A Republica Democrática do Congo - herança colonial em meio a sangue e cobalto.
por
Pedro Bairon
|
16/06/2025 - 12h

 

“Da borracha à maçã” é um documentário que traça a longa linha de continuidade entre a violência colonial imposta ao Congo e os horrores da guerra civil que ainda hoje assombram o país. A partir da exploração genocida promovida pela Bélgica no século XIX, o filme revela como as feridas abertas pelo colonialismo jamais cicatrizaram — apenas se transformaram em novas formas de conflito, exclusão e disputa por poder.

O documentário mergulha nas causas históricas e étnicas da guerra civil congolesa, dando atenção especial à tensão entre tutsis e hutus, grupos marcados por rivalidades que ultrapassam fronteiras e carregam os traumas do genocídio em Ruanda. A entrada de milícias hutus no leste do Congo após 1994, e a resposta armada dos tutsis, reacenderam conflitos internos, arrastando a população civil para o centro de uma guerra prolongada, brutal e muitas vezes esquecida pelo olhar internacional.

“Da borracha à maçã” não é apenas um registro de tragédias; é uma crítica à forma como a história se repete quando as raízes da violência são ignoradas. Mostra que o mesmo sistema que arrancou borracha das florestas a golpes de chicote, e que hoje arranca cobalto das minas congolesas, deixou um legado de instabilidade, impunidade e sofrimento. Um chamado à memória e à justiça, diante de um conflito que não começou nos anos 1990 — mas sim nos porões do colonialismo europeu

 

Duração: 26:10 

Autor: Pedro Bairon 

Para visualizar o documentário acesse o link:  

.https://youtu.be/kqtTs-vZCwo

Voluntários foram vítimas de sequestro ilegal em alto mar
por
Maria Mielli
|
11/06/2025 - 12h

Nesta segunda-feira (9), o barco Madlen — batizado em homenagem a primeira e única mulher pescadora de Gaza — que levava Greta Thunberg, Thiago Ávila e outros ativistas ligados à organização Coalizão Flotilha da Liberdade foi interceptado e sequestrado pelas forças israelenses.

Os voluntários, que tinham como missão romper o bloqueio de Israel a faixa de Gaza e transportar ajuda humanitária até o povo palestino, foram alvos de drones e soldados que impossibilitam a chegada de qualquer tipo de ajuda à região. 

“A conexão foi perdida no Madleen. O exército israelense abordou o navio” foi a última mensagem dos ativistas, em seu canal de comunicação no Telegram. 

1
Bombardeio no dia 1 de junho em Gaza/ Foto: Jehad Alshrafi
​​

Terça-feira (10), o Ministério das Relações Exteriores, afirmou que Thiago Ávila já chegou ao aeroporto de Tel Aviv (Israel) e conta com o apoio da embaixada brasileira que assiste o caso de perto. O esperado era que ele e os demais ativistas fossem deportados para seus respectivos países, mas até o momento da publicação dessa matéria, Thiago e outros 8 voluntários, como a deputada franco-palestina Rima Hassan, seguem sob prisão política de Israel. Greta foi a única verdadeiramente deportada. Os demais se recusaram a assinar o termo proposto pelos israelenses e foram enviados para prisão em Givon. Thiago aderiu greve de fome e Rima foi enviada a confinamento solitário após escrever "Palestina livre" em parede da prisão. 

“Eles cometeram um ato ilegal nos sequestrando em águas internacionais e contra nossa vontade nos trazendo para Israel, nos mantendo no fundo do barco, não nos deixando sair e assim por diante. Mas essa não é a história real aqui. A verdadeira história é que há um genocídio acontecendo em Gaza e uma campanha de fome sistemática” afirma a ativista Greta, em vídeo divulgado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

Em janeiro deste ano, o site de notícias BBC, apurou que, até então, o número de palestinos mortos passava da casa dos 46 mil. Fora a destruição local, no qual diversos hospitais e escolas, e seus respectivos frequentadores (crianças e profissionais da saúde) foram também vítimas dos ataques de Israel. 

A guerra que dura mais de 2 anos é marcada por ser uma das mais violentas e desonestas da história, repleta de crimes de guerra. Israel não ataca somente os palestinos, mas também aqueles que demonstram apoio e/ou estão tentando exercer seu trabalho, como é o caso da imprensa. Em abril deste ano, durante a madrugada, tendas de imprensa do hospital Nasser, localizado no sul da Faixa de Gaza, foram vítimas de bombardeios. O ataque assassinou os jornalistas Helmi al-Faqawi e Yusef al-Jazindar e deixou outros sete feridos. 

Fatma Hassona, fotojornalista palestina responsável por divulgar diversas barbáries, foi outra vítima do exército israelense e morreu ao lado de nove membros da sua família. O cineasta Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar No other land — que expõem as vivências dos palestinos — foi vítima de um sequestro que o deixou algemado por uma noite sendo torturado numa base militar, segundo o colega e diretor do filme, Yuval Abraham. 

