Na madrugada da última segunda-feira, 17, Israel retomou os bombardeios aéreos na Faixa de Gaza. O ataque ocorreu no meio das negociações para o início da segunda fase do acordo de cessar-fogo. Nas últimas semanas, o país já tinha descumprido duas exigências do Hamas para a primeira fase, sendo elas o bloqueio da entrada de ajuda humanitária na região e a não retirada das tropas israelenses do Corredor Filadélfia, fato que deveria ter ocorrido até o 50° dia do acordo.
De acordo com nota divulgada pelo governo israelense, os ataques ocorreram após o Hamas recusar as propostas recebidas e a libertação dos reféns restantes. Ainda segundo Israel, a decisão foi tomada devido à possibilidade de um ataque por organizações terroristas em Gaza contra seus soldados e comunidades com o propósito de matar e sequestrar.
O Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, informou nesta quinta que pelo menos 506 palestinos foram mortos e outros 909 ficaram feridos. Conforme a agência EFE, Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza na noite desta quarta-feira e começou uma incursão terrestre no Corredor Netzarim.
Em entrevista à Fox News, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou nesta terça que os Estados Unidos sabia dos ataques e estava de acordo com a medida. No Oriente Médio, a Arábia Saudita e o Catar repudiaram os ataques aéreos em Gaza.
O grupo Hamas continua defendendo a continuidade do cessar-fogo e a retirada das tropas israelenses da região. Enquanto isso, autoridades de Israel defendem o retorno de todos os reféns para que haja um cessar-fogo até o fim do Ramadã e do Feriado de Páscoa judaica, que ocorrem em abril, após esse período novas negociações poderão ser feitas. Até o momento, ainda não há confirmação de trégua entre os dois territórios.
O cessar-fogo entre Israel e Hamas, que é discutido desde novembro de 2024, entrou em vigor no dia 19 de janeiro de 2025 e foi negociado também por outros países como Estados Unidos, Qatar e Egito. O acordo foi dividido em três fases, com o objetivo de uma troca de reféns de ambas as partes, a retirada das tropas de Israel da Faixa de Gaza, retorno dos restos mortais de israelenses e um planejamento de reconstrução de Gaza.
O conflito entre os dois países ocorre há 15 meses e se iniciou com um ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, quando 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas como reféns. Após isso, Israel deu início a uma guerra na região, que destruiu quase 60% da infraestrutura de Gaza, incluindo escolas e hospitais, e deslocou cerca de 90% da população local
De acordo com o documento, está previsto que nos primeiros 42 dias em funcionamento, as forças de Israel se retirarão dos centros populacionais da faixa de Gaza situados ao oeste, permitindo o retorno dos deslocados palestinos aos centros urbanos, além da permissão de entrada de mais ajuda humanitária na região - serão cerca de 600 caminhões por dia, um número superior aos 500 que entravam antes do início do conflito.

Desafios para o cumprimento do acordo
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou à imprensa local que não irá retirar as tropas que ainda estão em Gaza, no Corredor Filadélfia, que demarca a fronteira com o Egito. A justificativa é que essa seria uma rota de contrabando usada pelo Hamas que os ajudaria a se fortalecer.
A decisão pode comprometer as negociações da 2° fase, tendo em vista que Israel deveria se retirar dessa região até o dia 2 deste mês, quando completou 50 dias desde o acordo.
Outra medida que pode complicar a situação é a proposta de Donald Trump pela reconstrução de Gaza seguida de uma ocupação estrangeira, que resultaria em uma expulsão sistemática de palestinos dos territórios tradicionais.
Essa medida apesar de agradar o governo de Israel pode apresentar resistência no lado palestino. A decisão também não é bem vista pelo Egito, já que os palestinos poderiam migrar para seu território devido à proximidade geográfica, um dos motivos que leva o país a ser mediador no acordo.
O primeiro-ministro conta com o apoio do presidente Trump. O grupo da coligação que o sustenta é a favor da retomada da guerra se o Hamas não se render. Entretanto, um grupo de "desobediência civil" juntamente com o Fórum dos Reféns e Desaparecidos estão se manifestando pela libertação de todos os reféns, vivos ou mortos e pelo fim do conflito.
