A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

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Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
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O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Macron enfrenta dificuldade para lidar com manifestantes
por
Chloé Dana
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17/09/2025 - 12h

 

Na terça-feira da semana passada,a (9) o primeiro-ministro, François Bayrou, perdeu o voto de confiança no Parlamento e renunciou ao cargo. A decisão foi tomada pela Assembleia Nacional com 364 votos contrários e 194 a favor, após o fracasso de Bayrou em obter apoio para o plano orçamentário de 2026. 

O presidente, Emmanuel Macron, já nomeou no dia seguinte o novo primeiro-ministro Sébastien Lecornu e foi o suficiente para gerar mobilizações. Os manifestantes tomaram as ruas de várias cidades, bloquearam rodovias, queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia. O movimento, denominado “Bloqueie Tudo”, tomou força no verão europeu deste ano, ao motivar os cidadãos a se manifestarem contra uma redução no orçamento de 44 bilhões de euros divulgada pelo ex-primeiro-ministro François Bayrou. 

Entre as demandas estão um aumento nos recursos para serviços públicos, tributos para os mais ricos, a suspensão do aumento dos aluguéis, contra a classe política e cortes orçamentários, e a saída de Macron do cargo. Na quarta-feira (10), 80 mil forças de segurança foram acionadas em todo o território nacional, com 6 mil apenas em Paris. Conflitos foram registrados em lugares como Rennes, Nantes, Montpellier e Toulouse, além da cidade capital.

A crise atual se aprofundou com a recente renúncia de seu primeiro-ministro, François Bayrou. Essa foi a quinta mudança de primeiro-ministro em menos de dois anos, evidenciando fragilidade no governo.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária. 

Além disso, o problema não se limita apenas ao primeiro-ministro, mas também alcança o presidente. “Os ministros representam um obstáculo, mas a verdadeira questão é Macron e sua maneira de liderar. Ele deve se afastar”, declarou Fred, líder do sindicato de transportes em Paris, para um jornal francês. Especialistas em política na França sugerem que a crise revela a exaustão do modelo político de Macron, que está sob pressão tanto da direita quanto da esquerda, e que pode enfrentar, nos próximos meses, seu maior teste de governabilidade desde 2018.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária.

 

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Manifestantes vão à rua em protesto. Foto: Julia Braun, BBC 

 

Manifestações escalaram após bloqueio de redes, levando à renúncia do premiê
por
Kimberlly Ramos
Maria Clara Palmeira
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18/09/2025 - 12h

Protestos massivos liderados por jovens nepaleses da Geração Z (1995 - 2010), reivindicam o fim da corrupção generalizada e criticam a desigualdade social nepalesa. O país atravessa sua pior crise política desde o fim da monarquia, em 2008.

O estopim da revolta ocorreu na quinta-feira (4), com o bloqueio de mais de 20 redes sociais (entre elas Instagram, Whatsapp e X) no país, sob a alegação do governo de que as normas de regulamentação nepalesas não estavam sendo cumpridas pelas plataformas e também como meio para evitar a propagação de notícias falsas e discursos de ódio. As autoridades afirmaram ainda que prezam pela liberdade de expressão, mas que precisam que as plataformas tenham responsabilidade e sejam bem administradas, com a nomeação de representantes legais no país. 

A medida foi tomada durante uma campanha que estava viralizando nas mídias sociais, intitulada “nepo kids”, que denunciava a corrupção política no Nepal e a vida de ostentação exibida por filhos de governantes; isso, em contraste com as dificuldades que o restante da população enfrenta para sobreviver, segundo a trend. A proibição das redes foi recebida com revolta e foi vista pelos jovens como forma de silenciar as denúncias contra a corrupção. Os manifestantes se uniram contra o decreto, tomaram as ruas da capital nepalesa Katmandu e marcharam até o Parlamento em 8 de setembro. Em resposta ao movimento, a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha durante confronto para tentar conter a multidão; 19 pessoas morreram apenas no primeiro dia.

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Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X
Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X

As mortes levaram à intensificação dos protestos no dia 9, provocando incêndios em prédios do governo e no Parlamento Federal. Residências de políticos também foram incendiadas pelos manifestantes, como a do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, resultando na morte de sua esposa, que estava dentro da casa no momento do ataque.

Com a escalada do conflito, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli renunciou ao cargo e o número de mortes foi atualizado para 25. O bloqueio das redes foi revogado, como meio de conter a revolta, mas as manifestações seguiram, com a insatisfação dos jovens nepaleses se ampliando em relação às práticas corruptas. 

