Confira como foram os desfiles do último dia da semana de moda paulistana
por
Pedro da Silva Menezes
Helena Haddad
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23/04/2025 - 12h

Na sexta-feira (11), o último dia da 59ª edição da São Paulo Fashion Week foi marcado por três desfiles de estilos distintos. A capital paulista recebeu as novas coleções da Handred, Patricia Vieira e PIET que encerraram o evento.

Handred

Abrindo o  dia, Handred apresentou uma coleção cheia de referências artísticas brasileiras e inspiradas na tapeçaria. Ponto Brasileiro – nome da coleção assinada pelo estilista André Namitala- traduziu a homenagem desejada pelo artista: “Uma ode ao legado dos grandes mestres tapeceiros”

O desfile ocorreu na galeria Passado Composto, no bairro do Jardins. Enquanto os modelos passavam apresentando a coleção, André narrava o desfile comentando os looks, suas técnicas e seus pensamentos, uma ambientação única e intimista. A  Handred trouxe excelência na necessidade atual de experiências imersivas para a passarela.

A coleção acentua os trabalhos manuais do ateliê e comemora brasilidade – as cores vibrantes, peças inspiradas em obras de Jacques Douchez e na ilustração “Jardim Brasileiro” do artista Filipe Jardim. As técnicas refinadas com ajuda do Apara Studio relembram Genaro de Carvalho, tapeceiro brasileiro que incorporava cores e a cultura brasileira em suas obras.

Uma coleção com bordados, organza, lã, veludo e seda, tudo conversa com as obras. Outro ponto alto foi a beleza assinada por Carla Biriba, a maquiagem dos modelos conversava diretamente com as peças e passavam do corpo para o rosto. A linha transcende a moda e mostra como caminhar junto da arte brasileira.

Modelo no desfile da Handred
Desfile Handred. Fonte: Reprodução/Agfotosite

 

Patricia Viera 

Marca consolidada na SPFW e conhecida pelo trabalho com couro, Patricia Viera apresentou sua nova coleção na Casa Higienópolis, em parceria com o artista Jardel Moura, responsável pelo desenvolvimento do corte tipo richelieu - caracterizado por desenhos vazados, muitas vezes com flores, folhagens ou padrões geométricos . 

Sempre buscando inovação com sustentabilidade, Viera traz uma coleção que reforça seus atributos ao usar tecnologia a laser na construção do couro. Inspirada no Art Déco, a estilista aposta em tons sóbrios, como bordô, marinho e até metálicos, aliados à geometria. Os mosaicos, criados por meio do programa Zero Waste, reutilizam sobras de couro do ateliê, promovendo uma produção mais consciente.

Com uma ambientação clássica, a coleção revisita o passado sem deixar de valorizar o presente, trazendo elementos como um vestido de noiva e o uso de animal print. O trabalho artesanal das peças é único e reafirma o luxo característico da marca. Pela primeira vez, a marca apresentou uma coleção própria de sapatos, expandindo seu portfólio de produtos.

Modelo com vestido de noiva no desfile da Patricia Viera
Vestido de noiva em couro. Fonte: Agfotosite/Zé Takahashi

 

PIET

Com trilha sonora de Marcelo D2 e Nave Beats, Pedro Andrade criou um cenário único no estádio do Pacaembu para apresentar o desfile da PIET. O futebol foi o protagonista da coleção. O estilista explicou à CAPRICHO que a apresentação funciona como uma linha do tempo que começa nas memórias de infância, que ajudam a formar o imaginário coletivo da população sobre o esporte. “O futebol está no nosso DNA”, declarou.

Ele explora diversos personagens nas roupas: do torcedor ao técnico, passando pelo jogador e até mesmo pelo soldado na reserva, que passa a maior parte do tempo jogando bola. Por meio de uma combinação de modelagens justas e oversized, meiões, releituras de camisas de time e estampas camufladas, o estilista traduz essas personas em suas peças.

Modelos no desfile da Piet no campo do estádio do Pacaembu
Desfile da PIET na SPFW N59. Fonte: Agfotosite/Marcelo Soubiha

 

A maquiagem também teve destaque na passarela. Helder Rodrigues foi o responsável pela beleza dos modelos, que apareceram desde apenas com blush, até rostos completamente pintados, que evocaram a paixão dos fanáticos pelo esporte.

Desde 2022, a São Paulo Fashion Week passou a vender ingressos, mas o evento da marca de streetwear foi em contrapartida ao disponibilizar 4 mil entradas gratuitas para o público e reuniu uma comunidade fiel à marca. A escolha foi certeira, já que os torcedores formam parte essencial desse “jogo da moda”.

Estreante na SPFW em 2018, a PIET conquistou reconhecimento internacional ao firmar parcerias com marcas como Oakley, Puma e Levi’s. Com o encerramento da semana de moda, ela trouxe uma atmosfera de final de Copa do Mundo e reafirmou a democratização dos espaços da moda com a coleção “Farmers League”.

