Com +1 milhão de seguidores, Jones Manoel teve perfis no Instagram e Facebook suspensos pela Meta
por
Vinícus Evangelista
|
14/08/2025 - 12h

No último sábado (9), o professor e militante comunista com mais de um milhão de seguidores no Instagram, Jones Manoel, revelou intenção de se candidatar à presidência da república em 2026, durante conversa com o também professor e filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Humberto Matos, no Podcast 3 Irmãos. “Eu estou me preparando para isso, e acho que faria isso melhor do que as candidaturas comunistas que nós tivemos nos últimos 25 anos”, afirmou Jones. 
 
A revelação aconteceu dois dias após o comunicador ter suas contas do Instagram e Facebook derrubadas, segundo ele, por razões políticas. As redes pertencentes à empresa Meta, do empresário Mark Zuckerberg, alegou que o perfil não seguia “os padrões da comunidade”, mas não deu mais detalhes sobre o assunto. Figuras influentes do meio digital e político, como o youtuber Felipe Neto, a deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann (PT) e o ator Pedro Cardoso, prestaram solidariedade a Jones e criticaram as chamadas Big Techs (expressão em inglês que se refere a um grupo seleto de empresas de tecnologia de grande escala e influência global) pela suspensão das redes. 
 
Os perfis de Jones foram reativados pouco mais de 24h depois, na madrugada de sexta-feira (08), “Oficialmente, a Meta não deu nenhuma explicação, tudo indica uma motivação política. Eu não acredito em coincidência, [aconteceu a derrubada] no momento em que a gente vem tendo um crescimento, conseguindo furar a bolha, levar o debate sobre revolução brasileira. Essas Big Tech’s não são isentas”, explicou Jones, em entrevista ao Flow Podcast, realizado na noite anterior da reativação de suas contas. 

O possível presidenciável em 2026 vinha ganhando popularidade na internet após participar de debates com figuras da direita brasileira, como o youtuber Wilker Leão e o deputado federal Kim Kataguiri (UNIÃO). Participou também do programa “Zona de Fogo”, do Canal Spectrum, onde debateu contra vinte conservadores e saiu com aumento de buscas por seu nome no Google após a data do programa, conforme aponta o Google Trends. 

Assim que retomou o Instagram, Jones postou um vídeo explicando o ocorrido e que se reuniria com seus advogados para decidir se manteria ou não ação jurídica contra a Meta, mas não deu mais detalhes. Segundo ele, a empresa “sentiu a pressão política” e “não esperava a campanha de solidariedade”. 

A defesa do ex-presidente obteve autorização do ministro do STF Alexandre de Moraes para receber a visita dos filhos, noras e netos, no último domingo (10)
por
Marcelo Barbosa
|
09/08/2025 - 12h

Preso em casa desde o dia 4 de agosto, o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes para receber a visita dos filhos, noras e netos, no último domingo (10). No próximo sábado (16), ele também poderá sair para realizar exames médicos. Monitorado por uma tornozeleira eletrônica desde 18 de julho, o antigo chefe do executivo descumpriu regras cautelares, como o impedimento do uso das redes sociais e passou à prisão domiciliar, há pouco mais de uma semana. 

As medidas aplicadas a Jair Bolsonaro, antes de qualquer decreto de prisão domiciliar, foram referendadas pela Primeira Turma do STF entre os dias 18 e 21 de julho. As restrições incluíam o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de ausentar-se da comarca e o recolhimento domiciliar noturno das 19h às 6h durante a semana e integral, nos fins de semana e feriados. 

Na quarta-feira passada (6), os advogados de Bolsonaro apresentaram recursos contra a prisão, mas não tiveram sucesso. Eles alegam que Bolsonaro deve ser julgado pela primeira turma do STF e não apenas por Alexandre de Moraes e que o ex-presidente não estava impedido de dar entrevistas ou fazer pronunciamentos públicos.

