Você sabe quais são as atribuições do Ministério do Planejamento e Orçamento? Esse setor do Governo é responsável por elaborar subsídios para o planejamento e a formulação de políticas públicas e avaliar impactos socioeconômicos; elaborar um plano plurianual de investimentos e dos orçamentos anuais; formular e acompanhar diretrizes de financiamentos externos de projetos públicos.
O cargo foi criado em 1962 no governo do então presidente João Goulart. Seu primeiro titular foi Celso Furtado. De lá pra cá, a pasta contou com 30 titulares, atravessando a ditadura e passando pelos Governos Sarney, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer.
Em 2019, com a posse de Jair Bolsonaro, o cargo foi extinto e fundido ao Ministério da Economia, mas foi recriado em 2023, como plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para abrigar o centrão na Esplanada. A escolhida para chefiar a nova fase da pasta foi Simone Tebet (MDB-MS).
A ATUAL MINISTRA

Simone Nassar Tebet (53), nasceu na cidade de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. De origem libanesa, foi aprovada aos 16 anos na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – mesma alma mater de seu pai - e realizou seu mestrado em Direito do Estado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Quando concluiu os estudos na área jurídica, lecionou Direito Público e Administrativo em diferentes instituições por 12 anos.
A trajetória política de Simone, teve grande influência de seu pai. Ramez Tebet (1936-2006), foi prefeito, deputado, vice-governador, governador, senador, ministro e chegou ainda a presidir o Senado Federal.

Simone, por sua vez, foi eleita deputada estadual em 2002 e, dois anos depois, se tornou a primeira mulher a chefiar o Executivo de sua cidade natal. Dois anos após o início de seu segundo mandato como prefeita, deixou o cargo e elegeu-se vice-governadora na chapa de André Puccinelli. Quatro anos depois, tornou-se Senadora da República.
Durante seu período como parlamentar, Tebet foi presidente da Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher e foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), comissão mais importante da casa legislativa. Em 2021, foi a primeira senadora a disputar o comando do Senado Federal, perdendo para Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Ao longo de sua trajetória, Tebet esteve apenas em um partido, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de seu pai. sigla à qual é filiada desde 1997.

Nas Eleições de 2022, foi candidata à Presidência da República, angariando quase 5 milhões de votos no primeiro turno. Ela foi a terceira colocada na corrida eleitoral.
No segundo turno do pleito, a política apoiou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que seria vitorioso na disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Mais para frente, Tebet seria escolhida para ocupar o Ministério do Planejamento e Orçamento do novo governo.
Após nove meses no cargo, a principal marca de Tebet como ministra foi a aprovação da Reforma Tributária, formulada em conjunto com o Ministério da Fazenda. Aprovada em julho deste ano, a proposta está atualmente em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. A expectativa do Governo é que seja votada e aprovada ainda neste ano.

LIGAÇÃO COM O AGRONEGÓCIO
A família Tebet sempre teve grande influência no meio do agro. “Meu avô era do agro, minha mãe é do agro, meu pai era do agro”, disse a ministra em entrevista ao programa Fantástico da TV Globo.
Simone e seus irmãos herdaram de seu pai três fazendas em Mato Grosso do Sul, em Três Lagoas, Fátima do Sul e Caarapó, a última registrada nos bens da ministra com 860 hectares.
Ainda em sua entrevista ao Fantástico, Tebet afirma que sua família produz um agro sustentável, e que vão contra “essa meia que não respeita a questão ambiental”, em suas palavras. Ela ainda afirma que essa “meia dúzia” não faz parte do agronegócio do Brasil.

