A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

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Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
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O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Macron enfrenta dificuldade para lidar com manifestantes
por
Chloé Dana
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17/09/2025 - 12h

 

Na terça-feira da semana passada,a (9) o primeiro-ministro, François Bayrou, perdeu o voto de confiança no Parlamento e renunciou ao cargo. A decisão foi tomada pela Assembleia Nacional com 364 votos contrários e 194 a favor, após o fracasso de Bayrou em obter apoio para o plano orçamentário de 2026. 

O presidente, Emmanuel Macron, já nomeou no dia seguinte o novo primeiro-ministro Sébastien Lecornu e foi o suficiente para gerar mobilizações. Os manifestantes tomaram as ruas de várias cidades, bloquearam rodovias, queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia. O movimento, denominado “Bloqueie Tudo”, tomou força no verão europeu deste ano, ao motivar os cidadãos a se manifestarem contra uma redução no orçamento de 44 bilhões de euros divulgada pelo ex-primeiro-ministro François Bayrou. 

Entre as demandas estão um aumento nos recursos para serviços públicos, tributos para os mais ricos, a suspensão do aumento dos aluguéis, contra a classe política e cortes orçamentários, e a saída de Macron do cargo. Na quarta-feira (10), 80 mil forças de segurança foram acionadas em todo o território nacional, com 6 mil apenas em Paris. Conflitos foram registrados em lugares como Rennes, Nantes, Montpellier e Toulouse, além da cidade capital.

A crise atual se aprofundou com a recente renúncia de seu primeiro-ministro, François Bayrou. Essa foi a quinta mudança de primeiro-ministro em menos de dois anos, evidenciando fragilidade no governo.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária. 

Além disso, o problema não se limita apenas ao primeiro-ministro, mas também alcança o presidente. “Os ministros representam um obstáculo, mas a verdadeira questão é Macron e sua maneira de liderar. Ele deve se afastar”, declarou Fred, líder do sindicato de transportes em Paris, para um jornal francês. Especialistas em política na França sugerem que a crise revela a exaustão do modelo político de Macron, que está sob pressão tanto da direita quanto da esquerda, e que pode enfrentar, nos próximos meses, seu maior teste de governabilidade desde 2018.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária.

 

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Manifestantes vão à rua em protesto. Foto: Julia Braun, BBC 

 

Manifestações escalaram após bloqueio de redes, levando à renúncia do premiê
por
Kimberlly Ramos
Maria Clara Palmeira
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18/09/2025 - 12h

Protestos massivos liderados por jovens nepaleses da Geração Z (1995 - 2010), reivindicam o fim da corrupção generalizada e criticam a desigualdade social nepalesa. O país atravessa sua pior crise política desde o fim da monarquia, em 2008.

O estopim da revolta ocorreu na quinta-feira (4), com o bloqueio de mais de 20 redes sociais (entre elas Instagram, Whatsapp e X) no país, sob a alegação do governo de que as normas de regulamentação nepalesas não estavam sendo cumpridas pelas plataformas e também como meio para evitar a propagação de notícias falsas e discursos de ódio. As autoridades afirmaram ainda que prezam pela liberdade de expressão, mas que precisam que as plataformas tenham responsabilidade e sejam bem administradas, com a nomeação de representantes legais no país. 

A medida foi tomada durante uma campanha que estava viralizando nas mídias sociais, intitulada “nepo kids”, que denunciava a corrupção política no Nepal e a vida de ostentação exibida por filhos de governantes; isso, em contraste com as dificuldades que o restante da população enfrenta para sobreviver, segundo a trend. A proibição das redes foi recebida com revolta e foi vista pelos jovens como forma de silenciar as denúncias contra a corrupção. Os manifestantes se uniram contra o decreto, tomaram as ruas da capital nepalesa Katmandu e marcharam até o Parlamento em 8 de setembro. Em resposta ao movimento, a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha durante confronto para tentar conter a multidão; 19 pessoas morreram apenas no primeiro dia.