 

Reprodução: AFP | Bolsonaro morde os lábios em frente à bandeira do Brasil
Reprodução: AFP | Bolsonaro aparece aflito em frente a um pedaço borrado da bandeira do Brasil.

Entenda a decisão  

O ministro do STF, por outro lado, afirma que a condenação responde às condutas de Eduardo Bolsonaro, que foi aos Estados Unidos pouco antes do anúncio do tarifaço de Trump. Sob a óptica do judiciário, Jair Bolsonaro cometeu os crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O ex-presidente ficou impedido de usar as redes sociais e foi obrigado a usar a tornozeleira eletrônica.

Após o rompimento das regras impostas, Alexandre de Morais alegou em despacho emitido no dia 4 que “Bolsonaro produziu material para a publicação nas redes sociais de seus três filhos e de todos os seus seguidores e apoiadores políticos, com o claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao Supremo Tribunal Federal e apoio, ostensivo, à intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro”. Durante as manifestações que aconteceram no domingo (3) em São Paulo, o ex-presidente apareceu em uma ligação de vídeo ao celular do deputado Nikolas Ferreira e na rede social de Flávio Bolsonaro – senador e filho do ex-governante.

O documento de Moraes também se refere às tentativas do presidente dos Estados Unidos Donald Trump de intervir no caso de Bolsonaro. Após articulações de Eduardo Bolsonaro e de outros bolsonaristas com acesso à Casa Branca, Trump anunciou um tarifaço ao Brasil e sanções contra Alexandre de Moraes. 

Bolsonaro está oficialmente impedido de receber visitas, com exceção de seus advogados e de pessoas autorizadas pela Justiça. No Instagram, no último domingo, Michelle Bolsonaro publicou a foto de um bolo decorado com imagens da família Bolsonaro e a frase “Feliz dia dos pais”.

O estigma associado a pessoas em situação de vulnerabilidade social
por
Mayara Pereira
|
23/06/2025 - 12h

Esse trabalho tem a função de ampliar a visibilidade da população em situação de rua por meio de informações, quebra de estigmas, leis e entrevistas com quem vive nessa situação de vulnerabilidade. 

https://medium.com/@mayaramay838

Um lugar onde a leitura também é um gesto de resistência
por
Nicole Domingos
|
16/06/2025 - 12h

A literatura sempre foi um território de disputa simbólica, um espaço onde narrativas dominantes se impõem, mas também onde vozes dissidentes encontram brechas para existir. No caso da literatura LGBTQIAPN+, essas brechas são preciosas. O site palavras em trânsito, feito por Nicole Domingos, trata exatamente disso, desses pequenos espaços que já existiram e que existem hoje. É um lugar dedicado ao estudo, à crítica e à celebração da literatura LGBTQIAPN+.

Ao longo do site, vamos tratar especialmente sobre os corajosos que escrivam e gritavam dentro de deus próprios livros, ainda que estivessem dentro dos períodos de repressão, como a ditadura militar brasileira — esses autores utilizaram a palavra como forma de resistência.

A literatura não apenas narra experiências — ela reescreve a história a partir de corpos e afetos antes excluídos. Ela cura feridas simbólicas, questiona heranças opressoras e cria novos imaginários de existência. Ao nos colocar diante de personagens que amam, sofrem, resistem e sonham fora da norma, ela nos lembra de algo fundamental: toda existência merece ser narrada. E lida.

Para acessar esse mundo, basta clicar no link abaixo:

https://literatura-lgbt.my.canva.site/

 

 

Site Entrelinhas: em meio a arranha céus e vielas a natureza vai escorrendo
por
Vítor Nhoatto
|
16/06/2025 - 12h

Apesar de viver-se um tempo de emergênciua climática e sentir seus efeitos na prática, nem todos são afetados da mesma forma. Para isso se dá o nome de racismo ambiental, tema central do novo site Entrelinhas. Idealizado e produzido pelo aluno de jornalismo, Vítor Nhoatto para a disciplina de Jornalismo Contra-Hegemônico, conta com a orientação da professora e doutora Anna Flávia Feldmann.

