Após 20 anos da guerra mais cara já travada pelos Estados Unidos, no dia 14 de abril de 2021, o presidente norte-americano Joe Biden anunciou a retirada das tropas americanas do Afeganistão. O recuo afeta diretamente no futuro político e social do país, já que o Talibã - grupo islâmico extremista -, segundo o jornal Deutsche Welle, está cada vez mais fortalecido, ameaçando a desejada democracia.
O início do conflito ocorreu em 2001, em resposta ao ataque terrorista realizado pelo grupo extremista Al-Qaeda, que ficou conhecido como “O Ataque às Torres Gêmeas”. Os Estados Unidos invadiram o país do Oriente Médio onde se localizava o movimento do Talibã, o qual havia declarado apoio e proteção à Osama bin Laden - organizador do ataque.
Em entrevista exclusiva à AGEMT por telefone da Inglaterra, Haroun Rahimi relatou, a partir do olhar de um afegão, sobre a decisão histórica. Rahimi é professor assistente de Direito da Universidade Americana do Afeganistão e no Centro de Estudos Islâmicos da Universidade de Oxford está trabalhando na pesquisa da história legal do Afeganistão.

AGEMT: Você pode explicar um pouco sobre o acordo de paz entre os Estados Unidos e o Afeganistão e como o anúncio feito por Joe Biden afeta os talibãs, que querem ser reconhecidos mundialmente?
Haroun Rahimi: Os Estados Unidos sob o comando de Trump iniciaram uma negociação sombria com o Talibã, com o objetivo de assegurar a retirada das forças norte-americanas do Afeganistão em troca do compromisso do Talibã de garantir que não permitiriam que grupos terroristas usassem o Afeganistão para ameaçar os Estados Unidos. Esse é o tom do acordo. Havia também o compromisso de que o Talibã se engajaria na negociação com o governo afegão para encontrar soluções clínicas para a guerra no Afeganistão. E o acordo definiu o prazo até 1º de maio para a retirada das tropas americanas. Biden venceu a eleição e quando ele veio para o cargo, seu governo realizou uma ampla revisão do acordo feito pelo governo de Trump e, finalmente, anunciou que cumpriria o acordo. No entanto, eles precisariam que as forças dos EUA fossem retiradas com segurança do Afeganistão, então eles precisariam de mais tempo. Assim, o governo Biden estendeu o prazo para setembro. Mas as melhores partes do acordo permanecem em vigor, a retirada não é condicional. Eles acreditam e decidem fazer uma pausa na influência militar para forçar o Talibã a respeitar os direitos das mulheres e os direitos das minorias e se engajar em classes democráticas. O desejo de reconhecimento internacional em si não seria suficiente para forçar o Talibã a cumprir. Mas, até agora, vimos a pressão militar aumentar os combates e até mesmo a opinião pública não voltou contra o Talibã. Portanto, mesmo com a moral, a narrativa e a opinião pública, eles não estão realmente sob muita pressão para serem comprometidos.
AGEMT: Você acredita que este é o melhor momento para os Estados Unidos retirarem as tropas?
Rahimi: O argumento é que nunca houve um bom momento nos últimos 20 anos e a política fez o argumento de que as tropas americanas deveriam esperar até que as condições fossem resolvidas e fossem apropriados para a retirada das tropas dos EUA. E por quê isso era complicado, era um objetivo elusivo. Essa parte importante do argumento é que a presença contínua de tropas americanas é parte do problema. Portanto, Biden pensou que se os EUA continuassem presentes no Afeganistão, o governo afegão não teria motivos suficientes para realmente fazer os compromissos [propostos no acordo], realmente intensificar e lutar contra o Talibã por conta própria. Há também outros aspectos: que os EUA tentaram administrar processos de paz. Não sei se a retirada dos EUA em um momento diferente teria tido um processo de paz melhor, não tenho certeza disso. Mas acho que a forma como esse processo foi estruturado e como foi conduzido pelos americanos, dependia de um cronograma, ou seja, suas prioridades. Mas também a forma como tentaram encerrar o processo de paz foi apressada, o que minou a integridade e colocou muita pressão sob o governo afegão. Isso torna os processos de paz futuros mais difíceis, porque não é muito o que o governo do Afeganistão pode oferecer neste momento.