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Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X
Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X

As mortes levaram à intensificação dos protestos no dia 9, provocando incêndios em prédios do governo e no Parlamento Federal. Residências de políticos também foram incendiadas pelos manifestantes, como a do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, resultando na morte de sua esposa, que estava dentro da casa no momento do ataque.

Com a escalada do conflito, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli renunciou ao cargo e o número de mortes foi atualizado para 25. O bloqueio das redes foi revogado, como meio de conter a revolta, mas as manifestações seguiram, com a insatisfação dos jovens nepaleses se ampliando em relação às práticas corruptas. 

Na sexta-feira (12), o presidente Ramchandra Paudel dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para 5 de março de 2026. Simultaneamente, Paudel nomeou Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte, como primeira-ministra interina, tornando-se a primeira mulher a liderar o governo do Nepal. Karki, conhecida por decisões judiciais contra casos de corrupção e pela promoção da igualdade de gênero, recebeu apoio direto dos manifestantes, que debatiam os próximos passos em plataformas digitais como Discord.

No dia 13, a normalidade começava a retornar a Katmandu: lojas reabriram, veículos voltaram às ruas e a presença militar foi reduzida. Karki visitou jovens feridos e recebeu pedidos de familiares das vítimas, que exigiam reconhecimento dos mortos e compensações financeiras. Organizações internacionais de direitos humanos pedem que o novo governo acabe com a “impunidade do passado” e investigue os responsáveis pelas mortes.

O desafio de Karki será recuperar a confiança da população, conduzir as eleições em março e entender as reivindicações da juventude, que desempenhou papel central nas recentes mobilizações. Com 22% dos jovens entre 15 e 24 anos desempregados e um quinto da população vivendo na pobreza, a Geração Z nepalesa já demonstrava frustração. O bloqueio das redes sociais foi a faísca de um descontentamento acumulado.

“O tempo está passando rápido. Diariamente dezenas de palestinos são assassinados", afirma professor Rodrigo Amaral, da PUC-SP
por
Renata Bittar
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02/09/2025 - 12h

Em meio a tensões políticas e crises diplomáticas, o conflito entre Israel e Gaza se intensifica. Recentemente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de assumir o controle total da Faixa de Gaza. Embora a operação ainda não tenha sido confirmada, o governo de Israel afirma que o objetivo seria expulsar o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e instaurar um governo civil no território. Em entrevista à BBC, Netanyahu declarou que Israel busca “libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas”.

O Estado de Israel mantém os bombardeios e ataques contra Gaza. A recusa de um cessar-fogo imediato resultou em um aumento no número de mortes, destruição de cidades inteiras e no agravamento de uma crise humanitária de grande proporção.

Em entrevista exclusiva à AGEMT, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral, pesquisador especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, avaliou que a imagem de Israel no cenário internacional tem se deteriorado. “Mesmo que Israel mantenha fortes relações, sobretudo comerciais, com diversos países, o debate sobre boicotes — antes distante do imaginário internacional — começa a ganhar força”, afirmou.

Nos últimos meses, países como Canadá e França passaram a reconhecer a Palestina como um Estado legítimo. A decisão, vinda de nações com peso político relevante, chamou atenção e fortaleceu o movimento palestino. Para Amaral, o gesto reforça a percepção de que a comunidade internacional demonstra, de forma mais concreta, a intenção de apoiar a criação de um Estado palestino autônomo. “É um marco para esses países reconhecerem a Palestina, sobretudo por serem nações tradicionalmente alinhadas à lógica norte-americana”, destaca o professor.

Ao contextualizar o conflito, Amaral lembra que eventos como a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Fria e a Crise de Suez contribuíram para o deslocamento forçado dos palestinos à Faixa de Gaza. Questionado sobre a possibilidade de o território voltar à “normalidade”, ele pondera que “nunca existiu normalidade em um espaço onde a população vive confinada”. “Gaza é controlada por autoridades estrangeiras, Israel e Egito. Dentro dessa realidade sociopolítica, tenta-se construir uma vida cotidiana, mas os palestinos sempre foram empurrados para esse território”, afirma.