O projeto se desenvolve ao longo de uma série de quatro reportagens, que contam com entrevista de especialistas de norte a sul do Brasil e relatos de quem sente na pele o peso de viver em uma sociedade que precisa de mudança. É proposto um espaço de letramento racial e ambiebtal, baseado em dados e fatos, que muitas vezes são ofuscados pelos outdoors, ou ignoados por empresas e governos.

Com uma linguagem que se aproxima do dia a dia do leitor, o site ainda conta com reportagens especiais desenvolvidas pelo estudante, demonstrando como tudo está interligado. E para saber mais sobre as entranhas ambientais, é só acessar o Entrelinhas pelo link abaixo:

https://entrelinhasambiental.my.canva.site/

Entenda como funciona a manipulação da extrema-direita que reacende sinal de alerta para 2026
por
Oliver de Souza Santiago
Rafael Pessoa
|
15/04/2025 - 12h

O cenário político brasileiro tem apresentado um rumo preocupante nestes últimos anos. O aumento dos lobbies de outsiders como Elon Musk e Luciano Hang, somados com a polarização e diversas linhas ideológicas dos partidos nas redes sociais, tem alertado o Legislativo, Judiciário e o Executivo. O discurso de mudanças e urgências, baseado em instigar emoções como ódio, medo e esperança, tem fortalecido o crescimento de políticas extremistas.

No dia 6 de março, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros políticos de sua base, como Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Eduardo Bolsonaro (PL/SP) e entre outros,  reuniram-se em Copacabana,  para manifestar o apoio à anistia para os crimes cometidos no atentado do dia 8 de janeiro de 2023. O evento teve a participação de 18,3 mil apoiadores, e apesar da derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, a presença do poder de controle e manipulação do bolsonarismo se mantém presente. Afirmações sobre uma suposta manipulação do pleito eleitoral de 2022 e apoio à anistia para Bolsonaro, que está sendo investigado por envolvimento na trama golpista, foi um dos temas mais comentados.

A imagem acima retrata uma charge do ex-presidente Jair Bolsonaro no ato pró-Anistia, realizado em Copacabana
Charge sobre o protesto sobre o ato pró-Anistia para presos do 8 de janeiro em Copacabana. Foto/Reprodução: Rafael Pessoa (Agemt)

O que começou com o Movimento Passe Livre em 2013, para o atentado de 08 de janeiro de 2023, evidencia o uso de mecanismos de manipulação das massas na mídia ocidental. Veículos de comunicação como Jovem Pan, Brasil Paralelo e Revista Oeste, destacam-se por sua linguagem fácil para todos os públicos, alcance midiático e por propagação de fake news. Além do surgimento de figuras como o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, o deputado federal, Nikolas Ferreira, o vereador Lucas Pavanato e a vereadora Zoe Martinez, com todos sendo do mesmo partido: o Partido Liberal (PL). Os parlamentares são conhecidos nas redes sociais por sua comunicação intensiva com seus apoiadores e grande parte do eleitorado brasileiro.

Da esquerda para a direita: a vereadora, Zoe Martinez, o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e o vereador, Lucas Pavanato (Foto/Reprodução: instagram @zoebmartinez, instagram @lucaspavanato)
Da esquerda para a direita: a vereadora, Zoe Martinez, o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e o vereador, Lucas Pavanato (Foto/Reprodução: instagram @zoebmartinez, instagram @lucaspavanato)

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, o influencer político Henrique Lopes, 25 anos, mestrando em Ciências Sociais na USP, explicou quais são os métodos utilizados em maioria pela extrema-direita. “[..] Dentro do universo das redes sociais hoje, principalmente quando você trabalha com política, é praticamente impossível fugir da questão emocional. Toda influência que você tem, e faz conteúdo, para poder influenciar alguma pessoa, tratando-se aqui no Brasil, somos um povo em que a emoção é mais aflorada. Há uma necessidade muito grande de comover alguém a ter algum sentimento. A extrema-direita consegue convencer facilmente com sentimentos negativos.”