O jornalista palestino Ahmed al-Naouq, em entrevista realizada no dia 3 de junho ao canal Piers Morgan Uncesored, afirmou: “Essa não é uma guerra religiosa. É uma guerra entre colonização e colonizados. Entre ocupantes e um povo sob ocupação”. Para o presidente da Fepal, Ualid Rabah, esse genocídio é a maior matança de crianças desde a Segunda Guerra. Ainda em recentes postagens, a federação emitiu uma nota oficial no Instagram: "Se a humanidade parou a Alemanha nazista e destruiu seu regime, é nosso dever histórico parar o Israel sionista e destruir seu regime".

Para brasileiro, governo quer causar um estrago imediato na vida dos estrangeiros
por
Tamara Ferreira
|
03/06/2025 - 12h

 

No dia 11 de abril, o governo dos Estados Unidos enviou uma carta a Harvard exigindo uma reforma administrativa, auditorias com dirigentes, professores e alunos, além do encerramento dos programas de diversidade, equidade e inclusão. A Casa Branca também determinou a proibição do uso de máscaras — uma medida vista como direcionada aos protestos pró-Palestina, os quais têm sido tratados pelo governo como manifestações movidas por antissemitismo.

Três dias depois, foram congelados os contratos e subsídios federais da instituição, bloqueando cerca de US$2,3 bilhões (13,5 bilhões de reais). No mesmo dia, Alan Garber, presidente da universidade, declarou que as exigências extrapolam os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

“Nenhum governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, disse Garber em um comunicado para os alunos. “Esses objetivos não serão alcançados por meio de imposições de poder, desvinculadas da lei, para controlar o ensino e a aprendizagem em Harvard e ditar como operamos”, completou. 

Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump.
Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump. Foto: REUTERS/Nicholas Pfosi

Ainda em abril, o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) afirmou que Harvard poderia perder a autorização para matricular estudantes estrangeiros caso não cumprisse as exigências do governo Trump. Na época, a secretaria do DHS enviou uma carta à universidade exigindo que, até o dia 30 daquele mês, fosse apresentado o registro das chamadas 'atividades ilegais e violentas' praticadas por estudantes estrangeiros com visto. Caso contrário, Harvard perderia o privilégio de matricular novos alunos internacionais.

Na carta enviada à instituição, o DHS declarou: “E se Harvard não puder comprovar que está em total conformidade com seus requisitos de notificação, a universidade perderá o privilégio de matricular estudantes estrangeiros”.

No dia 22 de maio, o governo Trump cumpriu a ameaça e cancelou a certificação do Programa de Estudantes de Intercâmbio de Visitantes da universidade. Com isso, ficou impedida de matricular novos alunos estrangeiros, e cerca de 6,8 mil estudantes internacionais, que representam 27% dos alunos da universidade, foram orientados a buscar transferência para outras instituições.

Um dia depois, após Harvard entrar com uma ação contra o governo, a Justiça dos Estados Unidos decidiu derrubar a proibição. Com isso, os estudantes já matriculados e os novos ingressantes voltaram a ter autorização para obter o visto de estudante no país.

Em entrevista à AGEMT, Danilo Linhares, estudante de Direito de Harvard, afirmou que o objetivo da proibição é causar um estrago imediato nas universidades. “A ilegalidade da medida é tão gritante que é difícil acreditar que o próprio governo ache que tem chance real de vencer na Justiça. Mas acho que o objetivo deles nem é exatamente ganhar. É causar um estrago imediato — muita universidade menor não tem recursos nem disposição para comprar essa briga nos tribunais e, talvez, acabe cedendo às exigências."

Donald Trump justificou as medidas afirmando que Harvard “perdeu o rumo” e que a universidade “só ensina ódio e estupidez”. 

Nas audiências realizadas nos dias 27 e 29 de maio, a juíza Allison Burroughs prolongou a suspensão da decisão do governo, permitindo que Harvard continue recebendo estudantes internacionais até que os dois lados apresentem seus argumentos no tribunal.

Região da Caxemira é reivindicada há mais de sete décadas pelos dois países e concentra interesses estratégicos globais, inclusive da China
por
Chloé Dana
|
25/05/2025 - 12h

          Na terça-feira do dia 6 de maio, as autoridades indianas afirmaram que realizaram bombardeios em nove locais que hospedam terroristas na Caxemira controlada pelo Paquistão. O Paquistão, por sua vez, apresentou uma narrativa distinta: informou que houve ataques aéreos em seis áreas, todos voltados a alvos civis, resultando em oito mortes, incluindo a de uma criança. O governo paquistanês comunicou aos meios de comunicação que conseguiu derrubar cinco aeronaves e um drone indiano. O governo indiano responsabilizou o Paquistão, que negou estar envolvido. Os bombardeios foram desencadeados após um ataque que ocorreu em abril na Caxemira indiana, onde 26 vidas foram perdidas devido a uma ação armada em uma área turística. 
As Forças Armadas do Paquistão, na véspera, reivindicaram a destruição de cinco caças indianos na porção da Caxemira sob administração de Nova Délhi. Embora as autoridades indianas não tenham confirmado oficialmente as perdas, uma fonte ligada às forças de segurança, que preferiu não se identificar, informou que três aeronaves militares foram abatidas.

