Entre ocupações e assembleias, universitários fazem da moda um instrumento de protesto
por
Maria Julia Malagutti.
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26/06/2025 - 12h

Nas ruas e universidades, a moda afirma-se como linguagem política: um código visual capaz de expressar ideologias, indignações e identidades coletivas. Em um Brasil marcado por tensões sociais, reações conservadoras e a articulação de movimentos progressistas, o corpo torna-se campo de disputa simbólica.

Esse uso da estética como resistência não é novo. Nos anos 1960 e 1970, movimentos como o feminismo, o black power e o punk já faziam do vestuário uma ferramenta de contestação. Hoje, esse gesto se atualiza: a camiseta da seleção brasileira, antes símbolo nacional, virou objeto de disputa ideológica, enquanto outras peças se consolidam como marcas visuais de protesto, como os keffiyehs em atos pró-Palestina ou camisetas com frases como “Estado laico já”.

Em entrevista à AGEMT, a estilista Isadora Barbozza afirma que “o vestuário é essencial para transmitir mensagens sociais, culturais, ideológicas e políticas”. Para ela, é possível reconhecer, à primeira vista, a filiação a uma causa, crença ou identidade coletiva. “Você consegue, num olhar, identificar uma roupa de matriz africana. É muito expressivo”, destaca. Ela lembra que religiões, culturas e instituições sempre usaram a roupa como marcador simbólico — mostrando que o corpo vestido participa da construção de sentidos sociais.

Na universidade, esse fenômeno se intensifica. Na PUC-SP, onde o movimento estudantil voltou a se articular em 2025, com assembleias e protestos pela democratização interna e contra retrocessos nos direitos humanos, o vestir passou a compor o ato político. Camisetas com símbolos de partidos e movimentos sociais — como o PT, o MST e coletivos feministas — tomaram os corredores, transformando o corpo dos estudantes em suporte de convicções. A escolha da roupa deixa de ser neutra e se torna apoio ao debate.

A relação entre vestuário e engajamento também aparece na fala de Martim Tarifa, estudante de Jornalismo da PUC-SP. Em entrevista à AGEMT, ele conta que escolheu sua roupa com intenção ao participar da assembleia da ocupação estudantil. “Não fazia sentido ir com qualquer roupa. Vesti minha camiseta antifascista porque, da minha casa até lá, queria deixar claro meu apoio à mobilização”, explica. Para ele, mesmo quando não há uma intenção explícita, o modo de se vestir carrega significados. “Só de olhar para o estilo de uma pessoa, já dá pra perceber uma possível posição política. É uma forma de se posicionar e também de se identificar”, acrescenta.

 

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Confira como foram os desfiles do último dia da semana de moda paulistana
por
Pedro da Silva Menezes
Helena Haddad
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23/04/2025 - 12h

Na sexta-feira (11), o último dia da 59ª edição da São Paulo Fashion Week foi marcado por três desfiles de estilos distintos. A capital paulista recebeu as novas coleções da Handred, Patricia Vieira e PIET que encerraram o evento.

Handred

Abrindo o  dia, Handred apresentou uma coleção cheia de referências artísticas brasileiras e inspiradas na tapeçaria. Ponto Brasileiro – nome da coleção assinada pelo estilista André Namitala- traduziu a homenagem desejada pelo artista: “Uma ode ao legado dos grandes mestres tapeceiros”

O desfile ocorreu na galeria Passado Composto, no bairro do Jardins. Enquanto os modelos passavam apresentando a coleção, André narrava o desfile comentando os looks, suas técnicas e seus pensamentos, uma ambientação única e intimista. A  Handred trouxe excelência na necessidade atual de experiências imersivas para a passarela.

A coleção acentua os trabalhos manuais do ateliê e comemora brasilidade – as cores vibrantes, peças inspiradas em obras de Jacques Douchez e na ilustração “Jardim Brasileiro” do artista Filipe Jardim. As técnicas refinadas com ajuda do Apara Studio relembram Genaro de Carvalho, tapeceiro brasileiro que incorporava cores e a cultura brasileira em suas obras.

Uma coleção com bordados, organza, lã, veludo e seda, tudo conversa com as obras. Outro ponto alto foi a beleza assinada por Carla Biriba, a maquiagem dos modelos conversava diretamente com as peças e passavam do corpo para o rosto. A linha transcende a moda e mostra como caminhar junto da arte brasileira.

Modelo no desfile da Handred
Desfile Handred. Fonte: Reprodução/Agfotosite

 

Patricia Viera 

Marca consolidada na SPFW e conhecida pelo trabalho com couro, Patricia Viera apresentou sua nova coleção na Casa Higienópolis, em parceria com o artista Jardel Moura, responsável pelo desenvolvimento do corte tipo richelieu - caracterizado por desenhos vazados, muitas vezes com flores, folhagens ou padrões geométricos . 

Sempre buscando inovação com sustentabilidade, Viera traz uma coleção que reforça seus atributos ao usar tecnologia a laser na construção do couro. Inspirada no Art Déco, a estilista aposta em tons sóbrios, como bordô, marinho e até metálicos, aliados à geometria. Os mosaicos, criados por meio do programa Zero Waste, reutilizam sobras de couro do ateliê, promovendo uma produção mais consciente.

