O segundo turno das eleições presidenciais do Peru ocorre neste domingo,06, quando se enfrentarão nas urnas o professor Pedro Castillo, do partido Perú Libre, e a veterana da política peruana Keiko Fujimori, do partido Fuerza Popular.
No primeiro turno, que contou com a participação de 18 candidatos, Castillo recebeu 19% dos votos válidos, enquanto Fujimori veio em seguida com 13%. Desde então, o candidato da esquerda manteve-se à frente nas pesquisas de intenção de voto, mas, a poucos dias do segundo turno, vê reduzida sua vantagem em relação à segunda colocada.
De acordo com pesquisa divulgada no último domingo (30), a última antes do dia das eleições, a disputa acirrou-se. Castillo apresenta 42% das intenções, ao passo que Keiko tem 40%, o que configura empate técnico em razão de a diferença estar dentro da margem de erro.
Castillo, professor de escola rural e sindicalista, era quase desconhecido até semanas antes da eleição. Com um discurso estatista e antimercado, já falou em fechar a economia, o Tribunal Constitucional e reescrever a Constituição peruana, tentando angariar votos sobretudo nas áreas rurais e pobres do país andino. Sua vitória no domingo é vista por essa parcela da população como um passo no sentido da construção de um verdadeiro Estado social.
Por sua vez, Keiko Fujimori é velha conhecida dos peruanos. Filha do ex-ditador peruano Alberto Fujimori – que permaneceu no poder entre 1990 e 2000 e hoje está preso por crimes contra a humanidade e corrupção –, Keiko já foi deputada e, por duas vezes, concorreu à presidência.
A candidata do Fuerza Popular é feroz crítica da esquerda e adota postura bastante favorável ao livre mercado e à manutenção de um Estado mínimo no Peru, o que a levou a conquistar eleitores pertencentes sobretudo às classes médias urbanas dos grandes centros, como Lima.
Desenha-se assim um cenário extremamente polarizado, com dois candidatos que se encontram nos extremos opostos do espectro político e cujas bases eleitorais revelam a existência do que um economista peruano chamou de “Chilibia”.
De um lado, um Peru com condições próximas às piores encontradas na Bolívia e que cerra fileiras com Castillo na esperança de darem fim ao processo de pauperização pelo qual passa. De outro, um Peru com índices sociais semelhantes aos melhores encontrados no Chile e que vota em Fujimori por medo de tornar-se uma Venezuela.
“Acusam-no [a Castillo] de Chavismo; mas o vejo mais como um dirigente sindical surpreendido pelas facilidades que a conjuntura lhe deu e que está com a dificuldade de não ter um discurso claro para certos temas para os quais não está preparado”, comentou o juiz do Tribunal Constitucional do Peru Eloy Espinoza-Saldaña, em debate promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), nesta terça-feira (01).
A despeito das diferenças, Castillo e Fujimori convergem em muitos aspectos. Ambos são socialmente conservadores, defendendo a família tradicional e rejeitando o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a igualdade de gênero.
Em manifestação recente, Castillo chegou a sugerir que o assassinato de mulheres ocorre por conta da ociosidade dos homens. “O feminicídio é produto da ociosidade gerada pelo próprio Estado”, comentou.
Além disso, como apontou o ex-Procurador do Peru José Ugaz durante o debate do CEBRI, “ambos os candidatos também apresentam manchas de corrupção”.
Castillo vê sua honestidade colocada em xeque diante da condenação por corrupção do líder de seu partido, Vladimir Cerrón. Já Fujimori enfrenta acusações de lavagem de dinheiro envolvendo valores que teria recebido da construtora brasileira Odebrecht. As suspeitas que pairam sobre ambos explicam, ainda que em parte, o alto índice de rejeição que apresentam.