AGEMT: Fazendo algumas pesquisas, encontramos que o Talibã domina quase 70% do território afegão. Você acredita que quando as tropas começarem a partir, o Talibã vai dominar ainda mais e, possivelmente, torná-los mais fortes?
Rahimi: Os números sobre o quanto o território afegão é controlado pelo Talibã não são confiáveis. A forma como isso funciona é: dividir o Afeganistão em distritos. Os dados são baseados na confiança de opiniões observadas sobre qual lado do governo ou do Talibã vai prevalecer naquela área e distrito. A maioria das pessoas vive em cidades e o Talibã não controla nenhuma grande cidade. Existem números à parte. O Talibã controla uma grande parte do Afeganistão fora das grandes cidades, fora dos centros distritais. Eles controlam e têm muita presença e podem desafiar com sucesso as regras do governo em muitas partes do país. Em termos de se o Talibã pode dominar, acho que as opções não são entre assumir o controle do Talibã e colocá-lo em um sistema. A escolha é entre um processo de paz ordeiro que permitirá ao Talibã e ao governo encontrar uma maneira ordeira de encerrar o conflito ou a guerra civil. O Talibã não pode dominar o país, mesmo no auge de seu poder quando controlava a maior parte do país, eles não foram capazes de acabar com a guerra, havia uma guerra civil em andamento. Portanto, o Talibã não será aceito pelo país a um nível que possa realmente se tornar o legítimo regime no Afeganistão, mas pode empurrar o país para uma guerra civil. A questão é se o Talibã vai pressionar para que os militares assumam o controle e, como resultado, empurrar o país para uma guerra civil ou se eles vão buscar um acordo político ordeiro para liderar uma dissolução ordeira e, com sorte, terminar o conflito.
AGEMT: Como a população afegã recebeu o anúncio do presidente americano? Há medo de uma possível guerra civil?
Rahimi: Em termos de como as pessoas se sentem, quero dizer, obviamente há 38 milhões de afegãos, eles têm opiniões diferentes sobre o que é a presença dos EUA no Afeganistão. Eles tiveram reações diversas: alguns - especialmente as pessoas que foram educadas em diferentes cidades - construíram essa ideia de democracia, pluralismo e liberalismo que estavam assegurados. E agora eles se sentem traídos, têm medo de que o Talibã assuma o controle. Algumas partes do país, eu acho que acreditam que o Afeganistão sofre muitas perdas: humanas e econômicas. Acho que também é uma afirmação nacional que a retirada das tropas dos EUA dê aos afegãos a oportunidade de serem mais independentes e assumirem o controle de seu país na defesa. Então, eu acho que há uma mistura de sentimentos: há o medo do futuro, há um momento de nacionalismo orgulhoso, há também uma esperança de dissolução do conflito. Mas o medo é real, há uma ansiedade de que o que vai acontecer. O mínimo fato negativo que essa decisão teve foi criar muita incerteza sobre como será o futuro.
AGEMT: Agora sobre a universidade: você tem alunas? Como o direito delas de ir para a universidade está ameaçado agora?
Rahimi: A divisão educacional de parte do Afeganistão é na verdade muito vibrante. Temos mais de trinta universidades públicas e mais de cinquenta particulares. Há muitas alunas e alunos; no sistema de ensino básico, é seguro que as meninas representam quase 40% dos alunos. No ensino superior, pelo menos um quarto dos alunos do corpo docente são mulheres. Eles abriram para as meninas irem à escola e às universidades. Um temor com o possível retorno do Talibã seria que ficaria limitada a garantia de educação para as mulheres. Esse é um medo real e as estudantes mulheres, na verdade, têm esse medo íntimo porque o passado com a política do Talibã era muito restritivo em relação às mulheres. Em lugares que eles [o Talibã] têm controle agora, eles não mostram quaisquer mudanças em suas atitudes em relação à política para mulheres.