Com uma ambientação clássica, a coleção revisita o passado sem deixar de valorizar o presente, trazendo elementos como um vestido de noiva e o uso de animal print. O trabalho artesanal das peças é único e reafirma o luxo característico da marca. Pela primeira vez, a marca apresentou uma coleção própria de sapatos, expandindo seu portfólio de produtos.

Modelo com vestido de noiva no desfile da Patricia Viera
Vestido de noiva em couro. Fonte: Agfotosite/Zé Takahashi

 

PIET

Com trilha sonora de Marcelo D2 e Nave Beats, Pedro Andrade criou um cenário único no estádio do Pacaembu para apresentar o desfile da PIET. O futebol foi o protagonista da coleção. O estilista explicou à CAPRICHO que a apresentação funciona como uma linha do tempo que começa nas memórias de infância, que ajudam a formar o imaginário coletivo da população sobre o esporte. “O futebol está no nosso DNA”, declarou.

Ele explora diversos personagens nas roupas: do torcedor ao técnico, passando pelo jogador e até mesmo pelo soldado na reserva, que passa a maior parte do tempo jogando bola. Por meio de uma combinação de modelagens justas e oversized, meiões, releituras de camisas de time e estampas camufladas, o estilista traduz essas personas em suas peças.

Modelos no desfile da Piet no campo do estádio do Pacaembu
Desfile da PIET na SPFW N59. Fonte: Agfotosite/Marcelo Soubiha

 

A maquiagem também teve destaque na passarela. Helder Rodrigues foi o responsável pela beleza dos modelos, que apareceram desde apenas com blush, até rostos completamente pintados, que evocaram a paixão dos fanáticos pelo esporte.

Desde 2022, a São Paulo Fashion Week passou a vender ingressos, mas o evento da marca de streetwear foi em contrapartida ao disponibilizar 4 mil entradas gratuitas para o público e reuniu uma comunidade fiel à marca. A escolha foi certeira, já que os torcedores formam parte essencial desse “jogo da moda”.

Estreante na SPFW em 2018, a PIET conquistou reconhecimento internacional ao firmar parcerias com marcas como Oakley, Puma e Levi’s. Com o encerramento da semana de moda, ela trouxe uma atmosfera de final de Copa do Mundo e reafirmou a democratização dos espaços da moda com a coleção “Farmers League”.

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Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Tendências para próxima estação marcam presença na passarela em meio a referências inusitadas
por
Bruna Quirino Alves
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14/04/2025 - 12h


Weider Silveiro  

Weider Silveiro iniciou a sequência de desfiles da  quarta-feira (9) no Shopping JK Iguatemi. A inspiração de sua coleção de inverno foi a deusa do amor e da beleza, Vênus.

Além de trazer um estudo de várias versões da figura mitológica, previamente retratadas na história, o estilista também se aprofundou nas representações humanas da divindade, ao aclamar artistas femininas conhecidas por, tanto por seus talentos, como suas belezas físicas, como Madonna, Cher e Joelma.

As peças da coleção trazem uma nova versão dos caimentos clássicos de busto, quadril e cintura, incorporando novos formatos e silhuetas para os cortes. Com paletas em tons pastéis, elementos que estão em alta no mundo da moda também foram incluídos nos looks, como a saia balonê e a modelagem assimétrica.

Modelo com vestido vinho desfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo de vestido rosa vdesfilando na passarela
Weider Silverio SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reptilia

O segundo desfile do dia foi da marca Reptilia. A coleção “Tectônica” se inspira em falhas e deslocamentos geológicos, apresentando peças com tons terrosos e estampas que remetem ao solo. 

As peças foram pensadas a partir de uma proposta agênero e tal pluralidade ficou evidente  passarela. A cartela de cores predominante no desfile ficou estacionada nos  tons marrons, com leves toques de azuis, verdes e cinzas, remetendo  a pedras minerais.

A estamparia chamou atenção por um  detalhe particular da diretora criativa, Heloisa Strobel. As estampas foram feitas a partir de fotos tiradas pela própria designer com uma câmera analógica de 35mm durante uma viagem ao Oriente Médio.

A composição de looks conta com sobreposições, peças modulares, tecidos fluídos e alfaiataria que é característica da marca. Além disso, o processo de produção inova ao combinar corte a laser com bordado manual e uso de retalhos. O reaproveitamento de tecidos reafirma o compromisso da marca com a moda sustentável.

Modelo desfilando com vestido estampado
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando na passarela com roupa preta e branca
Reptilia SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Led

O desfile da marca Led foi o terceiro do dia, com a irreverência de ser inspirado em novelas brasileiras.

LED apresenta a sua coleção “BR SHOW”, ambientada como um programa de televisão. A trilha sonora contava com um remix de bordões icônicos da teledramaturgia brasileira, falas de apresentadores e aberturas de programas famosos.

O estilista, Celio Dias, disse em entrevista à Globo que aproveitou a estreia da nova versão de “Vale Tudo” para embarcar na atmosfera das novelas brasileiras, sob a perspectiva de alguém que acompanhou o surgimento de tendências que vieram dessas produções.

As peças da coleção são maximalistas e contam com mistura de estampas: animal print, listras e bolinhas, além de ornamentos como franjas e pelúcia, também incorporando pontos de tricô e crochê em alguns modelos.