Para Rodrigo Amaral, professor de relações internacionais da PUC- SP e analista de política Internacional no Oriente Médio, o que tem maior impacto na decisão de Israel no momento, é o interesse dos Estados Unidos em continuar a guerra ou avançar para a segunda fase, e não a capacidade da extrema direita israelense.
“A variável que tem condicionado as decisões agora, é o que fazer com Gaza de agora em diante”, segundo o profissional é evidente para todos os envolvidos que os ataques à Gaza precisam parar, e que a eliminação do Hamas não é possível, porém existe o desejo por parte de Israel e Eua de inibir a sua capacidade. A questão agora é como prosseguir, de maneira a não aumentar a violência na região.
Na sexta-feira, 7, uma delegação palestina chegou ao Cairo para discutir sobre a segunda fase do cessar-fogo. No sábado, 8, o porta-voz do Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, declarou que o grupo deseja que o acordo continue: “Afirmamos nossa prontidão para participar da segunda fase das negociações de uma forma que atenda às demandas do nosso povo”.
Apesar disso, no início do mês Israel anunciou o bloqueio de ajuda ao território - que foi uma das exigências para estabelecimento do acordo - e no domingo, 09, informou que cortaria a energia elétrica de Gaza para pressionar o Hamas a aceitar novas condições para a extensão do atual acordo de cessar-fogo e para que todos os reféns sejam libertados. No dia seguinte, o Hamas declarou que está aguardando o resultado dos esforços dos países mediadores nas negociações com Israel para avançar para a próxima fase.
No dia 24 de fevereiro de 2025, Donald Trump tirou o controle da WHCA (Associação de Correspondentes da Casa Branca) sobre a seleção de jornalistas que podem acompanhar o presidente durante coletivas de imprensa realizadas no Salão Oval da Casa Branca.
Desde a década de 1950, a WHCA era responsável por organizar a Press Pool, um grupo seleto e rotativo de membros da imprensa (rádio, TV, fotógrafos…) que acompanham o presidente dos EUA durante suas coletivas - eles são responsáveis por enviar informações para seus colegas. Esse trabalho é essencial para os jornalistas, por isso, a troca constante de membros, escolhida por uma associação apartidária, é vital para uma boa cobertura que permita ao público se informar da melhor maneira possível.

Isso está prestes a mudar, pois, a partir de agora, esse grupo não exercerá sua principal função, passando esse poder, forçadamente, para a equipe de Donald Trump na Casa Branca. Mas o que isso significa de fato?
A imparcialidade da Associação é necessária para que jornalistas de todos os vieses políticos tenham a oportunidade de acompanhar o presidente e fazer suas próprias coberturas. Agora, com essa decisão tomada por um grupo eleito pelo presidente republicano, é possível imaginar que a cobertura não será tão imparcial quanto antes.
Em entrevista à AGEMT, Caio Sabbag, formado em Relações Internacionais, falou sobre essa decisão e o que isso mostra sobre o governo de Trump: “Essa medida restringe completamente o alcance que qualquer tipo de mentalidade anti-governo consiga ter nesse momento”. Ele continua: “Eu acho que essa decisão é como o terceiro ou quarto dominó caindo. Estamos vendo uma rejeição muito rápida do governo dele e essa decisão não passa de mais um ato fascista do presidente”.
Sabbag ainda comenta sobre a maneira de se portar do atual presidente estadunidense: “Trump é um Showman. Ele está testando até onde seus eleitores irão apoiá-lo, e eles parecem ser bem abertos às ideias dele”.
O controle da imprensa é uma característica comum entre grandes governos ditatoriais do século XX. Hitler, por exemplo, criou o ministério da propaganda durante seu tempo como líder do partido nazista. O ministro Joseph Goebbels ficou mundialmente famoso por construir a imagem imponente de Hitler com estratégias simples de comunicação.