AGEMT: Concluindo, para você, quais são suas expectativas para o futuro nessas novas circunstâncias?
Rahimi: Em termos do que esperar no futuro, é realmente difícil dizer. Prever o futuro é impossível, mas minha esperança é que essa retirada das tropas dos EUA abra uma oportunidade para os afegãos se unirem e concordarem em fazer compromissos, difíceis de ambos os lados, para garantir e evitar a guerra civil. Seria necessário que o Talibã aceitasse a natureza pluralista do Afeganistão e concordasse em participar do processo democrático. Todas as forças contrárias ao Talibã devem se unir politicamente e falar com uma só voz, e devem se concentrar em preservar os princípios básicos e garantir que possamos ter pluralismo e democracia no Afeganistão. Como o Afeganistão é um país pluralista e as pessoas acreditam em coisas diferentes, o Talibã representa parte do país, mas não representa o país inteiro. A tarefa é encontrar uma maneira de combinar todas essas diferenças, de forma que todos se sintam incluídos e tenham uma palavra real sobre como será o sistema.

A insegurança tomou conta das pessoas durante a pandemia, seja com a saúde, com a família ou com o trabalho. Para estrangeiros, a distância da família e as diferentes experiências com políticas públicas de saúde só faz com que o medo se intensifique.
A gerente de recursos humanos da Europa, África e Oriente Médio da multinacional Bayer, Thais Costa (37), está morando na Suíça com a filha de quatro anos e o marido, desde agosto de 2019.
Para Costa não houve medo de perder o emprego, já que não houve redução de funcionários em sua área devido a pandemia. Entretanto, ela teve que construir um escritório dentro de casa. A reforma foi paga com ajuda da empresa, que direcionou uma quantia para todos os funcionários se adequarem ao home office.
Com a mudança de rotina, tendo que trabalhar em home office, Costa relata que o mais difícil de administrar foi cuidar da filha durante os horários de trabalho. “Ela é pequena, demanda atenção maior quando está em casa. Mas por sorte, as escolas estão funcionando normalmente desde maio do ano passado.”
Para Costa a administração das prefeituras em relação à proteção da população com o vírus foi boa, com lockdowns bem administrados. Entretanto, ela critica a administração da aplicação das vacinas, visto que está prevista para se vacinar apenas em agosto. “Estou decepcionada com a demora, a Suíça é um país com 8 milhões de habitantes, poderia já estar muito mais avançado.”
O gerente de processos tecnológicos global, Guilherme Heinen (39), está morando em Colonia na Alemanha desde julho de 2020 com a sua família. Onde ele mora, ainda não há previsão para que a faixa etária dele tome a vacina contra a Covid-19.
Assim como Costa, Heinen passou a trabalhar em home office desde o começo da pandemia e não sentiu medo de perder o emprego. O trabalho inclusive foi o motivo da mudança para Colonia. O gerente também acha que o planejamento da prefeitura local para reduzir o vírus teve bons resultados na diminuição de mortos
Por Daniel Gateno e João Pedro Coelho
A busca pela vacina mudou a dinâmica das relações internacionais. Os países buscam uma saída para a pandemia da Covid-19 depois de mais de um ano do primeiro caso registrado de coronavírus no mundo.
A imunização coletiva colocou a produção de vacinas em evidência e muitas nações e empresas farmacêuticas buscaram produzir imunizantes para distribuir e comercializar. “Era esperado que com o surgimento das vacinas, fosse colocado em prática a chamada diplomacia da vacina”, afirma Sidney Ferreira Leite, professor de relações internacionais da ESPM.
“As relações internacionais estão afetando o mercado das vacinas e não o contrário”, analisa Demétrius Pereira, também professor de relações internacionais da ESPM. “Os países querem conseguir um produto que é de extrema necessidade para todos e, por isso, ninguém está agindo de maneira tão diplomática. Porque os países precisam de vacina.”
