Lucas Leão - marca idealizada em 2018 pelo estilista carioca de nome homônimo. Seu foco está em mesclar tecnologia com tecelagem. ‘’AI generativo por JE Kos’’ - nome dado a esta coleção, foi caracterizada por usar e abusar da alfaiataria, além da forte presença de tons sóbrios e pastéis.
Peças oversized, tops e blazers com penduricalhos de cristais e mini vestidos com plumas se alternavam durante o desfile. Gravatas estilizadas, maxi bolsas, lapelas de cerâmica em formato de flor, e calçados como rasteirinhas, sandálias, scarpins e sapatilhas compunham o leque de acessórios na passarela.

Gefferson Vila Nova - criada em 2013 pelo designer baiano de nome homônimo, a marca é focada em moda masculina. ‘’Coração Tropical’’ foi o nome escolhido para essa coleção de verão, a qual apresentou looks modernos, capazes de nos teletransportar diretamente para a Bahia, através do uso de cores quentes e vivas, como o vermelho abundante, além da composição de ambiente, que contou com um telão ao fundo da passarela, que transmitiu o tempo todo uma paisagem de pôr-do-sol.
O desfile foi uma verdadeira ode ao AXÉ! Os tecidos fluídos dominaram, assim como as camisas brancas e azuis bordadas, que representavam paz e tranquilidade. As regatas brancas caneladas também foram destaque, além do peitoral dos modelos estava de fora em alguns looks, nos quais sungas e shorts tinham o destaque.
A flor vermelha, usada atrás da orelha dos modelos como acessório, foi um grande diferencial. O uso de uma maxi bolsa prateada chamou a atenção por parecer uma esteira de praia e dar um toque de modernidade. Os calçados, em sua maioria, eram tipicamente praianos, como chinelos de dedo e papetes.

Bold Strap - marca que está no mercado desde 2018, fundada por Pedro Andrade. O desfile, intitulado ‘’Bold Lesson’’ teve como base o estilo colegial e uma estética focada nos anos 2000.
Antes de começar, foi usada uma estratégia de foco visual, na qual um relógio se expandia na medida que seus ponteiros giravam, até que um sinal típico de escola tocava ao fundo.
A atriz Camila Queiroz abriu e fechou o show, desfilando com maestria, graça e simpatia. Modelos carregavam livros, vestiam jaquetas college oversized e roupas que pareciam uniformes, com a inicial B estampada. Desfilaram na passarela também, mini saias plissadas, mochilas, brincos de argola, salto alto com spikes, colares estilo chockers e gravatas na cor preta.
A sensação era de que toda a plateia estava imersa em uma narrativa escolar, que nos remetia a série adolescente espanhola “Elite”, da Netflix. O design da passarela remetia a uma lousa, com rabiscos feitos em giz por toda a sua extensão.
Além do estilo jovial, um outro dominava: o sensual. Meias arrastão, corsets pretos e jeans, luvas, vestidos curtos drapeados - além dos com rendas e cetim - fechavam a dinâmica idealizada pela grife.