Entre o impasse político e as operações militares, as ações de ambos os lados se intensificam. O próximo passo declarado por Netanyahu seria a desocupação total de Gaza pelos palestinos que ainda vivem no local e a busca por outros territórios que os recebam. “É importante lembrar que Gaza já era um espaço de refúgio, pois a maioria dos palestinos que vive lá não é originária do território”, acrescenta Amaral. Segundo ele, a tendência é a manutenção de um controle militar em Gaza, provavelmente acompanhado de presença ativa de Israel durante o processo de reconstrução.

 

Nova operação de Israel intensifica bombardeios na Cidade de Gaza em 28/08/2025 Imagem: Reprodução/Reuters/ Dawoud Abu Alkas

 

 

 

 

Apesar do apoio crescente de diversos países à causa palestina, o cenário das relações internacionais ainda é fortemente influenciado pelas grandes potências ocidentais. Esses atores exercem papel decisivo na definição da ordem global e, frequentemente, detêm o poder de determinar os rumos das ações multilaterais. Segundo Rodrigo Amaral, é incomum observar um consenso entre nações como Canadá, França e Austrália ao se posicionarem contra a ofensiva israelense em Gaza. Por meio de mecanismos intergovernamentais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), esses países podem contribuir propondo cessar-fogo e planos de retirada militar da região.

Além da pressão diplomática, Amaral aponta que as nações contrárias à atuação de Israel podem adotar boicotes econômicos como forma de protesto. Essa medida, explica ele, visa prejudicar setores estratégicos da economia israelense e pressionar o governo pelo encerramento das operações militares. “O tempo está passando rapidamente. Diariamente, dezenas de palestinos são assassinados. Ações concretas ainda não foram tomadas; pelo contrário, observamos um aumento dos impasses diplomáticos”, afirma o professor.

Atualmente, estima-se que a ocupação militar israelense em Gaza já abrange quase 90% do território. O governo de Benjamin Netanyahu mantém a meta de ampliar o controle e promover a retirada total dos palestinos que ainda vivem na região. De acordo com Amaral, o número de vítimas ultrapassa 60 mil palestinos desde o início do conflito. “A tendência é que o desfecho desse confronto resulte na consolidação dos interesses israelenses. Apesar do posicionamento da comunidade internacional e das pressões de movimentos sociais transnacionais, persiste um cenário de impunidade e continuidade das ações militares de Israel”, conclui.

 

 

Olaf Scholz e o SPD confirmaram o favoritismo sobre a CDU de Armin Laschet. A vitória apertada indica que as negociações por coalizão serão longas.
por
Luan Leão
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01/10/2021 - 12h

Os eleitores alemães foram às urnas no domingo (26) para escolher o sucessor de Angela Merkel, que deixa a chancelaria federal após 16 anos de governo.

As pesquisas já mostravam que a disputa seria apertada, com margem mínima de vantagem para Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD). No sábado (25), no último ato eleitoral da União Democrata-Cristã (CDU), Angela Merkel fez um apelo em favor de Armin Laschet, e apostou nos indecisos para uma virada na véspera da eleição. 

Eleitores sociais-democratas em evento do SPD
Eleitores agitam bandeiras dos social-democratas em evento do SPD, após a divulgação das pesquisas de boca de urna. Foto: ODD ANDERSEN/ AFP

As projeções de pesquisa das redes de televisão local ARD e ZDF confirmaram que se esperava. O SPD liderou a corrida com 25,9%. Em segundo lugar aparece a CDU/CSU com 24,1%. Na terceira colocação aparecem Os Verdes com 14,7%, seguidos pelo Partido Democrático Liberal (FDP) com 11,5%. O Bundestag será formado por 730 cadeiras, superando as 709 eleitas em 2017.

A distribuição de assentos será a seguinte:

-205 cadeiras para o SPD

-194 cadeiras para a CDU/CSU

-117 cadeiras para Os Verdes

-91 cadeiras para o FDP

-82 cadeiras para a AfD

-40 cadeiras para o Die Linke

-1 cadeira para outros

O resultado desta eleição entra para história. Para além do fato de ser escolhido o sucessor de Angela Merkel, esses são os piores números já conquistados até agora pela CDU, partido de Merkel. 