A Rússia foi um dos países que apostou em uma vacina própria, a Sputnik V e ― com a comercialização do imunizante ― aumentou a sua influência em diversas regiões do globo. O governo do país foi o primeiro a anunciar a criação de um imunizante e celebrou quando a revista The Lancet, periódico especializado em ciência, comprovou a eficácia da vacina.
O imunizante de Moscou foi autorizado em mais de 40 países ao redor do mundo, como Venezuela, Hungria, Angola, Argentina, México e Irã. O Ministério da Saúde do Brasil e outros estados do país já têm acordo para garantir a Sputnik V. “A Rússia tem se posicionado muito bem nesse contexto mundial, Vladimir Putin (presidente do país) vem se beneficiando de sua vacina, enquanto os Estados Unidos demoraram muito para usá-las como uma ferramenta para projeção e sustentação de poder”, acrescenta Leite.
O governo russo comercializou o imunizante desenvolvido pelo Instituto Gamaleya com países em desenvolvimento que não tinham condições financeiras para comprar vacinas mais caras, desenvolvidas por empresas farmacêuticas do Ocidente, como os imunizantes das americanas Pfizer e Moderna e da britânica Astrazeneca, produzido em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido.
A União Europeia encomendou doses da Astrazeneca e da Pfizer e pretendia avançar rapidamente na imunização de sua população. Contudo, em virtude de uma enorme burocracia e de muita desconfiança na vacinação, os europeus viram uma terceira onda do vírus chegar no momento em poucas doses haviam sido injetadas. Por esse motivo, Alemanha e França já enxergam com bons olhos a produção da Sputnik V em território europeu.
Por mais que os países ocidentais tenham condenado abertamente a Rússia por violações de direitos humanos, principalmente na prisão do ativista político e opositor do presidente Vladimir Putin, Alexei Navalny, os europeus se mostraram dispostos a fazer negócio no setor de energia e, agora, no de vacina.
As contradições que permeiam a relação da União Europeia com Moscou também ocorrem com Pequim. O bloco entende que tanto os imunizantes chineses quanto os russos se transformaram em propaganda política dos líderes desses países.
Em reunião de líderes em fevereiro, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, afirmou que “o continente não pode se deixar conduzir por Rússia e China ― dois regimes com valores inferiores aos europeus ― enquanto esses países organizam operações em larga escala, mas também extremamente publicitárias, para fornecer vacinas”.
Apesar disso, alguns países europeus, membros ou não do bloco econômico, já assinaram contratos de maneira individual com as fabricantes orientais para a obtenção de doses. É o caso de Hungria, Sérvia e Turquia, que utilizam as vacinas fabricadas pela chinesa Sinovac nos respectivos programas de imunização.
Ainda que não tenham força na Europa, por motivos que vão desde a alegação de falta de dados por parte das agências reguladores às heranças geopolíticas da Guerra Fria, as doses fabricadas no Oriente, por China, Rússia e Índia se tornaram peças-chave no plano de imunização de países em desenvolvimento, principalmente na América Latina e na Ásia, uma vez que optaram por ― ao mesmo tempo em que imunizam as respectivas populações ― vender ou até mesmo doar vacinas a outros países.
As vacinas chinesas representam uma parcela significativa dos imunizantes comprados pelos países latino-americanos até agora. O Brasil fez acordo para a obtenção de 100 milhões de doses do laboratório Sinovac, o México comprou 77 milhões, somando as fabricadas por Sinovac, Sinopharm e CanSino, e o Chile, país sul-americano com mais doses distribuídas em relação à população, adquiriu 60 milhões de imunizantes da Sinovac.
A presença da Índia na região vem através do imunizante produzido em parceria da Universidade de Oxford com a empresa britânica AstraZeneca. O país asiático chegou a um acordo para fabricar a vacina em seu próprio território e negociá-la com outros países de maneira independente através da marca Covishield, o que possibilitou que o país se tornasse o maior produtor de vacinas do mundo. “A índia demonstra uma grande capacidade e velocidade de produção e por isso é o grande destaque dessa diplomacia de imunizantes”, avalia o professor Leite.