“Gerando ódio nas pessoas, deixando elas assustadas, e trabalhando narrativas que se montam em cima desses sentimentos, é fácil conseguir que aquele que está te assistindo tenha a reação que o criador de conteúdo queira passar para o consumidor.”

 

Henrique relembrou sobre o caso da suposta taxação do pix, divulgada amplamente pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL), e apresentou quais argumentos são mais utilizados na propagação destes conteúdos: “Não é sobre defender a família, é colocar um temor na população de caso o outro lado ganhe, ele é inimigo. você precisa ter medo dele, porque senão a sua família vai ser destruída. Que a sua família vai acabar, não ter mais dinheiro para se manter, que todos vão passar fome e o Brasil virar uma Venezuela.”

“A questão do Pix, era o medo de ser vigiado e o governo pegar as suas informações e forçar o povo a pagar mais imposto. De onde ele (Nikolas) tirou essas informações? Ele inventou. O vídeo foi convincente o suficiente para ter 300 milhões de visualizações e muita gente acreditou. Então, são pautas delicadas. As pessoas têm um certo amor por aquilo. Amam a família delas, querem ter condições de comprar o que quiserem, morar no Brasil, e ter a liberdade de expressão. E aí, se eu ataco tudo isso de que o ‘outro lado’ irá destruir tudo o que você gosta, é bem substancial!”

Henrique também respondeu sobre os principais objetivos dos outsiders brasileiros e internacionais: priorizar o lucro próprio ou apoiar a ideologia que estão investindo. Seja por interesse próprio, ou às vezes, de alguém que está financiando aquilo.

Um desses que está super em alta agora, não é brasileiro, mas é um nome forte, é o Elon Musk. Ele faz toda aquela articulação em cima das políticas que acredita, porque ele tem interesses secundários. Um dos ataques ao Brasil que o bilionário fez, por exemplo, é porque uma mina de lítio, que ele tinha interesse, foi leiloada para a China.

Gesto de Elon Musk para apoiadores de Trump durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC - ANGELA WEISS / AFP
Gesto de Elon Musk para apoiadores de Trump durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC - ANGELA WEISS / AFP

Henrique também citou sobre o lobby político do agro, onde o representante desta indústria recebe o dinheiro, e beneficia este mercado no Legislativo, além de manter uma relação mútua onde ambos podem “sair felizes”.

Sobre os possíveis resultados desta manipulação, Henrique ressalta: “Hoje em dia, de um jeito bem grosso, parece que a esquerda eram ‘os caras legais’. Os anti-sistemas. O discurso foi tomado pela direita e extrema-direita, que hoje domina majoritariamente a internet.”

Ameaças antidemocráticas e articulações globais da extrema direita causam mudanças no cenário político brasileiro.
por
Martim Tarifa
|
15/04/2025 - 12h

Durante aula magna na PUC-SP, a jornalista Andrea Dip comentou como a tentativa de golpe afetou os objetivos da esquerda no Brasil: “A esquerda virou conservadora no sentido de ter que conservar as instituições, tem que conservar a democracia.”

 No atual cenário não se vê um novo projeto político, de grande mobilização e de pautas progressistas por parte da esquerda. Suas atenções estão voltadas para outras pautas  como garantir manutenção das instituições democráticas, por exemplo. O governo do atual presidente Lula também não traz bons prognósticos, já que segundo pesquisa do PoderData, 51% dos brasileiros desaprovam o governo, maior índice de rejeição desde o início de sua gestão.

No dia 26 de março, foi dado um passo importante no processo de julgamento dos envolvidos na tentativa de golpe em 2022. O ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados se tornaram réus após decisão unanime do STF. Quatro dias depois, um ato contra a anistia dos envolvidos na trama golpista, liderado por Guilherme Boulos na Avenida Paulista em São Paulo reuniu mais de 6 mil pessoas. No assunto mais em pauta atualmente a pouca mobilização é mais um indicativo do que Andrea estava explicando.

