Indústria aposta em preço e modelagem para manter a demanda
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Larissa Pereira José
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26/11/2025 - 12h

 

O jeans continua entre as peças mais consumidas no Brasil e mantém relevância estratégica para a indústria têxtil e para o varejo de moda. Mesmo após mudanças no comportamento do consumidor nos últimos anos, o denim permanece como um dos principais motores de vendas do setor.

Segundo levantamento do IEMI – Inteligência de Mercado, o Brasil produziu cerca de 280 milhões de peças de jeans em 2023. O faturamento do segmento chegou a aproximadamente R$14,7 bilhões no mesmo período. O estudo “Comportamento do Consumidor de Jeanswear no Brasil”, desenvolvido pelo IEMI em parceria com a Vicunha Têxtil, aponta que o jeans responde por cerca de 10% de todo o volume comercializado no mercado de vestuário nacional.

Uma pesquisa divulgada pela Vicunha Têxtil mostra que 80% dos brasileiros consideram o jeans uma peça obrigatória no guarda-roupa. O dado ajuda a explicar a presença constante do produto nas vitrines, campanhas promocionais e estratégias comerciais das grandes redes.

Para Diego Amaral, gerente comercial de uma grande varejista nacional, o desempenho do jeans segue consistente. “O jeans é um dos pilares do faturamento. Ele traz fluxo de clientes para a loja e influencia o desempenho de outras categorias. Quando o jeans performa bem, o restante da coleção tende a acompanhar”, afirma.

Ele explica que o consumo segue forte porque o produto atende diferentes perfis de consumidores. “Vendemos desde modelos clássicos até modelagens mais amplas, como wide leg e cargo. O jovem busca tendência, enquanto o cliente mais velho procura modelos tradicionais. O jeans atravessa gerações”, diz.

De acordo com o IEMI, o comércio eletrônico já representa mais de 5% das vendas de jeans no Brasil, com crescimento contínuo desde 2020. Apesar desse avanço, a loja física segue decisiva na jornada de compra. “O cliente pesquisa online, compara preço, avalia fotos e comentários. Mas o provador ainda define a compra de jeans”, afirma Amaral.

Outro estudo do IEMI, em parceria com o Guia Jeanswear, mostra que preço, caimento e exposição na vitrine são os principais fatores de decisão de compra. A mesma pesquisa aponta que 43% dos consumidores não se lembram da marca do jeans adquirido, o que reforça o peso da experiência no ponto de venda.

“O cliente entra pela promoção, olha a vitrine e decide pelo conforto. Se a peça veste bem, a marca passa a ser secundária”, explica o gerente comercial. Ele afirma que, embora o tíquete médio do jeans seja maior do que o de outras categorias, o consumidor aceita pagar mais quando percebe a durabilidade da peça. “O cliente pensa no custo por uso. Uma calça que dura mais tempo é vista como investimento”, diz.

O consumo de jeans enfrenta pressão ambiental crescente. Estudos da Water Footprint Network indicam que a produção de uma calça jeans pode consumir milhares de litros de água ao longo de toda a cadeia produtiva. Parte desse impacto está concentrada nos processos de lavanderia industrial e acabamento do tecido.

Esse relatório sobre polos de produção de jeans no Brasil aponta desafios no descarte de resíduos têxteis e no uso de produtos químicos, especialmente em regiões com forte concentração de lavanderias industriais, como o agreste pernambucano. O tema passou a ganhar espaço em debates setoriais e em políticas de sustentabilidade nos últimos anos.

Segundo Amaral, essa pauta já chegou ao consumidor final. “O cliente pergunta de onde vem o algodão e se a loja trabalha com práticas sustentáveis. Ainda não é a maioria, mas cresce todo ano”, afirma. Ele diz que a varejista passou a priorizar fornecedores com tecnologias de redução do consumo hídrico e processos menos agressivos ao meio ambiente.

A cadeia têxtil brasileira movimenta cerca de R$ 190 bilhões por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Dentro desse cenário, o jeanswear segue como um dos segmentos mais sólidos do setor, com demanda contínua e forte presença no cotidiano do consumidor brasileiro.

Para o gerente comercial, o principal desafio agora é equilibrar preço, velocidade e responsabilidade. “O consumidor quer novidades, quer preço acessível e quer entender o impacto do produto. O jeans continua forte, mas o jeito de vender mudou”, conclui.

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Consumidores exigem práticas responsáveis e mercado responde com economia circular, inovação de materiais e inclusão social
por
Larissa Pereira
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21/10/2025 - 12h

 

A moda sustentável deixou de ser nicho e passou a ocupar espaço central nas escolhas de consumo. A pesquisa de 2023 do Instituto Akatu em parceria com a consultoria GlobeScan mostrou que 87,5% dos brasileiros preferem comprar roupas de marcas que adotam práticas sustentáveis. A tendência se confirma em levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apontou que nove em cada dez consumidores se sentem desconfortáveis ao adquirir produtos que prejudicam o meio ambiente.

Esse movimento já se reflete no mercado. Segundo a consultoria Research and Markets, o setor de moda sustentável no Brasil foi avaliado em 200,7 milhões de dólares em 2022, com crescimento médio de 3,7% ao ano desde 2017. Projeções indicam que a moda circular, baseada em brechós, aluguel de roupas e reaproveitamento de tecidos, deve crescer entre 15% e 20% ao ano até 2030.

