A Republica Democrática do Congo - herança colonial em meio a sangue e cobalto.
por
Pedro Bairon
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16/06/2025 - 12h

 

“Da borracha à maçã” é um documentário que traça a longa linha de continuidade entre a violência colonial imposta ao Congo e os horrores da guerra civil que ainda hoje assombram o país. A partir da exploração genocida promovida pela Bélgica no século XIX, o filme revela como as feridas abertas pelo colonialismo jamais cicatrizaram — apenas se transformaram em novas formas de conflito, exclusão e disputa por poder.

O documentário mergulha nas causas históricas e étnicas da guerra civil congolesa, dando atenção especial à tensão entre tutsis e hutus, grupos marcados por rivalidades que ultrapassam fronteiras e carregam os traumas do genocídio em Ruanda. A entrada de milícias hutus no leste do Congo após 1994, e a resposta armada dos tutsis, reacenderam conflitos internos, arrastando a população civil para o centro de uma guerra prolongada, brutal e muitas vezes esquecida pelo olhar internacional.

“Da borracha à maçã” não é apenas um registro de tragédias; é uma crítica à forma como a história se repete quando as raízes da violência são ignoradas. Mostra que o mesmo sistema que arrancou borracha das florestas a golpes de chicote, e que hoje arranca cobalto das minas congolesas, deixou um legado de instabilidade, impunidade e sofrimento. Um chamado à memória e à justiça, diante de um conflito que não começou nos anos 1990 — mas sim nos porões do colonialismo europeu

 

Duração: 26:10 

Autor: Pedro Bairon 

Para visualizar o documentário acesse o link:  

.https://youtu.be/kqtTs-vZCwo

Voluntários foram vítimas de sequestro ilegal em alto mar
por
Maria Mielli
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11/06/2025 - 12h

Nesta segunda-feira (9), o barco Madlen — batizado em homenagem a primeira e única mulher pescadora de Gaza — que levava Greta Thunberg, Thiago Ávila e outros ativistas ligados à organização Coalizão Flotilha da Liberdade foi interceptado e sequestrado pelas forças israelenses.

Os voluntários, que tinham como missão romper o bloqueio de Israel a faixa de Gaza e transportar ajuda humanitária até o povo palestino, foram alvos de drones e soldados que impossibilitam a chegada de qualquer tipo de ajuda à região. 

“A conexão foi perdida no Madleen. O exército israelense abordou o navio” foi a última mensagem dos ativistas, em seu canal de comunicação no Telegram. 

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Bombardeio no dia 1 de junho em Gaza/ Foto: Jehad Alshrafi
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Terça-feira (10), o Ministério das Relações Exteriores, afirmou que Thiago Ávila já chegou ao aeroporto de Tel Aviv (Israel) e conta com o apoio da embaixada brasileira que assiste o caso de perto. O esperado era que ele e os demais ativistas fossem deportados para seus respectivos países, mas até o momento da publicação dessa matéria, Thiago e outros 8 voluntários, como a deputada franco-palestina Rima Hassan, seguem sob prisão política de Israel. Greta foi a única verdadeiramente deportada. Os demais se recusaram a assinar o termo proposto pelos israelenses e foram enviados para prisão em Givon. Thiago aderiu greve de fome e Rima foi enviada a confinamento solitário após escrever "Palestina livre" em parede da prisão. 

“Eles cometeram um ato ilegal nos sequestrando em águas internacionais e contra nossa vontade nos trazendo para Israel, nos mantendo no fundo do barco, não nos deixando sair e assim por diante. Mas essa não é a história real aqui. A verdadeira história é que há um genocídio acontecendo em Gaza e uma campanha de fome sistemática” afirma a ativista Greta, em vídeo divulgado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

Em janeiro deste ano, o site de notícias BBC, apurou que, até então, o número de palestinos mortos passava da casa dos 46 mil. Fora a destruição local, no qual diversos hospitais e escolas, e seus respectivos frequentadores (crianças e profissionais da saúde) foram também vítimas dos ataques de Israel. 

A guerra que dura mais de 2 anos é marcada por ser uma das mais violentas e desonestas da história, repleta de crimes de guerra. Israel não ataca somente os palestinos, mas também aqueles que demonstram apoio e/ou estão tentando exercer seu trabalho, como é o caso da imprensa. Em abril deste ano, durante a madrugada, tendas de imprensa do hospital Nasser, localizado no sul da Faixa de Gaza, foram vítimas de bombardeios. O ataque assassinou os jornalistas Helmi al-Faqawi e Yusef al-Jazindar e deixou outros sete feridos. 