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Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Tendências para próxima estação marcam presença na passarela em meio a referências inusitadas
por
Bruna Quirino Alves
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14/04/2025 - 12h


Weider Silveiro  

Weider Silveiro iniciou a sequência de desfiles da  quarta-feira (9) no Shopping JK Iguatemi. A inspiração de sua coleção de inverno foi a deusa do amor e da beleza, Vênus.

Além de trazer um estudo de várias versões da figura mitológica, previamente retratadas na história, o estilista também se aprofundou nas representações humanas da divindade, ao aclamar artistas femininas conhecidas por, tanto por seus talentos, como suas belezas físicas, como Madonna, Cher e Joelma.

As peças da coleção trazem uma nova versão dos caimentos clássicos de busto, quadril e cintura, incorporando novos formatos e silhuetas para os cortes. Com paletas em tons pastéis, elementos que estão em alta no mundo da moda também foram incluídos nos looks, como a saia balonê e a modelagem assimétrica.

Modelo com vestido vinho desfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo de vestido rosa vdesfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reptilia

O segundo desfile do dia foi da marca Reptilia. A coleção “Tectônica” se inspira em falhas e deslocamentos geológicos, apresentando peças com tons terrosos e estampas que remetem ao solo. 

As peças foram pensadas a partir de uma proposta agênero e tal pluralidade ficou evidente  passarela. A cartela de cores predominante no desfile ficou estacionada nos  tons marrons, com leves toques de azuis, verdes e cinzas, remetendo  a pedras minerais.

A estamparia chamou atenção por um  detalhe particular da diretora criativa, Heloisa Strobel. As estampas foram feitas a partir de fotos tiradas pela própria designer com uma câmera analógica de 35mm durante uma viagem ao Oriente Médio.

A composição de looks conta com sobreposições, peças modulares, tecidos fluídos e alfaiataria que é característica da marca. Além disso, o processo de produção inova ao combinar corte a laser com bordado manual e uso de retalhos. O reaproveitamento de tecidos reafirma o compromisso da marca com a moda sustentável.

Modelo desfilando com vestido estampado
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando na passarela com roupa preta e branca
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Led

O desfile da marca Led foi o terceiro do dia, com a irreverência de ser inspirado em novelas brasileiras.

LED apresenta a sua coleção “BR SHOW”, ambientada como um programa de televisão. A trilha sonora contava com um remix de bordões icônicos da teledramaturgia brasileira, falas de apresentadores e aberturas de programas famosos.

O estilista, Celio Dias, disse em entrevista à Globo que aproveitou a estreia da nova versão de “Vale Tudo” para embarcar na atmosfera das novelas brasileiras, sob a perspectiva de alguém que acompanhou o surgimento de tendências que vieram dessas produções.

As peças da coleção são maximalistas e contam com mistura de estampas: animal print, listras e bolinhas, além de ornamentos como franjas e pelúcia, também incorporando pontos de tricô e crochê em alguns modelos.

O streetwear teve grande destaque no desfile, com a presença de calças cargo, casacos esportivos, moletons, camisetas gráficas com trocadilhos e tênis de corrida.
 

Modelo desfilando com macacão listrado
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando com vestido listrado preto e branco
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À La Garçonne

O último desfile da noite foi da marca À La Garçonne, com sua coleção mesclada entre streetwear e alfaiataria.

O estilista Fábio Souza não pensou em nenhum tema específico para basear a sua coleção, seu foco era criar peças usáveis prezando o conforto acima da estética.

O vestuário apresentado chamou atenção pela mistura de estampas, com destaque para o xadrez, que é a tendência da estação. Silhuetas bem estruturadas, uso de pregas, caimento oversized e tênis esportivos compuseram os looks.

A paleta de cores é sóbria em tons de verde militar, marrom e grafite, com o contraste de alguns relances em tons de vermelho e roxo.

O processo de produção da coleção foi realizado a partir do upcycling de tecidos vintage da própria marca e garimpado de outras. O estilista reforça o conceito de moda consciente e reuso de materiais têxteis, criando novas peças customizadas e sustentáveis.

Modelo desfilando com terno xadrez
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando vestido e calça de terno
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite


 

 

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Com grandes nomes da moda brasileira, evento chega ao seu penúltimo dia
por
Gustavo Oliveira de Souza
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14/04/2025 - 12h
Foto de desfile
Modelo durante desfile da Dendezeiro. Foto: Mauricio Santana, Getty Images
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Na quinta-feira (10), o quinto dia de desfiles na São Paulo Fashion Week  trouxe aos holofotes marcas fundamentais ao cenário nacional, pilares do reconhecimento da moda brasileira país a fora.