O impacto ambiental da moda, no entanto, continua elevado. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) revelam que o país gera cerca de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, sendo que 85% desse volume acaba em aterros. Em escala global, a ONU Meio Ambiente estima que a moda é responsável por 10% das emissões de carbono e ocupa a posição de segundo maior poluidor de água doce. A produção anual chega a 80 bilhões de peças, mas menos de 1% desse total é reciclado.

Diversos projetos mostram caminhos de transformação. A rede Justa Trama reúne agricultores, fiadoras, tecelãs e costureiras em cinco estados na produção de algodão agroecológico cooperado, com renda distribuída de forma justa. Na Amazônia, iniciativas como Selvática, que reaproveita retalhos de estofados, e Yara Couro, que cria materiais a partir de pigmentos vegetais, demonstram o potencial da economia criativa aliada à preservação ambiental.

Entre as grandes redes do varejo brasileiro, C&A, Renner e Riachuelo começaram a adotar iniciativas relacionadas ao uso de algodão sustentável, coleções com fibras recicladas e programas de logística reversa. Essas medidas ainda representam uma fração pequena da produção total, mas indicam que a pressão dos consumidores começa a influenciar também o fast fashion.

Apesar dos avanços, trazer produtos sustentáveis para as lojas de departamento não é tarefa simples. Em entrevista exclusiva para a AGEMT, Luiz Gustavo Freitas da Rosa, dono e criador da marca sustentável Tairú, conta que a iniciativa nasceu em 2023 a partir do contato com um projeto experimental de calçados em Tyvek e de uma pesquisa sobre cânhamo, fibra natural com propriedades ambientais superiores ao algodão. “Desenvolvi protótipos, apresentei amostras na Europa e, ao retornar ao Brasil, lançamos uma primeira coleção com seis modelos de tênis e mais de 40 variações, além de camisetas em algodão orgânico e tingimento natural”, relata.

Luiz Gustavo aponta barreiras importantes: o cânhamo não pode ser cultivado legalmente no Brasil para uso têxtil, o que obriga a importação; fábricas nacionais nem sempre estão preparadas para materiais alternativos como couro vegetal à base de milho; e o algodão orgânico tem custo superior ao convencional, encurtando margens e alongando a cadeia produtiva. “Produzir de forma sustentável ainda é mais caro. Trabalhamos com pequenas tiragens, fornecedores especializados e processos que incluem inclusão social, o que eleva o preço final”, explica.

Sobre a competição com as grandes magazines, ele afirma que a estratégia da Tairú não é disputar preço, mas oferecer uma alternativa de valor: “O consumidor da nossa marca compra conforto, design e propósito; não apenas um produto barato.” Para furar a bolha dos consumidores já engajados, a Tairú se posiciona como marca de lifestyle urbano e investe em ativações culturais, collabs e na Casa Tairú, espaços que atraem público pela música e pela cultura e só depois revelam os atributos sustentáveis dos produtos.

Na comunicação, Luiz Gustavo destaca a transparência como prática contra o greenwashing: a marca revela a origem dos materiais, mostra quem produz as peças e admite limitações. Ele cita exemplos concretos, como fábricas compostas por mulheres, ecobags produzidas por ex-detentos e etiquetas fornecidas por cooperativas que empregam pessoas com deficiência. “Não romantizamos nem prometemos perfeição; mostramos passos concretos e os desafios que ainda temos”, afirma.

Segundo ele, o maior obstáculo é transformar a consciência em hábito de compra. Para que a sustentabilidade deixe de ser exceção e se torne regra, Luiz Gustavo defende investimento em comunicação clara e aumento da escala produtiva para reduzir preços, além de mudanças estruturais na cadeia têxtil.

O debate avança em escala internacional. O relatório Fashion Transparency Index 2024, da Fashion Revolution, mostrou que a maior parte das grandes marcas ainda não divulga informações completas sobre suas cadeias de fornecimento. Já o State of Fashion 2024, da McKinsey em parceria com o Business of Fashion, destaca que a pressão regulatória tende a tornar mais rígidos os critérios de produção e comercialização, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

A combinação de dados, iniciativas e mudanças de comportamento mostra que a moda sustentável não é apenas uma promessa. Ela se consolida como exigência de mercado e como caminho inevitável para reduzir o impacto de uma das indústrias mais poluentes do mundo.

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Minimalismo, funcionalidade e inovação refletem mudanças econômicas e sociais
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Luana Marinho
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18/09/2025 - 12h

A moda, frequentemente apontada como um espelho dos tempos, volta seus olhos para tempos de escassez. Em meio à instabilidade econômica global, marcada por inflação persistente e crises políticas ao redor do mundo, ganha força o chamado “Recessioncore” (estética da recessão), que traduz, de forma visual, a precariedade e o desânimo de uma geração.

“Quando falamos de recessões, de crises econômicas, dá para ver esse reflexo diretamente na moda. Hoje, vivemos uma grande incerteza econômica, e muitas marcas de luxo começaram a lançar campanhas desperdiçando comida, baguetes sendo amassadas, frutas jogadas no chão da feira, alimentos destruídos”, afirma Audry Mary, especialista em marketing de moda e influenciadora digital. “É uma forma de comunicação: enquanto a base está sofrendo com a falta, quem consome a marca pode esbanjar. E isso é extremamente político”, acrescenta Audry.