De acordo com o Conselho Missionário Indigenista (Cimi), o imóvel é parte de reivindicações feitas pelos indígenas Guarani-Kaiowá. Essas terras, integram um circuito de conflitos entre ruralistas e indígenas, um deles ocorreu em Amambai, com a morte de Vitor Fernandes e o ferimento de mais oito pessoas durante operação da Polícia Militar (PM) do estado.
Na última quinta-feira (28), uma multidão expressiva tomou as ruas da capital paulista em apoio à descriminalização do aborto. Organizada por grupos de ativistas e apoiadores da causa, a manifestação reuniu pessoas de diferentes idades, gêneros e origens, todas compartilhando o mesmo desejo: garantir o direito à escolha das mulheres sobre seus próprios corpos.
A marcha aconteceu no dia Internacional da luta a favor do aborto nos países latino-americanos e caribenhos, e enfatizou como o procedimento nesses países também faz parte da desigualdade de classes. “As ricas pagam, e as pobres morrem”, diziam as manifestantes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de abortos induzidos ocorrem todos os anos no Brasil, sendo quase 500 mil procedimentos feitos de forma clandestina. A maioria das mulheres que realizam o aborto em condições precárias são negras e de baixa renda.
Essa “onda verde”, como é chamado o fenômeno de luta a favor da legalização do aborto nos países vizinhos, é responsável por pressionar os poderes políticos e judiciais pelo direito ao acesso e decisão de abortar. Outros países na América do Sul como Uruguai, Argentina, Guiana, Guiana Francesa, Colômbia e Chile já reconhecem o aborto como prática legal. Segundo as palavras de Alberto Fernández, presidente da Argentina, “a legalização do aborto salva a vida de mulheres e preserva suas capacidades reprodutivas, muitas vezes afetadas por esses abortos inseguros.”.


Muitos especialistas que defendem a legalização no Brasil explicam que a mesma deve ser entendida como uma questão de saúde pública, e não moral ou religiosa. “As políticas públicas não podem sofrer influência das ideologias religiosas ou até mesmo morais. As mulheres precisam ter o direito de escolha, precisam ser livres para decidir”, explica Tabata, 29, do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir.
A concentração teve início na Avenida Paulista, um dos principais pontos da cidade, e rapidamente se espalhou por ruas adjacentes. Os participantes exibiam cartazes, bandeiras e faixas com mensagens pró-escolha, destacando a importância de garantir o acesso seguro e legal ao aborto. Muitos usavam camisetas e adereços verdes, cor que se tornou símbolo da luta pela legalização em diversos países.

Entre os manifestantes, havia uma ampla diversidade de discursos e argumentos.”Só quem morre no Brasil e no mundo são as mulheres que não podem pagar o aborto seguro. Nenhum lugar onde o abortou deixou de ser crime, aumentaram os números de aborto mas diminuiu os números das mortes. Elas vão continuar abortando, mas a diferença é que a nossa classe não vai morrer”, expôs Fabiana (52), de São José dos Campos.
Martins (16), estudante do Colégio Objetivo em São Paulo, também se mobilizou. “Como homem, reconheço a importância, a gente tem que unir como coletivo para lutar pelos ideais certos”.
A manifestação ocorreu de forma pacífica e as autoridades locais acompanharam o evento para garantir a segurança dos participantes e transeuntes. Estavam presentes até mães e pais com crianças, como no caso de Luana (42), que levou seu filho João (8), “É para eles já começarem a entender a importância de participação em manifestações políticas, a importância do feminismo, dos direitos das mulheres é importante demais” afirmou.


A medida que noite caiu, a multidão se dispersou, mas a mensagem da manifestação ficou clara: a busca pela igualdade de gênero e pelo direito das mulheres se decidirem sobre seus corpos permanece um tema crucial na sociedade brasileira, com esperanças de mudanças futuras na legislação em relação ao aborto.
Nesta terça-feira (3), funcionários do metrô e da CPTM de São Paulo entraram em greve. A paralisação, que foi organizada também pelos servidores da Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo), tem como finalidade protestar contra o plano de privatização promovido pelo governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Os sindicatos tentaram um acordo com a Justiça, que substituiria o não funcionamento dos serviços por um protesto com catracas livres. Porém, o pedido foi negado pelo Tribunal Regional do Trabalho por receio de tumultos e acidentes.