Fatma Hassona, fotojornalista palestina responsável por divulgar diversas barbáries, foi outra vítima do exército israelense e morreu ao lado de nove membros da sua família. O cineasta Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar No other land — que expõem as vivências dos palestinos — foi vítima de um sequestro que o deixou algemado por uma noite sendo torturado numa base militar, segundo o colega e diretor do filme, Yuval Abraham. 

O jornalista palestino Ahmed al-Naouq, em entrevista realizada no dia 3 de junho ao canal Piers Morgan Uncesored, afirmou: “Essa não é uma guerra religiosa. É uma guerra entre colonização e colonizados. Entre ocupantes e um povo sob ocupação”. Para o presidente da Fepal, Ualid Rabah, esse genocídio é a maior matança de crianças desde a Segunda Guerra. Ainda em recentes postagens, a federação emitiu uma nota oficial no Instagram: "Se a humanidade parou a Alemanha nazista e destruiu seu regime, é nosso dever histórico parar o Israel sionista e destruir seu regime".

Para brasileiro, governo quer causar um estrago imediato na vida dos estrangeiros
por
Tamara Ferreira
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03/06/2025 - 12h

 

No dia 11 de abril, o governo dos Estados Unidos enviou uma carta a Harvard exigindo uma reforma administrativa, auditorias com dirigentes, professores e alunos, além do encerramento dos programas de diversidade, equidade e inclusão. A Casa Branca também determinou a proibição do uso de máscaras — uma medida vista como direcionada aos protestos pró-Palestina, os quais têm sido tratados pelo governo como manifestações movidas por antissemitismo.

Três dias depois, foram congelados os contratos e subsídios federais da instituição, bloqueando cerca de US$2,3 bilhões (13,5 bilhões de reais). No mesmo dia, Alan Garber, presidente da universidade, declarou que as exigências extrapolam os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

“Nenhum governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, disse Garber em um comunicado para os alunos. “Esses objetivos não serão alcançados por meio de imposições de poder, desvinculadas da lei, para controlar o ensino e a aprendizagem em Harvard e ditar como operamos”, completou. 

Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump.
Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump. Foto: REUTERS/Nicholas Pfosi

Ainda em abril, o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) afirmou que Harvard poderia perder a autorização para matricular estudantes estrangeiros caso não cumprisse as exigências do governo Trump. Na época, a secretaria do DHS enviou uma carta à universidade exigindo que, até o dia 30 daquele mês, fosse apresentado o registro das chamadas 'atividades ilegais e violentas' praticadas por estudantes estrangeiros com visto. Caso contrário, Harvard perderia o privilégio de matricular novos alunos internacionais.

Na carta enviada à instituição, o DHS declarou: “E se Harvard não puder comprovar que está em total conformidade com seus requisitos de notificação, a universidade perderá o privilégio de matricular estudantes estrangeiros”.

No dia 22 de maio, o governo Trump cumpriu a ameaça e cancelou a certificação do Programa de Estudantes de Intercâmbio de Visitantes da universidade. Com isso, ficou impedida de matricular novos alunos estrangeiros, e cerca de 6,8 mil estudantes internacionais, que representam 27% dos alunos da universidade, foram orientados a buscar transferência para outras instituições.

Um dia depois, após Harvard entrar com uma ação contra o governo, a Justiça dos Estados Unidos decidiu derrubar a proibição. Com isso, os estudantes já matriculados e os novos ingressantes voltaram a ter autorização para obter o visto de estudante no país.

Em entrevista à AGEMT, Danilo Linhares, estudante de Direito de Harvard, afirmou que o objetivo da proibição é causar um estrago imediato nas universidades. “A ilegalidade da medida é tão gritante que é difícil acreditar que o próprio governo ache que tem chance real de vencer na Justiça. Mas acho que o objetivo deles nem é exatamente ganhar. É causar um estrago imediato — muita universidade menor não tem recursos nem disposição para comprar essa briga nos tribunais e, talvez, acabe cedendo às exigências."