João Pimenta 

O primeiro desfile do dia foi do estilista João Pimenta. O já consagrado artista, que por alguns anos misturou elementos da moda voltada aos dois gêneros decidiu apostar em um conceito quase todo concentrado  no vestuário masculino. O desfile aconteceu na estação Júlio Prestes do metrô, com o nome “Em Construção”. Sua obra buscou questionar os rumos da tecnologia na moda e valorizar o trabalho manual.

Dendezeiro

No JK Iguatemi, a Dendezeiro foi a segunda grife do dia a desfilar. A marca baiana da dupla Hisan Silva e Pedro Batalha trouxe um conceito que homenageava a região Norte do Brasil, com muito destaque à Amazônia. Chamada de “Brasiliano 2: A Puxada para o Norte”, o desfile destacou a fauna, com estampas de peixe e bolsas em formato de capivara, além de camisetas com frases exaltando a cultura local.

MNMAL

O penúltimo desfile do dia foi da estreante MNMAL. Fundada em 2022, a marca tem seu conceito baseado no minimalismo, e na passarela não foi diferente. Assinada pelo estilista Flávio Gamaum, as peças têm como principal destaque o conforto, pensada para o cotidiano no lar e home-office. Mesmo com todo o conforto, a elegância não é deixada de lado.

Walério Araújo 

Fechando o dia 10, o importante estilista Walério Araújo trouxe seu conceito usualmente impactante. Já tendo sido considerado um dos maiores estilistas do mundo, o pernambucano traz, novamente, a ousadia. Com diversas homenagens às mulheres trans, a bandeira de arco-íris apareceu em vestidos e peças mais casuais. Como novidade, a alfaiataria esteve presente, com peças que mostram a diferença na manifestação de gênero em locais públicos e privados.

Todos os desfiles marcaram, novamente, uma nova trajetória na moda brasileira. Sendo dos mais novos aos mais veteranos, quem esteve presente pôde acompanhar mais um capítulo da história do fashion no Brasil. 

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Tecnologia auxilia na análise de tendências, preferências do público e desempenho de vendas, otimizando a criação de coleções mais assertivas e sustentáveis
por
Larissa Pereira José
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24/03/2025 - 12h

A moda sempre foi um reflexo do comportamento humano, e nos últimos anos, a tecnologia tem desempenhado um papel crucial na forma como as coleções são criadas. No segmento fashion, que exige inovação constante para atender a um público cada vez mais exigente, a Inteligência Artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta essencial. Desde a pesquisa de tendências até a análise de dados de vendas, a tecnologia vem revolucionando o processo criativo e estratégico.  

Para entender melhor essa transformação, conversamos com Nayara Graziela do Lago, estilista responsável pelo desenvolvimento de roupas fitness femininas para um grande magazine. Com anos de experiência no setor, ela destaca como a IA tem otimizado seu trabalho e impactado positivamente as coleções. “Antes, a pesquisa de tendências era um processo muito manual e baseado na intuição. Hoje, conseguimos usar IA para analisar um grande volume de informações e identificar padrões com muito mais precisão”, explica Nayara.  

Ferramentas de inteligência artificial são capazes de cruzar dados de redes sociais, desfiles internacionais, comportamento de busca na internet e até avaliações de clientes em e-commerce. Isso permite que a equipe de estilo tenha uma visão mais clara do que está em alta e do que realmente pode funcionar para o público-alvo. “No segmento fitness, por exemplo, percebemos que há uma crescente demanda por peças multifuncionais, que possam ser usadas tanto na academia quanto no dia a dia. A IA nos ajuda a confirmar essa tendência analisando o comportamento dos consumidores em tempo real”, acrescenta a Nayara.  

Além de prever tendências futuras, a inteligência artificial também tem um papel fundamental na análise de coleções passadas. A tecnologia permite avaliar quais peças tiveram melhor desempenho de vendas, quais cores e modelagens foram mais aceitas e até quais tecidos proporcionaram mais conforto ao consumidor.  

“A cada nova coleção, conseguimos acessar relatórios detalhados sobre o que funcionou e o que precisa ser ajustado. A IA cruza dados de vendas com feedbacks dos clientes e nos mostra, por exemplo, se determinada peça foi muito devolvida por problemas de caimento ou se uma estampa específica teve alta aceitação. Isso nos dá uma base muito mais sólida para criar novos produtos”, explica Nayara.  

Esse tipo de análise evita desperdícios e ajuda a direcionar melhor os investimentos na produção. Em um mercado cada vez mais competitivo, entender as preferências do público-alvo é essencial para criar coleções assertivas e bem-sucedidas. Outro aspecto revolucionário do uso da inteligência artificial na moda está na criação de estampas e modelagens. Hoje, já existem softwares que geram prints exclusivos baseados em combinações de cores e texturas identificadas como tendências. Além disso, ferramentas de simulação virtual permitem testar digitalmente o caimento das peças antes mesmo da confecção dos primeiros protótipos físicos.  