“Tivemos as piores eleições da história do Peru. 18 candidatos que, em vez de ter trajetória política, têm ficha criminal”, comentou Ugaz. Entre os concorrentes no primeiro turno, havia investigados por corrupção, plágio e até mesmo assassinato.
“La piñata de la fiesta”
A instabilidade política é uma constante no país desde a presidência de Pedro Pablo Kuczynski, o PKK, que renunciou na esteira da operação Lava Jato sob acusações de compra de votos. O cenário deterirou-se ainda mais a partir de 2019, com o início de embates entre o Executivo e o Legislativo que levaram, em poucos meses, à renúncia de 2 presidentes.
Entretanto, a presença de uma nova personagem na cadeira de chefe da nação não parece que será suficiente para apaziguar os ânimos.
Segundo Espinoza, “ já que nenhum dos dois [candidatos] tem maioria parlamentar, vai ser difícil ter algum arranjo que dê estabilidade ao funcionamento do país”. Haja vista os traços de parlamentarismo presentes na Constituição peruana, “Se o presidente não tem maioria parlamentar, é como ‘a pinhata da festa’”.
Como resultado, o risco de nova vacância presidencial e de que o eleito neste domingo não venha a completar os 5 anos de mandato é alto.
Somam-se às incertezas as alegações de possível fraude eleitoral que parte da ultradireita que apoia Fujimori tem levantado, bem como a manifestação de ex-altos oficiais das Forças Armadas contra Castillo, o que gerou temores de um possível golpe militar.
Espinoza e Ugaz, no entanto, concordam que a possibilidade de golpe é remota. “Estou mais preocupado com a questão da fraude, porque já vivemos esse cenário em 2016, quando Keiko perdeu”, comentou o magistrado. Para ele, as Forças Armadas estão contentes com o atual posto que têm de órgão de consulta em momentos de crise.
América do Sul polarizada
O vencedor de domingo tampouco mudará outra realidade: a polarização da América do Sul. Se, no início dos anos 2000, havia na região a chamada “marea rosa” (onda vermelha), com a presença de diversos governo progressistas de esquerda, desde 2013, a direita vem ganhando terreno.
Agora, o subcontinente está dividido em dois: de um lado governos à esquerda, como o de Venezuela, Bolívia e Argentina; de outro, governos de direita e ultradireita, como o de Brasil, Uruguai, Colômbia e Equador.
Nesse cenário, se Fujimori sagrar-se vencedora, a tendência será o fortalecimento do bloco liberal; ganhando Castillo, a aproximação se dará com os esquerdistas, o que certamente levará ao fim do já inexpressivo Grupo de Lima.
Em ambos os casos, porém, a divisão ideológica da região se aprofundará, criando ainda mais empecilhos ao diálogo sul-americano. No fim, quem sairá perdendo são a coordenação e a integração regionais.
Por Daniel Gateno e João Pedro Coelho
Israel passa por momentos de turbulência na política. Em meio ao fim da 4° eleição em dois anos, os israelenses ainda não sabem quem vai ser o primeiro-ministro.
O país é uma república parlamentarista que tem 120 cadeiras em seu parlamento (Knesset em hebraico). Para formar um governo, é necessário conseguir 61 cadeiras.
O principal impasse gira em torno da figura do atual primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.O político, que é considerado um exímio estrategista, se tornou uma figura controversa em Israel. Amado por muitos e totalmente odiado por outros. Ele é acusado de corrupção, suborno e fraude pela justiça.
Por esse motivo, o Likud, partido de Netanyahu, recebeu 30 cadeiras no parlamento, a maior bancada eleita. Segundo especialistas, o grupo formaria uma coalizão se qualquer outra pessoa estivesse indicada para assumir o cargo mais importante da política israelense.
Para entender Israel hoje e o seu xadrez político, é necessário olhar para a vida de Bibi, apelido do primeiro-ministro, desde a sua juventude até a sua vida política.