Imagem aérea do ato contra anistia na Avenida Paulista. Foto: Toni Pires/Poder360
Imagem aérea do ato contra anistia na Avenida Paulista. Foto: Toni Pires/Poder360

Do outro lado, a extrema direita se articula e sua ascensão no cenário político mundial não é por acaso. O grupo se mobiliza há anos, inclusive com diversos congressos internacionais. A própria Andrea Dip relatou que foi disfarçada a esses congressos e destacou a importância deles: “Essas narrativas que são do Bolsonaro e também do Trump, nascem nesses encontros.” Segundo a jornalista, a esquerda está enganada se pensa que as pautas da extrema direita se limitam a preconceitos e ataques contra imigrantes, “Eles se reúnem para pensar estratégias, são encontros que vão gerar políticas públicas.”

O discurso dos autocratas da extrema direita é mais efetivo porque não necessariamente é verdadeiro. Líderes globais negam a opinião, o direito do outro e dizem que o que importa é o que eles dizem, a realidade é manipulada para o que for de desejo deles. Um estudo feito pela Universidade Livre de Amsterdã afirma que em mais de 26 países, os políticos de extrema direita são os que mais espalham mentiras. O Brasil  está dentro dessa lista. “Populistas de extrema-direita usam a desinformação como uma ferramenta para desestabilizar democracias e obter vantagem política”, disse Petter Törnberg, coautor do estudo com Juliana Chueri em entrevista ao The Guardian.

Relatório mostra a fatalidade das intervenções beirando o cotidiano dos jovens
por
Leticia Falaschi
|
11/04/2025 - 12h

Na última quinta-feira (3) foi publicada a segunda edição do relatório As câmeras corporais na Polícia Militar no estado de São Paulo: Mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes, realizado pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O que se destacou no documento foi o aumento no número de vítimas fatais das intervenções policiais entre crianças e adolescentes: de 2022 para 2024 houve um salto de 120%. O estudo buscou explorar a origem desse salto e analisar sua relação com atual gestão do estado.  

O que mudou nos últimos dois anos, nos órgãos de segurança, foi o aumento de ataques aos programas de contenção de risco. Essas ofensivas tiveram força e apoio pois foram oriundas de representantes de altos cargos, como o atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública. A primeira edição do relatório, realizada em 2022, conseguiu acompanhar os números antes e depois da implementação das câmeras corporais nos policiais militares do estado. Os resultados foram esclarecedores: comparando dados de 2017 e 2022, houve uma queda de 66,3% nas mortes na faixa etária de 10 a 19 anos por autoria da polícia militar. Na publicação, a queda foi atribuída ao Programa Olho Vivo adotado pela PMESP e pela Secretaria de Segurança Pública no segundo semestre de 2020. 

gráfico de mortes causadas por intervenção policial em São Paulo de 2001 a 2024
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

As crianças e adolescentes vítimas da ação truculenta da PM, registradas no ano passado, superaram o dobro do que foi contabilizado em 2022: saindo de 35 mortes para 77, entre elas, as negras são 3,7 vezes mais atingidas em intervenções letais. Segundo o relatório, a maioria das alterações no modo operante da PM diz respeito ao controle de força e punição dos responsáveis. Apesar do número de câmeras a disposição não ter diminuído, o uso não está sendo cumprido, e a quantidade de arquivos a serem consultados estão mais escassos. Além disso, a acessibilidade desses arquivos foi burocratizada: “Um levantamento da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, baseado em 457 solicitações de ocorrências entre julho e novembro de 2024, mostrou que a PMESP não forneceu resposta para 48,3% dos casos. No caso das ocorrências respondidas, em apenas 100 casos foi possível realizar a análise.” diz um trecho do estudo. 