O imunizante indiano é tão presente na América Latina quanto as vacinas chinesas. O Brasil comprou 210 milhões de doses e México, Argentina e Peru obtiveram, respectivamente, 79, 22 e 14 milhões de doses.
Além da atuação na região, China e Índia travam um duelo por uma maior participação de suas indústrias farmacêuticas no mundo inteiro. Enquanto a Índia tem participação em 22% dos medicamentos e em mais da metade dos imunizantes exportados globalmente, a China é responsável por apenas 11% desse montante.
Apesar disso, o entusiasmo oriental para a produção e comercialização de imunizantes também enfrenta as mesmas dificuldades que as empresas farmacêuticas europeias e americanas: a falta de vacinas disponíveis para atender a todos. Em meio à alta de casos na Índia, o país reduziu a exportação de vacinas e optou por distribuir os imunizantes para a própria população.
A China também tem atrasado as remessas de imunizantes para outros países. De acordo com o jornal americano Washington Post, Pequim ainda não entregou todas as doses prometidas a Egito e Turquia. Ancara apostou na rapidez dos chineses e comprou 100 milhões de doses da vacina da Sinovac, mas Pequim ainda não terminou de enviar as primeiras 50 milhões de doses.
Brasil compra vacinas para toda a população, mas sofre com a demora
O Brasil, a despeito da postura anti-vacina adotada por seu presidente durante a maior parte da pandemia, é o terceiro país da América Latina com maior número de doses compradas em relação à população. Enquanto Chile e Peru compraram vacinas para imunizar, respectivamente, 214% e 183% do país, o Brasil tem doses suficientes para que 144% dos seus residentes sejam imunizados.
O problema das vacinas no Brasil é similar ao que acontece em diversos outros países do mundo. Elas estão previstas para chegar no decorrer de 2021, impedindo um programa de imunização em massa e imediato.
A diferença do país para os vizinhos da América Latina é que ele consegue produzir os imunizantes em território nacional. Ainda que hoje dependa de insumos provenientes da China e da Índia ― para a fabricação da Coronavac (feita em parceria com o laboratório chinês Sinovac) e da Covishield ― o Instituto Butantan pediu autorização à Anvisa, a agência reguladora do país, para o início dos testes visando à produção de uma vacina própria do instituto, batizada de Butanvac.
Questionado sobre uma possível participação do Brasil neste mercado de exportação e comercialização de vacinas, Sidney Ferreira Leite diz que o País ainda não está nessa fase por conta da vacinação de brasileiros, que anda muito lenta. “A vacinação precisa avançar, não acredito que imunizantes nacionais serão comercializados enquanto o Brasil estiver em um estágio tão crítico em relação à pandemia.”
Para Demétrius Pereira, “o Brasil tem uma tendência mais liberal, mais parecida com os Estados Unidos e, por isso, não tem um investimento estatal na produção nacional. Mas precisamos lembrar que não podemos pensar nos países só como unidades, há governos estaduais, laboratórios e empresas farmacêuticas”. Pereira também destacou que a Coronavac foi produzida em parceria com o Instituto Butantan e teve investimento do governo de São Paulo, assim como o imunizante de Oxford/Astrazeneca que teve envolvimento da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e dinheiro do governo federal.
Estados Unidos avançam na vacinação, mas mantêm ceticismo quanto à diplomacia das vacinas
Os Estados Unidos, do presidente Joe Biden, estão muito avançados em relação à vacinação. O democrata, que tomou posse em janeiro, prometia aplicar 100 milhões de doses nos primeiros 100 dias de governo. O país cumpriu a meta em 58 dias e anunciou que, em 1º de maio, todos os adultos americanos poderão receber uma vacina contra a Covid-19.
A imunização avançou tanto nos EUA, que diversas nações pedem que o país doe as vacinas que não utilizar. Em março, Washington enviou ao México e ao Canadá cerca de 4 milhões de doses da vacina de Oxford/Astrazeneca, já que o imunizante europeu ainda não foi aprovado nos Estados Unidos.