Benjamin Netanyahu nasceu em Tel Aviv, no ano de 1949. Tem um ano de vida a mais do que o país onde nasceu, Israel, fundado em 1948.Filho de Benzion Netanyahu, historiador importante e militante do movimento revisionista israelense tem dois irmãos: Iddo e Ionatan.
Em 1963, com apenas 14 anos, Netanyahu se mudou para os Estados Unidos com a família. Seu pai fazia doutorado na cidade de Filadélfia. A sua relação com os EUA foi longa, tendo se formado em arquitetura a administração no MIT( Massachusetts Institute Of Technology) e adquirido uma fluência na língua inglesa.
“ Em Israel, é muito bem visto uma pessoa ir aos Estados Unidos, estudar em uma universidade muito boa e depois voltar ao país para trazer o que aprendeu”, afirma Eitan Gottfried, cientista político israelense. “ O Bibi é um mestre das aparências, fala muito bem inglês e se vendeu como um político com ideias novas”, completou.
Em meio aos estudos, Bibi voltou a Israel em 1967 para se alistar no exército em uma das unidades de combate com mais prestígio no país chamada Sayeret Matkal. Além disso, ele lutou na guerra de Yom Kippur.
“A sociedade israelense valoriza muito o exército. Se uma pessoa serve em uma unidade que é considerada de muito prestigio, ela terá melhores oportunidades de emprego e um futuro apontado como promissor”, explica Gottfried.
Depois de finalizar os seus estudos nos Estados Unidos, Netanyahu teve uma carreira no setor privado, trabalhando no Boston Consulting Group, uma firma de consultoria financeira internacional.
Em 1976, Benjamin Netanyahu sofreu um grande golpe pela morte de seu irmão durante a Operação Entebbe, uma das missões mais importantes da história de Israel. Ionatan Netanyahu era o comandante de um grupo que tinha como objetivo resgatar passageiros de um avião que fazia um voo de Paris para Tel Aviv e foi sequestrado por milicias palestinas e alemãs que pousaram o avião na cidade de Entebbe, em Uganda.
O irmão de Bibi foi a única baixa da operação, que conseguiu resgatar todos os reféns. O episódio tornou o sobrenome Netanyahu muito famoso em Israel.
“A família Netanyahu já era muito famosa, mas se tornou ainda mais depois deste episódio. O Ionatan seria o filho que entraria na política e o Bibi queria entrar nos negócios. Com a morte do irmão, Bibi se sentiu na obrigação de representar a família na política”, afirma Michel Gherman, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e Diretor-acadêmico do Instituto Brasil Israel.
Impulsionado pela morte do irmão, Bibi organizou duas conferencias internacionais sobre como combater o terrorismo e isso atraiu atenção para a usa habilidade de oratória. Em 1982, ele se junta ao corpo diplomático israelense nos Estados Unidos. Dois anos depois ele se torna embaixador de Israel na ONU(Organização das Nações Unidas).
“O cargo de embaixador na ONU tem muito prestígio em Israel, Golda Meir e Yzchak Rabin, outros políticos que chegaram ao cargo máximo da política israelense também tiveram posições importantes na diplomacia do país nos Estados Unidos”, acrescenta Gottfried.
Em 1988, ele retorna a Israel com a vontade de entrar na política e é eleito para o parlamento pelo partido Likud. Bibi foi apontado como ministro das Relações Exteriores e ocupou o cargo por quatro anos. Em 1993 ele vence as eleições internas dentro do Likud e se torna a principal voz a oposição contra o governo liderado por Yzchak Rabin.
Ele se mostra contra os Acordos de Oslo, assinados em 1993 e que reconheciam a Autoridade Palestina como representante oficial do povo palestino.
Netanyahu chegou ao poder pela primeira vez em 1996, após vencer Shimon Peres na primeira eleição direta para o posto de primeiro-ministro na história de Israel. Durante a campanha contra Peres, Bibi adotou uma retórica contrária aos acordos de paz com os vizinhos árabes e afirmou que aumentaria a presença israelita na Cisjordânia.