Donald Trump justificou as medidas afirmando que Harvard “perdeu o rumo” e que a universidade “só ensina ódio e estupidez”. 

Nas audiências realizadas nos dias 27 e 29 de maio, a juíza Allison Burroughs prolongou a suspensão da decisão do governo, permitindo que Harvard continue recebendo estudantes internacionais até que os dois lados apresentem seus argumentos no tribunal.

Região da Caxemira é reivindicada há mais de sete décadas pelos dois países e concentra interesses estratégicos globais, inclusive da China
por
Chloé Dana
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25/05/2025 - 12h

          Na terça-feira do dia 6 de maio, as autoridades indianas afirmaram que realizaram bombardeios em nove locais que hospedam terroristas na Caxemira controlada pelo Paquistão. O Paquistão, por sua vez, apresentou uma narrativa distinta: informou que houve ataques aéreos em seis áreas, todos voltados a alvos civis, resultando em oito mortes, incluindo a de uma criança. O governo paquistanês comunicou aos meios de comunicação que conseguiu derrubar cinco aeronaves e um drone indiano. O governo indiano responsabilizou o Paquistão, que negou estar envolvido. Os bombardeios foram desencadeados após um ataque que ocorreu em abril na Caxemira indiana, onde 26 vidas foram perdidas devido a uma ação armada em uma área turística. 
As Forças Armadas do Paquistão, na véspera, reivindicaram a destruição de cinco caças indianos na porção da Caxemira sob administração de Nova Délhi. Embora as autoridades indianas não tenham confirmado oficialmente as perdas, uma fonte ligada às forças de segurança, que preferiu não se identificar, informou que três aeronaves militares foram abatidas.

          Ao conversar com o cientista político e ex-professor de Relações Internacionais na UERJ, FGV e Candido Mendes, Maurício Santoro, o profissional nos explica sobre a crescente do conflito da Caxemira desde 1947, as políticas que os países confrotam nos dias atuais e como podemos entender melhor essa história. Veja a reportagem 

 

Ex-presidente uruguaio lutava contra um câncer no esôfago; notícia foi confirmada pelo atual presidente
por
Marcelo Barbosa
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14/05/2025 - 12h

 

 Nesta terça-feira (13), faleceu José “Pepe” Mujica, ex-líder do Uruguai. Aos 89 anos, ele travava uma batalha contra um câncer no esôfago desde abril do ano anterior. A causa exata da morte ainda não foi informada.

Na rede social X, o atual presidente do país, Yamandú Orsi, confirmou a notícia: “É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e companheiro. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor ao povo uruguaio.”

Ontem (12), a esposa de Mujica, Lucía Topolansky, já havia declarado que ele estava “em estado terminal e recebendo cuidados paliativos”.

A trajetória de Mujica foi marcada por sua liderança como uma das figuras mais emblemáticas da esquerda no Sul Global. Desde a infância, sob influência da mãe, Pepe se apaixonou pela literatura e pela política. Criado com a irmã, perdeu o pai aos 7 anos de idade. Iniciou sua carreira política como secretário da Juventude no Partido Nacional.

Foi também um dos fundadores e guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, grupo que buscava uma revolução socialista no Uruguai. Seus integrantes ficaram conhecidos por realizar assaltos a bancos para redistribuir o dinheiro entre os mais pobres. O período de maior atividade do grupo coincidiu com a ditadura militar no país, entre 1973 e 1985.

Mujica foi capturado quatro vezes, passando seu mais longo período de encarceramento em 1972. Mesmo assim, conseguiu fugir duas vezes. Durante a prisão, foi mantido em solitária e submetido a intensas torturas. Sua primeira detenção foi em 1964, após o assalto a uma fábrica em Montevidéu. Em 1971, foi preso novamente, mas conseguiu escapar junto a centenas de detentos. No total, passou mais de 14 anos na prisão.

Após ser libertado por um projeto de anistia, Mujica participou da fundação do Movimento de Participação Popular. Apesar do passado como guerrilheiro, declarou em entrevista ao jornal Búsqueda que se tornou um defensor da democracia e que considerava seus atos da juventude um erro. Na década de 1990, ocupou os cargos de senador e ministro da Agricultura.

Como presidente do Uruguai (2010-2015), Mujica ganhou notoriedade mundial por defender pautas progressistas, como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto.