          Ao conversar com o cientista político e ex-professor de Relações Internacionais na UERJ, FGV e Candido Mendes, Maurício Santoro, o profissional nos explica sobre a crescente do conflito da Caxemira desde 1947, as políticas que os países confrotam nos dias atuais e como podemos entender melhor essa história. Veja a reportagem 

 

Ex-presidente uruguaio lutava contra um câncer no esôfago; notícia foi confirmada pelo atual presidente
por
Marcelo Barbosa
|
14/05/2025 - 12h

 

 Nesta terça-feira (13), faleceu José “Pepe” Mujica, ex-líder do Uruguai. Aos 89 anos, ele travava uma batalha contra um câncer no esôfago desde abril do ano anterior. A causa exata da morte ainda não foi informada.

Na rede social X, o atual presidente do país, Yamandú Orsi, confirmou a notícia: “É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e companheiro. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor ao povo uruguaio.”

Ontem (12), a esposa de Mujica, Lucía Topolansky, já havia declarado que ele estava “em estado terminal e recebendo cuidados paliativos”.

A trajetória de Mujica foi marcada por sua liderança como uma das figuras mais emblemáticas da esquerda no Sul Global. Desde a infância, sob influência da mãe, Pepe se apaixonou pela literatura e pela política. Criado com a irmã, perdeu o pai aos 7 anos de idade. Iniciou sua carreira política como secretário da Juventude no Partido Nacional.

Foi também um dos fundadores e guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, grupo que buscava uma revolução socialista no Uruguai. Seus integrantes ficaram conhecidos por realizar assaltos a bancos para redistribuir o dinheiro entre os mais pobres. O período de maior atividade do grupo coincidiu com a ditadura militar no país, entre 1973 e 1985.

Mujica foi capturado quatro vezes, passando seu mais longo período de encarceramento em 1972. Mesmo assim, conseguiu fugir duas vezes. Durante a prisão, foi mantido em solitária e submetido a intensas torturas. Sua primeira detenção foi em 1964, após o assalto a uma fábrica em Montevidéu. Em 1971, foi preso novamente, mas conseguiu escapar junto a centenas de detentos. No total, passou mais de 14 anos na prisão.

Após ser libertado por um projeto de anistia, Mujica participou da fundação do Movimento de Participação Popular. Apesar do passado como guerrilheiro, declarou em entrevista ao jornal Búsqueda que se tornou um defensor da democracia e que considerava seus atos da juventude um erro. Na década de 1990, ocupou os cargos de senador e ministro da Agricultura.

Como presidente do Uruguai (2010-2015), Mujica ganhou notoriedade mundial por defender pautas progressistas, como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto.

Entrou para a história uruguaia como um líder humanista, priorizando o combate à pobreza e à fome. Mesmo no cargo mais alto do país, manteve um estilo de vida simples: recusou-se a morar no palácio presidencial e preferiu continuar em seu sítio nos arredores de Montevidéu. A imprensa internacional o apelidou de “o presidente mais pobre do mundo”. Fiel ao seu Fusca 1987, doava a maior parte de seu salário, reforçando sua imagem de político avesso a luxos.

Reprodução: Reuters/Tony Gentile
Pepe Mujica no Festival de Veneza | Reprodução:Reuters/ Tony Gentile 

Sob sua gestão, a economia uruguaia apresentou resultados expressivos, com crescimento médio anual de 5,4% e redução significativa dos índices de pobreza. Ainda assim, enfrentou críticas da oposição, que o acusava de provocar aumento do déficit fiscal.

Em 2012, Mujica esteve no Brasil para a cúpula Rio+20 da ONU, realizada no Rio de Janeiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota de pesar, afirmando: “Ele foi um grande amigo do Brasil.”

Mujica nunca escondeu sua visão serena sobre a morte, como demonstrou em diversas entrevistas: “E, por favor, não vivam com medo da morte, mas, a certa altura da vida, você sabe que, um pouco antes ou um pouco depois, ela vai chegar”, declarou em uma conversa par um livro.

 

por
Maria Alice Prado
|
14/05/2020 - 12h

Enquanto atravessam a pandemia do coronavírus, os Estados Unidos  vivem a fase das eleições primárias do processo eleitoral que nomeará o seu 46º presidente. Diferentemente do Brasil, todas as etapas do processo são indiretas, a começar pelas primárias, nas quais os eleitores dos dois partidos, o Democrata e o Republicano, votam para uma lista de delegados comprometidos com um determinado candidato. Os delegados  então nomeiam oficialmente um candidato para concorrer em nome do partido. No cenário primário de 2020, quando a disputa começou, em 3 de fevereiro de 2020, havia 11 candidatos principais. Por fim, a eleição geral em novembro é também uma eleição indireta, na qual os eleitores votam em uma lista de membros do Colégio Eleitoral, que, por sua vez,  elegem diretamente o presidente e o vice-presidente. 

Após a “Superterça”, que ocorreu em 3 de março, quando os americanos foram às urnas escolher os delegados que representam os pré-candidatos do Partido Democrata, a corrida presidencial se afunilou: Michael Bloomberg e Elizabeth Warren abandonaram a corrida, deixando três candidatos restantes: Joe Biden e Bernie Sanders, os principais, e Tulsi Gabbard, que, apesar de ter permanecido na corrida após a “Superterça”, logo desistiu e endossou a candidatura de Biden.

