, Nikolas participa de congressos de extrema-direita e representa o Brasil na maioria deles. Sua forte influência política, o seu poder oratório e eloquente não só atrai a nova geração, mas também o público adulto. “Ele sempre está nesses congressos, inclusive ele está sendo visto como representante da juventude da extrema-direita, ele vai em congressos representando não só o Brasil, mas a Juventude Ultraconservadora”, pontua Andrea.
Em um congresso em Madri, ela presenciou uma situação inusitada, um diálogo de duas espanholas que exaltavam Nikolas Ferreira. “Ontem tivemos um jantar e Nikolas fez uma chamada de vídeo com o Bolsonaro, ele pode nos contar o processo de censura que ele vem sofrendo no Brasil”.
Outra figura importante é o atual presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Ele promoveu a remoção dos termos LGBTQIA+ das agências federais e as deportações de imigrantes na Terra do Tio Sam. “Você acompanha de dentro os movimentos, muitas coisas vão se conectando, os decretos do Trump foram arquitetados nesses congressos”, afirma a repórter.