Durante o seu primeiro governo, entretanto, Netanyahu fez concessões em relação aos vizinhos. Assinou um acordo com autoridades palestinas, cedendo 80% da cidade de Hebrom a elas e aceitou diminuir a presença israelense na Cisjordânia.
“Uma das maiores qualidades de Netanyahu como articulador político é que ele consegue se reinventar muito para continuar no poder. Já assumiu políticas mais a esquerda do espectro político como quando fez os acordos de Hebrom, mas também se aliou a extrema direita religiosa para formar um governo”, disse Gherman.
Netanyahu renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 1999 e, após três anos afastado da política israelense, voltou a fazer parte do governo em 2002. Assumiu o cargo de ministro das relações exteriores durante o mandato de Ariel Shalon, também membro do Likud. Entre 2003 e 2004 se tornou ministro das finanças do país.
Em 2006, voltou a tentar se candidatar ao cargo de primeiro-ministro, dessa vez como presidente do Likud, após Shalon ter deixado o partido para integrar o partido centrista Kadima, vencedor do pleito.
Netanyahu voltou ao cargo de primeiro-ministro israelense em 2009, após conseguir formar coalizão entre o seu partido, o Likud, e outras siglas de direita com números significativos de cadeiras no Knesset, como o Yisrael Beiteinu e o Shas.
“Netanyahu foi capaz de dizer que todos os partidos de esquerda eram antissionistas e que não tinham interesse em manter o estado de Israel seguro”, afirmou Gottfried. “ Em todos os momentos ele quis criar essa narrativa de que ele era a única pessoa que pode comandar Israel e levar o país para frente”, acrescentou.
Logo em seu primeiro ano de governo, quando se aproximava o fim do acordo de suspensão de construção de assentamentos na Cisjordânia, Bibi acenou com a possibilidade de reconhecer a Palestina como um estado independente caso o país aceitasse ser desmilitarizado. Com a negativa de lideranças palestinas, os acordos de paz entre os dois países foram paralisados até o final do primeiro mandato de Netanyahu.
Durante esse período, Israel também teve um momento de crise aguda com o Irã. Netanyahu colocou pressão na comunidade internacional para que os países tomassem ações mais duras contra a suposta existência de armas nucleares no país persa.
A política interna israelense também foi conturbada no primeiro mandato de Bibi depois de seu retorno ao poder. Em 2011, manifestantes foram às ruas do país pedir por maios investimento do governo em setores como transporte, educação e moradia. Esse cenário levou à realização de eleições antecipadas em janeiro de 2013.
Netanyahu conseguiu se manter no poder, mas, dessa vez, foi obrigado a formar uma coalizão que abrangia mais partidos de centro do que a anterior.
Os conflitos externos, entretanto, não acabaram. Em 2014, Netanyahu ordenou a realização de um ataque aéreo à Faixa de Gaza como resposta às ações de grupos palestinos contra Israel.
As críticas internacionais ao ataque israelense e a divergência com partidos que compunham a coalizão formada em 2013 levaram à convocação de novas eleições para o início de 2015.
O impasse político israelense atual se dá pelo perfil camaleônico de Bibi, um dos motivos que fazem ele continuar no poder, mas também uma das razões de sua especulada saída.
O Likud, partido de Netanyahu, provavelmente formaria uma coalizão com qualquer outra pessoa como seu número 1, mas sofre com rupturas dentro de partidos de centro, direita e árabe-israelense.
