A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

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Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
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O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Macron enfrenta dificuldade para lidar com manifestantes
por
Chloé Dana
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17/09/2025 - 12h

 

Na terça-feira da semana passada,a (9) o primeiro-ministro, François Bayrou, perdeu o voto de confiança no Parlamento e renunciou ao cargo. A decisão foi tomada pela Assembleia Nacional com 364 votos contrários e 194 a favor, após o fracasso de Bayrou em obter apoio para o plano orçamentário de 2026. 

O presidente, Emmanuel Macron, já nomeou no dia seguinte o novo primeiro-ministro Sébastien Lecornu e foi o suficiente para gerar mobilizações. Os manifestantes tomaram as ruas de várias cidades, bloquearam rodovias, queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia. O movimento, denominado “Bloqueie Tudo”, tomou força no verão europeu deste ano, ao motivar os cidadãos a se manifestarem contra uma redução no orçamento de 44 bilhões de euros divulgada pelo ex-primeiro-ministro François Bayrou. 

Entre as demandas estão um aumento nos recursos para serviços públicos, tributos para os mais ricos, a suspensão do aumento dos aluguéis, contra a classe política e cortes orçamentários, e a saída de Macron do cargo. Na quarta-feira (10), 80 mil forças de segurança foram acionadas em todo o território nacional, com 6 mil apenas em Paris. Conflitos foram registrados em lugares como Rennes, Nantes, Montpellier e Toulouse, além da cidade capital.

A crise atual se aprofundou com a recente renúncia de seu primeiro-ministro, François Bayrou. Essa foi a quinta mudança de primeiro-ministro em menos de dois anos, evidenciando fragilidade no governo.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária. 

Além disso, o problema não se limita apenas ao primeiro-ministro, mas também alcança o presidente. “Os ministros representam um obstáculo, mas a verdadeira questão é Macron e sua maneira de liderar. Ele deve se afastar”, declarou Fred, líder do sindicato de transportes em Paris, para um jornal francês. Especialistas em política na França sugerem que a crise revela a exaustão do modelo político de Macron, que está sob pressão tanto da direita quanto da esquerda, e que pode enfrentar, nos próximos meses, seu maior teste de governabilidade desde 2018.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária.

 

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Manifestantes vão à rua em protesto. Foto: Julia Braun, BBC 

 

Manifestações escalaram após bloqueio de redes, levando à renúncia do premiê
por
Kimberlly Ramos
Maria Clara Palmeira
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18/09/2025 - 12h

Protestos massivos liderados por jovens nepaleses da Geração Z (1995 - 2010), reivindicam o fim da corrupção generalizada e criticam a desigualdade social nepalesa. O país atravessa sua pior crise política desde o fim da monarquia, em 2008.

O estopim da revolta ocorreu na quinta-feira (4), com o bloqueio de mais de 20 redes sociais (entre elas Instagram, Whatsapp e X) no país, sob a alegação do governo de que as normas de regulamentação nepalesas não estavam sendo cumpridas pelas plataformas e também como meio para evitar a propagação de notícias falsas e discursos de ódio. As autoridades afirmaram ainda que prezam pela liberdade de expressão, mas que precisam que as plataformas tenham responsabilidade e sejam bem administradas, com a nomeação de representantes legais no país. 

A medida foi tomada durante uma campanha que estava viralizando nas mídias sociais, intitulada “nepo kids”, que denunciava a corrupção política no Nepal e a vida de ostentação exibida por filhos de governantes; isso, em contraste com as dificuldades que o restante da população enfrenta para sobreviver, segundo a trend. A proibição das redes foi recebida com revolta e foi vista pelos jovens como forma de silenciar as denúncias contra a corrupção. Os manifestantes se uniram contra o decreto, tomaram as ruas da capital nepalesa Katmandu e marcharam até o Parlamento em 8 de setembro. Em resposta ao movimento, a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha durante confronto para tentar conter a multidão; 19 pessoas morreram apenas no primeiro dia.