 

Reações das Campanhas 

SPD

O Secretário-Geral do Partido Social Democrata (SPD), Lars Klingbeil, reagiu aos números iniciais e afirmou que o partido tem condições de liderar uma coalizão.

“O SPD tem o mandato de governar. Queremos que Olaf Scholz seja chanceler (...) Sabíamos que seria uma campanha renhida”, afirmou Klingbeil à emissora ZDF, completando que estava muito contente. 

CDU

“As perdas são amargas em comparação com as últimas eleições”, assim definiu Paul Ziemiak, Secretário-Geral da CDU, ao comparar os resultados com a eleição de 2017, quando a CDU/CSU obteve mais de 30%. Apesar das projeções, em um discurso em Berlim, o líder do CDU/CSU, Armin Laschet, manifestou o desejo de uma coalizão com Os Verdes e o FDP. “Quero liderar uma coligação do futuro”, disse Laschet ao lado de políticos do partido, entre eles a chanceler Angela Merkel. 

Os Verdes 

O coordenador federal do Os Verdes, Michael Kellner, avaliou os resultados e não escondeu certa decepção. “Fizemos ganhos significativos, mas é difícil para mim estar realmente satisfeito com estes ganhos”, afirmou Kellner à agência DPA. O coordenador do partido verde felicitou o SPD pelo que chamou de “um grande sucesso eleitoral”, e adiantou a preferência por uma coligação com os sociais-democratas. 

Para Annalena Baerbock, candidata a chanceler do partido, o país precisa de um novo governo que tenha compromisso com questões climáticas. “Concorremos pela primeira vez para moldar este país como uma força líder (...) Este país precisa de um governo climático (...) É isso que continuamos a lutar”. A candidata se mostrou aberta para iniciar conversas com os liberais sobre possíveis coligações. 

FDP

O líder dos liberais, Christian Lindner, disse ser favorável a uma coligação liderada pelo CDU/CSU em conjunto com Os Verdes. “Acho que a probabilidade de colocarmos a nossa política em prática é maior nesta constelação”.

 

Coligações e Futuro Chanceler 

Para formar maioria no parlamento será necessário uma coalizão entre três partidos. Obter maioria com apenas dois partidos só seria possível se CDU/CSU e SPD mantivessem a aliança que governa o país desde 2013, o que é improvável. 

Uma coligação entre CDU/CSU, Os Verdes e o FDP é chamada de “Jamaica”, pelas cores dos três partidos lembrarem as cores da bandeira do país caribenho. 

Por outro lado, os liberais não descartam uma coalizão com o SPD e Os Verdes, chamada de “ampel” (semáforo, em alemão), pelas cores vermelho (SPD), amarelo (FDP) e verde. Sabe-se que o partido verde tem a preferência por uma coligação liderada pelo SPD, enquanto os liberais simpatizam por uma coalizão liderada pelo CDU/CSU.

Dadas as situações, reunir o próximo governo de coalizão para a maior economia da Europa pode levar semanas de negociações. Pelo modelo eleitoral, o partido que termina em primeiro lugar, neste caso o SPD, está mais bem colocado, mas não garantido de formar um novo governo. 

Vale lembrar que até que uma nova coligação seja formada, quem segue no governo é Angela Merkel. 

 

Após manter distância da escolha de seu sucessor e vê-lo patinar nos números, Angela Merkel participou do último ato eleitoral da CDU para tentar dar fôlego à candidatura de seu partido.
por
Luan Leão
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25/09/2021 - 12h

Na véspera da eleição mais incerta dos últimos anos, Angela Merkel, que estava afastada da disputa eleitoral que escolherá seu sucessor, não poupou esforços para que o novo chanceler seja Armin Laschet, candidato da união conservadora dos partidos União Democrata-Cristã (CDU) e União Social-Cristã. Uma vitória de Laschet é considerada, segundo as pesquisas, improvável, mas uma derrota do partido pode representar uma pequena mancha no legado de 16 anos de governo construído por Merkel. 