O afrouxamento da Corregedoria da PMESP também foi fortemente sinalizado no relatório. Isso, somado às declarações de representantes do governo questionando a efetividade das câmeras parece ter encorajado os oficiais a abandonarem o uso. A Corregedoria também teve sua autonomia reduzida: agora, para realizar o afastamento de um oficial, a decisão será submetida à solicitação do um subcomandante geral. 

O governo assinou, em setembro de 2024, um contrato com a empresa Motorola para a compra de 12 mil novas câmeras, que substituirão as atuais. Porém, esse novo modelo apresenta alterações sensíveis: além das gravações não serem ininterruptas, o seu acionamento depende da decisão do policial que a usa. As inflexões do programa Olho Vivo são protagonistas nos resultados que assombram a juventude paulista. Apesar de representar apenas 0,6% do orçamento da Secretaria de Segurança, ao longo de 2023 o programa sofreu 37% de cortes do valor inicial de investimento. 

Tabela de princiais mudanças na gestão da Polícia Militar de SP - 2024 para 2025
Fonte: Unicef

No panorama geral, o relatório é alarmante para as crianças paulistas. As reformas questionáveis que insistem em ser realizadas pelos gestores, mesmo diante a eficiência das câmeras se traduzem em letalidade para os jovens do estado. “É importante destacar que 30,1% das mortes de crianças e adolescentes nos últimos oito anos foram provocadas por policiais militares durante a folga desses agentes, o que soma mais 316 vítimas. Em 2024, 1 em cada 4 mortes de adolescentes pela PMESP foi causada pela ação de policiais militares de folga, em ocorrências que não foram classificadas como homicídio doloso.”, expõe a investigação. 

Investigando a Bancada Evangélica e o Extremismo de Direita
por
Victoria Ignez
|
10/04/2025 - 12h

Na quinta feira (27/03), Andrea Dip foi recebida na PUC-SP para compartilhar sua trajetória sobre o enfrentamento à extrema-direita na atualidade. Andrea Dip é uma jornalista investigativa com mais de 20 anos de carreira e estudante de psicanálise. Autora do livro - reportagem “Em Nome de Quem? A Bancada Evangélica e Seu Projeto de Poder”, ela se destaca pela abordagem incisiva e corajosa de temas relacionados à política, direitos humanos e extremismo religioso no Brasil. 
 
O Início no Jornalismo  
Sua trajetória começou na revista Caros Amigos, uma publicação conhecida por sua linha editorial crítica e investigativa. Na época, Andrea atuava na cobertura de temas ligados aos direitos humanos, um campo que, segundo ela, evoluiu para ser reconhecido hoje como “jornalismo investigativo”.  
Desde o começo de sua carreira, Andrea se interessou por pautas ligadas à desigualdade e à violência de gênero, o que a levou a aprofundar suas pesquisas e investigações sobre grupos extremistas e suas articulações políticas. Um dos temas centrais de suas investigações recentes é a atuação da bancada evangélica no Congresso Nacional. Andrea apurou como esses grupos influenciam políticas públicas e, muitas vezes, se posicionam contra os direitos de comunidades marginalizadas, como a LGBTQIA+.  
 Seu trabalho envolve a participação em grandes eventos e congressos organizados pela extrema-direita. Nesses espaços, ela analisa discursos e estratégias desses grupos, além de relatar suas experiências como mulher jornalista nesses ambientes.  
 
Desafios no Exterior  
Em um evento realizado em Bruxelas, Andrea enfrentou dificuldades para se credenciar como jornalista devido à “desconfiança da extrema-direita com a imprensa”. No entanto, conseguiu participar como pesquisadora, o que permitiu que continuasse seu trabalho de investigação e análise sobre os discursos fundamentalistas cristãos e sua influência global.  
 