O maior desses partidos é o Yesh Atid, partido centrista de Yair Lapid que conquistou 17 cadeiras no parlamento. O bloco anti-netanyahu também possuí diferentes partidos de direita como “A nova esperança”, criado por Gideon Saar, “A Nova Direita”, de Naftali Bennet e o “Israel Nossa Casa”, de Avigdor Liberman. Além disso, a oposição também é formada pelo tradicional Partido Trabalhista, o Meretz, a Lista Conjunta, que é formada por três partidos árabes-israelenses, o Raam, partido árabe que não participa da Lista Conjunta e o Azul e Branco, partido do General Benny Gantz, que fez aliança com Netanyahu nas últimas eleições e perdeu prestigio com a população israelense.
Para conseguir formar um governo, Benjamin Netanyahu precisa fazer uma aliança improvável entre os partidos religiosos que o apoiam e dois partidos que estão dispostos a negociar com o premie: A Nova Direita do ex-aliado Naftali Bennet e o Raam, partido árabe-israelense que saiu da Lista Conjunta. Muito improvável que partidos da ultradireita religiosa façam um governo com um partido árabe.
O presidente de Israel concedeu a Yair Lapid o poder de formar uma coalização e ele está próximo de fazer isso. Um governo de união nacional, com partidos de direita, esquerda e até árabes israelenses está surgindo, apenas para derrotar Bibi.
Questionado sobre o futuro de Netanyahu na política israelense, Gherman acredita que Bibi seguirá no xadrez político, fazendo oposição a qualquer governo que for formado sem o partido dele. “Netanyahu vai continuar na política, não vejo ele indo para a iniciativa privada. Bibi tem muita vontade de seguir sendo o primeiro-ministro”.
Os recentes conflitos envolvendo o país e o grupo Hamas, facção palestina que controla a Faixa de Gaza, pode dar uma sobrevida a Bibi. “Netanyahu é muito forte em guerras, lida bem com a situação e se vende como a única pessoa que pode proteger Israel. Além disso, em uma situação como essa, é difícil fazer um governo de união nacional com tantos partidos que tem opiniões muito diferentes sobre o conflito com os palestinos”, declarou Gottfried.
Apesar dos rumores de que Netanyahu poderia reacender a chama em volta de seu nome, o opositor Yair Lapid chegou a um acordo com partidos de esquerda, direita, centro e arabe-israelense para produzir um governo de união nacional. O direitista Naftali Bennet deve ser o primeiro-ministro até 2023, enquanto Lapid vai terminar o mandato e ficar no cargo até 2025.
O futuro de Bibi, que parecia um articulador político invencível ,está incerto. A única certeza é que Benjamin Netanyahu nunca passará despercebido.
O nono mês do calendário islâmico, o Ramadã, está em curso - de 12 de abril a 12 de maio, em 2021- , e com ele, vêm todas as dificuldades que os muçulmanos brasileiros enfrentam para pratica-lo. O Ramadã é uma época do ano sagrada para a religião islã, que segue o calendário lunar, por isso varia em cada ano. De acordo com a crença, seria este mês que o profeta Maomé recebeu o Alcorão, livro sagrado com as palavras de Alá - Deus em árabe. Durante o período, os muçulmanos não podem ingerir alimentos, bebidas e remédios do nascer ao por do sol. Além disso, relações sexuais são proibidas durante o Ramadã.
O estudante de Relações Internacionais e seguidor da fé islâmica, Tarek Nassif, aponta que a principal adversidade para efetuar as tradições do período sagrado é o baixo números e mesquitas no Brasil.
"Por o Brasil ser um país onde a comunidade islâmica é uma minoria significativa, não possui muitas mesquitas no Brasil, a comunidade é muito distinta, não possui uma linha, que nem nos países islâmicos. E isso faz com que seja tudo mais afastado, não tem a mesma união que tem nos países islâmicos", explicou.
Porém, mesmo com as dificuldades, o estudante diz que é um período de muita purificação e que ensina a dar valor à coisas que os fiéis não dão muita atenção no dia a dia, como os alimentos. Outro problema que é resultado da pouca quantidade de muçulmanos no brasil - que o censo demográfico do IBGE de 2010 estima ser de 35.167 pessoas, enquanto as instituições islâmicas afirmam ser de 1,5 milhões - é a falta de lei trabalhistas para o período.