Entrou para a história uruguaia como um líder humanista, priorizando o combate à pobreza e à fome. Mesmo no cargo mais alto do país, manteve um estilo de vida simples: recusou-se a morar no palácio presidencial e preferiu continuar em seu sítio nos arredores de Montevidéu. A imprensa internacional o apelidou de “o presidente mais pobre do mundo”. Fiel ao seu Fusca 1987, doava a maior parte de seu salário, reforçando sua imagem de político avesso a luxos.

Reprodução: Reuters/Tony Gentile
Pepe Mujica no Festival de Veneza | Reprodução:Reuters/ Tony Gentile 

Sob sua gestão, a economia uruguaia apresentou resultados expressivos, com crescimento médio anual de 5,4% e redução significativa dos índices de pobreza. Ainda assim, enfrentou críticas da oposição, que o acusava de provocar aumento do déficit fiscal.

Em 2012, Mujica esteve no Brasil para a cúpula Rio+20 da ONU, realizada no Rio de Janeiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota de pesar, afirmando: “Ele foi um grande amigo do Brasil.”

Mujica nunca escondeu sua visão serena sobre a morte, como demonstrou em diversas entrevistas: “E, por favor, não vivam com medo da morte, mas, a certa altura da vida, você sabe que, um pouco antes ou um pouco depois, ela vai chegar”, declarou em uma conversa par um livro.

 

Alguns estados dos EUA permitem votação antecipada presencial ou por correio, incluindo a Geórgia
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
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23/10/2024 - 12h

 

A menos de um mês da eleição presidencial nos Estados Unidos, dois estados considerados decisivos no processo eleitoral, Geórgia e Carolina do Norte, deram início à votação antecipada. Na Geórgia, os eleitores começaram a ir às urnas na terça-feira (15), enquanto os cidadãos da Carolina do Norte iniciaram a votação nesta quinta-feira (17).

De acordo com as autoridades locais, a participação na votação antecipada já alcançou números expressivos. Até a noite de quarta-feira (16), mais de 300 mil eleitores haviam registrado seus votos na Geórgia, superando recordes anteriores de comparecimento.

Geórgia bate recorde de participação no início da votação antecipada. Foto:Jayla Whitfield-Anderson/Reuters
Geórgia bate recorde de participação no início da votação antecipada. Foto: Jayla Whitfield-Anderson/Reuters

O conceito de votação antecipada permite que os eleitores escolham seus candidatos antes do dia oficial da eleição, que ocorrerá em 5 de novembro. Dependendo do estado, essa votação pode ocorrer presencialmente, pelo correio ou em locais designados especificamente para este fim, com variações nas normas de cada região.

Mudanças e controvérsias na Geórgia

Desde a última eleição presidencial, o estado da Geórgia implementou alterações significativas nas regras eleitorais, endurecendo os requisitos para a votação por correio e reduzindo o número de caixas de coleta de cédulas, o que pode tornar a votação presencial mais atraente Além disso, novas leis exigem que os eleitores possam votar em dois sábados e, opcionalmente, em dois domingos antes do dia principal da eleição.

Porém, algumas medidas controversas também foram implementadas, como a proibição de oferecer alimentos ou bebidas aos que aguardam na fila para votar, uma regra que sobreviveu a diversas batalhas judiciais. Agora, fornecer água ou lanche a eleitores a menos de 45 metros de um local de votação é considerado crime.

Em meio às mudanças, a Junta Eleitoral da Geórgia, formada por maioria republicana, aprovou novas regras que criam incertezas sobre o processo de apuração. Uma das novas exigências é a contagem manual das cédulas em cada local de votação, o que pode atrasar a divulgação dos resultados. Além disso, as autoridades podem revisar documentos eleitorais extensos antes de certificar os resultados, aumentando a preocupação sobre possíveis atrasos e contestação judicial.

Essas alterações geraram receios entre os democratas e defensores dos direitos eleitorais, que temem o uso dessas regras para atrasar ou contestar o resultado final.

Carolina do Norte: Desafios adicionais devido ao furacão

Enquanto isso, na Carolina do Norte, a votação presencial antecipada enfrenta outro desafio: a recuperação após a passagem do furacão Helene. Apesar dos danos causados pelo desastre natural, 75 dos 80 locais de votação planejados nos condados mais afetados estão operacionais no início da votação.