O governador Tarcísio, em uma coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes, afirmou que trata-se de uma greve ilegal e abusiva, que prejudica o trabalhador. O governo de SP compartilhou que continuará estudando os caminhos para privatização das linhas de metrô e CPTM na grande São Paulo.
“A Justiça foi ignorada. Eles não estão respeitando o poder Judiciário e não estão respeitando o cidadão. É uma pena, a gente vê o cidadão de joelhos, o cidadão sofrendo, o cidadão tendo a privação do transporte para uma pauta que sinceramente não é motivo para paralisação”, declarou o governador.
PRIVATIZAÇÕES
O governo tem como objetivo privatizar as linhas da CPTM e Metrô até o final do mandato, em 2025. Existem algumas opções em análise, como a concessão de algumas partes dos sistemas da CPTM e do Metrô, que permitiriam que empresas privadas operassem nas linhas. Outra possibilidade é a completa desestatização dos serviços.
Já a privatização da Sabesp aconteceria antes. Tarcísio afirma que pretende enviar à Alesp (Assembleia Legislativa) no mês de outubro o projeto de lei que autorizará a venda da companhia, que é esperada até metade de 2024.
CONFIRA AS LINHAS AFETADAS
No Metrô:
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Linha 1-Azul;
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Linha 2-Verde;
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Linha 3-Vermelha;
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Linha 15-Prata.
Na CPTM
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- Linha 7-Rubi (funcionamento parcial);
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Linha 10-Turquesa;
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Linha 11-Coral (funcionamento parcial);
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Linha 12-Safira;
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Linha 13-Jade.
As linhas privatizadas operam normalmente, como a 8-Diamante, 9-Esmeralda, 4-Amarela e 5-Lilás.
A Prefeitura de São Paulo suspendeu o rodízio de veículos na capital, decretou ponto facultativo nos órgãos públicos da cidade e criou uma operação especial na frota dos ônibus, que, segundo o prefeito Ricardo Nunes, está 100% em operação. A SPTrans também agiu, ampliando o itinerário de algumas linhas municipais, facilitando o acesso dos passageiros a locais com maior concentração de serviços e comércios.
PRÓXIMOS PASSOS
Para definir o que será feito daqui em diante, os sindicatos anunciaram uma nova assembleia, que terá como pauta a avaliação da continuidade do movimento. Os trabalhadores se reunirão na terça-feira (3) às 18h30 na área de lazer do sindicato (Rua Serra do Japi, 16 - Tatuapé), com a possibilidade de extensão da greve até quarta-feira (4).
Vale ressaltar que o trabalhador brasileiro é assegurado pela Lei 7.783/89 ao direito à greve. Segundo o Art. 2º do plano constitucional, "para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador”.
Capa Reprodução: Renato Alves/Agência Brasília
Neste domingo, 01, das 08 às 17 horas, acontecerá a eleição para o Conselho Tutelar em todo território nacional. Os eleitos ocuparão o cargo até 2028, e possuem, como principal atribuição, garantir os direitos fundamentais das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade ou de violação de direitos. Todo cidadão com mais de 16 anos e com o título de eleitor regularizado pode participar da votação.
De acordo com censo realizado pela prefeitura, São Paulo possui 3.759 crianças em situação de vulnerabilidade nas ruas, que utilizam as vias públicas para dormir ou para prática de atividades irregulares, como o trabalho infantil. Elas estão, também, inseridas em redes socioassistenciais, e serão atendidas pelos próximos conselheiros eleitos no pleito deste domingo.
Para saber onde votar, consulte o Conselho Municipal de Direitos das Crianças e Adolescentes (CMDCA) do seu município.
Na cidade de São Paulo, serão eleitos cinco conselheiros para cada um dos 52 Conselhos Tutelares do município, elegendo 260 cidadãos no total. No site da prefeitura, é possível descobrir o local de votação pelo número do título de eleitor, além de todos os candidatos separados por subprefeitura. O município também disponibilizará passe livre em todos os ônibus, a fim de facilitar a mobilidade até os locais de votação.
Organizações sociais como o Nossas, envolvidas em pautas pelos direitos humanos e mobilização de campanhas, se uniram para criar um portal de candidaturas comprometidas com o Estatuto das Crianças e Adolescentes (ECA). O portal A Eleição do Ano apresenta candidaturas cadastradas em subprefeituras de todo o país, conectando o eleitor ao candidato da sua região.
As candidaturas do portal foram selecionadas de acordo com pontos fundamentais para a proteção integral da infância. Entre os pontos, estão a participação popular do candidato na construção de políticas públicas, respeito aos direitos da população LBGTQIA+ e escuta especializada para crianças em situação de vulnerabilidade.
O Terminal Rodoviário Palmeiras-Barra Funda, é o maior terminal intermodal do sistema, contando com Metrô, Trens de subúrbio e de longa distância, ônibus urbanos e terminal interestadual. Com capacidade de 40 mil usuários todos os dias, ele recebe pessoas de vários cantos do estado, com milhares de narrativas de vida se cruzando todos os dias. Entre elas, estão as histórias das estudantes, Nina, Raissa e Ana Júlia.