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Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X
Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X

As mortes levaram à intensificação dos protestos no dia 9, provocando incêndios em prédios do governo e no Parlamento Federal. Residências de políticos também foram incendiadas pelos manifestantes, como a do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, resultando na morte de sua esposa, que estava dentro da casa no momento do ataque.

Com a escalada do conflito, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli renunciou ao cargo e o número de mortes foi atualizado para 25. O bloqueio das redes foi revogado, como meio de conter a revolta, mas as manifestações seguiram, com a insatisfação dos jovens nepaleses se ampliando em relação às práticas corruptas. 

Na sexta-feira (12), o presidente Ramchandra Paudel dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para 5 de março de 2026. Simultaneamente, Paudel nomeou Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte, como primeira-ministra interina, tornando-se a primeira mulher a liderar o governo do Nepal. Karki, conhecida por decisões judiciais contra casos de corrupção e pela promoção da igualdade de gênero, recebeu apoio direto dos manifestantes, que debatiam os próximos passos em plataformas digitais como Discord.

No dia 13, a normalidade começava a retornar a Katmandu: lojas reabriram, veículos voltaram às ruas e a presença militar foi reduzida. Karki visitou jovens feridos e recebeu pedidos de familiares das vítimas, que exigiam reconhecimento dos mortos e compensações financeiras. Organizações internacionais de direitos humanos pedem que o novo governo acabe com a “impunidade do passado” e investigue os responsáveis pelas mortes.

O desafio de Karki será recuperar a confiança da população, conduzir as eleições em março e entender as reivindicações da juventude, que desempenhou papel central nas recentes mobilizações. Com 22% dos jovens entre 15 e 24 anos desempregados e um quinto da população vivendo na pobreza, a Geração Z nepalesa já demonstrava frustração. O bloqueio das redes sociais foi a faísca de um descontentamento acumulado.

“O tempo está passando rápido. Diariamente dezenas de palestinos são assassinados", afirma professor Rodrigo Amaral, da PUC-SP
por
Renata Bittar
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02/09/2025 - 12h

Em meio a tensões políticas e crises diplomáticas, o conflito entre Israel e Gaza se intensifica. Recentemente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de assumir o controle total da Faixa de Gaza. Embora a operação ainda não tenha sido confirmada, o governo de Israel afirma que o objetivo seria expulsar o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e instaurar um governo civil no território. Em entrevista à BBC, Netanyahu declarou que Israel busca “libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas”.

O Estado de Israel mantém os bombardeios e ataques contra Gaza. A recusa de um cessar-fogo imediato resultou em um aumento no número de mortes, destruição de cidades inteiras e no agravamento de uma crise humanitária de grande proporção.

Em entrevista exclusiva à AGEMT, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral, pesquisador especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, avaliou que a imagem de Israel no cenário internacional tem se deteriorado. “Mesmo que Israel mantenha fortes relações, sobretudo comerciais, com diversos países, o debate sobre boicotes — antes distante do imaginário internacional — começa a ganhar força”, afirmou.

Nos últimos meses, países como Canadá e França passaram a reconhecer a Palestina como um Estado legítimo. A decisão, vinda de nações com peso político relevante, chamou atenção e fortaleceu o movimento palestino. Para Amaral, o gesto reforça a percepção de que a comunidade internacional demonstra, de forma mais concreta, a intenção de apoiar a criação de um Estado palestino autônomo. “É um marco para esses países reconhecerem a Palestina, sobretudo por serem nações tradicionalmente alinhadas à lógica norte-americana”, destaca o professor.

Ao contextualizar o conflito, Amaral lembra que eventos como a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Fria e a Crise de Suez contribuíram para o deslocamento forçado dos palestinos à Faixa de Gaza. Questionado sobre a possibilidade de o território voltar à “normalidade”, ele pondera que “nunca existiu normalidade em um espaço onde a população vive confinada”. “Gaza é controlada por autoridades estrangeiras, Israel e Egito. Dentro dessa realidade sociopolítica, tenta-se construir uma vida cotidiana, mas os palestinos sempre foram empurrados para esse território”, afirma.