“Isso reduz drasticamente o desperdício de materiais e encurta o tempo de desenvolvimento das coleções. Antes, fazíamos diversos testes com tecidos e modelagens diferentes, o que demandava tempo e custos. Agora, conseguimos visualizar um look completo de forma digital e fazer ajustes antes de costurá-lo”, explica Nayara. 

Maquinário de fábrica têxtil que desenvolve peças sem costura.
Maquinário de fábrica têxtil que desenvolve produtos sem costura.

Apesar das inúmeras vantagens proporcionadas pela IA, Nayara faz questão de ressaltar que a tecnologia não substitui a criatividade humana. “A moda tem emoção, identidade e precisa criar conexão com o consumidor. A IA é uma ferramenta poderosa, mas o toque final ainda é do estilista. Somos nós que interpretamos os dados e transformamos essa informação em coleções que realmente conversam com o público.”  

Para a estilista, o futuro da moda passa pela combinação entre tecnologia e sensibilidade humana. “O uso da IA no desenvolvimento de coleções já é uma realidade e tende a crescer cada vez mais. Mas a essência da moda continua sendo a criatividade e a capacidade de contar histórias por meio das roupas”.  

Com um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo, a inteligência artificial se consolida como um diferencial estratégico para marcas que desejam inovar, reduzir desperdícios e entregar produtos alinhados às expectativas do consumidor moderno. E, como Nayara bem pontua, quando aliada ao olhar criativo do estilista, a tecnologia se torna uma poderosa ferramenta para transformar dados e estatísticas em coleções de sucesso.

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O quarto dia de desfiles trouxe temáticas voltadas à literatura modernista, ao artesanato e à homenagem familiar.
por
Giovanna Montanhan
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15/04/2024 - 12h

Weider Silveiro, estilista piauiense, que fundou sua marca homônima em 2002, apresentou nesta edição da SPFW, uma coleção que exaltava a beleza africana sem deixar de lado as técnicas artesanais,que contavam com a presença de bordados e crochês.  O estilista que participou durante quinze anos da ‘Casa de Criadores’, e é um dos idealizadores da Célula Preta - um coletivo organizado por estilistas negros da Casa de Criadores, com o propósito de fornecer equidade de oportunidades a esse grupo em relação aos branco - embalou seu desfile ao som de batuques. 

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Foto: Divulgação Agência Fotosite

 

 As modelos desfilaram na passarela vestindo tons terrosos, com toques de  amarelo e verde-água. Apostando em cinturas bem marcadas, a coleção também carregava tecidos fluidos, sem deixar  o streetwear de lado (sua marca registrada!). Vestidos com franjas, conjuntos de alfaiataria com bolas penduradas, estampas da Vênus Grega em algumas peças, e até chegou a resgatar uma técnica chamada ‘panejamento’, que significa dar volume a partir de novas sobreposições e amarrações nas roupas.

 

Rafael Caetano 

 Homenageou o escritor modernista Mário de Andrade em uma coleção chamada ‘Intransitivo’, que a partir do instrumental da canção de Tom Jobim, ‘Carinhoso’, tocado para embalar o desfile, os modelos transitaram na passarela usando lurex, peças em cetim que continham estampa de pássaros, calças e camisas listradas. Essa é uma das primeiras vezes que o estilista paulista, especializado em moda masculina, se debruça sobre uma personalidade concreta para inspiração de suas criações. Sem deixar de lado sua marca registrada de pele à mostra, essa coleção de Caetano abaixou um pouco o tom de suas anteriores. As referências a obra de Mário de Andrade se dava através da transposição com símbolos marcantes da capital paulista. 

 

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Foto: Divulgação Agência Fotosite

 

 

Catarina Mina, marca cearense criada por Celina Hissa há catorze anos, tem como  foco desde o começo de sua história a produção handmade de crochês. E a coleção ‘ Guardiãs da Memória’, apresentada na noite desta sexta-feira não poderia ser diferente, reverenciando as artesãs do Ceará, que estavam presentes no evento e, ao final, receberam aplausos da plateia.

 

 

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Foto: Divulgação - Agência Fotosite

A protagonista do dia, foi a renda labirinto - uma técnica que se encontra quase que em extinção, e só é praticada pelas costureiras mais antigas, pois é algo considerado muito difícil de executar.  Além disso, usou palha de uma árvore chamada carnaúba e do croá - extraída de palmeiras. Usou e abusou do crochê, do bordado, da marchetaria, da alfaiataria feita de seda e de linho. 

 

Thear, marca inaugurada pelo goiano Theo Alexandre especializada em fibras naturais, como algodão e linho, impactou com a coleção denominada  Elementos". Nela foi exaltado a beleza natural do cerrado. A silhueta marcada em forma de corset ou simplesmente pela modelagem e os os diferentes tipos de corpos foram destaque, assim como as peças que visavam o conforto. As cores transitavam do neutro para simbolizar as paisagens da região do Centro-Oeste, e o vermelho que ilustrava as flamas do calor exacerbado que vêm dilacerando o segundo maior bioma do país. 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Walério Araújo, etiqueta vanguardista que habita o cenário da moda nacional há 30 anos.