Mesmo após a passagem do furacão Helene, 75 dos 80 locais de votação planejados estavam em operação na Carolina do Norte no início das votações. Foto:Jonathan Drake/Reuters
Mesmo após a passagem do furacão Helene, 75 dos 80 locais de votação planejados estavam em operação na Carolina do Norte no início das votações. Foto: Jonathan Drake/Reuters

Outra mudança significativa na Carolina do Norte é a exigência, pela primeira vez em uma eleição presidencial, de que os eleitores apresentem identificação com foto no momento da votação. Isso inclui carteira de motorista, passaporte ou documentos estudantis aprovados pelo conselho eleitoral estadual. Existem, no entanto, exceções, como em casos de desastre natural, onde os eleitores podem preencher um formulário de exceção.

Diferente das eleições de 2020, a Carolina do Norte não permitirá mais um período de carência para a chegada de cédulas pelo correio. Agora, os votos devem ser recebidos até às 19h30 no dia oficial da eleição, eliminando os três dias extras concedidos anteriormente.

Importância das eleições antecipadas

Tanto Geórgia quanto Carolina do Norte são estados pêndulo, que podem definir o resultado final da eleição, dada a disputa acirrada entre os candidatos. A Geórgia, em particular, é vista como crucial para as pretensões de Donald Trump, que já tentou, sem sucesso, reverter os resultados da última eleição no estado.

O impacto dessas mudanças nas regras e nos procedimentos eleitorais será testado nos próximos dias, enquanto o país se prepara para mais uma disputa que pode ser decisiva para o futuro político dos Estados Unidos.

Disputa eleitoral nos EUA segue acirrada, com vantagem nominal de Kamala Harris indicando empate técnico
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
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16/10/2024 - 12h

Uma pesquisa do instituto Ipsos/Reuters, divulgada em 7 de outubro, ouviu 1.272 eleitores americanos e revelou que a vice-presidente Kamala Harris lidera a corrida presidencial dos Estados Unidos, com 46% das intenções de voto, enquanto o ex-presidente republicano Donald Trump tem 43%. Apesar da vantagem de Harris, os dois candidatos estão tecnicamente empatados, considerando a margem de erro de três pontos percentuais, o que reforça o cenário acirrado para as eleições presidenciais, marcadas para 5 de novembro.

Donald Trump e Kamala Harris no debate presidencial, organizado pela rede americana ABC News. Foto: Reuters.
Donald Trump e Kamala Harris no debate presidencial, organizado pela rede americana ABC News. Foto: Reuters.

Uma pesquisa do instituto Ipsos/Reuters, divulgada em 7 de outubro, ouviu 1.272 eleitores americanos e revelou que a vice-presidente Kamala Harris lidera a corrida presidencial dos Estados Unidos, com 46% das intenções de voto, enquanto o ex-presidente republicano Donald Trump tem 43%. Apesar da vantagem de Harris, os dois candidatos estão tecnicamente empatados, considerando a margem de erro de três pontos percentuais, o que reforça o cenário acirrado para as eleições presidenciais, marcadas para 5 de novembro.

O levantamento destacou que a economia é a principal preocupação entre os eleitores. Aproximadamente 44% dos entrevistados acreditam que Trump possui a melhor abordagem para lidar com o aumento do custo de vida, que tem sido uma questão crítica nos últimos anos. Em comparação, 38% dos eleitores apontaram Harris como mais preparada para enfrentar esse desafio. O custo de vida, inclusive, foi apontado como o maior problema econômico que o próximo presidente deve enfrentar, superando outras questões como mercado de trabalho, impostos e melhoria das condições financeiras da população.

Embora Trump tenha mais apoio nas questões econômicas, o estudo também aponta que Kamala Harris é vista como a candidata mais qualificada para combater a desigualdade nos Estados Unidos. Cerca de 42% dos eleitores acreditam que a democrata está mais capacitada para reduzir a disparidade econômica e social, enquanto apenas 35% consideram que Trump seria o melhor nesse quesito. Esse ponto de vantagem reflete a ênfase que Harris tem dado ao longo de sua campanha, destacando políticas voltadas para a justiça social e a inclusão.