Os eventos famosos produzidos por Goebbels, como a famigerada queima de livros de 1933, não passam de uma tentativa populista de controle da mídia. Durante ditaduras, o conhecimento da população fica à mercê da vontade de seu líder. Trump, ao tomar o controle sobre quem poderá acompanhá-lo e, consequentemente, fazer perguntas, assume controle da mídia americana.

Em resposta ao assunto, Euclides Cunha, historiador e geopolítico, fala sobre suas expectativas para os próximos anos diante do crescimento de governos de extrema direita, como o de Trump, ao redor do mundo: “Acho que os próximos anos vão ser chaves para dizer se a nossa geração verá alguma coisa mais radical em termos de cenário internacional. [...] A nossa geração, nos próximos anos, vai ver o acirramento de muitos conflitos, o acirramento de muitas disputas, o aparecimento de outros conflitos, como foi a guerra na Ucrânia, no final do ano passado, teve mais chance da guerra se generalizar”.
Os primeiros sinais de uma ditadura são as limitações da liberdade de expressão, tanto da mídia quanto do povo. “Eu não consigo visualizar uma democracia que se respeite e deixe isso passar batido”, adiciona Sabbag sobre o ocorrido. “Estou até perplexo com a falta de combate que a oposição está tendo quanto a isso. É problemático demais”, conclui o internacionalista.
Em março, Donald Trump completou seu primeiro trimestre de um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, iniciando uma cruzada regressiva que desmantela conquistas sociais, ambientais e diplomáticas das últimas décadas. Em apenas 30 dias, o republicano já havia assinado dezenas de ordens executivas, promovendo uma agenda nacionalista e corporativa sob o slogan "America First" (América em Primeiro). Suas decisões priorizam os interesses de magnatas e aliados políticos, enquanto ignoram as vozes das minorias, dos trabalhadores e das comunidades mais afetadas pela desigualdade e pela crise climática.
Entre as medidas mais controversas estão as tarifas de 25% impostas a produtos do México, Canadá e China, que economistas progressistas alertam que irão encarecer bens essenciais para os mais pobres, e a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma decisão vista como um golpe contra a saúde global em tempos de pandemias e desigualdades crescentes. Trump também reverteu compromissos ambientais cruciais e intensificou políticas anti-imigração que violam princípios básicos de direitos humanos, reacendendo debates sobre justiça social, solidariedade internacional e a responsabilidade dos EUA como líder global.
Imigração
A promessa de deportação em massa, um dos pilares de sua campanha populista, começou a ser implementada com uma brutalidade que horrorizou defensores dos direitos humanos e organizações como a Anistia Internacional. O plano inicial de expulsar 11 milhões de imigrantes indocumentados em dois anos enfrentou forte resistência de movimentos de base, com protestos massivos em cidades como Chicago, Los Angeles e Nova York, forçando a Casa Branca a adiar parte das ações para março. Até agora, cerca de 25 mil pessoas — muitas delas mães, trabalhadores essenciais e vítimas de violência em seus países de origem — foram deportadas, com Trump desviando US$ 5 bilhões do orçamento militar para financiar essa máquina repressiva, em vez de investir em áreas essenciais, como a saúde ou a educação.
No dia 21 de janeiro,declarou estado de emergência na fronteira sul, mobilizando a Guarda Nacional e reinstaurando a cruel política "Remain in Mexico", que força requerentes de asilo a aguardarem em campos improvisados no lado mexicano, expostos a violência, fome e doenças. A extinção do "capturar e libertar" e a criação de "centros de triagem" com capacidade para processar 10 mil pessoas por dia transformaram a fronteira em uma zona de guerra contra os mais vulneráveis. "Estamos vedando o acesso a quem infringe as nossas normas", declarou Trump, em um discurso carregado de xenofobia e elitismo. Suas medidas também cortaram benefícios como o Medicaid para imigrantes legais e propuseram um sistema de vistos que privilegia os ricos e fluentes em inglês, aprofundando a exclusão social e o racismo institucional.