O Brasil tem interesse na obtenção de imunizantes da Astrazeneca que estão em território americano. O Ministério da Saúde quer a doação de 10 milhões das 30 milhões de doses que Washington possui em seu estoque, uma vez que os Estados Unidos já garantiram imunizantes suficientes para toda a sua população.
Enquanto países como Rússia, China e Índia estão se aproveitando do mercado de vacinas, os EUA preferem imunizar a sua população por completo, antes de agir globalmente para combater a pandemia.
“O estado não interfere tanto na produção nos Estados Unidos, os laboratórios farmacêuticos são controlados pela iniciativa privada”, afirma Demetrius Pereira. “A maneira como Washington está lidando com as vacinas é uma consequência do liberalismo econômico, pois o país não tem uma vacina própria, apesar de ter contribuído com a criação do imunizante da empresa Moderna.”
Com a imunização coletiva mais próxima, o governo Biden é pressionado em relação à quebra das patentes das vacinas. Uma proposta, encabeçada por Índia e África do Sul na OMC (Organização Mundial do Comércio) e apoiada por 55 nações, pretende facilitar a transferência de tecnologia para a produção de imunizantes a um custo mais acessível.
Washington recusou a proposta, que também sofre forte oposição das empresas farmacêuticas. A grande maioria das vacinas no mercado foram desenvolvidas por laboratórios americanos, europeus e chineses. A União Europeia e o Brasil também não apoiaram a proposta.
Considerada uma das melhores líderes do mundo no combate da COVID-19, a chanceler alemã Angela Merkel despede de seu cargo que ocupou por 16 anos. De doutora em química quântica a “líder do Mundo Livre”, Merkel deixa um grande legado. Por outro lado, o fim do “merkelismo” é apontado como um dos maiores riscos para o continente europeu e o escândalo de venda de máscaras na pandemia abala a estabilidade e favoritismo da União Democrata-Cristã (CDU), partido da Chefe de Estado.
No dia 9 de março de 2021, foi tornado público o caso da venda de máscaras durante a pandemia envolvendo dois deputados do grupo conservador CDU-CSU, que receberam comissões que somam o equivalente a R$6,3 milhões, segundo apuração realizada pelo G1. Somado com a insatisfação dos alemães em relação ao plano de vacinação em massa, o escândalo cooperou para a queda do favoritismo do governo de Angela Merkel.

Segundo o jornal “Bild”, hoje, 47% dizem não estar satisfeitos com a gestão, contra os 43% favoráveis. Os dados, entretanto, preocupam o partido que agora, mostra-se assombrado para concorrer às novas eleições nacionais que acontecem em setembro de 2021. Já comprovando a correta preocupação, a CDU obteve o pior resultado de toda sua história nas eleições regionais do dia 14 de março de 2021, em Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado.
A correspondente da BBC, Jenny Hill, explica os motivos para a queda dos indicadores. "Líderes do partido sabem que vão chegar à eleição geral de setembro sem seu maior ativo: a própria Merkel. A popularidade dela permanece alta, mas há uma insatisfação crescente com o gerenciamento da pandemia pelo seu governo."
Os resultados preliminares não consolidam a queda do partido no poder alemão. Por outro lado, o império criado por Merkel e o seu então favoritismo já considerado “inoxidável” estão completamente ameaçados em 2021.

Os passos de Angela Merkel
Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, Angela Merkel decidiu fazer parte do movimento que buscava a democratização da Alemanha. Sendo assim, integrou-se ao partido de direita Despertar Democrático. Em seguida, foi eleita porta-voz do novo governo interino liderado por Lothar de Maizière e, após o término da Guerra Fria, filiou-se ao partido conservador União Democrata Cristã (CDU).
De 1990 a 2000, Merkel recebeu inúmeras nomeações no meio político do país. Entre elas, ministra da Mulher e da Juventude, Ministra do Meio Ambiente e da Segurança Nuclear e secretária-geral do CDU.