“É apenas a cada quatro anos que vocês têm a chance de decidir em nível federal quem deve moldar o futuro em Berlim. (...) É preciso tomar as decisões certas (...) porque trata-se do país de vocês e vocês decidem o futuro do governo”, afirmou Merkel em Aachen, ao lado do candidato democrata-cristão Armin Laschet.

Os conservadores correm o risco de obter o seu pior desempenho eleitoral, a centro-direita sempre obteve mais de 30% dos votos nas eleições nacionais, e forneceram ao país cinco dos oito chanceleres do pós-guerra. 

Mas o cenário encontrado nesta eleição é adverso. O candidato da aliança CDU-CSU se mostrou impopular e desajeitado, além de inseguro, e viu o candidato do Partido Social-Democrata (SPD), Olaf Scholz, assumir a dianteira nas pesquisas. SPD e CDU governam a Alemanha em conjunto desde 2013, mas a relação vem se desgastando nas últimas semanas. Isso porque, para desespero da CDU, é Olaf Scholz, atual ministro das finanças e vice-chanceler, e não Armin Laschet, que é considerado “nova Merkel”, o candidato da continuidade tranquilizadora. 

Olaf Scholz, Annalena Baerbock e Armin Laschet
Olaf Schol (à esquerda), Annalena Baerbock (centro) e Armin Laschet (à direita), no debate de 19 de Setembro. EPA/FILIP SINGER

Em terceiro lugar nas pesquisas, com cerca de 16%, aparece Annalena Baerbock, colíder do Os Verdes. Assim como Laschet, a deputada e colíder do partido verde teve altos e baixos em sua campanha, chegando a liderar com 30% por um período em Maio. Annalena Baerbock foi o principal alvo de notícias falsas durante a campanha na Alemanha, tendo 71% dos conteúdos mentirosos direcionados a sua campanha, segundo a organização não-governamental Avaaz. Sobre os ataques a Baerbock, o diretor de campanha da Avaaz afirmou que é difícil identificar os motivos.

"Neste caso, Annalena Baerbock é uma mulher, é nova, quer uma mudança, talvez mais do que os outros candidatos. E, talvez por isso, enfrente uma maior resistência e haja interesse em espalhar informação falsa para que ela seja vista de uma outra forma".

 

O que movimenta o eleitorado ?

A Alemanha firmou compromisso de tornar neutra a emissão de gases do efeito estufa até 2045, a grande questão é como a maior economia da Europa, e a quarta do mundo, fará para conter a poluição de suas indústrias e do seu sistema de transporte. 

Os Verdes e o Die Linke (A Esquerda) têm uma projeção ousada, eliminando as usinas de carvão até 2030. Os liberais do FDP projetam alcançar a neutralidade até 2050. A extrema-direita com o AfD rejeita as evidências científicas sobre os impactos causados pelo homem ao meio ambiente. 

As consequências econômicas da pandemia também é um tema dominante. A Alemanha precisou assumir grandes dívidas para arcar com as consequências econômicas de dois lockdowns prolongados. CDU e o Partido Liberal Democrático (FDP) rejeitam a ideia de futuros aumentos de impostos, os liberais prometem até reduções. Já SPD e Os Verdes falam em benefícios fiscais para pequenas empresas e na reintrodução de imposto sobre a fortuna de cerca de 1% para os que ganham mais.

 Novo Governo 

O desenho de coalizão mais provável é uma união entre o Partido Social-Democrata (SPD), Os Verdes e o Die Linke (A Esquerda). Outra possibilidade é uma coalizão entre SPD, Os Verdes e o Partido Liberal-Democrático (FDP). Pelo que apontam os números, um eventual vencedor terá que negociar uma coalizão com ao menos três partidos para garantir a maioria do Bundestag, algo que não acontece na Alemanha desde os anos 1950.

 

Alemães votam neste domingo (26) para eleger os integrantes do 20º Bundestag (parlamento) do pós-guerra.
por
Luan Leão
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25/09/2021 - 12h

O sistema eleitoral alemão é distrital misto. O voto não é obrigatório e não existe título de eleitor como no Brasil. Algumas semanas antes do dia da eleição os eleitores recebem em casa instruções sobre seu local de votação. Também é possível votar pelos correios, neste ano espera-se que cerca da metade dos eleitores aptos a votar escolham essa opção, como fez a própria chanceler Angela Merkel que optou por votar de casa.