Conflitos Internacionais
Nas relações internacionais, Trump anunciou uma pressão por um acordo imediato entre Rússia e Ucrânia, mas sua abordagem autoritária e pró-Rússia gerou alarme entre progressistas e defensores da soberania ucraniana. Em uma reunião tensa com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Salão Oval, Trump elevou o tom, repreendendo-o com frases como “Você não está em uma posição boa agora. Você não tem as cartas. Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial”. Ele ainda exigiu gratidão pelos US$ 114 bilhões de apoio militar americano desde 2022, ignorando que essa ajuda foi aprovada por uma coalizão bipartidária e que a Ucrânia luta por sua sobrevivência contra a agressão imperialista de Vladimir Putin.

O Professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Rodrigo Amaral, em entrevista à AGEMT, analisou o impacto do segundo mandato de Trump nas alianças tradicionais dos EUA, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Segundo ele, há duas dimensões principais: “Uma primeira é a discursiva, que gira em torno da posição política do Trump desde a sua candidatura, que era um presidente que valorizaria os Estados Unidos em primeiro lugar, por isso que ele usava aquele termo, America First, ou o mais pop, Make America Great Again. Isso, em termos de discurso, impactou muito os aspectos multilaterais que os Estados Unidos faziam parte”.
Amaral destaca que a OTAN, o mais importante corpo multilateral militar do qual os EUA fazem parte, enfrenta incertezas com essa postura: “No âmbito prático, imediatamente o Trump anunciou que pressionaria pelo fim da guerra, um cessar-fogo na Ucrânia. Isso era visto como positivo no âmbito da solução dos conflitos, mas temeroso no âmbito do que vai ser a estratégia desse corpo multilateral, segurança coletiva, mediante uma ordem liberal em crise”.
O professor aprofunda a análise sobre a Ucrânia: “Nós vimos recentemente uma conversa constrangedora do Zelensky na Casa Branca com o Trump, que demonstra como os Estados Unidos podem mandar e desmandar na Ucrânia. Diferentemente de Israel, não é uma relação tradicional que os Estados Unidos têm com a Ucrânia, é uma relação de conveniência. A Ucrânia como um espaço para contenção do aumento da esfera de influência russa no leste europeu”. No entanto, ele critica: “Deu errado, porque a guerra na Ucrânia não só aconteceu como aconteceu de forma imprevisível. A Rússia conseguiu redefinir sua economia em direção a uma economia de guerra e para os contra-hegemônicos, como Irã, Coreia do Norte e China, enquanto a guerra só gerava gasto para a Ucrânia e seus aliados”.
A postura de Trump é vista por analistas como uma traição aos valores democráticos e uma capitulação aos interesses de Moscou. Movimentos pacifistas e organizações como a CodePink criticam sua pressão por um acordo rápido como uma tentativa de apaziguar Putin, sacrificando a autodeterminação ucraniana em nome de uma suposta "estabilidade" que beneficia autocratas. Amaral reforça: “Ainda não há determinantes finais. Essa incerteza é o que toca o que tem acontecido até aqui”. Enquanto isso, a população ucraniana, já devastada por anos de guerra, teme que os EUA, sob Trump, abandonem seu papel de aliado em favor de uma política externa egoísta e transacional, que prioriza acordos com ditadores em vez de apoio aos povos oprimidos.
No conflito entre Israel e Hamas, Trump reivindicou crédito por um cessar-fogo iniciado na gestão Biden, propondo uma "paz pela força" que inclui a possibilidade de intervenção militar direta dos EUA em Gaza. Amaral comenta: “Mesmo antes do início do cessar-fogo em Gaza, Trump havia anunciado que isso era o plano dele. Ele teve representantes que foram até Israel pressionar Netanyahu, e fato é que houve um cessar-fogo. No entanto, semanas depois, ele não perdurou, ainda que houvesse um discurso de reconstrução de Gaza, que seria um plano neoliberal, incluindo empresas privadas multinacionais”. Ele critica essa abordagem: “Isso vem à esteira da expulsão palestina sistemática, que já acontece há, no mínimo, 75 anos, ou mais, se considerarmos o mandato britânico na Palestina”.