Em 8 de abril de 2020, a corrida presidencial viu Sanders, um senador progressista, desistir, deixando Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, como o único candidato importante, fazendo-o se tornar o candidato presumido do Partido Democrata. O nome presumido do Partido Republicano é o atual presidente Donald Trump, que, eleito em 2016, busca a reeleição. O vencedor da eleição presidencial de 2020 está programado para tomar posse em 20 de janeiro de 2021.

Sob a presidência de Donald Trump, os Estados Unidos recuperaram a prosperidade: a economia cresceu por três anos consecutivos (2,4%, 2,9% e 2,3%), o desemprego atingiu mínimas históricas (em fevereiro, foi o menor em 50 anos), a inflação permaneceu baixa, os salários aumentaram e o declínio industrial foi contido. Porém, o bom desempenho da economia foi revertido após o início da pandemia. O PIB do país caiu 4,8% no primeiro trimestre deste ano e o desemprego subiu de 3,5% para 4,4% em março. 

Segundo o UOL, o desempenho do índice Dow Jones, que acompanha a cotação das ações das 30 maiores empresas do país, costuma ser bastante ressaltado por Trump, já que indica a geração de valor no mercado financeiro do país. O índice atingiu níveis recordes na atual administração, mas tem mostrado bastante oscilação nos últimos meses, o que gera preocupações do mercado em relação à guerra comercial com a China, além da piora nas expectativas para a economia global. Com o surto de coronavírus, o Dow Jones teve o pior primeiro trimestre desde que foi criado, em 1896.

Em meio à pandemia, as projeções econômicas para Donald Trump, caso consiga a reeleição, ainda estão se desenhando. Na semana do dia 16 de abril, Trump começou a planejar a reabertura da economia norte-americana em fases, de acordo com a situação atual e a necessidade de cada estado. O presidente sancionou a injeção de US$ 2 trilhões na economia do país, a fim de combater os efeitos negativos da Covid-19. 

Trump teve um resultado bastante satisfatório na "Superterça". Apesar de o voto não ser obrigatório no país, os eleitores republicanos compareceram em peso às urnas, o que demonstra o apoio popular ao atual presidente, que venceu todas as disputas no dia. Em 17 de março de 2020, tendo conquistado todos os estados e todos os delegados, exceto um, Trump tornou-se o virtual candidato  do Partido Republicano.

Logicamente, o êxito de Trump se tornou um fator importantíssimo para o que viria a se desenhar no partido adversário. Os democratas, em sua maioria, escolheram o candidato que acreditavam ter maiores chances de derrotar Trump em novembro, e não necessariamente aquele que melhor sintetizava as convicções do partido. Em consequência, a ameaça de vitória do atual presidente foi um dos fatores que levaram Bernie Sanders a abandonar a corrida presidencial, deixando na disputa um candidato com mais chances de derrotar Trump.

Segundo a UOL, o atual presidente segue sendo mais popular que Biden nos estados decisivos, em parte por conta dos eleitores brancos da classe trabalhadora. Porém, pesquisas divulgadas pela Reuters e pelo instituto Ipsus na última semana de abril apontaram que 45% dos eleitores registrados apoiavam Biden, enquanto 39% disseram que votariam em Trump. Outra pesquisa da Reuters e do Ipsos, divulgada em 12 de maio, mostrou Biden oito pontos à frente de Trump em todo o país. O crescimento das intenções de voto no democrata é atribuído à má conduta do atual presidente durante a pandemia. 

Joe Biden é o pré-candidato considerado centrista, ou seja, apresenta propostas mais moderadas para governar a nação. Tendo passado oito anos como vice-presidente de Barack Obama, ele herda grande parte do legado –  e algum capital político –  do ex-mandatário, o que ajuda a explicar um de seus trunfos: sua alta popularidade com o eleitorado negro americano e com a população mais velha.

De acordo com a BBC, Barack Obama acreditava que Joe Biden teria apelo com eleitores brancos de classe média e da classe trabalhadora, por isso o escolheu como colega de chapa em 2008. Biden foi senador por Delaware por mais de três décadas antes de se tornar vice-presidente. Seu vínculo estreito com Obama, a quem costuma se referir como irmão e de quem já possui apoio declarado, pode continuar sendo um fator-chave para manter sua força nesse público.

As principais bandeiras de Biden giram em torno da reconstrução da classe média e do investimento na infraestrutura federal. Sua proposta de imigração prevê um novo caminho para a obtenção da cidadania americana e significaria uma reversão das políticas implementadas por Trump na fronteira. As propostas de Biden para a educação aumentariam o financiamento para escolas em áreas de baixa renda, ajudariam professores a quitarem dívidas adquiridas em sua formação e dobrariam o número de profissionais da área médica trabalhando em escolas.

No âmbito econômico, Biden pretende aumentar impostos sobre investimentos e outras rendas passivas (que independem de trabalho), além de propor a revogação da medida de Trump de cortar impostos para empresas milionárias. O democrata defende também a elevação do salário mínimo dos atuais US$ 7,25 para US$ 15 por hora. 

Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que, com a eventual vitória de Biden, a possibilidade é de retomada de uma linha mais ligada à agenda social e de estímulos financeiros, aproximando-se mais de uma política keynesiana na economia, que, resumidamente, é uma doutrina que defende o Estado como um agente ativo contra a recessão e a alta do desemprego, em oposição ao liberalismo, que defende um Estado o menor possível

Na área de saúde, Biden propõe um plano que ampliaria o "Affordable Care Act"  – que ganhou a alcunha de Obamacare, por ser o principal projeto do ex-presidente para o setor. O Obamacare impôs regulamentação aos preços de planos de saúde privados e ampliou a parcela da população que pode acessar os planos de saúde públicos já existentes, como o Medicare e o Medicaid, que subsidiam a assistência a idosos, deficientes e pessoas de baixa renda. O plano de Biden prevê a criação um forte subsídio ao programa, para reduzir os custos de cobertura para a população. Sua proposta inclui uma opção em que as pessoas poderiam pagar por um plano de saúde público similar ao Medicare.

O ex-candidato à Casa Branca Bernie Sanders já manifestou seu apoio a Joe Biden na corrida pela presidência, dizendo que é hora de unir esforços para derrotar Donald Trump em novembro. Cristina Pecequilo explica que a candidatura de Sanders já estava em uma encruzilhada desde a realização da "Superterça"  e das primárias seguintes: “Naquele momento ficou comprovado que a sua candidatura repetia problemas já encontrados nas primárias de 2016: base pouco abrangente, em particular entre o eleitorado negro, limitada a uma parcela mais rica e branca da população, e sem mobilizar plenamente a juventude. Ainda que tenha avançado entre a comunidade latina, a rejeição a Sanders em bases tradicionais do partido democrata era muito grande".

Doutora em Ciência Política pela USP e uma das maiores especialistas do Brasil em política externa dos Estados Unidos, Pecequilo ressalta que Trump, apesar de tudo, ainda tem para si a vantagem da máquina governamental e a desunião dos democratas, que preferem muitas vezes não votar em seu próprio candidato e se abster do que tentar um compromisso interno entre correntes para derrotar os republicanos. Todas essas questões pontuam que a saída de Sanders foi positiva para os democratas, porque Biden ainda é visto por parte do público democrata como um candidato mais competitivo para enfrentar Trump.

A pandemia de coronavírus forçou a suspensão de todas as campanhas políticas, já que a maior parte do país permanece sob a ordem de ficar em casa. Analistas políticos afirmam que a crise da Covid-19 ainda pode afetar de forma incerta o processo eleitoral, devido ao cancelamento das ações tradicionais como atos políticos, visitas porta a porta, encontros cara a cara, que são cruciais para os americanos. A fase das eleições primárias deve ser concluída até o final do primeiro semestre de 2020 e o presidente eleito deve ser nomeado somente em novembro. Até lá, o mundo todo aguarda o desfecho da pandemia do coronavírus e também os impactos que a atual crise terá na economia e na política global, a começar por sua maior potência.
 

Foto da capa: Numa Roades/Creative Commons

por
Giovanna Colossi Ratão
|
21/11/2019 - 12h

Por Giovanna Colossi e Mariana Bocaiuva

 

Nancy Fraser foi ao cerne da questão ao analisar as últimas revoltas políticas que têm assolado o mundo desde 2008, ano da última crise econômica mundial, e perceber do que realmente se trata o Brexit, no Reino Unido, a rejeição de reformas de Matteo Renzi, na Itália, a eleição de Donald Trump e Jair Bolsonaro. 

A professora de filosofia e política da New School for Social Research, em Nova York explicou em artigo publicado na revista Dissent Magazine que “embora sejam diferentes em ideologia e objetivos, estas insurreições eleitorais compartilham a mesma meta: todas elas rejeitam a globalização corporativa, o neoliberalismo e o establishment político que os promove”.

A autora do livro Fortunas do Feminismo: do Capitalismo de Estado à Crise Neoliberal completa “em todos estes casos, os eleitores disseram ‘Não!’ à combinação letal de austeridade, livre comércio, débito predatório e empregos precários e mal pagos, elementos que caracterizam o capitalismo financeiro dos dias atuais.”

O acirramento na guerra comercial entre Estados Unidos e China e a previsão de uma desaceleração econômica mundial ainda maior em 2020, de 2,9 em 2019 para 3% no ano que vem, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prepara os países para um crescimento econômico mundial ainda mais lento, dado alarmante que se soma com a notícia de que duas potências – Alemanha e China – também não conseguiram manter o nível de crescimento que demonstravam nos últimos anos, gerando desconfiança no mercado financeiro, que já começa a falar sobre um novo possível crash.

A lembrança da crise de 2008 causa pânico em países que sofrem desde 2012 com os  choques causados pela quebra do sistema financeiro americano e em consequência da Europa. Membros da União Europeia enfrentam a possibilidade de uma terceira crise econômica na Itália, o Reino Unido permanece no limbo da sua saída do bloco e as possíveis consequências caso não haja um acordo.