O streetwear teve grande destaque no desfile, com a presença de calças cargo, casacos esportivos, moletons, camisetas gráficas com trocadilhos e tênis de corrida.
 

Modelo desfilando com macacão listrado
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando com vestido listrado preto e branco
LED SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À La Garçonne

O último desfile da noite foi da marca À La Garçonne, com sua coleção mesclada entre streetwear e alfaiataria.

O estilista Fábio Souza não pensou em nenhum tema específico para basear a sua coleção, seu foco era criar peças usáveis prezando o conforto acima da estética.

O vestuário apresentado chamou atenção pela mistura de estampas, com destaque para o xadrez, que é a tendência da estação. Silhuetas bem estruturadas, uso de pregas, caimento oversized e tênis esportivos compuseram os looks.

A paleta de cores é sóbria em tons de verde militar, marrom e grafite, com o contraste de alguns relances em tons de vermelho e roxo.

O processo de produção da coleção foi realizado a partir do upcycling de tecidos vintage da própria marca e garimpado de outras. O estilista reforça o conceito de moda consciente e reuso de materiais têxteis, criando novas peças customizadas e sustentáveis.

Modelo desfilando com terno xadrez
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Modelo desfilando vestido e calça de terno
À La Garçonne SPFW N59. Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite


 

 

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Com grandes nomes da moda brasileira, evento chega ao seu penúltimo dia
por
Gustavo Oliveira de Souza
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14/04/2025 - 12h
Foto de desfile
Modelo durante desfile da Dendezeiro. Foto: Mauricio Santana, Getty Images
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Na quinta-feira (10), o quinto dia de desfiles na São Paulo Fashion Week  trouxe aos holofotes marcas fundamentais ao cenário nacional, pilares do reconhecimento da moda brasileira país a fora.

João Pimenta 

O primeiro desfile do dia foi do estilista João Pimenta. O já consagrado artista, que por alguns anos misturou elementos da moda voltada aos dois gêneros decidiu apostar em um conceito quase todo concentrado  no vestuário masculino. O desfile aconteceu na estação Júlio Prestes do metrô, com o nome “Em Construção”. Sua obra buscou questionar os rumos da tecnologia na moda e valorizar o trabalho manual.

Dendezeiro

No JK Iguatemi, a Dendezeiro foi a segunda grife do dia a desfilar. A marca baiana da dupla Hisan Silva e Pedro Batalha trouxe um conceito que homenageava a região Norte do Brasil, com muito destaque à Amazônia. Chamada de “Brasiliano 2: A Puxada para o Norte”, o desfile destacou a fauna, com estampas de peixe e bolsas em formato de capivara, além de camisetas com frases exaltando a cultura local.

MNMAL

O penúltimo desfile do dia foi da estreante MNMAL. Fundada em 2022, a marca tem seu conceito baseado no minimalismo, e na passarela não foi diferente. Assinada pelo estilista Flávio Gamaum, as peças têm como principal destaque o conforto, pensada para o cotidiano no lar e home-office. Mesmo com todo o conforto, a elegância não é deixada de lado.

Walério Araújo 

Fechando o dia 10, o importante estilista Walério Araújo trouxe seu conceito usualmente impactante. Já tendo sido considerado um dos maiores estilistas do mundo, o pernambucano traz, novamente, a ousadia. Com diversas homenagens às mulheres trans, a bandeira de arco-íris apareceu em vestidos e peças mais casuais. Como novidade, a alfaiataria esteve presente, com peças que mostram a diferença na manifestação de gênero em locais públicos e privados.

Todos os desfiles marcaram, novamente, uma nova trajetória na moda brasileira. Sendo dos mais novos aos mais veteranos, quem esteve presente pôde acompanhar mais um capítulo da história do fashion no Brasil. 

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Confira os principais destaques dos quatro dias de evento na capital francesa
por
Gabriela Jacometto
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03/07/2024 - 12h

       Tendo início no século 19, a alta-costura chegou ao público através do designer de moda inglês Charles Frederick Worth. Enquanto o mesmo residia na França, o designer começou a apresentar suas peças quase inteiramente prontas e suas coleções já finalizadas, diferentemente do que era comum na época.  

     Tal método revolucionou a moda e deu origem a um novo modo de produção, no qual costureiras, alfaiates e modelistas passaram a ganhar mais reconhecimento, elevando ao o status de artistas e deixando de apenas prestarem serviços, com a abertura de seus próprios ateliês.

      Em 1868, é fundada a associação de alta-costura francesa, que passou a se chamar apenas “Chambre Syndicale de la Haute Couture”. Atualmente, a organização  faz  parte da “Fédération de la Haute Couture et de la Mode”, a responsável pela indústria de moda na França, e que organiza suas semanas de desfiles. 

      Na semana do dia 24/06 a 28/06 aconteceu em Paris os desfiles das coleções de “haute couture” (Alta-Costura) inverno de 2024. Com a presença das principais marcas de luxo da indústria internacional, o evento celebrou a exaltação do belo.

 

      SCHIAPARELLI 

   No primeiro dia do evento , tivemos a estreia dos desfiles com Schiaparelli de Daniel Roseberry, atual diretor criativo da marca.  O desfile foi marcado por ares de mudança no que se diz respeito à própria marca, diferente dos desfiles anteriores, uma aura sombria e misteriosa tomou conta do Hôtel Salomon de Rothschild, local em que foi apresentada a coleção. 

