Disputa destaca segurança pública, moderação política e efeitos do voto obrigatório.
por
Fábio Pinheiro
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
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26/11/2025 - 12h

O Chile chega ao segundo turno das eleições presidenciais de 2025 em meio a intensos debates sobre segurança, migração e economia, após uma votação acirrada que colocou Jeannette Jara, do Partido Comunista do Chile (PCCh), e José Antonio Kast, do Partido Republicano (PLR), na disputa do segundo turno.

Apesar da filiação partidária, Jara adota um discurso mais moderado, enquanto Kast suavizou parte da retórica ao longo da campanha. O cenário reforça uma eleição marcada por movimentos ao centro e pela retomada do voto obrigatório.

Embora seja filiada ao Partido Comunista, Jara não deve ser interpretada como uma candidata de linha comunista clássica, explica Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP: “O discurso dela é social-democrata, centro-esquerda. Ela sai das primárias com esse objetivo: reunir pautas amplas da esquerda e atrair setores moderados.” Segundo o professor, a candidata tenta recuperar votos de Franco Parisi e Evelyn Matthei, figuras que atraem eleitores flutuantes entre centro-direita e centro-esquerda.

A presença de Kast no segundo turno está diretamente ligada ao peso da segurança pública no debate chileno. Desde a pandemia, o país enfrenta aumento de furtos e crimes de menor potencial ofensivo, o que se tornou tema central no pleito. “O principal incômodo do chileno hoje é a segurança”, afirma Arthur. 

Ele explica que parte do eleitorado vinculou o aumento dos crimes à chegada de imigrantes — especialmente venezuelanos, colombianos e haitianos —, ainda que não haja dados que sustentem essa associação. Essa percepção, porém, alimenta o discurso da extrema-direita e fortalece candidaturas como a de Kast.
 

O Palácio de La Moneda
O Palácio de La Moneda. Foto: Wikimedia Commons

As chances de Jara reverter o cenário são consideradas baixas. Segundo Arthur, a candidata chegou com cerca de 26% dos votos — número insuficiente para equilibrar a disputa. “Ela precisa conquistar muitos votos, mas a maior parte dos eleitores dos candidatos derrotados é da direita”, avalia o professor. Apesar disso, ele aponta que parte dos votos do centro pode migrar para Jara, ainda que não em volume suficiente para garantir uma virada.

Outro ponto decisivo é o voto obrigatório. Esta é a primeira eleição presidencial chilena com participação compulsória, e a multa para ausência pode chegar a US$ 100. “Metade da população não votava. Agora, muitos irão às urnas pela primeira vez”, destaca Arthur. Para o professor, essa mudança tende a influenciar mais o comportamento eleitoral do que as instabilidades anteriores, como os protestos de 2019 ou o processo constitucional rejeitado em 2022.

Com o segundo turno marcado para 14 de dezembro, o Chile se vê diante de dois caminhos distintos. Jara tenta consolidar uma frente moderada capaz de ampliar sua base, enquanto Kast se apoia no discurso de segurança e no sentimento de urgência que vem crescendo no país. Em meio a transformações sociais e a um eleitorado expandido pelo novo sistema de participação, o país decide seu próximo capítulo político.

Segundo professora da Unifesp, países não demonstram mais interesse no funcionamento da instituição
por
Renata Bittar
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13/11/2025 - 12h

Fundada em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) representa um marco histórico e o compromisso da humanidade na cooperação para a paz. Atualmente, no entanto, a organização se encontra em uma posição de risco e vulnerabilidade diante da multiplicação de conflitos e governos autocráticos que desprezam os princípios do multilateralismo.

Segundo Cristina Pecequillo, professora livre docente de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o 80° aniversário da ONU, embora digno de comemoração, ocorre em um momento de perda de influência da instituição. Na visão da pesquisadora, a data é um convite à reflexão sobre os caminhos que a entidade poderá trilhar para se manter essencial no âmbito internacional.  