Na sexta-feira (12), o presidente Ramchandra Paudel dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para 5 de março de 2026. Simultaneamente, Paudel nomeou Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte, como primeira-ministra interina, tornando-se a primeira mulher a liderar o governo do Nepal. Karki, conhecida por decisões judiciais contra casos de corrupção e pela promoção da igualdade de gênero, recebeu apoio direto dos manifestantes, que debatiam os próximos passos em plataformas digitais como Discord.

No dia 13, a normalidade começava a retornar a Katmandu: lojas reabriram, veículos voltaram às ruas e a presença militar foi reduzida. Karki visitou jovens feridos e recebeu pedidos de familiares das vítimas, que exigiam reconhecimento dos mortos e compensações financeiras. Organizações internacionais de direitos humanos pedem que o novo governo acabe com a “impunidade do passado” e investigue os responsáveis pelas mortes.

O desafio de Karki será recuperar a confiança da população, conduzir as eleições em março e entender as reivindicações da juventude, que desempenhou papel central nas recentes mobilizações. Com 22% dos jovens entre 15 e 24 anos desempregados e um quinto da população vivendo na pobreza, a Geração Z nepalesa já demonstrava frustração. O bloqueio das redes sociais foi a faísca de um descontentamento acumulado.

“O tempo está passando rápido. Diariamente dezenas de palestinos são assassinados", afirma professor Rodrigo Amaral, da PUC-SP
por
Renata Bittar
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02/09/2025 - 12h

Em meio a tensões políticas e crises diplomáticas, o conflito entre Israel e Gaza se intensifica. Recentemente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de assumir o controle total da Faixa de Gaza. Embora a operação ainda não tenha sido confirmada, o governo de Israel afirma que o objetivo seria expulsar o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e instaurar um governo civil no território. Em entrevista à BBC, Netanyahu declarou que Israel busca “libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas”.

O Estado de Israel mantém os bombardeios e ataques contra Gaza. A recusa de um cessar-fogo imediato resultou em um aumento no número de mortes, destruição de cidades inteiras e no agravamento de uma crise humanitária de grande proporção.

Em entrevista exclusiva à AGEMT, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral, pesquisador especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, avaliou que a imagem de Israel no cenário internacional tem se deteriorado. “Mesmo que Israel mantenha fortes relações, sobretudo comerciais, com diversos países, o debate sobre boicotes — antes distante do imaginário internacional — começa a ganhar força”, afirmou.

Nos últimos meses, países como Canadá e França passaram a reconhecer a Palestina como um Estado legítimo. A decisão, vinda de nações com peso político relevante, chamou atenção e fortaleceu o movimento palestino. Para Amaral, o gesto reforça a percepção de que a comunidade internacional demonstra, de forma mais concreta, a intenção de apoiar a criação de um Estado palestino autônomo. “É um marco para esses países reconhecerem a Palestina, sobretudo por serem nações tradicionalmente alinhadas à lógica norte-americana”, destaca o professor.

Ao contextualizar o conflito, Amaral lembra que eventos como a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Fria e a Crise de Suez contribuíram para o deslocamento forçado dos palestinos à Faixa de Gaza. Questionado sobre a possibilidade de o território voltar à “normalidade”, ele pondera que “nunca existiu normalidade em um espaço onde a população vive confinada”. “Gaza é controlada por autoridades estrangeiras, Israel e Egito. Dentro dessa realidade sociopolítica, tenta-se construir uma vida cotidiana, mas os palestinos sempre foram empurrados para esse território”, afirma.

Entre o impasse político e as operações militares, as ações de ambos os lados se intensificam. O próximo passo declarado por Netanyahu seria a desocupação total de Gaza pelos palestinos que ainda vivem no local e a busca por outros territórios que os recebam. “É importante lembrar que Gaza já era um espaço de refúgio, pois a maioria dos palestinos que vive lá não é originária do território”, acrescenta Amaral. Segundo ele, a tendência é a manutenção de um controle militar em Gaza, provavelmente acompanhado de presença ativa de Israel durante o processo de reconstrução.

 

Nova operação de Israel intensifica bombardeios na Cidade de Gaza em 28/08/2025 Imagem: Reprodução/Reuters/ Dawoud Abu Alkas

 

 

 

 

Apesar do apoio crescente de diversos países à causa palestina, o cenário das relações internacionais ainda é fortemente influenciado pelas grandes potências ocidentais. Esses atores exercem papel decisivo na definição da ordem global e, frequentemente, detêm o poder de determinar os rumos das ações multilaterais. Segundo Rodrigo Amaral, é incomum observar um consenso entre nações como Canadá, França e Austrália ao se posicionarem contra a ofensiva israelense em Gaza. Por meio de mecanismos intergovernamentais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), esses países podem contribuir propondo cessar-fogo e planos de retirada militar da região.