Donald Trump e Kamala Harris se enfrentaram no debate presidencial, organizado pela rede americana ABC News. Reprodução/ABC News
Donald Trump e Kamala Harris se enfrentaram no debate presidencial, organizado pela rede americana ABC News. Foto: Reprodução/ABC News

A imigração, tema que há anos tem sido polarizador no debate político americano, também foi abordada na pesquisa. As declarações de Trump de que imigrantes indocumentados representam um risco à segurança pública ainda influenciam a opinião de parte do eleitorado. O levantamento mostra que 53% dos entrevistados concordam com a visão de Trump de que esses imigrantes podem ser perigosos, enquanto 41% discordam. Mesmo com essa narrativa sendo frequentemente desmentida por estudos e especialistas, a questão continua sendo uma das bandeiras do ex-presidente e é um dos pilares de sua base eleitoral. Trump tem utilizado essa retórica em seus discursos de campanha, buscando atrair eleitores preocupados com a segurança e a imigração descontrolada.

Outro aspecto relevante da pesquisa é a percepção dos eleitores sobre a capacidade mental e a aptidão dos candidatos para assumir o cargo mais alto do país. Kamala Harris é vista como mais qualificada nesse sentido, com 55% dos entrevistados acreditando que ela é “mentalmente perspicaz e capaz de lidar com desafios”. Enquanto apenas 46% dos eleitores disseram o mesmo sobre Trump, o que pode ser um fator determinante para os indecisos e aqueles que estão preocupados com a estabilidade e a liderança do próximo presidente.

Apesar da vantagem geral de Harris na pesquisa, os chamados "estados-pêndulo" — regiões cruciais que podem decidir a eleição — mostram um cenário de empate entre os dois candidatos. Estados como Flórida, Pensilvânia e Michigan são historicamente voláteis e têm o poder de alterar o resultado final devido à sua grande quantidade de votos no Colégio Eleitoral. Em muitas dessas localidades, os resultados estão dentro da margem de erro, o que mantém a disputa em aberto.

Kamala Harris entrou na corrida presidencial após o atual presidente Joe Biden, que enfrentava críticas pela condução econômica e dificuldades em unir o país, decidir não buscar a reeleição. A retirada de Biden abriu caminho para que Harris assumisse o papel de candidata democrata, o que trouxe uma nova dinâmica à disputa. Antes da entrada de Harris, Trump era amplamente visto como favorito, especialmente devido à percepção de que ele seria mais forte em questões econômicas, que continuam sendo uma das maiores preocupações dos eleitores americanos.

Trump, por sua vez, busca capitalizar sobre o descontentamento de parte da população com os anos de governo democrata e usa a inflação elevada, que marcou a gestão Biden, como argumento para defender seu retorno ao cargo. No entanto, a pesquisa também indica que muitos eleitores estão preocupados com o estilo polarizador de Trump, especialmente em questões como imigração e segurança.

Brasil também condenou ação israelense contra missão de paz das Nações Unidas
por
João Victor Tiusso
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16/10/2024 - 12h

 

Foto: Hussein Malla
Foto: Hussein Malla

Os ataques israelenses contra agentes da Unifil, a missão de manutenção da paz da ONU, receberam ampla condenação internacional após dois incidentes em menos de 48 horas. 

No dia 10 de outubro, dois soldados da Unifil ficaram feridos após um tanque israelense disparar contra uma torre de observação de uma das bases da ONU. No dia 11, outros dois agentes também foram feridos em um bombardeio israelense. 

Além das duas ações, militares das forças de paz relataram soldados israelenses utilizando escavadeiras para remover barreiras da ONU ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o ataque como “intolerável e não pode se repetir”. O portugues foi considerado persona non grata por Israel no início do mês por não condenar o Irã, após lançamentos de mísseis contra o Estado judeu. 

Na última segunda-feira (14), Itália, Reino Unido, França e Alemanha afirmaram que os ataques de Israel são contrários ao direito humanitário internacional e devem parar imediatamente. Em uma declaração conjunta, as quatro nações reafirmaram “o papel estabilizador essencial” desempenhado pela Unifil no sul do Líbano, acrescentando que Israel e outras partes tinham que garantir a segurança das forças de paz em todos os momentos.

A situação entre os países europeus e Israel é ainda mais tensa. A missão de paz conta com centenas de soldados europeus, que têm sido repetidamente atacados pelos militares israelenses. Israel pediu à ONU que retire as tropas da área, pois ela tem como alvo as forças do Hezbollah.