Os pigs europeus e a lenta recuperação desde 2012 demonstram a incapacidade da União Europeia de lidar com esse novo cenário de crise do capitalismo neoliberal, como demonstra o caso da Itália, que exemplifica as falhas no acordo de forma didática.

A partir do Tratado de Maastricht, em 1992, os países agora membros da União Europeia passaram a conviver sob as mesmas regras e em 2002, estabeleceram a introdução da moeda comum: o euro – regido por uma estrutura econômica, a União Econômica Monetária da União Europeia (UEM), que conta com instituições e mecanismos regulatórios que praticam regras macroeconômicas obrigatórias a todos.


Disciplina fiscal, redução da inflação, aumento na participação dos lucros, contenção salarial e diminuição do endividamento público fizeram da Itália um exemplo, porém acabaram com a demanda doméstica.

 

taxa de pobreza europa

 

A indústria do país foi rapidamente sufocada pela política de livre comércio da UE e viu a Alemanha dominar as fábricas do país com o seu aparato tecnológico fazendo com que os italianos perdessem competitividade e ficassem defasados, obrigando o país a importar cada vez mais produtos e se especializar em setores específicos como o têxtil.

Impossibilitados de mexer na política cambial estipulada pelo Banco Central Europeu ao bloco, a Itália viu as suas exportações diminuir devido às desvantagens do alto valor do euro em comparação a outras moedas, impossibilitado de usar a macroeconomia para tentar estimular a economia interna e se tornar mais competitiva, hoje a Itália não encontra solução para os seus problemas econômicos e coloca a sua salvação nas mãos de discursos cada vez mais radicais, que incitam ódio, xenofobia, mas conseguem apoio popular ao prometer a saída do país do bloco europeu
Para o sociólogo alemão Wolfgang Streeck, A União Europeia precisa acabar para que países como Itália, Espanha e Grécia tenham alguma chance de se recompor, conforme afirmou em entrevista ao jornal espanhol El País.

“Europeus se encurralaram, puseram uma camisa de força. Sair do euro será custoso em curto prazo, mas em longo prazo seria inclusive mais custoso continuar nele. A Europa do sul sai muito prejudicada do desenho da zona do euro: o euro é um regime monetário para favorecer a Alemanha e seus exportadores.”, afirma o membro do Instituto Max Planck e escritor do livro How will Capitalism End. Radical, Streeck compara a União Europeia a um experimento de autodestruição.

Sem expectativas claras de melhora econômica, países como Itália, Reino Unido e França têm dado voz para discursos cada vez mais radicais. A reviravolta econômica não foi a única razão, mas o escopo político mundial e regional, fortaleceu os movimentos de extrema-direita em toda a Europa e leste europeu, assim como em outros países.
Com retóricas anti-imigratória e de anti-integração o século presencia um novo ciclo do fascismo, chamado de “neofascismo”. Com o ápice de fluxo de imigrantes atingido em 2015, esses discursos foram fortalecidos por movimentos defensores de uma causa xenófoba e racista.

Um exemplo de caso onde as políticas xenófobas foram aplicadas é a própria Itália, que proibiu a entrada de um navio com 629 imigrantes em 2016, o governo ainda reforçou que aderiria à política linha-dura, conforme afirmou o ex-ministro do Interior italiano e líder da Liga — partido de extrema-direita —  Matteo Salvini ao publicar em suas redes sociais a fala: “A partir de hoje, a Itália começa a dizer ‘não’ ao tráfico de seres humanos, ‘não’ ao negócio da imigração clandestina”.

De acordo com os dados levantados pelo governo francês, as eleições de maio de 2017, no país, tiveram a ascensão da extrema-direita comprovada, com os 34,5% dos votos à favor da candidata a presidência Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, que ficou em segundo lugar nas urnas, perdendo para Emmanuel Macron. Le Pen é uma das maiores lideranças das recentes manifestações da extrema-direita na Europa, que vem crescendo.

Dois anos depois, nas eleições para o Parlamento Europeu - em maio de 2019, Le Pen ganhou do Presidente Francês, Emmanuel Macron, com a margem de 1% - onde obteve entre 23% à 24% dos votos e Macron 22,5%. O que demonstra uma aprovação cada vez maior de partidos como a Frente Nacional, um partido de propostas políticas de extermínio.

Em uma entrevista à revista espanhola Contexto, Wendy Brown — cientista social especializada em neoliberalismo — afirmou que os políticos de direita costumam amenizar os problemas do sistema, culpabilizando a vítima: “Marine Le Pen, o partido Alternativa para a Alemanha, todos os partidos de extrema-direita conseguem desviar os males da globalização e o neoliberalismo para a figura do imigrante obscuro, criminalizado e terrorista”.

O Reino Unido — membro da UE desde 1973 — também tem apresentado grandes índices do crescimento da extrema-direita. Com o Primeiro-ministro, Boris Johnson, que defende questões reacionárias e políticas conservadoras. O primeiro-ministro também defende, fielmente, o Brexit — saída do Reino Unido da União Europeia. Separatista e nacionalista, Johnson promete executar seu plano até dia 31 de outubro, alegando que isso será a solução para os problemas do Reino Unido.