Se nos anos de crescimento econômico os desfiles explodem em cores vibrantes, brilhos e ostentação, em momentos de incerteza o figurino muda: tons neutros, silhuetas sóbrias e peças utilitárias assumem o protagonismo. É o que se vê agora com a ascensão da estética “clean girl”, termo popularizado no TikTok e em outras redes sociais que descreve um estilo minimalista, com peças básicas, cores neutras e cortes discretos 

"Elas são mais acessíveis, carregam pouca informação de moda e seguem um estilo mais recatado, mais doméstico”, diz Audry sobre as roupas identificadas com o estilo. “É conservador, e as marcas estão apostando muito nisso”, explica.

Segundo a especialista, a estética “clean girl” não surge isoladamente: é resultado direto de um contexto econômico instável, no qual o crescimento do "quiet luxury" (luxo silencioso) e de coleções minimalistas indica que as marcas buscam transmitir segurança e sobriedade. Historicamente, períodos de recessão geraram mudanças semelhantes. Durante a Grande Depressão, cortes retos e tecidos duráveis se tornaram padrão, enquanto a crise de 2008 reforçou o consumo de fast fashion e peças de baixo custo, ainda que de qualidade inferior.

O impacto econômico também se reflete no crescimento do mercado de roupas de segunda mão, que se tornou um indicativo claro das mudanças no comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, o mercado de moda de segunda mão alcançou US$ 50 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 73 bilhões até 2028, impulsionado principalmente por millennials e pela geração Z, nascidos entre 1981 e 2010, que buscam alternativas mais acessíveis e responsáveis. Esse movimento transforma o mercado de segunda mão em uma tendência não apenas econômica, mas também cultural, refletindo valores de sustentabilidade e consumo consciente.

No Brasil, a ascensão dos brechós segue a mesma lógica: adaptação à crise econômica, respeito às prioridades financeiras e resposta às incertezas sociais. Segundo dados do Sebrae, o país contava com mais de 118 mil brechós ativos em 2023, representando um aumento de 30,97% em relação aos cinco anos anteriores. Além disso, o mercado de brechós no Brasil deve movimentar cerca de R$ 24 bilhões até 2025, superando o mercado de “fast fashion” até 2030, conforme projeções da Folha de São Paulo.

O crescimento do mercado de brechós também é impulsionado por plataformas digitais. O Enjoei, com mais de 1 milhão de compradores e 2 milhões de vendedores ativos, abriu recentemente sua primeira loja física no Rio de Janeiro e adquiriu a Gringa, plataforma de revenda de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões, evidenciando a demanda crescente por itens de alto valor.

Esse movimento também pressiona a indústria tradicional, que já responde com novas estratégias. O aumento dos custos de produção deve acelerar o uso de matérias-primas alternativas, como tecidos reciclados e fibras de origem vegetal, além de experimentos com couro vegetal e biotêxteis. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por transparência nas cadeias de produção: passaportes digitais de produtos, rastreabilidade de origem e relatórios de impacto ambiental podem deixar de ser tendência para se tornar padrão da indústria.

Olhando para o futuro, a moda deve consolidar caminhos cada vez mais funcionais, atendendo à demanda de consumidores impactados pela instabilidade econômica, que priorizam praticidade e durabilidade. Segundo Audry, essa tendência deve se intensificar. “Acredito que vamos ver cada vez mais peças utilitárias, roupas multiuso e tecidos resistentes ganhando protagonismo, porque o consumidor está buscando longevidade e funcionalidade em tudo o que veste”, afirma.

O minimalismo, já consolidado, deve permanecer central, mas com variações sutis. “Minha aposta é que tons terrosos, cortes amplos e peças que permitam personalização vão se tornar ainda mais comuns, enquanto pequenos revivals dos anos 2000 e 2010 reinterpretam itens básicos para novas gerações”, diz a influenciadora, que também projeta expansão de modelos híbridos, que combinam venda de peças novas, revenda, aluguel e customização, fortalecendo a economia circular como resposta prática às restrições financeiras. 

A tecnologia surge ainda como aliada estratégica, com inteligência artificial e provadores digitais ajudando marcas a reduzir desperdícios e aproximar consumidor e produto. “A inovação permite que a indústria transforme limitações econômicas em oportunidades criativas”, conclui Audry, reforçando que, para o futuro, a moda funcionará como um laboratório de soluções, mais do que apenas reflexo de crise.

 

 

 

A semana de moda americana deu start na temporada internacional que marca o mês de Setembro
por
Felipe Volpi Botter
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15/09/2025 - 12h

De 11 a 16 de setembro, a cidade de Nova Iorque abre espaço em sua frenética rotina para as passarelas apresentarem as novidade da Primavera/Verão 2026 e abrilhantar os olhos dos fãs de moda.

No dia de ontem, 14, Manhattan foi banhada por looks com mistura de texturas entre tecidos fluidos, bordados, transparências. Além de um protagonismo para uma alfaiataria reformulada, com cortes ousados e proporções exageradas.

Cores neutras mescladas com pontos de cores vibrantes de (vermelho, laranja e estampas arriscadas), marcaram o quarto dia de evento, que integra o calendário das chamadas "Big Four" ao lado de Paris, Milão e Londres.

O street style acompanhou essa atmosfera de contrastes: looks mais sóbrios recebendo toques fortes com a adesão de acessórios chamativos, sobreposições e cortes assimétricos.

A beleza esteve com foco em peles naturais, "menos pesado”, valorizando textura natural da pele, evidenciando seu brilho sutil.

Alguns desfiles se ressaltaram na mídia pela forte identidade visual, seja pelas temáticas ou pela presença de celebridades, como Oprah Winfrey, Lizzo, Natasha Lyonne e outros.