 

Eleição

O eleitor alemão dispõe de dois votos. No primeiro voto, o eleitor escolhe o candidato do seu distrito, por voto direto, e é eleito o candidato que obtiver mais votos. Cada partido tem o direito de lançar um candidato por distrito ou zona eleitoral. A Alemanha tem 299 distritos eleitorais, um para cada 250 mil habitantes. 

Esses 299 representantes eleitos pelo voto direto formam metade do Bundestag, o parlamento alemão, composto regularmente por 598 representantes. 

A outra metade do Bundestag é definida pelo segundo voto, ou voto em legenda. Ele vai determinar o tamanho de cada partido dentro do parlamento. Por exemplo, se um partido obtiver 30% dos votos em legenda, ele detém 30% dos assentos no Parlamento. Para definir quem serão os deputados, os partidos definem previamente uma lista. 

É possível que o eleitor conceda o primeiro voto ao candidato de um partido, e escolha um partido diferente para o seu segundo voto. 

 

Formação do Parlamento

Para obter cadeiras no Parlamento alemão os partidos precisam conquistar pelo menos três mandatos por voto direto ou 5% dos votos em legenda. A formação do Bundestag respeita a proporcionalidade, evitando que o voto direto tenha mais peso do que o voto na legenda. 

Por exemplo, um partido obteve 30% dos votos em legenda, logo tem direito a 180 assentos no Bundestag. Se esse partido elegeu 90 deputados por voto direto, estes serão os primeiros a ocupar os assentos no Parlamento, e os demais 90 serão ocupados conforme a lista do partido. 

Foto: Michele Tantussi/REUTERS
Câmara baixa do Parlamento da Alemanha, em Berlim. Foto: Michele Tantussi/REUTERS

Porém, se esse partido eleger 200 deputados por voto direto, ele tem mais deputados eleitos por voto direto do que assentos garantidos pela porcentagem da legenda. O sistema eleitoral permite que todos esses 200 tomem posse, mas, para compensar, os demais partidos ganham assentos adicionais conforme suas porcentagens de voto na legenda. Interessa que ao final as bancadas correspondam a porcentagem de votos obtidos pelo partido no segundo voto.

Na eleição de 2017, devido a esse sistema de compensação, o Bundestag que, em tese, seria composto por 598 representantes, empossou 709 deputados, um recorde. 

 

 

 

 

Proporção populacional 

A composição do Parlamento é dividida por estados e leva em conta a população de cada um deles no dia 31 de Dezembro do ano anterior. Com isso, enquanto o estado mais populoso do país, Renânia Norte-Vestfália, pode eleger 135 deputados, o menos populoso, a cidade-estado de Bremem, elege apenas cinco. 

 

Partidos

Com uma antecedência mínima de 79 dias, a Comissão Eleitoral determina quais partidos poderão participar da eleição, a partir do número de filiados e grau de popularidade. Atualmente, os partidos com representação no Bundestag são os conservadores União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), que formam uma bancada única, o Partido Social Democrata (SPD), o Aliança 90/Os Verde, Die Linke (A Esquerda), Partido Liberal Democrático (FDP) e a Alternativa para a Alemanha (AfD).

Como é eleito o chanceler federal ?

A lei alemã não prevê a eleição por voto direto para escolha do chanceler federal. O chanceler é escolhido por meio do Bundestag, ou seja, de forma indireta.

No início das campanhas eleitorais alguns partidos já indicam candidatos a chanceler, na prática, estão dizendo ao eleitor quem eles vão submeter ao voto do Bundestag, caso liderem uma coalizão de governo. Nem todos indicam previamente os nomes. Geralmente, só os que realmente se veem com chances de liderar uma coalizão o fazem. 

Nas atuais eleições, três partidos indicaram candidatos oficiais: A CDU e a CSU apresentaram o líder da CDU e ministro-presidente do estado da Renânia Norte-Vestfália, Armin Laschet. O atual ministro das finanças e vice-chanceler Olaf Scholz, é o nome do SPD. E Os Verdes escolheram sua colíder Annalena Baerbock. Esta é a primeira vez que Os Verdes indicam um nome para o cargo de chanceler federal. 