Início de um sonho
Com uma distância de 138 km da capital do estado de São Paulo e com uma população de 404 mil e 142 habitantes, esses são os dados encontrados no site da prefeitura de Piracicaba, cidade natal de Nina (19) e o palco de sua história.
Ela conta que desde os seus 13 anos, sabia que queria fazer Jornalismo, “e consequentemente, eu sabia que não ia ser em Piracicaba, eu não ia ficar lá”, isso acontece porque segundo ela, não tem a faculdade que queria em Piracicaba e mesmo que tivesse, as oportunidades que ela teria seriam muito reduzidas, comparadas por exemplo, a vir para São Paulo.
Apesar de sempre ter certeza, que era pelo Jornalismo que seu coração batia mais forte, a adolescência, entre ensino médio e o cursinho, trouxe para si dúvidas sobre sua escolha profissional. A incerteza sobre o mercado de trabalho e as oportunidades, levou com que ela pensasse em cursar Arquitetura e Urbanismo ou Direito. No ano passado, a ideia de fazer Engenharia Agronômica apareceu, na sua cidade têm uma boa faculdade nessa área, a ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), uma das unidades da Universidade de São Paulo (USP), se ela decidisse por essa opção, não seria necessário sair do seu lar e poderia permanecer com sua família, tendo uma opção, segundo sua perspectiva, mais segura. Entretanto esse não era seu desejo.
Após terminar o ensino médio, ela decidiu fazer um ano de cursinho em sua cidade, tendo escolhido o sistema poliedro que é bem famoso também na capital do estado. Ela conta como era sua rotina de preparação para o vestibular, pela manhã ela estudava, as vezes ficando na instituição também pela parte da tarde, fazia simulado aos finais de semana e reforçava o seu preparo com aulas de redação além do cursinho, após as aulas ela retornava para a casa, ficava com sua família e depois estudava mais um pouco.
Sua meta, era passar em uma faculdade pública, sendo elas, Jornalismo na Unesp Bauru e Marketing na USP aqui de São Paulo. Ela acabou não passando em nenhuma das duas e decidiu vir para a PUC São Paulo. “Porque eu acabei, no ano passado nas férias, vindo conhecer a PUC, a estrutura e tudo mais. Eles são muito bem-conceituados no ranking, então como uma opção de faculdade particular, eu acabei prestando a PUC e passando”.
Em março desse ano, veio a resposta da lista de espera da Unesp Bauru, ela tinha conseguido a tão sonhada vaga. Ela transferiu sua matrícula para lá, entretanto, uma semana depois acabou voltando para a PUC-SP. O pensamento que veio a sua cabeça, foi “cara, eu saí de uma cidade pequena, e fui para uma menor ainda”, e isso foi fundamental para sua escolha, devido as oportunidades que a cidade de São Paulo oferece, por ser uma metrópole. “Com mais de 20 milhões de pessoas, com muitas oportunidades no jornalismo, que é uma área difícil, e aqui em São Paulo tem muito mais oportunidade do que na cidade de Bauru e também porque a PUC São Paulo me proporcionou conhecer alguns profissionais da área bem-conceituados”.
Ela disse que foi uma decisão muito difícil e que precisou de muita coragem, pra tentar e também para sair da sua cidade, o apoio de seus pais e da sua psicóloga foram essenciais, “por causa deles, eu vi que tentar coisas novas, sair de Piracicaba e ir para uma cidade diferente, que tem muitas coisas que eu gosto, como São Paulo, especialmente em relação a área cultural era algo que eu precisava”.
A vida no interior
Com uma distância de 70 km da capital do estado de São Paulo e com uma população de 48 mil e 852 habitantes, esses são os dados encontrados no site da prefeitura de Mairinque, cidade natal de Ana Julia (21) e o palco de sua história.
Diferentemente de Nina, para Ana o cursinho não deu tão certo assim. Em 2020, ela terminou o ensino médio na cidade em que mora, ou seja, no meio da pandemia “eu não sabia exatamente o que eu queria fazer. Ainda tinha o jornalismo em mente, mas estava confusa”. Devido as incertezas, ela decidiu tirar um ano para pensar, começou a trabalhar com uma coisa que ela gostava muito, “que era dar aula de inglês e resolvi tirar esse ano pra mim só dando aula, e não estudando pro vestibular” ela usa o verbo no passado e com tristeza porque infelizmente teve que sair do emprego devido a rotina puxada.