Além da pressão diplomática, Amaral aponta que as nações contrárias à atuação de Israel podem adotar boicotes econômicos como forma de protesto. Essa medida, explica ele, visa prejudicar setores estratégicos da economia israelense e pressionar o governo pelo encerramento das operações militares. “O tempo está passando rapidamente. Diariamente, dezenas de palestinos são assassinados. Ações concretas ainda não foram tomadas; pelo contrário, observamos um aumento dos impasses diplomáticos”, afirma o professor.

Atualmente, estima-se que a ocupação militar israelense em Gaza já abrange quase 90% do território. O governo de Benjamin Netanyahu mantém a meta de ampliar o controle e promover a retirada total dos palestinos que ainda vivem na região. De acordo com Amaral, o número de vítimas ultrapassa 60 mil palestinos desde o início do conflito. “A tendência é que o desfecho desse confronto resulte na consolidação dos interesses israelenses. Apesar do posicionamento da comunidade internacional e das pressões de movimentos sociais transnacionais, persiste um cenário de impunidade e continuidade das ações militares de Israel”, conclui.

 

 

Bombardeio ordenado por Netanyahu deixou centenas de mortos e feridos
por
Annanda Deusdará
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25/03/2025 - 12h

Na madrugada da última segunda-feira, 17, Israel retomou os bombardeios aéreos na Faixa de Gaza. O ataque ocorreu no meio das negociações para o início da segunda fase do acordo de cessar-fogo. Nas últimas semanas, o país já tinha descumprido duas exigências do Hamas para a primeira fase, sendo elas o bloqueio da entrada de ajuda humanitária na região e a não retirada das tropas israelenses do Corredor Filadélfia, fato que deveria ter ocorrido até o 50° dia do acordo.

De acordo com nota divulgada pelo governo israelense, os ataques ocorreram após o Hamas recusar as propostas recebidas e a libertação dos reféns restantes. Ainda segundo Israel, a decisão foi tomada devido à possibilidade de um ataque por organizações terroristas em Gaza contra seus soldados e comunidades com o propósito de matar e sequestrar.

O Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, informou nesta quinta que pelo menos 506 palestinos foram mortos e outros 909 ficaram feridos. Conforme a agência EFE, Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza na noite desta quarta-feira e começou uma incursão terrestre no Corredor Netzarim.

Em entrevista à Fox News, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou nesta terça que os Estados Unidos sabia dos ataques e estava de acordo com a medida. No Oriente Médio, a Arábia Saudita e o Catar repudiaram os ataques aéreos em Gaza.

O grupo Hamas continua defendendo a continuidade do cessar-fogo e a retirada das tropas israelenses da região. Enquanto isso, autoridades de Israel defendem o retorno de todos os reféns para que haja um cessar-fogo até o fim do Ramadã e do Feriado de Páscoa judaica, que ocorrem em abril, após esse período novas negociações poderão ser feitas. Até o momento, ainda não há confirmação de trégua entre os dois territórios.

O cessar-fogo entre Israel e Hamas, que é discutido desde novembro de 2024, entrou em vigor no dia 19 de janeiro de 2025 e foi negociado também por outros países como Estados Unidos, Qatar e Egito. O acordo foi dividido em três fases, com o objetivo de uma troca de reféns de ambas as partes, a retirada das tropas de Israel da Faixa de Gaza, retorno dos restos mortais de israelenses e um planejamento de reconstrução de Gaza.

O conflito entre os dois países ocorre há 15 meses e se iniciou com um ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, quando 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas como reféns. Após isso, Israel deu início a uma guerra na região, que destruiu quase 60% da infraestrutura de Gaza, incluindo escolas e hospitais, e deslocou cerca de 90% da população local

De acordo com o documento, está previsto que nos primeiros 42 dias em funcionamento, as forças de Israel se retirarão dos centros populacionais da faixa de Gaza situados ao oeste, permitindo o retorno dos deslocados palestinos aos centros urbanos, além da permissão de entrada de mais ajuda humanitária na região - serão cerca de 600 caminhões por dia, um número superior aos 500 que entravam antes do início do conflito.

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Grupo de palestinos ficam felizes ao saberem do acordo de cessar fogo - Imagem/AFP

Desafios para o cumprimento do acordo 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou à imprensa local que não irá retirar as tropas que ainda estão em Gaza, no Corredor Filadélfia, que demarca a fronteira com o Egito. A justificativa é que essa seria uma rota de contrabando usada pelo Hamas que os ajudaria a se fortalecer. 