Consagrou-se pelos acessórios de cabeça, e era o queridinho da cantora Rita Lee. Trabalha com frequência criando adereços para a compositora Gaby Amarantos, Marisa Monte, Cléo, Pabllo Vittar, entre outras. E, já desenhou roupas para a apresentadora Sabrina Sato, a cantora Ivete Sangalo, a jornalista Glória Maria, etc. 

É famoso pelo seu estilo excêntrico e pela sua mente brilhantemente criativa. Suas últimas coleções tiveram como inspiração a personalidade famosa, Ehlke Maravilha, e a Astrologia, onde cada modelo representava um signo do zodíaco.

Nesta edição, transformou a passarela do shopping em um tributo às suas raízes nordestinas e a matriarca da família, sua mãe. O compasso do desfile foi marcado pela canção ‘As Andorinhas’ da banda sertaneja Trio Parada Dura, ritmo musical que sua mãe aprecia. 

Coincidência ou não, a data do desfile calhou de ser no mesmo dia em que completou 54 anos de vida. As modelos vestiam trajes de gala no melhor estilo que Walério sabe oferecer, com balões estampados nos vestidos pretos de gala, estampas de porcos que remetiam a um período de sua infância, peças verdes que faziam alusão a samambaias e espadas-de-são-jorge, ambas plantas que sua mãe vendia e ele ajudava. 

O cuscuz e o ovo frito, comidas que com forte apelo nostálgico para o estilista, foram retratadas de uma maneira ousada, usando tule e vinil. Uma parcela das peças continham retratos de família com porta-retratos acoplados nas roupas. Os cabelos de algumas modelos eram estilizados igual ao que sua mãe costuma usar, com muito laquê adornado com lenço que seguia a mesma estampa do vestido. 

 

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Foto: Divulgação - Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

wa
Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Para finalizar a noite, Walério apagou as velinhas em uma festa privada para amigos e clientes em um dos endereços mais badalados do centro histórico de São Paulo. 

 

Martins, criada por Tom Martins, com foco em peças oversized, trouxe uma  coleção dividida em dois momentos. A atriz Agatha Moreira abriu o desfile e fez seu retorno à passarela após dez anos fora. Em contrapartida, o ator Rodrigo Simas fazia sua estreia. 

O primeiro ato, se baseou no estilo marinheiro, com listras azul e branco, lenço amarrado na cabeça dos modelos como se fossem piratas, os colares eram conchas em formatos diversos, e os brincos continham pérolas. 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

No segundo, o punk rock dominou.  A maquiagem  das modelos era marcada  por  olhos pretos com aplicações de piercings fake. Os acessórios iam de meias arrastão com tênis all star preto e coturnos a cintos de oncinha e colares prateados de correntes. As roupas mesclavam camisetas de banda do estilo como Sex Pistols, Misfits, The Runaways com saias de tule com babados na ponta, cintos coloridos e grandes de ilhós e uma padronagem que visava totalmente o maximalismo. Uma das novidades da marca neste ano, foi que algumas estampas foram feitas por meio de uma IA (Inteligência Artificial). 

 

 

martins
Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

martins
Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

Gigantes do mercado são acusadas por ONG britânica pelo uso de algodão não certificado.
por
Maria Luiza Costa
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14/04/2024 - 12h

Publicado nessa quinta feira (11) pela Earthsight, organização não governamental voltada para investigações de crimes ambientais,  o relatório Fashion Crimes: the European retail giants linked to dirty Brazilian Cotton, relacionou o algodão utilizado nas confecções das varejistas H&M e Zara com terras suspeitas de grilagem e desmatamento no cerrado brasileiro.

“Este relatório mostrará que a corrupção, a violência e a negligência do governo ajudaram a transformar o Cerrado baiano em um foco de agronegócio violento e insustentável nos últimos 25 anos” aponta a Earthsight.

Segundo a ONG, o algodão utilizado pelas empresas é oriundo de duas grandes produtoras na Bahia, a SLC Agrícola e o Grupo Horita, ligadas a desmatamento ilegal e crimes ambientais na região. 

Apesar de o algodão da região baiana ser certificado pela Better Cotton (BC) grupo mundial que promove padrões éticos no cultivo do insumo, a Earthsight julga falhos os métodos de fiscalização do grupo. Essa falha é concretizada quando analisou-se que parte das terras das duas empresas foram obtidas por meio da grilagem, prática criminosa de invasão e obtenção ilícita da posse de terra sem autorização governamental. Ainda, as empresas SLC Agrícola e o Grupo Horita acumulam acusações de desmatamento ilegal na região, ameaçando a fauna e flora local, além de oprimir e assediar as comunidades tradicionais locais.