Entre o impasse político e as operações militares, as ações de ambos os lados se intensificam. O próximo passo declarado por Netanyahu seria a desocupação total de Gaza pelos palestinos que ainda vivem no local e a busca por outros territórios que os recebam. “É importante lembrar que Gaza já era um espaço de refúgio, pois a maioria dos palestinos que vive lá não é originária do território”, acrescenta Amaral. Segundo ele, a tendência é a manutenção de um controle militar em Gaza, provavelmente acompanhado de presença ativa de Israel durante o processo de reconstrução.

 

Nova operação de Israel intensifica bombardeios na Cidade de Gaza em 28/08/2025 Imagem: Reprodução/Reuters/ Dawoud Abu Alkas

 

 

 

 

Apesar do apoio crescente de diversos países à causa palestina, o cenário das relações internacionais ainda é fortemente influenciado pelas grandes potências ocidentais. Esses atores exercem papel decisivo na definição da ordem global e, frequentemente, detêm o poder de determinar os rumos das ações multilaterais. Segundo Rodrigo Amaral, é incomum observar um consenso entre nações como Canadá, França e Austrália ao se posicionarem contra a ofensiva israelense em Gaza. Por meio de mecanismos intergovernamentais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), esses países podem contribuir propondo cessar-fogo e planos de retirada militar da região.

Além da pressão diplomática, Amaral aponta que as nações contrárias à atuação de Israel podem adotar boicotes econômicos como forma de protesto. Essa medida, explica ele, visa prejudicar setores estratégicos da economia israelense e pressionar o governo pelo encerramento das operações militares. “O tempo está passando rapidamente. Diariamente, dezenas de palestinos são assassinados. Ações concretas ainda não foram tomadas; pelo contrário, observamos um aumento dos impasses diplomáticos”, afirma o professor.

Atualmente, estima-se que a ocupação militar israelense em Gaza já abrange quase 90% do território. O governo de Benjamin Netanyahu mantém a meta de ampliar o controle e promover a retirada total dos palestinos que ainda vivem na região. De acordo com Amaral, o número de vítimas ultrapassa 60 mil palestinos desde o início do conflito. “A tendência é que o desfecho desse confronto resulte na consolidação dos interesses israelenses. Apesar do posicionamento da comunidade internacional e das pressões de movimentos sociais transnacionais, persiste um cenário de impunidade e continuidade das ações militares de Israel”, conclui.

 

 

O processo de nomeação ultrapassa a Capela Sistina e desperta curiosidade pelo mundo
por
Victória Rodrigues
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24/04/2025 - 12h

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a maior autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano. No caso de sua morte ou renúncia, existem protocolos e ritos a serem seguidos para dar início ao processo de sucessão.

 

 

Quando um papa morre, são realizadas tradições litúrgicas. O Camerlengo (cardeal escolhido para exercer as funções interinas do papa) anuncia a morte do pontífice, declarando o tempo de luto.

O velório acontece na Basílica de São Pedro por nove dias, chamados de “Novendiale”. Esses dias são reservados para que fiéis, autoridades e líderes religiosos prestem suas homenagens.

Ao final deste período, um cortejo é realizado, seguido do sepultamento, que tradicionalmente acontece na Basílica de São Pedro, em Roma, exceto quando outro local é escolhido previamente pelo Santo Padre. Em caso de renúncia, é o próprio papa emérito quem anuncia sua decisão.

Até que um sucessor seja escolhido, o Camerlengo ficará à frente do governo da Igreja. Um tempo chamado de “Sé Vacante” ou “Sede Vacante” (sede vazia), que significa que a cadeira do líder da Igreja de Roma está vaga.

Este também é o período em que o Camerlengo reunirá o Colégio de Cardeais. A partir daí, começam as votações que definirão o próximo Pontífice. 

De “Sé Vacante” a “Habemus Papam” 

Entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Papa, o Colégio de Cardeais se reúne na Capela Sistina, onde é realizado o Conclave. 

Em entrevista à AGEMT, o padre Luiz Carlos Brito, da Diocese de Guarulhos, explicou esse processo:  “O Conclave é uma reunião sigilosa, significa ‘trancado com chave’. Nela, será definido o próximo Padre Santo. É sigilosa justamente para não haver influências externas, além de ser um momento de profunda oração para a Igreja”.  