   Com combinações preto e branco, texturas remetem a penugens e bordados prateados, Roseberry inovou e trouxe novos volumes esculturais, de formas criativas e intrínsecas, com looks mais envolventes, sinuosos e provocantes. E claro, trazendo sempre homenagens e referências a Elsa Schiaparelli, criadora da marca.  

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Foto: Cortesia Schiaparelli

 

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Foto: Reprodução instagram (@schiaparelli.archives)

 

   

     CHANEL 

     Após a saída surpresa de Virginie Viard, do comando criativo da marca, a Chanel seguiu seu ritmo e apresentou sua coleção de alta costura desenvolvida pelo próprio time de ateliê e design da ex- diretora. Situado na Ópera de Paris e composto por 46 looks, o desfile foi marcado pelos bordados preciosos e os detalhes românticos como laços e flores, em casamento com as mangas com babados. O look de abertura desfilado por Victoria Ceretti chamou atenção e marcou a atmosfera de como seria a coleção: Uma capa bufante combinada com uma hot pants. 

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Foto: Isidore Montag / Gorunway.com

 

    Os tailleurs de comprimento mídi também foram destaque, principalmente pelas plumas e cristais bordados.

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Foto: Isidore Montag / Gorunway.com

   

    E como é de costume na Chanel, o desfile foi encerrado pelo look de alta-costura de noiva, um vestido longo remetendo aos anos 80 com bastante volume, mangas e bordados glaceados e com uma saia quase balonê.  

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Foto: Isidore Montag / Gorunway.com

 

    

      ELIE SAAB

     A marca do estilista libanês Elie Saab, retornou mais uma vez às passarelas com uma coleção de alta-costura que referencia o próprio trabalho do estilista e designer. O primeiro look foi um vestido sereia justo em veludo preto, que diferentemente do que é esperado de Elie sugeria um tom mais dramático ao desfile, sem nenhum acessório. A inspiração, segundo Saab, foi  uma referência a seu trabalho nos anos 90 e como o mesmo se manteve consistente durante esses anos. 

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Foto: Filippo Fior / Gorunway.com

 

 

    O desfile foi marcado pela progressão de peças pretas para tons profundos de rubi e verde-esmeralda, com variações de formas sinuosas e elegantes. Os bordados foram os principais elementos em várias criações , com ornamentos de floreios, penas e apliques de flores. 

   Em contraponto à paleta noturna, Saab apresentou peças  em dourado que são consideradas por muitos sua marca registrada, trazendo um lado mais extravagante da feminilidade. 

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Foto: Filippo Fior / Gorunway.com

 

   O brilho das lantejoulas prateadas enfeitavam os vestidos mais suntuosos e generosos em volume. O final foi um pico de luxo, com o vestido la mariée que misturava tule blush, com bordados em arabesco de ouro claro, e uma cauda majestosa. Digno de um encerramento de um desfile de alta-costura.

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Foto: Filippo Fior / Gorunway.com

 

   

     BALENCIAGA

    Sendo a quarta coleção de alta-costura sob o comando do estilista  Demna, essa com certeza foi a mais subversiva em sua rejeição à formalidade e às elegâncias típicas do métier, se não das silhuetas de Cristóbal Balenciaga. O diretor criativo  adotou as mangas 3/4, os formatos de casulo e os chapéus elaborados de costureiro, mas adicionou o seu diferencial nos tecidos  utilizados: jeans, couro, agasalhos, moletons, bien sûr, unindo-os a um material de mergulho acetinado, que o ajudou a atingir suas formas esculpidas. 

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Foto: Cortesia Balenciaga

 

   Conforme o desfile progredia, o diretor se movia para as silhuetas noturnas extravagantes associadas à alta-costura, só que elas eram feitas de retalhos de jeans e parkas coloridas que pareciam ter sido reaproveitadas das coleções anteriores de Demna para a marca.  

   Diferenciando apenas com novos tecidos e técnicas; um vestido coluna foi feito de sacolas plásticas derretidas moldadas no corpo, e um modelo sem alças foi construído com papel alumínio dourado.  

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Foto: Cortesia Balenciaga

 

    As peças pediam que você reconsiderasse as maneiras pelas quais atribuímos valor às roupas e a razão que consideramos uma coisa preciosa e a outra não. O look final foi uma nuvem rodopiante de nylon preto, construído um pouco antes do desfile, uma peça de “costura efêmera” que virá acompanhado de 3 staffs da própria marca para a sua montagem para a cliente que comprar. 

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Foto: Cortesia Balenciaga

 

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Exposição homenageia trigésimo aniversário de carreira de um dos maiores nomes da moda brasileira
por
Helena Maluf
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28/06/2024 - 12h

A exposição "Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda" ambientada no Museu Judaico de São Paulo é uma forma de celebrar a impactante carreira do renomado estilista brasileiro. A exibição ficará em cartaz até 08 de setembro, com entrada gratuita aos sábados. 

Herchcovitch, um dos nomes mais influentes da moda no Brasil e no mundo, é conhecido por suas criações ousadas, inovadoras, polêmicas e cheias de personalidade. A mostra  revisita todos os momentos mais icônicos de sua trajetória, nos conectando com a sua história.