Na investigação, a ONG rastreou cerca de 816 mil toneladas de algodão advindas das duas produtoras entre 2014 e 2023, produzindo cerca de 250 milhões de artigos para as lojas da H&M, Zara, Pull&Bear, entre outras. Outras investigações lideradas pela Earthsight concluíram que, na verdade, foram exportadas mais de 1,5 milhões de toneladas das duas empresas para fábricas da China, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Paquistão.

Loja da Zara com manequins
Imagem: Getty Images

O contraponto dessa alegação nasce na divergência entre a procedência do algodão usado pelas marcas e suas campanhas de marketing: em 2020, a H&M afirmou que até o fim daquele ano usaria 100% de algodão sustentável em suas peças; já a Zara, desde de 2019, anunciou uma campanha em que o objetivo seria uma marca totalmente sustentável a partir de 2025. Para isso, ambas contavam com o selo Better Cotton, uma certificação internacional da produção de vestuário. 

O Brasil é o maior produtor licenciado na gama da certificadora, acumulando 42% da produção, mas, muito desse volume pode ser questionado. A Better Cotton é conhecida internacionalmente pelas acusações de promover greenwashing  (lavagem verde) do algodão e, principalmente, pela falta de transparência no rastreamento total das cadeias de produção. Desse modo, segundo a Earthsight, a BC não pode ser apontada como uma certificação de responsabilidade social e ambiental.

Em nota, a H&M afirmou sua preocupação com as informações trazidas pela Earthsight e que a BC está realizando uma investigação independente sobre as acusações.

A Zara, por sua vez, considerou que a sua dona, Inditex, não adquire algodão de forma direta, mas também está pressionando a Better Cotton para adotar medidas de fiscalização mais sérias.

Vitrine com manequins da Loja H&M
Imagem: DAVID THUNANDER / THUNANDER

Para a ONG, “[...] além de reforçar estas normas, a Better Cotton deve também implementar um sistema de rastreabilidade significativo e garantir que ambos são devidamente aplicados. A H&M, a Zara e outros grandes varejistas devem pressioná-la nesse sentido. Até que o faça, as empresas devem ir além da utilização de sistemas de certificação para garantir que os seus produtos são de origem ética e devem instituir as suas próprias políticas e controlos mais rigorosos”.

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Terceiro dia do evento traz o romantismo e as vivências pessoais dos estilistas como narrativa.
por
Bruna Quirino Alves
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12/04/2024 - 12h

A estilista carioca, Patricia Vieira, abre o terceiro dia de São Paulo Fashion Week no shopping Iguatemi, com sua coleção inspirada no Vale Sagrado dos Incas.

A coleção apresenta peças feitas com couro reaproveitado de seu ateliê, em estampas e paletas de cores que remetem aos trajes tradicionais peruanos. Muitas peças também trazem um pouco do estilo country, com o uso de franjas, botas altas e paleta de cores em tons terrosos. 

 

Foto do desfile de Patricia Vieira. Modelo com roupa com franjas marrons
Peça com franjas característica do estilo country. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

A Fauve, marca da estilista Clara Pasqualini, fez sua estréia nas passarelas da SPFW N57 com a coleção “Prelúdio”, que apresenta o processo de amadurecimento da mulher trazendo elementos que remetem à uma inocência e experimentação “infantil” em um primeiro momento, e posteriormente evolui para peças de roupa mais sofisticadas e até corporativas, em uma certa medida, representando o poder da mulher adulta. 

A coleção apresenta peças que fogem da estrutura convencional, experimentando com formato e materiais diferentes, como vestidos com formato circular fora de proporção e acessórios feitos de madeira. As peças contrapõem o branco, o tule e a ideia de pureza com a sensualidade do nu e da transparência. 

 

Modelo desfilando com roupa branca com saia de tule transparente
Peça com transparência e floral da coleção Prelúdio. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Renata Buzzo traz uma temática poética em formato de fábula para a sua coleção. A estilista baseou a sua criação em um poema autoral sobre a dinâmica entre a mulher e a sociedade. A obra retrata uma raposa, que representa a figura feminina, que é perseguida por um porco, alegoria para sociedade, com o objetivo final de julgar a raposa.

As peças, para combinar com a ambientação da fábula, fazem alusão à uma floresta, com tons de marrom e verde, florais e composições que lembram animais. 

Segundo a estilista, a coleção também é uma referência à caça às bruxas. As peças apresentam um estilo medieval, com corsets marcados, acessórios extravagantes para a cabeça, decotes com corte reto, meia calça branca e casacos de “faux fur”.  