Trancados em uma sala, os cardeais realizam as votações, sendo votante e elegíveis apenas aqueles  com menos de 80 anos. “Para ser eleito, é necessário que um dos cardeais elegíveis atinja pelo menos dois terços dos votos, podendo haver até quatro sessões de votação por dia”, afirma o presbítero. 

Após a contagem dos votos, se o número mínimo não for atingido ou se o escolhido pela votação não aceitar o cargo, uma fumaça preta tomará o céu, declarando encerradas as sessões daquele dia, e a Igreja seguirá sem um Papa.

No entanto, se o número mínimo de votos for atingido e o cardeal eleito aceitar a função de chefe do Vaticano e da Igreja Católica, uma fumaça branca sairá da chaminé da Capela Sistina, anunciando a boa nova ao mundo. 


Fumaça branca confirma a escolha do novo Papa | Foto: Agência Reuters

Em seguida, o cardeal protodiácono, que é o mais antigo do Colégio de Cardeais, tem o privilégio de anunciar “Habemus Papam”, temos um Papa. 

Não existe um período máximo para que o novo Bispo de Roma seja nomeado. O Conclave mais longo na história do catolicismo durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271. Ao final foi eleito Teobaldo Visconti como Papa Gregório X. E a mais rápida das votações foi em 1939, que em duas sessões declarou o Papa Pio XII.

Ao ser eleito, o sucessor de Pedro adota um novo nome. De acordo com o Pe. Luiz, os motivos vão desde referência a nomes de santos ou outros papas, a uma facilidade de tradução para diferentes idiomas.

Os nomes geralmente são escolhidos em referência a algum outro papa ou a algum santo da Igreja Católica, como, por exemplo, Francisco é uma referência a São Francisco de Assis; João Paulo, além de fazer referência aos santos São João e São Paulo, juntou os nomes de seus dois antecessores. Além disso, nome próprio não se traduz, então o nome dos santos já tem  uma adaptação para  cada idioma” explica o sacerdote.

O Papa Francisco foi o 266° líder da Igreja Católica. Sua chegada dividiu opiniões. Nos últimos doze anos, o Santo Padre sofreu críticas por seu posicionamento progressista. Logo após assumir o papado, o Pontífice foi questionado sobre a homossexualidade e respondeu com a frase “Quem sou eu para julgar?”.

Além disso, Francisco seguiu a virtude da humildade de seu Santo patrono. Em uma declaração, disse que “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade". Alguns fiéis chegaram a acusá-lo de heresia e até mesmo de comunismo.

Para o Pe. Luiz, a Igreja é uma instituição que deve se adaptar: “Cada Papa tem um perfil, então seu pontificado será direcionado de acordo com suas convicções, isso gera um impacto na igreja de certa forma. Há alguns progressistas, há outros mais conservadores, e a cada mudança a Igreja Católica Apostólica Romana precisa se adaptar ao novo mandato”.

Pontífice sofreu um AVC e insuficiência cardíaca nesta segunda-feira (21)
por
Lívia Rozada
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22/04/2025 - 12h

 

Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)
Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)

Às 9h45 da manhã no horário de Roma e 04h45 no horário de Brasília, apenas algumas horas após a última aparição pública do Papa Francisco, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Papa havia recebido alta hospitalar fazia um mês e estava sob cuidados médicos, após 40 dias internado com um quadro grave de pneumonia nos dois pulmões.

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o primeiro papa latino-americano: Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco. O pontífice nasceu em uma família de imigrantes italianos em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália no início do século XX para fugir das guerras no continente europeu e sua mãe, Regina Maria Sivori, nasceu em Buenos Aires e era filha de imigrantes. Jorge foi o primeiro dos cinco filhos do casal.