O governo braisleiro também emitiu um comunicado, condenando a invasão israelense à base da Unifil.

Ataques deliberados contra integrantes de missões de manutenção da paz e instalações da ONU são absolutamente inaceitáveis e constituem grave violação do Direito Internacional, do Direito Internacional Humanitário e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”, declarou o governo brasileiro.

Fenômeno chegou na costa de Siesta Key com tempestade de categoria 3 em escala que vai até 5
por
João Victor Tiusso
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15/10/2024 - 12h

 

Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

O furacão Milton, que atingiu a Flórida na última semana, foi um dos fenômenos mais perigosos a atingir os Estados Unidos nos últimos anos. Pelo menos 17 pessoas morreram. As autoridades ainda trabalham nos locais atingidos para atender à população. 

A tempestade chegou à costa perto de Siesta Key, na Flórida, como uma perigosa tempestade de categoria 3, em escala que vai até 5, gerando ventos de até 200 km/h e chuvas fortes, além de inundações e tornados. 

Mesmo após ter sido rebaixado para a categoria 1, o fenômeno deixou um rastro de destruição, destelhando casas, derrubando árvores, postes e um guindaste. Além dos mortos e feridos, cerca de 3 milhões de pessoas ficaram sem energia. 

Os danos projetados com o furacão Milton são bilionários e podem variar, de acordo com um funcionário da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA). O custo estimado de reconstrução fica entre US$ 123 bilhões e US$ 174 bilhões, segundo dados da CoreLogic, empresa de análise de propriedades.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, alertou que áreas alagadas ainda são um risco por causa de fios desencapados e destroços. Ele falou que vai acelerar a remoção de entulho. Vários caminhões estão passando pela cidade para retirar todo o entulho. Mas a limpeza pode levar semanas.

O Milton foi o terceiro furacão a atingir os EUA esse ano, apenas duas semanas depois da passagem do furacão Helene, que deixou mais de 230 mortos, 15 deles na Flórida.

Estima-se que a guerra na Faixa de Gaza já deixou 42 mil mortos e mais de 96 mil feridos
por
Rafaela Eid
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15/10/2024 - 12h

O ataque do Irã contra Israel, ocorrido em 1º de outubro deste ano, marcou uma nova fase no conflito que teve início em 7 de outubro de 2023, quando o grupo palestino Hamas invadiu o território israelense. Desde então, Israel tem respondido com uma série de ataques retaliatórios, cujo objetivo declarado é desmantelar o Hamas.

O conflito já causou milhares de mortes e deixou muitos gravemente feridos, com a Faixa de Gaza sendo o epicentro da devastação. Dados do Ministério da Saúde palestino indicam que cerca de 42 mil pessoas morreram em Gaza desde o início dos confrontos, e mais de 96 mil ficaram feridas.

A troca de ataques entre Israel e o Hamas agravou ainda mais a tensão em uma região historicamente marcada por conflitos. Em setembro deste ano, o Líbano também foi envolvido nos embates. 

Explosões de pagers e walkie-talkies, provocadas por Israel nos dias 17 e 18 de setembro, resultaram em ataques que atingiram civis e soldados libaneses. No primeiro dia, 12 pessoas morreram e mais de 2 mil ficaram feridas; no segundo dia, pelo menos 25 pessoas morreram e 600 ficaram feridas.

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Homem segura walkie-talkie durante o funeral de pessoas mortas na explosão de pagers, no Líbano. Reprodução:  ANWAR AMRO / AFP.

A professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Isabela Agostinelli, explicou que os ataques israelenses têm como objetivo enfraquecer o chamado Eixo da Resistência.

“Os ataques terroristas de Israel - no caso das explosões de pagers e walkie-talkies - respondem à tentativa de eliminar o chamado Eixo da Resistência, composto por Irã e atores não-estatais, como Hamas, Hezbollah e Houthis, e que se coloca contra as ações imperialistas dos EUA, levadas à cabo no Oriente Médio com apoio de Israel”, explicou  Agostinelli.

Desde então, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu iniciou uma série de ataques ao território libanês, com a justificativa de proteger as comunidades israelenses, do norte de Israel, de ofensivas do Hezbollah, aliado do Hamas. Por consequência disso, em 27 de setembro, Hassan Nasrallah, na época líder do Hezbollah, foi morto após uma onda de ataques aéreos aos subúrbios ao sul de Beirute, capital do Líbano.