Cristina observa que a geopolítica mundial se transforma dia após dia e coloca em xeque a segurança e a soberania de cada nação. Situações delicadas, como a de Israel e Gaza, são cada vez mais comuns. Da mesma forma, discursos autoritários como os de Donald Trump estão cada vez mais fortes, fragilizando as relações diplomáticas. A especialista afirma que a ONU vem gradualmente perdendo relevância e passa por um longo processo de definhamento financeiro e político. Segundo Cristina, a instituição se transformou em um instrumento de interesse do governo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, serve de palco para as ações de Trump e impõe barreiras a elas. 

Para Cristina, Trump tem diversas alternativas políticas para cada nação e situação. “Trump tem como opção, aos demais organismos multilaterais, a completa destruição, uma repactuação de relações e, no caso das Nações Unidas, um meio termo, já que não investe mas precisa dessa visibilidade para passar algumas políticas para o sistema internacional”, afirma, acrescentando que as circunstâncias atuais exigem uma reforma que permita a ampliação do Conselho de Segurança e identifique novos rumos e missões para o órgão.

Conforme a professora, as nações divergem em relação a como deve ser feita a transformação e o fortalecimento da ONU. “Nem todos os membros estão satisfeitos com o sistema multilateral: uns vão querer reformar, como o Brasil e a China, e outros vão querer fazer uma transformação mais séria e utilizar o organismo para os seus próprios objetivos”, afirma. 

Segundo ela, o interesse e o investimento na instituição ocorreram mais devido ao individualismo do que à proteção geral. Cristina explica que, se a organização não tiver apoio ou respeito de seus integrantes, ela não irá funcionar.

De acordo com a estudiosa, a instituição, que anteriormente representava manutenção e mediação da paz entre nações, ficou em segundo plano e perdeu o sentido para os Estados. Essa ausência de interesse é evidente e contestada. A organização, ainda que desempenhe algum papel em conflitos globais, foi enfraquecida e se distanciou das responsabilidades políticas. Seu funcionamento está inteiramente dependente do comportamento de grandes potências, nações com mais dinheiro e poder que controlam a política e a economia.

Em seu aniversário de 80 anos, a ONU, que se manteve firme em conflitos como a Guerra Fria, desenvolveu um novo projeto de operação devido ao aumento das crises globais e desigualdade. O projeto “ONU 80”, anunciado em março de 2025 pelo secretário-geral Antônio Guterres, busca modernizar o exercício da organização e reafirmar seu impacto. A proposta tem como principal objetivo aumentar a relevância do órgão por meio de três pilares: mais eficiência e menos burocracia, revisão de mandatos e ajustes na estrutura e nos programas.

A ONU enfrentou, e continua enfrentando, crises humanitárias de imensa dimensão e complexidade. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, a instituição afirma trabalhar fortemente em ajuda humanitária e nos esforços que influenciam a diplomacia no conflito. Cristina afirma que a sociedade tende a ter uma visão muito positiva sobre o surgimento e a consolidação da ONU, o que se reflete nas grandes disputas geopolíticas e geoeconômicas de cada época.

António Guterres relembra, em sessão comemorativa aos 80 anos da ONU, que grande parte de antigos funcionários das Nações Unidas carregava marcas visíveis da guerra (ONU / Loey Felipe)

 

 

 

 

Oposição acusa governo de matar mais de 700 pessoas durante manifestações. Orgãos internacionais apontam irregularidades no pleito
por
Octavio Alves
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10/11/2025 - 12h

O país africano vive dias de tensão política, após as eleições gerais realizadas em 29 de outubro, que deram vitória à presidenta Samia Suluhu Hassan, do partido governista Chama Cha Mapinduzi (CCM). De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional do país, Samia conquistou cerca de 97,66% dos votos, garantindo um novo mandato de cinco anos. Ela atuava como vice-presidente quando o antecessor, John Magufuli, morreu em 2021. A morte de Maqufuli  transformou Samia na primeira presidenta da história do país e o pleito recente, na primeira presidenta eleita.

Embora os números sejam altos, as eleições foram duramente criticadas por observadores internacionais e organizações de direitos humanos, que relataram irregularidades, repressão a opositores e violência generalizada.