Compromisso com o Jornalismo Investigativo  

Andrea Dip segue firme em sua missão de informar e expor os bastidores do poder e do extremismo. Seu trabalho se destaca pela coragem de enfrentar temas sensíveis e pelo compromisso em dar visibilidade a questões que afetam diretamente os direitos humanos no Brasil e no mundo.  
 Com um olhar atento e uma apuração rigorosa, Andrea Dip reafirma a importância do jornalismo investigativo como ferramenta essencial para a democracia e para a defesa dos direitos fundamentais 

Alunos da PUC-SP discutem como discursos remodelados da extrema-direita conquistam parte da juventude e ressuscitam preconceitos históricos sob nova roupagem.
por
Maria Julia Malagutti
|
10/04/2025 - 12h

 

O crescimento da extrema-direita em diversos países, incluindo o Brasil, tem sido acompanhado por uma estratégia de mobilização focada também em um público específico: os jovens. A extrema-direita contemporânea não se baseia apenas em partidos e lideranças políticas tradicionais, utilizando plataformas como X, TikTok e Instagram para espalhar sua ideologia, além de se adaptar a novas tecnologias e criar uma estética que ressoa com o público jovem: memes, vídeos curtos e discursos polarizados que prometem soluções simples para problemas complexos. Utilizando redes sociais, influenciadores digitais e um discurso voltado para a insatisfação com a política tradicional, o movimento tem conseguido atrair uma nova geração de apoiadores.

Na última quinta-feira (27/03), a jornalista e pesquisadora Andrea Dip ministrou uma aula magna sobre a cobertura da extrema-direita no Brasil, abordando suas estratégias de comunicação e sua experiência em congressos de direita. A jornalista destacou como a extrema-direita tem se adaptado rapidamente às novas plataformas, explorando o engajamento emocional. Segundo Andrea Dip, que estuda a ascensão da extrema-direita no mundo, o movimento se fortaleceu ao dominar o ecossistema digital. “A extrema-direita compreendeu o funcionamento dos algoritmos e explorou o engajamento emocional dos jovens, criando narrativas que geram indignação e senso de comunidade”, explicou a jornalista.

Durante a aula, foram discutidos casos emblemáticos do Brasil e do exterior, nos quais partidos e líderes políticos utilizaram essas táticas para mobilizar a juventude. O evento também abriu espaço para um debate entre os alunos, que refletiram sobre o papel do jornalismo na cobertura desse fenômeno e os desafios para combater a desinformação sem reforçar discursos extremistas. Andrea Dip ressaltou a importância de compreender os métodos da extrema-direita para desenvolver estratégias eficazes de enfrentamento. “O jornalismo precisa estar atento às novas formas de comunicação política. Se não entendermos como essas narrativas são construídas e disseminadas, ficamos um passo atrás na disputa pela informação”, concluiu.

A pesquisadora também apontou que a extrema-direita construiu uma identidade visual e discursiva capaz de dialogar diretamente com a juventude, apropriando-se de memes, jargões e símbolos populares na internet. Além disso, o uso de narrativas de conflito, como a suposta “ameaça comunista” ou a “censura da mídia tradicional”, fortalece a lealdade desses jovens ao movimento, gerando discursos eugenistas, misóginos, homofóbicos e xenofóbicos. O discurso da “guerra cultural” — que denuncia supostas ameaças da esquerda à liberdade de expressão, à família e aos valores tradicionais — é também um dos principais atrativos. Portanto, a disseminação de notícias falsas decorrentes da manipulação em massa entre jovens e jovens adultos atrai figuras influentes desse espectro político, que se apresentam como alternativas aos veículos de mídia tradicionais, criticando o jornalismo convencional e incentivando um consumo seletivo de informações. Isso ficou evidente em uma postagem na rede social X, onde Nikolas Ferreira disse: "O golpe 'armado' que não teve arma", referindo-se ao Golpe de Estado de 2022, que resultou na inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.

 

Greve Brasília.
Divulgação/Agência Brasil.
Manifestantes invadindo o Congresso nacional no dia 8 de janeiro de 2023. 

Andrea Dip revela não apenas os bastidores da extrema direita, mas também as estratégias usadas para capturar as emoções dos mais jovens, especialmente diante de um cenário em que discursos ultraconservadores ganham espaço sob disfarce de liberdade e tradição.