Formação e início da trajetória eclesiástica

Sua vocação religiosa o levou a entrar no noviciado da Companhia de Jesus aos 21 anos. Bergoglio fez o juniorado em Santiago, no Chile, e retornou à Argentina para estudar filosofia, formando-se na Universidade Católica de Buenos Aires em 1960. Entre 1964 e 1966, ensinou literatura e filosofia em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires. Em 1967, deu início aos estudos de teologia, que concluiu em 1970.

Em 1969, o jesuíta recebeu a ordenação presbiterial para se tornar sacerdote da Igreja Católica. Bergoglio foi à Espanha para completar seus estudos religiosos e retornou à Argentina em 1973, quando foi eleito superior provincial dos jesuítas no país e passou a chefiar a Companhia de Jesus argentina.

Após o provincialado, o então sacerdote retornou  ao meio acadêmico em 1980, lecionando em colégios jesuítas, e se tornou reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, cargo que ocupou até 1986, quando foi à Alemanha para concluir seu doutorado. Nos anos seguintes, Bergoglio foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Durante a década de 1990, tornou-se uma figura de destaque dentro da Igreja Católica argentina. Em maio de 1992, o então Papa João Paulo II nomeou Bergoglio para o cargo de bispo auxiliar de Buenos Aires, posição que ocupou até 1997, quando foi nomeado arcebispo adjunto da cidade. No ano seguinte, com a morte do arcebispo metropolitano, Bergoglio passou a ocupar o cargo.

O arcebispo se destacava por sua humildade. Apesar de ocupar  um cargo de grande poder na Igreja Católica, o futuro papa continuava evitando os luxos da hierarquia católica e era reconhecido por se locomover de transporte público e morar sozinho em um apartamento simples na região central da cidade. 

Em 2001, durante o papado de João Paulo II, Bergoglio foi nomeado cardeal e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Em vez de ir ao Vaticano para celebrar a nomeação, convenceu centenas de argentinos a não realizarem a viagem e pediu que destinassem o dinheiro aos pobres. Quatro anos depois, o cardeal participou do seu primeiro conclave, que elegeu o Papa Bento XVI.

Pontificado

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo, por motivos que só seriam revelados após sua morte, em 2022. A decisão do pontífice foi inédita na era moderna, ocorrendo cerca de 600 anos após a última renúncia papal, quando o Papa Gregório XII renunciou. No segundo dia do conclave para nomear uma nova pessoa para o cargo, Bergoglio foi eleito como o 266º papa.

O novo papa escolheu o nome de Francisco como uma referência a São Francisco de Assis, conhecido por sua simplicidade e dedicação aos pobres, tornando-se o primeiro pontífice a usar o nome. A escolha reforçou seu compromisso com a humildade, a paz e a defesa dos mais vulneráveis, traços que marcaram seu papado. Francisco foi o primeiro papa originário do continente americano e do hemisfério sul, além de ser o primeiro papa de origem não europeia em mais de 1200 anos, desde Papa Gregório III, nascido na Síria.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil. Em julho de 2013, Francisco desembarcou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento realizado a cada dois ou três anos, que reúne o papa e milhões de jovens católicos de todo o mundo. Durante a missa celebrada na Praia de Copacabana, o papa reuniu mais de 3,5 milhões de fiéis. Além do Rio de Janeiro, o pontífice fez questão de visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP
Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP

Francisco mantém uma relação de carinho com o Brasil. Alguns meses após a visita ao país, o pontífice recebeu os organizadores da JMJ e, em seu discurso de boas-vindas, brincou: “Os cariocas são ladrões, roubaram meu coração”. Em junho de 2023, o presidente Lula se reuniu com o papa no Vaticano e o agradeceu pela recepção e “boa conversa” sobre a paz no mundo. Um ano depois, na cúpula do G7, os dois se encontraram novamente. Segundo o presidente, conversaram sobre o combate à fome, a paz mundial e a importância de reduzir as desigualdades.

Legado

Francisco foi um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Em comparação com seus antecessores, o pontífice adotou uma postura progressista ao trazer posicionamentos mais liberais e modernos em relação a temas sensíveis para a Igreja Católica. Com mais de uma década à frente da Igreja Católica, implementou reformas e promoveu mais transparência no Vaticano e adotou medidas mais rígidas contra abusos sexuais no clero.