Abrindo o último dia da São Fashion Week nesse domingo (12), Lino Villaventura celebrou os 45 anos de sua marca com uma coleção composta por 70 looks, na qual buscou focar em novidades, deixando os clássicos em segundo plano.
O designer abriu o desfile com roupas super coloridas que brilharam sob os holofotes, seus visuais oitentistas foram compostos por meia-calça sobreposta por meias neons que iam até os joelhos. Como parte da performance, os modelos desfilaram incorporando gracinhas como piruetas e danças, durante o catwalk.
SPFW N56: Lino Villaventura — Foto: @agfotosite
Logo após o primeiro ato de apresentação, os looks que abriram a segunda parte remeteram brevemente a coleção anterior de Villaventura, que contava com vestidos longos e referências góticas. Com essa deixa, o conjunto de peças que seguiram foi composto por minivestidos e vestidos com nervuras e capas leves, em plástico ou organza. Todos os modelitos foram construídos com cores fortes, que acrescentavam um tom dramático junto das transparências fluídas.
Lino Villaventura comemora 45 anos de marca no SPFW — Foto: @agoftosite
Abrindo os desfiles da noite, Heloisa Faria estreou nas passarelas do SPFW, apresentando uma coleção carregada com referências do seu próprio estilo, além da essência upcycling. Peças de tricô e camisaria dominaram a passarela.
A técnica de upcycling que Faria domina se trata de uma reutilização criativa de produtos, peças e resíduos, para a criação de novos, sem a desintegração do mesmo, porém o utilizando em uma função diferente.
Heloisa Faria. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite
Seguindo essa linha, Heloisa criou com esse processo peças fluídas e leves, a partir de vestidos de noivas da antiga Pilar - fundada por Andrea Garcia nos anos 2000. Os looks contavam ainda com rendas, jeans, moulage e outros pequenos detalhes que deram identidade a essa coleção.
A apresentação contou ainda com um show de Luiza Lian, que vestia uma das roupas da designer: um vestido branco, repleto de pequenos retalhos de rendas coloridas.
Heloisa Faria e Luiza Lian. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite
Encerrando o último dia de desfiles da SPFW 56, a marca Bold Strap roubou a cena com sua coleção “Bold Lesson”, que retrata com rebeldia e fetichismo a transição entre colégio e universidade.
Nessa temática, a grife paulistana montou um verdadeiro cenário universitário, porém com um toque especial, incrementando um toque de extravagância. Peças grunge e ferozes fecharam a edição com a participação da atriz Camila Queiroz no desfile.
SPFW N56: Bold Strap — Foto: Gabriela Queiro @gabiqueiroph
O estilista responsável pela coleção, Peu Andrade, buscou referências das vivências de garotos e garotas nos anos 2000, em especial, em personagens caricatos do audiovisual da época, como o clássico filme “Meninas Malvadas”, de 2004.
A marca ainda levou 30 modelos com um olhar único e diverso sobre corpos e gêneros, mostrando que os estereótipos estão por fora, além de expressar o contraste das culturas punk rock e emo, de modo contemporâneo.
SPFW N56: Bold Strap — Foto: Gabriela Queiro @gabiqueiroph
Ambos os estilistas que participaram do último dia de desfiles trouxeram em suas coleções uma característica em comum: a mistura e celebração de coleções, estilos e culturas do passado, repaginados com elementos do presente e contando histórias de formas inovadoras.

A 56ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW) passou por seu quarto dia de desfiles no último sábado (11). Oito marcas apresentaram suas coleções para o Verão 2024, que atravessaram questões como ancestralidade, sustentabilidade e diversidade.
E isso não é por acaso. A segunda temporada do evento em 2023 foi nomeada “Origens”, e desafiou 40 marcas a usar das peças para refletir sobre a importância de reconhecermos e preservarmos nossas raízes. A seguir, apresentamos os principais destaques dos desfiles do dia 4 da SPFW.

(Foto: @agfotosite)
A sequência de desfiles se iniciou às 10h no Shopping Iguatemi, pela Ateliê Mão de Mãe. Dirigida por Patrick Fortuna e Vinicius Santana, juntamente de sua mãe, Luciene Santana, a marca tem enfoque em peças de crochê, todas feitas à mão. A AMM lançou recentemente uma parceria com a C&A e, para a 56ª edição do maior evento de moda do país, traz a coleção “Água de Meninos”
Nomeada pelo tradicional bairro de Salvador, capital baiana, o desfile explorou a cultura, vivência e espiritualidade do local, a partir das memórias afetivas dos próprios criadores. Com peças minuciosamente tricotadas, que exploram tons terrosos do verde ao laranja, o destaque fica para Baco Exu do Blues, que estreou nas passarelas junto à grife.

Logo em seguida, João Maraschin trouxe sua marca homônima ao palco da Fashion Week. O designer gaúcho, radicado em Londres, fez do sua estreia no evento uma ode à moda artesanal e consciente. Com a coleção “Home”, ele explorou o feito à mão através de alternativas sustentáveis, como tecidos jaquards fabricados em algodão orgânico, além de tricôs elaborados com cordas e linhas de pesca.
"[Minha moda] é colaborativa, coletiva e de suporte, com a educação e a preservação de técnicas manuais como principais pilares", explica Maraschin, que trabalhou juntamente a artesãos de comunidades do Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Fechando os desfiles do Iguatemi, a marca de Ângela Brito tomou as passarelas com a coleção “Romaria”. Nascida em Cabo Verde, na África, e morando no Rio de Janeiro há 28 anos, a diretora criativa usou das peças em tons neutros para realizar um comentário sobre imigração: “a ideia veio desse questionamento de quando as pessoas voltam para sua cidade de origem e, a partir disso, entender como isso influência no comportamento cultural local”, ela comenta.
A grife de Ângela está no mercado desde 2014 e investe em uma moda “afrocosmopolita”, que reflete o diálogo entre sua cultura de origem e todas as outras que ela teve contato ao longo da vida. Entre os looks, inspirados em festas cabo-verdianas tradicionais, quatro contam com estampas projetadas pelo artista Maxwell Alexandre.