Kai Schreiber, filha trans de Naomi Watts e Liev Schreiber, abriu o desfile de Jason Wu. O show homenageou o artista Robert Rauschenberg, mesclando arte e moda fortemente influenciadas pelo seu legado.
 

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A modelo Kai Schreiber abrindo o desfile de Jason Wu (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

O designer Christian Siriano apresentou uma coleção primavera/verão 2026 com inspiração no velho glamour de Hollywood; houve vestidos longos, looks dramáticos, mistura de masculinidade e feminilidade com peças ousadas, além de chapéus impactantes.
 

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Desfile Christian Siriano (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Sergio Hudson mostrou uma coleção vibrante, com ternos trabalhados, uso de estampas e bordados com inspiração africana, foco em alfaiataria refinada.

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Desfile Sergio Hudson, com inspiração no glamour da moda africana (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Momentos de street style e aparições de celebridades: muita gente do mundo artístico presente nos desfiles e eventos de moda, com looks chamativos, acessórios fortes, e aquele mix de elegância + ousadia.

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Celebridades presentes no evento, como Katie Holmes e Whoopi Goldberg (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)



Vivian Wilson (filha de Elon Musk) fez sua estreia em passarela, desfilando para Alexis Bittar. O desfile abordou uma temática social/política, misturando teatralidade e crítica em sua estética.

 

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Vivian Wilson no desfile da Alexis Bittar (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

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Setor têxtil cresce com foco em bem-estar, tecnologia e sustentabilidade
por
Larissa Pereira José
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05/09/2025 - 12h

 

Gradualmente, a busca pelo bem-estar deixou de ser apenas mais uma tendência momentânea e se consolidou como um dos principais motores da moda. No Brasil, de acordo com o Sebrae Paraná, o setor fitness movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano e cresce em média 8,2% ao ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ocupa a segunda posição no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, e atrai investimentos que unem estilo, performance e consciência ambiental.

O fenômeno é reforçado pelo enclothed cognition, conceito que descreve como as roupas influenciam o comportamento. Vestir roupas esportivas aumenta a disposição para a prática de exercícios, unindo moda e psicologia. No Brasil, casos de sucesso confirmam o potencial. A marca catarinense Live! cresce cerca de 45% ao ano e já exporta para Ásia e Oriente Médio, consolidando a vocação nacional para o segmento.

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, a estilista Dafne Setton, especialista em moda fitness, defende que esse cenário reflete uma transformação no comportamento do consumidor. “Hoje as pessoas querem se sentir bem durante todo o dia. A roupa precisa ter conforto, permitir mobilidade e, ao mesmo tempo, transmitir estilo. É por isso que o athleisure se tornou um símbolo de estilo de vida. Ele expressa disciplina e descontração”, afirma.

As novas preferências apontam para silhuetas mais amplas, como calças cargo e trackpants oversized, em substituição às leggings ajustadas ao corpo. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por sustentabilidade, reforçando o protagonismo de tecidos tecnológicos que unem compressão, respirabilidade e fibras recicladas. “Tecido ecológico não é mais um diferencial e sim um requisito. O consumidor jovem exige isso”, explica Dafne. O mercado de luxo também se aproxima desse movimento, criando um fenômeno conhecido como cardio couture — tradução livre “alta costura do cardio”, expressão usada para definir treinos ou práticas esportivas que incorporam estética e sofisticação típicas da moda de luxo, transformando o exercício físico em experiência de estilo. Grifes como Louis Vuitton e Prada lançaram acessórios esportivos sofisticados, transformando o athleisure em um item de estilo de vida.

O clima tropical brasileiro também favorece o uso cotidiano de roupas leves, que transitam facilmente entre o ambiente de treino e o lazer. Além disso, a forte cultura de praia e a valorização da estética corporal ajudam a consolidar um estilo de vida em que o bem-estar é parte do cotidiano. Esse contexto cria um mercado interno robusto e uma vitrine atraente para a exportação de marcas nacionais.

Outro ponto de destaque é a crescente adesão das academias e estúdios de bem-estar a estratégias de branding ligadas à moda. Muitas oferecem coleções próprias de roupas e acessórios, transformando a experiência do aluno em um pacote completo, que vai do exercício ao consumo de estilo. Essa convergência entre saúde, moda e consumo reforça o wellness como um setor multifacetado, em constante expansão e com impacto cultural direto no modo de vestir dos brasileiros.

As redes sociais também impulsionam o processo. Plataformas como TikTok e Instagram transformaram a estética wellness em repertório visual que mistura treino, alimentação saudável e moda esportiva. “As pessoas não compram só a roupa, compram a ideia de vida equilibrada — e isso é altamente compartilhado online”, observa a estilista. Para ela, o futuro da moda fitness estará ligado à tecnologia, personalização e monitoramento em tempo real. Tecidos inteligentes capazes de acompanhar sinais vitais já estão em desenvolvimento e devem ganhar espaço. “Wellness é uma nova forma de viver. Quem entender isso estará à frente do mercado”, conclui.

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De kpop e tecnobrega a looks que simulavam órgãos humanos, os estilistas entregaram inovação e ergueram pautas sociais
por
Gabriela Figueiredo, Fernanda Querne, Luana Galeno, Enrico Souto e Maria Eduarda Camargo
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20/11/2022 - 12h

 

Legenda: Halessia no desfile da Another Place/ Por: Fernanda Querne 

Nesta quinta-feira (17), o segundo dia da São Paulo Fashion Week (SPFW) esteve a todo vapor e reafirmou as tendências de diversidade e sustentabilidade que têm ditado o evento. No palco do Komplexo Tempo da Moóca, foram destaque os desfiles produzidos por DePedro, Sou de Algodão, TA Studios, Another Place e João Pimenta. Enquanto isso, passaram pelo Shopping Iguatemi as apresentações de Lilly Sarti e Rellow, em que Isabella Fiorentino e Giovanna Ewbank, respectivamente, desfilaram.