Amaral vai além, denunciando a gravidade da situação atual: “Nós vivemos talvez o pior momento da história palestina. Por conta da maneira pela qual o Ocidente autorizou o assassinato em massa de palestinos, a expulsão em massa de palestinos do Oriente Médio, a tal ponto que temos mais de 50 mil mortos, assassinados pelo Estado de Israel desde o início da Guerra de Gaza de 2023”
Meio Ambiente
No âmbito ambiental, Trump declarou uma chamada "emergência energética", uma jogada que ambientalistas e cientistas classificam como um crime contra o planeta e as gerações futuras. Ele autorizou a exploração de petróleo em territórios prístinos do Alasca, destruiu incentivos para veículos elétricos — uma esperança para reduzir emissões — e oficializou, pela segunda vez, a saída dos EUA do Acordo de Paris. Essas ações, vendidas como estímulo econômico, são na verdade um presente às gigantes do petróleo, que lucrarão às custas de ecossistemas frágeis e do agravamento das mudanças climáticas. Ativistas do Greenpeace e do Movimento Sunrise denunciam que tais políticas condenam comunidades vulneráveis, como as populações indígenas e costeiras, a desastres ambientais, enquanto Trump ignora o apelo global por uma transição energética justa e sustentável.
Economia e Governo
Na economia, Trump lançou o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por bilionários como Elon Musk e Vivek Ramaswamy, com a meta de cortar US$ 2 trilhões do orçamento federal até 2028. Esse plano, disfarçado como "modernização", visa desmantelar programas sociais essenciais, como assistência à saúde, moradia e educação, enquanto demite milhares de servidores públicos que garantem o funcionamento do Estado. A suspensão de contratações baseadas em diversidade e a imposição do trabalho presencial em órgãos federais são vistas por sindicatos e movimentos antirracistas como ataques diretos à equidade e aos direitos trabalhistas.
"Queremos transformar o governo em uma empresa: eficaz, enxuta e focada em resultados", declarou Musk, uma visão que críticos alertam que entrega o bem público nas mãos de uma elite corporativa, aprofundando a desigualdade e enfraquecendo serviços que protegem os mais pobres. Trump prometeu que o DOGE será "o maior impacto na burocracia desde a fundação do país", mas organizações como a AFL-CIO e a National Education Association denunciam que o projeto ameaça o acesso a direitos básicos, beneficiando apenas os ricos e os poderosos enquanto abandona as comunidades marginalizadas.
Após uma eleição com recorde de eleitores desde a unificação do país em 1990, com 83,5% dos votantes aptos, a União Democrata-Cristã (CDU), em aliança com a União Social-Cristã (CSU), liderada por Friedrich Merz, conquistaram 208 cadeiras no Bundestag, parlamento alemão, garantindo 28,52% dos votos. O resultado marca o retorno da legenda conservadora ao poder após 4 anos de domínio do Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, que sofreu uma derrota, ficando em terceiro lugar com 120 cadeiras e 16,41% dos votos.

O grande destaque da eleição, no entanto, foi o avanço da extrema-direita. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), liderado por Alice Weidel, que teve apoio do bilionário e aliado de Donald Trump, Elon Musk, atingiu seu melhor resultado desde a fundação, tornando-se a segunda maior força política do país com 152 cadeiras e 20,8% dos votos. O crescimento da ala conservadora confirma a insatisfação de parte do eleitorado com a política tradicional e reforça a tendência de fortalecimento do nacionalismo no país.
O sistema de eleição na Alemanha segue sendo misto, combinando elementos de voto distrital e proporcional. Cada eleitor tem dois votos: o primeiro escolhe um candidato que representará seu distrito no parlamento, enquanto o segundo é destinado a um partido político.

Para a eleição federal no total tem o Bundestag que conta com 630 cadeiras, sendo que 299 são ocupadas por candidatos eleitos diretamente nos distritos, enquanto as demais 331 são distribuídas proporcionalmente entre os partidos que ultrapassam a cláusula de barreira de 5% dos votos nacionais.