A decisão pode comprometer as negociações da 2° fase, tendo em vista que Israel deveria se retirar dessa região até o dia 2 deste mês, quando completou 50 dias desde o acordo.

Outra medida que pode complicar a situação é a proposta de Donald Trump pela reconstrução de Gaza seguida de uma ocupação estrangeira, que resultaria em uma expulsão sistemática de palestinos dos territórios tradicionais. 

Essa medida apesar de agradar o governo de Israel pode apresentar resistência no lado palestino. A decisão também não é bem vista pelo Egito, já que os palestinos poderiam migrar para seu território devido à proximidade geográfica, um dos motivos que leva o país a ser mediador no acordo.

O primeiro-ministro conta com o apoio do presidente Trump. O grupo da coligação que o sustenta é a favor da retomada da guerra se o Hamas não se render. Entretanto, um grupo de "desobediência civil" juntamente com o Fórum dos Reféns e Desaparecidos estão se manifestando pela libertação de todos os reféns, vivos ou mortos e pelo fim do conflito.  

Para Rodrigo Amaral, professor de relações internacionais da PUC- SP e analista de política Internacional no Oriente Médio, o que tem maior impacto na decisão de Israel no momento, é o interesse dos Estados Unidos em continuar a guerra ou avançar para a segunda fase, e não a capacidade da extrema direita israelense. 

“A variável que tem condicionado as decisões agora, é o que fazer com Gaza de agora em diante”, segundo o profissional é evidente para todos os envolvidos que os ataques à Gaza precisam parar, e que a eliminação do Hamas não é possível, porém existe o desejo por parte de Israel e Eua de inibir a sua capacidade. A questão agora é como prosseguir, de maneira a não aumentar a violência na região.

Na sexta-feira, 7, uma delegação palestina chegou ao Cairo para discutir sobre a segunda fase do cessar-fogo. No sábado, 8, o porta-voz do Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, declarou que o grupo deseja que o acordo continue: “Afirmamos nossa prontidão para participar da segunda fase das negociações de uma forma que atenda às demandas do nosso povo”.

Apesar disso, no início do mês Israel anunciou o bloqueio de ajuda ao território - que foi uma das exigências para estabelecimento do acordo - e no domingo, 09, informou que cortaria a energia elétrica de Gaza para pressionar o Hamas a aceitar novas condições para a extensão do atual acordo de cessar-fogo e para que todos os reféns sejam libertados. No dia seguinte, o Hamas declarou que está aguardando o resultado dos esforços dos países mediadores nas negociações com Israel para avançar para a próxima fase. 

A Casa Branca agora seleciona os jornalistas que acompanham o presidente
por
Manuela Schenk Scussiato
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21/03/2025 - 12h

No dia 24 de fevereiro de 2025, Donald Trump tirou o controle da WHCA (Associação de Correspondentes da Casa Branca) sobre a seleção de jornalistas que podem acompanhar o presidente durante coletivas de imprensa realizadas no Salão Oval da Casa Branca.

Desde a década de 1950, a WHCA era responsável por organizar a Press Pool, um grupo seleto e rotativo de membros da imprensa (rádio, TV, fotógrafos…) que acompanham o presidente dos EUA durante suas coletivas - eles são responsáveis por enviar informações para seus colegas. Esse trabalho é essencial para os jornalistas, por isso, a troca constante de membros, escolhida por uma associação apartidária, é vital para uma boa cobertura que permita ao público se informar da melhor maneira possível.

Equipe de 2024 da WHCA durante o jantar anual da associação. Foto: Reprodução/White House Correspondents Association.
Equipe de 2024 da WHCA durante o jantar anual da associação. Foto: Reprodução/White House Correspondents Association.

Isso está prestes a mudar, pois, a partir de agora, esse grupo não exercerá sua principal função, passando esse poder, forçadamente, para a equipe de Donald Trump na Casa Branca. Mas o que isso significa de fato?

A imparcialidade da Associação é necessária para que jornalistas de todos os vieses políticos tenham a oportunidade de acompanhar o presidente e fazer suas próprias coberturas. Agora, com essa decisão tomada por um grupo eleito pelo presidente republicano, é possível imaginar que a cobertura não será tão imparcial quanto antes.

Em entrevista à AGEMT, Caio Sabbag, formado em Relações Internacionais, falou sobre essa decisão e o que isso mostra sobre o governo de Trump: Essa medida restringe completamente o alcance que qualquer tipo de mentalidade anti-governo consiga ter nesse momento”. Ele continua: “Eu acho que essa decisão é como o terceiro ou quarto dominó caindo. Estamos vendo uma rejeição muito rápida do governo dele e essa decisão não passa de mais um ato fascista do presidente”.