Durante o período pré-eleitoral, houve relatos de prisões arbitrárias, censura à imprensa, intimidação de ativistas e até o rompimento do sinal de internet, bem na semana do pleito. No dia da votação, diversos centros registraram falhas de comunicação e bloqueios de internet, o que dificultou a fiscalização do processo. 

O partido opositor Chadema denunciou que pelo menos 700 manifestantes foram mortos em três dias, número que subiu para 800 no sábado (08), segundo o porta-voz John Kitoka. Contudo, fontes hospitalares citadas pela agência EFE, afirmam que o número de mortos chega a, pelo menos, 150. Até o momento, a imprensa internacional não conseguiu averiguar a veracidade destes dados.

 

Samia na posse oficial se tornando a primeira presidente mulher eleita. Foto: Tanzania State House
Samia Suluhu Hassan durante a posse oficial como a primeira presidenta  eleita da Tanzânia. Foto: Tanzania State House

 

A Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciaram o uso excessivo da força, com dezenas de mortos e centenas de detidos, números ainda não confirmados oficialmente. A União Europeia e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) afirmaram que as eleições “não permitiram aos cidadãos expressar livremente a sua vontade democrática”.

Em seu discurso de posse, realizado em 3 de novembro, Samia Suluhu Hassan afirmou que sua vitória “representa a vontade do povo tanzaniano” e prometeu restaurar a ordem e focar em desenvolvimento econômico, educação e infraestrutura. No entanto, líderes da oposição questionam a legitimidade do resultado.

Desde a independência, em 1961, o CCM, sucessor do primeiro partido eleito TANU, domina o cenário político tanzaniano. Críticos têm apontado para a necessidade de uma reforma eleitoral, o que foi utilizado como justificativa à prisão do líder do partido Chadema, Tundu Lissu, sob acusação de traição.

Lissu está preso desde o mês de abril, acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, contribuiríam para uma votação livre e justa. Outra importante figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedida de concorrer.

Observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bloco econômico regional, afirmaram em comunicado que as eleições de 29 de outubro não atenderam aos princípios e diretrizes do grupo para eleições democráticas, citando principalmente a proibição da candidatura de opositores.

A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

trump
Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

bama
Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
bernie
O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
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22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
|
04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Arquivos de JFK mostram a preocupação dos EUA com a instabilidade política no Brasil nos anos 60
por
Octávio Alves
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03/04/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira (18), a liberação de cerca de 80 mil páginas de documentos relacionados ao assassinato do ex-presidente John F. Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963, em Dallas, Texas. O caso foi um dos marcos da Guerra Fria. Entre os arquivos revelados pela Central Intelligence Agency (CIA), em português, Agência Central de Inteligência, destacam-se referências ao Brasil, envolvendo tanto ofertas de apoio comunista quanto preocupações com uma possível intervenção militar norte-americana no país.

Nestes documentos, o político Leonel Brizola, que era governador do Rio Grande do Sul em 1961, teria recebido uma oferta de ajuda de Mao Tse-Tung, da China, e Fidel Castro, de Cuba. O suporte incluía assistência e até mesmo "voluntários" para garantir a sucessão presidencial no país.

Documento divulgado pelo governo estadunidense sobre a ajuda de países comunistas. Foto: Reprodução/ Governo dos Estados Unidos
Documento divulgado pelo governo estadunidense sobre a ajuda de países comunistas. (Foto: Reprodução/ Governo dos Estados Unidos)

Na época, Jânio Quadros havia renunciado à presidência, e o país enfrentava um período de instabilidade política. Foi nesse contexto que surgiu a figura de Leonel Brizola, líder da Campanha da Legalidade, cujo objetivo era garantir que João Goulart, então vice-presidente e em viagem à China, assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.