Em países de maioria islâmica, durante o Ramadã, há uma redução da carga horária de trabalho para que os fiéis possam realizar o jejum sem maiores dificuldades. Aqui no Brasil, porém, os advogados que a AGEMT conversou apontam que não há nenhuma lei que determine o que deve ser feito.
Para ter mais informações sobre o Ramadã e como ele é praticado aqui no brasil, assista ao vídeo abaixo!
Após 20 anos da guerra mais cara já travada pelos Estados Unidos, no dia 14 de abril de 2021, o presidente norte-americano Joe Biden anunciou a retirada das tropas americanas do Afeganistão. O recuo afeta diretamente no futuro político e social do país, já que o Talibã - grupo islâmico extremista -, segundo o jornal Deutsche Welle, está cada vez mais fortalecido, ameaçando a desejada democracia.
O início do conflito ocorreu em 2001, em resposta ao ataque terrorista realizado pelo grupo extremista Al-Qaeda, que ficou conhecido como “O Ataque às Torres Gêmeas”. Os Estados Unidos invadiram o país do Oriente Médio onde se localizava o movimento do Talibã, o qual havia declarado apoio e proteção à Osama bin Laden - organizador do ataque.
Em entrevista exclusiva à AGEMT por telefone da Inglaterra, Haroun Rahimi relatou, a partir do olhar de um afegão, sobre a decisão histórica. Rahimi é professor assistente de Direito da Universidade Americana do Afeganistão e no Centro de Estudos Islâmicos da Universidade de Oxford está trabalhando na pesquisa da história legal do Afeganistão.

AGEMT: Você pode explicar um pouco sobre o acordo de paz entre os Estados Unidos e o Afeganistão e como o anúncio feito por Joe Biden afeta os talibãs, que querem ser reconhecidos mundialmente?
Haroun Rahimi: Os Estados Unidos sob o comando de Trump iniciaram uma negociação sombria com o Talibã, com o objetivo de assegurar a retirada das forças norte-americanas do Afeganistão em troca do compromisso do Talibã de garantir que não permitiriam que grupos terroristas usassem o Afeganistão para ameaçar os Estados Unidos. Esse é o tom do acordo. Havia também o compromisso de que o Talibã se engajaria na negociação com o governo afegão para encontrar soluções clínicas para a guerra no Afeganistão. E o acordo definiu o prazo até 1º de maio para a retirada das tropas americanas. Biden venceu a eleição e quando ele veio para o cargo, seu governo realizou uma ampla revisão do acordo feito pelo governo de Trump e, finalmente, anunciou que cumpriria o acordo. No entanto, eles precisariam que as forças dos EUA fossem retiradas com segurança do Afeganistão, então eles precisariam de mais tempo. Assim, o governo Biden estendeu o prazo para setembro. Mas as melhores partes do acordo permanecem em vigor, a retirada não é condicional. Eles acreditam e decidem fazer uma pausa na influência militar para forçar o Talibã a respeitar os direitos das mulheres e os direitos das minorias e se engajar em classes democráticas. O desejo de reconhecimento internacional em si não seria suficiente para forçar o Talibã a cumprir. Mas, até agora, vimos a pressão militar aumentar os combates e até mesmo a opinião pública não voltou contra o Talibã. Portanto, mesmo com a moral, a narrativa e a opinião pública, eles não estão realmente sob muita pressão para serem comprometidos.
AGEMT: Você acredita que este é o melhor momento para os Estados Unidos retirarem as tropas?