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Roupas do estilista penduradas ao longo da exposição. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                         

Desde cedo Alexandre Herchcovitch demonstrou interesse pelo universo da moda, incentivado por sua mãe, Regina, que era modelista. Seu talento começou a florescer na adolescência, quando iniciou suas primeiras criações. A partir daí, sua carreira se desenvolveu rapidamente, levando-o a estudar moda na Faculdade Santa Marcelina, onde se formou em 1993.

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Convites para os primeiros desfiles do estilista. Foto: Helena Maluf 

Logo no início de sua carreira, Herchcovitch chamou a atenção por suas criações inovadoras e por seu estilo único, que desafiava as convenções da moda tradicional. Sua estética, muitas vezes marcada por uma mistura de elementos punk, góticos e fetichistas, rapidamente ganhou notoriedade. Na década de 1990, ele se tornou um dos principais nomes da moda brasileira, desfilando suas coleções na São Paulo Fashion Week e, posteriormente, em outras importantes semanas de moda internacionais, como Nova York, Paris e Londres.

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Telas presentes na exposição, onde era possível assistir os seus primeiros desfiles. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                             
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Pôster de campanha para uma de suas coleções. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                             

A exposição está dividida por uma linha de tempo, que percorre  toda a mostra, cada “parada” dedicada a uma época diferente da carreira e da vida do estilista. Desde suas primeiras criações até suas coleções mais recentes, a exibição  oferece uma visão abrangente de sua trajetória, destacando tanto suas conquistas profissionais quanto suas influências pessoais.

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Uma parte da linha do tempo exposta. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

Uma das seções mais importantes, e controvérsias, da exposição é dedicada à era “sadomasoquista” de Herchcovitch, mostrando ensaios fotográficos, acessos e peças de roupas as quais o artista foi bem criticado na época por fazer. Porém, hoje em dia, são consideradas peças de vestuário extremamente icônicas no mundo da moda. 

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Sapato com um salto de aproximadamente 1 metro de altura. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                               

 

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Vestido preto de seda com recortes reveladores, acessorizado com uma máscara preta de couro. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    

A exposição também aborda o impacto de Herchcovitch na moda brasileira e internacional, destacando sua influência sobre uma geração de novos estilistas e sua capacidade de transcender fronteiras culturais. Suas coleções, frequentemente inspiradas por temas como a identidade de gênero, sexualidade e política, refletem sua visão de mundo única e sua habilidade de usar a moda como uma forma de expressão artística e social.

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Convite de um de seus desfiles imitando um bilhete único. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                  
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Alguns acessórios e colaborações que o estilista fez com outras marcas. Foto: Helena Maluf

A exposição convida os visitantes a considerar a moda não apenas como uma forma de vestuário, mas como uma linguagem poderosa e versátil, capaz de expressar ideias, provocar reflexões e inspirar mudanças.

O legado de Herchcovitch é evidente não apenas nas peças expostas, mas também nas histórias e memórias que elas evocam. Sua capacidade de inovar, desafiar normas e incorporar elementos culturais diversos em suas criações estabeleceu novos padrões na indústria da moda e continua a influenciar estilistas e criadores ao redor do mundo

A semana da moda masculina em Milão trilhou novos caminhos para a indústria com criatividade e esperança
por
Maria Laura de Medeiros Varzea
|
26/06/2024 - 12h

Depois da Segunda Guerra Mundial, a indústria da moda alavancou seu próprio desenvolvimento e  ganhou um espaço enorme no cenário econômico mundial. Na Itália, isso não foi diferente. O conceito da alta-costura acabara de ganhar notoriedade, e foi em Florença que os desfiles ganharam vida. No ano de 1958, criou-se a Câmara Nacional da Moda Italiana. Como resultado, os desfiles e marcas de luxo passam a ser cada vez mais considerados importantes por cidadãos de todo o mundo. Em junho de 2024 a capital recebeu, mais uma vez, uma semana de moda com direito a passarelas de luxo dedicadas exclusivamente ao men'’s wear.  

Na Fashion Week de Milão (primavera/verão 2025), vários olhares se curvaram para a entrada de Adrian Appiolaza na Moschino, com a coleção "Lost and Found" ("Achados e Perdidos"). A perspectiva inovadora do novo diretor criativo da marca mistura moda e nostalgia. A era do empoderamento "bossy" ("mandão" ou "mandona", em inglês) foi desmanchada a partir do momento que blazers começaram a se mostrar como vestidos, tops com clipes de papel e jaquetas cheias de post-its. 

 

Moschino, Milão 2025
Moschino Spring 2025 
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com

 

Zegna

Alessandro Sartori, diretor artístico da Zegna, criou uma atmosfera semelhante a um campo de linho em sua passarela. Sua inspiração vem da relação entre o homem e a natureza, e isso se dá a partir das lâminas de linho confeccionadas em metal e os tons terrosos presentes na paleta de cores como o terracota, o bege e o amarelo. "Oasi of Linen" ("Oásis de Linho") quis evidenciar a riqueza desse material, ao mesmo tempo em que faz jus a ideia da coleção. 