 

 Legenda: Vitão no desfile da DePedro/ Por: Luana Galeno

DePedro abriu seu desfile com uma coleção voltada para o verão, evocando cores quentes, como o vermelho e o amarelo, em peças trabalhadas no crochê e bordados que pontualmente se sobressaiam. Com o tema “Contradição”, a marca do estilista Marcus Figueiredo, nascido em Caicó, interior do Rio Grande do Norte, vestiu em suas estampas com movimento Vitão, Rodrigo Mussi e outras celebridades para abordar a dualidade da realidade nordestina de forma mística e enaltecedora

  

Legenda: Desfile da TA Studios/ Por: Luana Galeno

Foi difícil não se surpreender com o desfile da TA Studios logo no começo, quando abriu a coleção “Quintal Global” ao som de hits do kpop remixados em uma versão de tecnobrega. É esse choque de elementos tão diferentes que ditou a coleção da idealizadora e estilista Gisele Caldas, que investe em uma produção ecofriendly.

 

Legenda: Alexandra Gurgel desfilando para TA Studios/ Por: Luana Galeno

Na primeira parte da apresentação, predominavam peças lisas e em preto-e-branco, que gradativamente foram substituídas por looks em grandes estampas e cores sóbrias, do verde ao bege. Entre outras modelos, Alexandra Gurgel marcou presença desfilando com um grande vestido estampado

 

Legenda: Desfile da Another Place/ Por: Fernanda Querne 

A coleção “Love Hurts” foi introduzida pela Another Place em seu desfile com roupas de cores azuis e tecidos de cetim em tons metalizados. Com a presença de João Guilherme nos palcos e Mateus Carrilho e Halessia na plateia, a apresentação foi influenciada pelo retorno do Y2K e da moda à la Britney Spears, apostando forte em calças jeans de cintura baixa, porém a partir de uma visão sustentável. 

 

Legenda: Desfile da Another Place/ Por: Fernanda Querne

Outra preocupação da marca foi em promover uma moda agênero, com modelos masculinos usando renda, corset e looks decotados, enquanto modelos femininas vestiam estampas ousadas, ao invés de peças sexualizantes. Um destaque especial para um dos looks mais memoráveis da noite, em que uma modelo roubou a cena ao vestir tie dyes rosas e violetas.

Já a marca portuguesa Buzina estreou na edição 54 da SPFW com a coleção "Burnish". As peças desenhadas pela estilista Vera Fernandes buscaram as raízes do Slow Fashion e da moda sustentável, mirando em estampas listradas, designs excêntricos e cores pastéis. Infelizmente, a apresentação se sobressaiu como uma das menos diversas do evento, vestindo somente três modelos negras no decorrer de todo o desfile.

 

 

 Legenda: Backstage da João Pimenta/ Por: Luana Galeno

No caminho contrário, o desfile de João Pimenta esteve entre os mais coloridos do segundo dia da SPFW N54, atentando-se à diversidade racial, etária e de corpos durante a escolha das modelos. Com sua nova coleção, o stylist demonstrou mais uma vez porque é um dos mais respeitados no mundo da moda, com ternos de alta-costura e peças com corte e caimento que uniam a elegância e inovação.

 

 Legenda: Backstage da João Pimenta com Ícaro Silva Por: Luana Galeno

Os tons terrosos de bege, rosa, vinho e marrom deram atmosfera às peças que, ao mesmo tempo que simulavam o formato de órgãos, ossos e partes do corpo, as misturavam com estampas florais e bordados delicados. Vestindo celebridades como Ícaro Silva e contando com a presença de Nátaly Neri e Jonas Maria na plateia, João Pimenta foi, de fato, “Das tripas ao coração”.

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O evento trouxe ampla representatividade e colocou famosos na passarela
por
Gabriela Figueiredo, Fernanda Querne, Luana Galeno, Enrico Souto e Maria Eduarda Camargo
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18/11/2022 - 12h

 

A edição 54 da São Paulo Fashion Week estreou nesta quarta-feira (16), no Shopping Iguatemi, com Patricia Vieira. Porém, o Komplexo Tempo, na Mooca, foi o palco principal da maioria dos desfiles. 

Houve a presença ilustre da coleção “Onde nasce a arte”, dos Meninos Rei. A marca assinada pelos irmãos baianos, Júnior Rocha e Céu Rocha, protagonizou a beleza do povo preto e a sua ancestralidade. Durante o primeiro dia do evento, também participaram marcas como Soul Basico, Greg Joey, Walério Araújo, Renata Buzzo, Aluf e Bold Strap.

Com a temática IN.PACTOS, a temporada trouxe coleções que tratam de questões íntimas para os designers, como foi o caso de Walério Araújo. Entretanto, também houve quem optou pelo choque visual de seu desfile, à exemplo da Bold Strap.

 

Legenda: Ensaio da Bold Trap / Por: Luana Galeno

 

A SPFW contou com inúmeras celebridades, seja para modelar ou assistir. Estreando nas passarelas, Bianca Andrade desfilou para Bold Strap e alegou que fez inúmeras aulas para aprender a arte do “catwalk”. Já Camila Queiroz abre as passarelas para a mesma marca, enquanto seu marido, Klebber Toledo, fez uma aparição no desfile da Soul Basico.