No ano 2000, tornou-se presidente do partido e foi vista pela imprensa como uma possível grande candidata para disputar o cargo de chanceler em 2005. E assim se sucedeu. Cinco anos depois, Angela Merkel foi eleita a Chanceler Federal da Alemanha
Norbert Lammert, ex-presidente do Bundestag, anunciou a vitória da nova líder dizendo: "Querida Merkel, você é a primeira mulher eleita para ser chefe de governo na Alemanha. Um sinal forte para as mulheres, e certamente para alguns homens."
Em entrevista para AGEMT, o alemão Heinz Schaefer comenta: "No início de sua chancelaria, ela deu continuidade às reformas trabalhistas e sociais iniciadas pelo Chanceler Schröder e, assim, contribuiu para o crescimento econômico e a estabilização.”

No cenário internacional, Merkel tornava-se a cada ano mais consolidada e forte, sendo considerada por muitos a mulher mais poderosa do mundo, “líder do Mundo Livre” e a verdadeira líder da União Europeia.
Atenta às mudanças sociais e as guerras, Merkel fez da Alemanha o país que mais recebeu refugiados, alterando regras migratórias e adotando a política de portas abertas. De 2015 a 2019, segundo a Eurostat, foram mais de 475 mil pedidos de asilo. Com sua fala marcante "wir schaffen Das", que poderia ser traduzida como “nós conseguiremos”, a Chefe se mostrou ser uma líder também humanitária, não apenas política.
Entretanto, apesar de elogiá-la por suas ações com os refugiados, Schaefer ressalta: “Depois de seus primeiros anos, seria hora de se dedicar ativamente à política europeia. Ela estava muito hesitante e, como líder do país europeu mais forte, não mostrou liderança. Quando Macron se tornou presidente da França em 2017, ela também teve a chance de fazer a Europa avançar com ele, mas infelizmente não aproveitou a oportunidade devido a preocupações nacionais do seu partido.”
O maior desafio do governo foi enfrentado em 2020, com a pandemia do coronavírus. Cientista, Merkel obteve sucesso com a forma que guiou a situação. Logo no início, em vídeo, a alemã disse “A Alemanha tem um sistema de saúde excelente, talvez um dos melhores do mundo. Isso pode nos dar segurança (...) Eu tenho absoluta certeza de que vamos superar essa crise". A fala rendeu-lhe o "Discurso do Ano" de 2020 por um painel de especialistas em retórica, segundo o Deutsche Welle Brasil.
Com a aproximação das festas de final de ano de 2020, a líder fez um discurso que viralizou onde ela pedia para os alemães permanecessem em casa. “Isso me dói, dói muito no meu coração, mas se o preço dessas sutilezas são essas fatalidades, que agora são 590 pessoas por dia, então isso não é aceitável e temos que nos apegar a isso”.
No entanto, com o início da vacinação, a chanceler foi atingida por uma onda de críticas pela lentidão no processo de imunização da população, que se intensificou em 2021. Em discurso para toda Europa, o diretor da OMS Hans Kluge disse: "As vacinas são a nossa melhor saída para a pandemia. Não só funcionam, mas também são muito eficazes na limitação de infecções. No entanto, a aplicação dessas vacinas está a decorrer a uma lentidão inaceitável”.
Bárbara de Oliveira, jovem teuto-brasileira, por telefone, conversou de Munique com a AGEMT e disse: “Agora na crise do coronavírus, sua grande fraqueza está se mostrando novamente. Ela mal pode esperar para ver o que os outros líderes fazem ou o que a maioria da população deseja. Teria que governar muito mais e não apenas agir”.
Angela Merkel reconheceu as falhas na estratégia e disse que os consultórios médicos seriam habilitados até o final de março de 2021 para aplicarem as vacinas, em uma tentativa de acelerar o processo e expandir locais de vacinação, já que na Alemanha existiam apenas centros de vacinação específicos e não consultórios médicos.
Merkel se despede da chancelaria em um ano conturbado, com críticas e um futuro incerto de seu partido. Ainda, a líder combate o avanço da extrema direita e deixou como recado para seu sucessor, o apelo pela unidade do país. Oliveira conclui, “Em resumo: economicamente estável, humana na política de refugiados e Alemanha desamparada na pandemia”.