Em 2022, ela entrou no cursinho com o sonho de cursar Jornalismo em uma faculdade pública, para que pudesse trilhar esse caminho, tinha que viajar todo dia de Mairinque para a cidade vizinha, Sorocaba que fica a 36,7 km de distância. “Foi um ano muito difícil para mim e eu não me adaptei ao modo de estudo. Para muita gente funciona, mas pra mim não funcionava”. Ela conta que passou a deixar os conteúdos acumularem e a sentir grande pressão do vestibular, para lidar com tudo isso, ela focava em dar suas aulas “eu também trabalhava, porque era a única coisa que eu gostava da minha rotina”.
Em Mairinque também não existe faculdade de Jornalismo, o mais perto fica na cidade vizinha, Sorocaba, ela acabou optando por São Paulo devido as oportunidades de mercado de trabalho, sua mãe também foi uma peça essencial nessa decisão. Ela acabou não passando nas faculdades públicas, mas passou em duas particulares, “Foi uma frustração no começo, mas depois eu percebi que eu gostei muito de onde eu estou, que é na PUC”. A escolha da universidade se deu pela história da instituição, pela posição política e pela liberdade que os estudantes têm, ela acrescenta com felicidade que não poderia ter feito escolha melhor.
A rotina de vestibulanda
Com uma distância de 12 km da capital do estado de São Paulo e com uma população de 161 mil e 127 habitantes, esses são os dados encontrados no site da prefeitura de São Caetano do Sul, cidade natal de Raissa (18) e o palco de sua história.
Por estudar em colégio particular, Raíssa não fez cursinho e entrou na faculdade logo após terminar o ensino médio. Seu colégio tinha um preparo forte, principalmente para o Enem, “eu fazia tipo, muito simulado, simulado pra caramba, eu escrevia tipo uma redação por semana”.