Outros famosos também levantaram os aplausos do público, como o cantor Xamã, que desfilou para Walério Araújo, juntamente com Alexandra Gurgel e Halessia, enquanto Jojo Todynho e Deborah Secco vestiram a marca dos irmãos de Salvador. Como visitantes, a equipe da AGEMT encontrou Leandrinha Du Arte, Dudu Bertholini, Joyce Fernandes, Malu Borges e Lorrane Silva.

Confira as fotos:

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 


 

 

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Walério Araújo traz Gótico luxuoso à São Paulo Fashion Week
por
Fernanda Querne
Gabriela Figueiredo
Luana Galeano
Maria Eduarda Camargo
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17/11/2022 - 12h
Modelos no Backstage do desfile
Modelos no backstage do desfile
Por: Gabriela Figueiredo

"Vou comer um bolo agora sozinho. Já que o ‘boy’ me deu ‘um bolo’” diz Walério Araújo, ao sair do camarim da São Paulo Fashion Week. Só há motivos para comemorar. Seu desfile inaugura uma visão gótica com correntes, caveiras e cruzes - contrastando vibrantemente com a coleção apresentada na edição N53 do SPFW, que contava com o uso de penas e acessórios mais fluidos e menos carregados. A base foi o preto, mas também houve peças em roxo e fúcsia - as statement colors da coleção. Mesmo com uma vibe mais dark, o mistério sombrio enalteceu uma sensualidade cativante.

 

Alexandra Gurgel no backstage do Walério Araújo
Alexandra Gurgel no backstage do Walério Araújo
Por: Fernanda Querne e Gabriela Figueiredo

Dentro do backstage de Walério, Alexandra Gurgel é vista já com o seu delineado gráfico pronto. Em entrevista à AGEMT, a dona do canal Alexandrismos revelou as suas expectativas para a edição N54 : “Eu tô achando incrível, é a segunda vez que eu desfilo. Algo bem gótico, trevoso, com muita personalidade e muita representatividade”. Mesmo com a volta dos anos 2000, cinturas mais baixas e a exaltação da magreza, ainda há a inclusão do movimento corpo livre nas passarelas. Outro exemplo a ser citado é o desfile dos irmãos Salvador que conta com Jojo Todynho.

Não foi só sua a estreia no SPFW, mas também de vários modelos no evento, que também pela primeira vez, abre espaço para o público. “Está sendo incrível, eu sempre via todo mundo participando e agora eu estou aqui. Me sinto realizada” - enalteceu Juliana Bispo. Com a expectativa lá no alto e a ansiedade a mil, a modelo mostra a alegria de estar desfilando com um grande sorriso no rosto. 

Já quando a AGEMT abordou a temática de diversidade, os semblantes mudaram. As suas expressões eram mais sérias: “Eu acho que a cada desfile está tendo uma acessibilidade maior” - ressaltou Alice Santos. Também notaram como, ano após ano, há mais inclusão para os convidados. 

Xamã no backstage do desfile de Walério Araújo
Xamã no backstage de Walério Araújo
Por: Fernanda Querne e Gabriela Figueiredo

 

Walério Araújo dando os toques finais na peça da Carmelita Mendes
Walério Araújo dando os toques finais na peça da Carmelita Mendes
Por: Fernanda Querne

Carmelita Mendes, veterana em desfiles, confessou que sempre há um “friozinho” na barriga antes do show começar. “Desfilei já algumas vezes para o Walério e estou contando as horas para entrar. Mas eu fico nervosa, é uma mistura de sentimentos”. Aguardando ansiosamente, a modelo marcou o desfile com a peça final da coleção. O próprio criador da marca estava fazendo os toques finais da roupa enquanto o desfile acontecia - prendia as flores pretas no macacão da Carmelita no backstage. Devido à multidão, até pisaram na peça. Ainda, enquanto a fila para a passarela se formava, a equipe gritava por um por um pó baked, que havia desaparecido.

Walério segurando uma flor preta do macacão de Carmelita Mendes
Walério segurando a flor que iria para o macacão de Carmelita Mendes
Por: Fernanda Querne

"É uma loucura, sempre há uns imprevistos que ninguém sabe mas são os melhores porque deixam a coleção mais quente” - foi a conclusão do Walério com relação ao desfile. O criador da marca também desabafou que teve que, literalmente, sair do salto. Isso pois no backstage houve correria atrás de qualquer sapato preto 39 para uma modelo que necessitava. Quase usaram o meu. Imaginem, um salto da Renner tamanho 36 na SPFW - quem vê close, não vê corre.

 

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O evento acontecerá entre os dias 16 e 20 de novembro em formato híbrido, com 43 desfiles presenciais e 5 digitais; saiba mais!
por
Fernanda Querne
Gabriela Figueiredo
Luana Galeno
Enrico Souto
Christian Policeno
Maria Camargo
Victoria Leal
Antônio Bandeira
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07/11/2022 - 12h

A 54ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW) continuará o tema de IN.PACTOS. O evento ocorrerá entre os dias 16 e 20 de novembro em um novo espaço do Shopping Iguatemi que reunirá uma sala de desfile, a transmissão online do evento e uma área de estúdio dedicada a produção de conteúdo. Com a ajuda da curadora, Carollina Laureano, a programação no Komplexo Temo, na Mooca, se tornará uma galeria a céu aberto. A SPFW anunciou de forma inédita a venda dos ingressos para o público com preços que variam de R$ 50 a R$ 1.540.  