Brizola dando a entrevista durante a Campanha da Legalidade, em 1961. (Foto: Iconographia)
Brizola dando a entrevista durante a Campanha da Legalidade, em 1961. (Foto: Iconographia)

A proposta dos países comunistas foi recusada. Segundo o documento, Brizola negou a ajuda por temer uma crise diplomática com os Estados Unidos. “Obviamente, ele temeu que, caso as propostas fossem aceitas, os EUA pudessem intervir”, afirma relatório sobre a oferta de apoio.

Outro documento revela que os assessores de John F. Kennedy consideravam uma intervenção militar uma opção válida para evitar que um país do tamanho do Brasil caísse nas mãos da oposição global da época.

Texto do documento liberado pelo governo estadunidense falando sobre as situações políticas de países latino americanos. (Foto: Reprodução/CIA)
Texto do documento liberado pelo governo estadunidense falando sobre as situações políticas de países latino americanos. (Foto: Reprodução/CIA)

Esses dados mostram que a crise política no Brasil começou bem antes do golpe de 1964 e que a ditadura já era considerada pelos Estados Unidos como uma possibilidade caso o país se inclinasse mais para a esquerda.

Em entrevista para a AGEMT, a Professora e Doutora em Ciências Sociais da PUC-SP, Carla Cristina Garcia, analisou a divulgação dos documentos da era Kennedy e seus impactos na interpretação da política brasileira. Carla fala como o Brasil já estava sofrendo interferências antes do golpe: “A recente liberação dos documentos da era JFK revela com clareza o grau de vigilância e interferência dos Estados Unidos na política brasileira às vésperas do golpe de 1964.”

Segundo a especialista, essas revelações modificam a forma como eventos históricos são compreendidos. Ela finalizou o pensamento dizendo como estes arquivos mostram como o Brasil era visto pelos estadunidenses: “Revelações como essa não apenas reposicionam personagens históricos sob nova luz, como também ampliam o entendimento do papel estratégico que o Brasil ocupava no imaginário da Casa Branca.”

Bombardeio ordenado por Netanyahu deixou centenas de mortos e feridos
por
Annanda Deusdará
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25/03/2025 - 12h

Na madrugada da última segunda-feira, 17, Israel retomou os bombardeios aéreos na Faixa de Gaza. O ataque ocorreu no meio das negociações para o início da segunda fase do acordo de cessar-fogo. Nas últimas semanas, o país já tinha descumprido duas exigências do Hamas para a primeira fase, sendo elas o bloqueio da entrada de ajuda humanitária na região e a não retirada das tropas israelenses do Corredor Filadélfia, fato que deveria ter ocorrido até o 50° dia do acordo.

De acordo com nota divulgada pelo governo israelense, os ataques ocorreram após o Hamas recusar as propostas recebidas e a libertação dos reféns restantes. Ainda segundo Israel, a decisão foi tomada devido à possibilidade de um ataque por organizações terroristas em Gaza contra seus soldados e comunidades com o propósito de matar e sequestrar.

O Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, informou nesta quinta que pelo menos 506 palestinos foram mortos e outros 909 ficaram feridos. Conforme a agência EFE, Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza na noite desta quarta-feira e começou uma incursão terrestre no Corredor Netzarim.

Em entrevista à Fox News, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou nesta terça que os Estados Unidos sabia dos ataques e estava de acordo com a medida. No Oriente Médio, a Arábia Saudita e o Catar repudiaram os ataques aéreos em Gaza.

O grupo Hamas continua defendendo a continuidade do cessar-fogo e a retirada das tropas israelenses da região. Enquanto isso, autoridades de Israel defendem o retorno de todos os reféns para que haja um cessar-fogo até o fim do Ramadã e do Feriado de Páscoa judaica, que ocorrem em abril, após esse período novas negociações poderão ser feitas. Até o momento, ainda não há confirmação de trégua entre os dois territórios.

O cessar-fogo entre Israel e Hamas, que é discutido desde novembro de 2024, entrou em vigor no dia 19 de janeiro de 2025 e foi negociado também por outros países como Estados Unidos, Qatar e Egito. O acordo foi dividido em três fases, com o objetivo de uma troca de reféns de ambas as partes, a retirada das tropas de Israel da Faixa de Gaza, retorno dos restos mortais de israelenses e um planejamento de reconstrução de Gaza.