Às 17h30, abrindo alas aos desfiles no Komplexo Tempo, a Rocio Canvas, fundada pelo designer Diego Malicheski, apresentou sua quarta participação na SPFW. Para a concepção de sua nova coleção, a grife desafiou a efemeridade das tendências da moda para criar uma série de peças atemporais.
Nesse processo, a marca brinca com referências múltiplas. De bolsas e botas de couro à la BDSM, até acessórios vintage inspirados em fotos antigas de sua mãe, dos anos 60 a 90, Diego revisita códigos que se cristalizaram ao longo de sua trajetória, redigindo uma carta de amor ao próprio ‘fazer’ moda.

(Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite)
"Florescer – Ato III: Fogo" dá nome ao desfile da marca Az Marias, nesta edição do SPFW. Um elemento essencial à natureza, a CEO Cintia Felix se aprofunda na contradição entre renascimento e destruição das chamas, unindo sustentabilidade, referências à religiões de matriz africanas e um elenco de modelos que foge dos padrões estéticos tradicionais.
Com uma coleção de mais de 30 looks, Az Marias se apossa de tons de vermelho, laranja e dourado, explorando o contraste entre o sombrio representado pelas cinzas e o vibrante evocado pelas chamas. Com uma trilha sonora predominantemente de dancehall, gênero da cultura popular jamaicana, a grife ainda usou do palco para discutir questões como desenvolvimento sustentável e legalização da maconha.

Em um movimento inverso, Renata Buzzo decide desbravar o mar. Sendo a terceira parte de uma série de coleções apresentadas na SPFW desde novembro de 2022, “ASTRO/NÁUTICA” usa os oceanos como alegoria para comentar o lugar das mulheres na sociedade, frequentemente enxergadas como inconstantes: ora passionais, ora destrutivas. Muitas vezes, essas são reações à violências de homens – aqui, representados pela lua –, que continuam intocados em seus pedestais.
Com um elenco de modelos totalmente feminino, as peças ousadas de Buzzo passeiam pelo azul, prata e nude, com uma produção totalmente vegana. As mulheres de ocupavam o palco usavam maquiagens brilhantes, que se espalhavam até seus cabelos molhados, como se tivessem acabado de voltar de um mergulho.

Mônica Sampaio, fundadora da marca Santa Resistência, mudou-se do Recôncavo Baiano para o Rio de Janeiro enquanto ainda era criança e, desde então, jamais cortou vínculos com sua terra natal. Para seu desfile para a SPFW, a estilista conta sua história em uma releitura às obras de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), um dos maiores compositores da música popular brasileira e migrante, assim como ela.
Batizando a coleção como “Paixão Segundo Catulo”, Sampaio se une a outros artesãos nordestinos para projetar looks que celebrem a arte da região, com uma gama diversa de tons terrosos e estampas que remetem a xilogravuras e paisagens predominantes do Maranhão, Ceará e Rio. “[...] Quis trazer para a passarela o sertão que há dentro de mim. Saímos das nossas terras, mas carregamos conosco as lembranças e o carinho”, ela declara.

Encerrando as apresentações de sábado (11) com chave de ouro, a Forca Studio aborda as mudanças climáticas na coleção “Heatwave”. Através de peças de impacto, que evocam um cenário utópico e sensorial, a marca traduz nossas angústias com as crises ambientais globais. “Vivemos em um momento sem precedentes, e sentimos que a moda deve se tornar parte dessa mudança inadiável”, acrescenta um dos fundadores, o DJ e estilista Silvio De Marchi.
A sustentabilidade, entretanto, também se vê fora das passarelas. Para o desfile, a Forca produziu seus looks através de materiais recicláveis, como câmaras de pneus, além de uma linha de tecido de borracha, produzida manualmente por tribos amazônicas. Durante a apresentação, a passarela foi tomada por cinzas de madeira queimada, tornando a mensagem literal e ampliando a imersão do público.
Foi o caso de Luiza Brunet, que surpreendeu ao fazer um retorno emocionante às passarelas após quase 30 anos de aposentadoria. O desfile pela carioca ‘The Paradise’ foi aplaudido, juntamente com a participação de Preta Gil e Izabel Goulart.