Pós-pandemia, a temática da edição representa criatividade, sustentabilidade e inovação, procurando provocar reflexões sobre as mudanças que precisam ser feitas hoje para um planeta mais harmonioso até 2030. Abordarão ainda os temas identidade e pertencimento, com a presença de artistas racializados, trans e indígenas.  

“Estamos conscientes de que os processos dependerão cada vez mais de um movimento circular e colaborativo. É nisso que sempre acreditamos e por isso colocamos o SPFW sempre numa zona de risco para provocar e ampliar os novos pactos individuais e coletivos em torno das metas globais de mudança”, afirma Paulo Borges, criador e diretor do SPFW.

Isaac Silva SPFW nº53 / Reprodução SPFW
Isaac Silva SPFW nº53 / Reprodução SPFW

 

            “Minha participação nessa edição do SPFW se baseia em trazer um olhar da arte contemporânea para a moda, apresentando artistas/es que tem práticas que se aproximam da moda, a fim de discutir identidades e pertencimento. Se até hoje a sociedade Brasileira ainda vive sob um pacto colonial que oprime maiorias minorizadas, quais são os novos pactos que devemos criar para um futuro mais plural e qual a responsabilidade da moda nesse contexto? É sobre isso que estou interessada em discutir”, aponta a curadora Carollina Laureano

No total, serão 48 desfiles, sendo 43 presenciais e 5 digitais que se apresentam como fashion films. Quatro novas marcas estreiam nesta edição: Greg Joey, de Lucas Danuello, conhecido pelo genderless e inovação; Heloisa Faria, que usa técnicas de moulage; Maurício Duarte, com criações pintadas a mão e a Buzina, marca sustentável portuguesa. Notoriamente, a Ellus fará uma celebração de 50 anos da marca durante o evento. 

 

LINE-UP

 

16/11 (quarta-feira) 

 

12h - Patrícia Viera (Iguatemi)

16h - Meninos Rei (Komplexo Tempo)

17h - Soul Basico (Komplexo Tempo)

18h - Greg Joey (Komplexo Tempo)

19h - Walério Araújo (Komplexo Tempo)

20h - Renata Buzzo (Komplexo Tempo)

20h30 - Aluf (Digital) 

21h30 - Bold Strap (Komplexo Tempo)

 

17/11 (quinta-feira) 

 

10h30 - Misci (Externo)

12h30 - Lilly Sarti (Iguatemi)

13h - Rellow (Iguatemi)

16h - DePedro (Komplexo Tempo)

17h - Sou de Algodão (Komplexo de Tempo)

18h - TA Studios (Komplexo Tempo)

19h - Another Place (Komplexo Tempo)

20h - Buzina (Komplexo Tempo)

20h30 - Modem (Digital) 

21h30 - João Pimenta (Komplexo Tempo)

 

18/11 (sexta-feira) 

 

10h30 - A.Niemeyer (Iguatemi)

12h - Triya (Iguatemi) 

14h30 - Lino Villaventura (Externo)

16h - Rocio Canvas (Komplexo Tempo)

17h - Thear (Komplexo Tempo)

18h - Ateliê Mão de Mãe (Komplexo Tempo)

19h - Martins (Komplexo Tempo)

20h - Handred (Komplexo Tempo)

20h30 - Heloísa Faria (Digital) 

22h - Ellus (Externo)

 

19/11 (sábado) 

 

10h30 - Angela Brito (Iguatemi)

12h30 - Nariage (Iguatemi)

15h - AZ Marias (Komplexo Tempo)

16h - Ponto Firme (Komplexo Tempo)

17h - Silvério (Komplexo Tempo)

18h - Santa Resistência (Komplexo Tempo)

19h - Anacê (Komplexo Tempo)

19h30 - Àlg (Digital) 

20h - Led (Komplexo Tempo)

21h30 - Lenny Niemeyer (Externo)

 

20/11 (domingo) 

 

10h - Korshi 01 (Externo)

12h - À La Garçonne (Iguatemi)

15h - Isaac Silva (Komplexo Tempo)

16h - Cria Costura (Komplexo Tempo)

17h - Lucas Leão (Komplexo Tempo)

18h - Naya Violeta (Komplexo Tempo)

19h - Weider Silveiro (Komplexo Tempo)

20h - Dendezeiro (Komplexo Tempo)

20h30 - Maurício Duarte (Digital) 

21h30 - Apartamento 03 (Komplexo Tempo)

 

Imagem da capa: João Pimenta SPFW nº53 / Reprodução SPFW 

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Mais do que moda, o movimento gera discussões sobre identidade, apropriação cultural e politica.
por
Beatriz Tiemy
Giulia Aguillera
|
19/10/2022 - 12h

Seja em bonés, camisetas de time ou chinelos Havaianas, o verde, amarelo e azul estão presentes nos novos produtos da moda nacional e internacional. Nos últimos meses, a bandeira brasileira se espalhou rapidamente pelas redes sociais de influencers fashionistas do mundo todo, principalmente pelo TikTok e Instagram. Às vésperas das eleições e da Copa do Mundo do Qatar, a popularização do símbolo do Brasil restaura um sentimento de identidade que vai muito além da moda.