 

Modelo desfilando com vestido branco e acessório florido na cabeça
Peça de pelúcia com acessório floral e estilo monárquico. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

 

A marca da estilista Cíntia Felix, AZ Marias, desfilou no Teatro Oficina para apresentar a coleção “Florescer - Ato IV: Ar”, que traz sustentabilidade, representatividade e cultura afro-brasileira, especialmente religiões de matriz africana. A coleção se inspira no conto das borboletas de Oyá, a senhora dos ventos. 

A composição das peças representa a fluidez do vento, as cores das borboletas e o formato de seus seus casulos. Os looks mesclam sobreposições de tecidos, com cores brilhantes e peças em jeans – que são o ponto forte da marca. 

O casting do desfile contou a presença de personalidades como: Rebecca, Sarah Aline, Lumena, Pepita e Tati Quebra barraco

 

MC Rebecca desfilando com um vestidoparecendo uma nuvem e um defumador
Rebecca desfilando com uma peça em formato de nuvem levando um defumador. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Apresentando as raízes cearenses de suas criadoras, a nova coleção da marca Marina Bitu foi inspirada na região do Cariri. Além de destacar a moda cearense, o projeto também traz visibilidade aos alunos de moda do Senac Crato que fizeram parte da confecção da coleção. 

As peças trazem elementos regionais característicos como fibras de palhas de bananeira, tingimentos com cascas de romã que remetem à pedra de calcário e estampas pintadas à mão que reproduzem a paisagem cearense. 

Os looks tem cortes ultrafemininos e seguem uma paleta de cores em tons terrosos, mesclam diferentes materiais e texturas, desde a transparência até a mistura de crochê com linho e algodão. 

 

Modelo desfilando com vestido degradê
Marina Bitu SPFW N57. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

 

Rafael Silvério dá continuidade no enredo romântico. 

O estilista muda o foco streetwear da sua marca e lança sua nova coleção no SPFW N57, fazendo sua estreia na moda noiva de uma forma menos tradicional e mais inclusiva. 

Sua coleção foca no traje cerimonial voltado para o público LGBTQIAP+ e mistura elementos streetwear com os clássicos de casamento. 

As peças contam com mangas bufantes, paletós com ombreiras, vestidos com recortes e babados. A paleta de cores vai desde tons de preto, branco e azul escuro, até peças com cores mais vibrantes como rosa choque e rosa pastel. 

 

Modelo desfilando com conjunto preto e branco
Silvério SPFW N57. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

 

O último desfile do dia celebra as várias formas do amor. 

A marca LED, do estilista Célio Dias, encerra o terceiro dia de SPFW apresentando a sua coleção “O lindo baile do amor”. 

A coleção tem o jeanswear como protagonista, com diversas lavagens, formatos e estampas. As peças seguem uma linha monocromática, com algumas cores vibrantes como amarelo, rosa e vermelho em estampas que lembram o fogo.

Peças forradas com a palavra “tesão” se destacam, reforçando o conceito do desfile. 

O casting contou com a participação da modelo Barbara Fialho abrindo o desfile e da presença da Banda Uó, composta por Davi Sabbag, Mateus Carrilho e Mel Gonçalves, que anunciou seu reencontro recentemente.

 

Banda Uó desfilando
Banda Uó desfilando para LED no SPFW N57. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

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Segundo dia do evento, Cria Costura trouxe originalidade da Zona Leste de SP para a passarela.
por
Giovanna Montanhan
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12/04/2024 - 12h

A quarta-feira (10) no Shopping Iguatemi começou com a celebração dos 18 anos da marca Lilly Sarti.  Com uma seleção de peças  que abusava de  couro, alfaiataria, crochê, tules, bordados, kimonos transpassados e  jeans,  a coleção carregava o nome da mãe da estilista, "Sofia".  Além de utilizar elementos que caracterizam o estilo boho, como por exemplo, as franjas e os tons terrosos, ela também trouxe  contrastes  com visuais que exibiam a glamourização dos metalizados. 

 

lily
Estilo boho apresentado pela marca Lilly Sarti. - Foto: Divulgação/@agfotosite

No meio da noite, Lino Villaventura, apresentou  um casting estrelado, contando com presenças como Isabella Fiorentino, Ticiane Pinheiro - que desfilou no evento pela primeira vez e retornou às passarelas após 27 anos, Reynaldo Gianecchini, Thiago Oliveira, Bruno Fagundes, sem deixar de mencionar as suas modelos veteranas Vivi Orth, Eliana Weirich, Daniela Rotelli. 

O tom principal de sua coleção foi concedido pela estruturação com arames nos vestidos e casacos. A parte masculina, tinha uma vertente mais esportiva, com bermudas e calças cargo e tênis de malha com solado macio.

Paetês, all black, óculos que simulavam uma máscara, jaquetas que remetiam  capas, patchwork, peças assimétricas, sandálias de plataforma coloridas e texturizadas, botas, um mix de cores clássicas e ao mesmo tempo vibrantes e slip dress foram alguns dos destaques do desfile.