Sabbag ainda comenta sobre a maneira de se portar do atual presidente estadunidense: “Trump é um Showman. Ele está testando até onde seus eleitores irão apoiá-lo, e eles parecem ser bem abertos às ideias dele”.

O controle da imprensa é uma característica comum entre grandes governos ditatoriais do século XX. Hitler, por exemplo, criou o ministério da propaganda durante seu tempo como líder do partido nazista. O ministro Joseph Goebbels ficou mundialmente famoso por construir a imagem imponente de Hitler com estratégias simples de comunicação.

Os eventos famosos produzidos por Goebbels, como a famigerada queima de livros de 1933, não passam de uma tentativa populista de controle da mídia. Durante ditaduras, o conhecimento da população fica à mercê da vontade de seu líder. Trump, ao tomar o controle sobre quem poderá acompanhá-lo e, consequentemente, fazer perguntas, assume controle da mídia americana.

Trump durante coletiva de imprensa no salão oval da Casa Branca acompanhado da Press Pool. Foto: Reprodução/Karoline Leavitt
Trump durante coletiva de imprensa no salão oval da Casa Branca acompanhado da Press Pool. Foto: Reprodução/Karoline Leavitt

Em resposta ao assunto, Euclides Cunha, historiador e geopolítico, fala sobre suas expectativas para os próximos anos diante do crescimento de governos de extrema direita, como o de Trump, ao redor do mundo: “Acho que os próximos anos vão ser chaves para dizer se a nossa geração verá alguma coisa mais radical em termos de cenário internacional. [...]  A nossa geração, nos próximos anos, vai ver o acirramento de muitos conflitos, o acirramento de muitas disputas, o aparecimento de outros conflitos, como foi a guerra na Ucrânia, no final do ano passado, teve mais chance da guerra se generalizar”.

Os primeiros sinais de uma ditadura são as limitações da liberdade de expressão, tanto da mídia quanto do povo. “Eu não consigo visualizar uma democracia que se respeite e deixe isso passar batido”, adiciona Sabbag sobre o ocorrido. “Estou até perplexo com a falta de combate que a oposição está tendo quanto a isso. É problemático demais”, conclui o internacionalista.

Primeiro trimestre do republicano é marcado por decisões controvers as
por
Felipe Bragagnolo Barbosa
|
04/04/2025 - 12h

 

 

Em março, Donald Trump completou seu primeiro trimestre de um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, iniciando uma cruzada regressiva que desmantela conquistas sociais, ambientais e diplomáticas das últimas décadas. Em apenas 30 dias, o republicano já havia assinado dezenas de ordens executivas, promovendo uma agenda nacionalista e corporativa sob o slogan "America First" (América em Primeiro). Suas decisões priorizam os interesses de magnatas e aliados políticos, enquanto ignoram as vozes das minorias, dos trabalhadores e das comunidades mais afetadas pela desigualdade e pela crise climática.

Entre as medidas mais controversas estão as tarifas de 25% impostas a produtos do México, Canadá e China, que economistas progressistas alertam que irão encarecer bens essenciais para os mais pobres, e a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma decisão vista como um golpe contra a saúde global em tempos de pandemias e desigualdades crescentes. Trump também reverteu compromissos ambientais cruciais e intensificou políticas anti-imigração que violam princípios básicos de direitos humanos, reacendendo debates sobre justiça social, solidariedade internacional e a responsabilidade dos EUA como líder global.

Imigração

A promessa de deportação em massa, um dos pilares de sua campanha populista, começou a ser implementada com uma brutalidade que horrorizou defensores dos direitos humanos e organizações como a Anistia Internacional. O plano inicial de expulsar 11 milhões de imigrantes indocumentados em dois anos enfrentou forte resistência de movimentos de base, com protestos massivos em cidades como Chicago, Los Angeles e Nova York, forçando a Casa Branca a adiar parte das ações para março. Até agora, cerca de 25 mil pessoas — muitas delas mães, trabalhadores essenciais e vítimas de violência em seus países de origem — foram deportadas, com Trump desviando US$ 5 bilhões do orçamento militar para financiar essa máquina repressiva, em vez de investir em áreas essenciais, como a saúde ou a educação.

No dia 21 de janeiro,declarou estado de emergência na fronteira sul, mobilizando a Guarda Nacional e reinstaurando a cruel política "Remain in Mexico", que força requerentes de asilo a aguardarem em campos improvisados no lado mexicano, expostos a violência, fome e doenças. A extinção do "capturar e libertar" e a criação de "centros de triagem" com capacidade para processar 10 mil pessoas por dia transformaram a fronteira em uma zona de guerra contra os mais vulneráveis. "Estamos vedando o acesso a quem infringe as nossas normas", declarou Trump, em um discurso carregado de xenofobia e elitismo. Suas medidas também cortaram benefícios como o Medicaid para imigrantes legais e propuseram um sistema de vistos que privilegia os ricos e fluentes em inglês, aprofundando a exclusão social e o racismo institucional.