Zegna, Milão, 2025
Zegna, Milão 2025
Foto: Filippo Fior/ Gorunway.com
 


Gucci

 

Dessa vez, o local escolhido pela Gucci para o lançamento de sua nova coleção foi o "Triennale Milano", uma clássica galeria de arte construída em 1930. Sabato De Sarno, diretor criativo da marca, utilizou da arquitetura e da iluminação da casa a seu favor. As peças transmitem um ar jovial e surfista, com conjuntos gráficos de shorts e camisas, chinelos e óculos de sol pendurados por uma gargantilha da maison. Camisetas polo, e peças um pouco mais justas também foram destaque, assim como as cores: tons de magenta, amarelo e verde. Tipicamente de De Sarno, enfeites floridos foram acrescentados aos looks, trazendo mais sofisticação para roupas feitas para serem usadas no dia-a-dia. 

Gucci, Milão 2025
Gucci, Milão 2025
Vogue Runway

 

Giorgio Armani

 

Armani lançou sua coleção deste ano de forma discreta. O estilista vem fazendo isso durante toda a sua carreira, prefere evitar conjuntos extravagantes e desmedidos. Armani prefere minimalismo e elegância atemporal, evitando tendências passageiras e cenários elaborados de desfile.

As peças de alfaiataria desconstruídas com um toque de extravagância, proporções generosas, camisas e coletes translúcidos, e uma paleta de cores clássica de Armani em tons de cinza e marinho.

O espírito viajante, outra marca registrada do estilista, também esteve presente na coleção. Estampas nebulosas de folhas de palmeira e chapéus de palha ou algodão evocavam destinos exóticos e um clima de descontração. Armani, "Il Maestro", foi aplaudido de pé após o fim do desfile. 

Giorgio Armani, Milão 2025
Giorgio Armani, Milão 2025
Foto: Isidore Montag/ Gorunway.com
 

JW Anderson

 

Jonathan Anderson obteve inspiração através dos princípios da hipnoterapia, técnica terapêutica de hipnose. Equilibrando o estranho com o sedutor em um estilo impecável, Anderson apresenta uma série de peças que desafiam as expectativas e aguçam os sentidos. 

Inicialmente, três looks estrearam a passarela; jaquetas acolchoadas over-sized, coletes e cardigans de malha. Anderson soube utilizar as medidas das roupas a seu favor, limitando ou ampliando as proporções das peças , com silhuetas alongadas ou encurtadas e gravatas enormes que desafiam as

normas. Saliências de cetim colorido e camisetas acolchoadas e redondas conferem um toque escultural às peças.

Alguns trajes também traziam memórias e sonhos que foram retraídos no subconsciente. De acordo com o diretor criativo , parte de seu entusiasmo aconteceu em sua última viagem ao festival de música Primavera Sound, na Espanha; "A experimentação de roupas entre as gerações mais novas é incrível. (...) O olhar da moda masculina e feminina mudou. As pessoas querem algo realmente desafiador". 

JW Anderson, Milão 2025
JW Anderson, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com
 

Martine Rose

 

O desfile da britânica Martine Rose foi marcante. Espectadores especularam como Rose conseguiria trazer sua característica underground para as passarelas italianas. O show aconteceu em um prédio industrial recheado de panfletos da marca pelo chão. As modelos desfilavam com narizes prostéticos e perucas que se arrastavam pelo chão. 

Homens utilizavam saias lápis ajustadas  ao corpo, ou calças cortadas para parecerem polainas. Camisetas de futebol encolhidas e mais justas, e diversas referências à vida noturna. A coleção celebrou  a individualidade e a expressão autêntica, independentemente da idade ou das expectativas sociais, referenciando também a vida noturna e seus códigos de vestimenta abundantes, criando uma conexão autêntica com a estética urbana da designer.

Martine Rose, Milão 2025
Martine Rose, Milão 2025
Foto: Isidore Montag/ Gorunway.com
 

Prada 


O depósito de Fondazione Prada recebeu uma nova instalação: uma cabana branca elevada por palafitas. De fora, luzes piscantes simulavam que uma grande festa acontecia lá dentro. Miuccia Prada e Raf Simons, co-diretores criativos da

marca, descreveram o espaço como uma "ravescape de conto de fadas", onde a coleção celebrava "liberdade, otimismo juvenil e energia".

  A ideia era ter peças que pareciam já ter "vivido uma vida", com silhuetas dinâmicas e propositalmente deformadas, encolhidas e exageradas. Mangas curtas, como se as peças tivessem sido emprestadas ou trocadas, camisas tortas e calças estreitas caídas na cintura e acumuladas nos tornozelos, criavam uma estética descolada e autêntica. A coleção também brincava com a percepção, desafiando o que os olhos viam. Camisetas bretãs trompe l'oeil com listras distorcidas, "cintos" de couro na cintura baixa que na verdade eram parte das calças e enormes óculos de sol com lentes adornadas com fotos de raves, estátuas romanas e estradas americanas criaram um clima surreal e desorientador. As estampas do artista Bernard Buffet, usadas "como uma camiseta de show", adicionam um toque artístico à coleção. Acessórios como bolsas de ombro com alças trançadas e sandálias de plataforma reforçavam a estética descontraída e jovem. "

Prada, Milão 2025
Prada, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com
 

Emporio Armani

 

Nesta temporada, a  Armani transportou seu homem urbano habitual para a selva, explorando temas de aventura e desinibição. A paleta de cores terrosas dominou a coleção, com tons de verde musgo, marrom profundo e cáqui. 