A causa não é defendida apenas por Boris Johnson. Ela já era abraçada por seus antecessores e, de acordo com uma pesquisa feita pelo governo britânico com a população: 52% apoiavam o Brexit até então. As recentes reviravoltas e embates em relação ao acordo geram cada vez mais protestos e confrontos entre pró Brexit e pró União Europeia. A situação ressuscitou antigos conflitos separatistas da ilha, como a situação fronteiriça entre Irlanda do Norte e República da Irlanda, que em 1960 deixou cerca de 3,6 mil civis mortos.

Para o historiador, José Salvador Faro, a crise econômica não é a única resposta para o fascismo, porque é uma junção dos problemas socioeconômicos que fazem com que a sociedade reaja de uma certa maneira: “O fascismo não é uma coisa que se explica apenas por uma razão econômica, na verdade, é um conjunto de circunstâncias que mostram uma certa frustração de vários setores da sociedade com o regime político, econômico, com a representação partidária e uma certa falta de perspectiva que geralmente inspira o estado de espírito de uma sociedade”.

De acordo com Faro, os acontecimentos através dos séculos mostram que quando a crise surge, a população, em desespero, procura resposta e conforto, e essa busca pode levá-los ao extremismo de direita. “Quando a sociedade é afetada nessas expectativas por alguma crise e ela não vê saída para essa situação, o que a história mostra é que ela começa a apostar em soluções carismáticas, que se constroem em torno de promessas pelos chefes de estado em busca de um mundo mais ordeiro, onde essas frustrações desapareçam e que valoriza a autoridade e a disciplina. Esses são os princípios que embasam a ideologia fascista”, pontua.

por
Letícia Assis
|
21/11/2019 - 12h

Mesmo com a crise que afeta a Amazônia devido às queimadas que aumentaram 15% em relação ao mesmo período do ano passado, foi anunciado pelo Governo Federal um corte nos gastos direcionados à prevenção e ao controle de incêndios florestais.

 Com valores caindo de R$ 45,5 milhões para R$29,6 milhões, resultando em uma queda de 34% nos recursos previsto para o próximo ano, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) também sofreu uma baixa de 10% em relação ao ano anterior, com um investimento de R$ 561 milhões contra R$ 625 milhões de 2018.

 A pasta já sofreu neste ano uma restrição orçamentária em relação a verba destinada ao combate das queimadas. Em 2019, houve uma retenção de 13,5 milhões dos R$ 45,5 milhões previstos para o MMA, congelando 29,6% do orçamento anual, sem previsão de uso. A medida atrapalha ações que visam combater o desflorestamento na Amazônia, pois o dinheiro servia para ações como a contratação de brigadistas e o aluguel de veículos e equipamentos

O gabinete também teve cortes em outros setores, como a redução do montante disponível para os processos de licenciamento ambiental em nível federal, que visava fiscalizar obras de grande impacto no meio ambiente, reduzindo de R$ 7,8 milhões para R$ 4,6 milhões.

A redução de verba orçamentária também afetou a repartição de uso sustentável da biodiversidade e recuperação ambiental, contando com apenas R$ 11,5 milhões para 2020, R$ 4,4 milhões a menos que o ano anterior. 

Reserva indígena Uru-Eu-Wau-Wau. 28/09/2019 Crédito: Gabriel Monteiro / Agência O Globo
Reserva indígena Uru-Eu-Wau-Wau. 28/09/2019 Crédito: Gabriel Monteiro / Agência O Globo

Áreas destinadas à prevenção e controle do desmatamento sofreram significativas perdas quanto às medidas tomadas pela presidência. A extinção de departamentos como o de Florestas e Combate ao Desmatamento encerram iniciativas importantes para o campo, como o projeto de lei que cria a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, visando instituir um sistema de governança unificando governo federal e estadual.  

A proposta, elaborada entre os anos de 2017 e 2018, recebeu a parceria do Departamento de Agricultura e Floresta do Reino Unido, além de auxílio do governo da Alemanha. Enviado ao Congresso em dezembro de 2018 por Michel Temer, o projeto ainda aguarda sanção da Cãmara. 

A sucessão de cortes solicitadas pelo orçamento federal atingiu diversos setores, dentre eles, apenas sete dos 31 ministérios em funcionamento e órgãos do governo escaparam da tesourada.

 IBAMA tem sua última base desativada

O Instituto Brasileiro do Meio Ambientes e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), terá sua última base fechada em novembro. Localizada no interior do Amazonas, agora a unidade e Parintins passará a utilizar o auxílio de centros multifocais do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) 

Outras unidades já sofreram os cortes solicitados pelo governo. A base de Humiatá, também no interior do Amazonas, sediada em uma sala no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), está desativada desde 2017, após a destruição do escritório e de veículos. A base de Tabatinga, cidade fronteira com a Colômbia, também encerrou as atividades em 2018.

Em entrevista ao G1, o superintendente substituto, Leslie Tavares, afirmou que o Ibama está em acordo com o Ipaam para utilizar a estrutura cedida pelo instituto, ampliando a sua estruturação. Para ele, o uso de tecnologias de monitoramento em áreas de conflito apresenta melhores resultados. 