Rahimi: O argumento é que nunca houve um bom momento nos últimos 20 anos e a política fez o argumento de que as tropas americanas deveriam esperar até que as condições fossem resolvidas e fossem apropriados para a retirada das tropas dos EUA. E por quê isso era complicado, era um objetivo elusivo. Essa parte importante do argumento é que a presença contínua de tropas americanas é parte do problema. Portanto, Biden pensou que se os EUA continuassem presentes no Afeganistão, o governo afegão não teria motivos suficientes para realmente fazer os compromissos [propostos no acordo], realmente intensificar e lutar contra o Talibã por conta própria. Há também outros aspectos: que os EUA tentaram administrar processos de paz. Não sei se a retirada dos EUA em um momento diferente teria tido um processo de paz melhor, não tenho certeza disso. Mas acho que a forma como esse processo foi estruturado e como foi conduzido pelos americanos, dependia de um cronograma, ou seja, suas prioridades. Mas também a forma como tentaram encerrar o processo de paz foi apressada, o que minou a integridade e colocou muita pressão sob o governo afegão. Isso torna os processos de paz futuros mais difíceis, porque não é muito o que o governo do Afeganistão pode oferecer neste momento.
AGEMT: Fazendo algumas pesquisas, encontramos que o Talibã domina quase 70% do território afegão. Você acredita que quando as tropas começarem a partir, o Talibã vai dominar ainda mais e, possivelmente, torná-los mais fortes?
Rahimi: Os números sobre o quanto o território afegão é controlado pelo Talibã não são confiáveis. A forma como isso funciona é: dividir o Afeganistão em distritos. Os dados são baseados na confiança de opiniões observadas sobre qual lado do governo ou do Talibã vai prevalecer naquela área e distrito. A maioria das pessoas vive em cidades e o Talibã não controla nenhuma grande cidade. Existem números à parte. O Talibã controla uma grande parte do Afeganistão fora das grandes cidades, fora dos centros distritais. Eles controlam e têm muita presença e podem desafiar com sucesso as regras do governo em muitas partes do país. Em termos de se o Talibã pode dominar, acho que as opções não são entre assumir o controle do Talibã e colocá-lo em um sistema. A escolha é entre um processo de paz ordeiro que permitirá ao Talibã e ao governo encontrar uma maneira ordeira de encerrar o conflito ou a guerra civil. O Talibã não pode dominar o país, mesmo no auge de seu poder quando controlava a maior parte do país, eles não foram capazes de acabar com a guerra, havia uma guerra civil em andamento. Portanto, o Talibã não será aceito pelo país a um nível que possa realmente se tornar o legítimo regime no Afeganistão, mas pode empurrar o país para uma guerra civil. A questão é se o Talibã vai pressionar para que os militares assumam o controle e, como resultado, empurrar o país para uma guerra civil ou se eles vão buscar um acordo político ordeiro para liderar uma dissolução ordeira e, com sorte, terminar o conflito.
AGEMT: Como a população afegã recebeu o anúncio do presidente americano? Há medo de uma possível guerra civil?
Rahimi: Em termos de como as pessoas se sentem, quero dizer, obviamente há 38 milhões de afegãos, eles têm opiniões diferentes sobre o que é a presença dos EUA no Afeganistão. Eles tiveram reações diversas: alguns - especialmente as pessoas que foram educadas em diferentes cidades - construíram essa ideia de democracia, pluralismo e liberalismo que estavam assegurados. E agora eles se sentem traídos, têm medo de que o Talibã assuma o controle. Algumas partes do país, eu acho que acreditam que o Afeganistão sofre muitas perdas: humanas e econômicas. Acho que também é uma afirmação nacional que a retirada das tropas dos EUA dê aos afegãos a oportunidade de serem mais independentes e assumirem o controle de seu país na defesa. Então, eu acho que há uma mistura de sentimentos: há o medo do futuro, há um momento de nacionalismo orgulhoso, há também uma esperança de dissolução do conflito. Mas o medo é real, há uma ansiedade de que o que vai acontecer. O mínimo fato negativo que essa decisão teve foi criar muita incerteza sobre como será o futuro.