O papa recebeu repercussão mundial por sua postura mais acolhedora em relação à  comunidade LGBTQIAPN+ . Apesar dos seus posicionamentos conservadores, contrários ao aborto, cirurgias de redesignação sexual e casamento homoafetivo, por exemplo, Francisco, em diversas ocasiões, defendeu que membros da comunidade não devem ser marginalizados, mas sim integrados à sociedade. Em entrevista a jornalistas em 2013, o pontífice disse: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.

 

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
|
22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
|
04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Arquivos de JFK mostram a preocupação dos EUA com a instabilidade política no Brasil nos anos 60
por
Octávio Alves
|
03/04/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira (18), a liberação de cerca de 80 mil páginas de documentos relacionados ao assassinato do ex-presidente John F. Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963, em Dallas, Texas. O caso foi um dos marcos da Guerra Fria. Entre os arquivos revelados pela Central Intelligence Agency (CIA), em português, Agência Central de Inteligência, destacam-se referências ao Brasil, envolvendo tanto ofertas de apoio comunista quanto preocupações com uma possível intervenção militar norte-americana no país.

Nestes documentos, o político Leonel Brizola, que era governador do Rio Grande do Sul em 1961, teria recebido uma oferta de ajuda de Mao Tse-Tung, da China, e Fidel Castro, de Cuba. O suporte incluía assistência e até mesmo "voluntários" para garantir a sucessão presidencial no país.

Documento divulgado pelo governo estadunidense sobre a ajuda de países comunistas. Foto: Reprodução/ Governo dos Estados Unidos
Documento divulgado pelo governo estadunidense sobre a ajuda de países comunistas. (Foto: Reprodução/ Governo dos Estados Unidos)

Na época, Jânio Quadros havia renunciado à presidência, e o país enfrentava um período de instabilidade política. Foi nesse contexto que surgiu a figura de Leonel Brizola, líder da Campanha da Legalidade, cujo objetivo era garantir que João Goulart, então vice-presidente e em viagem à China, assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.

Brizola dando a entrevista durante a Campanha da Legalidade, em 1961. (Foto: Iconographia)
Brizola dando a entrevista durante a Campanha da Legalidade, em 1961. (Foto: Iconographia)

A proposta dos países comunistas foi recusada. Segundo o documento, Brizola negou a ajuda por temer uma crise diplomática com os Estados Unidos. “Obviamente, ele temeu que, caso as propostas fossem aceitas, os EUA pudessem intervir”, afirma relatório sobre a oferta de apoio.

Outro documento revela que os assessores de John F. Kennedy consideravam uma intervenção militar uma opção válida para evitar que um país do tamanho do Brasil caísse nas mãos da oposição global da época.

Texto do documento liberado pelo governo estadunidense falando sobre as situações políticas de países latino americanos. (Foto: Reprodução/CIA)
Texto do documento liberado pelo governo estadunidense falando sobre as situações políticas de países latino americanos. (Foto: Reprodução/CIA)

Esses dados mostram que a crise política no Brasil começou bem antes do golpe de 1964 e que a ditadura já era considerada pelos Estados Unidos como uma possibilidade caso o país se inclinasse mais para a esquerda.

Em entrevista para a AGEMT, a Professora e Doutora em Ciências Sociais da PUC-SP, Carla Cristina Garcia, analisou a divulgação dos documentos da era Kennedy e seus impactos na interpretação da política brasileira. Carla fala como o Brasil já estava sofrendo interferências antes do golpe: “A recente liberação dos documentos da era JFK revela com clareza o grau de vigilância e interferência dos Estados Unidos na política brasileira às vésperas do golpe de 1964.”

Segundo a especialista, essas revelações modificam a forma como eventos históricos são compreendidos. Ela finalizou o pensamento dizendo como estes arquivos mostram como o Brasil era visto pelos estadunidenses: “Revelações como essa não apenas reposicionam personagens históricos sob nova luz, como também ampliam o entendimento do papel estratégico que o Brasil ocupava no imaginário da Casa Branca.”