 

Apuração e resultados 

Os votos são contabilizados logo após o fechamento das urnas e costumam ser anunciados nas horas seguintes. Segundo a lei, os deputados eleitos devem tomar posse até 30 dias depois da eleição. 

Caso nenhum partido obtenha maioria absoluta dos votos, o que é provável, duas ou três legendas iniciam contatos para formar uma coalizão. Ao chegarem a bases para negociar, passam a definir quais partidos ocupam quais funções no futuro governo, e quais políticas serão implementadas, isso tudo é formalizado em um documento, o acordo de coalizão. 

O chanceler só é eleito pelos deputados depois que a nova coalizão chega a um acordo. As negociações não têm prazo para terminar, e podem se estender por semanas ou meses. Durante todo esse período, segue no cargo o governo que já está.

Após o acordo, o presidente da Alemanha formaliza a indicação do chanceler e envia o nome de volta ao Parlamento para votação. Os parlamentares votam se aprovam ou não o candidato a chanceler. Se o nome for aprovado, o que costuma acontecer sem sustos, o chanceler é confirmado no cargo e a Alemanha tem novo governo.

 

Depois de 16 anos como chanceler alemã, Merkel decidiu não concorrer à reeleição. Os alemães votam neste domingo.
por
Luan Leão
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23/09/2021 - 12h

Desde 2018 já se sabe que Angela Merkel não disputaria as atuais eleições. No poder desde 2005, Merkel optou por não concorrer à reeleição. Líder do principal partido alemão, a União Democrata-Cristã, ou CDU, ainda em 2018 indicou um nome para lhe suceder nas próximas eleições: Annegret Kramp-Karrenbauer. 

Vista por muitos como moderada, cautelosa e capaz de dar continuidade ao governo de Merkel, Karrenbauer não conseguiu formar sua própria base e não obteve sucesso em popularidade nem dentro do partido. Com o esvaziamento da pré-candidatura, Karrenbauer abandou a liderança do partido em Janeiro deste ano. Em seu lugar, assumiu Armin Laschet, a atual aposta para a sucessão de Angela Merkel. Desde Junho de 2017, Laschet é Ministro-presidente do estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso da Alemanha.

Apesar de reunir características que agradam a base da CDU, Laschet não empolga e se viu em queda livre nas pesquisas eleitorais desde o começo da campanha. Em teoria, após 16 anos de governo Merkel, não teria dificuldade em emplacar um sucessor. Ainda mais se olharmos para a história: nos últimos 72 anos, a CDU esteve no poder durante 52. 

Angela Merkel e Armin Laschet. POOL/REUTERS
 Angela Merkel cumprimenta Armin Laschet, em Düsseldorf. POOL/REUTERS

O que atrapalha Armin Laschet ?

O político de 60 anos e formado em Direito é visto por muitos como inseguro, despreparado e pouco sério diante de problemas graves. O caso que abalou sua popularidade, e é considerado o motivo de sua queda nas pesquisas, aconteceu há pouco tempo, envolvendo sua reação às enchentes que mataram 180 pessoas na Alemanha. Em 17 de Julho, ao visitar uma região do estado que governa, duramente castigada pela enchente, Laschet foi flagrado rindo de uma piada no exato momento em que o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier discursava e prestava solidariedade às vítimas. 

Quem também estava no local era o principal rival de Laschet nessas eleições, o ministro da economia e candidato do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), Olaf Scholz, que permaneceu sério e falou sobre liberação de verbas e medidas imediatas de reconstrução. Dias após o episódio, Laschet se retratou à emissora ZDF: “Foi estúpido e não deveria ter acontecido e eu me arrependo”, disse ele.

O que dizem as pesquisas ?

Olaf Scholz (SPD) lidera as pesquisas. De acordo com os últimos números, os social-democratas aparecem com cerca de 25%, enquanto a CDU de Armin Laschet obtêm entre 20% e 22% – um dos piores resultados já registrados pelos conservadores em pesquisas. 