O superintendente ainda declarou que as antigas bases necessitavam de uma verba muito alta para pagar a estrutura física e que, agora, a utilização da infraestrutura do Ipaam, além da economia, irá resultar em uma estratégia mais eficaz para o andamento das ações movidas pelo Ibama.

“Vimos que a estratégia antiga era custosa. Tem que pagar energia, internet, faxineira. Com a estrutura física do Ipaam, se não tiver necessidade de usar, a gente não usa. [...] Mudamos por economia - economia e estratégia. [...] Hoje em dia, as estratégias de ação, o uso de inteligência e uso de tecnologias de monitoramento dão mais resultado do que manter agentes lotados em municípios conflituosos. Manter servidores nessa situação inibe suas atuações. Em muitas vezes, [os agentes] vivem sob intimidação", reiterou o superintendente.

Tavares também ressaltou que dezenas de bases do Ibama passaram para o ICMbio ao longo dos anos. Para ele, não houve diminuição da presença do Ibama pois o efetivo usado para a fiscalização de municípios como Apuí, Novo Aripuanã e Lábrea são de todo o Brasil,  com órgãos federais e apoio da polícia ambiental.

Base do Ibama em Humitá, desativada em 2017. Créditos: Ditec_Ibama/AM
Base do Ibama em Humitá, desativada em 2017. Créditos: Ditec_Ibama/AM

Repercussão internacional

Divergências no cenário mundial entre o governo brasileiro e líderes mundiais têm se estendido desde o início da gestão Bolsonaro. As constantes provocações por parte do presidente e a falta de ações para combater os incêndios na Amazônia causaram uma má imagem do mandato brasileiro.

A divulgação dos dados do INPE, que ressaltaram um aumento das queimadas em 278% no mês de julho em relação ao ano anterior, e a consequente demissão do diretor do instituto, estremeceu a relação entre o Brasil e países europeus que dão recursos para a proteção do ambiente.

Países como a Alemanha é responsável por grande parte das doações do Fundo da Amazônia - maior projeto de cooperação internacional  para preservar a Floresta Amazônica. A Noruega também está entre os maiores doadores do fundo, em dez anos foram recebidos cerca de R$ 3,4 milhões, sendo 93,3% cedido pelo governo norueguês. 

O valor, gerido pelo BNDES, é repassado a estados, municípios, universidades e ONGs e tem por finalidade, segundo o próprio Fundo, captar doações para investimentos em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, promoção da conservação, uso sustentável da Amazônia Legal, além do desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do desmatamento no Brasil e em países vizinhos. 

O Fundo da Amazônia foi alvo de críticas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que alegou ter encontrado indícios de irregularidades em contratos do fundo com ONGs. No entanto, a medida se encontra infundada a partir do pressuposto que o ministro analisou somente 25% dos contratos firmados. 

Além da declaração, o ministro também afirmou a vontade em querer alterar o conselho do fundo, atribuindo maior autoridade ao Poder Federal, como o controle sobre a tomada de decisão. Para isso, seria necessário retirar da centralidade do poder o Comitê Orientador do Fundo da Amazônia (COFA), responsável por estabelecer critérios para a aplicação dos recursos da floresta. 

A medida desagradou importantes líderes mundiais, como a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, e o governo da Noruega. Responsável por grande parte das captações do Fundo da Amazônia, entidades do governo norueguês se posicionaram contra as ações brasileiras.

Após divergências políticas, o governo da Noruega anunciou, em agosto, a suspensão de R$ 133 milhões para o Fundo. Em entrevista ao jornal norueguês Dagens Naeringsliv, o ministro do Clima e do Meio Ambiente, Ola Elvestuen, afirmou a retirada do investimento por conta da quebra do acordo para a redução do desmatamento. 

Para o ministro, os números do desmatamento cresce e “o país parece não querer parar isso”. Em nota, o governo norueguês afirmou que “não há fundamento jurídico e técnico  para realizar contribuição anual”. 

A Alemanha também entrou em divergências com o governo brasileiro, anunciando, também em agosto, a suspensão de parte do financiamento de proteção ambiental  para o Brasil. De acordo com a ministra do Meio Ambiente, Svenja  Schulze, a suspensão pode ultrapassar a casa dos R$ 150 milhões. 

Ainda em relação às medidas adotadas pelo governo em relação às queimadas,  chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou ver com “grande preocupação as ações do atual governo em relação ao desmatamento.

Jair Bolsonaro atacou Merkel ao afirmar, em entrevista, que a chanceler deveria reflorestar o próprio país com o recurso suspenso. “Eu até queria mandar  um recado  para a senhora querida Angela Merkel, que suspendeu R$ 80 milhões para a Amazônia. Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, ok? Lá está precisando muito mais do que aqui”.

Os episódios envolvendo as desavenças entre os líderes mundiais e o governo brasileiro, contribuem para agitar o cenário político. As falas de Jair Bolsonaro causam grande repercussão nas principais nações, como as declarações no encontro do G20, no qual o presidente ironizou o encontro com representantes. Em entrevista, Bolsonaro disse: “Imagina o prazer que eu tive de conversar com Macron e Merkel”.