AGEMT: Agora sobre a universidade: você tem alunas? Como o direito delas de ir para a universidade está ameaçado agora?
Rahimi: A divisão educacional de parte do Afeganistão é na verdade muito vibrante. Temos mais de trinta universidades públicas e mais de cinquenta particulares. Há muitas alunas e alunos; no sistema de ensino básico, é seguro que as meninas representam quase 40% dos alunos. No ensino superior, pelo menos um quarto dos alunos do corpo docente são mulheres. Eles abriram para as meninas irem à escola e às universidades. Um temor com o possível retorno do Talibã seria que ficaria limitada a garantia de educação para as mulheres. Esse é um medo real e as estudantes mulheres, na verdade, têm esse medo íntimo porque o passado com a política do Talibã era muito restritivo em relação às mulheres. Em lugares que eles [o Talibã] têm controle agora, eles não mostram quaisquer mudanças em suas atitudes em relação à política para mulheres.
AGEMT: Concluindo, para você, quais são suas expectativas para o futuro nessas novas circunstâncias?
Rahimi: Em termos do que esperar no futuro, é realmente difícil dizer. Prever o futuro é impossível, mas minha esperança é que essa retirada das tropas dos EUA abra uma oportunidade para os afegãos se unirem e concordarem em fazer compromissos, difíceis de ambos os lados, para garantir e evitar a guerra civil. Seria necessário que o Talibã aceitasse a natureza pluralista do Afeganistão e concordasse em participar do processo democrático. Todas as forças contrárias ao Talibã devem se unir politicamente e falar com uma só voz, e devem se concentrar em preservar os princípios básicos e garantir que possamos ter pluralismo e democracia no Afeganistão. Como o Afeganistão é um país pluralista e as pessoas acreditam em coisas diferentes, o Talibã representa parte do país, mas não representa o país inteiro. A tarefa é encontrar uma maneira de combinar todas essas diferenças, de forma que todos se sintam incluídos e tenham uma palavra real sobre como será o sistema.

A insegurança tomou conta das pessoas durante a pandemia, seja com a saúde, com a família ou com o trabalho. Para estrangeiros, a distância da família e as diferentes experiências com políticas públicas de saúde só faz com que o medo se intensifique.
A gerente de recursos humanos da Europa, África e Oriente Médio da multinacional Bayer, Thais Costa (37), está morando na Suíça com a filha de quatro anos e o marido, desde agosto de 2019.
Para Costa não houve medo de perder o emprego, já que não houve redução de funcionários em sua área devido a pandemia. Entretanto, ela teve que construir um escritório dentro de casa. A reforma foi paga com ajuda da empresa, que direcionou uma quantia para todos os funcionários se adequarem ao home office.
Com a mudança de rotina, tendo que trabalhar em home office, Costa relata que o mais difícil de administrar foi cuidar da filha durante os horários de trabalho. “Ela é pequena, demanda atenção maior quando está em casa. Mas por sorte, as escolas estão funcionando normalmente desde maio do ano passado.”
Para Costa a administração das prefeituras em relação à proteção da população com o vírus foi boa, com lockdowns bem administrados. Entretanto, ela critica a administração da aplicação das vacinas, visto que está prevista para se vacinar apenas em agosto. “Estou decepcionada com a demora, a Suíça é um país com 8 milhões de habitantes, poderia já estar muito mais avançado.”
O gerente de processos tecnológicos global, Guilherme Heinen (39), está morando em Colonia na Alemanha desde julho de 2020 com a sua família. Onde ele mora, ainda não há previsão para que a faixa etária dele tome a vacina contra a Covid-19.
Assim como Costa, Heinen passou a trabalhar em home office desde o começo da pandemia e não sentiu medo de perder o emprego. O trabalho inclusive foi o motivo da mudança para Colonia. O gerente também acha que o planejamento da prefeitura local para reduzir o vírus teve bons resultados na diminuição de mortos