João Maraschin e Sau conquistaram o público com suas propostas frescas e autênticas. Maraschin, com suas peças de macramê e tricô, enquanto Sau trouxe elegância minimalista à moda praia.Helô Rocha também marcou seu retorno ao SPFW após seis anos, escolhendo o icônico Teatro Oficina para destacar uma coleção que celebra as raízes nordestinas.
A permanência da opção de compra de ingressos pelo público em geral também foi elogiada, pois proporcionou uma oportunidade mais acessível para os entusiastas da moda e estudantes participarem do evento. Além dos desfiles, o SPFW ofereceu diversas palestras sobre temas variados, desde responsabilidade social a inovação na moda, ampliando a experiência do evento.
Alguns desafios foram enfrentados e criticados, como os desfiles que ocorreram em dois espaços distintos em São Paulo, apresentando desafios de acesso via transporte público. Além dos atrasos frequentes e a falta de informações organizacionais que também foram observados.
Apesar de avanços na quebra de padrões estéticos, a representatividade de corpos diversos ainda precisa ser ampliada, especialmente em relação à presença de pessoas gordas nas passarelas.

Para entender melhor os bastidores do evento, Kaio Raffael, publicitário e social media responsável por todas as redes sociais, marketing e divulgação do SPFW N56 contou sobre os insights sobre a estratégia digital adotada para amplificar a presença do evento e aproximar ainda mais os fãs da moda.
Kaio destacou: "Nosso foco foi criar uma narrativa envolvente nas redes sociais, proporcionando aos seguidores uma experiência única. Utilizamos estratégias inovadoras para divulgar os desfiles, buscando estabelecer uma conexão autêntica com o público."
O publicitário, ao abordar as críticas direcionadas ao evento, ressaltou a importância de ouvir e aprender com a comunidade da moda: "Todas as críticas são valiosas para nós. Estamos cientes dos desafios enfrentados, como os atrasos e a questão da diversidade. Encaramos essas observações como oportunidades de aprimoramento [...] nosso compromisso é evoluir a cada edição, garantindo que o SPFW seja um espaço inclusivo, acessível e representativo para todos os amantes da moda. A crítica construtiva nos impulsiona a fazer melhor na próxima vez, e estamos dedicados a proporcionar uma experiência ainda mais extraordinária nas edições futuras."

O SPFW N56, com seus altos e baixos, encerra mais uma edição, deixando marcas na indústria da moda e abrindo espaço para reflexões sobre o futuro do evento, e principalmente da moda.
O estilista e professor, Mario Queiroz, consultor e designer de moda, autoridade em Moda Masculina, com diversas apresentações na SPFW, está ofertando um curso intensivo durante os dias 15 a 19 de janeiro de 2024, na PUC-SP, dentro do projeto Escola de Verão
Queiroz é Doutor em Comunicação e Semiótica pela mesma universidade, e sobre o curso, diz que “trata dos papéis da comunicação na moda e analisa a Moda como forma de Comunicação”. Em conversa com alunos de jornalismo da universidade onde se realizará o curso, ele lembra que a moda e a comunicação não se separam, até mesmo quando se trata de política, “a moda é política, me veio uma situação de ontem, em que o grampo da gravata do governador era uma metralhadora”, ressalta o estilista.
Em seu olhar, muitas coisas são ditas através da moda, assim como o adorno de arma usada por Tarcisio de Freitas em uma gravata passa uma mensagem de ódio. Em sua opinião, hoje ocorre um “fenômeno novo, em que a moda advinda das periferias cresce muito”, e “a roupa já nem sempre é indicativo de condição social”, o que pode democratizar relações sociais em certas situações. Ele traz inclusive um exemplo pessoal, em que em frente a uma loja de luxo em Paris, mesmo vestido com “roupas de rua”, foi convidado a entrar, o que era impossível com os mesmos trajes em sua juventude.
Após 20 edições no SPFW (São Paulo Fashion Week), e fechar sua loja, Mario Queiroz decidiu se dedicar à atividade docente, já tendo realizado cursos no Senac e outras instituições, tendo como tema principal de pesquisa a questão de gênero”. Fiz o doutorado, tese ‘homem e/ou mulher’, não publicado, porque no meio do caminho veio um convite para fazer um livro acessível a todos sobre masculinidade ‘homens e moda no século XXI’”, diz o professor, que acredita que “a moda é a forma como você quer se representar, vai além da roupa”.