O conflito entre os dois países ocorre há 15 meses e se iniciou com um ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, quando 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas como reféns. Após isso, Israel deu início a uma guerra na região, que destruiu quase 60% da infraestrutura de Gaza, incluindo escolas e hospitais, e deslocou cerca de 90% da população local

De acordo com o documento, está previsto que nos primeiros 42 dias em funcionamento, as forças de Israel se retirarão dos centros populacionais da faixa de Gaza situados ao oeste, permitindo o retorno dos deslocados palestinos aos centros urbanos, além da permissão de entrada de mais ajuda humanitária na região - serão cerca de 600 caminhões por dia, um número superior aos 500 que entravam antes do início do conflito.

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Grupo de palestinos ficam felizes ao saberem do acordo de cessar fogo - Imagem/AFP

Desafios para o cumprimento do acordo 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou à imprensa local que não irá retirar as tropas que ainda estão em Gaza, no Corredor Filadélfia, que demarca a fronteira com o Egito. A justificativa é que essa seria uma rota de contrabando usada pelo Hamas que os ajudaria a se fortalecer. 

A decisão pode comprometer as negociações da 2° fase, tendo em vista que Israel deveria se retirar dessa região até o dia 2 deste mês, quando completou 50 dias desde o acordo.

Outra medida que pode complicar a situação é a proposta de Donald Trump pela reconstrução de Gaza seguida de uma ocupação estrangeira, que resultaria em uma expulsão sistemática de palestinos dos territórios tradicionais. 

Essa medida apesar de agradar o governo de Israel pode apresentar resistência no lado palestino. A decisão também não é bem vista pelo Egito, já que os palestinos poderiam migrar para seu território devido à proximidade geográfica, um dos motivos que leva o país a ser mediador no acordo.

O primeiro-ministro conta com o apoio do presidente Trump. O grupo da coligação que o sustenta é a favor da retomada da guerra se o Hamas não se render. Entretanto, um grupo de "desobediência civil" juntamente com o Fórum dos Reféns e Desaparecidos estão se manifestando pela libertação de todos os reféns, vivos ou mortos e pelo fim do conflito.  

Para Rodrigo Amaral, professor de relações internacionais da PUC- SP e analista de política Internacional no Oriente Médio, o que tem maior impacto na decisão de Israel no momento, é o interesse dos Estados Unidos em continuar a guerra ou avançar para a segunda fase, e não a capacidade da extrema direita israelense. 

“A variável que tem condicionado as decisões agora, é o que fazer com Gaza de agora em diante”, segundo o profissional é evidente para todos os envolvidos que os ataques à Gaza precisam parar, e que a eliminação do Hamas não é possível, porém existe o desejo por parte de Israel e Eua de inibir a sua capacidade. A questão agora é como prosseguir, de maneira a não aumentar a violência na região.

Na sexta-feira, 7, uma delegação palestina chegou ao Cairo para discutir sobre a segunda fase do cessar-fogo. No sábado, 8, o porta-voz do Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, declarou que o grupo deseja que o acordo continue: “Afirmamos nossa prontidão para participar da segunda fase das negociações de uma forma que atenda às demandas do nosso povo”.

Apesar disso, no início do mês Israel anunciou o bloqueio de ajuda ao território - que foi uma das exigências para estabelecimento do acordo - e no domingo, 09, informou que cortaria a energia elétrica de Gaza para pressionar o Hamas a aceitar novas condições para a extensão do atual acordo de cessar-fogo e para que todos os reféns sejam libertados. No dia seguinte, o Hamas declarou que está aguardando o resultado dos esforços dos países mediadores nas negociações com Israel para avançar para a próxima fase. 

A Casa Branca agora seleciona os jornalistas que acompanham o presidente
por
Manuela Schenk Scussiato
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21/03/2025 - 12h

No dia 24 de fevereiro de 2025, Donald Trump tirou o controle da WHCA (Associação de Correspondentes da Casa Branca) sobre a seleção de jornalistas que podem acompanhar o presidente durante coletivas de imprensa realizadas no Salão Oval da Casa Branca.