Depois que os parlamentares forem definidos, se o partido vencedor não possuir a maioria da câmara, ele terá de fazer coalizões para formar a maioria e então eleger o novo chanceler.
Com o fim das urnas chegou-se à vitória da CDU, porém o Merz enfrenta agora o desafio de formar uma coalizão governamental estável. Seu partido, que não conseguiu maioria para governar, agora está buscando alianças com outros partidos, tais negociações podem demorar meses para serem finalizadas.
Apesar do avanço, a AfD continua isolada politicamente. Os demais partidos mantêm uma política de "cordão sanitário", recusando qualquer aliança com a sigla devido às suas posições controversas. Isso significa que, mesmo sendo a segunda maior bancada do Bundestag, a AfD não deverá integrar o governo.
Outro aspecto curioso desta eleição foi a clara divisão geográfica do país, que ainda reflete os resquícios da Guerra Fria. O mapa eleitoral das eleições parlamentares evidenciou uma separação entre os antigos territórios da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental, com a AfD tendo um desempenho expressivo no leste do país, enquanto os partidos tradicionais, como CDU e SPD, que acabam perdendo forças nestas regiões
O Professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Huberman, explicou que esta divisão é explicada pela maneira em que foi feita esta reunificação entre as duas alemanhas na época: “Ainda há uma segregação entre a Alemanha Ocidental e a Oriental. Isto acaba provocando um ressentimento importante, pois as elites que continuam governando são da Alemanha Ocidental.”
Com isso e outros fatores sociais como o sentimento de abandono pelo governo alemão, o professor Huberman explica que a população quer uma mudança radical no país, que é vista no discurso da AfD de mudar o sistema.

Essas eleições evidenciam uma reconfiguração no panorama político alemão, com o fortalecimento de forças conservadoras e nacionalistas, desafiando as formações centristas e tradicionais a repensarem suas estratégias e políticas para reconquistar a confiança do eleitorado alemão.
Michel Barnier, primeiro-ministro da França, foi deposto pelo Parlamento, nesta quarta-feira (04). Barnier é o primeiro a ser deposto em mais de 60 anos, tendo o mandato mais curto da história do país, que começou em setembro deste ano.
A crise política acontece no contexto da aprovação do Orçamento de 2025. Os dois blocos de extremos opostos do espectro político decidiram colocar um basta ao governo atual depois que Barnier confirmou suas intenções de usar uma manobra constitucional para passar por cima da Assembleia Nacional.
Barnier foi nomeado pelo presidente Emmanuel Macron há apenas 3 meses. Em junho, os franceses foram às urnas para escolher os que iriam compor o Parlamento. A esquerda foi predominante na disputa, vencendo a Reunião Nacional, de extrema direita. No entanto, isso não foi suficiente para formar a maioria do governo. Macron, então, escolheu um primeiro-ministro de direita. Isso gerou uma onda de protestos no país, em mais de 100 cidades. De acordo com os organizadores em entrevista ao Jornal O Globo , 300 mil pessoas estiveram nas ruas, sendo 160 mil apenas na capital.

Durante uma visita oficial à Arabia Saudita, na última terça-feira (4), o presidente Marcon afirmou que "o interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos", apelando para que o Governo não fosse derrubado. Apesar disso, a votação no parlamento uniu esquerda e direita. O governo de Barnier tornou-se o mais curto da Quinta República francesa, que iniciou em 1958.
O principal motivo para a Moção de censura foi a rejeição da proposta de orçamento.Para contornar a dívida pública francesa, o Orçamento propunha reduzir o gasto público e aumentar o imposto para os empresários.
Apesar da queda do governo Barnier, a permanência de Macron, até o momento, não foi afetada. O mandato do presidente vai até 2027. Enquanto a maioria dos franceses atribui a Emmanuel Macron a responsabilidade pela situação atual e sua aprovação despenca, cresce o coro de demandas por sua renúncia como uma solução para a crise. No entanto, na terça-feira (03), o presidente descartou essa possibilidade, classificando-a como uma "ficção política".