Ataque televisionado, silenciamento de jornalistas e fome declarada na região palestina
por
Maria Mielli
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29/08/2025 - 12h

O complexo médico Nasser, um dos maiores e um dos últimos hospitais em funcionamento no sul da faixa de Gaza, foi alvo de dois bombardeios seguidos na manhã da última segunda-feira (25). O double tap strike (ataque duplo), é uma tática militar que tem como objetivo atacar duas vezes o mesmo local para intensificar o número de vítimas. 

O segundo ataque foi televisionado enquanto a emissora local mostrava ao vivo a tentativa de resgate dos sobreviventes feridos ainda no primeiro bombardeio. A ofensiva deixou ao menos 20 pessoas mortas, incluindo 5 jornalistas: Mariam Riyad Abu Dagga, 33 anos; Moaz Abu Taha, 27 anos; Mohammad Saber Ibrahim Salama, 24 anos; Husam Al-Masri, 49 anos; Ahmad Salama Abu Aziz, 29 anos. 

A “arma” que o governo de Israel mais teme são as câmeras dos jornalistas que lutam dia a dia para denunciar os horrores que o exército israelense comete em mais de dois anos de genocídio.

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Mariam Riyad Abu Dagga; Moaz Abu Taha; Mohammad Salama; Husam Al-Masri e Ahmad Abu Aziz / Foto: Reprodução Stop Murdering Journalists

Segundo o site Stop Murdering Journalists, cerca de 300 jornalistas foram mortos por tropas israelenses. Em pronunciamento oficial divulgado no site da rede de notícias Al-Jazeera, na qual o fotojornalista Mohammad Salama trabalhava, a emissora repudiou os ataques e os classificou como “uma intenção clara de enterrar a verdade”.

Em entrevista para a AGEMT, o historiador Mateus Orantas afirmou que o mundo está assistindo a um holocausto dos palestinos e que, assim como foi durante a segunda guerra, a propaganda ainda é a maior arma a favor do opressor. “A propaganda anti Palestina e pró Israel é muito forte, mas hoje, temos a internet que faz com que a globalização seja mais intensa e acaba nos mostrando a realidade…porém por causa dos algoritmos e de quem comanda as redes, você só vai ter conhecimento do que está acontecendo, se seguir as páginas certas” declara. 

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Desespero palestino para tentar se alimentar / Foto: reprodução Instagram Ahmed Nofal
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Na última quarta-feira (27), Ramiz Alakbarov, coordenador especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Processo de Paz no Oriente Médio, afirmou em reunião do Conselho de Segurança (CSNU), que Gaza “está afundando cada vez mais em um desastre”. Segundo Ramiz, as consequências da crise – gerada por Israel – são os volumosos números de vítimas civis, deslocamento em massa e a fome, que é uma verdadeira arma de guerra. 

Uma análise realizada pela Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), formada por várias agências humanitárias internacionais, classifica a fome na região palestina como sendo de nível máximo. 

Outros 1,07 milhão de pessoas estão em estado de emergência. Segundo este estudo, os números devem piorar ainda mais nos próximos meses. É esperado que a desnutrição se expanda para cidades do sul da Faixa de Gaza, como Deir al-Balah e Khan Younis, deixando quase um terço da população em estado catastrófico (nível 5 IPC). A previsão ainda afirma que até junho de 2026, pelo menos 132 mil crianças menores de cinco anos sofram com a escassez de alimentos.

O coordenador de ajuda emergencial das Nações Unidas, Tom Fletcher, ressaltou que por trás desses números alarmantes, existem vidas – filhos, filhas, mães, pais e todo um futuro que foi interrompido. “Esta fome não é produto de uma seca ou algum tipo de desastre natural. É uma catástrofe criada ", esclareceu Fletcher em documento divulgado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). A declaração pede, majoritariamente, a cessação imediata das hostilidades em Gaza; a libertação de todos os reféns e a proteção de civis; e infraestrutura crítica e funcional. O coordenador finaliza dizendo que apesar de ter havido um certo aumento na ajuda humanitária, ainda há muito o que ser feito. “Ainda há tempo para agir”.

 

 

Iniciativa coordenada pelo sindicato da categoria em São Paulo busca justiça pelos colegas de profissão mortos pelo exército israelense
por
Marcelo Barbosa P.
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29/08/2025 - 12h

Na última quinta-feira (28), o Sindicato dos jornalistas profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) realizou uma manifestação contra o assassinato dos profissionais de imprensa pelo Estado de Israel. O evento ocorreu em frente ao prédio da CNN, na Avenida Paulista, em São Paulo.

A mobilização foi anunciada nas redes sociais na quarta-feira (27).  “A manifestação desta quinta-feira tem como objetivo exigir a interrupção das operações militares israelenses e do genocídio do povo palestino e que termine imediatamente a matança de jornalistas pelo Estado de Israel. As autoridades israelenses civis militares responsáveis pelos assassinatos de profissionais da mídia precisam ser punidas.” afirmam na publicação. O post se refere aos dois ataques feitos a um hospital em Gaza, ocorridos na segunda (25), que resultaram na morte de cinco jornalistas, além dos profissionais da saúde.

O ato começou por volta das 17h. A princípio, havia poucos manifestantes, mas gradualmente mais pessoas se juntaram ao protesto. Os cidadãos chegaram com bandeiras e placas na mão e gritavam: “Palestina Livre”. 

Lilian Borges, uma assistente social especializada em pessoas em situação de rua, que participa da Frente Palestina São Paulo, marcou presença e afirmou que um dos principais motivos para ir protestar é considerar desumano o que ocorre em Gaza. “Cabe a nós, como humanos, ajudar a eles neste momento difícil que estão vivendo. Então, eu acho que toda população deveria estar aqui. Além disso, exigimos que o presidente Lula rompa as relações diplomáticas e comerciais com Israel e, principalmente, que a gente pare de mandar petróleo para lá, já que isso ajuda a financiar o poder bélico deste Estado.”

 

Lilian Borges segura uma bandeira/ Reprodução: Marcelo Barbosa
Lilian Borges segura uma bandeira/ Foto: Marcelo Barbosa

 

Breno Altman, jornalista fundador do site de notícias Opera Mundi, afirma que o assassinato aos jornalistas foi um crime planificado por Israel. Sobre a ótica de Bruno, o ocorrido foi ocasionado para que o acesso à informação fosse dificultado e que outros países não tivessem acesso ao que ocorre em Israel. “Eles não querem que relatos e imagens cheguem ao mundo, já que comprovaria o genocídio que o regime sionista está fazendo.”.