Em resposta à ofensiva israelense, o Irã, financiador do Hamas e do Hezbollah, bombardeou Tel Aviv no dia 1º de outubro. O grupo lançou cerca de 180 mísseis balísticos contra Israel, mirando instalações militares e de inteligência na capital e em todo o país. A maior parte dos mísseis foi interceptada. 

“O Irã já deu um recado no dia 1º de outubro, destruiu parcialmente várias bases militares de Israel, numa demonstração de que o Irã pode penetrar a defesa de Israel. Não quis até agora, atacar a população civil, assim como Hezbollah não quis atacar a população civil, mas, se a guerra escalar, eles vão fazer isso. Isso ameaça incendiar toda a região”, pontuou José Arbex Jr, jornalista e ex-professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

Crise humanitária e migração

Além dos 42 mil mortos no conflito em Gaza, a guerra obrigou grande parte da população a se descolar. Nove em cada dez habitantes de Gaza foram deslocados internamente, e alguns foram obrigados a se mudar dez ou mais vezes durante o último ano, de acordo com o The Intercept Brasil.

Sem comida suficiente, sem água potável, com sistema de saúde precário, escassez de combustível e remédios, os palestinos sobrevivem em tendas improvisadas. Em julho, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), disse que a crise humanitária em Gaza havia atingido “proporções alarmantes”. Ainda segundo a organização, desde outubro do ano passado, pelo menos 19 mil crianças foram separadas de seus pais.

“Qualquer lugar fora de Gaza, que se tornou uma terra arrasada, mas de onde os palestinos são proibidos de sair, visto que todas as fronteiras foram fechadas por Israel, que não permite a entrada e saída de pessoas, alimentos, medicamentos. Ao mesmo tempo, porém, os palestinos de Gaza temem abandonar suas casas, uma vez que as pretensões coloniais da ocupação israelense significam a não garantia do direito de retorno dos palestinos, algo que Israel faz desde pelo menos 1948”, disse  Agostinelli, após ser questionada sobre os destinos procurados pelos palestinos.

No Líbano, dados da Confederação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras (Confelibra) dizem que, desde o início da guerra, mais de 2 mil pessoas foram mortas, mais de 10 mil ficaram feridas e 1,5 milhão saíram do sul do país -  território alvo dos ataques vindos de Israel nas últimas semanas.

 Estados Unidos na guerra 

Na última quarta-feira (09), o presidente americano Joe Biden e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conversaram por telefone em meio às tensões com o Irã. A ligação entre os dois líderes coincide com a escalada do conflito entre Israel, Irã e Hezbollah.

Desde 7 de outubro de 2023, os Estados Unidos têm demonstrado forte apoio a Israel, seu principal aliado na região. Segundo um relatório feito pela Universidade de Brown, o governo americano forneceu quase 18 bilhões de dólares em armamentos para o país, incluindo munições e sistemas de defesa.

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv, Israel, em 18 de outubro de 2023. Reprodução: GPO/Folheto/Anadolu via Getty Images.

Com o envolvimento do Irã e do Líbano na guerra, o governo dos EUA intensificou ainda mais seu apoio militar a Israel. O Departamento de Defesa anunciou o envio de milhares de militares ao Oriente Médio, com o objetivo de proteger Israel, bem como suas instalações e interesses na região.

Segundo Isabela Agostinelli, Israel busca o envolvimento do Irã na guerra, trazendo para ainda mais perto a atuação dos Estados Unidos. “Um envolvimento direto do Irã na guerra, que é o que Israel tem buscado, resultaria em uma guerra regional de larga escala. Além disso, traria um envolvimento mais direto dos EUA, que enxerga o Irã como grande inimigo na região desde 1979. Uma guerra entre Irã, de um lado, e EUA e Israel, de outro, significaria um custo altíssimo em termos de armamentos, investimentos na guerra, e principalmente o custo humano”, declarou a professora.

Até o momento, Israel não retaliou o ataque de Teerã a Tel Aviv, mas o ministro da Defesa, Yoav Gallent, prometeu uma resposta “letal, precisa e surpreendente”. Paralelamente, na última sexta-feira (11), os EUA impuseram novas sanções ao setor de petróleo do Irã, bloqueando 16 entidades envolvidas no transporte de produtos iranianos.