 

O acidente nuclear responsável por criar a maior cidade fantasma da Europa faz aniversário
por
Isabela Gama Figueroa
Fabrício De Biasi
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15/05/2021 - 12h

Na madrugada do dia 26 de abril de 1986, na cidade de Chernobyl, um dos reatores da Usina V.I Lenin explodiu após uma falha humana, e acarretou um verdadeiro desastre para a população.  

Tudo começou com um teste de segurança que estava em curso, e por uma falha, ocasionou na explosão do reator 4, que matou 31 trabalhadores de início, e na sequência, iniciou-se um incêndio que se estendeu por dias, isso porque a exposição nuclear ficou muito grande, impossibilitando uma ação humana mais "direta". Além disso, essa explosão liberou quantidades enormes de materiais radioativos, entre eles, o IODO-131 e o CÉSIO-137. 

É válido lembrar que as consequências deixadas pelo acidente foram enormes, tanto para a área ambiental quanto para a política e economia da antiga URSS. Em conversa com o professor da PUC-SP José Arbex Jr, que já morou por um período em Moscou, ele nos revela que a Guerra Fria, por um lado, obteve sua influência a respeito do acidente, levando-se em conta que havia uma certa “pressa” por parte dos EUA e da URSS em se desenvolverem cientificamente. Por outro lado, já havia também, de acordo com o entrevistado, um problema de gestão no governo, nas palavras dele: “uma carência de fundos também contribuiu para o acidente”. Quando perguntado sobre a influência deixada para a eventual abertura da URSS, ele nos conta que o acidente ajudou a acelerar o processo de reforma, acarretando, posteriormente, na sua dissolução no dia 25 de dezembro de 1991. 

A região de Chernobyl ainda não é habitável, mas apesar disso, atualmente as viagens às cidades de Pripyat e Chernobyl são recorrentes. 

Guichê de informações da “Chernobyl Tour”   Foto: NurPhoto / Sygma via Getty Images

Em conversa com a jornalista Fernanda Ezabella, que visitou a Ucrânia em 2018, e Lucas Estevam, responsável pelo blog de viagem “Estevam pelo mundo", que visitou em 2019, eles nos revelaram que não há burocracia para o passeio turístico, é possível acionar umas das dez agências que realizam os tours pela internet, e são elas que cuidam de toda a parte documental da viagem, “Arranjamos tudo on-line, e encontramos a guia e a van no centro de Kiev”, afirma Fernanda. 

Em relação ao passeio, os entrevistados contam que é possível alugar um contador Geiger, aparelho utilizado para medir Sievert, unidade de medida para radiações ionizantes, desse modo é possível acompanhar o índice de radiação nos objetos encontrados. Já sobre os lugares visitados, Fernanda conta: “A agência tem alguns tipos de roteiro. Visitamos uma escola, um campo de futebol, uma piscina vazia, a praça central de Pripyat, um supermercado, etc.” Mas para todos que viajam para Chernobyl, o ponto turístico mais aguardado é o sarcófago que protege o reator 4, só é permitido permanecer 7 minutos no local e a 270 metros de distância da cobertura de concreto e aço. A jornalista também comenta de monumentos dedicados aos bombeiros que chegaram primeiro no local do acidente e também de uma estátua do Lenin, a última que segue de pé na Ucrânia. Além disso, há um restaurante em Chernobyl Town, o único que permite o almoço de turistas, “A guia fez questão de dizer que a comida vinha de Kiev, não tinha nenhum problema de ser 'radioativa'”, afirmou Fernanda.  

Quando perguntado o que mais impressionou os viajantes, Fernanda apontou detalhes da natureza, "Só conseguimos reconhecer o campo de futebol por causa das arquibancadas”. E um ponto em comum com os dois viajantes foi a sensação de volta para o passado, “Foi como estar dentro de um filme. Difícil descrever em palavras”, afirmou Lucas Estevam. 

 Parque de diversões em Pripyat tomado pela vegetação  Foto:Edward Neyburg/ Sygma via Getty Images