Desde a década de 1950, a WHCA era responsável por organizar a Press Pool, um grupo seleto e rotativo de membros da imprensa (rádio, TV, fotógrafos…) que acompanham o presidente dos EUA durante suas coletivas - eles são responsáveis por enviar informações para seus colegas. Esse trabalho é essencial para os jornalistas, por isso, a troca constante de membros, escolhida por uma associação apartidária, é vital para uma boa cobertura que permita ao público se informar da melhor maneira possível.

Equipe de 2024 da WHCA durante o jantar anual da associação. Foto: Reprodução/White House Correspondents Association.
Equipe de 2024 da WHCA durante o jantar anual da associação. Foto: Reprodução/White House Correspondents Association.

Isso está prestes a mudar, pois, a partir de agora, esse grupo não exercerá sua principal função, passando esse poder, forçadamente, para a equipe de Donald Trump na Casa Branca. Mas o que isso significa de fato?

A imparcialidade da Associação é necessária para que jornalistas de todos os vieses políticos tenham a oportunidade de acompanhar o presidente e fazer suas próprias coberturas. Agora, com essa decisão tomada por um grupo eleito pelo presidente republicano, é possível imaginar que a cobertura não será tão imparcial quanto antes.

Em entrevista à AGEMT, Caio Sabbag, formado em Relações Internacionais, falou sobre essa decisão e o que isso mostra sobre o governo de Trump: Essa medida restringe completamente o alcance que qualquer tipo de mentalidade anti-governo consiga ter nesse momento”. Ele continua: “Eu acho que essa decisão é como o terceiro ou quarto dominó caindo. Estamos vendo uma rejeição muito rápida do governo dele e essa decisão não passa de mais um ato fascista do presidente”.

Sabbag ainda comenta sobre a maneira de se portar do atual presidente estadunidense: “Trump é um Showman. Ele está testando até onde seus eleitores irão apoiá-lo, e eles parecem ser bem abertos às ideias dele”.

O controle da imprensa é uma característica comum entre grandes governos ditatoriais do século XX. Hitler, por exemplo, criou o ministério da propaganda durante seu tempo como líder do partido nazista. O ministro Joseph Goebbels ficou mundialmente famoso por construir a imagem imponente de Hitler com estratégias simples de comunicação.

Os eventos famosos produzidos por Goebbels, como a famigerada queima de livros de 1933, não passam de uma tentativa populista de controle da mídia. Durante ditaduras, o conhecimento da população fica à mercê da vontade de seu líder. Trump, ao tomar o controle sobre quem poderá acompanhá-lo e, consequentemente, fazer perguntas, assume controle da mídia americana.

Trump durante coletiva de imprensa no salão oval da Casa Branca acompanhado da Press Pool. Foto: Reprodução/Karoline Leavitt
Trump durante coletiva de imprensa no salão oval da Casa Branca acompanhado da Press Pool. Foto: Reprodução/Karoline Leavitt

Em resposta ao assunto, Euclides Cunha, historiador e geopolítico, fala sobre suas expectativas para os próximos anos diante do crescimento de governos de extrema direita, como o de Trump, ao redor do mundo: “Acho que os próximos anos vão ser chaves para dizer se a nossa geração verá alguma coisa mais radical em termos de cenário internacional. [...]  A nossa geração, nos próximos anos, vai ver o acirramento de muitos conflitos, o acirramento de muitas disputas, o aparecimento de outros conflitos, como foi a guerra na Ucrânia, no final do ano passado, teve mais chance da guerra se generalizar”.

Os primeiros sinais de uma ditadura são as limitações da liberdade de expressão, tanto da mídia quanto do povo. “Eu não consigo visualizar uma democracia que se respeite e deixe isso passar batido”, adiciona Sabbag sobre o ocorrido. “Estou até perplexo com a falta de combate que a oposição está tendo quanto a isso. É problemático demais”, conclui o internacionalista.