Conflitos Internacionais

Nas relações internacionais, Trump anunciou uma pressão por um acordo imediato entre Rússia e Ucrânia, mas sua abordagem autoritária e pró-Rússia gerou alarme entre progressistas e defensores da soberania ucraniana. Em uma reunião tensa com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Salão Oval, Trump elevou o tom, repreendendo-o com frases como “Você não está em uma posição boa agora. Você não tem as cartas. Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial”. Ele ainda exigiu gratidão pelos US$ 114 bilhões de apoio militar americano desde 2022, ignorando que essa ajuda foi aprovada por uma coalizão bipartidária e que a Ucrânia luta por sua sobrevivência contra a agressão imperialista de Vladimir Putin.

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Trump arrogante confronta e destrata Zelensky. Foto: REUTERS/Brian Snyder

 

 

O Professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Rodrigo Amaral, em entrevista à AGEMT, analisou o impacto do segundo mandato de Trump nas alianças tradicionais dos EUA, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Segundo ele, há duas dimensões principais: “Uma primeira é a discursiva, que gira em torno da posição política do Trump desde a sua candidatura, que era um presidente que valorizaria os Estados Unidos em primeiro lugar, por isso que ele usava aquele termo, America First, ou o mais pop, Make America Great Again. Isso, em termos de discurso, impactou muito os aspectos multilaterais que os Estados Unidos faziam parte”. 

Amaral destaca que a OTAN, o mais importante corpo multilateral militar do qual os EUA fazem parte, enfrenta incertezas com essa postura: “No âmbito prático, imediatamente o Trump anunciou que pressionaria pelo fim da guerra, um cessar-fogo na Ucrânia. Isso era visto como positivo no âmbito da solução dos conflitos, mas temeroso no âmbito do que vai ser a estratégia desse corpo multilateral, segurança coletiva, mediante uma ordem liberal em crise”.

O professor aprofunda a análise sobre a Ucrânia: “Nós vimos recentemente uma conversa constrangedora do Zelensky na Casa Branca com o Trump, que demonstra como os Estados Unidos podem mandar e desmandar na Ucrânia. Diferentemente de Israel, não é uma relação tradicional que os Estados Unidos têm com a Ucrânia, é uma relação de conveniência. A Ucrânia como um espaço para contenção do aumento da esfera de influência russa no leste europeu”. No entanto, ele critica: “Deu errado, porque a guerra na Ucrânia não só aconteceu como aconteceu de forma imprevisível. A Rússia conseguiu redefinir sua economia em direção a uma economia de guerra e para os contra-hegemônicos, como Irã, Coreia do Norte e China, enquanto a guerra só gerava gasto para a Ucrânia e seus aliados”.

 A postura de Trump é vista por analistas como uma traição aos valores democráticos e uma capitulação aos interesses de Moscou. Movimentos pacifistas e organizações como a CodePink criticam sua pressão por um acordo rápido como uma tentativa de apaziguar Putin, sacrificando a autodeterminação ucraniana em nome de uma suposta "estabilidade" que beneficia autocratas. Amaral reforça: “Ainda não há determinantes finais. Essa incerteza é o que toca o que tem acontecido até aqui”. Enquanto isso, a população ucraniana, já devastada por anos de guerra, teme que os EUA, sob Trump, abandonem seu papel de aliado em favor de uma política externa egoísta e transacional, que prioriza acordos com ditadores em vez de apoio aos povos oprimidos.

No conflito entre Israel e Hamas, Trump reivindicou crédito por um cessar-fogo iniciado na gestão Biden, propondo uma "paz pela força" que inclui a possibilidade de intervenção militar direta dos EUA em Gaza. Amaral comenta: “Mesmo antes do início do cessar-fogo em Gaza, Trump havia anunciado que isso era o plano dele. Ele teve representantes que foram até Israel pressionar Netanyahu, e fato é que houve um cessar-fogo. No entanto, semanas depois, ele não perdurou, ainda que houvesse um discurso de reconstrução de Gaza, que seria um plano neoliberal, incluindo empresas privadas multinacionais”. Ele critica essa abordagem: “Isso vem à esteira da expulsão palestina sistemática, que já acontece há, no mínimo, 75 anos, ou mais, se considerarmos o mandato britânico na Palestina”. 