 

Apesar da diferença, Mohamad Saimurad uniu-se ao amigo palmeirense para ir à manifestação
Apesar das diferenças, o corinthiano Mohamad Saimurad uniu-se ao amigo palmeirense pela causa palestina/ Reprodução: Marcelo Barbosa


Encostado em uma parede, Mohamad Saimurad, diretor de uma escola, vestia uma camisa do Corinthians e, acompanhado do amigo palmeirense, protestava. "O sionismo é uma ideologia europeia, colonizadora e racista. Eu me pergunto por que a humanidade está em silêncio. Então, eu estou aqui para ver se a humanidade acorda em relação ao Estado genocida de Israel".

O pronunciamento público teve apoio, além dos organizadores, do Coletivo Shireen Abu Akle de Jornalistas Contra o genocídio, da Federação Árabe-palestina do Brasil (Fepal), Frente Palestina de São Paulo e Núcleo Palestina do PT.

Acusados de colaborarem com 'trabalho forçado do regime cubano', servidores do programa têm vistos revogados
por
Victória Rodrigues
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18/08/2025 - 12h

 

O governo Trump revogou na última quarta-feira (13) os vistos de  dois brasileiros, que participaram da criação do Programa Mais Médicos em 2013. Mozart Júlio Tabosa, secretário do Ministério da Saúde do Brasil, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro, foram os alvos das sanções.

Em nota divulgada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a justificativa apresentada foi que ambos teriam colaborado para um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra” do governo cubano através do programa Mais Médicos, privilegiando o governo de Cuba às custas dos profissionais da saúde e cidadãos do país. 

O programa Mais Médicos foi uma iniciativa criada no governo de Dilma Rousseff, a fim de levar atendimento médico à áreas remotas e com maior vulnerabilidade. Dentro do programa, podem participar tanto profissionais brasileiros quanto estrangeiros, desde que cumpram com as exigências propostas, como formação com diploma e registro profissional. 

Entre 2013 e 2018 foram contratados profissionais cubanos, com uma parceria intermediada pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde). Nesse acordo, os participantes recebiam 30% do valor de sua remuneração, que na época chegava a 10 mil reais, os outros 70% eram destinados ao governo de Cuba.

Em 2015, o Mais Médicos, contava com cerca de 14 mil profissionais, dos quais 11,4 mil eram cubanos. No entanto, em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro, a parceria foi encerrada. 

Segundo Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado estadunidense, as contratações para o programa não cumpriam a regulamentação impostas pelo próprio governo brasileiro. Também acusou o programa de contornar as sanções dos EUA contra Cuba. 

Rubio ainda justificou as medidas dizendo que o regime cubano estava exportando seus médicos para trabalhar de forma forçada e com isso estava deixando de cuidar da saúde de seus próprios cidadãos. “Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais”.

Além do Brasil, autoridades de países africanos, Cuba e Granada também foram alvos das restrições de vistos por cooperarem com o programa Mais Médicos.

Bruno Rodríguez, Ministro de Relações Exteriores de Cuba, criticou a decisão do governo dos EUA. “Isso mostra imposição e adesão à força como nova doutrina de política exterior a esse governo", disse. Também afirmou que Cuba continuará enviando médicos em missões à outros países. 

Nas redes sociais, Mozart Júlio Tabosa defendeu o programa de saúde, e manifestou sua insatisfação com a situação: "Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo - universal, integral e gratuito".

Essa decisão do governo de Donald Trump segue uma sequência de retaliações contra o Brasil. Desde o mês de julho, o país recebeu taxações em produtos exportados e sanções contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. 

Presidente estadunidense evita divulgação da lista de Epstein e população levanta possibilidade de seu nome estar nela
por
Daniella Ramos
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14/08/2025 - 12h

 

Donald Trump foi eleito em 2024 tendo como uma de suas promessas a divulgação de uma suposta lista que teria o nome de todos os investigados por possível envolvimento com Jeffrey Epstein em crimes de pedofilia.

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Trump e Epstein juntos em uma festa em 1992. Foto: Reprodução/NBC

A cobrança em cima do presidente dos Estados Unidos para a divulgação da lista de investigados no caso, o levou a declarar para a imprensa que o caso era uma maneira de desviar a atenção para algo que é uma “besteira”, nas palavras dele.

“O fato de Trump não cumprir com o que prometeu pode ser pelo rumo que a política tomou… além do fato dele estar ou não envolvido”, comenta o doutor em Ciência Política da PUC-SP, Igor Fediczko. Segundo o Wall Street Journal, Donald Trump foi avisado no início do ano que seu nome estava nos documentos relacionados ao caso de Epstein, a Casa Branca respondeu dizendo se tratar de uma fake news. 

Além da indignação de eleitores a Trump sobre a falta de compromisso com a promessa de exposição dos documentos do processo de Jeffrey, os opositores também se manifestam nas redes sociais. Em sua conta no X, a deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez relacionou a demora na divulgação dos arquivos com supostas acusações de crimes sexuais cometidos pelo republicano. 

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Publicação feita no X pela deputada Alexandra Ocasio-Cortez. Foto: Reprodução/@AOC

 

Índices do Google Trends apontam que as pesquisas envolvendo o nome de Donald Trump e Jeffrey Epstein aumentaram no início de Junho e final de Julho, mesmo período em que o presidente estadunidense começou a distribuir altas tarifas para o mundo todo. 

“Talvez isso tenha feito com que a comunicação ou política do Trump tenha se tornado ainda mais radical”, comenta Igor Fediczko analisando que o tarifaço possa ser uma ”cortina de fumaça” para a polêmica de Epstein.

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Gráfico de pesquisa dos nomes de Donald Trump e Jeffrey Epstein. Foto: Reprodução/Google Trends

 

Apesar das hipóteses sobre a ligação do atual presidente dos Estados Unidos, os nomes que mais chamaram atenção recentemente sobre a proximidade com Epstein foram Bill e Hillary Clinton, que irão depor em outubro, e o príncipe Andrew, que aparentava ser amigo pessoal pelos e-mails trocados com Jeffrey. Assim como Trump, existe a comprovação de que eles já andaram no jato particular com Jeffrey Epstein e possivelmente tinham amizade. 

Jeffrey Epstein era um bilionário, empresário e financista americano, que ficou conhecido pela rede de tráfico sexual de menores ao qual tinha ligação. Seu trabalho com investimento fez com que construísse ligação com o ex-presidente Bill Clinton, Donald Trump, o príncipe britânico Andrew e outras celebridades. 

Em 2008, os pais de uma garota de 14 anos declararam à polícia do Estado americano da Flórida que Jeffrey Epstein havia a molestado. Naquele ano, ele firmou um acordo judicial com a promotoria, mas fotos de crianças foram encontradas por toda sua casa em Palm Beach causando sua condenação por exploração sexual de menores. Escapou de denúncias federais que poderiam causar prisão perpétua, conseguindo um acordo de 13 meses de prisão e indenização às vítimas. 

Onze anos depois, houve uma nova acusação de administração de uma rede sexual com meninas menores de idade. Logo foi preso e, enquanto aguardava o julgamento, se suicidou no presídio.

As investigações desses dois casos criminais geraram uma série de documentos que incluem transcrições de entrevistas com as vítimas e testemunhas e objetos confiscados nos imóveis de Epstein. A ex-namorada de Jeffrey, Ghislaine Maxwell, foi condenada em 2021 por associação criminosa de tráfico sexual de meninas.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a autoria do atentado
por
Annanda Deusdará
Maria Mielli
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13/08/2025 - 12h

Uma ofensiva de Israel matou seis jornalistas que estavam instalados em uma tenda de imprensa próxima ao hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, no último domingo (10). Dentre as vítimas, quatro eram funcionários da agência de notícias Al Jazeera: dois cinegrafistas, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, e dois repórteres Mohammed Qreiqeh e Anas al-Sharif. Ambos rostos conhecidos pelo êxito em denunciar diariamente o genocídio palestino. 

Minutos antes de morrer, Qreiqeh esteve no ar pela última vez, cumprindo mais um dia de trabalho. Al-Sharif havia postado em suas redes sociais, também pouco antes de se tornar mais um dos milhares de palestinos assassinados, que um ataque israelense estava acontecendo. “Oh Deus, concede-nos a paz, concede-nos a paz. Bombardeio israelense pesado e concentrado com faixas de fogo visando as áreas leste e sul da cidade de Gaza”, lamentou em sua conta no X.

O exército israelense acusou o jornalista de ser membro de uma das células do Hamas, mas sem apresentar provas. “Terrorismo em colete de imprensa ainda é terrorismo. Anas al-Sharif não estava apenas documentando para Al Jazeera. Ele era um membro do Hamas, desde 2013”, declararam em postagens feitas no Instagram oficial. A agência de notícias Al Jazeera, por outro lado, nega veementemente as acusações e afirma que o ataque foi uma estratégia israelense de silenciar um dos grandes nomes do jornalismo local. “Nós sabíamos que Anas era o alvo… Ele era nossa voz”, lastimou o jornalista independente Mohammed Qeita no site oficial da agência, após o ataque. Apesar de ter confirmado o planejamento e execução de al-Sharif, o governo de Israel não se manifestou sobre as outras cinco vítimas.

Não é a primeira vez que ataques a jornalistas ocorrem na Faixa de Gaza. Em julho de 2024, o jornalista Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi tiveram seu carro bombardeado por um míssil enquanto cobriam o assassinato do chefe político do Hamas também para a Al Jazeera. As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram as mortes e alegaram que Ismail integrava as forças Nukhba, divisão militar de elite do Hamas. O noticiário para o qual os profissionais trabalhavam negou as acusações e fez um apelo para que fossem tomadas ações imediatas: “Insistimos que as instituições jurídicas internacionais responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim do alvo e do assassinato de jornalistas,” declarou em nota a emissora à época.

No mês passado, quando acusado de ser membro do Hamas pelas FDI, al-Sharif negou toda e qualquer ligação com o grupo. Reafirmou que era um jornalista sem afiliações políticas e que sua única missão era relatar a verdade. “Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, concluiu em postagem na rede social. 

Em mensagem final preparada para o caso de sua morte e publicada postumamente por seus colegas, al-Sharif pede “que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o Sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, e finalizou: “Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação”. 

Silenciamento de jornalistas 

O bloqueio que ocorre em Gaza também limita o acesso e a produção de notícias no local. Os meios de comunicação internacionais são proibidos de circular pela região, a não ser que estejam acompanhados pelo exército israelense. Atualmente, a única maneira de se ter acesso ao que acontece na região, além do relatado por Israel, se dá através das reportagens feitas por jornalistas palestinos.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 192 jornalistas foram assassinados desde outubro de 2023, quando começou o conflito. Esse número é maior do que a soma das mortes ocorridas nas duas guerras mundiais (69). Além das mortes, 90 profissionais foram presos por Israel no exercício de sua profissão. 

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Gráfico sobre o assassinato de profissionais de comunicação por razões políticas. IArte: Annanda Deusdará/Agemt

 

Ainda segundo a CPJ, em 2024 ao menos 124 jornalistas e outros trabalhadores de comunicação foram mortos; destes, 85 foram vítimas da guerra de Israel contra a Palestina. O número ultrapassou o recorde de 2007, durante a guerra do Iraque, de 113 mortes. O Comitê alerta que o crescimento da violência contra este grupo prejudica a circulação de informações.

Quem eram os seis jornalistas assassinados

Anas al-Sharif, 28 anos, pai de 2 filhos. Segundo a Al Jazeera, um dos rostos mais conhecidos por denunciar o genocídio em Gaza. Nasceu num campo de refugiados em Jabalia, no norte da região, e se formou na Al-Aqsa University Faculty of Media. Seu pai foi morto por Israel em um bombardeio na casa da família em dezembro de 2023.

Mohammed Noufal, 29 anos, era cinegrafista da Al Jazeera. Também de Jabalia, perdeu a mãe e um irmão em ataques de Israel. Seu outro irmão, Ibrahim, também trabalha no veículo. 

Ibrahim Zaher, 25 anos, também era cinegrafista e paramédico voluntário. Nasceu no mesmo campo de refugiados que seus colegas de trabalho.

Mohammed Qreiqeh, 33 anos, fez sua última aparição ao vivo um pouco antes de ser assassinado. Nasceu em Gaza em 1992 e viveu na vizinhança de Shujayea. Formou-se jornalista na Islamic University of Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março, num bombardeio. 

Moamen Aliwa, 23 anos, era estudante de engenharia e cinegrafista independente.

Muhammad Al-Khalidi, 33 anos, era um jornalista independente que produzia vídeos para o Youtube documentando o conflito em Gaza.

 

A uma semana das eleições, conheça 8 dos 12 nomes na disputa à presidência na França
por
Luan Leão
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03/04/2022 - 12h

No próximo domingo, 10/04, os franceses devem ir às urnas para escolher o novo presidente a comandar o país pelos próximos 5 anos. Atualmente no poder, o presidente Emmanuel Macron (A República Em Marcha) é líder nas pesquisas e concorre à reeleição. 

Vamos conhecer os 8 candidatos do “segundo pelotão” da disputa presidencial, de acordo com as pesquisas eleitorais.  

Valérie Pécresse (Republicanos)

É a candidata da direita moderada no país, e na mais recente pesquisa eleitoral divulgada aparece em 5º lugar.

Valérie Pécresse candidata Republicana
Válerie Pécresse - Foto: Christine Poujoulat / AFP

 

Pécresse pertence ao Republicanos, e venceu as primárias do partido com 61% dos votos. Aos 54 anos de idade, a candidata é a primeira mulher a representar o partido Republicano em uma eleição presidencial. 

O partido é o mesmo do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que governou a França de 2007 a 2012. Durante os governos de Sarkozy, Pécresse foi ministra do Ensino Superior e da Pesquisa, e também, ministra do Orçamento e Contas Públicas. 

Segundo aliados, Pécresse não tem como ponto forte o carisma, mas defende um projeto de firmeza em relação a segurança pública e imigração, e liberal na economia. 

“Tomarei controle da imigração”, disse a candidata em discurso de lançamento da candidatura 

 

Yannick Jadot (Verde)

Membro do parlamento Europeu desde 2009, Jadot tem 44 anos de idade, e é atualmente o 6º colocado nas pesquisas. Também já foi diretor de campanha do Greenpeace de 2002 a 2008. Recebeu a indicação do partido em uma disputa apertada nas primárias, tendo obtido 51,03% dos votos. 

Yannick Jadot candidato dos Verdes
Yannick Jadot - Foto: Geoffroy Van Der Hasselt / AFP

Em 2016, Jadot também foi o pré-candidato à presidência pelos Verdes, porém, temendo uma derrota da esquerda, e pregando uma união no bloco, o candidato dos Verdes abriu mão de sua candidatura em favor de Benoît Hamon, que a época era o nome apoiado pelo então presidente François Hollande. 

Pró-europeu e de linha pragmática, Jadot oferece um plano de governo que prioriza ações voltadas ao clima, e diz que “a batalha do clima é vital”. O candidato dos Verdes também é um crítico de Emmanuel Macron, pelo que ele chama de “inação climática”, além de dizer que Macron é “presidente dos lobbies”. 

“Jovens da França, não deixem ninguém decidir no seu lugar. Não deixem passar esta chance histórica de mudar as suas vidas. [...] Participem desta eleição com o seu entusiasmo. Juntem-se a nós, deem mais força para construir a república ecológica”, disse Jadot se dirigindo a juventude em um ato de campanha 

 

Fabian Russel (Partido Comunista)

Depois de apoiar as candidaturas de Jean-Luc Mélenchon em 2012 e 2017, o Partido Comunista decidiu lançar candidatura própria, está em 7º lugar, de acordo com a pesquisa eleitoral mais recente. O nome do partido é Fabian Russel, de 52 anos de idade. 

Fabian Roussel
Fabian Russel - Foto: Reprodução 

Mais radical, Russel promete triplicar o imposto sobre fortunas (ISF) e criar um posto para aqueles que lucraram com a crise sanitária ocasionada pela COVID-19. O candidato também tem em seu plano de governo o desejo de estatizar grandes empresas como a EDF energia, além de bancos e seguradoras. 

A diferença em seu plano de governo em relação aos candidatos de esquerda/extrema-esquerda está no apoio ao uso de energia nuclear. 

 

Jean Lassalle (Resistir!)

Fundador do partido em 2016, aos 66 anos de idade disputa sua segunda eleição. A primeira foi em 2017, tendo ficado em 7º lugar dentre os 11 candidatos. Lassalle fala em reconstruir um Estado Francês baseado no lema republicano: “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Atualmente está em 8º lugar nas pesquisas eleitorais.

Jean Lassalle
Jean Lassalle - Foto: Lionel Bonaventure / AFP 

Em 2018, Lassalle esteve nos protestos à frente da Assembleia Nacional vestindo coletes amarelos, símbolo do movimento. As manifestações pararam o país, e o ato causou a suspensão da sessão. 

O candidato afirma ter “íntima experiência e conhecimento das instituições francesas”. Suas propostas são ousadas, entre essas medidas, Lassalle propõe realizar referendos de iniciativa cidadã, abolir a corte da Justiça da República integrando seus Ministros a justiça comum, baixar os impostos sobre os combustíveis e preparar a saída da França da Otan.

 

Anne Hidalgo (Partido Socialista)

A atual prefeita de Paris tem, aos 62 anos de idade, uma missão complicada nesta eleição. Apesar de contar com o apoio do ex-presidente francês François Hollande, a migração do eleitorado, por toda a Europa, para um voto mais a direita enfraqueceu os socialistas, que ocupam apenas o 9º lugar nas pesquisas de intenção de voto. 

Anne Hidalgo, prefeita de Paris
Anne Hidalgo - Foto: Julien Bouttellier / Lille News

Apesar de ter governado o país com Hollande de 2012 a 2017, o Partido Socialista vem enfrentando dificuldade de dialogar com os eleitores. Nas eleições de 2017, o candidato socialista Benoît Hamon sequer passou ao segundo turno. No atual pleito, Hidalgo luta para chegar a 2% nas intenções de voto. 

Eleita pela primeira vez para o cargo de prefeita da cidade de Paris em 2014, e tendo conseguido a reeleição em 2020, Hidalgo tem enfrentado problemas em sua gestão, o mais notório deles foi o movimento dos coletes amarelos em 2018. A prefeita de Paris também é criticada pela sujeira na cidade, e tem o desafio de preparar os Jogos Olímpicos de Paris em 2024. 

O seu plano de governo é baseado na transição ecológica, e o partido aposta no caráter combativo de Anne Hidalgo para conquistar os eleitores. 


Na disputa, mas com poucas chances… 

 

Philippe Poutou (Novo Partido Anticapitalista)

Contra a existência do cargo de presidente, o ex-operário de 55 anos de idade enfrenta abertamente os candidatos liberais. 

Phillippe Poutou
Phellippe Poutou - Foto: Facebook 

Poutou ataca constantemente a postura dos principais candidatos “da burguesia”, como Emmanuel Macron e a “racista e xenófoba” Marine Le Pen. Para o metalúrgico, os candidatos se aproveitam do sistema. 

O candidato é a favor de uma esquerda revolucionária, anti-imperialista e internacionalista, e confia de forma incisiva na força da classe trabalhadora, para que os capitalistas paguem pela crise. 

 

Nicolas Dupont-Aignan (A França de Pé)

Aos 61 anos de idade, esta é a terceira vez que Dupont-Aignan se lança à presidência. Funcionário público de carreira e deputado distrital por Essonne, é presidente de seu partido, que defende uma linha soberana e eurocética. 

Nicolas Dupont-Aignan
Nicolas Dupont-Aignan - Foto: AFP

O deputado defende a “independência da França” e pautas como a revisão de acordos em nível europeu. 

Ex-integrante da direita clássica francesa, Dupont-Aignan disse à imprensa na última segunda-feira (28) que “provavelmente” está liderando sua última campanha. 


 

Nathalie Arthaud (Luta Operária)

Considerada o principal nome desta ala da esquerda no país, Arthaud, de 52 anos de idade, é professora universitária na região metropolitana de Paris, e está disputando sua segunda eleição presidencial. Na primeira vez, em 2012, obteve 0,56% dos votos, cerca de 200 mil cédulas. 

Nathalie Arthaud
Nathalie Arthaud - Foto: Sebastien Bozon / AFP

Arthaud se apresenta como revolucionária e crítica a desigualdade social. 

“Se eu sou revolucionária e se eu quero mudar a sociedade é porque essa sociedade capitalista é ultraviolenta, é a violência social das desigualdades, é o fato de ver hoje essas riquezas acumuladas de um lado, as extravagâncias, este incrível luxo e do outro lado, as mulheres e os homens que dormem na rua”

 

Yan Boechat, jornalista da Band que foi à Ucrânia cobrir o conflito com a Rússia denuncia os riscos desse tipo de atuação dentro do campo
por
Fabrício Gracioso
Letícia Coimbra
Mariana Luccisano Coelho
Majoí Costa
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31/03/2022 - 12h

A guerra entre Rússia e Ucrânia é um dos conflitos mais intensos e devastadores do século 21. Uma estimativa apontada pela ONU (Organização das Nações Unidas) diz que em um mês de guerra, completado no dia 24 de março de 2022, mais de 1.040 civis ucranianos morreram e mais de 1.600 ficaram feridos. Além disso, milhões de ucranianos já tiveram que deixar o país por conta da invasão russa. Diante disso, diversos jornais de vários países enviaram correspondentes (repórteres e fotógrafos), para fazerem a cobertura do conflito. Porém, devido a periculosidade da situação, ao menos seis profissionais vieram a falecer.

Em conversa com Yan Boechat, o fotógrafo e jornalista enviado pela Band e Voice of America para registrar o conflito, "conta que a guerra é um ambiente muito intenso e que na maioria dos casos os profissionais vão por conta própria e destaca o perigo de ir em zonas que não foram dominadas por ambos os lados do embate".

Segundo o fotógrafo, profissionais menos experientes tendem a cometer mais erros ou atitudes que os levam ao perigo e risco de vida. Como se trata de um conflito armado, o cuidado e a sensibilidade das ações dos repórteres devem ser muito maiores.

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, Boechat iniciou sua carreira escrevendo sobre política e economia. Depois disso seu trabalho em relações exteriores tomou forma e começou a cobrir conflitos em diversos países, já tendo passado pela Síria, Afeganistão, Líbano, Iraque, Egito, Venezuela e Tunísia.

De acordo com ele, o conflito mais marcante em seus 19 anos de experiência foi o primeiro: “Te marca mais. Eu fui para o Afeganistão em 2003 e foi muito impactante pra mim”. Boechat também enfatiza o valor da experiência, alegando que o profissional “vai aprendendo com os anos, cada conflito é diferente, vai aprendendo um pouco, tentando minimizar os riscos [...] é um processo lento, como qualquer coisa na vida”.

A motivação para cobrir um conflito armado é essencial e também deve ser comentada, até mesmo porque o risco de se realizar tal tarefa é enorme. Ao ser perguntado sobre isso, Boechat diz que sempre gostou de história e acha que o conflito é um momento definidor dela. “Os conflitos sempre vão definir o rumo de nossa história como sociedade e acho que é um privilégio estar ali, assistir essa história acontecer”, afirmou.

De acordo com o jornalista, depois de anos de experiência, o cinismo passa a ser uma característica cada vez mais marcante no seu dia a dia. “É triste, mas faz parte da vida. Ainda assim é ruim ver pessoas sendo vítimas de uma guerra que em geral não tem nada a ver com elas, são as mais prejudicadas[...] mas se isso te afetar demais você não consegue trabalhar”.

Após ser perguntado sobre os protocolos gerais que devem ser seguidos para realizar essa perigosa cobertura, Boechat dá mais detalhes a respeito: “Costuma ser cada um por si, mesmo com o apoio dos colegas, mas cada um atrás da sua história”. O jornalista deu destaque para a necessidade de planejamento, uma vez que aumenta a dificuldade de encontrar prestadores de serviços como motoristas e tradutores devido ao receio que os mesmos têm da guerra, resultando em um número pequeno de pessoas para auxiliar os jornalistas. Ainda apontou a relevância também do colete e os riscos minimizados por ele, mas diz que é melhor levar o próprio equipamento.

Além disso, Boechat ressalta o cuidado que, segundo ele, deve ser tomado ao entrevistar pessoas cujo cargo representa um poder elevado. “O jornalista precisa ter consciência de que ele é visto como um instrumento de propaganda, então você vai para lá e os caras vão querer te usar como propaganda para o que eles querem mostrar”.

Por fim, ele afirma que para executar esse trabalho, ter calma é essencial, porque o profissional “se coloca em risco e coloca as outras pessoas em risco, então se você se desesperar (outros jornalistas) não vão querer trabalhar com você, não é um ambiente fácil, tem bastante tensão”.

 

A coalizão “semáforo”, liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD), com o Partido Democrático-Liberal (FDP) e Os Verdes, tomou posse oficialmente em Berlim
por
Luan Leão
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08/12/2021 - 12h

Fim de uma era

Nesta quarta-feira (8), Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), tornou-se oficialmente primeiro-ministro da Alemanha, colocando fim aos 16 anos de governo da democrata-cristã Angela Merkel. No cargo de chanceler federal desde 2005, Merkel deixa o poder aos 67 anos, e após 5.860 dias de governo. A “mutti”, mamãe em alemão, apelido carinhoso que recebeu em 31 anos na vida pública, ficou a 5 dias de bater o recorde de longevidade de Helmut Kohl (1982-1998). Nem mesmo os muitos anos na política desgastaram a popularidade de Merkel, segundo pesquisa recente do Pew Institute, 72% dos entrevistados, em todo o mundo, confiam nela. “Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito”, elogiou o novo chanceler Olaf Scholz, segundo ele, Merkel “permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças”.

Angela Merkel se despediu do cargo no dia 24 de novembro
Angela Merkel recebeu flores de Olaf Scholz, em Berlim, no dia 24 de novembro. Foto: Markus Schreiber/AP Photo

O social-democrata de 63 anos foi eleito pela câmara baixa do Bundestag (parlamento alemão) por 395 votos a favor, 303 contra e 6 abstenções, dos 736 votos dos deputados. A coalizão “semáforo” tem 416 assentos do parlamento, porém muitos deputados estavam ausentes na votação de hoje (8), que registrou a presença de 707 parlamentares.

Scholz vai liderar a coalizão que conta, além dos social-democratas, com os liberais e os verdes. Isso porque nas eleições de 26 setembro, o SPD foi o partido mais votado, recebendo 25,7% dos votos, ficando à frente da União Cristã Democrata (CDU), partido de Merkel, que registrou seu pior resultado da história com 24,1%. Os Verdes registraram o melhor resultado de sua história com 14,8% dos votos, os liberais obtiveram 11,5%. Essa será a primeira vez que uma tripla coalizão governará a Alemanha desde 1950, e marca a volta dos social-democratas à chancelaria federal, o último social-democrata a comandar o país havia sido Gerhard Schröder (1998-2005).

Olaf Scholz sendo aplaudido por parlamentares
Olaf Scholz é aplaudido por parlamentares alemães após ser eleito para o cargo de chanceler. Foto: Reuters

Após a votação, Scholz, de máscara, recebeu aplausos e buquês de flores de líderes dos diferentes grupos parlamentares do Bundestag. Depois, foi recebido pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que o entregou a “ata de nomeação”, o que estabelece o início oficial de seu mandato de quatro anos. Em seguida, Scholz retornou ao Bundestag para prestar juramento ao cargo, antes de seguir para a chancelaria federal para a transferência de poder.

Olaf Scholz recebe flores após ser eleito
Olaf Scholz recebe flores após ser eleito chanceler pelo Bundestag. Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters


O novo governo

Esse será o primeiro governo com paridade de gêneros nos ministérios. Cumprindo promessa de campanha, oito pastas serão comandadas por mulheres e oito por homens. O percentual de 50% de mulheres comandando ministérios é o maior da história da Alemanha. Por liderar a coalizão, o SPD ocupa mais ministérios, os verdes ficaram com a vice-chancelaria e os liberais com o ministério considerado o mais importante, que é o de finanças. “Estou particularmente orgulhoso de que as mulheres agora estão a partir de agora à frente de ministérios que tradicionalmente não eram ocupados por elas”, afirmou Olaf Scholz.

A média de idade do novo governo é de 50,4 anos, menor do que a média de todos os inícios de legislatura dos quatro governos anteriores governados por Merkel. O último mandato de Merkel tinha média de idade de 51,4 anos. Aos 63 anos, Scholz é o mais velho do governo. As ministras mais jovens são Annalena Baerbock e Anne Spiegel, do partido Verde, que completam aniversário no mesmo dia, e farão 41 anos em 15 de dezembro

Veja a composição do novo gabinete:

Robert Habeck, 52 anos, co-presidente do partido Verde, será o vice-chanceler e ministro da Economia e Energia

Annalena Baerbock, 40 anos, co-presidente do partido Verde, candidata a chanceler pelo partido na última eleição, será a primeira mulher a comandar o ministério do Exterior

Christian Lindner, 42 anos, presidente do partido liberal, será o ministro das Finanças, considerado o mais poderoso dos ministérios

Nancy Faeser, 51 anos, líder do SPD no estado de Hasse, será a primeira mulher a comandar o ministério do Interior

Karl Lauterbach, 58 anos, o parlamentar social-democrata é epidemiologista e ocupará o cargo de ministro da Saúde, o novo ministro defende medidas mais rígidas contra a COVID-19

Christine Lambrecht, 56 anos, a social-democrata comandará o ministério da Defesa, sendo a terceira mulher a comandar a pasta de forma consecutiva

Wolfgang Schmidt, 51 anos, o social-democrata será o chefe da chancelaria federal, que coordena os trabalhos entre os diferentes setores do governo

Svenja Schulze, 53 anos, a social-democrata será uma das remanescentes da gestão Merkel, mas irá migrar de pasta, sairá do ministério do Meio Ambiente e irá para o ministério do Desenvolvimento

Steffi Lemke, 53 anos, do partido Verde assume o ministério do Meio Ambiente

Marco Buschmann, 44 anos, o membro do partido liberal será o novo ministro da Justiça

Anne Spiegel, 40 anos, do partido Verde vai comandar o ministério da Família

Klara Geywitz, 45 anos, a vice-líder do SPD estará a frente do ministério da Construção e Habitação

Bettina Stark-Watzinger, 53 anos, do partido liberal vai ocupar o cargo de ministra da Educação e Pesquisa

Claudia Roth, 66 anos, será a nova ministra da Cultura e Mídia, essa é uma pasta que ainda não tem status de ministério

Hubertus Heil, 49 anos, o social-democrata segue como ministro do Trabalho e Assuntos Sociais

Cem Özdemir, 55 anos, ex-co-presidente do partido Verde, ocupará o cargo de ministro da Agricultura. Essa será a primeira vez que a Alemanha terá um ministro com raízes turcas

Volker Wissing , 51 anos, o liberal será o ministro dos Transportes e Digitalização

O novo governo assume com um agravamento da pandemia no país. Nesta quarta-feira (8) a Alemanha registrou um recorde no número de mortes por COVID-19, com 527 óbitos em 24 horas, maior número em mais de dez meses, segundo autoridades locais. O novo primeiro-ministro e o novo ministro da saúde defendem ações mais rigorosas em relação a pandemia, Scholz já fez a defesa da vacinação obrigatória, o que poderia ocorrer entre fevereiro e março de 2022.

De acordo com os manifestantes, os protestos acontecem devido s longas filas para compra de alimentos, a falta de medicamentos e a alta dos preços.
por
Mariana Lopes
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02/12/2021 - 12h

Após seis décadas sob o comando dos irmãos Castro, Fidel e Raúl, em 2018, Miguel Díaz-Canel assumiu o poder em Cuba, aos 58 anos de idade.

Naquele momento, há quase três anos, sua entrada no mundo político era uma incógnita para grande parte das pessoas.

Em Villa Clara, sua cidade natal, era visto como um político “comprometido” e “tolerante”, porém, assim que Raúl Castro começou a mostrar interesse nele, tem  feito declarações que o afastam de seu perfil de "pró-abertura". Ele tem reafirmado ideias comunistas e prometido persistir "na marcha triunfante da Revolução".  

Para Antonio Rodiles, ativista anticastrista, Díaz-Canel "é uma pessoa apagada que repete como um robô o que tem sido dito em Cuba nos últimos 60 anos".

No dia 11 de julho de 2021, milhares de cubanos foram as ruas, aos gritos de “abaixo a ditadura” e “não temos medo”. Este movimento teve inicio nas redes sociais. Em resposta, o presidente Miguel Diaz, também pelas redes sociais, pediu que as pessoas fossem as ruas enfrentar os manifestantes.

"Não vamos admitir que nenhum contra-revolucionário, nenhum mercenário, nenhum vendido ao governo dos Estados Unidos, vendido ao império, recebendo dinheiro das agências, se deixando levar por todas as estratégias de subversão ideológica, desestabilize nosso país", adicionou.

"Haverá uma resposta revolucionária", disse ele, conclamando os adeptos ao comunismo a enfrentar os protestos com "determinação, firmeza e coragem". Suas ações foram vistas pela oposição como uma incitação a uma guerra civil.

De acordo com os manifestantes, os protestos acontecem devido s longas filas para compra de alimentos, a falta de medicamentos e a alta dos preços. "O problema é que o governo não tem divisas estrangeiras para importar comida, remédios ou combustível, então há escassez de todos os gêneros de primeira necessidade nas lojas", explica o especialista em assuntos latino-americanos William LeoGrande, professor da American University.

Além disto, continua, "ocorrem blecautes de eletricidade que lembram aos cubanos os piores tempos dos anos 1990, após do colapso da União Soviética; e o povo está frustrado com o alastramento da covid-19".

De acordo com a BBC, que entrevistou inúmeros cubanos, muitos manifestantes relataram a perda de parentes, muitos deles falecendo dentro de suas casas, pois o sistema de saúde do país já havia sofrido um colapso e não havia mais remédios nos hospitais e farmácias.

O presidente americano Joe Biden se mostrou favorável as manifestações e disse: "Estamos do lado do povo cubano e de seu chamado pela liberdade e por um alívio das trágicas garras da pandemia e de décadas de repressão e sofrimento econômico a que os cidadãos têm sido sujeitos pelo regime autoritário de Cuba."

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também se mostrou solidário com as manifestações. Por outro lado, México e Rússia alertaram os outros países que a situação em Cuba poderia ser pretexto para interferência estrangeira em assuntos cubanos.

Os protestos foram reprimidos pela polícia e em vídeos feitos pelos manifestantes é possível ver esses enfretamentos.

Uma nova Marcha pela Mudança foi marcada para o dia 15 de novembro. O governo cubano proibiu a marcha e a classificou como um o ato de “provocação de Washigton”.

Horas após o ato ter sido proibido, o grupo no Facebook que organiza o evento, Archipiélago publicou: "No dia 15 de novembro, nossa decisão será marchar cívica e pacificamente pelos nossos direitos. Frente ao autoritarismo, responderemos com civismo e mais civismo".

No dia dos protestos, um cerco policial havia sido imposto nos locais que receberiam os manifestantes, o que ao final, deixou os locais praticamente vazios de pessoas.

Aqueles que tentaram quebrar o cerco foram presos ao longo da tarde com a desculpa de que a manifestação fora proibida pelo governo.

A data foi escolhida por ser o primeiro dia em que os turistas voltariam para Cuba após o começo da pandemia e também marcaria o aniversário de Havana.

Até agora, a repressão do movimento já levou a prisão 1.175 pessoas, e mais da metade continua atrás das grades, de acordo com a associação Cubalex, que monitoria as prisões políticas da ilha.

O evento realizado em Glasgow, na Escócia, prometia medidas mais assertivas contra o aquecimento global, mas deixa a desejar. Discursos trazem à tona condições de países que já sofrem com as mudanças climáticas.
por
João Curi
Anna Cecilia Nunes
Matheus Marcolino
Sônia Xavier
|
18/11/2021 - 12h

Por Anna Cecilia Nunes, João Curi, Matheus Marcolino e Sonia Xavier

No dia 13 de novembro foi encerrada a COP-26, com previsão inédita da redução gradativa de subsídios aos combustíveis fósseis e do uso de carvão. A conferência foi sediada em Glasgow, na Escócia, e marcou a finalização do livro de regras do Acordo de Paris com a aprovação do artigo 6º, referente ao mercado de carbono.

Com quase 200 países signatários, o documento sofreu críticas quanto às reivindicações não atendidas de países em desenvolvimento, que clamam por justiça climática e recursos financeiros para ações preventivas. “As mudanças climáticas e o aumento do nível do mar são riscos mortais e existenciais”, discursou Simon Kofe, ministro de Tuvalu, em vídeo gravado de dentro do mar. “Estamos afundando, mas o mesmo está acontecendo com todos. E não importa se sentimos os efeitos hoje, como Tuvalu, ou daqui a 100 anos. Todos vamos sentir os efeitos mortais dessa crise global um dia”.

Ministro Simon Kofe, de Tuvalu, grava discurso para COP-26 de dentro do mar. (Reprodução/Governo de Tuvalu/Redes sociais)
Ministro Simon Kofe, de Tuvalu, grava discurso para COP-26 de dentro do mar. (Reprodução/Governo de Tuvalu/Redes sociais)

O relatório definiu o compromisso de “reduzir o uso de carvão e subsídios aos combustíveis fósseis”, após pedido de última hora da delegação indiana, com apoio da China e dos Estados Unidos, para substituir o termo “eliminar”, sugerido inicialmente. “Os textos aprovados são um compromisso”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. “Eles refletem os interesses, condições, contradições e o estado das vontades políticas”.

 

Acordo de Paris

No dia 12 de dezembro de 2015, em reunião composta por quase 200 países, foi aprovado  o Acordo de Paris. O tratado substituiu o Protocolo de Kyoto, em razão de estar mais alinhado aos desejos das novas ideologias e nações. 

“O Protocolo de Kyoto tinha uma aplicação mais restrita, sendo aplicável aos países considerados desenvolvidos em 1997, e não tendo instrumentos de revisão que permitissem lidar com transformações no cenário econômico internacional”, explica Pedro Silva, pesquisador e doutorando em Relações Internacionais da PUC-Rio. “Isso excluiu, por exemplo, a China, que teve um intenso processo de industrialização e desenvolvimento, das obrigações relativas ao protocolo”.

Silva também afirma que o documento anterior considerava apenas a limitação do efeito estufa, ao passo que o Acordo de Paris tem por objetivo principal impedir a aceleração do aquecimento global, além da vantagem de ser aplicado a todos os países.

De acordo com um comunicado da OMM (Organização Meteorológica Mundial), publicado no início de 2021, os últimos seis anos foram os mais quentes da história da humanidade desde o início da “era industrial”, em 1880. Só no ano passado, o planeta registrou um aumento de 1,2ºC.

O tratado, em vigor desde 2016, estabelece medidas para o combate às mudanças climáticas; entre elas, limitar o aumento de temperatura global a 1,5ºC, aumentar o uso de fontes alternativas de energia, utilizar tecnologia limpa nas indústrias e diminuir os índices de desmatamento.

 

Mercado de carbono

O artigo 6º do Acordo de Paris se refere ao carbono como uma forma simples de nomear os gases que contribuem para o aquecimento global - já que o CO2, ou gás carbônico, é o mais comum desse tipo.

Tudo funciona como um mercado: existe a compra e venda de “créditos de carbono”, de acordo com a taxa de emissão de cada país. Aqueles que mais cortarem a emissão de CO2 terão direito a mais créditos e, consecutivamente, podem vendê-los por dinheiro real. Esta é uma estratégia para envolver mais o mercado, de forma a impulsionar as medidas climáticas.

Pedro Silva reforça a importância do envolvimento de empresários neste processo, mas teme que o financeiro se sobreponha ao ambiental e que a novidade não seja efetiva. “Isso [mercado de carbono] é defendido como mecanismo válido de política ambiental, mas, no fim, não viabiliza nem estimula nenhuma redução nos níveis de emissão de gases poluentes. Apenas tenta precificar as emissões”.

 

Maiores emissores de CO2

Os Estados Unidos e a China são os países com o maior acúmulo de emissões de gases de efeito estufa no mundo, considerando o período de 1850 a 2021, seguidos por Rússia, Brasil e Indonésia. Nos dois últimos, a maior parte das emissões vêm do desmatamento e do uso do solo para a agropecuária, ao contrário dos três primeiros colocados, que têm os combustíveis fósseis como principal fonte.

Em 2019, segundo análise do Grupo Rhodium, a China emitiu cerca de 2,5 vezes mais gases de efeito estufa do que os Estados Unidos. Em termos equivalentes de CO2, a gigante asiática emitiu 14,1 bilhões de toneladas métricas no ano analisado, o que equivale a um quarto das emissões totais do mundo.

Apesar da China ser atualmente o maior emissor, nenhum país lançou mais gases de efeito estufa na atmosfera do que o gigante capitalista Estados Unidos.  Isso se torna importante devido às emissões liberadas há centenas de anos, que contribuem para o aquecimento global ainda nos tempos atuais.

Mesmo sendo um país enorme com 1.4 bilhão de habitantes, as emissões per capita chinesas (10,1 toneladas) ainda foram menores, se comparadas às americanas (17,6 toneladas), em parte pela diferença no estilo de vida entre as nações. Os estadunidenses ganham mais dinheiro, possuem mais carros que consomem gasolina e voam mais do que o cidadão chinês médio, segundo o Relatório de Transparência Climática de 2021.

Gráfico da BBC indicando os países com maior acúmulo de emissões de 1850 a 2021
(Reprodução/BBC)

Os combustíveis fósseis representam 87% da matriz energética da China:  60 % carvão, 20% petróleo e 7% gás natural. Nos Estados Unidos, 80% da sua matriz depende também desses combustíveis, cerca de 33% vêm do petróleo, 36% do gás natural e 11% do carvão, de acordo com dados da Enerdata, empresa independente de pesquisa de energia.

A China hoje é a maior consumidora e produtora de carvão mundial. Não à toa o país pressionou por uma mudança-chave no texto final da COP 26.

 

Ainda há muito a ser feito

Os países signatários do Acordo de Paris se comprometeram a estabelecer Contribuições Nacionais Determinadas (NDC, na sigla em inglês), definindo metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030. Enquanto o principal objetivo é estabilizar o aquecimento global em uma temperatura “muito abaixo” dos 2ºC, as expectativas atuais chegam a 2,7ºC, em comparação com níveis pré-industriais.

Gráfico "Quanto pode piorar?", da BBC. Emissões e aquecimento global esperado até 2100, segundo dados da Climate Action Tracker.
(Reprodução/BBC)

“O problema é que nós temos uma lacuna de emissões entre uma carta de boas intenções dos governos, e o que é submetido por cada país na prática”, alerta a cientista e professora Joana Portugal, em entrevista à ONU News. “Nós estamos caminhando numa forma muito lenta, com passos de caracol, quando deveríamos estar pegando o trem-bala japonês”.

Em referência ao “Relatório sobre as Lacunas de Emissões 2021”, publicado pelas Nações Unidas em outubro deste ano, a coautora revela que foram avaliadas as metas e os compromissos firmados pelo grupo de países do G20, e que “nenhum deles têm metas ambiciosas e compatíveis com o Acordo de Paris”.

Com a Conferência do Clima em Glasgow, 124 delegações - 123 países mais a União Europeia - apresentaram novas metas para os próximos anos. Embora alguns países não tenham reforçado suas ambições, como México, Brasil, Austrália, Indonésia e Rússia, os demais membros do G20 submeteram NDC’s mais expressivas, segundo dados da Climate Action Tracker (CAT).

Das lacunas aos avanços históricos nas negociações climáticas, a aprovação unânime do documento não correspondeu à notável decepção de representantes com o texto final.

Ativistas também manifestaram duras críticas à conferência.

“A #COP26 acabou. Aqui está um breve resumo: Blah, blah, blah”, publicou Greta Thunberg em suas redes sociais. “Mas o verdadeiro trabalho continua fora desses corredores. E nunca vamos desistir, nunca”.