Camisas largas e volumosas combinavam com calças amplas e botas robustas, inspiradas no mundo equestre. A alfaiataria impecável da Armani se fez presente em jaquetas estilo safári e quimonos fluidos, enquanto o foco na cintura era constante, marcado por cintos em jaquetas utilitárias e detalhes em couro que realçam os blazers leves e descontraídos. 

O desfile chegou ao fim com um toque inesperado: um aroma de lavanda pairava no ar enquanto modelos vestidos com lederhosen (calças de couro tradicionais alemãs) percorriam o espaço carregando cestos de flores primaveris. A natureza,mesmo que domesticada nesse contexto, permeia toda a coleção, criando uma atmosfera única e memorável.

Emporio Armani, Milão 2025
Emporio Armani, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com
 

Fendi

 

Silvia Venturini Fendi, diretora das coleções masculinas e de acessórios da casa, revelou ter se inspirado em um mergulho profundo no rico arquivo da Fendi para criar essa coleção. Celebrando o centenário da marca romana neste ano, a designer concebeu um brasão comemorativo composto por quatro dos motivos mais icônicos da Fendi, incluindo o famoso emblema duplo F, que adornava suéteres e camisas na passarela. Essa estética conferiu à coleção um ar de time do colégio, algo que Venturini Fendi já havia mencionado em entrevistas pré-desfile, expressando seu desejo de que a Fendi se sentisse como um time ou clube. 

Suéteres listrados de rugby e gravatas combinando desfilavam lado a lado com jaquetas xadrez, blazers escolares e uma versão divertida da camisa de futebol. O resultado foi um uniforme coeso para o clã Fendi – e sua ampla base de fãs internacionais – ostentar com orgulho neste ano marcante do centenário da marca.

Fendi, Milão 2025
Fendi, Milão 2025
Foto: Daniele Oberrauch/ Gorunway.com
 

Dolce & Gabbana

 

Inspirados nos verões italianos despreocupados, Domenico Dolce e Stefano Gabbana criaram uma coleção que exala elegância descontraída. A ráfia, um elemento clássico da mobília italiana, se destaca como um dos materiais principais da coleção. Tecida em jaquetas de verão arejadas e camisas pólo oversized, a ráfia evoca a sensação de frescor e leveza dos dias ensolarados. 

A alfaiataria impecável, marca registrada da marca, permanece presente, com destaque para os paletós trespassados ​​combinados com calças plissadas que se ajustam na barra, remetendo à década de 1950. 

Para um toque de personalidade, a coleção é enriquecida com detalhes bordados e ornamentais. Ramos de flores vermelhas delicadas adornam calças e jaquetas brancas, conferindo romantismo e elegância à silhueta.

Dolce & Gabbana, Milão 2025
Dolce & Gabbana, Milão 2025
Foto: Isidore Montag/ Gorunway.com
 

MSGM

 

No sábado pela manhã, Massimo Giorgetti celebrou 15 anos da sua marca MSGM com um desfile de moda masculina ambientado em uma antiga garagem industrial nos arredores de Milão. A coleção, inspirada no mar e com uma estética limpa e gráfica, foi apresentada em um cenário vibrante de explosões de tinta em cores primárias contra caixas de Perspex que revestiam a passarela. Giorgetti explicou que a coleção fez referência às pinceladas ousadas e aos motivos gráficos que se tornaram a sua assinatura ao longo dos anos, reinterpretados aqui em uma variedade vibrante de estampas. 

Padrões náuticos, margaridas coloridas e impressões pictóricas de cenas litorâneas,  evocaram as memórias do designer de sua casa à beira-mar na Ligúria, perto de Portofino, onde a coleção foi idealizada. A atmosfera do desfile era a personificação do verão mediterrâneo. Com sua energia positiva e vibrante, o desfile transportou os convidados da Milão nublada para a ensolarada Riviera italiana.

MSGM Milão 2025
MSMG, Milão 2025
Foto: Umberto Fratini/ Gorunway.com

 


 


 

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A grife italiana apresentou 171 looks que serão desfilados no dia 29 de setembro, em Paris.
por
Giovanna Montanhan
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18/06/2024 - 12h

‘De volta para o passado?’ Nesta segunda-feira (17), o novo diretor criativo da Valentino, Alessandro Michele, exibiu uma prévia da sua coleção de estreia na marca, que estava agendada  para acontecer somente no próximo verão. Michele, que deixou recentemente o cargo de direção na Gucci, onde ficou por vinte anos, mostrou para o que veio: trouxe para sua nova casa, pelo menos neste início, muita exuberância, pompa e memória. Quem comandou a marca anteriormente, durante vinte e cinco anos, foi Pierpaolo Piccioli, que no momento, não se encontra em nenhuma grife, mesmo com muitas especulações na internet sobre seu futuro destino. 

O novo diretor da Valentino, revelou em entrevista para o Women’s Wear Daily que deixou a Gucci pois desejava a oportunidade de passar mais tempo com a sua família e de possuir uma liberdade maior para fazer o que quisesse. Um tempo depois, percebeu que para ele, o verdadeiro significado de estar livre era estar fazendo algo que lhe despertasse prazer, o que não significava ficar ocioso, então, se reencontrou por meio do seu trabalho. 