A despeito de todos os problemas pandêmicos, o ano de 2020 foi muito lucrativo para a empresa de varejo Amazon. De acordo com o portal “e-invest”, vinculado ao grupo Estadão, não só o número de acessos ao portal de vendas cresceu assustadoramente, como nos primeiros nove meses os rendimentos da companhia subiram cerca de 70% em comparação com o mesmo período no ano passado; investindo em tecnologia, logística e fundos, ela se tornou a líder disparada do setor, passando a deter cerca de 45% do comércio eletrônico dos Estados Unidos.
Com o aumento dos serviços, o Magnata Jeff Bezos – homem mais rico do mundo e dono de uma fortuna de U$200 bilhões – resolveu promover uma grande contratação, além de aumentar os salários de seus funcionários. Foram 100 mil vagas de empregos e um acréscimo de U$ 2 dólares a hora de trabalho, medida que animaria pessoas sofrendo com o desemprego e baixa renda na pandemia; contudo, passado algum tempo, os trabalhadores viram esse valor ser reduzido a zero, o que causaria inúmeros protestos.
Ao que parece, a alta demanda da empresa exigia que os trabalhadores realizassem mais de 260 empacotamentos por dia, uma tarefa que os obrigava a caminhar mais de 30km cotidianamente dentro dos grandes depósitos. Além disso, muitos deles diziam viver sobre alta pressão, chegavam a precisar urinar em garrafas plásticas durante o expediente e executar trabalhos difíceis num tempo determinado: quando não atendiam as exigências costumavam ser demitidos de maneira fria, “tratados como robôs”, segundo depoimento de uma ex-funcionária.
Recentemente, como relatou uma matéria do portal “Tecnoblog,” um grupo de ativistas, sindicatos e trabalhadores demitidos organizou um movimento internacional de protesto, chamado “Make Amazon Pay”, que mostrou as caras pela primeira vez numa ação que ocorreu na última “Black Friday.” Foram quinze países, incluindo o Brasil, a colaborar com o boicote, que contou também com a participação de algumas potências como Estados Unidos, Reino Unido e Índia. Na Alemanha sete centros de distribuição foram paralisados, em Bangladesh, houve protestos em frente às dependência da empresa – e em muitas localidades a frase “Make Amazon Pay” foi projetada em prédios da companhia.
Na última quinta-feira, o grupo enviaria uma carta com diversas reivindicações ao bilionário da Amazon assinada por 401 parlamentares e funcionários públicos de 34 países pedindo não só que a empresa pague seus impostos, mas que melhore as condições de trabalho e repare qualquer dano que tenha causado ao meio-ambiente. Mesmo com um fundo de U$ 10 bilhões de dólares, destinado a combate o aquecimento global, o CEO recebe críticas por conta de sua empresa ter uma emissão de carbono maior que a de dois terços dos países da ONU – fato que ocorre principalmente pela alta demanda de transportadoras.
No documento oficial – disponível em seu site – constam pedidos que vão desde o recrudescimento dos salários – conforme o lucro da empresa – até a readmissão daqueles que contestaram as políticas trabalhistas da Amazon. Também exigem que ela se comprometa a não monitorar quaisquer grupos ou sindicatos ensaiando protestos e reinvindicações. Na crise mundial, a Amazon foi uma das empresas que mais lucrou, e graças ao sua política de incentivo e abono fiscal, deixou de pagar 11bilhões de dólares de imposto aos cofres americanos.
Em resposta, a Amazon criticou o grupo. Disse que faziam uma série de afirmações enganosas e ainda que seus líderes estavam interessados em se autopromover às custas da marca. O título da nota publicada no jornal Business Reader a favor da empresa, deixa clara a mensagem: “Trabalhadores e Ativistas estão convocando protesto ao redor do mundo enquanto a companhia tenta abonar os trabalhadores com um bônus de férias no valor de U$ 300,00.” Mesmo que a notícia seja verdadeira, o histórico de descaso e indiferença com trabalhadores causa desconfiança, e os protesto, que chegam hoje a proporções globais, devem continuar por um bom tempo.