Amaral vai além, denunciando a gravidade da situação atual: “Nós vivemos talvez o pior momento da história palestina. Por conta da maneira pela qual o Ocidente autorizou o assassinato em massa de palestinos, a expulsão em massa de palestinos do Oriente Médio, a tal ponto que temos mais de 50 mil mortos, assassinados pelo Estado de Israel desde o início da Guerra de Gaza de 2023”
 

 

Meio Ambiente

No âmbito ambiental, Trump declarou uma chamada "emergência energética", uma jogada que ambientalistas e cientistas classificam como um crime contra o planeta e as gerações futuras. Ele autorizou a exploração de petróleo em territórios prístinos do Alasca, destruiu incentivos para veículos elétricos — uma esperança para reduzir emissões — e oficializou, pela segunda vez, a saída dos EUA do Acordo de Paris. Essas ações, vendidas como estímulo econômico, são na verdade um presente às gigantes do petróleo, que lucrarão às custas de ecossistemas frágeis e do agravamento das mudanças climáticas. Ativistas do Greenpeace e do Movimento Sunrise denunciam que tais políticas condenam comunidades vulneráveis, como as populações indígenas e costeiras, a desastres ambientais, enquanto Trump ignora o apelo global por uma transição energética justa e sustentável.

Economia e Governo

Na economia, Trump lançou o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por bilionários como Elon Musk e Vivek Ramaswamy, com a meta de cortar US$ 2 trilhões do orçamento federal até 2028. Esse plano, disfarçado como "modernização", visa desmantelar programas sociais essenciais, como assistência à saúde, moradia e educação, enquanto demite milhares de servidores públicos que garantem o funcionamento do Estado. A suspensão de contratações baseadas em diversidade e a imposição do trabalho presencial em órgãos federais são vistas por sindicatos e movimentos antirracistas como ataques diretos à equidade e aos direitos trabalhistas.

"Queremos transformar o governo em uma empresa: eficaz, enxuta e focada em resultados", declarou Musk, uma visão que críticos alertam que entrega o bem público nas mãos de uma elite corporativa, aprofundando a desigualdade e enfraquecendo serviços que protegem os mais pobres. Trump prometeu que o DOGE será "o maior impacto na burocracia desde a fundação do país", mas organizações como a AFL-CIO e a National Education Association denunciam que o projeto ameaça o acesso a direitos básicos, beneficiando apenas os ricos e os poderosos enquanto abandona as comunidades marginalizadas.

O Partido Social-Democrata (SPD) perde a maioria e marca o fim do governo de Olaf Scholz
por
Octávio Alves
|
13/03/2025 - 12h

 

Após uma eleição com recorde de eleitores desde a unificação do país em 1990, com 83,5% dos votantes aptos, a União Democrata-Cristã (CDU), em aliança com a União Social-Cristã (CSU), liderada por Friedrich Merz, conquistaram 208 cadeiras no Bundestag, parlamento alemão, garantindo 28,52% dos votos. O resultado marca o retorno da legenda conservadora ao poder após 4 anos de domínio do Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, que sofreu uma derrota, ficando em terceiro lugar com 120 cadeiras e 16,41% dos votos.

Friedrich Merz, o provável novo Chanceler da Alemanha. Fonte: Ralf Hirschberger/ AFP
Friedrich Merz, o provável novo Chanceler da Alemanha. Fonte: Ralf Hirschberger/ AFP

O grande destaque da eleição, no entanto, foi o avanço da extrema-direita. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), liderado por Alice Weidel, que teve apoio do bilionário e aliado de Donald Trump, Elon Musk, atingiu seu melhor resultado desde a fundação, tornando-se a segunda maior força política do país com 152 cadeiras e 20,8% dos votos. O crescimento da ala conservadora confirma a insatisfação de parte do eleitorado com a política tradicional e reforça a tendência de fortalecimento do nacionalismo no país.

 

O sistema de eleição na Alemanha segue sendo misto, combinando elementos de voto distrital e proporcional. Cada eleitor tem dois votos: o primeiro escolhe um candidato que representará seu distrito no parlamento, enquanto o segundo é destinado a um partido político. 

Friedrich Merz, líder do CDU, após a divulgação dos primeiros resultados das urnas.  Foto: Odd Andersen/AFP
Friedrich Merz, líder do CDU, após a divulgação dos primeiros resultados das urnas.  Foto: Odd Andersen/AFP

Para a eleição federal no total tem o Bundestag que conta com 630 cadeiras, sendo que 299 são ocupadas por candidatos eleitos diretamente nos distritos, enquanto as demais 331 são distribuídas proporcionalmente entre os partidos que ultrapassam a cláusula de barreira de 5% dos votos nacionais.