Relação familiar
Nina é muito próxima de sua família, antes de se mudar para São Paulo ela vivia com seus pais e sua irmã mais nova, além deles, ela conta que convive muito com a avó e com a tia lá em Piracicaba. Para ela, o apoio familiar é uma faca de dois gumes, ao mesmo tempo que dá força para ela seguir seu sonho, torna o processo muito dolorido, “mudar de cidade para mim foi e, tem sido bem difícil, especialmente pela questão da saudade e da solidão, porque eu sinto muita falta dos meus pais, da minha irmã, do meu cachorro, da minha avó, que a gente é bem unido.” Sua família não foi importante só para dar apoio emocional, ela conta que já tinha uma base familiar aqui, pois parte da família da mãe é daqui, inclusive é com o seu tio, que ela mora atualmente.
“Eu acho que a coisa mais importante na preparação pra eu estudar em São Paulo foi o incentivo da minha mãe. Que foi comigo até a PUC, fez eu perder esse medo da cidade grande. Medo de não saber me locomover, pegar transporte. Então ela fez todo o caminho comigo. A gente foi conhecer a PUC nas férias, andamos por tudo lá e isso já me deixou mais confortável assim, e aí quando eu comecei, eu já estava um pouco mais confiante.”
Ana conta que seus pais sempre a apoiaram muito, e isso foi essencial. “Eu achava que eu tinha que ficar por aqui mesmo [Mairinque] e fazer faculdade em Sorocaba, que era mais perto. E a minha mãe falava sempre, não vai. Você tem que conhecer jornalismo em São Paulo, é o melhor lugar que você pode fazer, bastante oportunidade, lugar diferente, pessoas diferentes. Você precisa disso pra crescer e eu acatei isso, e não poderia ter feito melhor.”
Os pais de Raíssa moram no ABC paulista, seu pai mora em Santo Amaro e ela e a mãe em São Caetano, sua mãe foi a maior apoiadora da sua escolha de fazer Jornalismo. Percorrendo o litoral brasileiro, suas origens familiares vão do nordeste ao sudeste, tendo familiares em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. Sendo paulistas e paulistanos de coração, grande parte da sua família mora em São Paulo, concentrados na zona sul e na zona leste. Entre eles o seu avô, que era o motivo dela vir para a cidade uma vez por semana, mais o costume de andar pela selva de pedra só veio após iniciar a Universidade e fazer amigos por aqui.
Dificuldades
A decisão de Nina, não foi fácil, ir para uma cidade muito longe e muito diferente da sua, ver a família com que cresceu apenas aos fins de semana, isso mexe muito com seu emocional, “Eu sinto muita saudade, especialmente da bagunça de estar em casa com a minha família, de poder ver meus avós, a minha tia. De estar no conforto de onde eu cresci, perto dos meus pais que me ajudam muito”.
Para sair da tranquilidade de Piracicaba e passar a viver na cidade que nunca dorme, ela também precisou se preparar emocionalmente, fazendo acompanhamento psicológico no ano passado inteiro, e esse primeiro semestre de 2023. E isso a ajudou a pensar em prós e contras e a ver se estava preparada para os desafios que enfrentaria, “às vezes, não é fácil. Dá vontade em mim de desistir, voltar para minha cidade, jogar tudo para o ar, para poder ficar mais perto de quem eu amo”. Do lado financeiro, exigiu bastante planejamento em conjunto com seus pais, sobre onde ela iria morar, com quem e quanto precisaria para se manter, mas a universitária garante que tem dado certo.
Ana Julia conta que se não demorasse no trajeto entre sua casa e a Universidade, poderia ter se mantido no trabalho como professora de inglês, até conseguir um estágio na área de Jornalismo, “eu gostaria de manter porque é uma coisa que eu gostava muito e não queria abrir mão, foi bastante difícil”. Apesar da rotina puxada, ela comenta que está conseguindo manter a vida social com os seus amigos nos finais de semana.
Durante o ensino médio, Raíssa demorava 50 minutos para chegar em casa, uma hora a menos que o tempo que gasta hoje. Sua rotina atual é mais puxada devido ao trabalho, ela chega em casa 13h30 e tem uma hora para comer e se arrumar para ir trabalhar às 14h30, o emprego é perto de sua casa então o trajeto não é um problema, ela chega em casa as 21h, só tendo tempo de jantar antes de ir dormir as 22h, para acordar as 5h no dia seguinte para ir para a Universidade.
Experiência
A nova cidade de nina, conhecida como “selva de pedra”, devido aos arranha-céus espalhados por todo o território paulistano, é também “muito solitária, muito cada um por si, querendo ou não”, o que a faz se se sentir sozinha ou improdutiva, normalmente um pouco dos dois, o sentimento vem por achar que poderia estar aproveitando melhor a oportunidade de estar morando em São Paulo. Para lidar com a solidão que sua rotina lhe impôs, ela se inscreveu no vôlei de sua faculdade, que acontece duas vezes por semana, ajudando ao mesmo tempo em sua saúde física e mental, ela une a isso as aulas de inglês e a companhia das amigas que fez na cidade.
Após quase um semestre e meio vivendo por aqui, ela já se considera pelo menos um pouquinho paulistana, mas disse que nunca vai deixar de ter sentimentos afetivos com a cidade que a concebeu, “Acho que isso foi uma coisa que acabou nascendo e se desenvolvendo dentro de mim, sempre que eu estou aqui, sinto muita saudade de Piracicaba e quando eu chego lá, sinto saudade daqui”.