Mais que uma tendência, o BrasilCore tem uma importância política no ano de 2022. Desde 2014, a bandeira brasileira e o próprio brasão da Confederação Brasileira de Futebol são associadas à direita política no país. O verde, amarelo e azul estamparam campanhas eleitorais e manifestações a favor desse lado, representado principalmente pelo presidente em exercício, Jair Bolsonaro (PL). Um exemplo expressivo do uso das cores com um cunho partidário foi a onda de atos pedindo pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Esse processo de apropriação do símbolo nacional fez com que o grupo que não se identifica com os ideais da direita deixasse de usar roupas com o tema e, mais do que isso, perdesse o sentimento de nacionalismo. Em contrapartida, a estética BrasilCore surge na direção contrária à apropriação, já que propõe o resgate da bandeira como forma de representação do povo brasileiro. Assim, o movimento une moda, política e, ainda, futebol.

Não é possível falar de estética brasileira sem mencionar o futebol, já que, no país, é o esporte mais popular. Por isso, o lançamento das camisas da seleção da Copa do Mundo de 2022 pela Nike é uma forma de consolidar o BrasilCore como tendência nacional e internacional. Em entrevista para a AGEMT, Julia Andreata (20), Analista Júnior que integra a equipe criativa da empresa, conta que a maior dificuldade no processo de criação do novo uniforme foi manter as cores clássicas da camisa brasileira tendo em vista o longo e complexo processo político pelo qual o país está passando.

A moda sempre foi um instrumento de manifestação e, com a chegada da Copa do Mundo e das eleições, a tendência do verde e amarelo se torna mais presente e comentada do que nunca, o que gera grandes reflexões e embates internos por parte da população. É uma perspectiva que estimula, por um lado, o patriotismo de volta, mas, por outro, o medo e a repulsa de usar a camisa verde e amarela com receio de ser associado a partidos e ideologias políticas. Durante anos, o povo brasileiro assistiu essa atitude, fazendo com que muitos abrissem mão de sua bandeira, de suas camisas, das cores que representam a sua nação.

Na tentativa de desmistificar, a Nike, junto a sua equipe criativa, exploraram maneiras de desvincular a política das blusas da seleção e restaurar aquele sentimento de orgulho ao vestir o verde e amarelo.

O caminho que a Nike escolheu seguir foi exaltar aspectos da cultura brasileira. Para isso, escolheu um visual baseado no uniforme usado pelo time na conquista de seu último título, em 2002. Surge então o slogan “Veste a Garra”, estampado por toda a campanha das novas camisetas da próxima Copa, que sugere ao povo brasileiro agora, mais que nunca, é o momento de vestir a camisa e lutar pelo país, assim como os atletas em campo lutam por uma vitória.

Julia ainda retoma que o objetivo principal dos novos designs foi “trazer orgulho de volta para os brasileiros, e fazer eles vestirem a camiseta. Tudo foi pensado nisso, envolver a textura de onça pintada nas mangas e a bandeirinha na gola, símbolos brasileiros. Por isso, todo o marketing teve o bordão ‘Veste a Garra’”.

 

As camisetas de time e a periferia

O esporte sempre foi um dos fatores que influenciam a moda. Dos tênis All Star até a camisa Polo, muitas tendências surgiram por conta das práticas esportivas. No entanto, com o futebol no Brasil, alguns fatores fizeram com que essa influência fosse vista como algo negativo. Apesar de eleito o esporte favorito dos brasileiros, a elite enxergava, até pouco tempo atrás, o futebol como pertencente a uma cultura de massa e tinha uma visão negativa sobre ele.

Desde muito antes da repercussão atual do Brazilian aesthetic nas redes, que trouxe consigo uma nova visão das camisetas como itens fashionistas, elas já eram muito antes reverenciadas e reconhecidas como itens essenciais da moda periférica. O “país do futebol”, assim chamado e reconhecido por sua nação, fez com que as camisetas se tornassem um grande símbolo, que teve um imenso consumo e ênfase nas periferias pelo entorno do cotidiano periférico em que o futebol é um elemento muito forte e presente. Como um exemplo disso, a existência dos campos de futebol nas comunidades em que crianças e adultos de todas as idades frequentam e jogam.

Diante dessa situação, pelas roupas da seleção terem como modelos principais os corpos negros e periféricos, esse movimento foi envolto pelo preconceito e o “mal olhado” sendo associado como estilo de “favelado” ou símbolo de algo desleixado. A problemática da tendência surge neste momento em que passa a ser valorizada apenas quando vestida por um grupo específico, branco e elitista no Brasil e "gringos". Algo que muito antes já fazia parte da moda nacional, identidade cultural e realidade de muitos brasileiros, somente a partir do momento que foi usada por pessoas de outros países e grandes figuras brancas e influentes passa a ser visto como um elemento grandioso de moda.

Com a replicação das tendências do exterior observadas no Brasil e a questão da desvalorização de moda nacional e periférica, Laura Ferrazza, historiadora da moda, diz: “As referências da moda estão globalizadas, porém, é um erro pensar que o Brasil não crie suas próprias tendências internas e mesmo seja capaz de exportar tendências”.

“Acho que a identidade de um povo, como uma nação jovem como a brasileira, está sempre em construção. O brasileiro sempre coloca sua marca, seu jeito próprio ao usar algo externo e é muito criativo e inovador”, completa Laura.

Sobre a repercussão da tendência BrazilCore, diz:  “A moda é um catalisador do espírito do tempo, um espaço para expressar gostos e opiniões.” “Certamente as preferências eleitorais e esportivas acabam aparecendo como tendência em momentos importantes como uma eleição presidencial e uma Copa do Mundo”, diz Laura Ferrazza.