O estilista usou a palavra ‘’seduzido’’ para descrever como se sentiu ao escolher a Valentino, revelando que um dos motivos que o levou a escolhê-la foi a vasta quantidade de arquivo que a grife possuía em seu acervo: ‘’Amo objetos, tenho uma relação íntima com as coisas materiais, é quase como um encontro religioso (...), como se fossem uma relíquia (...)  Me apaixonei por esta casa {de moda} que se tornou o meu lar (...) "

Os visuais exibidos por Michele, em sua maioria, rememoram uma série de elementos já vistas por aí, como o estilo boho, trazendo os anos 70 de volta  em peso: o monograma preto e o branco eternizado por Jackie Kennedy, os acessórios maximalistas vintage, como os muitos colares de pérolas, os brincos e os botões, assim como as franjas, a sandália de tiras coloridas, as meias calças e muito mais! 

 

VALENTINO VINTAGE
Reprodução: Divulgação

 

 

 

 

BOHO
Reprodução: Divulgação

 

 

 

 

PEROLAS
Reprodução: Divulgação

 

É inegável a herança que o estilista carrega de seus últimos anos na Gucci. Mas, é importante  lembrar que identidade e autenticidade caminham juntas e fazem da moda o que ela é. Espero vê-lo imprimindo mais o que se caracteriza como um visual ‘Valentino’ nas coleções seguintes e fazendo com que a grife volte a carregar consigo os códigos tradicionais, sem perder a originalidade e que ainda sim, seja capaz de causar vibrações nas redes. 

 

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Evento teve destaque para rodas de conversa e celebração da pluralidade do mundo da moda
por
Bianca Athaide
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12/06/2024 - 12h

Durante o final de semana de 09 a 11 junho, no coração da Inglaterra e de uma forma um pouco diferente, aconteceu a Semana de Moda Masculina de Londres. Sem o glamour habitual, a semana focou em trazer a riqueza cultural londrina para o centro dos holofotes do mês de junho — conhecido como "Mês da moda masculina". Com palestras, painéis, eventos e atividades, os organizadores buscaram honrar designers, marcas e comunidades que fizeram a cena fashion londrina tão rica.

Caracterizada como um híbrido de uma Fashion Week, a Semana de Londres, logo em seu primeiro dia, celebrou culturas que tiveram impacto na cena de moda masculina local. Com destaque para as raízes de origem africana e asiática, e a influência das comunidades queer, em uma exibição no Instituto de Artes Contemporâneas de Londres, com David Beckham como anfitrião.

Semana da Moda de Londres
Exibição "Syke X BFC" exposta no ICA. Foto: Reprodução/Drappers

Entre os eventos, a roda de conversa com a designer de origem indiana-nigeriana Ahluwalia, o estilista nascido em Blangadesh, Rahemur Rahman, e com a escritora e influenciadora indiana Simran Randhawa, teve maior relevância. O bate-papo tratou sobre o impacto global não reconhecido dos trabalhos manuais indianos para o mundo da moda.

Semana da Moda de Londres
A escritora e influenciadora Simran Randhawa durante roda de conversa. Foto: Kate Green/Vogue Business

Mesmo com o viés mais político e educativo, ainda era uma Semana de Moda e coube no calendário apertado, espaço para poucos — mas estupendos — desfiles à moda antiga. Logo no primeiro dia, aconteceu a celebração de dez anos da marca de luxo Charles Jeffrey Loverboy. O palco ficou por conta da arquitetura neoclássica da Casa Somerset,  ponto turístico londrino, com vista para o rio Tâmisa — onde também fica alocado o estúdio do estilista.

A coleção apresentada foi uma alusão ao decenário da marca, com reflexão sobre o que o criador chamou de “Queer time” (tempo queer em tradução livre). Um conceito que aborda como o ideário molda não apenas o entender da sexualidade e como isso impacta a vida de um indivíduo, mas, também, como pode transformar o passado, o presente e o futuro de uma sociedade por um todo.

Semana da Moda de Londres
Look desfilado para Charles Jeffrey Loverboy. Foto: Reprodução/Fashion Network

No dia seguinte, a Qasimi apresentou sua coleção Verão 2025. Invocando a abstração do conceito "spolia" — a integração de elementos de estruturas antigas com novos designs, através de reinterpretação de formas e moldes — a diretora criativa, Hoor Al Qasimi, desfrutou de um casamento entre arte, escultura e moda. 

Semana da Moda de Londres
Look desfilado para Qasimi.
Foto: Reprodução/Vogue Business

Para finalizar a sessão de desfiles, a irreverente HARRI, grife indiana conhecida por suas criações infláveis e de látex, marcou presença na semana no auditório Benjamin West, localizado dentro da Academia Real Inglesa e conhecido por sua arquitetura clássica, como passarela. A marca apostou, como look principal, em um vestido inflável branco, que necessitou de mais 300 horas de produção, segundo o diretor criativo Harikrishnan Keezhathil Surendran Pillai. A peça gerou alto engajamento online, elevando o perfil da HARRI ao marco de maior crescimento de seguidores durante uma semana de moda.
 

Semana da Moda de Londres
Peça inflável da HARRI. Foto: Reprodução/The Standard

 

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