Assim como O filme protagonizado por Ingrid Guimarães em 2010 (De pernas pro ar), a rotina de Nina mudou drasticamente, o fato de ela morar em São Paulo permite que ela pegue apenas um ônibus, o que foi uma grande mudança já que ela fazia tudo de carro em Piracicaba. Ela também conta sobre como é voltar para sua cidade, normalmente o trajeto é feito de sexta-feira à tarde, ela sai da casa do tio e vai até a Rodoviária Tietê, o meio de transporte varia entre Uber e metrô, “é um caos, porque eu tenho que levar mil coisas e é superdifícil porque eu pego o metrô da Sé, que é lotado”. Na Rodoviária, ela pega um ônibus da sua cidade que passa a 13h30, são 2 horas e meia de viagem e ela geralmente vai sem almoçar porque não dá tempo, chegando na sua cidade sua mãe a busca no ponto e a deixa em casa.
Ter que ficar dividida entre São Paulo e Piracicaba, é muito difícil ainda e ela acha que sempre vai ser, “Cansa também sabe? Ir e voltar sempre, mas não consigo ficar longe dos meus pais.” Ela diz que pretende fazer esse caminho muitas vezes ainda. Apesar disso, ela conta que tem levado a vida na terra da garoa de forma mais madura e mais leve, mas que no início, isso lhe causou muito problema com ansiedade. Também cresceu bastante no quesito autonomia, “eu faço muitas coisas sozinha, eu vou aonde eu preciso ir, dou meu rolê e faço meu do meu jeito para fazer as coisas.” Para ela, o motivo da sua ansiedade e saudade serem tão fortes no começo, é não ocupar sua mente com coisas que lhe fizessem bem, como o vôlei e o inglês que ela faz atualmente.
Ana Júlia também sempre quis ter a experiência de fazer faculdade fora, que para ela é algo bem diferente do que estava acostumada, tudo muito perto, sempre as mesmas pessoas, “eu precisava disso, mas eu estava com medo, com muito medo”. O medo que ela tinha é referente a faculdade, de não se adaptar ao ambiente, de perceber que não era o curso que ela queria. Porém, para a sua felicidade, as preocupações não se concretizaram “eu fui bem acolhida. Acho que as pessoas se ajudam muito lá, fiz amizades e estou gostando muito do curso, então foi só coisa boa”. Diferente de Nina, Ana não tem família na cidade e a única amizade que ela tinha, era virtual, a qual só encontrou duas vezes, então ela considera que veio estudar na cidade sozinha, o que aumentou seu nervosismo e seus medos.
O que a atrapalha muito é o fato de precisar pegar dois ônibus para fazer o trajeto entre a faculdade e a sua casa. Apesar de morar no interior, sua cidade não fica muito longe da capital, de carro é cerca de uma hora, mas com o tempo de espera do ônibus e com o trânsito leva cerca de 1 hora e meia, mais 15 min de carro de São Roque a Mairinque. “muitas vezes o trajeto cansa mais do que a própria faculdade, do que as aulas em si”, mas ela afirma que está valendo a pena.
Seu primeiro sonho em relação aos estudos, era passar em uma faculdade em São Paulo. Agora que ele se realizou, seu desejo é morar por aqui assim que começar a estagiar, porque ela não tem como voltar para casa, pois seu último ônibus passa as 20h30. O seu trajeto até a faculdade, começa com sua mãe a levando de carro até São Roque, onde ela pega um fretado que a deixa a cinco quadras da Universidade; para voltar ela precisa pegar dois ônibus, um até a estação Barra Funda e outro de viagem até São Roque onde sua mãe a leva para casa. “Eu tenho essas limitações de horário de ônibus, ele só passa de 2 em 2 horas e só tem uma única opção.