Depois que os parlamentares forem definidos, se o partido vencedor não possuir a maioria da câmara, ele terá de fazer coalizões para formar a maioria e então eleger o novo chanceler.

Com o fim das urnas chegou-se à vitória da CDU, porém o Merz enfrenta agora o desafio de formar uma coalizão governamental estável. Seu partido, que não conseguiu maioria para governar, agora está buscando alianças com outros partidos, tais negociações podem demorar meses para serem finalizadas.  

Apesar do avanço, a AfD continua isolada politicamente. Os demais partidos mantêm uma política de "cordão sanitário", recusando qualquer aliança com a sigla devido às suas posições controversas. Isso significa que, mesmo sendo a segunda maior bancada do Bundestag, a AfD não deverá integrar o governo.

Outro aspecto curioso desta eleição foi a clara divisão geográfica do país, que ainda reflete os resquícios da Guerra Fria. O mapa eleitoral das eleições parlamentares evidenciou uma separação entre os antigos territórios da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental, com a AfD tendo um desempenho expressivo no leste do país, enquanto os partidos tradicionais, como CDU e SPD, que acabam perdendo forças nestas regiões

O Professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Huberman, explicou que  esta divisão é explicada pela maneira em que foi feita esta reunificação entre as duas alemanhas na época: “Ainda há uma segregação entre a Alemanha Ocidental e a Oriental. Isto acaba provocando um ressentimento importante, pois as elites que continuam governando são da Alemanha Ocidental.” 

Com isso e outros fatores sociais como o sentimento de abandono pelo governo alemão, o professor Huberman explica que a população quer uma mudança radical no país, que é vista no discurso da AfD de mudar o sistema.

Alice Weidel a líder da AfD dando o discurso pós eleição. Foto :Maryam Majd/ AFP
Alice Weidel a líder da AfD dando o discurso pós eleição. Fonte :Maryam Majd/ AFP

Essas eleições evidenciam uma reconfiguração no panorama político alemão, com o fortalecimento de forças conservadoras e nacionalistas, desafiando as formações centristas e tradicionais a repensarem suas estratégias e políticas para reconquistar a confiança do eleitorado alemão.

Michel Barnier é o primeiro a ser deposto em mais de 60 anos com mandato mais curto da história
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

Michel Barnier, primeiro-ministro da França, foi deposto pelo Parlamento, nesta quarta-feira (04). Barnier é o primeiro a ser deposto em mais de 60 anos, tendo o mandato mais curto da história do país, que começou em setembro deste ano.  


A crise política acontece no contexto da aprovação do Orçamento de 2025. Os dois blocos de extremos opostos do espectro político decidiram colocar um basta ao governo atual depois que Barnier confirmou suas intenções de usar uma manobra constitucional para passar por cima da Assembleia Nacional. 

Barnier foi nomeado pelo presidente Emmanuel Macron há apenas 3 meses. Em junho, os franceses foram às urnas para escolher os que iriam compor o Parlamento. A esquerda foi predominante na disputa, vencendo a Reunião Nacional, de extrema direita. No entanto, isso não foi suficiente para formar a maioria do governo. Macron, então, escolheu um primeiro-ministro de direita. Isso gerou uma onda de protestos no país, em mais de 100 cidades. De acordo com os organizadores em entrevista ao Jornal O Globo , 300 mil pessoas estiveram nas ruas, sendo 160 mil apenas na capital.  

Michel Barnier, ex-primeiro ministro, da França com as mãos juntas em frente ao peito.
Governo Barnier é o mais curto da Quinta República (1958). Foto: Alain Jocard / AFP.


Durante uma visita oficial à Arabia Saudita, na última terça-feira (4), o presidente Marcon afirmou que "o interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos", apelando para que o Governo não fosse derrubado. Apesar disso, a votação no parlamento uniu esquerda e direita. O governo de Barnier tornou-se o mais curto da Quinta República francesa, que iniciou em 1958.

O principal motivo para a Moção de censura foi a rejeição da proposta de orçamento.Para contornar a dívida pública francesa, o Orçamento propunha reduzir o gasto público e aumentar o imposto  para os empresários. 
 Apesar da queda do governo Barnier, a permanência de Macron, até o momento, não foi afetada. O mandato do presidente vai até 2027.  Enquanto a maioria dos franceses atribui a Emmanuel Macron a responsabilidade pela situação atual e sua aprovação despenca, cresce o coro de demandas por sua renúncia como uma solução para a crise. No entanto, na terça-feira (03), o presidente descartou essa possibilidade, classificando-a como uma "ficção política".