A maquiagem seguiu nessa linha dramática e teatral, característica dos desfiles do Lino, com os olhos bem marcados, a boca vermelha e a pele bem contornada. 

lino
Peça estruturada por arames da coleção  - Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite


Cria Costura, um projeto criado em 2021 por um time de costureiros das regiões Cidade Tiradentes ,Vila Carrão e Brasilândia (Zona Leste) foi a estrela da noite. Esta foi a quinta vez que eles mostraram suas criações no evento.As peças apresentadas carregavam  rendas, paetês, babados, ombreiras, recortes assimétricos, metalizados, alguns modelos eram adornados com cintos que marcavam bem a cintura, tecidos esvoaçantes, muito volume em tons de pink. Os colares eram bem agarrados ao pescoço, como uma espécie de coleira estilizada. 

O show na passarela é o clímax final deste trabalho dedicado à capacitação profissional criado pela Prefeitura com Inmode. Ao final da apresentação, foi formado uma linha na passarela de todos os alunos, homens e mulheres, dos 16 aos 75 anos, para receberem os aplausos de quem estava presente na plateia. 



 

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Cria Costura   -  Foto: Sergio Caddah/ @agfotosite

 

A marca Reptilia finalizou o segundo dia valorizando a beleza da mulher madura. Focou em criar peças minimalistas e casuais, com a presença de maxi brincos prateados, alfaiataria bem cortada em forma de camisas, camisas oversized, blazers e saias. As botas de couro tinham o bico prateado, além das calças jeans, hot pants e sapatilhas. 

 

O casting da marca trouxe modelos com mais de 40 anos, contrariando o senso comum do mundo da moda de exaltar apenas mulheres mais novas. A marca brasileira seguiu a tendência europeia das últimas semanas de moda internacionais ao trazer aos olhos do público linhas finas e cabelos grisalhos como significado de beleza nas passarelas. Modelos experientes, como Naomi Campbell, de 51 anos, seguem sendo as favoritas de grifes consagradas como Michael Kors e Valentino, assim provocando um início da mudança neste universo extremamente excludente.

 

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Casting da Reptilia composto apenas por mulheres com mais de 40 anos.  -  Foto: Agência Fotosite/Ze Takahashi
 

 

 

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A 57a edição da semana de moda de São Paulo começou nesta terça-feira (09), e se estende pelos próximos cinco dias
por
Carolina Johansen Saraiva de Carvalho
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10/04/2024 - 12h

A São Paulo Fashion Week teve sua primeira edição em 1993. Na época chamada de Phytoervas Fashion, a semana contou com nove desfiles em um galpão na Vila Olímpia e foi formulado a partir de uma parceria entre Paulo Borges, diretor criativo da SPFW,  e Cristiana Arcangeli, empresária da marca Phytoervas. Três anos mais tarde, a parceria entre Borges e Arcangeli foi encerrada e a Phytoervas Fashion se transformou em Morumbi Fashion Week. Foi só em 2001 que a semana adquiriu seu nome atual, ano marcante para o evento, contando com o desfile homenagem de Ronaldo Fraga para estilista Zuzu Angel e a presença das modelos Adriana Lima e Gisele Bündchen. 

Modelo Adriana Lima em desfile para a SPFW
Adriana Lima no SPFW em 2001 — Foto: Getty Images

O tema da temporada atual de número 57 é “sintonia”. As apresentações estão divididas entre os shoppings JK Iguatemi e Iguatemi, a galeria Nara Roesler, o Teatro Oficina, Love Cabaret e o Edifício Martinelli – no qual ocorrerá o desfile de encerramento. A semana de moda contará com 27 desfiles em seus seis dias, dentre eles haverá a estreia de duas marcas: Celina Hissa de Catarina Mina e Reptilia de Heloisa Strobel. 

A abertura aconteceu ontem (09) no shopping JK Iguatemi pela marca Aluf de Ana Luisa Fernandes ao som da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. A coleção leva o nome de “Prosopopeia” em homenagem ao poema de Bento Teixeira e foi inspirada no movimento barroco brasileiro. Feita somente com materiais nacionais, a coleção trouxe silhuetas fluidas, uma paleta de cores amena, a predominância  do dourado e muitos acessórios como chapéus e laços. A intenção da estilista-chefe da grife era trazer um tom lúdico e de teatralidade às roupas feitas para serem usadas no cotidiano. O encerramento do desfile sobre os porquês da arte. 

Atriz Débora Nascimento na passarela da Aluf no SPFW
Aluf, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia

Além das novas localidades e marcas estreantes, outra novidade da 57ª edição da SPFW foi a restrição do acesso ao público geral, limitando-o apenas aos convidados. Essa mudança não foi bem recebida e tem sido alvo de discussões acaloradas sobre como esta decisão não apenas é um retrocesso na democratização do evento, como também  aprofunda ainda mais a exclusão e as desigualdades já existentes na indústria da moda.

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