Desde o cursinho sua rotina já era puxada, vivendo esse pêndulo de ir e voltar. Apesar do caminho ser mais curto, 40 minutos até Sorocaba, seus dias eram exaustivos devido ao ritmo do curso pré- vestibular. Ana fala que antes do cursinho, ela não precisava pegar ônibus, as vezes nem carro, ela dá exemplo do local onde trabalhava, “é tipo 5 minutos a pé de onde eu moro. O interior tem essa facilidade, então não é que a gente fique sem fazer nada, mas a questão do transporte é uma facilidade.”
Para chegar na Universidade as 7h30, ela acorda as 4h45, vai de carro até São Roque, o que demora uns 15 min, as 5h30 ela pega um ônibus fretado que a deixa perto da PUC (5 quadras). Para voltar para casa, o caminho muda um pouco, “eu tenho a opção de pegar o ônibus de 12h30, mas se eu faço isso não dá tempo de eu almoçar, então eu prefiro ficar pra almoçar na bandejão”. Depois de almoçar, ela precisa esperar por mais de uma hora na Universidade para pegar um ônibus até o Terminal, comprar a passagem do Cometa (ônibus de viagem) para sair as 14h30, chegando em casa as 16h, se ela não tiver nenhum atraso. “se eu morasse mais perto, eu conseguiria levar de forma mais leve”.
A terra da garoa não era território completamente desconhecido, porém era pouco frequentado. “A gente acaba se acostumando muito no interior, então sempre que vai sair, sai para Sorocaba, que já é considerado cidade grande em relação à minha cidade.”, agora além de ir durante semana, ela também vem aos fins de semana, como quando teve o show do Bruno Mars no início do mês, após o festival ela precisou dormir na casa de uma amiga, porque só teria ônibus para voltar no dia seguinte. O que a move a se manter na faculdade, é a felicidade de ter se adaptado ao curso, ao ambiente e feito amizades. Ela afirma que se não se sentisse bem, teria desistido logo no início, porque a distância torna sua rotina bem exaustiva.
Jornalismo sempre foi uma das opções de Raíssa, mas a certeza só veio em setembro do ano passado, durante a feira de profissões da USP. Até o momento sua inscrição na Fuvest era para Publicidade e Propaganda, porém ela conversou com um menino que estava no primeiro semestre do curso que ela desejava e o jeito que ele falou sobre sua vivência a desanimou, “nossa, aquele menino estava morto”. Depois dessa desilusão, ela decidiu ir ao stand de Jornalismo, e teve uma experiência completamente diferente, a menina que estava responsável por apresentar o curso, contou sobre o que a Universidade proporcionava de forma tão empolgada que a convenceu. “Eu falei, nossa, que bacana, é isso que eu quero para minha vida, aí lá mesmo eu mudei a minha inscrição da Fuvest”.
Apesar de querer muito fazer jornalismo, ela não estava muito empenhada em procurar faculdades particulares, porque o seu foco era ir bem no Enem e na Fuvest para passar em uma faculdade pública. Porém no final do ano, o seu coordenador passou para ela, com base no seu resultado do simulado, onde ele achava que ela passaria, “ele olhou na minha cara com muita seriedade, um sorriso no rosto e disse: é, com as suas notas você não passa numa faculdade pública, mas numa particular você pode passar.” Depois dessa conversa, ela decidiu procurar quais faculdades tinham melhor colocação pelo MEC, ficando entre PUC, ESPM e Cásper, só que o vestibular de ESPM e o da PUC eram no mesmo dia, ela acabou optando pela PUC e passando no vestibular.

A decisão de ir para São Paulo estudar já era certa, na cidade em que mora só tem uma faculdade, a USCS, que por ser uma faculdade pequena, não oferece muitas oportunidades no ramo profissional. Se tem uma palavra que define seu trajeto, ela é “cansativo”, ela leva 1 hora e meia para ir e o mesmo tempo para voltar, ao todo são 3 horas de transporte público por dia. São Caetano possui só duas avenidas principais, a do Estado e a Goiás, e a estação fica no centro, o que facilita seu percurso, isso porque mora perto das duas avenidas, seu trajeto inclui 10 minutos de carro até a estação pela manhã, trem até o Terminal Barra Funda e mais 20 minutos de ônibus até a Universidade, na parte da tarde, ela troca o carro por um ônibus circular. Apesar do cansaço, ela diz que é uma coisa que você acaba se acostumando, “não tem o que você fazer, sabe? Eu não tenho carro, então, ou eu venho de trem ou eu fico em casa.”
A experiência de andar por São Paulo é diferente, porque é uma cidade muito grande e tem muito trânsito, “você sempre tem que pegar um ônibus, um trem, um metrô, alguma coisa.” Já em São Caetano apesar de ser uma cidade montanhosa, então tem muita subida e descida, é muito pequena, “é um ovo de cidade, pessoal fala que São Caetano é de você tropicar e chegar aonde você quer”, ela tem 2 avenidas principais e tudo que for feito, precisa passar por elas, porém a universitária garante que apesar de pequena, não falta nada, “A gente fala que São Caetano, é uma cidade pequena, com energia de cidade grande”.
A estudante já esperava que a rotina da Universidade seria desgastante, mas ela acha que vale a pena, “porque assim eu sei que eu estou fazendo uma faculdade boa. Ruim seria para mim ter que sair de São Caetano, pegar transporte público pra uma faculdade, que não tem estrutura, isso é um privilégio que eu sei que tenho, porque eu estudo em uma Universidade particular.”
A vida universitária das 3 mulheres apresentadas não é fácil e traz visibilidade a questão, de que passar no vestibular nem sempre é o mais difícil, a permanência seja pela questão financeira, logística ou emocional é o fator determinante a continuidade na faculdade. A escolha é diária e as renúncias são constantes, dentro desse contexto o que as motiva a continuar é a potência de seus sonhos de serem jornalistas e o apoio incondicional de seus familiares.
Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP

